Apostila Metodologia Do Ensino Superior
Apostila Metodologia Do Ensino Superior
Apostila Metodologia Do Ensino Superior
METODOLOGIA
DO ENSINO
SUPERIOR
Plano de estudo da disciplina
EMENTA
OBJETIVOS
AVALIAÇÃO
REFERÊNCIAS BÁSICAS
ANASTASIOU, Lea das Graças Camargo; ALVES, Leonir Pessate. Processos de
ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula.
3. ed. Joinville: UNIVILLE, 2004.
REFERÊNCIAS. ............................................................................ 28
ANEXOS......................................................................................... 32
MET O DOL OGIA D O E NSI NO S UPE RI O R 07
INTRODUÇÃO
O reconhecimento da necessidade da preparação metodológica tem levado
muitas instituições a desenvolver programas com o intuito de alcançar objetivos
desta natureza.
Ao analisar o currículo da disciplina Metodologia do Ensino Superior (MES), na
forma como é oferecida nas diversas instituições, fica evidenciado que o seu objetivo
é capacitar os profissionais para o exercício da docência. No entanto, devido ao fator
tempo, na maioria das vezes, o conteúdo é trabalhado rapidamente, sem
possibilidades de ser pormenorizado.
Conscientes da existência deste fator e de que a disciplina Metodologia do
Ensino Superior se caracteriza pelo rigor científico, não temos, aqui, a pretensão de
padronizar métodos, conceitos ou propostas de atividades da prática docente. Nossa
finalidade é apontar caminhos e procedimentos que poderão ser adotados pelo
professor para que atinja, total ou parcialmente, os seus objetivos em sala de aula.
Neste sentido, nossa intenção é fornecer alguns subsídios necessários para a
prática docente. Assim, nós, da Equipe de MES do ICPG, responsáveis pela
organização deste material, nos norteamos, em linhas gerais, pelos seguintes
objetivos:
1 INSTITUIÇÕES DE
ENSINO SUPERIOR
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em Superior pluricurriculares, que devem açambarcar
seu Capítulo IV, artigo 43, atribui à educação superior, uma ou mais áreas do conhecimento e oferecer um
entre outras finalidades, estimular a criação cultural e ensino de excelência, “comprovada pela qualificação
o desenvolvimento do espírito científico e do do seu corpo docente e pelas condições de trabalho
pensamento reflexivo; formar diplomados nas acadêmico oferecidas à comunidade escolar, nos
diferentes áreas do conhecimento, aptos para inserção termos das normas estabelecidas pelo Ministro de
nos setores profissionais e para participação no Estado da Educação e do Desporto para seu
desenvolvimento da sociedade brasileira; e colaborar credenciamento”. (BRASIL, 1997).
na sua formação contínua. (BRASIL, 1996). Pela Lei nº 9.394/96, artigo 45, e pelo Decreto nº
No artigo 44, a LDB descreve que a educação superior 2.207/97, os centros universitários emergem como
deverá abranger cursos seqüenciais, cursos de mais uma opção de organização institucional dedicada
graduação, cursos de pós-graduação, programas de ao Ensino Superior. Os centros universitários não
extensão e pesquisa (BRASIL, 1996). Entretanto, faz- estão comprometidos com a institucionalização da
se necessário registrar que essa abrangência não é pesquisa. No entanto, isso não os desclassifica ou
obrigatória nem está presente em todas as instituições isenta de promover iniciação científica. Neste sentido,
de Ensino Superior. grande parte dos centros universitários utiliza a
As instituições de Ensino Superior estão basicamente pesquisa como um componente indispensável à
divididas em três grupos – faculdades, centros formação do graduado de nível superior.
universitários e universidades – sendo que poderão, Para alguns estudiosos, os centros universitários
desde que estruturalmente preparadas, oferecer cursos deveriam representar o estágio de transição das
a distância. faculdades para as universidades.
modalidade educacional na qual a mediação didático- Cabe destacar que, além dos critérios citados, as
pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem instituições deverão apresentar um projeto que
ocorre com a utilização de meios e tecnologias de
informação e comunicação, com estudantes e contemple as informações mínimas exigidas pelo
professores desenvolvendo atividades educativas em Ministério de Educação, como, por exemplo: estatuto
lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005). da instituição e seu modelo de gestão, elenco dos
cursos já autorizados e reconhecidos, dados sobre o
A criação de cursos de graduação em curso pretendido (objetivos, estrutura curricular,
direito, medicina, “odontologia e ementa, etc.).
psicologia, inclusive em universidades e
centros universitários, deverá ser Anotações
submetida, respectivamente, à
manifestação do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil ou do
Conselho Nacional de Saúde [...]”.
(BRASIL, 2006).
2 O ENSINO SUPERIOR
E A DOCÊNCIA NO BRASIL
No que se refere à metodologia de ensino presente hoje médicos, juristas, professores, engenheiros e técnicos
na sala de aula do Ensino Superior brasileiro, é de nível superior –”, o que também aconteceu em
possível identificar a influência de modelos europeus, terras brasileiras a partir de 1808. No modelo francês,
como o jesuítico, o francês e o alemão, que, de certa no que diz respeito à metodologia, a relação
forma, ainda interferem no paradigma atual da professor/aluno/conhecimento limitava o foco para
universidade brasileira. A partir de Pimenta e um ensino predominantemente profissionalizante,
Anastasiou (2002), podemos conhecer um pouco esses sempre “centrado na figura do professor repassador e
modelos e ver em que sentido ainda fazem parte do no estudo das obras clássicas de cada época”; o papel
ensino em algumas de nossas universidades. da memorização do conteúdo realizado pelo aluno era
obrigação primordial; e a força da avaliação era
2.1 OS MODELOS METODOLÓGICOS: “elemento essencialmente classificatório e decorrente
de decisões definidas pelo poder do professor”. Além
JESUÍTICO, FRANCÊS EALEMÃO
disso, havia a preocupação com a preservação de uma
metodologia tradicional, que podemos chamar de
Pimenta e Anastasiou (2002, p. 45) nos ensinam que
pedagogia da manutenção. (ANASTASIOU, 2008).
“as escolas superiores aqui estabelecidas foram cópias
Com o modelo humboldtiano-alemão, surgiu a ideia
pioradas das escolas portuguesas”, sendo que
da produção do conhecimento por meio da pesquisa.
Surgido a partir da década de 1950 em quase toda a
os modelos escolares portugueses, comparados com
os europeus de sua época, revelavam- se defasados e América Latina, esse modelo igualmente influenciou a
superados, permanecendo fiéis ao modelo medieval universidade no Brasil.
de ensino, baseado unicamente na dedução filosófica O modelo alemão, também chamado humboldtiano,
e em princípios apriorísticos, [...] tomando como
método de ensino os elementos do modelo jesuítico. de acordo com Anastasiou (2008), colocava “em pauta
a questão da pesquisa científica, visando preparar o
homem para a descoberta científica, para formular a
ciência a ser ensinada, levando em conta as grandes
A análise do modelo jesuítico e de sua recepção em
transformações da época. Segundo a mesma autora,
nossas universidades permite concluir, de acordo com
era a livre pesquisa que deveria se tornar a principal
Anastasiou (2008), que “a predominância da aula
missão da universidade, e não o ensino. Da mesma
expositiva, do 'falar' do professor e do repasse do
forma, era necessário levar em consideração as
conhecimento tem sua origem metodológica nos
condições que cercavam e possibilitavam tal
passos fixos do método jesuítico/português”, o qual,
acontecimento:
de certa forma, ainda se faz presente entre nós, mesmo
passados mais de duzentos anos, permanecendo pela
força do hábito.
tratava-se de uma universidade elitista,
Em se tratando do modelo francês-napoleônico, a extremamente seletiva, tanto do ponto de vista social
maior influência que herdamos está na organização quanto intelectual, assegurando uma relação entre
administrativa, na fragmentação organizacional professor-aluno calcada no seminário e no controle
informal. Portanto, essencialmente diferente do
curricular e nas estruturas de poder. A partir do início modelo jesuítico ou napoleônico. Ao adentrar a
do século XIX, a América Latina e o Brasil passaram a universidade, o estudante já portava sólida formação
sofrer influências do modelo universitário francês – básica, tanto do ponto de vista humanístico quanto
científico, o que lhe possibilitava um trabalho
também chamado de modelo napoleônico –, cujo intelectual independente, assim como maturidade
surgimento ocorreu, em 1806, com a criação da para se orientar por conta própria nos seminários, nos
universidade imperial de Napoleão. (ANASTASIOU, quais o professor elaborava sua própria doutrina. A
predominância da pesquisa tornou-se característica
2008). básica da escola superior, ficando a transmissão do
Anastasiou (2008) explica que “a universidade saber acumulado como decorrência natural. Arelação
napoleônica não se preocupava com a pesquisa professor-aluno extremamente autoritária, com
predominância de aulas expositivas, sem um
científica, mas dedicava-se predominantemente à compartilhar sistemático de situações de troca ou
preparação dos quadros administradores do país
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recorrentes: Para ser profissional docente, o que se 2.3 O ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO
requer? Qual é a formação para o exercício do ATUAL
magistério? Que tempo demanda essa formação?
