23 SO Rafael Filipe Equacao de Pell Generalizada Nivel 3 Compressed

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

Equação de Pell Generalizada


Semana Olímpica 2020 - Natal - RN
Rafael Filipe - [email protected]

O objetivo deste material não é focar nas demonstrações por trás dos teoremas relacionados a equação de Pell.
Para isso você pode consultar [1], que expõe muito bem o tema. Aqui nos restringiremos a bem aplicar os teoremas
em problemas em olimpíadas ao redor do mundo, muitas deles bem recentes, mostrando que é um tema recorrente.

1 A equação de Pell
Equação de Pell é qualquer equação da forma x2 − Dy 2 = 1, em que D é um inteiro positivo que não seja
quadrado perfeito. O interesse principal é encontrar as soluções inteiras positivas dessa equação.
O primeiro teorema importante que precisamos saber é o seguinte:

2 2
Teorema 1.1. Seja D um inteiro positivo diferente de um quadrado √ perfeito. Então a equação x − Dy = 1
possui solução não trivial em inteiros positivos, ou seja, com x + y D > 1.


Com isso sabemos que toda equação de Pell tem solução. Portanto, dentre todas as soluções com x + y D > 1,

podemos tomar uma solução minimal, ou seja, que possui x + y D mínimo.
Na realidade, um fato importante é que a solução minimal é também a que possui o menor x e o menor y. Este
fato auxiliará bastante quando precisarmos encontrar a solução minimal, pois sabendo disso podemos testar os
valores iniciais de x (ou y) e certamente a primeira que encontrarmos será a minimal.
Mas por que precisamos encontrar a minimal? Por conta do seguinte teorema:

Teorema 1.2. Seja D um inteiro positivo diferente de um quadrado perfeito. Seja (x1 , y1 ) a solução minimal
da equação x2 − Dy 2 = 1. Então, a solução geral (xn , yn ) com xn , yn ∈ Z>0 é tal que
√ √
xn + yn D = (x1 + y1 D)n .

Então, encontrando a solução minimal, podemos encontrar todas as solução da equação! Mas nem sempre
encontrar a solução minimal é fácil. Muitas vezes a solução é grande e fica inviável testar vários casos. Ao final
desta seção mostraremos um método que pode facilitar os cálculos.
Podemos definir xn e yn de maneira recorrente, tomando o conjugado:
√ √ √ √
xn + yn D = (x1 + y1 D)n ⇒ xn − yn D = (x1 − y1 D)n
√ √ √ √
(x1 + y1 D)n + (x1 − y1 D)n (x1 + y1 D)n − (x1 − y1 D)n
⇒ xn = e yn = √ .
2 2 D
Interpretando essas fórmulas como soluções de recorrências lineares, não é difícil perceber que (xn ) e (yn )
satisfazem a recorrência un+2 − 2x1 un+1 + un = 0, ∀ n ≥ 1.

1
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe


Um método rápido de encontrar a solução minimal é olhando para a fração contínua de D. Escrevendo

D = [a0 ; a1 , a2 , ..., ak ], então
x1 1
= a0 +
y1 1
a1 +
1
a2 +
.. 1
.+
ak−1
se k é par e
x1 1
= a0 +
y1 1
a1 +
1
a2 +
.. 1
.+
a2k−1
se k é ímpar.

Por exemplo, para encontrar a solução minimal de x2 − 41y 2 = 1, basta escrever a fração contínua de 41:
√ √ 1 1 1
41 = 6 + ( 41 − 6) = 6 + √ =6+ √ =6+ =
41 + 6 41 − 4 5
2+ 2 + √
5 5 41 + 4

1 1 1 1
=6+ =6+ =6+ =6+
1 1 1 1
2+ √ 2+ √ 2+ 2+
41 + 4 41 − 6 1 1
2+ 2+ √ 2+ √
5 5 41 + 6 12 + ( 41 − 6)

e então começará a repetir de modo que 41 = [6; 2, 2, 12]. Logo, sendo o período 3 (ímpar), temos que ir até o a5
para achar a solução minimal:
x1 1 2049
=6+ = .
y1 1 320
2+
1
2+
1
12 +
1
2+
2
Portanto, a solução minimal é (2049, 320), e seria inviável encontrá-la à mão!

