Mensagem - Salmo 23 - Uma Oração Sobre Certezas

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Título: Uma oração sobre certezas

Texto: Salmo 23

INTRODUÇÃO
Quando pensamos em oração, logo imaginamos uma sequência de pedidos e súplicas que
queremos fazer para Deus. Oração virou, para nós, sinônimo de pedir coisas para Deus. Na verdade, a
imagem que temos de Deus é de alguém que está aí para nos servir e nos fazer feliz.

Não há problema nenhum em fazermos pedidos para Deus, pois alguns de nossos pedidos são de
fato genuínos. Contudo, temos uma imagem muitas vezes distorcida de quem Deus é. E os salmos podem
nos ajudar a mudar essa imagem deturpada que muitos de nós temos sobre Deus e sobre oração.

Os salmos são orações, muitas vezes em forma de poemas religiosos. Foram usados como livro de
orações e como hinário pelos hebreus após o exílio na Babilônia. Os cristãos do primeiro século também
usaram desta forma e com certeza estas poesias influenciavam a oração deles.

Neste salmo específico, temos uma oração diferente do que costumamos fazer nos dias de hoje.
Ao invés de apresentar pedidos ou até mesmo louvores a Deus, o salmista (provavelmente Davi) descreve
algumas características de Deus, como se estivesse falando ao seu próprio coração sobre quem Deus é.
Ele utiliza duas imagens muito comuns para Israel naquela época: a de um pastor de ovelhas e a de um
anfitrião que recebe hóspedes para um jantar. O próprio Davi entendia bem a figura do pastor de ovelhas,
pois exerceu essa atividade quando jovem. Além disso, podemos entender o pastor olhando para a figura
do rei, que é uma espécie de pastor que cuida de seu povo (Davi também foi rei e entendia bem a
metáfora).

Em suma, o salmo 23 é uma oração sobre algumas certezas que o salmista tinha a respeito de
Deus. Vejamos que certezas são essas e como elas nos ensinam hoje sobre quem Deus é:

1) A CERTEZA DA SUFICIÊNCIA DE DEUS – V.1-3


O salmista tinha certeza que Deus é suficiente não só para prover coisas materiais que precisamos
(casa, comida, etc.), mas que Deus é, acima disso, suficiente como a única coisa de que precisamos. Por
esse motivo a oração afirma que, se o Senhor é o nosso pastor, não temos falta de nada. Ele é tudo de
que precisamos e o resto é supérfluo (algumas traduções dizem “nada me falta” [agora]).

“Se o Senhor é meu pastor, aquilo que eu não tenho eu não preciso”
(Canção de Projeto Sola)

a) Deus é suficiente como a única coisa de que precisamos (v.1)


- Paulo em Filipenses 4.12-13 e 2 Coríntios 12.9: Deus como único bem necessário
- Pedro em João 6.68 (“para onde iremos, se só tu tens as palavras de vida eterna”)
- Conflito entre o que realmente precisamos e o que achamos que precisamos.

b) Certeza da provisão do pastor (v.1)


- Na relação entre pastor e ovelha, a ovelha é totalmente dependente do pastor para tudo. E o
Senhor, como pastor amoroso e fiel, não deixará que nada que seja necessário falte às suas
ovelhas. O pastor é tudo para a ovelha: guia, médico, provedor etc.

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- Salmo 34.9-10 em relação com Mateus 6.33-34
- A ovelha tem certeza do cuidado do pastor e não se preocupa com nada (não precisa de nada)

c) Certeza de paz e descanso (v.2)


- “O Senhor é paz” – Gideão em Juízes 6.24 (yahweh-shalom)
- “Minha paz vos dou” – Ler João 14.27
- Jesus é o Bom Pastor e as suas ovelhas ouvem a sua voz- João 10.11-16

d) Certeza de renovo espiritual e físico (v.3a)


- “Restaura-me o vigor [minha alma]” – Renovo da ovelha perdida que se reencontra com seu
pastor e é recebida de braços abertos – alusão ao arrependimento e perdão.
- para nós: renovo físico e espiritual em Deus

- “Em paz me deito e logo adormeço, pois só tu, Senhor, me fazes viver em segurança” – Sl 4.8

e) Certeza da direção de Deus (v.3b)


- Deus é suficiente para nos guiar no caminho correto.
- Ler Salmo 25.8-12 – Por meio de Seu espírito, Deus conduz os Seus no caminho correto.
- O Espírito Santo nos guia a toda a verdade - João 16.13
- Deus faz tudo isso por causa dEle mesmo, por amor de Seu nome (por fidelidade a si mesmo
e à sua Palavra) – Ele é o centro e não nós.

O Senhor é mais que suficiente para nós, suas ovelhas. Não há como trazer uma ilustração melhor
do que a que o salmista traz: somos ovelhas que tem somente a Seu Pastor, a saber, Jesus Cristo, o único
Deus. E ele é suficiente para nós! Suficiente para suprir nossas necessidades, nos trazer paz, descanso,
renovo e nos guiar pelo caminho dEle.

