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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO

Identificação
PROCESSO nº 0020157-29.2013.5.04.0025 (RO)
RECORRENTE: JADER LUIS CHAGAS PORTO, ERICSSON GESTAO E SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES LTDA
RECORRIDO: JADER LUIS CHAGAS PORTO, ERICSSON GESTAO E SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES LTDA
RELATOR: CARMEN IZABEL CENTENA GONZALEZ

EMENTA

REGIME COMPENSATÓRIO SEMANAL. TRABALHO SUPLEMENTAR HABITUAL.


INVALIDADE. Constatada a prestação de trabalho suplementar habitual, resta desvirtuada a finalidade
do regime de compensação de horários semanal sendo devido o pagamento do adicional de hora extra em
relação às trabalhadas para fins de compensação do sábado

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª


Região: preliminarmente, por unanimidade de votos, REJEITAR requerimento formulado em
contrarrazões de declaração de trânsito em julgado por ausência de interesse jurídico. No mérito, por
unanimidade de votos, DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso da reclamada para reconhecer a
regularidade dos registros de horário e excluir da condenação as diferenças de horas extras e adicional
noturno, mantida a condenação em relação ao adicional de horas extras incidente sobre as horas
destinadas à compensação (excedentes à 8ª hora diária até o limite de 44 horas semanais) e reflexos
respectivos; excluir da condenação o pagamento dos reflexos decorrentes do aumento da média
remuneratória mensal, remanescendo os reflexos diretos; autorizar que, do que devido a título de bônus
refeição, sejam abatidos os valores pagos a título de ressarcimento de despesas com refeição; afastar da
condenação as diferenças salariais por equiparação em relação ao modelo Jaison Cristiano de Oliveira
Perpétuo; e excluir da condenação o pagamento da multa do art 467 da CLT e o FGTS da contratualidade
com 40%. Por unanimidade de votos, DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso do reclamante para
acrescer a condenação com o pagamento de honorários assistenciais à razão de 15% sobre o valor total
bruto da condenação. Valor da condenação e das custas reduzido, respectivamente, para R$ 4.500,00 e R$
90,00, para os efeitos legais.
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Intime-se.

Porto Alegre, 20 de abril de 2017 (quinta-feira).

RELATÓRIO

A reclamada interpõe recurso ordinário visando à reforma da sentença que julgou a ação procedente em
parte. Sustenta inépcia da petição inicial quanto ao pleito de equiparação salarial. Impugna a prova
testemunhal. Também busca afastar a condenação ao pagamento de verbas rescisórias, de horas extras e
de adicional noturno com reflexos, de intervalo, de equiparação salarial, de ticket refeição, das multas dos
artigos 477 e 467 da CLT, do FGTS com 40% sobre parcelas do contrato e sobre verbas deferidas na
ação, e benefício da justiça gratuita.

O reclamante recorre adesivamente buscando a nulidade do pedido de demissão e reconhecimento da


rescisão indireta do contrato de trabalho, bem como a condenação da reclamada ao pagamento de
adicional de insalubridade e/ou de periculosidade, de diferenças salariais por acúmulo de funções, de
indenização por dano moral, e verba honorária.

Com contrarrazões, o processo eletrônico é encaminhado a este Tribunal para julgamento e é distribuído
na forma regimental.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

Preliminarmente:

Declaração de trânsito em julgado - Não cabimento

Em contrarrazões, a reclamada requer seja declarado o trânsito em julgado das matérias julgadas na
origem que não foram objeto de recurso. Também busca afastar o conhecimento do recurso do autor
quanto a matérias que reputa inovatórias.

O trânsito em julgado da sentença, com relação às matérias não impugnadas pela via recursal, opera-se
por força de lei, independentemente de provimento jurisdicional, inexistindo fundamento legal para o

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pedido formulado pela reclamada nas contrarrazões, visando a um provimento declaratório neste sentido.

Já a questão dos limites objetivos da demanda, e de eventual inovação do pedido ou causa de pedir
(envolvendo a rescisão do contrato) será apreciado no item correspondente.

Assim, preliminarmente, rejeito requerimento formulado em contrarrazões pela reclamada de declaração


de trânsito em julgado por ausência de interesse jurídico.

No mérito:

I. Recurso da reclamada

1. Inépcia da petição inicial

A reclamada alega que a indicação de quatro paradigmas na petição inicial, sem delimitação do período
ou do modelo principal, acarreta inépcia do pedido de equiparação salarial. Afirma que se trata de pleito
inespecífico, cerceando o direito de defesa, em desrespeito ao artigo 286 do CPC. Aduz que a sentença
não pode ser condicionada.

Sem razão.

A indicação de mais de um paradigma como modelo para equiparação salarial pretendida, não encontra
óbice processual. Trata-se da acumulação de demandas definidas, específicas, certas e determinadas, visto
que há indicação dos modelos. O fato de ser mais de um modelo tampouco impede a defesa da parte
adversa, que tem a seu dispor ampla oportunidade processual de opor, uma a uma, a cada equiparação
pretendida, as objeções que entender pertinentes.

Nego provimento.

2. Contradita à prova testemunhal

A reclamada impugna o indeferimento da contradita oposta à testemunha Anderson Luiz de Mello


Bandeira, reiterando que esta tem ação contra o mesmo empregador do reclamante, onde formulados
pendidos idênticos, fato confirmado na audiência. Reputa inaplicável, neste caso, a Súmula nº 357 do
TST. Afirma haver interesse no resultado do litígio, pois recebe, no seu próprio processo, orientação do
patrono comum, sofrendo influencia em sua visão da realidade. Requer a desconsideração do depoimento
da testemunha referida.

Examino.

