Gestao de Risco
Gestao de Risco
Gestao de Risco
DE RISCOS
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
GESTÃO DE RISCOS
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro acadêmico, é com muito prazer que apresento a você o livro que fará parte da dis-
ciplina Gestão de Riscos. Ao preparar este livro, procurei analisar as principais preocupa-
ções e objetivos que um gestor – principalmente da área financeira – poderia ter na sua
rotina diária, que poderiam afetar os resultados das empresas em que atuam.
Reconheço que encontrar respostas não é fácil e exige uma dedicação focada para que
aquilo que for decidido possa realmente ser a melhor decisão dentro das variáveis co-
nhecidas. Muitas vezes, outro problema apresentado é conhecer estas variáveis.
Por isso, meu caro aluno, acredito que este material lhe será muito útil. A utilidade não
virá apenas por te oferecer o conhecimento acadêmico necessário a sua formação, mas
também por te oferecer ferramentas que auxiliem nas suas atividades profissionais. Mui-
to já se escreve sobre o assunto e muito do que já foi escrito se revelou imperfeito com
o tempo. Não tenho a pretensão de que este material esgote o assunto ou que ele não
seja superado com o tempo, com as diversas pesquisas e teorias que estão em curso
mundo afora. Porém, espero que na nossa atual realidade, de fato, possa fazer diferença
na sua vida profissional.
Na unidade I, começamos por entender o conceito de risco. No mundo das finanças,
alguns termos são importantes e precisamos conhecê-los para que, ao estudarmos as
ferramentas de análise e decisão, saibamos exatamente do que estamos falando.
Você também conhecerá, nesta unidade, as principais classificações de risco geralmente
utilizadas.
Na unidade II, serão discutido metodologias de quantificação de risco utilizando mode-
los matemáticos e estatísticos.
Já na unidade III, será apresentado o modelo Value at Risk, uma metodologia que tenta
analisar o risco máximo de um empreendimento financeiro.
Em nossa unidade IV, apresentaremos a análise dos 5 Cs de crédito, uma abordagem
utilizada pelas instituições financeiras, mas que pode ser implementada por empresas
não financeiras.
E por fim, na unidade V, abordaremos técnicas de hedge, isto é, mecanismos de proteção
ao risco. Dessa forma, utilizaremos conhecimentos aprendidos na disciplina mercado de
capitais, com o intuito de utilizar os derivativos como ferramenta para minimização dos
impactos resultantes da incerteza do futuro.
Esperamos, assim, contribuir para possibilitar a transformação das ideias geradas duran-
te a vida acadêmica, pessoal e profissional em oportunidades de sucesso e realização,
como verdadeiros empreendedores que vamos nos tornando a cada dia.
Bom estudo.
09
SUMÁRIO
UNIDADE I
CONHECENDO O RISCO
15 Introdução
32 Considerações Finais
UNIDADE II
MENSURANDO RISCOS
37 Introdução
48 Riscos da Carteira
59 Considerações Finais
SUMÁRIO
UNIDADE III
65 Introdução
84 Considerações Finais
UNIDADE IV
RISCO DE CRÉDITO
89 Introdução
UNIDADE V
113 Introdução
145 CONCLUSÃO
147 REFERÊNCIAS
Professor Me. Paulo Pardo
I
UNIDADE
CONHECENDO O RISCO
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender a definição de riscos.
■ Entender as diversas classificações de risco.
■ Conhecer as consequências da aversão ou aceitação de riscos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Entendendo o conceito de risco
■ Classificação dos riscos
■ Consequências da aversão ou aceitação de riscos
15
INTRODUÇÃO
Caro (a) aluno(a), vamos iniciar esta primeira unidade estudando o conceito
de risco e aprendendo como ele é classificado. Você já deve ter percebido que
o assunto “risco” está sempre sendo comentado entre as pessoas, porém o seu
conceito pode ser compreendido de várias formas. Um dos conceitos aplicáveis
ao risco encontra-se na existência de situações que possam impedir o alcance
dos objetivos corporativos ou a não existência de situações consideradas neces-
sárias para chegar a tais objetivos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Imagine que você vá fazer a viagem de seus sonhos num cruzeiro de navio que
tem como roteiro paisagens magníficas e uma estrutura de lazer a bordo conce-
bida para proporcionar o maior prazer e satisfação aos passageiros.
Introdução
I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock
Poderíamos elencar outros, mas, neste exemplo tão pequeno, pudemos enxergar
situações que podem sim virar realidade. Como prever isso? E, melhor, o que pode-
ria ter sido feito para que estes eventos fossem minimizados ou não acontecessem?
CONHECENDO O RISCO
17
planejou tanto... abriria mão da viagem para não correr os riscos mencionados?
Provavelmente não. Isto porque o risco poderia ou não ocorrer, ele era uma pos-
sibilidade, não uma certeza. Mas quando você tomou sua decisão de viajar, você
assumiu o risco, aceitou correr este risco. Ou seja, sua aversão ao risco não foi
tão alta a ponto de impedir que você viajasse.
Estas considerações nos levam a uma conclusão óbvia: aceitar ou não o risco é uma
decisão a ser tomada e será aceita de acordo com o grau de aversão do decisor ao risco.
Avançando um pouco mais no conceito, é evidente que alguns mecanismos
de previsão são utilizados para mensurar a possibilidade de ocorrência de um
risco. Isto fica evidente no trabalho, por exemplo, das seguradoras. Você acha
que as seguradoras assumiriam um risco de terceiros (dos seus clientes) se não
tivessem condições mínimas de prever estatisticamente a possibilidade de ocor-
rência do evento indesejado?
Então, vamos pensar no conceito de risco que expressamos anteriormente:
falamos sobre o grau de possibilidade de que um evento ocorra. Isto quer dizer,
basicamente, que o evento pode ocorrer ou não. Não há certeza, lembra-se? Se
não há certeza, o contrário é verdade, existe uma incerteza quanto ao evento.
O que é incerteza e o que tem a ver isso com risco? Neste ponto, há divergên-
cias entre os diversos autores sobre o assunto. Alguns autores como, por exemplo,
Rodrigues (2008) definem incerteza como a possibilidade de ocorrência de um
evento sobre o qual o gestor não dispõe de informações suficientes e necessá-
rias para tomar alguma decisão. Já outros, como Duarte Júnior (2005), preferem
a definição de que incertezas são eventos mensuráveis em determinadas situ-
ações e que risco, neste caso, seria apenas a medida numérica desta incerteza.
Por conta desta indefinição, que até hoje nos surpreende, talvez possamos
retroceder um pouco na história e ver o que um autor chamado Frank Knight
disse em 1921 sobre a diferença entre risco e incerteza:
A incerteza precisa ser considerada com um sentido radicalmente dis-
tinto da noção comumente aceita de Risco, da qual nunca foi adequa-
damente separada... O aspecto essencial está no fato de “risco” signi-
ficar, em alguns casos, uma variável passível de ser medida, enquanto
em outros o termo não aceita esse atributo além disso, há enormes e
cruciais diferenças nas consequências desses fenômenos, dependendo
de qual dos dois esteja realmente presente e operante... Está claro que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
uma incerteza mensurável, ou o risco propriamente dito, na acepção
que utilizaremos, é tão diferente de uma incerteza não-mensurável, que
não se trata, de forma alguma, de uma incerteza (KNIGHT, 1921 apud
DAMODARAN, 2008, p. 23).
Nessa definição de Knight citada acima, percebe-se que a definição de risco associada
à incerteza é bastante clara: RISCO É A INCERTEZA QUANTIFICADA. Tudo que
não se possa quantificar ficará no campo da subjetividade, portanto, não passível de
ser tratado gerencialmente, pois o gestor precisa ter DADOS e FATOS para decidir.
Um exemplo muito simples disso são as apostas que fazíamos, quando crian-
ças, de jogar uma moeda e escolher qual seria o resultado provável que, neste
caso, somente poderia ser um: ou “cara” ou “coroa”. Assim, em um único lança-
mento da moeda, as chances de nós ganharmos a aposta eram de exatos 50%.
Podíamos achar uma brincadeira divertida e, na ocasião, com certeza não tínha-
mos a menor noção de decisões estratégicas, mas analisando a situação, vemos
que estava envolvido o risco, pois é perfeitamente possível medir a possibilidade
de ganho: 50%. São chances ruins, porém, estão mensuradas.
No entanto, temos que avançar um pouco mais na definição de riscos, pois,
como gestores, almejamos maximizar os resultados para nossas empresas, não
é mesmo? Assim, modernamente falando, não é apenas uma questão de saber
mensurar o risco, ou seja, de conhecer as probabilidades de ocorrência. Temos
que saber também, de forma antecipada, as consequências da ocorrência. Um
exemplo disso seria a possibilidade de ocorrência de um terremoto. Para uma
seguradora, por exemplo, que oferece cobertura de perdas patrimoniais, uma
ocorrência desse tipo teria consequências tão catastróficas que poderia levá-la à
CONHECENDO O RISCO
19
seria a consequência caso o evento ocorra? Ah, aí sim, tudo se justifica, pelo
menos na mente dos apostadores, pois o prêmio pela ocorrência seria altamente
positivo: ganhar muito dinheiro.
Então, para nós gestores interessa demais essa noção, pois no mundo finan-
ceiro, o risco é definido “em termos da variabilidade dos retornos observados
de um investimento em comparação com o retorno esperado
do investimento, mesmo quando esses retornos representam
resultados positivos” (DAMODARAN, 2008, p. 24).
É interessante observarmos o ideograma chinês para “risco”.
Nesse ideograma, duas ideias são expressas: está contido nele
a ideia de “perigo” (associado à crise) e ideia de oportunidade,
ou seja, há uma distribuição tanto pelo lado de perdas como
pelo lado das oportunidades. Isto nos torna claro que a expo-
prmia.org
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
3) Riscos de Crédito.
4) Riscos Legais.
RISCOS DE MERCADO
CONHECENDO O RISCO
21
RISCO DEFINIÇÃO
Perdas potenciais devido a variações inesperadas nas
Taxas de juros
taxas de juros.
Perdas potenciais devido a variações inesperadas nas
Taxas de câmbio
taxas de câmbio.
Perdas potenciais devido a variações inesperadas no
Ações
preço das ações.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RISCOS OPERACIONAIS
RISCO DEFINIÇÃO
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
Equipamento recursos de terceiros devido a falhas nos seus sistemas
(telefônicos, elétricos, computacionais etc.).
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
recursos de terceiros devido à obsolescência de seus
Obsolescência
sistemas (de software, de hardware, telefônicos, elétricos
etc).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
Confiabilidade e recursos de terceiros devido ao fato de as informações
presteza não serem recebidas, processadas, armazenadas e trans-
mitidas com rapidez e de forma confiável.
Perdas potenciais de uma empresa de administração
de recursos de terceiros devido a erros não intencionais
Erro não intencional
(negligência, falta de concentração no trabalho, falta de
informação sobre os controles Internos etc.).
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
recursos de terceiros devido a fraudes, furtos ou roubos
Fraudes, furtos ou
(negligência de controles internos, divulgação intencio-
roubos
nal de informações erradas aos clientes, manipulação de
resultados, aceitação de 'incentivos' de clientes etc.).
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
Qualificação recursos de terceiros devido a funcionários sem qualifica-
ção apropriada.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
recursos de terceiros devido ao não-atendimento, por
Produtos e serviços
produtos e serviços, das expectativas e necessidades de
seus clientes, seja em produtos, seja em serviços.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
recursos de terceiros devido ao fato de a regulamenta-
Regulamentação
ção externa ser alterada e não poder ser atendida pela
firma.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de
Liquidação finan-
recursos de terceiros devido a falhas nos procedimentos
ceira
Internos para liquidar transações.
CONHECENDO O RISCO
23
RISCOS DE CRÉDITO
RISCO DEFINIÇÃO
Perdas potenciais decorrentes de uma contraparte não
INADIMPLÊNCIA poder fazer os pagamentos devidos de juros ou princi-
pal no vencimento destes.
Perdas potenciais devido ao rebaixamento do rating de
DEGRADAÇÃO
uma contraparte.
Perdas potenciais devido à redução do valor de merca-
GARANTIA
do das garantias de um empréstimo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Perdas potenciais decorrentes de uma mudança na
SOBERANO política nacional de um país que afete sua capacidade
de honrar compromissos.
Perdas potenciais diante da concentração da exposição
CONCENTRAÇÃO
de crédito em poucas contrapartes.