2) A CERTEZA DA PROTEÇÃO E DO CUIDADO DE DEUS – V.4

O salmista pressupõe que haverá dificuldades. Não há aqui promessa de não passarmos por lutas,
mas que podemos ter a certeza de que Deus, o nosso pastor, nos acompanha mesmo em um lugar de
trevas profundas.

a) Certeza da presença de Deus em qualquer situação – Josué 1.9

b) “A tua vara e o teu cajado”


- Deus nos protege dos inimigos (vara) e nos guia (cajado) mesmo no escuro
- Em Deus temos ajuda no momento da adversidade – Hebreus 4.16

c) “Me protegem”: algumas versões trazem “me consolam” ou “me tranquilizam”


- O descanso em Deus é o contrário da ansiedade – 1 Pedro 5.7
- Podemos descansar em Deus sabendo que Ele cuida de nós

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Com Deus como nosso pastor, não há porque termos medo mesmo que seja em uma situação
extrema de aflição (um vale escuro como a morte). Com Deus ao nosso lado, não precisamos de mais
nada. E isso basta para que a nossa fé não seja abalada. O mais interessante aqui é que o salmista deixa
de falar sobre o pastor na terceira pessoa e diz “pois TU estás comigo”, revelando a natureza do
relacionamento de Deus conosco: um pastor que anda conosco, nos protegendo de perto e não somente
a distância.

3) A CERTEZA DA JUSTIÇA DE DEUS – V.5


A figura do pastor e das ovelhas fica de lado aqui, dando espaço para uma imagem onde Deus é o
anfitrião de um banquete e nós somos os hóspedes. Esse banquete é realizado perante os inimigos do
salmista e o Senhor honra grandemente o hóspede para que todos ao redor vejam.

a) Certeza da vitória diante dos inimigos (para o cristão, a guerra não é contra a carne – Ef 6.12).

- Romanos 8.37: “Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele
que nos amou”

b) Certeza de que Deus nos honra


- Deus honra o servo que permanece fiel nas batalhas da vida
- Contudo, a honra de Deus é mais do que merecemos. Ele nos recebe como hóspedes em sua
“casa”, nos unge com óleo e transborda o nosso copo. É muito mais do que merecemos, pois
somos falhos.

- Esse costume de ungir com óleo o hóspede é visto no episódio de Lucas 7.36-50, em que
Jesus é ungido por uma mulher pecadora na casa de um fariseu. A mulher honra a Jesus ao
invés do anfitrião.

Com certeza Deus não deixará impune aqueles que se levantam contra Ele e contra os servos dEle.
Contudo, o foco aqui não é sobre vingança contra pessoas que fazem isso. O importante aqui é a figura do
hóspede chegando para o jantar após a batalha e sendo honrado pelo anfitrião. A metáfora mudou de um
pastor para um anfitrião, mas a ideia de provisão permanece: Deus provê o banquete de honra para os
seus servos. Essa certeza da justiça e honra serve, portanto, para nos ensinar a entregar para Deus toda
vingança e ira. A Deus pertence a vingança e não a nós.

4) A CERTEZA DA BONDADE E DA MISERICÓRDIA DE DEUS – V.6

A bondade e a misericórdia (fidelidade ou amor) de Deus são o que possibilita que nos
aproximemos de Deus. E mais, permite que estejamos sempre na presença de Deus, habitando em sua
casa. O salmista tinha essa certeza: a de que, pela bondade e misericórdia de Deus, poderia se achegar ao
Seu Senhor todos os dias.

a) Deus é santo e permite que nós, pecadores, nos aproximemos somente pela graça (Cristo)
- Rm 5.8 e Ef 2-8-9
- Deus não nos trata conforme os nossos pecados – Salmo 103.3-14
- Não somos merecedores. Não é porque somos fiéis às vezes que merecemos estar com Deus.
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b) Em Deus, temos comunhão contínua (habitarei, voltarei)

No Senhor, temos a certeza de que teremos Sua companhia em todo tempo, pois Ele é bondoso,
misericordioso, amoroso e fiel. Aliás, em Cristo temos a certeza de que habitaremos com Deus não só
durante essa vida, mas ainda mais na que há de vir: estaremos e habitaremos com Ele na eternidade.

“...Nem a morte e nem a vida...será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor!”
(Romanos 8.38-39)

“...pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água viva. E
Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima”
(Apocalipse 7.17)

CONCLUSÃO

O salmo 23, portanto, é uma oração sobre certezas. Certezas sobre quem Deus é. Não é uma
oração que se preocupa consigo mesmo. É uma oração, uma poesia, direcionada ao criador e salvador de
nossas vidas. O salmista não pede nada, simplesmente declara o quão fiel e bom é o Seu Senhor, seu
pastor, seu anfitrião divino.
Por meio dessa oração somos convidados a nos esquecermos de nós mesmos e confiarmos TUDO
a Ele! Frederick Brotherton Meyer (falecido em 1929), comentando este salmo, escreveu, numa espécie
de resumo do salmo:

“Deixemos que Deus cuide de nossas necessidades. Nós não precisamos de nada a não ser
dEle. Seus pastos são verdejantes; suas águas são águas de descanso. Ele nos proporciona
refrigério quando estamos cansados; cura-nos quando estamos doentes; restaura-nos da
caminhada; guia-nos a caminhos retos, apesar de íngremes; acompanha-nos pelo vale
com a vara, para defender-nos dos adversários e o cajado para retirar-nos de buracos;
prepara-nos uma mesa no meio do ódio; e nos protege com bondade e misericórdia”
(MEYER, 2002, p.277).

Israel enxergava Deus como seu Pastor. Isso é importante para nós, em uma sociedade
individualista. Nós, cristãos no século XXI, precisamos entender que Cristo não é somente o meu pastor,
mas o NOSSO pastor. Jesus Cristo é o bom pastor de seu rebanho, que é a igreja, formada pelos salvos.
Cristo é pastor provedor, defensor e guia da igreja. Nosso papel é depender totalmente dEle. O salmo 23
nos ensina que podemos ter a certeza da suficiência de Deus para nós: se temos a Cristo, não precisamos
de mais nada!

Culto – IBCarianos – 12/01/2020

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