TEXTOS Paralelo A Biblia
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Tipos de Similaridades
Angel Manuel Rodríguez é Diretor Associado do Instituto de Pesquisa Bíblica ligado a Associação Geral
da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD).
' Lipinski, "North Semitic Texts", em Near Eastern Re/igious Texts Re/ated to the OT, ed. Walter Beyerlin
(Philadelphia, PA: Westminster, 1978), 247.
60
61 Revista Teológica do SALT-lANE 5:2 (Jul-Dez 2001)
2"
falou desde os céus assim ... Este mesmo título é aplicado a Jesus no NT (Ap
22: 16). A declaração cananita, "Tu serás numerado entre aqueles que descendem da
terra", expressa o mesmo conceito encontrado em SI 88:4: "Sou contado com os que
baixam à cova". Isto aponta para um estilo poético comum de referência à morte.
A relação entre deuses e homens, particularmente o rei, era, em alguns casos,
muito semelhante ao que se encontra em Israel. Quando atacado por seus poderosos
inimigos, o rei disse:
Parece ser uma passagem do AT, mas não é. Estava escrito numa inscrição
votiva pelo rei Zakkur da Síria Setentrional e datado de 758 aC. Observe quantas
destas idéias também eram encontradas no AT. Uma das mais importantes é esta do
deus de Zakkur, que a semelhança de YHWH, concede a vitória ao rei sobre os seus
inimigos. Não que eles juntamente com os seus vizinhos apenas acreditassem num
Deus guerreiro; eles também acreditavam que Deus intervém na história e combate
em favor do rei. Observe também aquelas frases como "Eu ergo minhas mãos",
"senhor do céu'', e o título "vidente", que eram comuns no AT. O uso da fórmula
profética "Não temas" é muito importante, que por sua vez, também é encontrada no
AT (Dt 20:3-4; Is 41: 13-14; 43: 1,02; Jr 30: 10-11).
A necessidade de que o rei confie no seu deus para a vitória é encontrada num
hino de Assurbanipal. Ele diz, "Nem [... por] meu [poder] nem pelo poder do meu
arco, (Mas) pela for[ça e pelo] poder da minha deusa, fiz com que as terras
[desob ]edientes a mim se submetessem ao jugo de Assur'". O Salmista escreveu,
"Não confio no meu arco, e não é a minha espada que me salva. Pois tu nos salvaste
dos nossos inimigos e cobriste de vergonha os que nos odeiam" (44:6- 7). A idéia
básica é a mesma nos dois textos.
O erem, de acordo com o AT, ou guerras de extermínio, foram ordenadas por
Deus contra as cidades cananitas. Atualmente é fato conhecido que divindades
pagãs também ordenavam este tipo de guerra contra os inimigos do rei5.Tem sido
dito que esta prática militar foi integrada à religião israelita "porque o erem
auxiliava a descobrir a sua necessidade e trazia ordem e segurança para um
ambiente caótico e hostil'".
' Benjamin R. Forester, Before the Muses: An Anthology of Akkadian Literature (Bethesda, MD: CDL
Press, 1993),1:267.
'Lipinski, "SemiticTexts",231.
'E Forester,2:719.
' VerPhilipD. Stern, The Biblica/ Eremi (Atlanta,GA: Scholars,1991).
' lbid., 218. As questõessuscitadaspela prática de erem na Bíblia são muito complexas,tomando dificil
prover uma resposta rápida e compreensiva.Contudo, há vários elementos a serem levados em consideração
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 62
No antigo Oriente Próximo os deuses atuavam como juízes. Era bastante comum
a idéia de que eles se sentavam em tronos para julgar. Numa oração realizada antes de
um ritual de adivinhação, o solicitante dizia, "Oh Shamash, senhor do juízo ...
aproxima-te para que possas jantar, para que te sentes no trono e efetues o
julgamento! "7 O tablete é datado de cerca de 2000-1500 aC.
O fato de que YHWH, o Deus de Israel, é incomparável, é enfatizado com
frequência no AT. Isaías escreve, "A quem me comparareis para que eu lhe seja
igual? E que coisa semelhante confrontareis comigo? ... eu sou Deus, e não há outro,
eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que
há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam ..." (46:5,
9, 10)8. Lemos no cântico de Moisés e Míriam, "quem é como tu entre os deuses?
Quem é como tu?" (Êx 15: 11). Num hino de Gula, a deusa da cura, ela diz, "Sou
sublime no céu, sou a rainha do mundo interior, entre os deuses sou sem par, entre as
deusas nenhuma é igual a mim". Lemos no grande hino de Marduk, "A despeito de
tudo que os deuses do mundo habitado possam fazer, eles não podem ser como tu,
Senhor" []das profundidades do conhecimento, quem pode ser igual a ti?"9 Mais
uma vez, como se pode ver, existem similaridades linguísticas e conceituais.'º
O cuidado providencial de Deus por este mundo é expresso num hino do deus
egípcio Ra (c. 1365 aC) em linguagem similar a que encontramos nos Salmos: [Ra]
"que criou a relva dá vida ao gado, e às arvores frutíferas para os seres humanos.