Exemplo 1.3. Prove que existem infinitos n tais que 1 + 2 + 3 + ... + n é um quadrado perfeito.

Solução: Sabemos que


n(n + 1)
1 + 2 + ... + n = .
2
Logo, para essa soma ser um quadrado perfeito, devemos ter:

n(n + 1)
= m2 ⇐⇒ n2 + n = 2m2 ⇐⇒ 4n2 + 4n = 8m2 ⇐⇒
2
⇐⇒ (2n + 1)2 = 8m2 + 1 ⇐⇒ (2n + 1)2 − 2(2m)2 = 1,

que é a equação de Pell x2 − 2y 2 = 1, a qual sabemos que possui infinitas soluções.


Mas repare que devemos verificar se existem infinitas soluções com x ímpar e y par. Analisando a paridade de
cada lado, x é sempre ímpar e, analisando módulo 8, temos que y tem que ser par. Logo, temos infinitos valores
de n, como desejado.

2
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe


Exemplo 1.4. Suponha que n é um natural tal que m = 2 + 28n2 + 1 é um inteiro. Mostre que m é um
quadrado perfeito.

Solução: Seja t = 28n2 + 1. Temos então que t2 − 28n2 = 1 e queremos mostrar que m = 2(1 + t) é um quadrado
perfeito. Veja que
t2 − 28n2 = 1 ⇐⇒ t2 − 7(2n)2 = 1

e então podemos olhar para as soluções da equação de Pell x2 − 7y 2 = 1 com y par. A solução minimal dessa

equação é 8 + 3 7 e então
√ √
xk + yk 7 = (8 + 3 7)k .

Note que y1 = 3 e y2 = 48 e sabemos que (yk ) satisfaz a recorrência yk+2 − 16yk+1 + yk = 0. Logo, não é difícil
perceber que yk é par para k par e ímpar para k ímpar.
Portanto, se (t, 2n) é solução de x2 − 7y 2 = 1, então (t, 2n) = (xk , yk ) para algum k = 2`.
Temos então que:
√ √
(8 + 3 7)2` + (8 − 3 7)2` √ √ √ √
t= ⇒ 2(1 + t) = (8 + 3 7)2` + (8 − 3 7)2` + 2 = ((8 + 3 7)` + (8 − 3 7)` )2 .
2
√ √
Portanto, m = ((8 + 3 7)` + (8 − 3 7)` )2 = (2x` )2 é o quadrado de um inteiro.

Exemplo 1.5. Seja n um inteiro tal que 3n + 1 e 4n + 1 são ambos quadrados perfeitos. Prove que 56 divide n.

Solução: Temos que 3n + 1 = a2 e 4n + 1 = b2 . Isolando n nas duas equações:


a2 − 1 b2 − 1
n= = ⇒ 4a2 − 3b2 = 1 ⇐⇒ (2a)2 − 3b2 = 1.
3 4

Devemos então olhar para as soluções de x2 − 3y 2 = 1 com x par. A solução minimal é 2 + 3 e então
√ √
xk + yk 3 = (2 + 3)k .

Temos então que x1 = 2, x2 = 7 e (xn ) satisfaz xn+2 − 4xn+1 + xn = 0 e então xk é par para k ímpar. Portanto,
2a = x2`+1 para algum `. Queremos mostrar que 56 divide n, então basta mostrar que 56 divide a2 − 1.
Se mostrarmos que a ≡ ±1 (mod 7) e que a é ímpar, temos a2 ≡ 1 (mod 7) e a2 ≡ 1 (mod 8) e então 56 divide
a2 − 1, já que 7 e 8 são primos entre si.
Veja que
a ≡ ±1 (mod 7) ⇐⇒ 2a ≡ ±2 (mod 7) ⇐⇒ x2`+1 ≡ ±2 (mod 7),

a≡1 (mod 2) ⇐⇒ 2a ≡ 2 (mod 4) ⇐⇒ x2`+1 ≡ ±2 (mod 4).

Analisando a recorrência (mod 7), temos que os restos são

2, 0, −2, −1, −2, 0, 2, 1, 2, 0, ...

e começa a repetir. Logo, nos ímpares é sempre ±2 (mod 7), como desejado.
Finalmente, analisando (mod 4), temos que os restos são

2, 3, 2, 1, 2, 3, ...

e começa a repetir. Logo, nos ímpares é sempre 2 (mod 4). Portanto, temos que 56 divide n, como desejado.