Que enfoque científico deve orientá-la? As práticas As universidades brasileiras chegaram ao século XXI
profissionais do engenheiro, do advogado e do com muitas questões para serem resolvidas. Os seus
administrador continuam sendo suficientes para problemas e suas soluções possuem uma variedade de
exercer a função de “professor”? Como essa prática dimensões – política, cultural, administrativa e
se e fe t i v a e m a ul a? Es s es e o u t ro s organizacional –, entre os quais são alvo de uma
questionamentos, cujas respostas exigem toda uma abordagem mais direta aqueles relacionados à sua
reflexão na realidade presente e em todos os seus estrutura e ao seu funcionamento. Há, inclusive, uma
pressupostos sociais, políticos, históricos e Reforma Universitária sendo proposta e discutida pelo
culturais. Ministério da Educação e Cultura (MEC) e pela
Pesquisadores da formação docente apontam comunidade brasileira. Estão sendo alvo de discussão
que é preciso contar com a experiência teórica e questões curriculares, acesso especial para alguns
prática dos profissionais das mais diversas áreas do segmentos da população, avaliação de cursos e,
conhecimento para atuarem como docentes, pois os principalmente, a função que a universidade brasileira
mesmos detêm um profundo conhecimento da sua deve ter.
Para entendermos a universidade brasileira e suas
especificidade. Esse conhecimento, construído ao
longo dos cursos de formação inicial, como funções na atualidade, daremos uma rápida olhada em
sua história.
também da sua experiência prática, decorrente dos
As instituições de Ensino Superior se estruturaram
anos de atuação no mercado de trabalho, deve ser
como universidades apenas entre os séculos XI e XV.
visto como possibilidade de diálogo entre aqueles
Constituídas “de uma comunidade de discípulos que
saberes (da experiência) com os novos saberes a
gravitavam em torno de um mestre responsável pela
serem construídos com os estudantes. A
sua escola”, possuíam “a Igreja Católica como
contribuição de Behrens (1998, p. 58) ratifica essa
responsável pelos primeiros atos de criação”.
questão: nesse grupo de profissionais que atuam na
(CAMPOS, 1999). Na Europa, as primeiras
docência, o destaque da contribuição assenta-se
universidades surgiram em Bolonha, Paris e Pádua,
exatamente na preciosidade das experiências
respectivamente, em 1108, 1211 e 1222.
vivenciadas em sua área de atuação. Como
No Brasil, o surgimento da universidade foi tardio.
profissionais em exercício contaminam os
Apesar da existência, desde o início do século XIX, de
estudantes com os desafios e as exigências do
cursos superiores, somente a partir de 1930 começou o
mundo mercadológico, trazem a realidade para a
processo de organização das universidades, o que
sala de aula e contribuem significativamente na
formação dos acadêmicos. ocorreu pela simples aglutinação das faculdades e das
escolas existentes na época. Dessa forma foram
Fonte: GOMES, Heloisa Maria et al. fundadas, em 1933, as universidades de Minas Gerais.
Formação docente e as mudanças na sala: um Quanto à criação da Universidade de São Paulo,
diálogo complexo. ocorrida em 1934, esta representou uma inovação
Disponívelem:<http://209.85.215.104/search? desse processo, pois “procurou determinar objetivos
q=cache:sU6fdZcdVTYJ:www.uepg.br/olhardepr institucionais que harmonizassem estrutura
ofessor/pdf/revista72_artigo10.pdf+Neste+sentid organizacional e metas acadêmicas consistentes,
o,+algumas+quest%C3%B5es+s%C3- integrando o ensino superior e a pesquisa”.
%A3o+recorrentes,+tais+como:+O+que+se+requ (CAMPOS, 1999).
er+para+ser+profissional+docente%3F&hl=pt- Ainda segundo Campos (1999), em virtude do regime
BR&ct=clnk&cd=1>. Acesso em: 12 abr. 2008. autoritário, implantado em março de 1964, várias
turbulências ocorreram no Brasil, sobretudo causadas
por perseguições políticas.
Apesar de estudos apontarem como verdadeira a
premissa apresentada, esta, por si só, não se basta. Essa crise ocorreu em 1968 e, em resposta às
Considerando-se que a docência é uma profissão tão exigências de novas vagas, instituiu-se um grupo de
importante como outras, a formação pedagógica se trabalho que gerou a Lei 5.540/68, a chamada Lei da
Reforma Universitária. Essa reforma eliminou a
torna indispensável para que possa o docente tornar-se cátedra, instituiu a departamentalização acadêmica, o
um verdadeiro profissional, independente do nível de sistema de matrícula por disciplinas, os ciclos básicos
atuação. e profissionais, os vestibulares classificatórios, os
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3 TENDÊNCIAS NO PROCESSO
DE ENSINO E APRENDIZAGEM
A maneira como o professor encara o processo A sala de aula: é vista como o único espaço possível
pedagógico está, muitas vezes, diretamente de aprendizado, pois as experiências exteriores a ela
relacionada à sua formação acadêmica ou cultural. são pouco valorizadas. O professor é autoridade em
Neste sentido, a relação com seus alunos pode ocorrer sala de aula; é detentor do saber. A relação é
de forma unilateral – o professor fala e o aluno escuta – verticalizada: o professor fala, e o aluno ouve; a aula
ou de forma multilateral – professor e alunos se expositiva é a principal metodologia. Cabe ao aluno se
comunicam, refletem, discutem, formulam e adaptar à metodologia do professor. Freire (1979) se
reformulam convicções, conceitos, conhecimentos, referia a essa educação como uma educação bancária,
etc. pois o professor, neste caso, “deposita” os conteúdos
A seguir, apresentaremos algumas das tendências na “cabeça” dos alunos.
pedagógicas que norteiam a prática do professorado. Aavaliação: é utilizada com o objetivo de revelar se o
No entanto, ressaltamos que o professor não deve, aluno conseguiu reter o conteúdo repassado pelo
necessariamente, ficar preso a uma delas. Todavia, professor. Geralmente, a prova é o instrumento de
deve buscar o que há de melhor em cada uma e usar avaliação mais utilizado. O aluno não é avaliado no
com intuito de auxiliar na eficiência de sua prática. As processo; somente no momento das provas.
tendências pedagógicas são teorias norteadoras, e não A pedagogia tradicional está muito presente nos
receitas prontas. colégios e nas faculdades, sendo que, para a maioria
Bordenave e Pereira (2001) abordam que os das instituições, a aprendizagem só é possível na sala
educadores reconhecem a oposição entre dois tipos de de aula. Isto nos permite afirmar que “a palmatória se
educação: a educação bancária, em que o professor é foi, mas a educação tradicional ainda continua
um transmissor do saber, sendo conferida importância arraigada na prática escolar.” (DANTON; CARLO,
suprema aos conteúdos, e educação problematizadora, 2008)
em que, com base na participação ativa e no diálogo
constante entre professores e alunos, o conteúdo 3.2 TECNICISTA
programático não é única fonte de estudo.
As tendências pedagógicas são genericamente Esta tendência surgiu com o objetivo de atender às
classificadas em: tradicional, tecnicista, libertadora e necessidades oriundas do processo de industrialização
crítico-social. do mundo: sua origem remonta à Revolução
Industrial, ocorrida na Inglaterra do final do século
3.1 TRADICIONAL XIX. Portanto, o tecnicismo faz parte dos bancos
escolares há mais de 200 anos.
Trata-se de uma modelo educacional fortemente Os fundamentos básicos deste paradigma educacional
marcado pelo método cartesiano, isto é, parte da ideia são:
de que o aluno é uma tabula rasa, sem informações, Os conteúdos: as informações são ordenadas numa
cabendo ao professor a função de a ele transmitir tais sequência lógica de conteúdos, e a preocupação é,
informações. basicamente, a transmissão de conteúdos que
Os fundamentos básicos deste paradigma educacional habilitem os alunos a atenderem às necessidades do
são: mercado de trabalho.
Os conteúdos: não existe a preocupação com a A sala de aula: é organizada de forma racional; os
compreensão dos conteúdos vistos. Amemorização é a alunos são dispostos de maneira que o professor possa
principal meta da prática pedagógica, e a avaliação atingir todos. A relação professor/aluno é objetiva,
aparece como instrumento que serve para mensurar o cabendo ao professor transmitir as informações e, ao
que o aluno conseguiu memorizar. O professor toma a aluno, fixá-las.
lição, e cabe ao aluno responder exatamente aquilo que A avaliação: tem por objetivo avaliar o desempenho
foi transmitido em sala de aula. Os conteúdos estão do aluno. Os livros didáticos e as palavras transmitidas
vinculados à transmissão da cultura acumulada. pelo professor são as únicas fontes de informações
exigidas e disponíveis aos alunos. Em geral, não existe
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3.4 CRÍTICO-SOCIAL
4 PLANEJAMENTO DAS
ATIVIDADES DE ENSINO:
DA ELABORAÇÃO À PRÁTICA
4.1 A S A L A D E A U L A E O ideológicas, econômicas e sociais). Portanto, para que
PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES DE as aulas se desenvolvam de maneira tranqüila e
agradável e os conteúdos possam ser compreendidos
ENSINO
pelos alunos, faz-se necessário um Projeto de Ação,
um Plano de Aula, concebido no próprio espaço em
É utópico, em pleno século XXI, na chamada
que será aplicado, isto é, na sala de aula. O Projeto de
sociedade do conhecimento e da informação, acreditar
Ação deve ser resultado de um entendimento coletivo
que a sala de aula seja composta por pessoas de
que envolve alunos e professores.