Fonte: Duarte Júnior (2008)
RISCOS LEGAIS
CONHECENDO O RISCO
25
RISCO DEFINIÇÃO
Perdas potenciais devido a penalidades impostas por
LEGISLAÇÃO regulamentação ou processos de clientes contra a em-
presa de administração de recursos de terceiros.
Perdas potenciais decorrentes da criação de novos
TRIBUTÁRIO tributos ou mudança na interpretação dos tributos
existentes.
Perdas potenciais decorrentes de contratos omissos ou
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONTRATO
mal redigidos (sem o devido amparo legal).
Fonte: Duarte Júnior (2008)
PERSPECTIVA IMPACTO
A alocação de ativos entre diferentes classes de investimento
depende basicamente do grau de aversão ao risco do investi-
dor. Investidores menos avessos ao risco colocam uma propor-
ção maior de suas carteiras em ativos de maior risco. Exemplos
de algumas classes de investimento são ações, títulos de renda
Alocação fixa e imóveis. Isso implicaria em investidores menos avessos
de ativos ao risco terem mais investimentos em ações do que aqueles
com maior aversão e em investidores mais avessos ao risco não
se distanciarem demais da classe de ativos mais segura, que
apresentem menor possibilidade de perdas, como é o caso da
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
poupança, fundos de renda fixa, Tesouro Direto, imóveis, entre
outros.
Dentro de cada classe de ativos, temos de escolher em quais
investir. Uma vez tomada a decisão de distribuir proporções
específicas de uma carteira entre ações e títulos de renda fixa,
o investidor tem de decidir em quais ações e títulos investirá.
Essa decisão é muitas vezes tornada menos complexa pela
Seleção
existência de fundos de investimentos de diversos tipos, desde
de ativos
especializados por setor e fundos diversificados de índices,
até os fundos de renda fixa. Os investidores menos avessos ao
risco podem distribuir uma maior parcela de seus investimen-
tos de participação acionária em ações e fundos de maior risco,
ainda que paguem o preço do menor grau de diversificação.
Os julgamentos sobre a possibilidade de investimentos passa-
dos (em títulos individuais) terem proporcionado retornos ra-
Avaliação do
zoáveis (e portanto, terem sido bons investimentos) dependerá
desempenho
de como o investidor mensura o risco e de qual é o balanço em
termos de risco e retorno que este investidor exige.
CONHECENDO O RISCO
29
PERSPECTIVA IMPACTO
Poucos investimentos feitos por uma empresa oferecem
garantia de retorno. Na verdade, quase todo investimento
vem acompanhado de uma série de riscos, alguns dos
Decisões de
quais são específicos à empresa e ao setor, enquanto
investimento
outros são riscos macroeconômicos. Temos de decidir se
investiremos nesses projetos, dados os riscos e nossas
expectativas para os fluxos de caixa.
Quando determinamos o quanto de dívidas e o quanto de
capital próprio devemos empregar no financiamento de um
negócio, temos de confrontar questões fundamentais sobre
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
d
CONHECENDO O RISCO
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
à indústria de seguros, certos termos e definições são próprios da área, porém, a
essência basicamente é a mesma. Portanto, é perfeitamente possível entender as
implicações da Gestão de Risco para qualquer organização utilizando os conhe-
cimentos que você adquiriu até agora.
Vale ressaltar também o papel de alguns estudos teóricos sobre risco, alguns
já com centenas de anos. Ao tirar das deidades o destino sobre suas decisões e
encará-las como fruto do livre arbítrio, o ser humano pode lidar melhor com as
incertezas, sabendo que a possibilidade de ocorrência se deve a fatores naturais,
mas na maior parte das vezes deve-se as suas próprias escolhas.
Esta ideia de escolha é importante demais para nós, gestores. Só se associa
ao risco quem quer. Não é uma contingência do destino. É evidente que alguns
riscos que assumimos em nossas empresas, ao exercer nosso papel, podem pare-
cer ter sido assumidos por falta de opção. Isto não é inteiramente verdade. Se o
planejamento estratégico da empresa tivesse sido formulado de outra forma, a
situação de ter apenas uma opção não teria acontecido.
Vimos também na unidade I que existem certas classificações de risco que são
inerentes a determinadas condições e variáveis. Dependendo do nosso ramo de
negócio, estas classificações têm um peso enorme nas decisões a serem tomadas.
Agora, na unidade II, veremos como mensurar riscos. Isto será uma impor-
tante ferramenta para a tomada de decisão por parte dos gestores.
Bons estudos!
Professor Paulo Pardo
CONHECENDO O RISCO
33
II
UNIDADE
MENSURANDO RISCOS
Objetivos de Aprendizagem
■ Identificar as medidas de quantificação de riscos e retornos.
■ Conhecer os riscos de carteira.
■ Analisar os índices Beta e o CAPM para mensurar riscos e retornos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Quantificando riscos e retornos
■ Cálculo de medidas de risco através do desvio-padrão
■ Riscos da Carteira
■ Mensurando o risco e o retorno com a utilização do modelo de
precificação de ativos financeiros (CAPM)
■ Risco de Carteira – o Índice Beta
37
INTRODUÇÃO
y2
y1
0 x1 x2
Risco
Introdução
II
Ficou claro, não é mesmo? Apenas por este gráfico, comprovamos que assumir
riscos maiores necessariamente deve vir acompanhado de maiores retornos espe-
rados. Outra decisão que não seja esta não faz sentido, financeiramente falando.
Então, qual é a métrica que mede o risco? Basicamente, o principal indica-
dor é a VOLATILIDADE. Por volatilidade entenda que se refere ao número de
flutuações que podem ocorrer com uma série de números se desviando de uma
média representativa do conjunto. Não se assuste com este conceito. Basta lem-
brar alguns fundamentos de estatística muito simples. Imaginemos uma série de
números como 1, 2, 3. Neste caso, a média é 2. Na série 1, 3, 5 a média é 3. Qual
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seria a série mais volátil? Com certeza é a segunda. Por quê? Porque os números
extremos, 1 e 5 estão mais distantes da média, que é 3. Ao avaliarmos um risco,
é essa volatilidade que buscamos. Quanto maior a volatilidade, o nível de risco
será consequentemente maior.
Vamos pensar em outra variável que impacta o risco significativamente.
Esta variável é o prazo. O dinheiro tem valor no tempo e uma verdade é que o
dinheiro hoje vale mais para um investidor do que no futuro. Ele pode perfei-
tamente utilizar este dinheiro para algum propósito agora mesmo. O futuro é
incerto. Tudo pode acontecer. Pense no caso de o investidor decidir emprestar
esse recurso, que ele poderia utilizar agora, para alguém que faz a promessa de
retornar o recurso no futuro com juros. O risco está presente, por exemplo, na
possibilidade de o empréstimo não ser pago. E quanto maior o prazo, maior a
incerteza, pois vários percalços podem acometer o devedor. Dessa forma, é razo-
ável esperar que os investidores devam ser adequadamente recompensados para
aceitarem assumir o risco de aplicar o dinheiro que têm disponível no presente.
De acordo com Groppelli e Nikbakht (2002), a premissa é que o futuro
sempre é mais arriscado do que o presente. Assim, aumento de aportes num
investimento implica em aumento do risco portanto, os investidores certamente
desejarão uma recompensa maior por assumir esse risco extra. Em resumo, “a
taxa de retorno requerida (taxa de desconto) aumenta com o aumento do risco de
aplicar mais fundos em um ativo que promete um retorno futuro” (GROPPELLI;
NIKBACHT, 2002, p. 60).
Considerando isso, as duas grandezas que sempre serão medidas são o
RISCO e o RETORNO.
MENSURANDO RISCOS
39
Vamos utilizar esta fórmula para conferirmos como ficaria uma situação hipo-
tética em que o dividendo (Dt) é igual a $1, o preço da ação no período anterior
(Pt – 1,) era $10, e o preço atual (Pt) é $11, conforme exemplo de Groppelli e
Nikbakht (2002).
Temos então:
1 + ^11 - 10h
Taxa de Retorno = = 0, 20 ou seja, 20%
10
Se você achou o exemplo acima um pouco complicado, saiba que, se você racio-
cinar num investimento em ações passo a passo, a lógica é bastante simples.
Veja um exemplo do que quero dizer com isso:
Considere que o investidor A adquira 1000 ações da empresa DELTA no iní-
cio do ano a $40 por ação. O investimento total deste investidor é:
Co = $40 x 1000 = $40000
Ao longo do ano, a empresa DELTA pagou $2,00 de dividendo por ação.
Durante o ano, o rendimento teria sido de:
Div = $2 × 1000 = $2000
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Imaginemos que no final do ano, o preço de mercado da ação seja $43,00.
Com esse preço por ação aumentado, o investidor teve um ganho de capital de:
Ganho = ($43 - $40) × 1000 = $3000
O ganho de capital é parte do retorno que os acionistas requerem para man-
ter seu investimento.
Assim, o retorno total sobre o investimento é a soma do dividendo com o
ganho de capital:
Retorno = $2000 + $3000 = $5000
O volume total de dinheiro, ao final do ano, seria o investimento inicial mais
o retorno total:
Volume total de dinheiro = $40.000 + $5000 = $45.000
Poderíamos representar esta situação num gráfico de fluxo de caixa, como
o abaixo:
$45.000
$2.000 Dividendos
ganhos
Investimento inicial
- $40.000
MENSURANDO RISCOS
41
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o risco é uma função crescente do prazo. Como afirmam Groppelli e Nikbakht
(2002), caso o investimento não tenha chance de perda e seja realizado por perí-
odo muito curto, pode ser considerado livre de risco. Em contrapartida, caso
um período mais longo de tempo seja considerado, um prêmio ou compensação
deve ser pago aos credores por assumirem um prazo mais arriscado.
Na prática, para calcularmos o risco total por somarmos uma parcela do
que seria um investimento considerado livre de risco com o prêmio exigido pelo
projeto, ficaria assim numa fórmula simples: entretanto, o procedimento usual
é dividir o risco total em taxa livre de risco e prêmio pelo risco.
Risco total = Taxa livre de risco + Prêmio pelo risco
É sempre bom considerarmos essa taxa livre de risco, pois ela nos dá uma
referência do custo de oportunidade de um projeto. Seria a opção em que o inves-
tidor não correria, teoricamente, nenhum risco sobre seus investimentos. Daí,
somamos com o prêmio pelo risco, que é a diferença a ser obtida - evidente-
mente positiva - para o investidor animar-se a entrar neste projeto. Mesmo em
investimentos de risco baixo, como os papéis do Tesouro, é preciso considerar
o fator tempo, pois títulos de longo prazo devem pagar um prêmio pelo risco,
visto que os ativos ficarão sob risco por mais tempo.
MENSURANDO RISCOS
43
Retornos (%)
VE VE
Tempo Tempo
Nota: As Companhias A e B têm a mesma escala percentual de retornos e VE = valor esperado.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
LTN 90 dias 5 0 5
NTN 1 ano 5 2 7
Obrigações do tesouro 20 anos 5 4 9
Debêntures de empresas 20 anos 5 5 10
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RETORNO
SITUAÇÃO RETORNO PESO OU
PROVÁVEL
PROVÁVEL PROJETADO (K) PROBABILIDADE (P)
(K X P)
Projeto A
Pessimista 100 0,20 20
Mais provável 333 0,60 200
Otimista 500 0,20 100
1,00 Er 320
Projeto B
Pessimista 80 0,25 20
Mais provável 300 0,50 150
Otimista 600 0,25 150
1,00 Er 320
Fonte: GROPPELLI e NIKBAKHT (2002, p. 66)
Na tabela acima, temos uma situação hipotética de avaliação entre dois proje-
tos. Considere que o retorno esperado (símbolo: Er ) seja idêntico para ambos.
Por meio de um procedimento subjetivo, buscou-se saber os cenários futuros,
com as chances percentuais de realização. Assim, perceba que, na coluna Peso
ou Probabilidade (p), temos atribuídos diferentes percepções de cenário, sendo
que no projeto A, por exemplo, a situação mais provável tem peso 0,60, ou seja,
60% de chances de ocorrência.
MENSURANDO RISCOS
45
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: GROPPELLI e NIKBAKHT (2002, p. 66)
Retorno esperado
Fonte: GROPPELLI e NIKBAKHT (2002, p. 68)
MENSURANDO RISCOS
47
Observe neste gráfico que quanto mais estreitas as distribuições, mais próximas
à média elas ficarão, se comparadas a distribuições mais amplas. No nosso caso,
as distribuições do Projeto A são mais estreitas, enquanto que as do Projeto B
são mais amplas.