3
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

Problemas

1. Encontre todos os triângulos cujos lados são inteiros consecutivos e cuja área é inteira.

2. (Romênia TST 2000) Mostre que existem infinitos inteiros (x, y, z, t) com mdc(x, y, z, t) = 1 tais que

x3 + y 3 + z 2 = t4 .

12 +22 +···+n2
3. (Longlist 1990) Prove que existem infinitos inteiros positivos n tais que n é um quadrado.

4. Sejam d, k inteiros positivos tais que d não é um quadrado perfeito Mostre que existem infinitos pares de
inteiros positivos (x, y) tais que k divide y e x2 − dy 2 = 1.
2 2
5. Prove que existem infinitos quadrados perfeitos que podem ser escritos na forma 1 + 2x + 2y , em que x e y
são inteiros positivos.

6. Resolva (x + 1)3 − x3 = y 2 nos inteiros positivos.

7. Resolva (x − y)5 = x3 − y 3 nos inteiros positivos.

8. Existem inteiros a, b > 1 tais que ab + 1 e ab3 + 1 sejam ambos quadrados perfeitos?

9. Determine todos os pares (x, y) com x, y ∈ Z>0 tais que: x−1 x


 
y = y−1 .

10. (Bulgária 1999) Prove que a equação x3 + y 3 + z 3 + t3 = 1999 tem infinitas soluções inteiras.

11. (China TST 2002) Determine todos os inteiros não negativos m e n tais que (2n − 1)(3n − 1) = m2 .

2 A equação de Pell Generalizada


Aqui vamos estudar equações do tipo x2 − Dy 2 = c, com D inteiro positivo diferente de quadrado perfeito e c
inteiro qualquer.
c

Infelizmente não garantimos a existência de soluções. Uma condição necessária é que D = 1, mas esta condição
2 2
não é suficiente. De fato, a equação x − 3y = 7 não possui solução e podemos verificar isso analisando módulo 4.
Mas, caso exista alguma solução, não só temos infinitas soluções como também podemos encontrar todas as
soluções. Porém, nesse caso não temos necessariamente apenas uma família de soluções, gerada por uma solução
minimal.
É possível que haja um conjunto de soluções fundamentais, cada uma gerando uma família. Isso se torna mais
claro com o seguinte teorema:

Teorema 2.1. Seja D um inteiro positivo que não seja quadrado


√ perfeito. Suponha que a equação x2 −Dy 2 = c
possua solução com x, y inteiros positivos. Seja x1 + y1 D a solução minimal da equação x2 − Dy 2 = 1.
Então toda solução (x, y) de x2 − Dy 2 = c com x, y ∈ Z≥0 pode ser escrita na forma
√ √ √
x + y D = (u + v D)(x1 + y1 D)k ,
√ √ p
para algum par de inteiros u, v ∈ Z>0 com u2 − Av 2 = c e u + v D < (x1 + y1 D) |c| e algum k ∈ Z≥0 .

√ √ √
É fácil verificar que todo número da forma x+y D = (u+v D)(x1 +y1 D)k é solução da equação x2 −Dy 2 = c.
Portanto, o teorema acima caracteriza todas as soluções da equação x2 − Dy 2 = c. Basta procurarmos todos os
pares (u, v) ∈ Z≥0 × Z≥0 (note que u e v podem ser 0) que satisfaçam
√ √ p
u + v D < (x1 + y1 D) |c| (∗)

4
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

e gerar as famílias para cada um deles, ou seja, sendo (u1 , v1 ), (u2 , v2 ), . . . , (ur , vr ) os pares, basta multiplicá-los

por potências de x1 + y1 D e temos todas as soluções. Além disso, note que (un ) e (vn ) tambén satisfazem a
recorrência tn+2 − 2x1 tn+1 + tn = 0, ∀ n ≥ 1.
Repare que nada impede que tenhamos redundância de soluções, isto é, que existam pares tais que
√ √ √
ui + vi D = (uj + vj D)(x1 + y1 D)k

e então uma família estaria contida na outra.