Que cria condições para que os peixes do rio possam viver, e aos pássaros do céu?",
SI 104: 14, 25, 27: "Fazes crescer a relva para os animais e as plantas, para o serviço
do homem, de sorte que da terra tire o seu pão ... Eis o mar vasto, imenso, no qual se
movem seres sem conta ... Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo."
No famoso hino egípcio de Akhenaten ao deus Aten (e. 1365-1348), o rei exclama,
12"
"Quão grandiosas obras fizeste! Elas estão ocultas da face (humana) ... O
Salmista também exclama, "Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com
sabedoria as fizeste" (104:24). A despeito das diferenças culturais, os seres
humanos tendem a pensar e falar para e a respeito de Deus de maneira similar, pois
parece que todos compartilhamos um tipo de 'Percepção básica, geral e universal
sobre a obra e a criação de Deus. Portanto, estas expressões religiosas pertencem à
experiência comum aos seres humanos a respeito de Deus.
quando se procuram possíveis respostas. Quando se aborda este assunto é preciso levar em consideração os
ensinos das Escrituras referentes a Deus, o mal, a sociedade humana, e a guerra. Soluções simplistas devem
ser rejeitadas (p.e. o ponto de vista de que o ATpercebia a Deus de um modo e o NT de outro; o escritor bíblico
estava usando uma noção pagã que é de pequeno valor para nós). Os argumentos apresentados a seguir podem
servir de auxílio ao se tratar com o problema de erem noAT.
1. Parte de um determinadotempo. Os textos bíblicos indicam que o extermíniodos cananitasesteve
limitado basicamente ao periodo de conquista da terra. Diversas vezes Deus lembrou aos israelitas quão
importanteera o fatoe a sua responsabilidade,dizendo-lhes,"Quando houverdespassadoo Jordãopara a terrade
Canaã..." (Nm 33:51); "Quando o SENHOR,teu Deus, te introduzirna terra a qual passas a possuir..." (Dt 7:1;
12:1; 18:9). Isto indicavaque o Senhor não esperavaque o erem deveria ser uma característicapermanentede
Israel. Tem-se a impressão de que após a conquista haver se concretizado,os israelitasdeveriam se envolver
apenas com auto-defesa. Portanto,hoje nãohá apoiobíblicopara a práticada guerrasanta.
2. Moralmentejustificável. Aquelesque se dirigempara a guerrapretendemvencera qualquercusto, o
que, por si mesmo, toma a exterminaçãodo inimigo parte intrínsecado clima de guerra. Era exatamenteeste o
caso no antigo Oriente Próximo.Curiosamente,o VelhoTestamentofazia um esforço especialpara demonstrar
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Até quando, Ó minha Senhora, meus inimigos me contemplarão com olhares sombrios,
Porventura planejarão eles coisas más contra mim, com mentiras e enganos,
Comparecomo Sl 13:1-2:
Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de
mim o rosto? ...
que a ordem de Deus para destruir os cananitas não era uma ordem arbitrária,tampouco era controlada pelos
Interesses expansionistasdo povo. O próprio Deus provia um motivo: os cananitas estavam oferecendo seus
filhos em sacrifício aos seus deuses, envolviam-se com feitiçaria e bruxaria, e consultavam os espíritos dos
mortos (Dt 18:10-12).Sua corrupçãomorale religiosahavia alcançadoum nível intolerável,além da graça. Foi
isto o que o Senhor disse a Abrão centenasde anos antes: "Na quartageração,tomarão para aqui; porque não se
encheu ainda a medida da iniquidadedos amorreus" (Gn 15:16). Por ocasião do tempo da conquista os seus
pecados tinham transbordadoa "medida de tolerãncia". Isto indica que Deusjulga as nações com base no seu
compromisso com os valores morais e práticas religiosas(cf. Gn 18:20-33).Deus estava executando um juízo
contra:o pecadoe os pecadoresimpenitentesda terrade Canaã,e estejuízo era o final.
Há uma segunda razão apresentada para o extermínio dos inimigos de Israel: se eles
permanecessem na terra, eles se tomariam em instrumentos corruptores para o Seu povo (Dt 7:4). Um povo
santo requeria um lugar santo para viver. Este erem era a tentativa divina para organizar a nova ordem
mundial fundamentada nos Seus princípios de justiça e amor; uma terra onde a paz e a segurança
prevaleceriam. Qualquer coisa que ameaçasse a intenção divina deveria ser totalmente rejeitada.