Na audiência, em face da objeção da reclamada à testemunha Anderson Luiz de Mello Bandeira, pelo fato
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de demandar contra o mesmo empregador em ação com idêntico objeto à do autor, a referida testemunha
confirma o fato, explicitando que na sua demanda pede equiparação salarial, periculosidade e horas
extras, bem como que o reclamante não foi ouvido como testemunha em seu processo.

Tenho entendido que, quando dois reclamantes servem, mutuamente, de testemunhas, um na ação do
outro, e tendo ambas ações idêntico objeto, há forte indício de troca de favores e redução do grau de
isenção ao depor. Mesmo assim considero que o depoimento deve ser colhido, na condição de informante,
e receber a valoração oportunamente quando da prolação da sentença. No caso dos autos, a testemunha
contraditada informa que o reclamante não prestou depoimento como testemunha em seu processo. É
possível aferir, portanto, no caso concreto, que os trabalhadores em questão não serviram, mutuamente, de
testemunhas, um na ação do outro.

Portanto, entendo ser caso de adoção da Súmula nº 357 do TST, pelo qual "não torna suspeita a
testemunha o simples fato de estar litigando contra o mesmo empregador". É presumida a isenção de
ânimo da testemunha devendo ser provada a sua suspeição, ou impedimento, o que no caso em tela não
ocorreu. O fato das reclamatórias terem idêntico ou semelhante objeto em nada altera esta conclusão. Tal
circunstância se revela natural na medida que presumível que apenas aqueles que trabalham no mesmo
local, e sob iguais condições, detêm o necessário conhecimento dos fatos para testemunharem em juízo.

Nego provimento.

3. Verbas rescisórias

A reclamada impugna a condenação ao pagamento de verbas rescisórias, alegando que estas foram
oportunamente quitadas. Argumenta que o autor não comprova suas alegações conforme exigem os
artigos 818 da CLT e 333, inciso I, do CPC de 1973. Considera que a condenação gera enriquecimento
sem causa vedado no artigo 884 do Código Civil.

Examino.

Incontroverso que o reclamante pediu demissão do emprego, com último dia trabalhado em 04.9.2013 (id.
1497721), tendo a reclamada juntado termo de rescisão do contrato de trabalho, indicando parcelas
rescisórias a serem pagas ao autor (saldo de salário, 13º salário proporcional, férias vencidas e
proporcionais e "dev coop"), no valor líquido de R$ 2.211,95. No entanto, referido documento não conta
com assistência sindical, tampouco está assinado (id. 1497731), tratando-se de mero formulário unilateral,
insubsistente para provar pagamento, ineficaz, portanto, como recibo, ou prova do alegado adimplemento.

Observo que o documento foi expressamente impugnado pelo autor na manifestação do id. 2068034 -
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Portanto, inexistindo prova do pagamento das parcelas devidas na rescisão do contrato, ônus que
incumbia à reclamada, a teor dos artigos 818 da CLT e 373, inciso II, do NCPC, não há o que prover no
aspecto em relevo.

4. Validade dos registros de horário - Horas extras - Adicional noturno - Regime compensatório
semanal

A reclamada impugna a jornada arbitrada na sentença (de segunda feira a domingo, das 7h30 às 23h, com
intervalo de 1h, com folga um final de semana por mês, sábado e domingo), sustentando a validade dos
controles de horário de trabalho do autor. Destaca a fragilidade do depoimento da testemunha. Invoca o
artigo 818 da CLT afirmando que era do reclamante o ônus da prova do fato constitutivo do direito
vindicado Argumenta que na hipótese de prova dividida a sucumbência é do autor, que tem o encargo
probatório, haja vista a juntada dos controles de horário. Reputa indevida a condenação relativa a
adicional noturno, redução da hora noturna, horas extras, inclusive sábados, domingos e feriados e
reflexos.

Examino.

O reclamante laborou no período de 04.04.2011 a 04.09.2013, como Assistente Técnico de Implantação


("pleno" e "sênior"). As partes ajustaram, por acordo individual, a adoção do regime compensatório
semanal de segunda a sexta feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h48min com folga ao sábado (id.
1497627). Executava sua jornada, na maior parte do período, em jornada externa.

O cartão ponto eletrônico juntado com a defesa, a par do registro de "Horas Normais" no qual consignado
o horário contratual do regime compensatório semanal (8h48min), também apresenta em número razoável
o registro de "Horas Extras 50%" e "Horas Extras 100%", nos quais consignados o trabalho suplementar
além da jornada compensatória de 8h48min. Por exemplo, no dia 1º.6.2011, o reclamante laborou, além
da jornada normal, horas extras das 17h49min às 20h (id. 1497684 - Pág. 3). Também há diversos
registros de trabalho aos sábados e domingos. Por exemplo, dois sábados e um domingo no mês de agosto
de 2011, id. 1497684 - Pág. 5. Além disso, partir de setembro de 2011, observo expressivo número de
horas extras registradas, inclusive sábados, domingos e feriados (id. 1497684 - Pág. 6). Há, inclusive,
trabalho prestado em horário noturno, como no dia 10 de janeiro de 2013, quando o reclamante laborou
até às 23h59 (id. 1497684 - Pág. 16).

De outro lado, a jornada das 7h30 às 23h, de segunda a segunda, com meia hora de intervalo (que a
testemunha convidada a depor pelo autor afirma ter sido cumprida), praticamente sem intervalo ou
repouso todos os dias do contrato de trabalho, por mais de dois anos, se apresenta irreal, até pela
impossibilidade material de ser cumprida, considerando que suprime todo o tempo da vida privada, social

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e familiar, e horas de sono, mesmo sem computar o tempo que o autor alega ter trabalhado, além da
jornada média de 15 horas, sem repouso, em "janelas das operadoras" das 0h às 6h três vezes por semana,
o que lhe retira verossimilhança.