Neste ponto é importante que você não tenha medo de fazer contas. Para lidar com (∗), em geral tentamos
estimar o intervalo de valores para u e v e testamos todos os casos, para ver quais os possíveis pares (ui , vi ).
Uma maneira alternativa é notar que, considerando que k pode ser negativo (e nesse caso encontraríamos

soluções com alguma das coordenadas negativas), cada família possui exatamente uma raíz u + v D tal que
√ √
1 < u + v D ≤ x1 + y1 D. Dessa forma, basta procurar soluções nesse intervalo com u, v ∈ Z.
Outra coisa que pode ajudar é analisar a equação módulo alguns primos e tentar descobrir os restos que u e v
devem ter na divisão por esses primos. Isso pode diminuir bastante a quantidade de casos para se testar.

Exemplo 2.2. Resolva a equação x2 − 5y 2 = 4 nos inteiros positivos.

Solução: O primeiro passo é encontrar a solução minimal da equação x2 − 5y 2 = 1. Testando os valores de y,



temos que a solução minimal é 9 + 4 5. Pelo Teorema 2.1, as soluções de x2 − 5y 2 = 4 são dadas por
√ √
xn + yn = (u + v 5)(9 + 4 5)n ,
√ √ √ √
em que u, v > 0 são tais que u2 − 5v 2 = 4 e u + v 5 < (9 + 4 5) 4 = 18 + 8 5. Note que = 182 − 5.82 = 4, de
modo que se tiver alguma outra solução menor, devemos ter v < 8. Testando v = 0, 1, 2, ..., 7, obtemos as soluções
√ √
2, 3 + 5 e 7 + 3 5. Portanto, as soluções da equação são dadas por
√ √ √
xn + yn 5 = (3 + 5)(9 + 4 5)n ,
√ √ √
xn + yn 5 = (7 + 3 5)(9 + 4 5)n ,
√ √
xn + yn 5 = 2(9 + 4 5)n .

Exemplo 2.3. Determine todos os triângulos retângulos com lados inteiros cujos catetos são números consecutivos.
Solução: Por Pitágoras, basta encontrarmos as soluções da equação n2 + (n + 1)2 = m2 . Reescrevendo a equação,
obtemos

n2 + (n + 1)2 = m2 ⇐⇒ 2n2 + 2n + 1 = m2 ⇐⇒ 4n2 + 4n + 2 = 2m2 ⇐⇒ (2n + 1)2 − 2m2 = −1.

Então, devemos olhar para a equação x2 − 2y 2 = −1 em que x é sempre ímpar, mas veja que x é sempre ímpar.

Logo, basta encontrarmos todas as soluções. Novamente, a minimal de x2 − 2y 2 = 1 é 3 + 2 2 e então toda solução
de x2 − 2y 2 = −1 se escreve como:
√ √ √
uk + vk 2 = (u + v 2)(3 + 2 2)k ,
√ √ p
com u, v > 0 e u + v 2 < (3 + 2 2) |1| e u2 − 2v 2 = −1. Da desigualdade, obtemos v < √32 + 2 < 5 e então

basta testarmos v = 0, 1, 2, 3, 4. Analisando todos os casos obtemos a solução 1 + 2.
√ √ √ √ √
Portanto, as soluções são uk + vk 2 = (1 + 2)(3 + 2 2)k e usando que 3 + 2 2 = (1 + 2)2 , temos que:
√ √
uk + vk 2 = (1 + 2)2k+1

5
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

uk − 1 uk + 1
Logo, os triângulos são os triângulos com lados n = , n+1= e m = vk .
2 2

Você também pode utilizar Pell para construir exemplos em alguns problemas que não estão diretamente rela-
cionados a equações diofantinas.
Exemplo 2.4. Prove que existem infinitos n tais que n2 + 1 divide n!.

Solução: Sabemos que a equação n2 + 1 = 2m2 possui infinitas soluções. Vamos mostrar que para pares (m, n)
que suficientemente grandes que satisfazem essa equação também satisfazem que 2m2 |n!.
Primeiramente, como 4 não divide n2 + 1, temos que m é sempre ímpar. Logo, basta mostrarmos que m2 |n!, já
que claramente n! tem fator 2.
Note que m ≤ n. Sabemos que se m é composto, então m|(m − 1)!. Logo, m2 |m! e como m ≤ n, m!|n! e então
m2 |n!, como desejado.
Veja que para m primo isso não é verdade. Logo, basta mostrarmos que existem infinitas soluções de n2 +1 = 2m2
√ √
com m composto. Sabemos que as soluções da equação são dadas por nk + mk 2 = (1 + 2)2k+1 e que a sequência
(mk ) satisfaz mk+2 − 6mk+1 + mk = 0, m0 = 1, m1 = 7. Portanto, m1 é múltiplo de 7 e, como toda recorrência
módulo algum número é periódica, segue que existem infinitos múltiplos de 7. Portanto, temos infinitos valores de
m compostos, como desejado.