3. Os israelitas atuavam como assistentes. E justamente este fato de que Deus escolhe os israelitas
como Seus instrumentos neste tipo de guerra que suscita preocupações éticas e morais. Bem poucos se
sentiriam desconfortáveiscaso Ele tivesse utilizado as forças da natureza. Mas Ele usou a guerra. A guerra é
uma caracteristica inevitável de um mundo pecaminoso. Ao transformar as doze tribos de Israel numa nação
com identidade política e ao declarar-Seo rei de Israel, Deus e Seu povo passavam a estar envolvidos no clima
de guerra. Os seus inimigos seriam as outras nações que não estavam dispostas a reconhecer a reivindicação
moral de Deus sobre eles, ao contrário, estavam desejososde exterminaremo Seu povo. Mediante a conquista
da terra, o Senhor da teocracia treina Seu povo para a guerra a fim de que eles cooperassem com Ele no
cumprimentoda Suadivina intençãopara elese para o mundo (Jz 3:1-2).
Nem tudo que está relacionado com este tópico pode ser compreendido, mas algo podemos saber,
isto é, que Deus é amorável, bondoso e justo. Esta perspectiva bíblica sobre Deus deveria ser lembrada na
discussão do tema em consideração. É Ele que através de um ato de amor ejustiça exterminará o pecado e os
pecadores impenitentes de nossoplaneta a fim de criar um reino de paz eterna.
' Forester, 1:149.
• lbid., 2:494.
' lbid., 2:527.
"'Num sistema politeísta de religião, a superioridade e incompatibilidade de uma determinada
divindade deveria ser interpretada em termos da abrangência sobre a qual ela domina. Por exemplo, o deus ou
deusa da guerra é incomparável neste desempenho específico.
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 64
A mulher, cujo marido está distante, diz todos os dias para você:
'Eu estou bem(= bonita)!' quando ela não tem nenhuma testemunha.
Hellmut Brunner, "Egypcian Texts", em Beyerlin, Near Eastern Re/igious Texts, 14.
"Ibid., 18.
"Hartmut Schmokel, "Mesopotamian Texts'', em Beyerlin, Near Eastern Religious Texts, 110-11.
"Ver H. Ringgren, "Matay'', em Theological Dictionary of the OT, ed. G Johannes Botterweck, Helmer
Ringgren e Heinz-JosefF abry (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998), 9: 102.
"Brunner, 48.
"lbid.,54.
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" Segundo Peter Machinist, "The Question of Distinctiveness in Ancient Israel: An Essay", em Ah,
Assyria...: Studies in Assyria History and Ancient Near Eastem Historiography,ed. M. Cogan and H. Tadmor
(Jerusalem: Magnes Press, 1991), 197-200.
" Helmer Ringgren é uma exceção. Ele argumenta, em apoio a segunda posição, que na área das
similaridades entre Israel e seus vizinhos "a importante obra de pesquisa ... avaliar o uso israelita do material
estrangeiro e a reinterpretação que ela suporta na estrutura da religião javística" ["The Impact of the Ancient Near
East on lsraelite Tradition", em Traditionand Theology in the O/d Testament,editado por Douglas A Knight
(Philadelphia, PA: Fortress, 1977), 45]. Ele suscita a questão da revelação e argumenta que Deus no AT Se revela
não apenas através do Seu falar mas particularmente através dos Seus atos na história. "Portanto, é concebível que
aspectos da revelação de Deus também sejam encontrados entre aqueles outros povos ou, dizendo de modo
diferente, que elementos de sua revelação tiveram acesso a Israel através da fé daquelas outras nações. Se Deus é
capaz de usar os eventos da história para Se comunicar com Seu povo, Ele também seria capaz de usar tradições
dos povos que tomaram parte nestes eventos para tomar conhecidos a Si e os Seus planos ao Seu povo. Seria por
demais audacioso presumir que o pensamento 'pagão' acerca de Deus poderia conter centelhas de verdade?" (46).
Não pode ser negado que alguns elementos de verdade podem estar presentes entre aqueles que não eram
israelitas, mas o problema é como identificar as tradições não-israelitas através das quais Deus estava Se
revelando para o Seu povo. O único controle disponível seria a revelação especial que o próprio Deus concedeu
aos israelitas. Portanto, retomamos novamente à questão sobre o que é exclusivamente israelita no face-a-face
com o antigo Oriente Próximo.
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 66
" Shemaryahu Talmon, "The 'Comparative Method' in Biblical Interpretation - Principies and Problerns",
Vetus Testament Supplement, 29 ( 1978): 356.
"Talmon, 356.
"Vriezen, 13; Ringgren, "lsrael's Place'', l; Talmon, 356.
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 68
A Lei Israelita
"Vriezen, 13.