Em finanças, é estatisticamente aceitável supor que as distribuições de
probabilidade tenham uma forma de sino, porque tal hipótese facilita o
cálculo dos resultados esperados. Por exemplo, os estatísticos descobri-
ram que, em casos envolvendo distribuições normais, pode-se esperar
que 68% dos resultados ou retornos caiam dentro do intervalo de mais
ou menos um desvio-padrão. No exemplo precedente, quando subtra-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
185
CV do Projeto B = = 0, 58
320
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RISCOS DA CARTEIRA
MENSURANDO RISCOS
49
Riscos da Carteira
II
Risco
total
Risco
diversificável
Risco não-diversificável
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Número de ativos
Fonte: GROPPELLI e NIKBAKHT (2002, p. 71)
Esta estratégia de inserir ativos na carteira para calibrar o risco diversificável fica
anulada caso sejam inseridos mais ativos com as mesmas características de risco
dos ativos que compunham a carteira originalmente.
Para maximizar os resultados, os gestores de fundos de investimento, por
exemplo, buscam “apimentar” as carteiras de perfil mais moderado com ativos de
renda variável, de risco mais elevado, porém, com potencial de retorno maior. É
claro que essas estratégias devem ser muito bem planejadas e geralmente o são,
com o auxílio de modelos computacionais para que não tirem as características
do conservadorismo da carteira, fator que atraiu os investidores originalmente.
MENSURANDO RISCOS
51
A REVOLUÇÃO DE MARKOWITZ
A crença de que a diversificação era bené- Isso ia claramente contra a prática e a teo-
fica aos investidores já estava em voga bem ria em voga na época, que recomendavam
antes de Harry Markowitz abordá-la em investimentos em carteiras diversificadas.
1952. De fato, a Financial Review of Reviews
de 1909 usava correlações entre títulos para Markowitz argumentou que os investidores
defender o argumento de que os investi- precisam diversificar porque se preocupam
dores deveriam dividir suas apostas e de com riscos - e, portanto, o risco presente
que uma carteira diversificada ofereceria em uma carteira diversificada precisa ser
menos riscos do que o investimento em menor do que aquele dos títulos individuais
um único título, sem implicar em retornos que compõem a carteira. A idéia-chave que
diferentes. Contudo, Markowitz alterou a apresentou foi a de que a variância dos
maneira como pensamos sobre riscos ao retornos de uma carteira poderia ser des-
vincular o risco presente em uma carteira crita como função não apenas do quanto
aos co-movimentos entre os ativos indivi- foi investido em cada título e das variân-
duais naquela carteira. cias dos títulos vistos individualmente,
como também da correlação entre estes.
Como jovem estudante de pós-graduação Ao relacionar de forma explícita a variân-
na Universidade de Chicago na década de cia em uma carteira às covariâncias entre
1940, Harry Markowitz foi influenciado títulos individuais, Markowitz não se limitou
pelo trabalho de von Neumann, Friedman a dar forma concreta ao que fora sabedo-
e Savage sobre a incerteza. Ao descrever ria convencional por décadas. Ele também
como teve a idéia que deu início à moderna formulou um processo pelo qual os inves-
teoria de carteiras, Markowitz explica que tidores poderiam otimizar a diversificação
ele estava lendo Theory of Investment Value de suas carteiras - isto é, carteiras que maxi-
de John Burr William, o livro que pela pri- mizam retornos dado um nível qualquer
meira vez trouxe a noção de que o valor de de risco (ou minimizam riscos, dado um
uma ação é o valor presente de seus divi- nível qualquer de retorno). Em sua tese,
dendos esperados. Ele observou que se o Markowitz encontrou o conjunto de car-
valor de uma ação fosse o valor presente de teiras otimizadas para diferentes níveis de
seus dividendos esperados e se o investidor risco, e chamou-o de fronteira eficiente. Ele
estivesse concentrado em apenas maximi- refinou o processo em livro posterior, que
zar seus retornos, ele investiria na ação que escreveu enquanto trabalhava na RAND
tivesse os maiores dividendos esperados. Corporation.
Fonte: DAMODARAN (2008, p. 87)
II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Lintner foi acrescentar um ativo sem risco ao mix da carteira o que os levou a
concluir que havia alternativa melhor para investidores a cada nível de risco,
provocada pela inserção deste ativo sem risco em uma carteira extremamente
diversificada. Por meio desta técnica, conseguem-se maiores retornos espera-
dos para cada nível de risco se comparados a uma carteira única de vários ativos
com risco (DAMODARAN, 2008).
O CAPM começa por dividir o risco em duas partes principais: ris-
co diversificável e risco não-diversificável. A premissa é que existe um
relacionamento estreito entre os retornos dos títulos individuais e os
retornos do mercado. Esses retornos, para uma determinada ação ou
para o mercado, consistem em ganhos de capital mais o retorno dos
dividendos. A comunidade acadêmica estabeleceu que o mercado de
ações é um veículo altamente eficiente, devido à rápida assimilação de
toda a informação disponível (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2002, p. 74).
MENSURANDO RISCOS
53
Beta é a medida do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
risco sistemático de
um ativo.
MENSURANDO RISCOS
55
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock
Em que:
R = Retorno Esperado
Rf = Taxa livre de risco
Β = Beta da ação
RM
= Prêmio pelo risco de mercado
Esta mesma lógica pode ser utilizada para calcular o retorno esperado de um
projeto numa empresa, por exemplo, o que muito nos interessa.
O problema é saber o Beta da empresa para utilizarmos na fórmula. As empre-
sas de capital fechado têm esse problema de forma mais evidente, pois não têm
ações em bolsa que possam ser comparadas com um índice de mercado como o
IBOVESPA, desta forma estabelecendo -se seu Beta. Então, o que pode ser feito?
Uma recomendação é utilizar para comparação um Beta de outra empresa do
mesmo ramo de atividade e que tenha ações com cotação em bolsa. Isso pode
funcionar, dando uma ideia do retorno esperado para os investidores da empresa.
Outra consideração importante a ser feita diz respeito ao ramo de atividade
da empresa. Alguns ramos de atividade têm variações cíclicas relacionadas a
fatores diversos, como sazonalidades de seus produtos ou são muito sensíveis a
crises econômicas. Isso deve ser levado em consideração ao se estabelecer um
Beta para este tipo de empresa.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
É evidente também que calcular a viabilidade de um projeto não está apenas
relacionado aos retornos esperados. É necessário planejar também alguns fatores
reais como incentivos governamentais, recrutamento e seleção, disponibilidade de
mão de obra e uma série de outros elementos. Todas estas considerações devem
ser feitas antes de nos aventurarmos numa nova empreitada.
MENSURANDO RISCOS
57
Como fazer?
Para elaborar os cálculos solicitados acima, devem seguir-se os passos abaixo:
1. Calcular o retorno da empresa ou do ativo;
2. Calcular a diferença entre taxa de retorno e o retorno médio determinado da etapa
anterior;
3. Multiplicar a diferença calculada para o retorno da empresa pela diferença obtida para
o retorno do mercado;
4. Calcular o quadrado das diferenças obtidas para o retorno de mercado;
5. Somar os valores contidos nas colunas anteriores;
6. Calcular o coeficiente BETA, que é o quociente entre o total da das somatórias entre
o item 4 e 5;
7. Calcular o custo de capital próprio da TELEVIEW.
O que concluímos neste caso prático:
• Utilizar o custo de capital de uma empresa de capital aberto para uma empresa de
capital fechado apresenta uma proximidade razoável.
• O custo de capital próprio de uma empresa de capital fechado é muito próximo de
uma empresa de capital aberto dentro do seu setor, considerando a sua necessidade
de estrutura de produção e comercialização. No entanto, é importante observar que em
determinados casos o risco pode ser maior por não demonstrar claramente o risco da
empresa em questão, gerando a necessidade de simular em patamares maiores.
• É mais aconselhável utilizar a mais recente taxa de retorno livre de risco e a taxa de
retomo de mercado, por ser a que mais se aproxima da realidade atual.
SOLUÇÃO DO CASO PRÁTICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
a você que agora, para que você possa realmente fazer a diferença, precisa bus-
car mais informações, casos práticos de aplicação e tentar implantar um desses
modelos no seu dia a dia.
Ao fazer isso, você estará, de fato, nadando contra a maré, pois, como disse,
a maioria não usa.
Pode ser também que, no início, você encontre tantas dificuldades que seja
tentado a fazer o mais cômodo: abandonar a ideia.
Resista a isso e exercite seus novos conhecimentos.
Só assim, você será um gestor que tem um profundo conhecimento sobre o
assunto e poderá ser reconhecido pelas suas habilidades e competências.
Muito sucesso!!
Professor Paulo Pardo
Considerações Finais
1. A situação dos empreendedores frente à gestão de riscos não é nada fácil. A
maioria não tem a menor noção das ferramentas para avaliação de projetos e
acaba por cometer uma série de erros que podem comprometer o sucesso da
empreitada. Pesquise na Internet sobre a qualificação dos nossos empreendedo-
res em relação às ferramentas de avaliação de risco. Qual o panorama geral dos
empreendedores brasileiros em relação à Gestão de Riscos?
2. A mensuração de riscos deveria fazer parte da rotina dos administradores. Po-
rém, fazer este gerenciamento sem as ferramentas necessárias pode ser bem di-
fícil. Pesquise sobre a disponibilidade de ferramentas informatizadas de gestão
de riscos, principalmente quanto ao cálculo de índices de risco/retorno. Quais
ferramentas você encontrou? É possível conhecer o custo da implantação destas
ferramentas?
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
Professor Me. Paulo Pardo
III
UNIDADE
VALUE AT RISK (VAR)
Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar os conceitos do Value at Risk (VaR).
■ Discutir os métodos para análise de projetos.
■ Conhecer os métodos para análise de viabilidade de projetos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Value at Risk (Var): mensurando a perda provável com apenas um
indicador
■ Analisando Projetos: orçamentos sem risco
■ Métodos para análise de viabilidade de projetos
■ O VPL – Valor Presente Líquido
■ Taxa Interna de Retorno
65
INTRODUÇÃO
Quanto eu posso perder neste investimento? Esta é a pergunta que não quer
calar. Na verdade, acredito que a pergunta correta a ser feita seja outra: quanto
eu suporto perder caso ocorra de fato uma perda?
Essa dúvida cruel passa na mente de 10 entre 10 investidores. No entanto, ela
tira o sono de quem, por não ter experiêncianas operações de compra e venda
de ativos financeiros, inicia no mercado e com certeza, passa também na mente
dos gestores financeiros, pois eles respondem perante uma diretoria sobre os
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para respondê-la, Hull (2006, p. 435) afirma que o cálculo de VaR tem o obje-
tivo de permitir formular uma afirmação com uma estrutura da forma: “Temos
X% de certeza de que não perderemos mais do que V nos próximos N dias”. O
que podemos entender desta afirmação?
De acordo com Lamb e Kloecnker (2006), identificamos o V como o VaR da
carteira, X% como o nível de confiança e N como o horizonte de tempo. Seria
como se afirmássemos que a nossa estimativa de perda diária máxima de uma
carteira, num nível de confiança de 95%, fosse de R$100 milhões. Estaríamos
afirmando que o VaR a 95%, para um dia, é de R$100 milhões. Dito de outra
forma, teríamos 95% de certeza de que as eventuais perdas, nas condições vigen-
tes de mercado, no horizonte de tempo de um dia, seriam de, no máximo, R$100
milhões. Assim – e é importante frisar isso - o VaR é um número que expressa
nível de confiança e não um limite máximo de perdas. Hull (op.cit.) ainda diria:
“Temos 95% de certeza de que não perderemos mais do que R$100 milhões até
amanhã”.
Para melhor compreensão do que isso significa, devemos ter claramente dado
o fator tempo. Sim, porque se temos, por exemplo, o tempo dado em dias, dizer
que temos 95% de certeza significa que, num período de 100 dias (ou 100%) do
tempo, em 95 dias temos a certeza de que nossa perda máxima seria de R$100
milhões, usando o valor do exemplo acima. Se tomássemos um período menor,
por exemplo, 20 dias, teríamos 19 dias (ou seja, 95% do tempo) em que a perda
máxima seria de R$100 milhões e apenas 1 dia em que a perda poderia ser maior
do que esse valor. Essas informações são importantes, caso desejássemos com-
parar a carteira com um nível de confiança diferente ou um período diferente.