Problemas

1. Mostre que as soluções da equação 5x2 − y 2 = 4 são (x, y) = (F2n−1 , L2n−1 ), em que (Fk ) é a sequência de
Fibonacci e (Lk ) é a sequência de Lucas.

2. Encontre o menor inteiro positivo n para o qual 19n + 1 e 95n + 1 sejam ambos quadrados perfeitos.

3. Seja p um número primo. Mostre que a equação x2 − py 2 = −1 tem solução se, e só se, p é da forma 4k + 1.

4. Encontre todos os naturais n tais que n + 1 e 3n + 1 são ambos quadrados perfeitos.

5. Encontre todos os pares de inteiros positivos (x, y) tais que x(x + y) = y 2 + 1.

6. (Irlanda 1995) Encontre todos os inteiros a tais que a equaçao x2 + axy + y 2 = 1 possua infinitas soluções
(x, y) inteiras.

7. (a) Seja k um inteiro positivo. Mostre que a equação x2 − (k 2 − 1)y 2 = −1 não possui solução inteira.
(b) Seja k um inteiro diferente de quadrado perfeito. Mostre que existe A tal que a equação x2 −(a2 −1)y 2 = k
não possui solução inteira para todo a tal que a > A.

8. (Vietnã 1992) Encontre todos os pares de inteiros positivos (x, y) satisfazendo a equação x2 +y 2 −5xy +5 = 0.

9. (Irã 2013) Seja p = n2 + 1 um primo. Determine as soluções inteiras da equação x2 − (n2 + 1)y 2 = n2 .

10. (Shortlist 2016) Seja a um inteiro positivo diferente de quadrado perfeito e considere a equação

x2 − a
k= .
x2 − y 2

Seja A o conjunto dos inteiros positivos k para os quais a equação admite solução em Z2 com x > a, e seja

B o conjunto dos inteiros positivos para os quais a equação admite solução em Z2 com 0 ≤ x < a. Mostre
que A = B.

6
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

11. (China TST 2018) Determine todos os pares de inteiros positivos (x, y) tais que (xy + 1)(xy + x + 2) é um
quadrado perfeito.

12. (Romênia TST 2011) Mostre que existem infinitos inteiros positivos n tais que n2 + 1 possui dois divisores
positivos cuja diferença é n.
x2 + 1
13. Sejam x e y inteiros tais que + 4 é o quadrado de um inteiro. Prove que esse quadrado é igual a 9.
y2
14. (Vingança 2019) Para todo inteiro positivo x, definda P (x) como sendo o maior divisor primo de x. Prove
que existem infinitos n tais que P (n2 + 1) < n.π −2019 .

15. (OIbM 1989) Demonstrar que existe uma infinidade de pares (x, y) de números naturais tais que 2x2 − 3x −
3y 2 − y + 1 = 0.

16. (Longlist 1989) Determine o maior número real c tal que para todo n ∈ N temos {n · 2} ≥ nc em que {x} é

a parte fracionária de x. Determine ainda para este c, todos os n ∈ N para os quais {n · 2} = nc .

17. Prove que existem infinitos n tais que



(a) bn 2c é um quadrado perfeito.

(b) bn 5c é um quadrado perfeito.

18. (Vingança 2014)


√ √ √
(a) Prove que para todo n natural mdc(n, bn 2c) < 4 8 n.
√ √ √
(b) Prove que existem infinitos n tais que mdc(n, bn 2c) > 4 7.99 n.

√ 5
19. (a) Prove que se n é um inteiro positivo, então {n 5} > .
10n

5
(b) Prove que c = é a maior constante com essa propriedade.
10
20. (Coreia 2019) Sejam m, n, k inteiros positivos satisfazendo as equações m2 + 1 = 2n2 e 2m2 + 1 = 11k 2 .
Determine o resto da divisão de n por 17.