"Para uma melhor noção sobre Pan-Babilonianismo, ver W. G C. Gwaltney, Jr., "Pan-Babilonianism", no
Dictionary of Biblical lnterpretation, ed. John H. Haynes (Nashville, TN: Abingdon, 1999), 2:233-34. Ele
declara que o ponto de vista da cultura babilônica dominou o antigo Crescente Fértil "havendo surgido em torno
de 1900 entre os cuneiformistas alemães, que afirmavam haverem todas as culturas e religiões antigas providas de
uma mitologia astral se originado de uma fonte comum: Babilônia ... Entre os mais recentes documentos
descobertos estavam numerosos escritos religio-mitológicos, sugerindo que o hebraico da Bíblia refletia a antiga
dependência israelita da cultura, mitologia e religião babilônica" (233). Ele acrescenta que eventualmente a teoria
"tropeça por causa de suas reivindicações extravagantes e insubstanciadas" (234). Ver também H. B. Huffmon,
"Babel und Bibe!" DictionaryofBib/icallnterpretation, 1:92.
"' A mais recente tradução destes materiais legais foi feita por Martha T. Roth, Law Collectionsfrom
MesopotamiaandAsiaMinor(Atlanta, GA: Scholars, 1997).
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Dt 24:7 "Se se achar alguém que, tendo roubado (sequestrado) um dentre os seus
irmãos, dos filhos de Israel, o trata como escravo ou o vende, esse ladrão morrerá";
Méd. Assíria A30: "Se um homem que apresentar o dom nupcial se agradar, ele tomará
sua nora (i.e, a esposa do seu filho falecido) e a dará em casamento ao seu (segundo) filho".
Dt 25:5-10: "Se irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem filhos... seu cunhado a
tomará, e a receberá por mulher, e exercerá para com ela a obrigação de cunhado".
Lv 18:7, 29: "Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe... aqueles que as
cometerem serão eliminados do seu povo".
Hammurabi 157:"se um homem, depois da morte do seu pai, deitar-se com sua mãe,
ambos deverão ser queimados". [Não era pecado um filho manter relações sexuais com sua
mãe, após a morte do pai, na lei hitita (LH 190)].
'° W. J. Harrelson, "Law in the OT', Interpreter's Dictionary of the Bible, ed. George A. Buttrick
(Nashville, TN: Abingdon, 1962), 3:79.
" Shalom M. Paul, Studiesin the Book ofthe Covenantin theLight of Cuneifonnand Biblica/Law (Leiden:
Brill, 1970), 36.
"Samuel Greengus, "Law: Biblical and ANE Law", Anchor Bible Dictionary, ed. David Noel Freedman
(New York: Doubleday, 1992), 4:245.
" Greengus, 246.
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 70
preço de compra". Compare com Êx 21 :26: "Se alguém ferir o olho do seu escravo
ou o olho da sua escrava e o inutilizar, deixá-lo-á ir forro pelo seu olho".
Samuel Greengus declara: "A similaridade entre as leis israelitas e pagãs é
notável e inesperada. A linguagem pela qual as respectivas leis foram formuladas é
às vezes tão próxima que são suscitadas questões sobre a originalidade e
34
independência da tradição da lei israelita".
Como explicar estas similaridades? O que é único nos materiais legais
israelitas? Uma conclusão lógica seria a de que os israelitas absorveram o seu
corpo de leis das tradições legais do antigo Oriente Próximo. O problema que os
eruditos enfrentam com esta solução proposta é o de que não há uma maneira de
determinar como isto aconteceu. Um destes eruditos concluiu que "neste estágio do
conhecimento ... os reais mecanismos de contato e transmissão cultural ainda
permanecem indefiníveis".35
Outros eruditos têm reconhecido a influência da tradição legal do antigo
Oriente Próximo sobre os israelitas, mas têm procurado demonstrar que existem
algumas diferenças conceituais básicas que fazem do sistema israelita algo único.
Por exemplo, as leis quetratam dos escravos são muito mais humanitárias na Bíblia
do que noutras leis do Oriente Próximo. "As coleções de leis do antigo Oriente
Próximo tratam principalmente dos escravos em relação à injúria praticada por
terceiros, enfatizando, deste modo, a posição do escravo como um bem móvel.
Contudo, a maior parte da legislação bíblica focaliza-se sobre o relacionamento de
escravos com o seu próprio senhor, enfatizando, desta maneira a dignidade humana
do escravo?". A inclinação evidente da lei de escravidão israelita é "humanizar esta
instituição" com base na crença de que há um Criador e que todos seres humanos
foram feitos à imagem e semelhança de Deus. Havia também o fato de que o próprio
Israel fora escravo no Egito.37
Algumas características específicas da lei israelita foram identificadas como
exclusivas. Primeiro, ouve-se o argumento de que, ao contrário da lei do antigo
Oriente Próximo, os israelitas percebiam que sua lei originou-se com o próprio
Deus; Ele era considerado como o único legislador em Israel. Na Mesopotâmia, a
lei era a corporificação da verdade cósmica, e Shamash seu guardião, mas não seu
originador. O rei tinha como função estabelecer a justiça no seu domínio, e era ele
quem expressava a verdade cósmica na forma da lei". Os israelitas entendiam que a
lei proviera diretamente de Deus.