Dentro desse raciocínio, vamos imaginar, por exemplo, uma empresa qual-
quer que tenha o VaR de $100 milhões, mas agora com nível de confiança de
99%. Essa empresa teria 99% de probabilidades de sofrer uma perda de até $100
milhões, mas agora, num intervalo de até 100 dias de negócios. Para esta empresa,
em somente 1 de 100 dias de negócios, poderá ocorrer uma perda superior a
$100 milhões.
Embora o VaR possa ser utilizado por organizações em geral, sua utilização
ganhou força entre os bancos, justamente para medir sua exposição ao risco,
uma vez que essas instituições geram recursos de terceiros, além de trabalha-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rem com a alavancagem permitida pelo Banco Central (embora este conceito
não seja exclusividade dos bancos brasileiros e sim uma tendência do sistema
financeiro mundial).
Mais uma importante informação: o VaR analisa o intervalo de confiança de
uma carteira específica dentro de um intervalo de tempo determinado. Então, só
faz sentido compararmos o VaR de uma carteira com outro da mesma carteira,
alterando-se, por exemplo, o nível de confiança ou o próprio intervalo de tempo.
O VaR não se presta para comparações entre carteiras diferentes.
Apesar de o termo valor em risco não ter perda em uma posição será de 100% da
sido amplamente usado até o início da carteira, ou mais, dependendo do compro-
década de 1990, as origens dessa medida metimento do detentor da posição com a
estão em um passado um tanto mais dis- cobertura de perdas. Isto pode ocorrer em
tante. A matemática por trás do VaR foi em mercados de derivativos. O incentivo ao
grande parte desenvolvida no contexto uso do VaR surgiu com as diferentes crises
de carteiras por Harry Markowitz e outros que envolveram as instituições financeiras
autores, ainda que seus esforços tenham ao longo dos anos e as reações da esfera
sido direcionados a uma finalidade dife- reguladora a essas crises. As primeiras exi-
rente - a concepção de carteiras ótimas para gências de capital impostas aos bancos
investidores em ações. Particularmente, o com finalidade reguladora foram promul-
foco nos riscos de mercado e os efeitos dos gadas em seqüência à Grande Depressão e
co-movimentos desses riscos são aspectos às falências dos bancos na época, quando a
cruciais à maneira como o VaR é calculado. Lei do Mercado de Capitais de 1934 criou a
Comissão de Valores Mobiliários dos Esta-
O VaR, portanto, é um número associado dos Unidos (SEC) e exigiu que os bancos
a um nível de confiança e não um limite mantivessem seus empréstimos abaixo de
máximo de perdas. O limite máximo de 2.000% de seu capital próprio. Nas décadas
69
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Semanal 1/√5 = 0,4472 √1 = 1,0 √2 = 1,44 √52 = 7,211
Quinzenal 1/√110 = 0,0953 1/√2 = 0,707 √1 = 1,0 √26 = 5,099
Anual 1/√252 = 0,063 1/√52 = 0,1386 1/√20 = 1,0 √1 = 1,0
Os dados da tabela consideram: 1 semana = 5 dias úteis; 1 quizena = 10 dias
utéis; 1 ano = 252 dias úteis; 1 ano = 52 semanas; 1 ano 26 quinzenas.
Fonte: Lamb e Kloeckner (2006, p. 50)
Ficou fácil, não é mesmo? Basta você saber o VaR considerado e verificar na
coluna o VaR correspondente ao novo período.
usuárias do coeficiente, terem que realizar operações de hedge para suas posi-
ções, e isso é feito em base diária. Porém, horizontes mais longos de tempo são
raramente considerados.
Outro detalhe importante: embora consideremos a perda máxima do total
investido, algumas perdas possíveis não vão tão longe. É preciso saber sempre
a significância do coeficiente, pois é muito diferente saber que a probabilidade
pode ser de 5% ou de 50%. Os riscos são muito diferentes neste caso. É preciso
saber então se, quando a perda ocorrer, qual é de fato o máximo de perda possível.
Para ilustrar isso, veja o seguinte caso envolvendo o cálculo do VaR para a
BOVESPA:
Foram observadas, por exemplo, no perí- A precisão é maior para níveis de signifi-
odo: 4 variações negativas superiores a cância menores. Além disso, para encontrar
10%; Nenhuma variação negativa entre o efetivo risco incorrido pelo fundo, seria
9,20% e 10%; 2 variações negativas entre melhor calcular o risco dos ativos que fazem
9% e 9,20%; 1 variação negativa entre parte da carteira, em vez de considerar as
8,80% e 9%; e assim por diante. cotas, pois as variações das cotas passadas
podem representar uma carteira sem risco,
O próximo passo consistiu em definir um por conta de ausência de alavancagem,
nível de significância para, a partir dele, o que pode divergir bastante da carteira
chegar ao VaR desse indicador. Vamos de hoje.
supor que se queira fixar o nível de signi-
ficância em 99%. Será calculado quanto é Outro ponto é que o VaR é calculado com
1% do total de eventos e, posteriormente, dados do passado para projetar o futuro,
identificado em qual variação negativa esse e quando o futuro tem pouca correla-
novo número de eventos é verificado. No ção com o passado as previsões podem
exemplo, o total de eventos é 609 e 1% fica falhar. Finalmente, convém salientar que
entre 6 e 7 (vamos considerar 7). Na clas- o VaR é sensível a bruscas movimentações,
sificação (ver exemplo anterior), quando podendo oscilar bastante de um dia para
ocorrem os 7 maiores resultados negati- o outro.
73
Por exemplo, o cálculo do VaR do Ibovespa Portanto, conclui-se que, se, por um lado, o
para o período de 22 de dezembro de 1999 a VaR é uma medida de risco bastante inte-
16 de junho de 2000 com nível de significân- ressante, pois ilustra a perda “máxima” a ser
cia de 95% é de 3% (o risco de o Ibovespa cair incorrida, por outro lado ele deve ser sem-
3% ou mais estava limitado a 5% dos even- pre bem compreendido para que não seja
tos). Caso o Ibovespa tivesse caído 16,80% exigido dele uma segurança, uma previ-
no dia 16, em vez de 0,83%, como ocorreu, o são de perda máxima efetiva, que ele não
VaR subiria para 8,44%. Mesmo uma recupe- pode propiciar. Nesse contexto, existem
ração do Ibovespa no dia seguinte não faria o hoje outras ferramentas que complemen-
VaR retornar para o nível de 3%. Continuando tam o VaR, tornando a análise de risco mais
o exemplo, se, no dia 15 o Ibovespa tivesse completa e eficiente.
caído 15,61% e no dia 16, subido 15,97%,
recuperando-se, o VaR subiria para 9,26%.
Fonte: Miguel Russo, disponível em: <http://www.risktech.com.br/PDFs/var.pdf>. Acesso
em: 08 maio 2012.
III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
completas e abrangentes (DAMODARAN, 2008, p. 224).
©shutterstock
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ao estudar essa disciplina, você terá oportunidade de aprofundar-se mais sobre
o assunto.
Em que:
FC = Fluxos de Caixa projetados para “t” períodos no futuro.
K = Taxa de desconto exigida.
Io = Investimento necessário antes do início do projeto.
Para se determinar se um projeto é ou não viável, a regra é bastante simples:
VPL > 0 - projeto é viável
VPL < 0 - projeto não é viável
0 1 2 3 4 5 6
Io FC1 FC2 FC2 FC4 FC5 FC6
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ainda não terminou. Precisamos agora comparar com as regras do VPL. Vamos
concluir então o raciocínio:
VPL = VP (FC) – Io
VPL = 10.340,25 – 10.000
VPL = 340,25
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a comparação de valores financeiros em diferentes instantes no tempo. Quando
o gestor tiver que decidir entre duas ou mais alternativas, muito provavelmente
a melhor será aquela cujo VPL seja maior.
Algumas observações importantes:
O ponto crítico desse método está na decisão de qual taxa de desconto
utilizar no cálculo do VPL. Entre dois projetos, em geral, aquele com
maior risco deve ser descontado a uma taxa maior. Além do mais, as
taxas de desconto tendem a subir acompanhando as taxas de juros e de
inflação. Quando as taxas de juros sobem, o financiamento de projetos
torna-se mais caro; portanto, os fluxos de caixa dos projetos devem ser
descontados a uma taxa maior que a utilizada quando as taxas de ju-
ros estão caindo. As taxas de desconto usadas no VPL são também in-
fluenciadas pela duração dos projetos. Entre dois projetos, aquele com
vida mais longa geralmente é associado a um maior risco. Quanto mais
extensa a existência de um investimento no futuro, maior a incerteza
na conclusão e operação do projeto. Portanto, mantendo-se todas as
outras variáveis iguais, os projetos de longa duração devem ser, geral-
mente, descontados a taxas maiores que a dos projetos de curta dura-
ção (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2002, p. 109).
VANTAGENS DESVANTAGENS
O método supõe que a administração
seja capaz de fazer previsões deta-
lhadas dos fluxos de caixa dos anos
futuros. Na realidade, quanto maior
o período, mais difícil a estimativa
Utiliza os fluxos de caixa em lugar dos
dos fluxos de caixa futuros. Diversos
lucros líquidos. Fluxos de caixa (lucros
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: baseado em: GROPPELLI e NIKBAKHT (2002)
Uma técnica bastante conhecida e utilizada para avaliar projetos é a Taxa Interna
de Retorno (TIR). A TIR nada mais é do que uma medida da taxa de rentabilidade.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa na qual o Fluxo de Caixa descontado
(VP) de um projeto é igual ao valor de investimento (custo projeto, I0). Dessa
forma, o VPL de um projeto descontado a TIR é igual a zero. Chamamos taxa de
corte a taxa abaixo da qual os projetos são rejeitados; a taxa mínima de retorno,
ou taxa requerida de retorno denominamos taxa-meta. As empresas determi-
nam suas taxas de corte pelo custo do financiamento e pelo risco do projeto. A
seguir, preveem os fluxos de caixa futuros e calculam a TIR. Caso a TIR calculada
exceda a taxa de corte, o projeto é incluído na lista dos investimentos recomen-
dados, sendo, portanto, atrativo.
A representação matemática da fórmula da TIR é:
FC1 FC 2 FCn
FC 0 + + + ... +
^1 + TIRh1 ^1 + TIRh2 ^1 + TIRhn
Ou:
n
FC
(1 TIRt )n 0
t 0
|0 n
n 1 (1 TIR )
©shutterstock
VANTAGENS DESVANTAGENS
A TIR não considera valores
absolutos: se ocorrer um
investimento de $2,00, com
retorno de $3,00, a TIR será
de 50%. Mesmo a TIR sendo
elevada, o ganho é de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
$1,00. Por outro lado, inves-
Assim como o VPL, considera
tir $20,00 para obter $22,00
o valor do dinheiro no tempo.
significa um acréscimo de
10%, porém com um valor
absoluto maior ($2,00).
Para as empresas, em geral
interessa mais o valor ab-
soluto maior do que a taxa
propriamente dita.
Um outro problema com
o método da TIR é que ele
pode fornecer diferentes
taxas de retorno. Suponha
Simplicidade de utilização.
que haja duas taxas de
Pode utilizar a tabela de
desconto (duas TIRs) que
índices de juros para calcular
tornem o valor presente
o valor presente.
igual ao investimento
inicial. Nesse caso, qual taxa
deve ser usada na compara-
ção com a taxa mínima?
Fonte: baseado em GROPPELLI e NIKBAKHT (2002) e em LAMB e KLOECKNER (2006)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
achou esta unidade difícil, espere até ver o que o mercado está fazendo com os
que não têm qualificação para os desafios.
Não há como amenizar essa verdade: você terá que se esforçar para conhecer
as ferramentas e utilizá-las. Pode começar, talvez, montando uma carteira hipo-
tética de investimentos e acompanhando a performance dos papéis ao longo de
algum tempo. Vários sites, inclusive da Bovespa disponibilizam essas ferramentas,
gratuitamente. Esse aprendizado poderá te mostrar a aplicação de ferramentas
como o Beta, por exemplo.
Sinta-se desafiado a busca e aumentar seu conhecimento.
Muito sucesso!!
Professor Paulo Pardo
Value at Risk
JORION, Philippe
Editora: BMF
IV
UNIDADE
RISCO DE CRÉDITO
Objetivos de Aprendizagem
■ Conhecer os principais conceitos sobre crédito.
■ Compreender a estrutura necessária para uma análise de crédito
eficaz.
■ Entender os conceitos sobre os 4Cs do crédito.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O Crédito – Principais Conceitos
■ Análise de Crédito – Conceitos e Objetivos
■ Estrutura para Concessão de Crédito
■ Os 4 “Cs” do Crédito
89
INTRODUÇÃO
Meu caro acadêmico, até o momento você teve acesso a diversos mecanismos
de análise de risco, inclusive já considerando algumas informações sobre risco
em projetos.