21. (USA TST 2001) Determine todos os pares de inteiros não negativos (m, n) tais que (m + n − 5)2 = 9mn.

3 Um Truque Especial
Nesta seção iremos ilustrar como aplicar equação de Pell para resolver algumas equações Diofantinas que podem
ser bem mais difíceis com outras técnicas.

Exemplo 3.1 (OBM 2010) Encontre todos os pares (a, b) de inteiros positivos tais que

3a = 2b2 + 1.

Solução: Se a é par, analisando módulo 4, vemos que b tem que ser par. Logo, sendo a = 2` e b = 2k, temos que
! !
` `
3 − 1 (3 + 1
32` − 1 = 8k 2 ⇐⇒ = 2k 2 .
2 2

7
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

 
3` −1 3` +1
Temos que mdc 2 , 2 = 1. Logo, temos dois casos:
 
 3` − 1 2
 3` − 1
=u = 2u2

 

2 ou 2
3` + 1 3` + 1
= 2v 2 = v2

 

 
2 2

No primeiro caso, a segunda equação nos dá 3` = 4v 2 − 1 = (2v + 1)(2v − 1). Como mdc(2v + 1, 2v − 1) = 1,
temos que 2v + 1 = 3x e 2v − 1 = 3y com x + y = `, x > y. Subtraindo as duas, obtemos 3x − 3y = 2. Se y > 0,
então 3 divide 2, absurdo. Logo y = 0 ⇒ v = 1 ⇒ ` = 1 ⇒ a = 2, b = 2. No segundo caso, a primeira equação
nos dá 3` = 4u2 + 1. Mas então 3 divide u2 + 1, absurdo, já que −1 não é resíduo quadrático módulo 3. Portanto,
para a par, temos a solução (a, b) = (2, 2).
Resta verificar o caso a ímpar. Seja a = 2` + 1. A equação passa a ser

32`+1 = 2b2 + 1 ⇒ (2b)2 − 6(3` )2 = −2.


Vamos encontrar as soluções da equação x2 −6y 2 = −2. A solução minimal da equação x2 −6y 2 = 1 é 5+2 6. Em
√ √ √
seguida, pelo Teorema 2.1, devemos procurar as soluções u, v ≥ 0 tais que u2 − 6v 2 = −2 e u + v 6 < (5 + 2 6) 3.
Note que
√ √ √ 5 √ 5
v 6 < (5 + 2 6) 3 ⇒ v < √ + 2 3 < + 4 < 8 ⇒ v ≤ 7.
2 1, 4
√ √
Devemos testar v = 0, 1, 2, .., 7. Testando todas, vemos que a única solução é u + v 6 = 2 + 6. Portanto, a
solução geral da equação x2 − 6y 2 = −2 é dada por
√ √ √
xn + yn 6 = (2 + 6)(5 + 2 6)n .

Voltando ao problema, queremos encontrar todas as soluções em que xn é uma potência de 3. Sabemos que a
sequência (yn ) satisfaz a recorrência yn+2 − 10yn+1 + yn = 0, y0 = 1, y1 = 9. Queremos saber para quais os xn
que são potências de 3. Para isso, vamos analisar o período da recorrência (mod 27) para saber quando temos
um múltiplo de 27 (veja que esses são os candidatos a ser potência de 3). Analisando os restos obtemos

1, 9, 8, −10, 0, 10, −8, −9, −1, −1, −9, −8, 10, 0, −10, 8, 9, 1, 1, 9, ...

de modo que o período módulo 27 é 18 e os múltiplos de 27 aparecem em 18k + 4 e 18k + 13.


Vamos agora analisar a mesma sequência módulo 17. Temos os seguintes restos:

1, 9, 4, −3, 0, 3, −4, 8, −1, −1, 8, −4, 3, 0, −3, 4, −8, 1, 1, 9, ...

de modo que o período módulo 17 é 18 e os múltiplos de 17 aparecem em 18k + 4 e 18k + 13.


Dessa forma, sempre que houver um múltiplo de 27, este número também é múltiplo de 17. Portanto, não pode
haver nenhuma potência de 3 maior que 9 na sequência. Então, os únicos valores de yn que são potências são
y0 = 1 e y1 = 9, os quais nos dão as soluções (a, b) = (1, 1) e (a, b) = (5, 11).
Portanto, as soluções são (1, 1), (2, 2) e (5, 11).