Segundo, em Israel, como tem sido sugerido, a lei é uma expressão da vontade
de Deus e, portanto, todos os crimes são considerados um pecado contra Ele, e não
Harrelson,534.
"Greengus, 247.
36
Barry Lee Eichler, "Slavery", em Harper's Bible Dictionary, ed. Paul J. Achtemeier (San Francisco:
Harper and Row, 1985), 959. K. A. Kitchen, "Slave", em Illustrated Bible Dictionary, ed. J. E. Douglas
(England: InterVarsity, 1980), 3:1464, escreve, "Até mesmo quando a lei hebraica que trata de escravos
compartilhaalgo comum com a herança do antigo mundo semita, há uma atenção especial, em nome de Deus,
para com esta classe de indivíduos,que pelo seu status não eram pessoas, o que por si estava ausente das leis
babilônicase assírias".
"Walter Zirnmerli,"Slavery in the OT', em /11terpreter's Dictionary of the Bible Supplement, ed. Keith
Crim (Nashville,TN:Abingdon, 1976),829.
"Moshe Greenberg,"Some Postulatesof BiblicalCriminalLaw",em Studies in Bible and Jewish Religion,
ed. MenahemHaran(Jerusalem:Magnes, 1960),9.
71 Revista Teológica do SALT-lANE 5:2 (Jul-Dez 2001)
podem ser perdoados por uma entidade humana", Todos os aspectos da vida estão
intimamente relacionados, através da lei, à vontade de Deus. Não é feita nenhuma
distinção no material legal da Bíblia entre os âmbitos moral, civil, e religioso de
vida. Eles são considerados como expressão da vontade de Deus.
Terceiro, uma vez que é Deus quem concede pessoalmente a lei ao Seu povo,
eles são responsáveis diretamente perante Ele e não perante qualquer indivíduo ou
entidade legislativa 4°. Cada indivíduo tem a responsabilidade de manter ajustiça na
terra.
Quarto, entende-se que a lei bíblica mantém o princípio da santidade da vida
41•
humana e, portanto, rejeita a pena de morte para os crimes contra o patrimônio O
princípio básico é o de que a vida humana tem mais valor do que propriedades
Na verdade, estes princípios são úteis para se perceber a singularidade da lei
israelita dentro do antigo Oriente Próximo. Mas eles não apresentam uma resposta
para a questão da origem histórica da lei bíblica. Eles simplesmente descrevem o
modo pelo qual os israelitas concebiam a sua lei e como ela era diferente dos demais
códigos legais. Quando se trata da questão da origem da lei bíblica, a única
informação que nós temos é a provida pelo próprio texto bíblico. O texto enfatiza o
fato de que foi o próprio Deus que deu aquelas leis aos israelitas. De fato, Ele lhes
apareceu no Monte Sinai e eles ouviram Sua voz e ele lhes deu o Decálogo (Êx
19:16-19; 20: 1-19). O povo sugeriu que Moisés atuasse como o seu mediador, e o
Senhor falou, "Tu, porém, fica-te aqui comigo, e eu te direi todos os mandamentos,
e estatutos, e juízos que tu lhes hás de ensinar que cumpram na terra que eu lhes
darei para possuí-la" (Dt 5:31).
Até que ponto podemos aceitar esta informação como verdadeira? Será que
deveríamos interpretar a ênfase em Deus como o originador da lei como uma
invenção literária, cujo propósito era revestir a lei de autoridade? Se era uma
invenção literária, não temos nenhum precedente para ela. Primeiro, no antigo
Oriente Próximo a autoridade da lei não estava fundamentada na sua origem divina,
mas na autoridade do rei, que também se submetia a ela. Segundo, no caso da
Bíblia, a lei está nela inserida e faz parte de sua narrativa histórica. O texto
considera a concessão da lei a Israel como um evento histórico que ocorreu no
Monte Sinai, após o povo haver deixado o Egito. A origem do povo de Israel, o
momento no qual as doze tribos se constituíram em nação e a dádiva da lei são
inseparáveis. O momento histórico é o mesmo. Finalmente, o texto bíblico faz um
esforço denodado para firmar o fato de que foi o próprio Deus que deu a lei ao Seu
povo. O Senhor proclamou publicamente o Decálogo, tendo o evento sido
testemunhado por todos os israelitas. Esta é a única maneira pela qual o texto
bíblico explica a origem da lei, portanto, deveríamos encarar seriamente esta
informação.