comportamentos e pensamentos padronizados: todas
A compreensão da diversidade só é possível quando
alegremente dispostas a ouvir e concordar
compreendemos e/ou conhecemos um pouco sobre
passivamente com as “coisas” a serem ditas pelo
cada aluno: Onde trabalha? O que faz? Onde mora? É
professor. O professor/transmissor e o aluno/receptor
casado? Tem filhos? Por que está cursando esta ou
de conteúdos é uma relação que entrou em falência no
aquela faculdade? Na verdade, as respostas a estas
século passado. Não basta saber transmitir conteúdos;
simples perguntas contribuirão para a revisão ou
é preciso saber promover a compreensão desses
reformulação do Plano de Aula. Com essa ação, o
conteúdos.
professor respeitará as individualidades, os saberes
Neste sentido, torna-se essencial que o professor
trazidos, as diferenças existentes, etc.
compreenda que a docência é uma atividade
O professor deve ter a concepção de que vivemos
permanentemente orientada por uma teoria e por uma
numa sociedade de constantes transformações, onde
prática. A parte teórica à que nos referimos é aquela
as pessoas, a todo o momento, se constroem e se
que corresponde aos conteúdos que o docente
r e c o n s t r o e m , não e n q u a n t o i n d i v í d u o s ,
acumulou ou construiu ao longo de sua carreira
exclusivamente, mas enquanto agentes sociais. Nós,
profissional ou de sua formação acadêmica. A
professores e alunos, vivemos neste constante devir.
atividade prática corresponde à ação orientada por
essa teoria, ou seja, a busca constante pelos caminhos
mais eficazes para tornar os conteúdos (Arcabouço Não é possível respeito aos educandos, à sua
Teórico) acessíveis aos alunos dignidade, ao seu ser formando-se, a sua identidade
(Transposição Didática). fazendo-se, se não se levam em consideração as
condições em que eles vêm existindo, se não se
Tal entrelaçamento constante entre teoria e prática nos reconhecesse a importância dos 'conhecimentos de
permite vislumbrar que a atividade docente não é uma experiência feitos' com que chegam à escola. O
atividade exclusivamente prática ou teórica, tampouco respeito devido ao educando não me permite
subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz
concebida numa realidade rotineira, como a atividade consigo para a escola. (FREIRE, 1996, p. 64)
prática de um caixa bancário ou de um mecânico de
automóveis, os quais geralmente são orientados por
procedimentos de ordem puramente técnica e, muitas Não estamos sugerindo que o professor vá para a sala
vezes, repetitiva. Na atividade docente, a realidade é de aula sem um projeto inicial; ao contrário, toda
outra. O dia-a-dia da sala de aula, seja no Ensino disciplina é carregada de conteúdos e objetivos
Fundamental, no Médio ou no Superior, é muito previamente determinados.
diferente. As realidades são mutáveis, e os desafios, Na verdade, o que propomos é a sujeição dos objetivos
constantes. e conteúdos previamente determinados à realidade à
Com frequência, em nosso cotidiano escolar, ouvimos qual serão aplicados. Essa sujeição, sem dúvida,
expressões como: “Para 'dar' aula, basta saber bem o permitirá que o professor atrele os conteúdos à
conteúdo” ou, ainda, “Todo aluno é igual, ninguém realidade, utilize instrumentos de avaliação
quer nada com nada mesmo”. Isto não é verdade. adequados, aplique dinâmicas que atinjam o maior
A sala de aula é um espaço de diversidades (culturais,
número de alunos e utilize uma linguagem acessível a
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todos, enfim, faça uso de uma didática tranqüilidade) e também os mais introvertidos ou mais
verdadeiramente comprometida com a participação acanhados. Aqui o professor começa a vislumbrar os
efetiva dos alunos e permanentemente vinculada aos instrumentos avaliativos e as dinâmicas de grupo mais
objetivos da disciplina. adequados à turma.
A palavra didática vem do grego didaktiké, que quer 4. Apresentação da disciplina: talvez seja o momento
dizer arte de ensinar. Para Nérici (1993, p. 49), mais importante, pois os conteúdos, os objetivos, as
avaliações e os procedimentos metodológicos serão
expostos e discutidos. É possível que vários alunos
a didática é um conjunto de recursos técnicos que tem
em mira dirigir a aprendizagem do educando, tendo
queiram esclarecer dúvidas a respeito dos temas ou
em vista levá-lo a atingir um estado de maturidade assuntos propostos no Plano Inicial.
que lhe permita encontrar-se com a realidade e na 5. Expectativa com relação à disciplina:
mesma poder atuar de maneira consciente, eficiente e
responsável.
compreendemos que esta etapa seja fundamental para
a elaboração de um Plano de Aula realmente
comprometido com a disciplina e com o curso. As
informações aqui concebidas permitirão ao professor
4.2 INDICADORES QUE AUXILIAM O utilizar uma Didática que atenda às expectativas,
como, por exemplo, aulas expositivas, expositivo-
PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES DE
dialogadas, se deverão ser utilizadas dinâmicas de
ENSINO grupos, se os instrumentos avaliativos devem ser
provas, trabalhos, apresentação de seminários, entre
Conforme comentamos anteriormente, um Projeto de outras.
Ação ou Plano de Aula, verdadeiramente concebido Percorridas as etapas mencionadas, é aconselhável
no espaço em que será aplicado, certamente que o professor leia e refletia, novamente, sobre o seu
proporcionará ao professor, a partir de conteúdos Plano de Aula inicial e, se necessário, faça as devidas
previamente selecionados1, um ambiente formado por alterações.
alunos interessados, críticos, reflexivos e maduros.
O Plano de Aula, como já dissemos, é flexível, muda
O essencial, quanto ao planejamento de aula, é que o
de acordo com as realidades, e, neste sentido, faz-se professor reflita sobre o que vai fazer, sobre a maneira
necessário um breve estudo da turma em que o como vai orientar a aprendizagem de seus discípulos,
professor ministrará a sua aula e, conseqüentemente, de maneira a não ficar o trabalho docente em pura
improvisação ou rotina, não se incomodando com a
aplicará seu plano. realidade de seus discípulos e das realidades
Sugerimos as seguintes etapas para essa leitura: circunstanciais que constituem o momento presente.
1. Quantidade de alunos: esta informação é (NÉRICI, 1993, p. 108).
fundamental. O número de alunos presentes na sala
sugerirá ao professor o tom de voz a ser utilizado, os
instrumentos de avaliação mais adequados, as 4.3 MODELO DE PLANO DE ENSINO:
dinâmicas de grupo que poderão ser usadas, etc.
2. Apresentação do professor: é o momento em que o
UMAPROPOSTA
professor expõe sua história de vida, bem como sua
Não existem modelos de Plano de Aula padronizados.
trajetória docente (sua formação, suas atividades
As instituições de ensino, em geral, estabelecem um
profissionais, sua produção científica, suas
modelo que melhor atenda às suas necessidades. O
expectativas em relação à turma, etc.). Nesta etapa, os
modelo (Quadro 1) que propomos pode e deve ser
alunos, em geral, sentem-se mais à vontade e
alterado sempre que necessário; porém, algumas
começam a interagir com o professor. É interessante
informações são indispensáveis para nortear a prática
que a apresentação seja descontraída ou o menos
docente.
formal possível.
3. Apresentação dos alunos: entendemos que algumas
informações sejam indispensáveis, como, por
exemplo: nome, ocupação (se tiver), por que escolheu
o curso, idade, se reside próximo à instituição de
ensino ou se reside em outro município, etc. Essas
informações permitem ao professor identificar os
alunos mais extrovertidos (que se expõem com mais
1 São conteúdos selecionados para atender às necessidades dos alunos. A seleção geralmente ocorre após o professor pesquisar/estudar o perfil dos alunos da turma. Em cursos de
graduação e de pós-graduação, é comum alunos de cursos distintos comporem uma única turma e, nesses casos, faz-se necessária a aplicação de uma didática adequada (conteúdos,
linguagem, avaliações e metodologias).
18
Disciplina:
Professor (a):
A ementa apresenta o rol das temáticas que constituem a disciplina, área ou projeto, ou seja, contém os grandes temas que
deverão ser tratados, os quais nortearão a organização do conteúdo programático para cada unidade a ser desenvolvida no
curso.
Objetos do Conhecimen to Objetivos Pro postas de Proced imentos de Avaliação
Específicos Atividades
(unidades e subunidades) (instrumentos)
O objetivo Identificar os
Reúne um conjunto de Temas/Unidades Identificar/listar os instrumentos que
expressa e mecanismos didáticos
que serão trabalhados. Devem estar em serÃo utilizados na avaliação dos
intencionalidade da utilizados para atingir
sintonia com a ementa. É interessante alunos (provas, seminários, trabalhos
ação docente. os objetivos
que cada tema/unidade seja subdividido
propostos e garantir a em grupo,etc.)
e subunidades.
aprendizagem do
aluno. (aulas
expositivas,
dinâmicas de grupo,
dramatização, estudo
de caso, etc)
Recursos utilizados:
Referências:
Básicas Complementares Eletrônicas
Temos o entendimento de que o modelo apresentado, como, por exemplo, dinâmicas de grupos ou, até
quando bem elaborado, pode auxiliar de forma mesmo, trabalhos individuais, são utilizadas como
eficiente o professor no seu dia-a-dia em sala de aula. alternativas complementares à aula expositiva.
O modelo apresenta, de um lado, as unidades e as Não queremos enaltecer ou condenar a prática
subunidades que serão trabalhadas e, do outro, os expositiva. O que pretendemos é alertar para as
objetivos específicos. Nossa proposta é que, para cada armadilhas que ela, em si mesma, impõe ao professor.
uma das subunidades, quando for o caso, seja traçado Às vezes, inconscientemente, o docente torna suas
um objetivo, pois entendemos que, seguindo essa aulas informativas, cansativas, autoritárias e com
proposta, o professor passa a ter as suas aulas traçadas poucos momentos de estímulos para a compreensão do
no próprio Plano de Ensino. Assim, o professor ganha aluno. Claro que existem professores que, fazendo uso
tempo e direcionamento nas suas atividades. da prática expositiva, conseguem promover aulas
interessantes e, ao mesmo tempo, carregadas de
4.4 AULAS E XP OS IT I VAS: SUA conteúdos.
Balcells e Martin (1985, apud GODOY, 1997)
IMPORTÂNCIAE SEUS PERIGOS
sugerem nove pontos a serem levados em
consideração no momento de preparar uma aula
A prática de aulas expositivas é largamente utilizada
expositiva. Apresentamos quatro deles:
pelos docentes, e isto tem uma explicação histórica;
afinal, desde os tempos mais remotos do Ensino
• Conhecer a fundo a matéria: é uma exigência
Superior, esta prática docente é utilizada, razão pela
essencial para a clareza da exposição.
qual resolvemos reservar um espaço para refletir
• Levar em conta o tipo de auditório: neste caso, é
rapidamente sobre a mesma. As demais práticas,
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importante certificar-se se os alunos possuem os • identificar o que de positivo já foi feito, ratificar o
conhecimentos prévios necessários para acompanhar que já existe (inclusive, comemorar as conquistas);
a exposição que está sendo realizada. • corrigir os rumos (alterar procedimentos
• Uso de apontamentos: embora seja útil que a aula metodológicos, baixar ou aumentar os níveis de
expositiva seja dada a partir de anotações elaboradas expectativas).
previamente, o professor precisa ter cautela para que
isso não transforme a exposição em uma leitura 4.6 CURRÍCULO: CONCEITUAÇÃO E
simples e enfadonha do material por ele preparado.
DIFERENTES DIMENSÕES
• A duração da aula expositiva: uma vez que a
exposição oral feita pelo professor é, normalmente,
Currículo é palavra de origem latina, derivada do
mais cansativa para os alunos do que outras práticas de
verbo currere, que significa caminho ou percurso a
ensino, em que eles podem ter uma participação mais
seguir, jornada, trajetória. Para Pacheco (1996, p. 15)
ativa, o professor deve evitar estendê-la por um tempo
encerra duas ideias principais: “[...] uma de sequência
excessivo, sob o risco de provocar a desatenção dos
ordenada, outra de noção de totalidade de estudos”.
estudantes.
Atualmente, quando atribuímos ao currículo a
• O uso dos audiovisuais: a utilização de imagens e de
sequência linear e ordenada de estudos ou o conjunto
pequenos textos contribuem à medida que podem
de disciplinas que compõe um determinado curso,
seduzir o aluno na prática de ensino.
temos a compreensão de currículo como uma
A aula expositiva não pode ser evitada, pois é o sequência ordenada.
momento em que o professor socializa todo o seu O termo currículo, desde sua concepção como campo
arcabouço teórico e prático, podendo despertar o aluno de trabalho específico na área educacional, tem
para a importância do que está sendo trabalhado. apresentado diversas definições, muitas vezes
Nesse instante, o aluno pode sentir-se instigado em polissêmicas e controversas. Ao longo da história, o
querer saber mais sobre os temas expostos. O currículo tem sido definido como:
professor deve evitar falar incansavelmente coisas
• rol de disciplinas ou grade curricular a ser seguida;
que, muitas vezes, não apresentam sentido ou vínculos
• determinação de objetivos, conteúdos e sequência de
com a realidade.
atividades a serem implementados pela escola;
• conjunto de conhecimentos ou matérias a serem
4.5 AVALIAÇÃO superados pelo aluno;
• programa de atividades planejadas seqüencialmente
A avaliação deve ser entendida como um instrumento e metodologicamente ordenadas conforme orientação
que vai além de uma simples mensuração dos obtida no manual do professor;
conteúdos desenvolvidos em sala de aula. • resultados pretendidos de aprendizagem pela escola
Todo professor sabe que os alunos que fazem as ou professor;
melhores provas não são, necessariamente, os que • implementação do plano reprodutivo para a escola de
merecem as melhores notas. Entretanto, o professor só uma determinada sociedade;
age de forma justa se der as notas de acordo com as • experiências recriadas pelos alunos por meio das
regras e normas apropriadas ao contexto particular; quais se desenvolverão;
nesse caso, as normas e regras apropriadas às provas. • habilidades a serem dominadas visando ao
Para Heller (1998), a justiça é uma virtude fria, pois desenvolvimento profissional dos alunos;
requer imparcialidade. Sob esta ótica, propomos que a • programa com conteúdos e valores social, política e
avaliação seja um instrumento para: economicamente contextualizados para que os alunos
possam contribuir e interferir na reconstrução da
• revelar o que ainda precisa ser feito (os instrumentos
sociedade.
avaliativos são indicadores daquilo que o aluno
aprendeu/compreendeu e daquilo que precisa ser ainda Como podemos observar, não há consenso sobre o
compreendido); significado da palavra currículo. Contudo, não se pode
• compreender o processo (tanto para os alunos como negar que ele é fruto do seu tempo. Conforme
para os professores); argumenta Apple (1994, p. 59),
• fixar um norte e buscar referenciais (o processo de
avaliação precisa estar relacionado aos objetivos da
disciplina);
20
O currículo nunca é apenas um conjunto neutro de • Currículo em ação ou real: são todos os tipos de
conhecimentos [...] Ele é sempre parte de uma
tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da
aprendizagens que os estudantes realizam como
visão de algum grupo acerca do que seja consequência de estarem escolarizados. É a
conhecimento legítimo. É produto de tensões, consequência de viver uma experiência num ambiente
conflitos e concessões culturais, políticas e
econômicas que organizam e desorganizam um povo.
que propõe-impõe todo um sistema de comportamento
e valores, e não só de conteúdos de conhecimentos a
assimilar;
O currículo revela aspectos vinculados a relações de • Currículo explícito: representa a dimensão visível do
poder, o que configura o contexto educacional como currículo e se constitui nas aprendizagens
um espaço fundamentalmente político (FREIRE, intencionalmente buscadas ou deliberadamente
1993). Nesta perspectiva, para Moreira (1994, p. 28), promovidas por meio do ensino;
• Currículo vazio ou nulo: se constitui nos
O currículo não é um veículo de algo a ser transmitido conhecimentos ausentes, tanto das propostas
e passivamente absorvido, mas o terreno em que curriculares (currículo formal), como das práticas da
ativamente se criará e produzirá cultura. O currículo sala de aula (currículo em ação), que, muitas vezes,
é, assim, um terreno de produção e de política cultural
no qual os materiais existentes funcionam como abrangem conhecimentos significativos e
matéria- prima de criação, recriação e, sobretudo, de fundamentais para a compreensão da realidade e para a
contestação e transgressão. atuação nela. Também chamado “campos de silêncio”
ou de “omissões”, seu significado é fundamental para
entender o currículo como espaço de afirmação e
A educação assim concebida indica uma função da negação de elementos das diferentes culturas,
escola voltada para a realização plena do ser humano, produzindo efeitos sobre o estudante, tanto em função
alcançada pela convivência e pela ação concreta, do que diz, como daquilo que silencia.
qualificada pelo conhecimento. Historicamente, as
escolas se preocuparam mais em desenvolver os
conteúdos conceituais. Portanto, há de ser construída
uma escola cuja construção demande uma passagem
que se inicia no âmbito dos princípios filosóficos e
prossiga em direção a um projeto pedagógico, indo
deste para as práticas e ações dos professores. Essa
passagem pressupõe uma reflexão de todos os
envolvidos sobre todas as decisões que dão forma a
uma escola, desde o currículo e o comprometimento
dos pais, passando pelas aulas, pelas metodologias
adotadas e, até, pelas que se referem à gestão escolar.
Nenhum currículo pode fixar-se por muito tempo.
Deve haver um repensar constante sobre sua
contemporaneidade, ou seja, sua atualidade e sua
adequação ao que está acontecendo no mundo real. Os
alunos precisam, também, de conteúdos atitudinais e
procedimentais que lhes sirvam para melhor
entenderem a sociedade global e melhor conviverem e
agirem em sua comunidade e em sua atividade.