A partir de agora, vamos considerar um assunto muito importante, em que
a gestão de risco está presente o tempo todo.
Se pensarmos na economia de uma forma geral, veremos que boa parte das
transações que ocorrem dependem do crédito. Grandes empresas só chegaram
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ao seu porte atual devido ao crédito que conseguiram no início – e algumas utili-
zam crédito até hoje, mesmo sendo grandes empresas – e, portanto, não podemos
negar até a função social do crédito. Geralmente, os empreendedores iniciantes
não contam com todo o capital necessário para iniciar seus novos negócios. O
crédito, então, se presta a financiar estas iniciativas tão importantes.
A concessão de crédito, então, tem sua parcela de contribuição para o desen-
volvimento nacional, pois aquece a economia, financia projetos empresariais,
disponibiliza acesso ao consumo de pessoas e empresas que não teriam condi-
ções de comprar à vista bens necessários ou apenas desejados.
Imagine agora que você é responsável pelo setor financeiro de uma empresa
ou exerce a função de gerente de relacionamento de um banco. Com toda a cer-
teza, você se deparará com situações em que operações de crédito deverão ser
analisadas.
O que deve ser considerado nestas situações?
Ao considerar esta unidade, você se deparará com decisões relacionadas ao
crédito. Esse assunto é por demais importante, pois conheço várias empresas que
estão em dificuldades financeiras, com falta de caixa, enquanto seu capital está
“emprestado”, sem perspectivas de retorno, a clientes duvidosos.
Preste atenção nas informações e dicas que esta unidade contém e bons
estudos!
Prof. Paulo Pardo
Polônio, personagem de Shakespeare, aconselha seu filho a “não to-
mar nem dar empréstimo... o empréstimo frequentemente perde a si e à
amizade, e tomar dinheiro emprestado esmorece o gume do provedor”.
Citado por Caouette, Altman e Narayan (2000, p.12).
Introdução
IV
Pode parecer muito óbvia a definição do que vem a ser crédito, porém, há mui-
tas definições conflituosas sobre este assunto.
Como precisamos desta base teórica para avançarmos neste estudo, gosto
muito de uma definição de Schrickel (2000):
Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou
ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a
expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, após
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
decorrido o tempo estipulado (SCHRICKEL, 2000, p. 25).
Você talvez esteja pensando no ponto 3, no qual salientei que o objeto da con-
cessão do crédito faz parte do patrimônio de quem emprestou, e questionando
como os bancos se enquadram nesta descrição. Na verdade, eles não se enqua-
dram mesmo, pois boa parte do que emprestam não é do seu patrimônio. Porém,
a lógica do sistema bancário é um pouco diferente, pois eles são instituições
RISCO DE CRÉDITO
91
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Interessante isso, não é? É claro que os bancos têm mecanismos sofisticados
para fazer esta análise, geralmente trabalhando com sistemas de credit scoring,
que, com base nas informações que alimentaram o sistema, “roda” um limite de
crédito para o cliente, cujos resultados estão dentro dos parâmetros aceitáveis
ao banco operar com aquele determinado cliente. Este procedimento é “massi-
ficado” para clientes pessoa física e customizado para clientes pessoa jurídica.
Isto significa dizer que clientes pessoa jurídica geralmente têm um limite
de crédito preestabelecido, sugerido pelo sistema de credit scoring, porém, os
gerentes de relacionamento têm alguma alçada para ajustar ou remanejar par-
celas do que foi aprovado pelo sistema para linhas que sejam mais adequadas
ao perfil da empresa.
Quando o gerente de relacionamento de um banco trabalha dentro do que o
sistema sugeriu e, desde que a documentação apresentada para alimentar o sis-
tema esteja em ordem, o risco, neste caso, é apelidado de risco “banqueiro”, pois
foram os sistemas do banco que aprovaram previamente a concessão de crédito.
Quando estes cuidados não são seguidos, e o gerente, por conta própria e no
exercício de sua alçada, altera algum limite de crédito, o risco passa a ser apeli-
dado de risco “bancário”, pois, se algo der errado, geralmente é o gerente quem
responde pela inadimplência.
RISCO DE CRÉDITO
93
O Banco do Brasil anunciou uma nova “Os recebíveis (cheques pré-datados, dupli-
redução de juros para micro e pequenas catas ou cartões de crédito) poderão ser
empresas. As medidas integram o pro- convertidos em capital de giro com juros a
grama “Bom para Todos”. partir de 1% ao mês, ante uma taxa média
de 1,3% ao mês. Com isso, os empresários
As empresas que aderirem à Assessoria poderão obter recursos para pagar for-
Financeira Pessoa Jurídica — que moni- necedores, compromissos e repor seus
tora o uso de cheque especial e cartão de estoques”, informou.
crédito empresarial por meio de mensa-
gens eletrônicas — poderão ter acesso a Clientes com operações nas duas principais
taxas de 3,94% ao mês no cheque espe- linhas de capital de giro do banco terão
cial. A taxa antiga é de 9,13%. carência no pagamento de até três parcelas
nas novas liberações de crédito. “O objetivo
Taxas de juros para pessoa física têm é conceder folga financeira às empresas, ali-
menor nível desde 1995 viando as necessidades de giro”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1) Crédito ao Consumidor
2) Crédito para Empresas
3) Crédito Rural
CRÉDITO AO CONSUMIDOR
Você com certeza notou que nos últimos anos, nunca se comprou tanto a crédito.
Milhões de pessoas, ao terem sua renda aumentada, começaram a experimentar
o doce sabor de comprar. Esse movimento acentuado, vez ou outra provoca um
surto inflacionário que tem que ser contido com medidas anticíclicas do governo,
aumentando juros. Muita gente critica esse expansionismo de consumo, mas se
pensarmos bem, quase todo mundo deseja consumir, experimentar por bens e
serviços que nunca antes tiveram acesso.
O milagre do consumo é proporcionado pelo aumento do crédito. O Brasil,
historicamente, sempre foi conservador na concessão de crédito. Para você ter
uma ideia, no início do governo Lula o crédito representava pouco mais de 26%
do PIB. Ao final do mesmo governo, já havia chegado a mais de 45%. As pessoas
compram de tudo a crédito: desde casas, automóveis, equipamentos eletrônicos,
até roupas, sapatos e serviços em geral.
RISCO DE CRÉDITO
95
Alguns dos maiores beneficiários das operações de crédito, sem dúvida, são as
empresas. Há algum tempo atrás, o mercado financeiro levou um sobressalto
quando a Petrobrás recorreu à Caixa Econômica Federal para tomar um emprés-
timo emergencial de R$3 bilhões para fechar seu caixa. Foi surpreendente por
dois motivos: primeiro é que todos imaginam uma empresa do porte da Petrobrás
sem nenhuma dificuldade financeira, e o outro é que a CEF não tem tradição de
empréstimos desse vulto para empresas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esse caso, contudo, foi pedagógico, pois mostra que qualquer empresa precisa
de recursos, num momento ou outro. Mesmo megacorporações, com excelen-
tes saldos de caixa, quando se aventuram por projetos novos, preferem tomar
recursos emprestados a comprometer seu caixa.
É uma estratégia interessante, pois há várias linhas de crédito para empre-
sas a juros civilizados, que permitem sua expansão como a compra de máquinas,
construção civil entre outros. O FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador – é um
importante fornecedor de recursos ao sistema de apoio ao crédito para micro e
pequenas empresas. Para projetos maiores, existe o apoio de agentes de fomento
como é o caso do BNDES. As linhas do Finame são muito atrativas para as empre-
sas e têm permitido que nossa indústria busque sua modernização para fazer
frente à competição internacional.
A rotina diária da maioria das empresas é marcada por negócios a prazo.
Compras de matéria-prima, insumos, materiais de expediente e muitos outros
são, normalmente, realizados com prazo. Essa realidade obriga um correto geren-
ciamento do fluxo de caixa, pois os prazos entre recebimento das vendas e saídas
de recursos para pagamento de compromissos nem sempre são os mesmos.
Quando vale a pena assumir um compromisso a prazo numa empresa? Aí
entram os fundamentos de análise de viabilidade, conforme vimos na unidade
anterior e você terá abordado na disciplina de Análise de Projetos. Mas a regra é
simples: o retorno financeiro, na forma de rentabilidade das vendas, proporcio-
nada por aquele investimento, deve ser, necessariamente, maior que os encargos
financeiros assumidos. Caso contrário, não fará sentido, do ponto de vista eco-
nômico, pelo menos, assumir este compromisso.
RISCO DE CRÉDITO
97
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock
CRÉDITO RURAL
As empresas, e são a maioria, que operam com concessão de crédito para seus
clientes estão diante de vários desafios.
Um deles, de natureza muito prática, é: quem fará a análise de crédito dos
clientes? Não é difícil você imaginar que esta função não pode ser delegada a
pessoas com pouca experiência na gestão financeira. Lembre-se que um crédito
mal concedido é uma cobrança a mais, de resultados duvidosos, além de com-
prometer uma parte do caixa da empresa na forma de inadimplência.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O que temos visto acontecer, na maioria das micro e pequenas empresas, é
que, no ímpeto de conseguir vendas a qualquer custo, o departamento de ven-
das acaba por “forçar” uma venda, mesmo não tendo certeza das condições de
adimplência do comprador. O departamento de crédito, na maior parte das vezes,
apenas um apêndice incômodo do departamento financeiro, fica sem forças para
barrar uma operação com grande potencial de perdas, o que é ruim para todos.
Também temos observado que as rotinas de análise e concessão de crédito
têm se limitado a fazer pesquisas em órgãos de proteção ao crédito e apenas isso:
caso o cliente não tenha nenhuma restrição, o crédito é aprovado. A consulta
nos órgãos de proteção ao crédito, sem dúvida, é muito importante, no entanto,
não pode ser apenas esse quesito determinante na análise. Na verdade, muitas
empresas muito boas vez ou outra estão “negativadas” por conta de protesto de
títulos de compras que nem sequer fizeram. Até a solução da situação, tem seu
crédito comprometido, mesmo sabidamente tendo capacidade de pagamento.
O mesmo acontece com pessoas físicas. Por vezes, o cliente é tradicional numa
loja, sempre comprou e pagou seus compromissos com pontualidade, mas, por
qualquer razão, teve seu nome incluído nos órgãos de proteção ao crédito. O esta-
belecimento então, mesmo conhecendo o histórico de adimplência deste cliente,
nega o crédito que, com boa dose de certeza, ele honraria.
Não estou aqui defendendo nenhum afrouxamento das regras de crédito
das instituições. Penso que, se a política da empresa é não vender para clien-
tes tradicionais que estejam negativados, é uma decisão a ser tomada. Há uma
regra no mundo das finanças a qual diz que é melhor R$1,00 no estoque do que
R$2,00 na mão de um inadimplente. Então, nada a criticar. Porém, até os bancos,
RISCO DE CRÉDITO
99
Uma vez definida a política de crédito, deve-se buscar “calibrar” sua aplicação,
pensando pelo lado da rigidez ou liberalidade. O que quero dizer com isso é que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
políticas rígidas demais abrem mão da rentabilidade em favor da segurança. No
segundo caso, busca-se ganhar em rentabilidade na carteira de crédito, por meio
de um risco calculado de possibilidade de inadimplência.
Os responsáveis pela análise de crédito, os analistas de crédito, devem ter
suas mentes abertas para variáveis quantitativas e qualitativas. Qual é a razão para
isso? Bem, imagine que você trabalha numa organização que concede financia-
mentos, um banco de investimento, por exemplo. Agora pense num projeto que
será financiado e que trará resultados positivos para a empresa que está pleite-
ando o crédito, esse resultado pode acontecer somente no longo prazo. Há uma
dificuldade enorme de analisar esta situação, pois a realidade apresentada no
projeto é totalmente diferente da realidade atual da empresa.
Este fato não deve surpreender, pois um projeto de expansão, por exemplo,
pode, de fato, modificar inteiramente a estrutura atual da empresa que receberá
o financiamento, incluindo sua estrutura de produção, volume de vendas, gera-
ção de caixa entre outros.
Encare o fato então de que apenas os números frios do balanço atual não
refletem uma condição futura que está sendo projetada no plano de negócios
apresentado. A análise meramente quantitativa não daria conta de dar todas as
respostas para o analista de crédito numa situação como essa.
O que fazer? Neste caso, o campo de visão terá que se ampliar para abarcar
fatores qualitativos. Por exemplo, qual o ramo de negócio que a empresa opera?