Para a comunidade de fé que reconhece a origem divina da Bíblia, soluções que
W. J. Harrelsonescreve, "Costumes legais e sociais refletidosno livro de Gênesis receberam nova luz
como resultado da recuperação de materiais compatíveis ao segundo milênio AC, encontrados a Noroeste da
Mesopotâmia...
"Estas indicações de uma tradição legal e social comum entre os ancestrais dos Israelitas e povos do
noroeste da Mesopotâmia deixam claro que o período anterior ao Êxodo não é carente de leis e regulamentos
comunitários. Os ancestrais dos israelitas não devem ser vistos como nômades dispersos sem qualquer tipo de
tradição legal e separados do que é normal à vida tribal dos nômades. É altamente provável que na era pré-
mosaica grupos tribais dentre os quais a comunidade de Israel deveria ser formada, tinham um sistema de
procedimentos legais bem desenvolvido, com base nos costumes prevalecentes do antigo Oriente Próximo"
(3:78).
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pelo menos, com o sistema de leis cananita e egípcio. Quando ainda no Egito, o
Senhor lhes deu leis que regulamentavam a Páscoa (Êx 12:1-30) e a consagração
dos primogênitos. Pode até ser que Moisés tenha iniciado no Egito uma reforma
referente a guarda do Sábado (5:4-21; cf. 16:4-35). Após o Êxodo, e após haverem
alcançado o Sinai, o Senhor lhes deu algumas leis, cujo conteúdo não é declarado no
texto (l 5:25c-26).
Quinto, Deus não arrancou Israel do seu ambiente cultural para lhes dar um
sistema legal, total e radicalmente diferente daquele das nações em derredor. Para
que os israelitas fossem um instrumento efetivo de Deus às nações da terra, era
necessário que eles fossem similares, mas também diferentes daquelas nações.
Agora Israel é uma nova nação trazida a existência por Deus, em cumprimento da
promessa que Ele fizera a Abraão.
Por fim, se tomarmos seriamente o testemunho bíblico segundo o qual as leis
israelitas foram entregues pelo Senhor, teríamos que concluir, no Sinai Deus deu a
Israel mais do que uma peculiar moldura legal de referência baseada em
princípios únicos de valores sociais e religiosos. Ele também lhes deu um sistema
legal que incorporou algo de sua herança legal do antigo Oriente Próximo que era
compatível com o concerto que Ele fez com Seu povo como também novas
exigências". Segundo o texto bíblico, o sistema legal israelita foi dado ao povo
pelo próprio Deus. Ele não veio à existência através de um longo processo que
alcançou seu clímax após o exílio babilônico. Algumas destas tradições legais
foram modificadas pelo Senhor, tomando-as mais humanas e adaptando-as ao
espírito e intenção do concerto que Ele fez com os israelitas. Na verdade, o produto
final era exclusivo a Israel. Provavelmente era isto o que Moisés tinha em mente
quando ele disse ao povo:
Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR, meu
Deus... Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso
entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão:
Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que
tenha deuses tão chegados a si como o SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o
invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos ejuízos tãojustos como toda esta lei
que eu hoje vos proponho? (Dt 4:5-8).
"Tem sido geralmente reconhecido que o concerto que Deus fez com Israel utiliza a mesma forma
literária empregada nos concertos do antigo Oriente Próximo. K. A. Kitchen comenta, "Pelo menos existe
pouca dúvida de que os hebreus primitivos utilizavam uma terminologia que era comum por todo o antigo
Oriente Próximo e empregada num modo exclusivo para expressar a relação entre um povo e seu Deus
soberano, seu Grande Rei, como algo que estava bem além de um mero relacionamento entre governantes
humanos e outros estados" [Ancient Orient and lhe O/d Testament(Chicago:InterVarsity, 1966), 102).
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 74
"John Gray, The Legacy of Canaan: The Ras Shamra Texts and Their Relevance to the OT (Leiden: Brill,
1965), 192; Baruch A Levine.rn the Presence of lhe Lord (Leiden: Brill, 1974), 8-20.
"Ringgren, 33.
46
Schmokel, 108.
"lbid., 130.
"Cord Kühne, "Himite Texts", em Beyerlin, Near Eastem Religious Texts, 180 n. 1.
75 Revista Teológica do SALT-lANE 5:2 (Jul-Dez 2001)
Há vários paralelos que merecem uma atenção especial. O primeiro tem a ver
com a edificação do santuário israelita. De acordo com Êx 25:8-9, Deus mostrou a
Moisés o modelo que deveria ser utilizado para a construção do tabernáculo. O
terrestre deveria seguir o padrão do celeste; ou seja, o santuário terrestre era símbolo de
realidade transcendental. Esta idéia faz parte da fenomenologia dos templos no antigo
Oriente Próximo e em outras partes do mundo. Gudea, o soberano da Suméria, teve
um sonho no qual foi-lhe revelado o plano, escrito num tablete, para o templo de
Ningursu, um deus da guerra e da fertilidade49• O relato babilônico da criação atribui a
construção do templo de Marduque, a Esagila, em Babilônia aos deuses do tempo da
criação: "Semelhantemente na terra ao que ele [Marduque] realizou no céu?".