Lendo a solução você pode ter achado muito mágico escolher módulo 17, e mais mágico ainda que justamente
nos mesmos índices tenham coincidido os múltiplos de 17 e 27. Mas na verdade não é tão mágico assim.
Note que essa parte final se traduz no seguinte problema: temos uma recorrência de 2a ordem e queremos mostrar
que não podemos ter potências arbitrariamente grandes de um certo número m entre seus termos.

8
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

A idéia então consiste em olhar a recorrência módulo alguma potência mk mais baixa para saber quais os
candidatos a serem as potências na recorrência. Sendo T o período módulo mk , escolhe-se então um primo p com
o mesmo período T e então analisamos os restos módulo p dos termos da sequência que são múltiplos de mk para
ver se há algo de interessante. Nem sempre funciona, mas é uma idéia a se tentar.
Em nosso caso, os termos eram múltiplos de p e por isso concluímos que, se há alguma potência, então ela tem
que ser no máximo mk−1 . Mas podem acontecer outras coisas, por exemplo, o resto módulo p não ser um resíduo
possível para potências de m módulo p, ou alguma outra propriedade que impessa que seja potência de m.
Mas como escolher o primo p? Para isso, vamos provar o seguinte resultado:

Teorema 3.1. Seja p > 2 um número primo e an+2 + ban+1 + can = 0 uma recorrência de ordem 2, com a0
e a1 inteiros dados. Além disso, seja Tp o período da recorrência quando
 analisada módulo p, ou seja Tp é o
a
menor inteiro positivo tal que an+Tp = an para todo n. Então, sendo p o símbolo de Legendre, vale que:

 
b2 −4c
(i) Se p = 1, então Tp |p − 1;
 
b2 −4c
(ii) Se p = −1, então Tp |p2 − 1;

(iii) Se b2 − 4c ≡ 0 (mod p), então p|Tp e Tp |p(p − 1).

Demonstração: Sabemos que a equação característica da recorrência an+2 + ban+1 + can = 0 é x2 + bx + c = 0.


Note que, como p>2, temos

x2 + bx + c ≡ 0 (mod p) ⇐⇒ 4x2 + 4bx + 4c = 0 (mod p) ⇐⇒ (2x + b)2 ≡ b2 − 4c (mod p).

Portanto, a equação x2 +bx+c = 0 tem solução módulo p se, e somente se, b2 −4c é resíduo quadrático (mod p).
Vamos então dividir em 3 casos:
Caso 1: b2 − 4c é resíduo quadrático não nulo módulo p.
Se isso ocorre, então temos duas soluções distintas, digamos α e β, para a congruência. x2 + bx + c ≡ 0 (mod p).
Vamos mostrar por indução que
an ≡ A.αn + B.β n (mod p), (∗∗)

para certos A e B determinados a partir de a0 e a1 .


Note que A e B devem satisfazer A + B ≡ a0 (mod p) e A.α + B.β ≡ a1 (mod p). Isolando B na primeira e
substituindo na segunda, basta encontrarmos A tal que

A.α + (a0 − A).β ≡ a1 (mod p) ⇐⇒ A(α − β) ≡ a1 − β.a0 (mod p).

Como α 6≡ β (mod p), α − β é inversível e então podemos tomar tal A. Definindo A e B como soluções do
sistema, temos que a igualdade (∗∗) vale para 0 e 1. Supondo válido para k e k + 1, pela recorrência, temos

ak+2 ≡ −bak+1 − cak ≡ −b(A.αk+1 + B.β k+1 ) − c(A.αk + B.β k ) ≡ A.αk (−b.α − c) + B.β k (−b.β − c) (mod p)

Mas α2 + bα + c ≡ 0 (mod p) e β 2 + bβ + c ≡ 0 (mod p). Substituindo na equação acima, obtemos

ak+2 ≡ A.αk+2 + B.β k+2 (mod p),

completando a indução.