Como estão as condições do mercado para esse ramo? Está em expansão? São
produtos de alto giro ou que não terão um ciclo de vida muito curto? E a con-
corrência? A empresa tem a qualificação necessária, em termos técnicos e de
RISCO DE CRÉDITO
101
que todo sonhador deve ter seu projeto financiado. Os bancos costumam ter fra-
ses prontas para isso: “não financiamos sonhos, financiamos projetos viáveis”. No
entanto, ter certeza da viabilidade é um desafio e tanto para os an listas de crédito.
Lamb e Kloeckner (2006) salientam que uma preocupação importante dos
fornecedores de crédito de curto prazo tem a ver com a possibilidade de a empresa
sofrer riscos também no curto prazo. A ação a ser tomada pelo analista é bus-
car compreender a capacidade do tomador de fazer frente a surtos e choques de
curto prazo, como problemas de liquidez, além de sua capacidade em manter a
confiança de seus principais fornecedores de crédito.
Num primeiro momento, pode parecer muito subjetiva a análise de cré-
dito feita por critérios qualitativos. Mas, na realidade, pense bem: o tomador do
crédito, se precisar colocar “no papel” seus planos futuros, com grande grau de
certeza, somente trará informações e números que o favoreçam, obscurecendo
ou omitindo números que possam demonstrar qualquer espécie de fragilidade.
Confiar então cegamente em números apresentados em planos de negócios
pode fazer com que decisões equivocadas de concessão de crédito sejam toma-
das, aumentando o risco da operação.
O fato é que o agente concedente do crédito tem um foco de visão diferente,
por exemplo, de um investidor em ações. O investidor em ações olha normal-
mente a possibilidade de que a empresa da qual ele passa a participar como
acionista vá bem e que suas ações se valorizem e, ainda, que a empresa possa
distribuir parte dos lucros obtidos na forma de dividendos.
Já o agente concedente de crédito olha pela perspectiva, por assim dizer,
negativa, ou seja, qual a possibilidade de não acontecer a restituição dos valores
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A análise de crédito deve incluir uma projeção das pressões plausíveis
sobre a empresa. Análises do tipo “Se,... Então...”, como por exemplo:
Uma série de cenários possíveis deve ser projetada entre o cenário pes-
simista e o cenário otimista.
RISCO DE CRÉDITO
103
No texto abaixo, você verá alguns princípios da política de crédito de um banco com
atuação no Brasil. Veja que os princípios se enquadram exatamente no que vimos até
agora sobre análise e concessão de crédito para instituições financeiras.
RISCO DE CRÉDITO
A Área de Risco de Crédito do Banco BNP riscos de crédito aos quais o Banco está
Paribas Brasil (BNPP BR) observa a política exposto, incluindo os riscos envolvidos em
e normas de monitoramento da Matriz do operações / transações;
Banco e está em conformidade com as
regulamentações locais e da Basiléia II. A ÁREA DE RISCO DE CRÉDITO É RESPON-
SÁVEL:
A MISSÃO DA ÁREA DE RISCO DE CRÉDITO
DO BNPP BR É: • Pela avaliação e validação das solicita-
ções de crédito formuladas pelas áreas de
• Assegurar o respeito às normas e procedi- negócios, a serem submetidas ao Comitê
mentos de risco de crédito, em colaboração de Crédito para discussão e aprovação /
com áreas afins. recomendação, dentro dos poderes dele-
gados pela Matriz.
• Garantir a manutenção de um nível de
risco aceitável da carteira de crédito do • Pela gestão e controle dos riscos de crédito
BNPP BR; aprovados / recomendados pelo Comitê de
Crédito do BNPP BR decorrentes das opera-
• Controlar os riscos de crédito segundo as ções ativas que representem a concessão
deliberações do Comitê Central em Paris de linha de crédito ou a liberação de recur-
ou local e conforme as normas expedidas sos, realizadas com clientes corporativos.
pelas autoridades reguladoras brasileiras.
PRINCÍPIOS GERAIS DE RISCO DE CRÉ-
• Contribuir como um “segundo olhar” para DITO
riscos de compliance, de compatibilidade
às políticas de risco de crédito, de conformi- As Áreas de Negócios são as responsáveis
dade quanto aos objetivos de classificação pela preparação das solicitações de crédito,
de risco e objetivos de retorno sobre ope- que deverão conter as informações neces-
rações; sárias para fundamentar uma decisão de
crédito. Cabe à Área de Risco de Crédito
• Manter a adequada classificação de ris- avaliar e validar a proposta apresentada
cos da carteira de crédito do BNPP BR, pelas Áreas de Negócios quanto ao cor-
orientando as áreas envolvidas quanto reto acesso ao risco.
aos critérios a serem utilizados para fins
de provisionamento contábil. Todas as decisões de crédito são formali-
zadas em Atas de Reunião assinadas pelos
• Informar os Comitês Executivos sobre membros do Comitê de Crédito.
Em alguns casos (a serem definidos pelos Negócios especiais ou diferenciados devem
Representantes de Risco), a proposta envolver os especialistas em suas respecti-
poderá ser aprovada por circulação entre vas áreas que irão prover o apoio técnico
os membros do Comitê de Crédito local. necessário ao negócio.
Nos casos de risco fora dos poderes locais, A decisão final em relação ao rating de
a Ata de Reunião e o Dossiê de Crédito são crédito e à taxa de recuperação do crédito
enviados para o Comitê Responsável em concedido (Global Recovery Rate – “GRR”)
Paris, para análise e aprovação. pertence à Diretoria de Risco de Crédito.
OS 5 “CS” DO CRÉDITO
Os 5 “CS” do Crédito
IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O segundo grupo é classificado como Aspectos Financeiros, que entrariam
mais dois Cs: Capital e Condições. Se necessário, é possível agregar mais um
C, que é o de Colateral.
Na tabela abaixo, temos uma representação de cada um dos Cs do crédito:
C DO CRÉDITO DESCRIÇÃO
Considerado sempre como o mais importante. Diz respeito
à determinação de pagar do tomador. A informação sobre o
caráter é obtida através de uma excelente e esmerada ficha
cadastral, histórico de pagamento de outras dívidas, além de
subjetividades como sua cultura e hábitos, a maneira de vida,
C – Caráter
hobbies e passatempos, suas associações no universo cultural e
profissional, ambições e posturas éticas familiares, seu profissio-
nalismo e honestidade nos negócios e tudo o mais que possa
ser usado para formar um juízo de valor por parte do conceden-
te do crédito.
Refere-se à habilidade de pagar. É composto por um conjunto
de elementos que envolvem a formação do devedor e aspectos
Capacidade
como experiência, consecuções na vida, tradição (pelo lado
positivo) no segmento que atua, entre outros.
RISCO DE CRÉDITO
107
Os 5 “CS” do Crédito
IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesta unidade, tratamos de um assunto importante para nós, gestores financeiros.
Você percebeu que a concessão de crédito não deve ser tratada com super-
ficialidade. Na verdade, esse momento pode ser mais importante que a própria
venda de produtos e/ou serviços. Afinal, de que adianta vender se você não vai
receber?
O problema é que ninguém vem com uma tatuagem escrito que a pessoa
pagará uma dívida. Então, muitas pessoas bem vestidas são, na verdade, verda-
deiros malandros, caloteiros profissionais à espera de mais uma vítima.
Não ser esta vítima requer preparo, certa medida de frieza, para que as aná-
lises sejam feitas de forma objetiva e a decisão de conceder ou não um crédito
seja a melhor possível.
Setores de análise de crédito bem estruturados também erram. Portanto, se
você já concedeu um crédito e houve a inadimplência por parte do tomador, não
se desespere. Você não foi nem será o único a tomar um calote.
Mas, assegure-se de utilizar as sugestões dadas nesta unidade para que você
possa executar um bom trabalho com respeito a mais esse desafio do gestor.
Bom trabalho!
Prof. Paulo Pardo
RISCO DE CRÉDITO
109
1. A análise e concessão de crédito tem sido uma verdadeira “pedra no sapato” dos
empresários e gestores financeiros. Pesquise na Internet as estatísticas de ina-
dimplência do setor em que você atua. Quais as causas prováveis desta inadim-
plência, na sua opinião?
2. O aumento da inadimplência faz com que os bancos restrinjam o crédito, preju-
dicando a cadeia produtiva. Pesquise sobre o spread bancário no Brasil. Qual o
motivo que faz com que nossos bancos pratiquem um spread tão elevado?
MATERIAL COMPLEMENTAR
V
UNIDADE
MECANISMOS DE HEDGE
Objetivos de Aprendizagem
■ Conceituar e contextualizar mercados futuros.
■ Conhecer os instrumentos derivativos.
■ Compreender o funcionamento do mercado de opções.
■ Refletir sobre os cuidados com os derivativos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Mercados futuros
■ Derivativos – definições
■ Derivativos – um breve histórico
■ Mecânica de Funcionamento dos derivativos
■ Funcionamento do Mercado de Opções
■ Cuidados com os Derivativos
113
INTRODUÇÃO
Muito bem, meu caro aluno. Chegamos à unidade V em que vamos considerar
um assunto um pouco mais denso, porém importantíssimo na Gestão de Riscos.
Trata-se dos mecanismos de proteção ou Hedge.
Você, que é uma pessoa bem informada, já deve ter lido a respeito ou conhecido
alguém que seja ligado ao agronegócio. Nosso agronegócio é uma força econô-
mica fundamental para o país. De alguns anos para cá, inovações tecnológicas
possibilitaram a formação do que ficou conhecido como “novas fronteiras agrí-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
V
MERCADOS FUTUROS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
reservas em ouro, transformando sua moeda também numa moeda escritural,
como todo o resto do mundo.
Até então, havia mecanismos de proteção de preço para alguns produtos
agrícolas, mas no mercado financeiro, as amarras legais que existiam não pos-
sibilitavam seu uso de forma mais intensa. Com o fim do acordo de Bretton
Woods (um acordo internacional firmado em 1944, que estabelecia regras para o
sistema financeiro internacional, e que, entre outras coisas, estabelecia a conver-
sibilidade do dólar em ouro, de forma automática), o sistema financeiro passou
a utilizar-se de mecanismos da engenharia financeira para oferecer proteção de
posições a investidores e mitigar os riscos de certas operações, principalmente
as que tinham por índice alguma cotação de moeda. Estava preparado assim o
caminho para a sistematização dos derivativos.
Como vimos, foi uma sucessão de acontecimentos que permitam o desenvol-
vimento do mercado de derivativos. No que poderíamos chamar de primeira fase,
o mercado organizou operações à vista e a termo. Logo em seguida, o mercado
foi na direção da padronização desses contratos a termo em relação à quanti-
dade, qualidade, data de vencimento e local de entrega.
A integridade financeira e de entrega física foi conseguida por meio do
desenvolvimento das câmaras de compensação (clearing houses), que estabe-
lecem diversos procedimentos para viabilizar a boa liquidação dos contratos.
Dessa maneira, foram estabelecidos os princípios básicos nos quais assentam
os modernos mercados futuros.
DERIVATIVOS – DEFINIÇÕES
Derivativos – Definições
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos de compra e venda de um determinado ativo (por exemplo, o soja)
em data futura por um preço que foi acordado entre as partes. Como são
comercializados em bolsa, essa exige que algumas cláusulas sigam padrões
em relação à quantidade e qualidade desses ativos, bem como as formas
de liquidação, os prazos de entrega dentre outros. Não é possível a liqui-
dação antes do prazo de vencimento do contrato.
b) Contratos de Opções – seguem o mesmo princípio dos contratos de opções
flexíveis que vimos acima. Também nesse caso, uma das partes adquire o
direito de comprar ou vender um determinado ativo a um preço prees-
tabelecido até a data acordada em contrapartida, a outra parte se obriga
a vender ou comprar esse ativo, em troca de um único pagamento inicial
(chamado de prêmio). A principal diferença entre essa modalidade e a
modalidade negociada em balcão diz respeito às regras da bolsa, que bus-
cam a padronização dos papéis para dar maior transparência às operações.
