Texto James Baldwin - Eu Não Sou o Seu Negro

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1) Que aspectos podemos destacar na história do racismo e da exploração a

que foram submetidos negros e negras na sociedade estadunidense? 

Se a história da América é a história do negro, como diz o documentário


baseado na obra de James Baldwin, a história do negro na América é a história
da exploração, opressão e discriminação. Desde 1619, quando os primeiros
escravos negros trazidos da África chegaram na Virginia - à época uma das
treze colônias britânicas - mulheres e homens negros têm sido vítimas de
abusos e violência pelo fato de serem negros. Foram quase duzentos e
cinquenta anos de servidão, e necessária uma guerra civil, para que a
escravidão finalmente acabasse em 1865. Contudo, a exploração da mão de
obra barata negra não acabou com o fim da guerra, mas estende-se até os dias
de hoje. Também não teve fim com a guerra a discriminação e o racismo. Após
o breve período da Reconstrução, em que os negros viram sua situação
começar a melhorar, as forças reacionárias escravocratas voltaram a exercer
seu domínio sobre o Sul. A partir da barganha corrupta que resolveu o impasse
sobre o resultado das disputadas eleições presidenciais de 1876, as últimas
tropas do governo federal saíram do Sul, deixando o caminho aberto para a
volta da opressão dos negros. 
É esse o contexto do surgimento das leis de segregação, como Jim
Crow, e de grupos supremacistas brancos como a Ku Kux Klan, que promoveu
ações terroristas contra a população negra. Durante as décadas que se
seguiram após o fim da reconstrução, milhares de negros e negras foram
perseguidos, linchados, torturados, tiveram seus bens expropriados, suas
casas queimadas e suas vidas ameaçadas. Esse período de terror se estendeu
do final do século XIX até a metade do século XX. Por conta deste ambiente de
opressão, um deslocamento em massa se deu de negros que deixaram o Sul
com destino às então crescentes cidades industriais do Nordeste e Meio-Oeste,
como Detroit, Chicago e Nova Iorque. Se mesmo no Norte os negros ainda
enfrentavam o racismo, no Sul milhões de negros e negras continuavam a
sofrer com políticas e leis racistas e segregacionistas. Entre as mais perversas,
a supressão do voto. Tal realidade somente iria mudar após o surgimento do
movimento pelos direitos civis. Organizações foram criadas. Líderes surgiram,
como Malcolm X e Martin Luther King Jr. Foram anos de mobilização e
protestos até que finalmente foi promulgada a Lei dos Direitos Civis de 1964,
que tornou ilegais práticas discriminatórias baseadas na raça ou cor das
pessoas. Se por um lado a Segregação passava a ser ilegal, por outro ela
continuou a existir na prática por muitos anos, todavia. Foi necessária muita
luta para que a Integração passasse a ser realidade, principalmente no Sul
profundo, onde negros e negras por muitos anos após declarada ilegal a
Segregação continuaram a sofrer discriminação e atos de violência, incluindo
ataques terroristas de supremacistas brancos. 
Desde a década de 60 até hoje ocorreram avanços. Negros e negras
passaram a ter maior participação política, tanto votando quanto sendo eleitos,
alterando a composição do Congresso Americano, tornando-o mais
representativo. Um retrato mais próximo da realidade do país. Se por um lado
houve progresso, por outro ainda há muito que ser feito. A larga distância que
separa a América branca da América negra continua a existir. Negros ainda
sofrem exploração e discriminação, desigualdade de renda e riqueza e toda
sorte de injustiças no sistema judicial. A verdade é que ainda persiste um
racismo estrutural e sistêmico nos Estados Unidos até hoje, e isso é algo que a
simples eleição de um presidente negro, por mais significativa que seja, não
pode mudar. 

2) Como podemos relacioná-los com as manifestações contemporâneas


antirracistas nos Estados Unidos?

Em um dado momento de seu texto, James Baldwin conta a história de


quando ele e sua amiga, Lorraine Hansberry, foram se encontrar com Bobby
Kennedy. Baldwin narra como na ocasião, Lorraine havia dito ao então
procurador geral como ela havia se impressionado com as imagens que vira de
policiais ajoelhando brutalmente sobre o pescoço de uma mulher negra, o que
teria feito com que ela se preocupasse com o estado da civilização humana.
Quase sessenta anos depois a história se repete, no entanto não como farsa,
mas ainda como tragédia. O caso de George Floyd tornou evidente como
apesar de todos os avanços, negros e negras continuam a sofrer
desproporcionalmente com a violência e brutalidade policial, respaldadas por
um sistema judicial injusto e discriminatório. Baldwin conta também como ele
percebeu que comportamentos e ações iguais de negros e brancos são
tratados de formas distintas nos Estados Unidos. O branco, para ele, pode
pegar em armas, e buscar o que compreende ser justa vingança. Pode
exclamar para todos: dê-me liberdade ou dê-me a morte!. E isso será
interpretado como coragem. Mas se um negro agir como agia John Wayne, não
será visto como herói, mas como um psicopata.
 Pode ser feita uma analogia entre tal diferença e as diferenças de
tratamento que existem até hoje entre negros e brancos. As taxas de uso e
venda de maconha por negros e brancos nos Estados Unidos são similares,
por exemplo. Contudo, são os negros que são desproporcionalmente julgados
e presos. Tal situação se repete com outros crimes, de modo que apesar de
negros serem minoria na população geral, são a maioria, juntamente com os
Latinos, da população carcerária. Assim como nos anos 60, a percepção de
que injustiças contra os negros continuam a existir, motivam hoje as
manifestações antirracistas. Vivemos novamente um momento em que um
movimento antirracista organizado expõe as divisões e força o encontro das
duas Américas citadas por Baldwin. A América branca que vive sob uma
inocência grotesca, e a negra que enfrenta a realidade brutal. Para Baldwin, a
realidade mesmo sendo encarada por vezes não é alterada, porém nunca será
alterada se não for encarada. As manifestações atuais nos Estados Unidos
mostram que esse é o momento de a sociedade americana encarar a
realidade, e ter uma conversa nacional a respeito do racismo que ainda existe
no país. James Baldwin disse que a história não é o passado, mas o presente.
Talvez este momento seja um em que se fará história. Um momento em que
mais um passo importante será dado na direção da superação do racismo nos
Estados Unidos, e talvez no mundo!

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