O currículo apresenta diferentes dimensões:
5 AMBIENTE VIRTUAL:
NOVOS DESAFIOS PARA
PROFESSORES E ALUNOS
Os professores do Ensino Superior necessitam • propiciar um espaço para a realização de
conviver e aprender a trabalhar com os novos espaços experiências educacionais com uma proposta
de aprendizagem escolar presentes no século XXI. Os pedagógica inovadora;
laboratórios de informática, bem como salas de aulas • possibilitar a vivência de uma cultura da
equipadas, como com internet, são mecanismos aprendizagem que implique rupturas paradigmáticas;
indispensáveis para a efetivação do processo técnico- • oportunizar um espaço de desenvolvimento-
pedagógico. Os ambientes virtuais surgem como pesquisa-ação-capacitação de forma sistemática e
mecanismos auxiliares, mas não como substitutos da sistêmica;
relação presencial entre professores e alunos. O • possibilitar a interdisciplinaridade num ambiente de
ambiente virtual torna-se um grande parceiro do cooperação entre sujeitos de diferentes áreas de
professor em regime presencial, ao mesmo tempo em conhecimento.
que permite uma continuidade das atividades em
ambientes externos aos bancos escolares. Antes, o Nos ambientes virtuais, são fundamentais os papéis do
professor só se preocupava com o aluno em sala de professor e do aluno. Compete ao educador o papel de
aula; agora, sua relação com o aluno pode ocorrer, mediador de informações, facilitando o processo de
também, a distância. aprendizado do aluno como usuário, e este, por sua
Apesar de as mudanças na educação brasileira vez, passa a ser um usuário ativo que contribui para o
ocorrerem com pouca frequência e permanência, a aprimoramento de sua aprendizagem. Cabe, também,
maior e talvez mais significativa esteja ocorrendo ao professor sempre se reciclar e aprender a aprender
atualmente por intermédio da tecnologia. Estamos nos constantemente, pois só assim terá a certeza de que os
referindo ao computador, que já é ferramenta softwares e demais tecnologias poderão atingir os
importante nas casas e escolas brasileiras. Algumas objetivos pedagógicos (VILLA, 1998). Em um mundo
das diversas atividades realizadas pelo homem, hoje, onde as informações estão disponíveis para qualquer
podem ser realizadas on-line. Um exemplo disso é um, o professor deve estar preparado para qualquer
quando vamos ao banco, quando fazemos compras questionamento, principalmente em sua área de
pela internet ou, ainda, lemos um jornal on-line. atuação.
Enfim, o ambiente online, chamado de ambiente Para Galvis (1992, p. 52), “um ambiente de
virtual, também já está presente na educação. aprendizagem poderá ser muito rico, porém, se o aluno
A inserção da tecnologia na educação começou com a não desenvolve atividades para o aproveitamento de
popularização da internet como um espaço de seu potencial, nada acontecerá”. Nesse ambiente, cabe
pesquisa, de comunicação e de aprendizagem. ao aluno o papel principal, pois ele deve ser
Consequentemente, as escolas se aproveitaram disso e participativo, organizado, interessado e autônomo,
criaram o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). além de saber trabalhar em equipe e ser um grande
O AVA é um sistema de gerenciamento de ensino e pesquisador, buscando aprimorar seus conhecimentos.
aprendizagem que funciona pela internet. Este sistema Deve, igualmente, contribuir com os esclarecimentos
possibilita a interação entre os participantes, assim e exposições do professor e participar ativamente das
como amplia e enriquece os espaços de aprendizagem, discussões em sala de aula e dos trabalhos em grupo,
privilegiando a atividade do sujeito na construção do efetivando a cooperação e a importância do trabalho
conhecimento. em grupo como alavancador do processo de
O AVA tem vários objetivos, entre os quais citamos: mecanismos cognitivos e afetivos.
O AVA é um sistema que fornece suporte a qualquer
• oportunizar um espaço de interação entre os sujeitos tipo de atividade realizada pelo aluno, i to é, é um
por meio de diferentes tipos e objetos de conhecimento conjunto de ferramentas para diferentes situações do
possibilitados pelo ambiente; processo de aprendizagem, utilizando diversos
MET O DOL OGIA D O E NSI NO S UPE RI O R 23
5.3 WEBCONFERÊNCIA
6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Muitos professores vivenciam, na condição de alunos, 6.1 ESTUDO DE TEXTO
dinâmicas de aulas em que o ensino se resumia à
apresentação, seguida de explicação de conteúdos, Um texto pode ser utilizado para buscar informações
algumas vezes, “soltos”. A transmissão imperava. novas, explorar ideias, fazer análises ou elaborar
Hoje sabemos que, além da construção de novos conhecimentos. Trata-se, basicamente, da
conhecimentos, o ensino “[...] contém, em si, duas exploração das ideias de um autor a partir de um estudo
dimensões: uma utilização intencional e uma de crítico. O acompanhamento do professor é condição
resultado, ou seja, a intenção de ensinar e a efetivação especial para a utilização dessa estratégia, pois, muitas
dessa meta pretendida”. (ANASTASIOU; ALVES, vezes, as habilidades de leitura e interpretação ainda se
2004, p. 13). encontram pouco desenvolvidas nos alunos. Para
O trabalho docente, então, não se reduz ao ensino e Anastasiou e Alves (2004, p. 80), “[...] devem se tornar
requer a avaliação constante de um processo que objeto de trabalho sistemático na universidade para
envolve um conjunto de pessoas na construção de todas as áreas de formação”.
conhecimentos e saberes. Nesta direção, devem ser
propostas ações que desafiem o aluno e que 6.2 SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
possibilitem o desenvolvimento de suas operações
mentais. Trata-se da apresentação de um problema em sala,
A condução de uma aula ou a aplicação de uma capaz de mobilizar o aluno para a busca de soluções. O
dinâmica será sempre útil desde que envolva reflexão problema deve levar em conta o enfrentamento de uma
e sentimento. A criticidade, a historicidade e a situação nova para o aluno, que, a partir de dados
contextualização dos temas trabalhados devem estar expressos na descrição desse problema, deve resolvê-
sempre incluídas nas aulas. A sensação de lo aplicando leis ou princípios que estão sendo
pertencimento à turma é outra condição necessária discutidos como objeto de estudo. Permite verificar o
para que a aula aconteça; a participação do grupo é levantamento de hipóteses, a análise de dados, a
imprescindível. criticidade, a reflexão, a criatividade e a totalidade de
A seleção das estratégias e da metodologia de ensino a diferentes contextos.
ser utilizada está diretamente relacionada ao Projeto
Político-Institucional (PPI) e ao Projeto Pedagógico 6.3 SEMINÁRIO
de Curso (PPC). Neste contexto relacional, o professor
direciona, organiza, operacionaliza e insere as É um espaço para semear ideias. Trata-se da
estruturas de ensino e de aprendizagem. apresentação de um tema resultante de um trabalho de
Lembramos que o ensino com pesquisa deve estar pesquisa sobre determinado conteúdo. É preciso
presente sempre. O aluno universitário deve ser organizar um calendário para as apresentações e
desafiado como investigador, deve assumir espaço físico, bem como orientar os alunos durante o
responsabilidades, adquirir autonomia e desenvolver a processo para que tenham domínio e coerência no
disciplina. Em sua formação profissional inicial, deve momento da socialização. O que garante o sucesso
construir projetos: definir problemas de pesquisa, desta estratégia de ensino e de aprendizagem é a sua
selecionar dados e procedimentos de investigação preparação. Os alunos precisam ter clareza dos estudos
analisar, interpretar e validar suas suposições, a serem feitos e dos papéis a serem desempenhados em
apresentar resultados e recomendações. um seminário, pois é o momento de apresentar sínteses
Procuramos pontuar algumas estratégias capazes de integradoras.
acrescentar elementos que auxiliem o professor na
organização da sua atuação docente: estudo de texto,
solução de problemas, seminário, dramatização,
6.4 DRAMATIZAÇÃO
simpósio e oficina (workshop).
É uma representação e atende a várias finalidades:
incita a capacidade de os alunos se colocarem no papel
de um “outro”; desenvolve a criatividade e a
imaginação; possibilita interação e liberdade de
MET O DOL OGIA D O E NSI NO S UPE RI O R 25
6.5 SIMPÓSIO
7 ANDRAGOGIA:
APRENDIZAGEM DO ADULTO
No Ensino Superior, trabalhamos com sujeitos que Freire (1970) afirma que o ser humano deve ser o
chegam à universidade ainda adolescentes e que, em sujeito de sua educação, destacando-a como a
pouco tempo, avançam para a idade adulta e, portanto, educação que conscientiza ou problematiza,
apresentando habilidades cognitivas de aprendizagem diferentemente da “educação bancária ou
diferentes das crianças e dos pré-adolescentes. Esta domesticadora”. A educação precisa ser
particularidade precisa ser considerada no sentido de o “emancipadora”, capaz de habilitar o indivíduo para o
professor conhecer melhor esses sujeitos, para que o auto- reconhecimento, para a interpretação da
planejamento de ensino apresente estratégias realidade que o cerca e a conscientização de sua
compatíveis aos estilos de aprendizagem dos mesmos. situação.
Estudos da psicologia também têm apontado para um Alguns estudos atuais têm apontado para a
processo evolutivo do desenvolvimento cognitivo na necessidade de conhecer o processo de aprendizagem
idade adulta, podendo o mesmo durar a vida toda, dos adultos, que não pode ser o mesmo das crianças. A
como se pode constatar em programas de educação própria palavra pedagogia ou paidagogos, que tem sua
permanente ou continuada. origem no grego (paidós = criança e agogós = que
No sentido apontado, Oliveira (1999, p. 60-61) afirma conduz), significa, literalmente, aquele que conduz a
que criança. Alguns pesquisadores, então, percebendo que
muitos métodos de aprendizagem possuem direções
Embora nos falte uma boa psicologia do adulto e a específicas para crianças, contestam-nos no sentido de
construção de tal psicologia esteja, necessariamente,
fortemente atrelada a fatores culturais, podemos que o adulto aprende de outras formas. Por isso,
arrolar algumas características dessa etapa da vida introduzem a palavra andragogia, termo próprio para
que distinguiriam, de maneira geral, o adulto da designar a educação de adultos. A este respeito,
criança e do adolescente. O adulto está inserido no
mundo do trabalho e das relações inter-pessoais de Cavalcanti (2007) apresenta um estudo, no qual cita
um modo diferente daquele da criança e do Knowles, que, em 1970, passou a ser o disseminador
adolescente. Traz consigo uma história mais longa (e das ideias geradas por Lindermann, em 1926, de que
provavelmente mais complexa) de experiências,
conhecimentos acumulados e reflexões sobre o andragogia é “a arte e a ciência de orientar os adultos a
mundo externo, sobre si mesmo e sobre as outras aprender”. Cavalcanti (2007) destaca, também, que,
pessoas. Com relação à inserção em situações de para Knowles, “à medida que as pessoas amadurecem,
aprendizagem, essas peculiaridades da etapa de vida
em que se encontra o adulto fazem com que ele traga sofrem transformações e:
consigo diferentes habilidades e dificuldades (em
comparação com a criança) e, provavelmente, maior Passam de pessoas dependentes para indivíduos
capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre
seus próprios processos de aprendizagem.
independentes, autodirecionados.