Encontramos no Egito uma idéia similar naqueles templos históricos que eram
concebidos como tendo tido sua origem mitológica no momento da criação. "Isto é,
o santuário tisico, de fato, é concebido como uma extensão e continuidade de um
protótipo mítico. Não apenas isto, mas os deuses podem definir a base real do
recinto sagrado e fornecer as dimensões do templo, bem como sua cerca divisória.
Por exemplo, acreditava-se que o templo de Reem Heliópolis tinha sido planejado
pelo deus Toth, o escriba divino e inventor da escrita"."
Conforme já foi declarado, isto é encontrado não apenas no antigo Oriente
Próximo, mas também em outros lugares do mundo. Na construção do antigo
santuário japonês para a deusa do sol Ameratu, ela própria "deu o oráculo que
determinou a estrutura original de madeira, que tem sido regularmente refeita como
uma réplica exata?". Os templos hindus são considerados como sendo a expressão
visual da força cósmica que criou formas inumeráveis; "ele é um modelo estático
do cosmo" ou uma manifestação dele". Em outras palavras, os modelos dos
templos expressam uma realidade transcendental que pertence ao mundo divino.
Mesmo no confucionismo, na China, o templo é considerado não apenas como uma
construção, mas ele é "símbolo de uma ordem racional e perfeita designada pela
54
moralidade Confuciana.
A idéia de que instruções específicas para a construção de santuários terrestres
foram dadas pelos deuses aos homens e que a própria construção era o reflexo de
uma realidade transcendental parece pertencer à consciência religiosa do homem e
transcende aos limites culturais e regionais. Partindo desta perspectiva, seria
"Ver John Lundquist, "What is a Temple? A Preliminary Typology," em The Questfor the Kingdom of
God, ed. H. F. Huffinon, F.A. Spina, eA. R. W. Green (Winona Lake, IN: Eisenbraun, 1983), 211; e Jeremy Black
e Anthony Green, God, Demons and Symbols of Ancient Mesopotamia: An 11/ustrated Dictionary (Austin, U of
Texas P, 1995), 138.
"'E. A. Speiser, "Akkadian Myths and Epics: The Criation Epic," em Ancient Near Eastern Texts Relating
to lhe OT, ed. James A. Pritchard (Princeton: Princeton UP, 1969), 68-69.
'1 Naum Sarna, Exp/oring Exodus: The Heritage of Biblical Israel (New York: Schoken, 1986), 202; H.
Frankfort, Kingship and the Gods (Chicago: University P, 1978), 269- 71).
" Harold W. Turner, From Temple to Meeting House: The Phenomelogy and Theo/ogy of ?laces of Worship
(Netherlands: Mouton, 1979), 28.
53
Michael W. Meister, "Temple: Hindu Temples," em The Encyclopedia of Religion, ed. Mircea Eliade
(NewYork:Macmillan, 1987), 13:368,373.
"Nancy Shatzman Steinhardt, "Temple: Confucian Temple Compounds'', em The Encyclopedia of
Religion, 13:382.
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 76
"Turner, 26.
"É pertinenteque se fale sobreas similaridadesarquitetônicasentre o templo Israelitae outros templosdo
antigo Oriente Próximo.Seria difícil negar que a arquiteturado templo de Salomão incluíaum certo númerode
elementosarquiteturaiscomuns a sua época. LawrenceT. Geraty analisoua evidênciaarqueológicadisponívele
concluiu que "enquanto o templo de Jerusalém se ajusta a um contexto cultural definido, ao mesmo tempo
existem diferenças cruciais e significativasque tornam único o templo de Salomão. Talvez a distinção mais
importantefosse o modo em que o templo funcionavana teologia israelita;ele não era o palácio onde os servos
humanosde Deus supriamsuas necessidadesfísicas,mas eleportavao Seunome,e deste modo,o focoda atenção
religiosapara o qual as oraçõesse voltavam. O templo de Jerusalém era uma acomodação às necessidades do
povo. Deus guiara os seus construtores (!Cr 28:11-12; et al), não num vácuo cultural mas entre opções
disponíveis, para escolher uma disposição que já tivesse tido algum significado, sobretudo que pudesse ser
modificadapara ensinar a Israel o como e o porque era uma nação diferente dos seus vizinhos" [The Jerusalem
Templeof the HebrewBible in itsAncientNear EastemContext,"em The Sanctuary and the Atonement, editado
por Arnold V.Wallenkampfe W.Richard Lesher(Washington,DC: Review and Herald, 1981), 59]. A estrutura
básica do templo de Salomão era a mesma do tabernáculomosaico, e não há um paralelo exato a qualquer um
eles. O que mais se aproxima é o plano geral do templo de TellTainatao norte da Síria (era uma construçãoem
três partes). Com relaçãoa esta construção,disse Geraty,"o interiordo santissimode Tainatnão era quadrado;
sua plataformaelevada não se estendia sobre toda a área da peça; e suas colunasestavamdefinitivamentedentro
do pórtico (onde Salomãopodia ou não estar). Além do mais, por ser datado no 9" séculoaC., ninguém poderia
provarque ele não foi influenciadopelo templode Salomão,uma suposiçãológica,devidoà fama e influênciade
Salomão"(55).