De fato, sobre o sistema de registros, a prova testemunhal se mostra dividida, tendo a testemunha ouvida a
convite do réu noticiado jornada bem distinta: das 08h às 17h48, de segunda a sexta-feira, jornada que
afirma saber com base nas programações do trabalho a ser desenvolvido durante a semana em Santa
Catarina, destino na atividade de acompanhamento da coleta. Também confirma a possibilidade de
lançamento efetivo dos registros de horário no sistema APH, por meio de senha de acesso.

Diante do número expressivo de horas extras registradas, a prova oral dividida e da jornada inverossímil
apontada pela testemunha convidada a depor pelo autor, considero válidos os registros trazidos com a
defesa, em face dos quais observo, contudo, diferenças em favor do reclamante.

Por outro lado, os registros de horário (ora reconhecidos como idôneos) evidenciam que o reclamante,
embora submetido a regime compensatório semanal, prestava horas extras habituais - além da
suplementação destinada à compensação -, inclusive em sábados. Laborando aos sábados ou,
habitualmente, além das 8h48min de segundas a sextas-feiras, frustrou a finalidade do regime
compensatório semanal ajustado.

A Súmula nº 85, item IV, do TST orienta que "A prestação de horas extras habituais descaracteriza o
acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal
normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação,
deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário".

Cabe assim o pagamento do adicional de horas extras incidentes sobre as horas irregularmente
compensadas, cabendo a absolvição da reclamada, entretanto, em relação à hora propriamente dita, que já
se encontra remunerada (por óbvio não havendo que se falar em abatimento do adicional de horas extras
porquanto nesse limite incontroversamente não houve pagamento).

Em relação às horas excedentes ao regime compensatório e adicional noturno, o autor não aponta
diferenças na manifestação acerca dos documentos (id. 2068034 - Pág. 3). Diante do expressivo número
de horas extras pagas, bem como da existência de adicional noturno adimplido, cabe a absolvição da
reclamada no aspecto.

Assim, dou provimento parcial ao recurso para reconhecendo a validade dos registros de horário,
restringir a condenação ao pagamento de horas extras e de adicional noturno, ao adicional de horas extras
incidente sobre aquelas destinadas à compensação (excedente de 8 por dia até o 44 horas semanais),
mantidos os demais critérios de cálculo e reflexos definidos na sentença.
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5. Intervalo interjornadas

Contra o deferimento pela sentença das horas extras decorrentes da frustração parcial do intervalo
interjornadas, a reclamada sustenta que os cartões ponto são válidos, tendo sido observado o lapso
mínimo de 11 horas entre duas jornadas. Invocando os artigos 818 da CLT e 333, inciso I, do CPC de
1973, alega que o reclamante não se desincumbiu do ônus da prova. Sustenta que a inobservância do
intervalo em questão geraria, ademais, somente infração administrativa. Reputa inaplicável a OJ nº 355 do
TST. Entende que o deferimento do pedido gera enriquecimento injustificado do autor. Argumenta que a
suposta violação ao intervalo do artigo 67 da CLT gera pagamento em dobro do domingo, nos termos do
artigo 68 da CLT, não havendo respaldo legal para o deferimento de horas extras e reflexos.

Examino.

Considerando os horários de trabalho registrados no cartão ponto eletrônico, observo que houve infração
ao intervalo obrigatório de 11 horas entre duas jornadas, por exemplo, entre as jornadas dos dias 4 e 5 de
janeiro de 2013, 10 e 11 de janeiro de 2013 (id. 1497684 - Pág. 16) e dos dias 6 e 7 de fevereiro de 2013
(id. 1497684 - Pág. 17).

Inafastável o direito do autor ao descanso assegurado pelo artigo 66 da CLT. A recomposição dessa lesão,
mediante pagamento da remuneração relativa ao lapso não fruído com adicional de 50% a par da
remuneração do trabalho extraordinário não induz duplo pagamento. O tempo do intervalo de 11 horas
entre duas jornadas não fruído, da mesma forma que o intervalo intrajornada, não pode ser confundido
com a prestação de trabalho suplementar. Esta deve ser remunerada com finalidade de contraprestar a
força de trabalho despendida além dos limites da duração normal de trabalho, enquanto aquela visa a
remunerar a falta do descanso obrigatório.

Nesse sentido, a Súmula nº 110 TST que adoto:

JORNADA DE TRABALHO. INTERVALO. No regime de revezamento, as horas


trabalhadas em seguida ao repouso semanal de 24 horas, com prejuízo do intervalo
mínimo de 11 horas consecutivas para descanso entre jornadas, devem ser remuneradas
como extraordinárias, inclusive com o respectivo adicional.

A perfeita composição do estabelecido nos artigos 66 e 67 da CLT, conforme verbete transcrito, importa a
conclusão de que o intervalo de 11 horas entre duas jornadas de trabalho não pode ser suprimido, nem
integrado no lapso de 24 horas do repouso semanal remunerado. Não se pode, outrossim, entender que o
desrespeito ao descanso entre duas jornadas implique, tão-somente, infração de natureza administrativa,
em face do nítido caráter compulsório da norma, cuja finalidade é de assegurar e preservar a higidez física

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e mental do trabalhador. Assim, adoto a orientação jurisprudencial destacada, no sentido de que as horas
subtraídas do lapso em tela devem ser remuneradas como extraordinárias, inclusive com o respectivo
adicional.

É devido ao reclamante, portanto, o pagamento de horas extras decorrentes da infração ao artigo 66 da


CLT, pela observância da OJ 355 da SDI-1 do TST, conforme registros de jornada.