9
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

Agora, seja Tp o período. Note que ele certamente existe. De fato, como a quantidade máxima de pares de
números consecutivos na sequência (mod p) é p2 e temos infinitos pares, certamente existem dois iguais, e como
cada termo é definido a partir de dois anteriores, certamente ela é periódica (mod p) e esse período existe.
Procuramos então o menor número Tp tal que para todo n vale a igualdade

an+Tp ≡ an (mod p) ⇐⇒ A.αn+Tp + B.β n+Tp ≡ A.αn + B.β n (mod p) ⇐⇒

⇐⇒ A.αn (αTp − 1) ≡ B.β n (1 − β Tp ) (mod p).

Veja que se α ou β é múltiplo de p, por exemplo β, então an ≡ A.αn (mod p) e então é fácil ver que Tp = ordp (α)
e sabemos que Tp |p − 1. O mesmo vale se p divide A ou B. Suponha então que p não divide nenhuma das raízes e
nem A e nem B. Temos então que

(αβ −1 )n (αTp − 1) ≡ BA−1 .(1 − β Tp ) (mod p).

Veja que, se αTp − 1 6≡ 0 (mod p), então (αβ −1 )n é constante módulo p. Mas isso ocorre se, e somente se,
αβ −1 ≡ 1 (mod p) ⇐⇒ α ≡ β (mod p), absurdo! Portanto, αTp − 1 ≡ 0 (mod p) e β Tp − 1 ≡ 0 (mod p). Como
Tp é mínimo, temos que Tp = mmc(ordp (α), ordp (β)) e, sendo p − 1 um múltiplo comum, temos que Tp |p − 1, como
desejado.
Caso 2: b2 − 4c ≡ 0 (mod p).
Esse caso é parecido com o anterior, salvo pelo início. Lembrando da resolução de recorrências, devemos lembrar
que a fórmula muda um pouco quando há raiz dupla. Dessa forma, por indução, sendo α a raiz dupla, podemos
mostrar que
an ≡ αn (An + B) (mod p).

Portanto, queremos Tp mínimo tal que para todo n valha

αn+Tp (A(n + Tp ) + B) ≡ αn (An + B) (mod p).

Se α é divisível por p, temos que an é sempre múltiplo de p e o período é 1. Se p divide A, temos an ≡ B.αn
(mod p) e então novamente o períod será ordp (α). Em todos esses dois casos, vale que Tp |p(p − 1). Suponha então
que p não divida α e nem A. Então, podemos cancelar αn e ficamos com

αTp (A(n + Tp ) + B) ≡ An + B (mod p) ⇐⇒ n.A.(αTp − 1) ≡ B − B.αTp − Tp .αTp (mod p).

Novamente, como deve valer para todo n, devemos ter A.(αTp − 1) ≡ B − B.αTp − A.Tp .αTp ≡ 0 (mod p). Como
A 6≡ 0 (mod p), devemos ter αTp − 1 ≡ 0 (mod p) e, além disso, pela segunda igualdade ainda temos que Tp ≡ 0
(mod p). Nesse caso, portanto, pela minimalidade de p, temos Tp = p.ordp (α) e vale que Tp |p(p − 1).
Caso 3: b2 − 4c não é resíduo quadrático módulo p.

Nesse caso, a equação não tem raiz. Mas, sendo ∆ = b2 − 4c, podemos tomar a extensão de Zp definida pelo
conjunto K = {a + b.∆ | a, b ∈ Zp }. Olhando para os elementos não nulos de K, temos um grupo de ordem p2 − 1
com a operação multiplicação. Pelo Teorema de Lagrange, temos então que
2
−1
xp ≡1 (mod p), ∀ x ∈ K. (∗ ∗ ∗)

Se você não viu o Teorema de Lagrande, pode simplesmente reproduzir a demonstração do Teorema de Fermat!
Evidentemente, em K a equação x2 + bx + c = 0 tem raiz, basta tomarmos as raízes que obtemos pela equação
do 2◦ grau. Sejam então α e β essas raízes.

10
Semana Olímpica 2020 Equação de Pell Generalizada Rafael Filipe

A partir de agora o problema segue de modo idêntico ao caso 1. Por indução podemos mostrar que an ≡
A.αn + B.β n (mod p) para certos A, B ∈ K e então procedemos do mesmo modo, obtendo novamente Tp =
mmc(ordp (α), ordp (β)). A diferença é que temos (∗ ∗ ∗) em vez do Teorema de Fermat e concluímos que Tp |p2 − 1.

Note que no Exemplo 3.1 a equação característica é x2 − 10x + 1 = (x − 5)2 − 24. