Hölderlin-Poemas (Cadernos Da LetraE)
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mente de ser, agradar isso a Deus? A alma porm, assim o creio, deve permanecer pura, de outro modo alcana o Poderoso a guia, levada pelas asas, com um cntico de louvor e a voz de muitos pssaros. isso a essncia, a figura. Tu, belo riacho, pareces comovente quando corres com tanta clareza como o olho da divindade atravs da Via Lctea. Conheo-te bem, e todavia jorram lgrimas dos olhos. Vejo florir minha volta uma vida mais jovial nas figuras da Criao, pois no injustamente que a comparo com os tristes pombos solitrios no cemitrio. O riso dos homens, porm, parece encher-me de amargura, pois tenho um corao. Gostaria eu de ser um cometa? Acredito que sim. Pois tm a celeridade dos pssaros; florescem ao contacto do fogo, e na sua pureza so como crianas. Aspirar a algo de maior, a tal no pode afoitar-se a natureza do homem. Tambm a serenidade da virtude merece ser louvada pelo esprito solene que sopra por entre as trs colunas do jardim. Uma bela jovem tem de coroar a fronte com flores de mirto, porque simples, no seu ser e no seu sentimento. Mirtos, porm, hos na Grcia. Quando algum se olha no espelho, um homem, e a v a sua imagem, como pintada; ela assemelha-se ao homem. Tem olhos a imagem do homem, tem luz, em contrapartida, a Lua. O Rei dipo tem um olho a mais, talvez. Estes sofrimentos deste homem parecem indescritveis, indizveis, inexprimveis. Se a pea apresenta algo assim, por isso. Mas o que se passa comigo, que penso agora em ti? Como riachos, impele-me para l o fim de alguma coisa que se estende como a sia. Claramente, este sofrimento tem-no dipo. Claramente, por isso. Ter Hrcules sofrido tambm? Certamente. Os Dioscuros, na sua amizade, no tero suportado tambm o sofrimento? Pois lutar com Deus, como Hrcules, isso o sofrimento. E a imortalidade na inveja desta vida, partilh-la, tam-
bm um sofrimento. tambm um sofrimento, porm, quando um homem se v coberto de sardas, e fica completamente recoberto de inmeras manchas! o que faz o belo sol pois tudo faz vir ao de cima. Rege o trajecto dos jovens com a atraco dos seus raios, como com rosas. Os sofrimentos que dipo suportou parecem-se com um pobre homem que se lamenta pela falta de alguma coisa. Filho de Laio, pobre forasteiro na Grcia! A vida morte, e a morte tambm uma vida.
(Traduo de Bruno Duarte)
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E como a chama que nos olhos do homem se acendeu Ao conceber coisas sublimes, assim tambm Se incendeia de novo com os sinais, com os feitos do mundo, Um fogo na alma dos que adensam a palavra. E o que outrora aconteceu sem quase ser sentido S agora revelado, E podemos chamar pelo nome as fontes da vida Que a sorrir nos lavraram a terra Em figura de escravos: pujana viva dos deuses. Tens perguntas para eles? No canto sopra o seu ruah Quando brota do sol do dia e da terra quente Ou das vibraes troantes do ar, e de outras Que, mais preparadas no fundo dos tempos E mais grvidas de sentido, a nossos olhos mais legveis, Se passeiam entre cu e terra e entre os povos So pensamentos do esprito mtuo Que culminam no silncio da alma dos que adensam a palavra, De tal modo que ela, ferida, h muito tempo Hspede da casa do infinito, estremece na lembrana E, incendiada pelo fogo sagrado, -lhe dado conceber em amor a obra de deuses e homens, O dom do canto, que de ambos dar testemunho. Assim desceu, como dizem os que a palavra adensam, Sobre a casa de Semele, presa do desejo de ver o deus, O seu raio dardejante, e a mulher atingida Pariu o fruto da portentosa vibrao do ar, Baco, sagrado. E por isso os filhos da Terra bebem Agora o fogo celeste, sem perigo.
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Mas cabe-nos, sob os troves do deus, A ns e a vs que adensais a palavra, permanecer de cabea nua E com a prpria mo agarrar o dardo divino, Ele mesmo, e oferecer luz comum, A ednica ddiva que o canto oculta. Pois se formos sem impostura, como as crianas, E nossas mos sem culpa, No as queimar o fogo puro do pai, E no mais fundo mago tocado, sofrendo as dores do mais forte, No meio das tempestades do deus que do alto descem Quando ele se aproxima, o corao no vacila. Mas que fazer quando ___________ Que fazer? E se eu disser Que me aproximei para contemplar os do cu, Eles mesmos me lanaro para o abismo dos vivos, Para as trevas, a mim, falso oficiante, para que eu, Com um canto de aviso, mate a sede aos que querem aprender. L, nesse lugar ____________
(Traduo de Joo Barrento)
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3-XI-2012