Nego provimento.

6. Reflexos das horas extras

No tópico, a reclamada impugna o deferimento de reflexos das horas extras e das horas noturnas em
repousos remunerados, férias com adicional de 1/3, 13º salários, FGTS e, após, pelo aumento da média
remuneratória mensal, novos reflexos. Afirma tratar-se de reflexo sobre reflexo em evidente duplicidade.
Entende que a condenação não tem amparo legal, violando o inciso II, do artigo 5º, da CF. Aponta para a
OJ nº 394, da SDI 1, do TST para pedir a exclusão dos reflexos sobre reflexos.

Examino.

Sendo habituais, as horas extras (limitado ao adicional incidente sobre as horas irregularmente
compensadas, conforme visto em item próprio) repercutem diretamente em repousos remunerados, férias
com adicional de 1/3, 13º salários e FGTS.

Entretanto, tem razão a reclamada quando afirma que não são devidos reflexos em razão do aumento da
média remuneratória mensal, pela integração das horas extras nos repousos remunerados, conforme
orienta a OJ 394 do TST que adoto por política judiciária:

"OJ 394. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO - RSR. INTEGRAÇÃO DAS HORAS


EXTRAS. NÃO REPERCUSSÃO NO CÁLCULO DAS FÉRIAS, DO DÉCIMO TERCEIRO
SALÁRIO, DO AVISO PRÉVIO E DOS DEPÓSITOS DO FGTS. A majoração do valor do
repouso semanal remunerado, em razão da integração das horas extras habitualmente
prestadas, não repercute no cálculo das férias, da gratificação natalina, do aviso prévio e
do FGTS, sob pena de caracterização de "bis in idem".

Assim, dou provimento parcial ao recurso para excluir da condenação os reflexos decorrentes do aumento
da média remuneratória mensal, pela integração das horas extras nos repousos remunerados,
remanescendo os reflexos diretos em repousos remunerados, férias com adicional de 1/3, 13º salários e
FGTS.

7. Equiparação salarial

A reclamada recorre da sentença que reconhece equiparação salarial com os paradigmas Jaison, Edson e
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Diego. Afirma que o autor não se desincumbiu do ônus da prova à luz dos artigos 818 da CLT e 333, I, do
CPC de 1973, haja vista o caráter manifestamente tendencioso do depoimento da testemunha.
Considerando inexistente prova da identidade funcional impugnada na contestação à luz do artigo 461 da
CLT, reputa indevidas as diferenças deferidas no julgamento de origem, inclusive reflexos e comando de
registro na CTPS.

Examino.

Trata-se de pleito de equiparação salarial com os modelos Jaison Perpétuo, Edson Marques Eurides e
Diego Astolfo.

O autor, conforme registros funcionais, laborou desde a admissão em 04.04.2011 como Assistente
Técnico de Implantação - Pleno, passando para a categoria Sênior em 1º.4.2013.

Já o paradigma Jaison Perpétuo laborou como Técnico de Implantação - Jr desde sua admissão em
15.7.2008, passando para a categoria Pleno em 01.01.2011.

O paradigma Edson Marques Eurides laborou como Técnico de Telecomunicações - Jr desde sua
admissão em 1º.04.2008, passando para a função de Técnico de Implantação - Jr em 1º.9.2010, e para as
categorias Pleno em 1º.12. 2010 e Sênior em 1º.4.2013.

Por fim, o paradigma Diego Astolfo laborou como Técnico de Implantação - Jr desde sua admissão em
11.5.2009, passando para as categorias Pleno em 1º.02.2011, Sênior I em 1º.2.2012 e Sênior II em
1º.4.2013.

Conforme depoimento da testemunha Anderson Luiz de Mello Bandeira, que trabalhou na reclamada de
1º.2.2011 a 1º.11.2012, como Técnico em Implantação, fazendo a configuração dos equipamentos,
manutenção, instalação dos equipamentos nas torres, com a Tim, Claro e Oi, não havia diferença nas
atividades em face das diferentes operadoras, suas funções eram as mesmas do reclamante, para as
mesmas operadoras. Geison, Edson Marques e Astolfo faziam as mesmas funções do reclamante.
Esclarece, ainda, em seu depoimento, que os Assistentes e os Técnicos fazem as mesmas atividades.

Entendo que a prova confirma o fato constitutivo do direito à equiparação salarial pretendida, inexistindo
a precariedade apontada pela reclamada no depoimento em questão que se mostra suficientemente robusto
para elucidar que, de fato e não obstante as diferenças de denominação dos cargos, havia identidade de
funções entre os paradigmas Jaison, Edson e Diego Astolfo.

Embora comprovado que as atividades de Assistente e de Técnico sejam as mesmas, o paradigma Jaison
as exerceu desde sua admissão em 15.7.2008, enquanto que o autor somente passou a exercê-las quando

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admitido no emprego, em 4.4.2011, caracterizando-se, assim, com relação ao citado modelo, fato
obstativo do direito à equiparação, haja vista a diferença de tempo na função superior a dois anos.

O mesmo fato obstativo não ocorre, contudo com relação ao tempo de serviço na função dos modelos
Edson, na função de Técnico desde 1º.09.2010, e Diego, na função de Técnico desde sua admissão em
11.5.2009, inferior a dois anos, portanto, considerando que o reclamante passou a exercê-la em
04.04.2011.

Dou parcial provimento ao recurso para afastar da condenação as diferenças salariais por equiparação e
seus reflexos em relação quanto ao modelo Jaison Cristiano de Oliveira Perpétuo, mantendo a condenação
com relação aos demais paradigmas.