Acumulam experiências de vida que vão ser
fundamento e substrato de seu aprendizado futuro.
Desenvolver ações pedagógicas que extrapolem a Direcionam seus interesses pelo aprendizado para o
passividade do estudante adulto é oportunizar a desenvolvimento das habilidades que utilizam no seu
participação do mesmo. O educador precisa partir da papel social, na sua profissão.
premissa de que o adulto é um ser pensante, tem ideias Passam a esperar uma imediata aplicação prática do
próprias, criadas pelas experiências de vida, e expõe que aprendem, reduzindo seu interessepor
oralmente com uma facilidade impressionante, conhecimentos a serem úteis num futuro distante.
quando seu interlocutor lhe oferecer abertura para isso. Preferem aprender para resolver problemas e desafios,
Assim, para Pinto (1991), o educador não pode se mais que aprender simplesmenteum assunto.
apresentar de forma arrogante e erudita diante do Passam a apresentar motivações internas (como
adulto que busca ampliar sua formação, para que este desejar uma promoção, sentir-se realizadopor ser
não se sinta inferiorizado e se torne retraído. Todas as capaz de uma ação recém-aprendida etc.), mais
possibilidades de abertura que conduzem para uma intensas que motivaçõesexternas, como notas em
confiança mútua, entre o educador e o educando provas, por exemplo.
adulto, precisam ser oportunizadas. Neste sentido,
MET O DOL OGIA D O E NSI NO S UPE RI O R 27
Cavalcanti (2007) destaca, ainda, as diferenças entre 1. Estilo Ativo: se apresenta nos indivíduos ousados,
os princípios da andragogia e da pedagogia, úteis improvisadores, espontâneos, descobridores,
quanto às estratégias e aos planejamentos para facilitar criativos, participativos, competitivos, desejosos por
a aprendizagem do adulto (Quadro 2). aprender e que geralmente são muito falantes.
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Resumo
Com o presente texto, objetivou-se mostrar o papel do professor universitário, em termos da didática, frente aos novos
desafios da sociedade contemporânea. Foi realizado por meio de uma revisão bibliográfica referente aos conteúdos
trabalhados e discutidos em sala de aula na disciplina de Didática do Ensino Superior, para buscar ideias inovadoras de
autores pertinentes ao assunto, bem como para uma reflexão da teoria e mobilização da prática desses profissionais da
educação.
1 INTRODUÇÃO
O artigo traz uma reflexão sobre o papel do professor posturas utilizados pelos docentes visando à aprendizagem
universitário, em termos da didática, frente aos novos do aluno. O professor universitário que não tem didática só
desafios da sociedade contemporânea. Não basta apenas o pensa na transmissão do conteúdo trabalhado, sem se
professor tomar conhecimento da teoria que cerca o seu importar com o desempenho dos alunos, ou melhor, sem se
trabalho, refletir sobre a sua prática, sem haver uma preocupar com a formação integral do sujeito que quer
mobilização de sua ação consciente de acordo com os formar para a vida.
novos desafios propostos.
Faz-se necessário que o profissional passe O currículo não é um veículo de algo a ser transmitido
constantemente pelo processo de formação, o qual se dá por e passivamente absorvido, mas o terreno em que
meio de um processo contínuo de reflexão-ação-reflexão. ativamente se criará e produzirá cultura. O currículo
Deve ter em mente a importância das implicações do ofício é, assim, um terreno de produção e de política cultural
de docente no que se diz respeito às suas competências, no qual os materiais existentes funcionam como
matéria- prima de criação, recriação e, sobretudo, de
planejamento, avaliação, dificuldades do corpo discente, contestação e transgressão.
ou seja, à sua identidade, para que o processo ensino-
aprendizagem ocorra por meio de conteúdos significativos,
reflexíveis, com postura flexível e utilização de avaliações No entanto, é de extrema importância que o professor
diversificadas. universitário tenha consciência do sentido do ensino como
Além disso, depende para que ocorram mudanças, da sendo o ato de se organizar, articular e apresentar o
metodologia utilizada pelo professor universitário em sala conteúdo, criando situações para que os alunos interajam
de aula. Mas faz-se, também, necessário que ele coloque entre si e com os conteúdos de ensino e desperte, assim, sua
em prática os quatro pilares da educação, a fim de “ser” um curiosidade. Para tanto, é necessário prever e organizar o
professor marcante positivamente para os alunos, espaço e o tempo, considerando os avanços alcançados
construindo e vivenciando com eles atividades como alavanca para novas aprendizagens. O professor deve
pedagógicas no cotidiano da sala de aula universitária. se utilizar da avaliação como atividade contínua e
Neste sentido, a aprendizagem do professor deve ser diagnóstica.
sempre atualizada, devido aos impactos das novas Diante dos aspectos apontados, tem-se que considerar
tecnologias na sociedade e na educação. a importância da base intelectual do profissional. A
A didática é a procura de escolha de procedimentos formação do professor se dá por meio de um processo
para que o aluno aprenda. São os métodos, recursos e contínuo de reflexão. Para que isso ocorra, deve haver um
3 Formação Acadêmica Pós-graduação stricto sensu – Mestranda em Educação, Arte e História da Cultura - Universidade Mackenzie Pós-graduação - MBA em Gestão
Educacional (Monografia Científica: As competências do líder-gestor educacional na organização escolar privada) - Uni FMU (2007) Epanhol – CNA (cursando) Pós-graduação
lato sensu – Curso de Especialização em Psicopedagogia (Monografia Científica: Os comprometimentos do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade em crianças na
fase de alfabetização) - Universidade Paulista - UNIP (2001) Pedagogia – Habilitação: Administração Escolar (Monografia Científica: A psicopedagogia e os problemas
de aprendizagem) – Universidade Mackenzie (1997) Magistério – Colégio Sagrado Coração de Jesus (1994).
MET O DOL OGIA D O E NSI NO S UPE RI O R 33
embasamento teórico e prático de didática. O professor não Enfim, o professor ideal é aquele que marca
deve ficar amarrado só às questões cognitivas, mas também positivamente seus alunos. É o chamado professor
à função do ensino. inesquecível, ou seja, aquele que ensina bem, conhece bem
Aprende-se a ser professor com a prática reflexiva, a a área, aquele que não dá apenas aulas expositivas, por
qual leva à transformação de sua ação. melhores que sejam, aquele que alia características
positivas do domínio afetivo às do domínio cognitivo,
[...] a reflexão não é um processo mecânico e aquele que planeja suas aulas, usa, em sua prática,
solitário, nem um simples exercício de criação ou pressupostos da teoria interacionista e articula as posições
construção de novas ideias, que pode ser imposto ao teóricas na disciplina que ensina com postura política
fazer docente, mas uma prática que expressa a tomada clara.:
de decisões e as concepções que temos acerca de
nossa ação pedagógica. (ISAIA, 2004).
O professor é um artesão numa prática pessoal,
integrando as várias contribuições das várias
Isaia (2004) completa o seu pensamento, afirmando disciplinas, capaz de auto-observação, auto-
que: avaliação e auto-regulação. Ensina a caminhar com
passos firmes e também ensina o fascínio do ousar.
Ensina trilhas e desenvolve o atrevimento de sair das
A construção do papel do de ser professor é coletiva,
trilhas aprendidas. (CASTANHO, 2001).
se faz na prática de sala de aula e no exercício de
atuação cotidiana, seja na escola, seja na
universidade. É uma conquista social, compartilhada,
pois implica em trocas e representações. Assim, as Castanho (2001) conclui que o professor: “[...] amplia
formas mais úteis de representação das ideias, as os horizontes próprios e dos alunos, faz-se seguro e incute
analogias, ilustrações, exemplos, explicações e segurança, busca a verdade a despeito de todas as
demonstrações, a maneira de representar e formular a
matéria, para torná-la compreensível, revela a
dificuldades e contingências... tem anseios, dúvidas,
compreensão do processo de ensinar e de aprender sonhos, esperanças...”
pelo professor. O domínio desses aspectos é Por falar no professor universitário, é de grande
fundamental na construção do conhecimento importância trabalhar com as atividades pedagógicas
pedagógico pelo professor. diversificadas, as quais devem ser eficientes e eficazes para
colaborar com a aprendizagem dos alunos e melhorar a
Neste sentido, o professor ideal é aquele que cria qualidade dos cursos. Neste sentido, Masetto (2003)
situações para desenvolver o olhar crítico e o pensamento contribui dizendo que
reflexivo. Não permanece preso a livros, vai além da
transmissão de conteúdos. Permite a troca, tem o olhar além
[...] sempre que desenvolvemos atividades
do que é óbvio, aceita a aproximação com o aluno pedagógicas com a preocupação de criar melhores
(afetividade), demonstra preocupação por ele e o orienta. condições para a aprendizagem dos alunos,
Valoriza e propicia situações que aumentam a auto-estima. conseguimos motivá-los para o estudo das
Motiva as aulas. Procura conhecer o aluno. Não fica preso a disciplinas, envolvê-los com sua formação
uma única estratégia. Está constantemente se atualizando. profissional e tornar significativo para eles o curso de
graduação [...]
Educa para a vida, como cidadão crítico. Valoriza, assim, o
diálogo e permite a integração do grupo. Ama a profissão.
O professor universitário, então, deve se preocupar Vale ressaltar que há uma atividade pedagógica que é
com a realização pessoal do aluno em sua totalidade, com o fundamental que o professor universitário desenvolva: a
objetivo de formar o homem total, aquele que aprende a avaliação. Esta é capaz de motivar os alunos para
conhecer, aprende a fazer, aprende a viver com os outros e desenvolverem seu processo de aprendizagem. Por isso,
aprende a ser, ou seja, desenvolve os quatro pilares nos deve ser formativa, contínua e processual, a fim de levar à
quais a educação se baseia ao longo de toda a vida. reflexão e buscar informações para mobilizar o processo de
A Comissão Internacional sobre Educação para o aprendizagem e adquirir percepções que ajudarão por toda
século XXI afirma, em seu relatório para a UNESCO a vida. Enfim, não é uma atividade que tem como objetivo
(1999) apenas medir e controlar, verificar e fazer julgamentos, mas
uma atividade que permite diagnosticar o que foi
A educação deve organizar-se em torno de quatro aprendido, detectar as dificuldades durante o processo, a
pilares fundamentais que serão de algum modo para fim de levar o aluno a progredir e realizar com mais
cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender segurança as atividades futuras.
a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da Educar é a atividade humana que consiste em cultivar,
compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre
o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de
habilitar, ensinar, formar e elevar o indivíduo e o gênero
participar e cooperar com os outros em todas as humano. Os valores humanos são essenciais para a
atividades humanas; finalmente aprender a ser, via formação do aluno, pois é por meio deles que se formam
essencial que integra as três precedentes. cidadãos conscientes de que o respeito e a solidariedade são
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os pilares da sociedade. É com a transmissão desses valores MASETTO, Marcos T. Competência pedagógica do
que o professor universitário deve se preocupar ao formar professor universitário. São Paulo: Summus, 2003.
seus alunos para a vida.
Ao ensinar, o professor está participando de um PERRENOULD, Philippe. Construir as competências
processo de autoconhecimento e autotransformação. Neste desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.
sentido, a aula deve ser transformada em palco de discursos
e práticas direcionadas para a autonomia e liberdade, onde RELATÓRIO PARA A UNESCO DA COMISSÃO
as inteligências são somadas, onde cada professor aprende INTERNACIONAL SOBRE A EDUCAÇÃO PARA O
a ter amor por aquilo que realiza e estimula as capacidades e SÉCULO XXI. Educação: um tesouro a descobrir. 2. ed.
as inteligências dos alunos. Somente assim haverá a Cortez, 1999.
transformação tão sonhada por todos.
Infelizmente, o aluno como pessoa não é preocupação
para muitos professores. Para eles, o conteúdo é mais
importante e, se está atrasado e precisa ser atualizado, passa
a ser o cerne das suas relações com os alunos. Assim, os dias
passam, os alunos passam os professores vão passando
rapidamente por esses dias sem deixarem marcas profundas
naquilo que realizam.
Os professores têm que repensar o seu papel. Precisam
desenvolver as competências de criar, estruturar, dinamizar
situações de aprendizagem e estimular a aprendizagem e a
autoconfiança nas capacidades individuais. O educador
precisa agir na mesma lógica das capacidades e das atitudes
que pretende ajudar a desenvolver nos alunos. Enfim, tem
de se considerar num constante processo de autoformação e
identificação profissional.
O grande desafio para os professores será ajudar a
desenvolver nos alunos as capacidades de trabalho
cooperativo e também o espírito crítico. Mas este não se
desenvolve por meio de monólogos expositivos, e sim no
diálogo, no confronto de ideias e práticas, na capacidade de
ouvir o outro, a si próprio.
O professor universitário deve estar a todo o momento
se reciclando, se questionando, para que haja mobilização
em sua prática. Deve buscar caminhos a fim de aprimorar e
aprofundar seus conhecimentos e suas habilidades e se
tornar, a cada dia, marcante, ideal e fascinante no processo
ensino-aprendizagem. Para tanto, deve repensar em sua
postura didático-pedagógica, considerando a noção de
professor reflexivo que se baseia na consciência da
capacidade de pensamento e reflexão que caracteriza o ser
humano como criativo, e não como mero reprodutor de
ideias e práticas que lhe são exteriores.
REFERÊNCIAS
Por Ética, entende-se o conjunto de princípios milagre só é comparável ao das Bodas de Caná (Jo.
universais que norteiam a ação humana em seu amplo 2,1-12) e à “transubstanciação”, pela qual, por força do
espectro, mas que de modo estrito aplica-se milagre sacramental (ex opereoperato), pão e vinho
especialmente à política (relações de Cidadania) e às são transformados no Corpo e no Sangue do Senhor
práticas profissionais (relações resultantes da divisão (concepção medieval que trai a influência alquímica).
social do Trabalho). Sujeito de direitos e obrigações na Feita a comparação, o “milagre” de fato ocorre na
Sociedade, o Homem, por sua Razão e Vontade Livre, relação ensino e aprendizagem plena quando assistida
soergue coletivamente, pela Cultura, o espírito. Por pelo Professor.
isso, inerente a toda e qualquer abordagem ética que se Mas, então, não é possível o autodidatismo7?
faça nos estudos da Sociedade, levanta-se a questão da Sempre é possível, mas, muito mais custoso,
Educação e dos educadores como problema central, o demorado, muito mais sofrido e doloroso. Para a
início do Pensamento Grego. Em vários de seus superação desse impasse, constitui- se o Mestre,
diálogos, Platão, entre outros, explicita a necessidade apontando caminhos, mostrando atalhos8. Mais ainda:
de uma educação primorosa, formando-se, assim, uma o Professor é a ponte com a Consciência, com a Fonte
casta de Dirigentes Filósofos6. Coletiva do Saber. Dessa forma, a própria relação
Professor-Aluno é o sujeito (autor da ação) do
VALORES FUNDAMENTAIS DO processo de ensino e de aprendizagem.
MAGISTÉRIO
VALORES ESPECÍFICOS DA PRÁTICA
MAGISTERIAL
Sempre coube à Família a tarefa de educar, de
inculcar nas novas gerações os valores fundamentais Os valores enraízam-se em nosso ser duplamente:
de suas respectivas culturas. Com a Revolução pela Razão, já que a esta cabe a função de kubernetes
Industrial e com o advento da Era Tecnológica, pela (piloto navegador, em grego), planejador, e pelo
complexidade da divisão social do Trabalho e das Coração, a fonte perene da energia vital. Esta energia
necessidades de força de trabalho altamente deve tomar a forma da cordialidade, que predispõe ao
especializada, de um lado, e grandemente versátil de bom humor como forma de ser. “Bom humor” é o fruto
outro, as exigências de conhecimento e de diversidade direto da harmonia entre o corpo e o psiquismo,
de habilidades pediram a constituição de poderosas produzindo os “humores espiritualizados”, tudo o que
estruturas de ensino e de aprendizagem. Estas, por sua se denomina como “bons modos”, delicadeza sem
vez exigiram mestres com idênticas habilidades: afetação e disponibilidade irrestrita (estar totalmente
conhecimento aprofundado e versatilidade nas ações “presente”). De outro lado, é fácil perceber que pessoa
pedagógicas, tanto em sala de aula quanto em outras mal-humorada é como maçã estragada: acaba por
modalidades de aprendizagem. O processo de ensino e contaminar o cesto todo.
de aprendizagem prevê ao Mestre Professor a missão Cordialidade e bom humor são o “assoalho do
de ser a pedra de toque (a Pedra Filosofal dos Castelo de Camelot”, o castelo da dedicação à causa,
alquimistas), aquele elemento na presença do qual se da busca do Santo Graal, o Amor. Este é a liga, o
realiza o milagre da transformação do “chumbo em cimento, que une as pessoas, fundindo-as em um único
ouro”. Da própria Alquimia veio a noção do termo destino: a felicidade. Assim, a cordialidade, o bom
“catalisador”. É esse o papel do Professor. O processo humor e o ideal da dedicação à causa acabam por levar
é interior ao aluno; o personagem central é a própria finalmente à meta. O Professor deve adotar esses
transformação que acontece no âmago dos alunos: o valores como a força capaz de efetivamente tornar real
milagre da passagem da ignorância ao saber. Esse a aprendizagem.
Outro conjunto de valores que deve ser levado em início de um caminho áspero em direção à “aula
conta são os recursos que os modernos processos de perfeita” que, sem dúvida, jamais será alcançada, mas
comunicação dispõem, facilitando que, a cada dia, estará mais próxima. Eis as díades
extraordinariamente a busca dos dados do (Quadro 1).
conhecimento. Antes, os demorados processos para a
obtenção desses dados encareciam e retardavam a VÍCIO VIRTUDE
produção de novos conhecimentos. Esses novos
processos têm como seu paradigma máximo a rede Ira Misericórdia
mundial de dados (internet).