Os registros sobre derivativos são muito antigos. É consenso na área que uma
das primeiras experiências com derivativos encontra-se na Bíblia. Chance (1998
apud KLOECKNER, 2007) relata que, por volta do ano 1.700 a.C., o filho de
Abraão, Jacó, adquiriu uma opção (comercializada em mercado de balcão) que
lhe conferia o direito de se casar com Raquel, filha de Labão. Por esta opção,
Jacó pagou um “prêmio”: sete anos de trabalho. Ao final desse prazo, Labão não
Derivativos – Definições
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
comerciantes compravam opções de compra sobre as colheitas e os agricultores
negociavam opções de venda, que lhes garantiria um preço mínimo para a venda
de suas colheitas. Com a queda acentuada dos preços das tulipas, diversos parti-
cipantes desse mercado foram levados à falência. A especulação sobre os bulbos
de tulipa, na sua fase de supervalorização, chegou a atingir a Royal Exchange de
Londres, Inglaterra, fundada em 1565, que também chegou a negociar contra-
tos a termo sobre bulbos de tulipa (CHANCE, 1998, apud KLOECNKER, 2007).
No Japão, os mercados futuros datam do período Edo (1603 a 1867) quando
foi fundada a bolsa de arroz em Osaka, cidade que era o centro da economia
japonesa nesta época. As prefeituras mantinham armazéns em Osaka e juntas
vendiam a produção de arroz aos comerciantes. Registra-se que certo comerciante
chamado Yodoya, juntamente com outros traders, fundou a Yodoya-Komeichi
que é considerada a primeira bolsa do Japão. Em 1697, esta bolsa foi transfe-
rida para Dojima.
Também no Japão, em 1716, iniciaram-se as transações com futuros de arroz,
que foram reconhecidas pelo governo japonês alguns anos mais tarde, em 1730.
Interessante notar que os contratos negociados na bolsa de Dojima eram muito
semelhantes aos contratos futuros negociados nas principais bolsas do mundo,
com a padronização de qualidade, quantidade, prazo e valor a pagar.
Podemos observar também na história vários eventos especulativos. Um deles
é registrado na Inglaterra, no início do século XVIII, em que se passou a nego-
ciar opções sobre ações das principais companhias marítimas. No ano de 1720,
ocorreu uma forte queda dos preços das ações da South Sea Company, atribuída,
em parte, à especulação com opções sobre as ações da empresa. Por conta deste
Derivativos – Definições
V
DERIVATIVOS NO BRASIL
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dação da primeira bolsa de commodities agrícolas, a Bolsa de Mercadorias de
São Paulo (BMSP).
Eram comercializados no recinto da BMSP contratos de natureza agrope-
cuária como café, boi gordo e algodão. Foi só na década de 1980 que houve a
negociação do primeiro contrato futuro de um ativo financeiro (referenciado em
ouro). Em 1979, as bolsas de Valores do Rio de Janeiro e São Paulo iniciaram-se
no mercado futuro de ações e as operações com opções.
A década de 1980 marcou a fundação, por meio das bolsas de valores do
Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente, de duas bolsas para negociação
nos mercados futuros: a Bolsa Brasileira de Futuros (BBF), fundada em 1983,
e a Bolsa Mercantil & de Futuros (BM&F), fundada em 04 de julho de 1985. O
primeiro pregão ocorreu em 31 de janeiro de 1986. Em maio de 1991, ocorreu
a fusão da BM&F com a BMSP, originando a Bolsa de Mercadorias & Futuros,
mantendo a sigla BM&F. Esta nova BM&F passa então a negociar contratos mais
sofisticados do que apenas financeiros e agrícolas. São também objeto de comer-
cialização swaps e opções flexíveis. Em 30 de junho de 1997, a BM&F incorpora
a BBF, tornando-se o maior centro de negociação de derivativos do Brasil e um
dos principais no mundo (CORADI, 1998; LOZARDO, 1998; TEIXEIRA, 1992
apud KLOECKNER, 2007).
Em 29 de agosto de 2002, a BM&F cria a Bolsa Brasileira de Mercadorias
que passou a ser constituída, além da própria BM&F, também pelas bolsas de
mercadorias de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande
do Sul e da cidade de Uberlândia (MG), que foram transformadas em Centrais
Regionais de Operação.
Um dos principais fatos recentes da história das bolsas no Brasil tem a ver
com a fusão da BM&F com a Bovespa, em 2008, formando a maior bolsa da
América Latina e a terceira maior bolsa do mundo.
PARTICIPANTE CARACTERÍSTICAS
São agentes econômicos que desenvolvem alguma atividade produti-
va, comercial ou de serviços e que desejam reduzir algum tipo de risco
que pode ser, por exemplo, de variação do preço de um produto (com-
modity), de oscilação de taxas de juro ou taxa cambial. Os hedgers uti-
lizam então o mercado para proteção contra variações não desejáveis
Hedgers nos preços. Um exemplo clássico de hedge é o fazendeiro que ainda
não pode colher sua produção de grãos e receia a queda nos preços.
Para se proteger, ele pode vender no mercado futuro seu produto, se o
preço lhe convier. Seu lucro fica “travado”, ou seja, se a commodity subir
de preço seu lucro não aumentará. Vale lembrar que o hedge evita as
perdas, mas limita os lucros.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
saindo da posição que mantém, dias antes. Dificilmente um especula-
dor vai entregar uma commodity, ou outro ativo, se estiver “vendido”,
ou receber se estiver “comprado”.
Os Arbitradores operam no mercado realizando compra e venda
simultânea de ativos e derivativos cujos preços estejam “desalinhados”.
O seguinte exemplo procurará esclarecer o que foi dito. Suponha que
o preço do soja à vista esteja “muito barato” e o preço do soja para
entrega futura esteja “muito caro”. Ao identificar tal situação, o Arbitra-
dor poderá comprar soja no mercado à vista, e vender soja no mercado
futuro. Ele repetirá esta operação, fazendo pressão de compra (aumen-
tando a procura) no mercado à vista e pressão de venda (aumentando
a oferta) no mercado futuro. Com isso, o preço à vista tenderá a subir e
o preço futuro tenderá a cair. Quando os preços voltarem aos patama-
res “normais”, o arbitrador reverte as operações, vendendo o que foi
Arbitradores comprado e comprando o que foi vendido, realizando seu lucro. Agin-
do desta forma, os arbitradores conseguem um lucro estando sujeitos
a um grau de risco baixo. Em resumo, os Arbitradores garantem que
os preços futuros no mercado estejam compatíveis com os preços no
mercado físico. Sempre que há uma discrepância entre esses preços,
o arbitrador aproveita para realizar seus lucros, sem risco. Assim, os
preços estão sempre “justos”. Um exemplo de arbitragem é a compra
de ações de uma empresa no Brasil e a venda simultânea de ADRs
(recibos de ações) em Nova Iorque, se houver discrepância de preços.
Outro exemplo seria comprar ouro à vista e vender contratos futuros
dessa commodity, se o preço no futuro compensar a taxa de juros do
mercado.
São os especuladores que operam em curtíssimo horizonte de tempo.
Em geral, fazem previsões sobre o comportamento dos preços de
contratos futuros para os próximos segundos ou no máximo para uns
Scalpers
poucos minutos à frente. Não planejam obter grandes ganhos em
cada negócio e sim esperam obter pequenos lucros de cada vez com a
movimentação de preços
Fonte: baseado em Toledo Filho et. al (2009) e Kloeckner (2007)
Renato comenta: “Navarro, estou um pouco …A Sadia lançou opções de dólar na BM&F
confuso. Sou acionista da Sadia, recebi um Bovespa, com prazo de 12 meses, na expec-
comunicado deles explicando um pouco tativa de comprar a moeda com preço mais
sobre o prejuízo de R$760 milhões, mas baixo ao final deste período. Em outras
fiquei curioso para entender melhor o que palavras, ela vendeu contratos futuros de
exatamente aconteceu. Entendi que foram câmbio apostando na queda da moeda.
operações relacionadas ao dólar, ao câm- Quem compra, a contra-parte, espera que
bio, mas sua didática se faz essencial para o valor suba. No vencimento, as partes se
que possamos, eu e seus demais leitores, ajeitam. No frigir dos ovos, o objetivo era
compreender a razão real do prejuízo. Pelo comprar dólares baratos no mercado à vista
que li, tudo tem a ver com operações no e revendê-los pelo preço do contrato futuro
mercado futuro. É isso? Obrigado”. (mais alto).
MERCADO FUTURO
O mercado de câmbio, de acordo com a política cambial do governo, tem livre flu-
tuação, e é afetado por movimentos econômicos internos e externos. Neste caso,
os compromissos firmados em dólar são afetados por essa flutuação, podendo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
trazer o que se chama de risco cambial.
Operando nos mercados futuros é possível a utilização de operações de pro-
teção (ou hedge) em que todos os que têm interesse numa determinada taxa do
dólar podem garantir uma espécie de “seguro” contra efeitos negativos de queda
ou elevação de preços.
A mecânica funciona assim:
Um hedge de venda é firmado ao se vender contratos futuros, quer dizer,
assume-se uma posição vendida em futuros contra uma posição comprada no
mercado físico. Neste caso, o que se deseja é buscar proteção contra uma queda
dos preços do ativo objeto do contrato.
Um hedge de compra é firmado ao comprar contratos futuros, quer dizer,
assume-se uma posição comprada em futuros contra uma posição vendida no
mercado físico. Ao fazer isso, busca-se oferecer proteção contra alta dos preços
do ativo objeto do contrato.
Um dos atrativos do mercado futuro é possibilitar uma aproximação de um
modelo ideal de formação de preços em razão das negociações que ocorrem no
presente, evitando distorções significativas de preços futuros e possibilitando
a todos os participantes uma grande transparência e facilidade de acesso, num
sistema em que as informações são recebidas, processadas, interpretadas e incor-
poradas com velocidade e dinamismo.
Quais são os custos para operar no mercado futuro?
A BMFBOVESPA informa que os principais custos que um participante
incorre quando opera no mercado futuro são:
Fonte: BMFBOVESPA
Para garantia das operações de mercado futuro, algumas ferramentas foram ado-
tadas. Vamos conhecê-las.
AJUSTES DIÁRIOS
Ajustes Diários
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
anormal nesses débitos e créditos. Faz parte do mecanismo de ajuste do sistema.
Além disso, esses ajustes diários permitem que qualquer das partes possa
desfazer a operação a qualquer momento, fazendo um repasse a um terceiro pelo
preço do dia. Além disso, o valor é pequeno em relação ao total da operação,
o que poderia afugentar aquela parte que aparentemente está se prejudicando.
Considera-se que esses ajustes diários sejam salutares por nivelarem as posições
das partes, cada qual recebendo ou pagando suas obrigações.
Na Tabela abaixo, você pode ter uma ideia dos tipos de contratos futuros
negociados no mundo:
TIPO CONTATOS
Treasury Bonds, Treasury Bills, Treasury Ilotes, Eudollar, 30 day
Taxa de Juro
Federal Funds, Libor, DI de 1 dia, Cupom Cambial, Global Bonds.
Moedas es- Franco Suiço, marco Alemão, Dólar, Real, Euro, Iene, entre ou-
trangeiras tras.
Ibovespa, S&P 500 Stock Index, S&P Mid Cap 400 Stock Index,
Índices llikkei 225 Stock Average, llasdaq 100 Stock Index, Goldman Sa-
chs Commodity Index, Municiapl Bond index, U.S. Dollar Index.
Trigo, milho, aveia, complexo soja (soja em grão, óleo de soja
Grãos
farelo de soja).
Carnes Boi gordo, boi magro, porcos, bezerro.
Metais Platina, prata, ouro, cobre, alumínio.
Alimentos e
Café, cacau, açúcar, suco de laranja, algodão.
Fibras
Ajustes Diários
V
MERCADO BALCÃO
Variáveis autorizadas para formação de um swap: DÇ, taxa
pré, taxa de Câmbio, TR TJLP, Selic TBF, Taxa Anbid, IGP-M, IGP-
Swaps
DI, IPC, Fipe, IPCA, IIIPC, Ibovespa, IBrX-50, variação do preço
do ouro.
Opções de compra e de venda de taxa de câmbio R$ USS. de
Opções Flexiveis
Ibovespa e de indice de taxa de juro spot.
Fonte: BMFBOVESPA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
as outras melhorias propiciadas pelas bolsas, foi possível trazer novos atores ao
cenário, que tinham interesse unicamente nos possíveis ganhos financeiros das
operações, sem nenhuma intenção de entregar ou receber a commodity objeto
do contrato.
Para se ter uma ideia de como isso se popularizou, hoje apenas cerca de 1%
dos contratos têm liquidação física. Todo o resto funciona apenas por liquida-
ção financeira.
Porém, caso o direito não seja exercido até o vencimento, a opção (ou seja,
o direito) “vira pó”, no jargão deste mercado.
Para quem está executando uma operação de hedge, essa “opção”, por exer-
cer o direito, faz uma grande diferença.