8. Bônus refeição

A reclamada recorre da sentença que a condena ao pagamento de bônus refeição normativo nos dias que
realizadas duas horas extras ou mais na mesma jornada. Sustenta que, uma vez afastada a jornada de
trabalho arbitrada na sentença, não restam horas extras devidas ao autor. Aduz que o § 4º do art. 7º do
acordo coletivo preceitua o pagamento de 1 bônus refeição em caráter extraordinário, somente a partir da
2ª hora extraordinária completa. Diz que, no caso de trabalho externo, há exigência de comprovação, pelo
empregado, das despesas com alimentação. Alega que houve reembolso dos valores referentes à
alimentação, quando do preenchimento dos requisitos, conforme fichas financeiras, sob a rubrica
"REEMB. DESP. REF", inexistindo amostragem dos dias em que o autor entende devido o benefício,
ônus que lhe competia, nos termos dos artigos 818 da CLT e 333, I do CPC de 1973. Sucessivamente,
requer a limitação da condenação aos dias em que houve prestação de jornada suplementar além de 2
horas extras no qual haja comprovante de despesas.

Examino.

A cláusula 7ª do Acordo Coletivo de Trabalho 2011/2013 (id. 1005166, pág. 2) tem o seguinte teor:

CLÁUSULA 7ª: BÔNUS REFEIÇÃO.

A EMPRESA fornecerá aos seus funcionários Auxílio Refeição ou Alimentação no valor


facial de R$15,66 (...)

PARÁGRAFO 4º. A EMPRESA ressarcirá ao funcionário o valor equivalente a 1 (um)


bônus refeição, em caráter extraordinário, nos casos em forem realizadas horas extras
em uma mesma jornada de trabalho, a partir da segunda hora extraordinária completa,
inclusive.

PARÁGRAFO 5º. Para tal ressarcimento é necessária a apresentação do respectivo


comprovante de despesa com alimentação, onde os funcionários que exercerem suas
atividades internamente estarão dispensados da apresentação do recibo com
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alimentação.

- Grifei.

A prova, em especial a perícia, confirma o trabalho externo do reclamante, realizando visitas a empresas
de telefonia celular. O próprio reclamante afirma, em seu depoimento, que laborava como técnico, tendo
como funções atividades instalação, manutenção, montagem de torre, implantação do sistema de telefonia
celular "em todo o Brasil", sequer comparecendo na sede da reclamada depois que realizava as tarefas do
dia repassadas pelo supervisor, por celular, indo direto para casa ou hotel, sendo seu 50% do trabalho
prestado neste município, e 50% prestado em viagem.

A prova documental, em especial os registros de horário, confirma que houve prestação de trabalho
suplementar pelo autor, em uma mesma jornada, de duas ou mais horas extras, sendo devido nestas
ocasiões, por força da norma coletiva transcrita, o ressarcimento das despesas com alimentação. As fichas
financeiras evidenciam que a reclamada reembolsava eventualmente as despesas com refeição. Por
exemplo, no mês maio de 2012, o reclamante recebeu, a título de reembolso de despesas com refeição
(REEMB. DESP. REF.), o valor total de R$313,20 (id. 1497711 - Pág. 5). Embora o reclamante tenha
laborado duas horas extras ou mais na mesma jornada, nos dias 9 a 12, 15 a 20, 22 a 27, 29 e 31 de março
de 2012 (id. 1497684 - Pág. 13), nenhum valor recebeu a título de reembolso de despesas com refeição
referentes a tais jornadas, conforme ficha financeira (id. 1497711 - Pág. 5).

Entendo que a exigência de apresentação de comprovante de despesa com alimentação contida no


parágrafo 5º da cláusula normativa, pelo trabalhador em atividade externa, não tem o condão de afastar o
direito à refeição extraordinária quando demonstrado o trabalho suplementar na mesma jornada, acima do
limite máximo legal de 10 horas por dia, que por si só gera maior esforço físico do trabalhador e a
necessidade de alimentação. A norma define o valor do bônus extraordinário e tem por finalidade
salvaguardar a saúde do empregado sujeito a jornadas suplementares acima dos limites legais.

Correta a sentença ao deferir bônus refeição, sempre que o reclamante laborou duas horas extras ou mais
em uma mesma jornada de trabalho, conforme horários registrados, observado o valor fixado na norma
coletiva, devendo, porém, ser abatido todos os valores recebidos conforme comprovado nas fichas
financeiras.

Dou provimento parcial ao recurso para autorizar que sejam abatidos dos valores devidos a título de
bônus refeição, os valores pagos a título de ressarcimento de despesas com refeição, conforme fichas
financeiras.

9. Multa dos artigos 477 e 467 da CLT

A reclamada recorre da sentença que a condena ao pagamento das multas em tela. Sustenta que o artigo
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477 da CLT não tem aplicação quando há discussão sobre o pagamento das verbas rescisórias, como no
caso. Quanto à multa no artigo 467 da CLT, destaca inexistir parcela rescisória incontroversa, e que a Lei
nº 10.272/2001, modificando a disposição, não mais se refere à controvérsia sobre parte da importância
dos salários, mas, tão somente, sobre o montante das verbas rescisórias.

Examino.

O artigo 477, §8º, da CLT fixa multa para a hipótese de atraso no pagamento das parcelas rescisórias.
Inexistindo prova do pagamento das referidas verbas até o presente momento, correta a sentença quando
condena a reclamada ao pagamento da multa em questão.

Diversa, entretanto, é a solução quanto à multa do art. 467 da CLT, porquanto a reclamada alega seu
pagamento, trazendo termo de rescisão (ainda que não firmado pela parte autora). Entendo que,
estabelecida a controvérsia, resta afastada a incidência da multa.

Dou provimento parcial ao recurso para excluir da condenação o pagamento da multa do art 467 da CLT.

10. FGTS com 40%

A recorrente impugna a condenação ao pagamento de FGTS incidente sobre as parcelas salariais deferidas
na ação, bem como sobre as parcelas do contrato, acrescido de 40%. Afirmando, tão somente, que o
pagamento é indevido.

Examino.

Com efeito, a sentença condena a reclamada a pagar FGTS e indenização compensatória de 40% sobre as
parcelas de natureza remuneratória reconhecidas na ação e sobre as parcelas da "contratualidade", a ser
recolhido na conta vinculada do autor. Ocorre que, segundo fundamentação do julgado, o pedido de
nulidade do pedido de demissão foi rejeitado assim como rejeitado o pedido de reconhecimento da
rescisão do contrato sem justa causa por iniciativa do empregador, de modo que não há fundamento para
o deferimento da indenização compensatória de 40%.

De outra parte, o pedido de "FGTS" - definido pela causa de pedir na parte expositiva da inicial -,
restringe-se à sua incidência sobre as parcelas remuneratórias postuladas. A própria sentença limita o
exame da matéria na parte da fundamentação, deferindo, contudo, no dispositivo, FGTS com 40% da
"contratualidade", como visto.

Assim, dou provimento parcial ao recurso para excluir da condenação o comando de pagamento do FGTS
incidente sobre a contratualidade, com 40%.

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11. Benefício da gratuidade da Justiça

Diante da declaração de insuficiência econômica, id. 1005165, a juíza de primeiro grau concedeu ao autor
o benefício da justiça gratuita, nos termos do artigo 790, §3º, da CLT. Pela aplicação do artigo 14 da Lei
nº 5.584/70 e das Súmulas 219 e 329 do TST, indefere o benefício da assistência judiciária e, via de
consequência, dos honorários assistenciais.

A reclamada entende que o reclamante não comprova a condição para receber o benefício da gratuidade
da Justiça, pois percebia salário superior ao dobro do mínimo legal, nem demanda representado por
advogado credenciado pelo sindicato profissional. Invoca o princípio do jus postulandi das partes na
Justiça do Trabalho.

Examino.

Não há o que prover, porquanto a reclamada não tem qualquer prejuízo pelo fato de ter sido deferido ao
reclamante o benefício da gratuidade da Justiça.

II. Recurso do reclamante

1. Nulidade do pedido de demissão - Rescisão indireta do contrato de trabalho

O reclamante recorre da sentença que indefere o pedido de anulação do pedido de demissão e


reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho. Alega que foi coagido pela exaustiva jornada
de trabalho e disparidade salarial. Afirma, para o caso de não ser acolhida a tese de coação, que o pedido
de demissão é nulo também porque houve redução salarial, que, segundo doutrina e jurisprudência,
constituti falta grave do empregador e caracteriza descumprimento contratual de acordo com o artigo 483,
alínea "d", da CLT. Aduz que o pagamento de salário inferior ao dos paradigmas que exerciam funções
idênticas caracteriza depreciação dos proventos à luz do inciso VI do artigo 7º da CF atrai o direito ao
pagamento das verbas rescisórias decorrentes da rescisão indireta. Pede o provimento do recurso para que
seja reconhecida a rescisão indireta do contrato de trabalho, com a condenação da reclamada ao
pagamento dos haveres rescisórios, nos termos da petição inicial.

Em contrarrazões, a reclamada sustenta que o recurso do autor inova a lide quando suscita questões que
não constam da petição inicial, tais como a pretensão à rescisão indireta do contrato de trabalho, bem
como nulidade do pedido de demissão por alegada jornada excessiva.

Examino.

Na petição inicial, o autor alega que foi coagido a pedir demissão pelo acúmulo de serviço e as "
disparidades" existentes dentro da reclamada inclusive salarial, tendo sido condicionado à assinatura de
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documentos pela reclamada a este respeito. Insiste que "pediu demissão" por culpa da reclamada e, em
seguimento, refere que, na verdade o contrato de trabalho foi rescindido imotivadamente pela reclamada.
Afirma, de forma vaga que a reclamada não cumpriu o contrato de trabalho (menciona, em outra
passagem como descumprimento contratual, a ocorrência de redução salarial), conforme prova a ser
produzida no curso da instrução.

Pede, no petitório, a nulidade do pedido de demissão e reconhecimento da rescisão imotivada pela


reclamada (que a despeito da imprecisão técnica tenho como pedido de rescisão indireta).

É possível compreender que o reclamante afirma ter sido coagido a pedir demissão, em razão das
condições de trabalho, tais como "acúmulo de serviço", "disparidades... inclusive salarial" e "redução
salarial", sendo esta a razão do alegado descumprimento contratual pelo empregador, e o justo motivo
para considerar que houve "rescisão imotivada do seu contrato" . Entretanto, não há requerimento de
rescisão indireta, mas de reconhecimento da nulidade do pedido de demissão e da rescisão imotivada por
iniciativa do empregador.

Ainda que superada a imprecisão técnica no requerimento, os fatos alegados não geram, por si só, a
consequência almejada de pagamento das parcelas rescisórias como tais consideradas o aviso prévio
indenizado e a indenização compensatória de 40% do FGTS. Os descumprimentos contratuais alegados
na inicial, tais como a "disparidade salarial" e o "acúmulo de serviço" não têm a gravidade necessária para
a caracterização da falta do empregador apta a autorizar, em tese, a rescisão indireta do contrato.
Tampouco verifico ter ocorrido redução salarial noticiada.

De outra parte, não há prova nos autos confirmando que o autor tenha sido coagido a pedir demissão, de
modo que não há nada a prover.

2. Adicional de insalubridade e/ou de periculosidade

Em face do indeferimento do pedido de adicional de insalubridade e/ou de periculosidade, o reclamante


insiste em afirmar que laborava em ambiente perigoso e insalubre, exposto à energia elétrica, a
inflamáveis e à radiações. Afirma que em casos análogos a conclusão do perito foi diversa, em mais de
95% dos casos.

Examino.

De acordo com o laudo do perito engenheiro Luciano Roberto Horn nomeado pelo juízo (id. 1741264 -
Pág. 3), as atividades do reclamante consistiam em realizar visitas a pátios de instalações de antenas de
celular das empresas de telefonia CLARO (no Rio Grande do Sul) e TIM (em Santa Catarina e Paraná).
No projeto CLARO, ia nos locais de instalação das antenas, fazia checklist de verificação de pendências
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no site e na torre; prendia cabo de fibra ótica, fixando-o com presilhas de plástico; subia na torre pela
escada. No projeto TIM auxiliava na retirada das cabines dos sites; abria as portas dos sites para os
terceiros e avaliava qual cabine seria retirada; registrava em planilha. Segundo a perícia, não havia
geradores nestes locais e o reclamante fazia, em média, 10 retiradas de cabines por dia nos sites. Não
trabalhava com nenhum produto químico. Nunca realizou nenhuma atividade com energia elétrica. Em
face das informações colhidas na inspeção, na qual o reclamante, embora ciente, não compareceu, o perito
afirma a inexistência de condições de exposição ocupacional a riscos físicos, químicos (Anexos 11 e 12
da NR-15) ou biológicos, tampouco de exposição a radiações ionizantes. Conclui o expert que as
atividades do reclamante não podem ser consideradas insalubres, nem se classificam como periculosas.

De outra senda, o laudo do assistente técnico da reclamada Roberto Elzio de Almeida Esteves (id.
1815123 - Pág. 3) esclarece que o autor atuou na implantação de sites de telefonia celular, integração de
sistemas e equipamentos existentes nos sites, instalação de antenas para Base de Transmissão de Sinais -
BTS, realizando serviços de: manutenção preventiva de equipamentos, implantação de site de antenas,
instalação de antenas, integração de torres ou antenas BTS, instalação de equipamentos e dispositivos
(fontes de alimentação, baterias), inspeção e medições carga, verificação de pendências da instalação
cumprindo checklist. Afirma que o autor desempenhou suas atividades junto às torres que contêm as
antenas repetidoras, e em instalações alimentadas com energia elétrica de baixa tensão em sistema de
consumo. Conclui, ao final, pela inexistência de condições perigosas ou insalubres.

O autor, em seu depoimento pessoal afirma que:

...em relação à Tim, mexia na parte de eletricidade e na parte de configuração; que na


Claro, fazia a parte de configuração e a parte de sistema irradiante...

A testemunha Anderson Luiz de Mello Bandeira, que trabalhou na reclamada de 1º.2.2011 a 1º.11.2012,
como técnico em implantação, confirma as atividades de configuração dos equipamentos, manutenção,
instalação dos equipamentos da reclamada nas torres, subida nas torres, trabalho em estações de rádio
base, afirmando que havia o contato com energia elétrica na instalação dos equipamentos.

A testemunha Ana Paula Pimentel Rizzon, afirma que o autor não tinha contato com energia elétrica em
sua atividade.

Os sites de telefonia celular são locais onde instalados não só os equipamentos de irradiação ou repetição
de sinal - torres e antenas, mas também, a infra estrutura elétrica necessária ao funcionamento do sistema,
envolvendo eletrodutos, cabos, aterramento, entrada de energia e ligação de energia pela concessionária e
por fontes alternativas (baterias, moto gerador). Trata-se de um conjunto de componentes e equipamentos

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destinados ao funcionamento da indústria da telefonia: cabines ou quadro alta/baixa tensão, quadros de
distribuição geral, quadros de transferência, entre outros, para a qual é necessário o suprimento de cargas
elétricas alimentadoras dos sistemas de iluminação, tomadas, ar condicionado, motores.

De outra parte, ficou assentado, no exame da equiparação salarial, que a função do reclamante não se
limitava a mero acompanhamento ou fiscalização, mas realização das tarefas de instalação e manutenção
de equipamentos, fato confirmado, inclusive, no laudo do assistente técnico da reclamada.

Nada obstante a prova de que o autor instalava, fazia a manutenção e os reparos em equipamentos,
inclusive elétricos (fontes de alimentação, baterias, sistema elétrico de transmissão da empresa e eventuais
implementações do moto gerador), além de trabalhar na retirada de cabines dos sites, não há prova da sua
exposição a sistema elétrico de potência, visto que se tratava de sistema elétrico de consumo, sem prova
do desatendimento das medidas de segurança exigidas.

Saliento que o reclamante não compareceu à inspeção do perito. Sua impugnação ao laudo limita-se à
afirmação de que "a radiação das torres de telefonia, contato com graxa, óleo, e eletricidade são comuns
aos técnicos em telecomunicações, conforme prova testemunhal a ser realizado que o ilidirá".

É o caso de adoção das Orientações Jurisprudenciais nº 324 e nº 347 da Seção de Dissídios Individuais-1
do Tribunal Superior do Trabalho:

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA.


DECRETO Nº 93.412/86, ART. 2º, § 1º. É assegurado o adicional de periculosidade
apenas aos empregados que trabalham em sistema elétrico de potência em condições de
risco, ou que o façam com equipamentos e instalações elétricas similares, que ofereçam
risco equivalente, ainda que em unidade consumidora de energia elétrica.

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA. LEI Nº


7.369, DE 20.09.1985, REGULAMENTADA PELO DECRETO Nº 93.412, DE 14.10.1986.
EXTENSÃO DO DIREITO AOS CABISTAS, INSTALADORES E REPARADORES DE
LINHAS E APARELHOS EM EMPRESA DE TELEFONIA. DJ 25.04.2007. É devido o
adicional de periculosidade aos empregados cabistas, instaladores e reparadores de
linhas e aparelhos de empresas de telefonia, desde que, no exercício de suas funções,
fiquem expostos a condições de risco equivalente ao do trabalho exercido em contato com
sistema elétrico de potência.

Inexistindo prova nos autos das condições de insalubridade ou periculosidade nas atividades do autor, não
há o que prover.

3. Acúmulo de funções

Contra a sentença que indefere o pedido de diferenças salariais por acúmulo de funções, o reclamante
alega que após 3 meses da admissão, passou a acumular às funções contratadas de Técnico em Instalação,
tarefas burocráticos de alimentar sistema, organizar equipe, fazer e controlar orçamento, dirigir, passando
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a atender outras operadoras, com aumento do volume de tarefas. Aduz que fazia às vezes de dois
empregados, pois, além dos serviços contratados, tinha que fazer limpeza e serviços burocráticos,
resultando enriquecimento ilícito da reclamada.

Examino.

O autor, a quem incumbia provar os fatos constitutivos do direito vindicado, deixou de trazer aos autos
qualquer elemento hábil a sustentar sua tese, tampouco produziu prova testemunhal para confirmar suas
alegações.

Aplico ao caso o art. 456, parágrafo único, da CLT: "À falta de prova ou inexistindo cláusula expressa e
tal respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua
condição pessoal." e nego provimento ao recurso no aspecto.

4. Dano moral

Inconformado com a sentença que julgou improcedente o pedido de indenização por dano moral, o autor
sustenta sua reforma alegando que foi impedido de registrar o trabalho extraordinário, "coagido e
pressionado diuturnamente de demissão", caso não cumprisse as ordens. Afirma dano existencial pela
falta de convívio familiar por culpa da reclamada, em face da jornada excessiva. Aduz que suportou quase
todo o período do contrato dor e sofrimento de saber que, mesmo realizando idênticas funções, o valor
atribuído à sua mão de obra era inferior ao de outros profissionais posteriormente admitidos.

Examino.

O preceito constitucional que assegura indenização por dano moral assim dispõe: "Art. 5º, X - são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação". Portanto, para que se possa falar em
indenização por dano moral, se faz necessária a prova da efetiva existência do dano, o nexo de
causalidade entre a conduta do agente e o dano e a ausência das excludentes da ilicitude do ato, como por
exemplo, o exercício regular de direito. Todos os pressupostos devem estar presentes em conjunto, sendo
que a falta de qualquer um deles retira o direito à indenização.

Destaco inicialmente que não integra a demanda danos morais decorrentes da dor e sofrimento "...de
saber que, mesmo realizando idênticas funções, o valor atribuído à sua mão de obra era inferior ao de
outros profissionais posteriormente admitidos." Inovatório o recurso no aspecto, não merecendo ser
conhecido nesse limite.

De outra parte, o autor não se desincumbiu do ônus de provar a alegada proibição de registro de horas

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extras. Ao contrário, os registros de horário trazidos aos autos pela demandada são acolhidos como
verdadeiros, pois indicam habitual labor extraordinário. Não há prova, tampouco, de coação ou pressão
diuturna com ameaça de demissão, caso não cumprisse ordens.

Quanto ao alegado alijamento do convívio social decorrente de jornadas excessivas, os registros de ponto,
considerados válidos como meio de prova, corroboram a alegação de cumprimento de longas jornadas.
Entendo, todavia, o labor extraordinário, em longas jornadas, por si só, não é suficiente para gerar abalo
ao sentimento pessoal do trabalhador, sua personalidade, honra e intimidade, nem de amparar o direito à
indenização postulada. Inexistindo outros elementos fático probatórios, mantenho a sentença que não
reconheceu a existência de dano moral.

5. Honorários assistenciais

Ressalvado meu entendimento - no sentido de que indispensável a juntada de credencial sindical,


conforme exigência da Lei 5.584/70, e orientação emanada na Súmula 219 do TST -, acompanho a
posição majoritária deste Regional, no sentido de que, mesmo na esfera processual trabalhista, em
existindo declaração de carência econômica na forma da lei, são cabíveis honorários de assistência
judiciária, razão de 15% do valor bruto da condenação, adotando, por disciplina judiciária, sua Súmula nº
61.

Destaco que, embora a súmula regional contrarie a jurisprudência cristalizada no TST, deve ser levado em
conta que não há vinculação e, portanto, tenho por prequestionada a matéria para todos os efeitos legais,
inclusive a teor da Súmula nº 297 do TST.

Considerando a declaração de pobreza juntada (id. 1005165), são devidos honorários assistenciais.

Especificamente quanto à declaração de carência econômica, por força da Lei nº 7.115/83, presume-se
verdadeira até prova em contrário. Portanto, eventual falsidade contida nesta deve ser objeto de
inequívoca comprovação, ausente no feito.

Dou provimento ao recurso para acrescer a condenação com o pagamento de honorários assistenciais à
razão de 15% sobre o valor total bruto da condenação, conforme orienta a Súmula 37 deste Regional.

CARMEN IZABEL CENTENA GONZALEZ


Relator

VOTOS

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PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:

DESEMBARGADORA CARMEN GONZALEZ (RELATORA)

DESEMBARGADOR EMÍLIO PAPALÉO ZIN

DESEMBARGADORA DENISE PACHECO

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