77 Revista Teológica do SALT-lANE 5:2 (Jul-Dez 2001)
inimigo para o ritual. Eles eram apresentados ao deus ou deusa que provocara a
praga. O rei ou a pessoa por ele designada, representando o exército, transferia a
praga para as vítimas, que não eram apenas portadoras do mal, mas substitutas para
o rei e seu exército. O rei orava, "Tu, deus masculino, sê apaziguado com e[ste]
homem [pa]ramentado. Mas para o rei, os [líderes], o e[xército, e a] terra de Hatti,
tor[na-te fi]elmente. []Mas permite que este prisioneiro r[eceba] a praga e [a] leve
de volt[a para a terra do inimigo."]57
Acreditava-se que alguma das divindades locais enviasse o mal, e o propósito
do ritual era de devolvê-lo para a terra do inimigo, para o lugar de onde veio. A idéia
de transferência de um mal coletivo para um lugar fora do arraial está presente em
Lv 16, mas não a idéia de apaziguamento da divindade. Isto é compreensível
porque na religião israelita há apenas um Deus. Azazel, como uma figura
demoníaca, não precisa ser apaziguado ou derrotado. O bode para Azazel não é um
substituto para o sumo sacerdote exatamente porque a idéia de apaziguamento está
ausente no texto. Sim, contudo há algumas similaridades, mas quando o ritual é
colocado dentro do contexto conceituaI de cada religião, as diferenças tomam-se
notórias.
Num outro caso, uma pessoa se encontra enferma, e para remover o "mal da
enfermidade", uma corda de arco é amarrada às mãos e aos pés da pessoa, e então
removidos dela e amarrados num rato. A pessoa encarregada do ritual diz, "'Eu tirei
de você o mal e o coloquei sobre o rato. Que ele o leve até as elevadas montanhas,
aos vales profundos (e) aos caminhos longínqüos'. Ela leva o rato (dizendo):
'Alawaimi, leve (este) rato, e eu lhe darei um bode para comer'?". O rato não é um
substituto, mas a semelhança do bode emissário, ele é um meio de transporte
utilizado para retirar o mal da pessoa e mandá-lo embora.
O melhor exemplo proveniente de Babilônia é encontrado no ritual para a
purificação do templo. O sacerdote oficiante pega a carcaça de um carneiro e
"limpa o templo com a carcaça do carneiro. Ele recita o encantamento para
exorcizar o templo. Ele purifica todo o local, inclusive as áreas adjacentes e depois
toma o incensário. O mashmashushu toma a carcaça daquele carneiro e se dirige
para o rio", ele se volta para a direção ocidental e lança a carcaça daquele carneiro
no rio". Como em Lv 16 o contexto trata dde purificação do templo/santuário. No
processo de purificação, o mal é transferido para um animal morto cuja carcaça é
lançada no rio. Deste modo, temos uma noção de purificação do templo, de
transferência e de remoção do mal do seu interior. Todavia as similaridades são
apenas superficiais.
Na religião babilônica, o que contaminava o templo não era o pecado ou a
Impureza do povo mas os demônios. Estes demônios eram uma ameaça potencial à
divindade, e era necessário removê-los do templo uma vez por ano. Isto era feito
através da carcaça do carneiro. Os demônios se apegavam à carne do animal e
"David P. Wright, The Disposa/ of lmpurity: Elimination Rites in the Bible and in the Hittite and
Mesopotamianliterature (Atlanta:Scholars,1987),46.
"Ibid., 57.
"Ibid.,64.
A Inspiração Divina e o Cânon da Bíblia 78
Conclusões
Os que gastam o ouro da bolsa e pesam a prata nas balanças assalariam o ourives para
que faça um deus e diante deste se prostram e se inclinam. Sobre os ombros o tomam, levam-
no e o põem no seu lugar, e aí ele fica; do seu lugar não se move; recorrem a ele, mas nenhuma
resposta ele dá e a ninguém livra da sua tribulação. (Cf. 44:9-20).