Opções de Compra
Precisamos conhecer alguns termos que são utilizados neste mercado. Por exem-
plo, o comprador é chamado de titular; o vendedor recebe o nome de lançador.
Para exercer o direito, paga-se um prêmio que é negociado entre as partes com
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Opções de Venda
A operação contrária a que vimos no item anterior são as opções de venda. Neste
caso, o comprador paga um prêmio para ter o direito de vender uma determinada
commodity a um preço previamente fixado. O vendedor desta opção se obriga a
comprar o ativo-objeto pelo preço combinado, sempre que o titular exercer seu
direito. Você pode imaginar como as opções de venda são úteis para um pro-
dutor rural para garantir um preço mínimo de venda de seus produtos. Uma
vantagem importante das opções sobre os contratos futuros é que não existe a
necessidade de uma margem de garantia. O custo da transação é o prêmio que se
Ajustes Diários
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pagamos pelo direito de exercício de uma opção) seja de R$2 mil. Ao final do
ano, o que pode ter acontecido? Com boa chance, nada terá acontecido: ninguém
roubou nosso carro e nem houve uma colisão que precisássemos acionar a segu-
radora. Qual seria o nosso “prejuízo”, por assim dizer? No máximo, o valor do
prêmio do seguro, ou seja, os R$2 mil. Esse valor “viraria pó”, ou seja, perdería-
mos o valor do prêmio por não termos utilizado o seguro. O que a seguradora
ganharia? Esses exatos R$2 mil. Mas e se houvesse um sinistro? Nesse caso, exer-
ceríamos o direito como segurados e exigiríamos o pagamento da indenização.
Veja que um seguro é uma forma de gerenciar risco, o que está também pre-
sente no mercado de opções.
COMPRADORES E VENDEDORES
PARTICIPANTE PAPEL
TITULAR DA CALL Denominação dada ao comprador de uma opção
de compra, que paga um prêmio (negociado entre
as partes) para ter o direito de comprar o ativo-ob-
jeto ao preço de exercício da opção.
LANÇADOR DA CALL Denominação dada ao vendedor de uma opção
de compra, que recebe o prêmio (negociado entre
as partes), ficando obrigado a vender (para o titu-
lar) o ativo-objeto ao preço de exercício da opção.
TITULAR DA PUTT Denominação dada ao comprador de uma opção
de venda, que paga um prêmio (negociado entre
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O LANÇADOR
ATIVO-OBJETO DA AÇÃO
Ajustes Diários
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■ Bezerro.
■ Taxa de câmbio de reais por dólar comercial.
■ No mercado disponível (à vista ou físico), são estes os principais contra-
tos de opções:
■ Ouro.
■ Índice DI.
■ Dólar comercial.
Fonte: BMFBOVESPA
VENCIMENTO
PREÇO DE EXERCÍCIO
Ajustes Diários
V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
etc.).
data futura. minada data direito.
futura.
Tamanho Geralmente
Negociável Padronizado Negociável
do contrato padronizado
Data e local Geralmente
Negociável Padronizado Negociável
de entrega padronizado
Preços são
Preços são de- Admite
Preços são negociados
terminados em negociação
Método de determinados privadamente
pregão em um em pregão de
negocia- privadamente (em geral por
tipo de mercado bolsa ou no
ções entre comprador telefone) entre
de leilão em bol- mercado de
e vendedor. comprador e
sa de futuros. balcão.
vendedor.
Somente o
Comprador e
vendedor
vendedor depo-
(chamado Dependente
Dependente sitam margem
lançador) é das relações
Depósito das relações de de garantia
obrigado a de crédito
de segu- crédito entre o na Bolsa. As
depositar entre o com-
rança comprador e o variações diárias
margem de prador e o
vendedor. de preços são
garantia. Mas vendedor.
compensadas
não há ajustes
no dia seguinte.
diários.
Frequência
de entrega Muito alta Muito baixa Muito baixa Muito baixa
física
Leis Comerciais;
Comissão de Comissão de
Banco Central Comissão de Va-
Valores Mobi- Valores Mobili-
do Brasil e lores Mobiliários
Regulação liários e Auto- ários e Auto-
Comissão de e Auto-Regula-
Regulação das Regulação das
Valores Mobili- ção das Bolsas.
Bolsas. Bolsas.
ários.
Admite
Admite garan-
garantia do
tia do Departa-
Departamento
Departamento mento de Cle-
Emitente e de Clearing da
Ninguém de Clearing da aring da Bolsa
Garantidor Bolsa ou pode
Bolsa ou pode ser
ser defini-
definida entre
da entre as
as partes.
partes.
Fonte: GLOBAL INVESTIMENTOS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Pode parecer que essa é uma análise sim- perda que poderia ter ocorrido na com-
plista da situação, mas a verdade é que a pra da ação. Por outro lado, na hipótese
estratégia envolve a “compra de tempo” e o de uma forte alta para o preço da ação, ele
adiamento da decisão de compra da ação à terá obtido um resultado satisfatório, tendo
vista por um ou dois meses, quando o cená- em vista a relação retorno-risco envolvida
rio atual estará mais claro e definido. Vale na decisão de se investir em ações ou em
ressaltar que ao comprar opções o “desen- opções.
caixe” do investidor, que também pode ser
visto pela ótica do “valor em risco” do inves- Não se pode esquecer que a partir do
timento, é de apenas uma fração do valor momento em que a opção de compra for
necessário para a compra de uma ação. exercida, o investidor estará comprado em
ações à vista e sujeito ao risco (de alta ou
Assim, se for o caso, o investidor poderá de baixa) de seu investimento em bolsa.
exercer a compra da ação à vista no venci- Todavia, caso o mercado venha a confirmar
mento das opções ou simplesmente não a tendência e o rali de alta das bolsas venha,
fazê-lo se não for interessante para ele. No de fato, a perdurar por um longo período,
caso do pior cenário possível, com forte essa terá sido, com certeza, a decisão mais
queda no preço da ação, ele terá perdido inteligente que poderia ter tomado dado
o valor pago (desencaixe) na compra da o cenário desse momento.
opção, o qual poderá ser muito inferior à
Fonte: <http://vocesa.abril.com.br/blog/opcoes-sem-misterio/>. Acesso em: 10 maio 2012.
O Global Derivatives Study Group do Grupo • a política do uso de derivativos deverá ser
dos 30 publicou um documento denomi- decidida pelo mais alto nível hierárquico de
nado Derivativos: Práticas e Princípios. uma organização;
Este trabalho é voltado para os agentes
econômicos que se utilizam de derivati- • os derivativos que fazem parte dos ati-
vos negociados em balcão (OTC), ou seja, vos da organização deverão ser avaliados
aqueles que não são negociados em bolsa, a valor de mercado;
mas diretamente entre os interessados.
Entretanto, na prática, as conclusões a que • o risco de mercado das posições em deri-
chegou o grupo de estudos podem ser váli- vativos deve ser quantificado realizando-se
das, também, para aqueles que lidam com testes como, por exemplo, de stress, e as
derivativos negociados em bolsas. Ao todo, necessidades de fundos para estas situa-
vinte recomendações foram enunciadas ções devem ser projetadas;
para dealers e usuários finais de derivati-
vos e elas estão resumidas a seguir: • quando forem utilizados derivativos pela
organização, esta deverá avaliar o seu
impacto no seu risco de crédito corrente • a organização deverá possuir um sistema
e futuro; de informações gerenciais que consiga
medir de maneira apropriada e comuni-
• a função do gestor de risco, tanto de cré- car rapidamente a exposição ao risco com
dito como de mercado, deve ser separada derivativos;
do operador de derivativos;
• adote práticas de transparência, indepen-
• somente profissionais qualificados devem dentemente da inexistência de legislação
operar nas áreas de gestão de risco e ope- específica.
ração de derivativos;
Fonte: <http://riskinstitute.ch/138250.htm>. Acesso em: 31 maio 2012. Traduzido no traba-
lho de KLOECKENER (2007).
141
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
V
É claro que, apenas numa unidade não seria possível abordar toda a com-
plexidade dos derivativos. Só para se ter uma ideia, esse assunto tem dominado
uma boa parte da literatura econômica, principalmente depois da catástrofe
das hipotecas subprime americanas. Os cálculos de fluxo de caixa e as fórmu-
las para apuração de riscos foram emitidos para uma melhor compreensão do
tema, neste momento.
Sugiro que você busque mais informações sobre o assunto. Não deixe passar
essa oportunidade de conhecer alguns dos mais fantásticos produtos financei-
ros da era moderna, os derivativos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dominando este tema, você, sem dúvida, será um profissional diferenciado.
Mãos à obra, então!
Sucesso!
Prof. Me. Paulo Pardo
Prezado estudante.
Fiquei muito feliz pela oportunidade de considerar com você os temas relativos à
Gestão de Risco.
Este assunto deveria ser tema de debate em vários círculos, tanto empresariais
como no agronegócio, sem dúvida, as maiores locomotivas da economia brasileira.
Mas, de fato, não vemos isso acontecer. É verdade que esse panorama tem se altera-
do nos últimos tempos, mas temos ainda um longo caminho a trilhar.
Espero que você seja um agente promotor dessas mudanças.
Vamos relembrar os pontos altos do que vimos durante nossa consideração?
Na unidade I, fomos apresentados à Gestão de Riscos. Entendemos as principais
classificações de riscos e o papel do gestor em aceitar os riscos inerentes ao seu
negócio.
Essa unidade foi produtiva para nos cientificar que não há nenhum tipo de investi-
mento sem risco. Mesmo investimentos tradicionais contêm certa medida de risco,
e os gestores, ao invés de ignorá-los, devem ter uma visão estratégica de gerencia-
mento, pensando em ferramentas para mitigá-los.
Na unidade II, identificamos as principais métricas ou medidas de quantificação
de riscos. Alguns desses instrumentos já são utilizados eficazmente há alguns anos.
Outros têm uma história mais recente e tem-se provado úteis em diversas situações.
É importante frisar, mais uma vez, que não há um único mecanismo que dê conta
de todas as respostas de que o gestor necessita. Por isso, uma combinação destas
ferramentas pode lhe ser útil na sua rotina de análise de riscos.
Na unidade III, conseguimos discutir mais ferramentas de análise de riscos e tam-
bém vimos métodos para análise de investimentos. A vida de um gestor não é fácil,
pois suas decisões envolvem recursos que geralmente são escassos para as empre-
sas. Não se pode dar ao luxo de perder recursos importantes por falhas de análise de
viabilidade de projetos. Este é um risco bastante real.
Na unidade IV, analisamos a questão da análise e concessão de crédito. Lembrando
que esta é uma função tão importante quanto as vendas. Temos que saber vender,
saber entregar e saber receber. O mercado disponibiliza ferramentas bastante in-
teressantes para análise de crédito, mas nenhuma é 100% segura. Sempre haverá
fraudes ou tentativas de burlar os sistemas. Fique atento, treine-se para não ser víti-
ma de oportunistas.
Finalmente, na unidade V, entramos no fantástico mundo dos mercados de deri-
vativos. Muitas empresas entraram neste mercado puramente para especular, mas
sem o menor preparo para isso. As consequências foram catastróficas. Porém, quem
conhece estes mecanismos e aprende a utilizá-los com critério, não só protege suas
posições, como também tem a chance real de ser remunerado por isso. Parece bom,
não é mesmo?
CONCLUSÃO
Percorremos um caminho longo, alguns temas mais complexos, mas tenho certeza
de que todos esses conhecimentos lhe serão úteis para seu sucesso profissional.
Não há como admitir a atuação de um gestor financeiro que não domine minima-
mente estes fundamentos. Evidentemente que o grau de aplicação dependerá do
quanto você se interessará em aprofundar-se nessas questões levantadas.
Mas, tenho confiança em que você tem o perfil necessário para vencer estes desa-
fios.
Espero que os conhecimentos que abordamos aqui sejam úteis para você como foi
para mim. Úteis no sentido de contribuir para o seu desenvolvimento pessoal, da
construção coletiva do conhecimento, de apontar novos caminhos e inspirações
para que você siga uma carreira de sucesso.
As fases de nossa vida são marcadas por acontecimentos singulares, como a ob-
tenção de uma educação superior, o casamento ou nascimento de filhos e outras
ocasiões memoráveis. Espero que o conhecimento sobre gestão de riscos lhe seja
proveitoso para preservar e aumentar o patrimônio do seu empreendimento, seja
como profissional contratado, seja como empreendedor. Faça diferença, este é meu
desejo para você.
Sucesso!
Professor Paulo.
147
REFERÊNCIAS