Por outro lado, multiplicam-se os meios Orgulho Humildade
audiovisuais de grande efeito, meios auxiliares do Vaidade Plenitude
ensino, que espetacularmente implementam os
processos gerais da comunicação. Esta, em sua Inveja Despreendimento
plenitude, leva, também, à Consciência infinita de
Deus e à própria consciência, quando esta perder os Avareza Generosidade
contornos limitadores do ego. Medo Coragem
A comunicação, na e para a didática, é a própria
essência do processo ensino e aprendizagem. Insaciabilidade Sabedoria
Cordialidade e bom humor conformam a
predisposição que antes se chamou de “assoalho de
Luxúria Moderação
Camelot”, a base da utopia pessoal. Preguiça Amor
A comunicação também faz emergir as virtudes do
bom Professor, em parte inatas, em parte adquiridas Quadro 1 – As díades
pela prática ascética, traduzida em um enorme esforço Fonte: Elaborado pelo autor.
pessoal. O cultivo dessas virtudes impede igualmente
a florescência dos vícios correlatos, o lado sombrio da Aprimeira díade tem como vício dominante a raiva,
personalidade, repleto de manias, cacoetes e proveniente da frustração que decorre da concepção
desagradáveis manifestações do descontrole demasiado estreita que se tem do mundo e do Cosmos.
emocional. Vale a pena dar uma passada de olhos Quer-se a realidade reduzida à própria medida. O
nessas virtudes e nesses vícios que, respectivamente, pequenino ego, utilizando-se da Razão, quer tomar o
elevam o Professor ao êxtase de uma aula perfeita ou o lugar pertinente à Consciência absoluta. Aferra-se aos
atiram no inferno e no caos de uma aula sem controle. dogmas, que se parecem efetivamente à suprema e
Aparentemente, o que se abordará aqui poderá absoluta Verdade. O protótipo histórico sob influência
parecer uma lição de psicologia educacional ou de marcante dessa díade é o inquisidor espanhol, o
formação da personalidade. Embora também dominicano Frei Tomás de Torquemada. Condenou
acompanhem esse contexto, os fundamentos da milhares de judeus e hereges à fogueira em nome da
tipologia dos professores propostos neste texto ortodoxia católica, no final do séc. XV.
efetivamente vão muito além disso. É uma proposta Como Professor, “dá conta do recado”, embora
muito antiga, mas que não perdeu sua força explicativa tenha enorme dificuldade de aceitar a opinião dos
e está fazendo sucesso acadêmico nos Estados alunos. É de “marcar” certos alunos e os “persegue”
Unidos9. Fornece uma compreensão mais operacional pelo simples fato de pensarem diferentemente e com
do inter-relacionamento das pessoas, possibilitando a liberdade. Se os alunos persistirem em sua
superação dos entraves e ruídos nesses processos contestação, transtorna-se e entra em crise histérica,
interativos, o que, sem dúvida, representou um belo capaz de agir impulsivamente, como arremessar uma
achado intelectual para se dar conta das relações caneta contra os mesmos.
professor/aluno. Esse Professor tem necessidade de desenvolver
Uma das possíveis formas de apresentação desse sentimentos de Misericórdia, de abrir os horizontes
paradigma é o de nove díades, cada uma constituída do para além de seu estreito casulo. Esse Professor cricri
vício dominante na personalidade e da virtude que deve buscar a Magnanimidade (grandeza de alma:
representa sua superação10. Que superação é esta? É o magna + anima), de tal forma que, em vez de encolher,
9 Faz-se referência aqui ao eneagrama, uma tipologia das personalidades originária provavelmente do Oriente, com o objetivo de servir de “caminho para o
aperfeiçoamento”, uma passagem segura dos vícios às virtudes.
10 Por que “uma das possíveis formas”? Porque a determinação dessa forma dependerá do objetivo que se queira atribuir a determinado trabalho. Neste texto,
visam-se focar os vícios que entravam o processo de ensino-aprendizagem, juntamente com a respectiva virtude, na conquista da qual alcançará o ponto onde terá
início sua marcha rumo à perfeição do exercício profissional. Outra forma seria, por exemplo, a conquista do equilíbrio emocional na vida familiar; outra, ainda, a busca
da consciência de si, etc.
MET O DOL OGIA D O E NSI NO S UPE RI O R 37
expanda seu espírito para gestos acolhedores. inicialmente, em restituir-lhe a auto-estima ou,
A segunda díade apresenta-se sob a forma do mesmo, presenteá-lo com ela. Como se alienou em
Orgulho. O Professor que “veste” essa fantasia certo momento de si mesmo, agora necessita
normalmente é um bom Mestre, principalmente plenificar-se e harmonizar-se interiormente,
prestimoso e cooperativo. Seduz seus alunos com seu procurando aprofundar seus conhecimentos e
discreto charme. Tem boa capacidade de trabalho e é aprimorar sua sensibilidade falando menos e
responsável. Entretanto, faz tudo isso apenas para sua escutando mais.
satisfação pessoal. Trata bem os alunos, mas A quarta díade retrata normalmente um Mestre em
condicionalmente. E a condição que ele lhes impõe é oposição ao anterior. Trata-se aqui de um Professor
lhe deverem “eterna” gratidão. Tem enorme conhecido por “Senhor Desastre”. Suas aulas são
dificuldade para aceitar a “ingratidão” (ou o que ele confusas pelo fato de não conseguir construir um
julga que ela seja). Sente necessidade de rodear-se de modelo adequado de Ensino. Aliás, a principal
bajuladores e de colaboradores e acólitos que rendam característica sua é não conseguir se prender a um
submissa homenagem ao seu ego inflado. Ai do aluno plano. É o caos; os alunos se dispersam, perdem a
que se atravessar em sua brilhante e gloriosa trajetória concentração; o Professor se dispersa mais ainda,
acadêmica! Julga-se estrela de raro brilho e desdenha, trazendo à baila assuntos não previstos no Plano de
de uma ou de outra forma, seus colegas de Magistério. Aprendizagem. Não consegue disciplinar seus alunos
A salvação desse Professor está no exercício que, por sua vez, não conseguem aceitar a aula caótica,
cotidiano da Humildade, isto é, no reconhecimento de armando-se, assim, um grande hiato na formação dos
suas reais limitações e na disponibilidade futuros profissionais.
incondicional ao exercício do Magistério. Deve O vício dominante na estrutura dessa personalidade
reconhecer se como simples instrumento dentro do é a Inveja. Esse vício brota da falta de esperança
processo de ensino e aprendizagem, largando mão da (desespero), da sensação terrível de ter sido
falsa idéia de que ele seja necessário11 nesse processo. abandonado pela Divindade. Olha ao seu redor e
“Vocês sabem alguma coisa porque eu os ensinei. Sem percebe a alegria (é muito sensível) que existe no
mim, vocês nada sabem e a nada chegarão”. Orgulho e mundo, deprime-se mais ainda e dá vazão à amargura,
Soberba: a figura mítica que melhor caracteriza essa à inveja e ao ciúme. Vale a pena assistir ao filme
díade é Lúcifer (Feito de Luz), que se compara a Deus “Agonia e Êxtase”, pois Michelangelo Buonarotti
(Consciência absoluta). Derrotado, é exilado aos enquadrava-se nessa díade.
abismos do Tártaro. Para recuperar esse profissional, é preciso,
A terceira díade configura normalmente um padrão primeiramente, dar-lhe ciência de sua origem divina,
brilhante de Professor, o chamado showman. Ativo, as da mesma forma como acontece com uma fagulha da
mais das vezes alegre e comunicante, é, até certo Grande Fogueira Cósmica que, após ser expelida,
ponto, ele próprio o espetáculo. Suas palestras são retorna à chama central. Depois disso, esse
concorridas; um sucesso de vendas! Entretanto, após o profissional deverá, com verdadeiro empenho,
primeiro choque, inicia-se um processo de cultivar em si a virtude do Desprendimento. Como é
esvaziamento. As aulas tornam-se repetitivas, e dono de uma sensibilidade acentuada, um bom
percebe-se que tudo não passou de encenação armada caminho em direção a essa virtude é a expressão
pelo vício da Vaidade (em latim vanitate, derivada de artística. Com a arte, lhe advirá a capacidade de se
vanu, vazio). organizar e, a partir do gozo estético, o desprender-se
A máscara do sucesso esconde um coração vazio, da autocomiseração. Sem dúvida, será um excelente
sem emoções. A realidade é reduzida a algumas de Professor.
suas possíveis representações, invariavelmente as Sobre os mascarados da quinta díade, tem-se a dizer
mais charmosas. Tal Professor não se preocupa com que correm mais piadas sobre suas boutades
seus alunos, a não ser enquanto claque, platéia. (mancadas) do que queixas de suas aulas. São
Também não lhe interessa conhecê-los em seus professores que, literalmente, escondem um vasto e
anseios e em suas angústias. Tudo o que lhe interessa é profundo saber. Apresentam grande dificuldade de
o aplauso. Normalmente, veste-se bem, apresenta expressar o que sabem. Suas aulas são monótonas e
modos de comportamento Impecáveis. Mas, atrás da sem vida; não há prazer nem energia disponível. O
máscara, nada existe. tédio se instala entre os alunos, bloqueando a energia
A recuperação desse profissional de ensino está, catalisadora que dele deveria emanar. O maior
problema dessas aulas não é o caos que possa se
11 É preciso lembrar a definição de “necessário”: aquilo que não pode não ser
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12 A expressão buraco negro pertence ao jargão da Astronomia e define uma estrela que implode, gerando tamanha energia gravitacional que até mesmo a luz é absorvida.
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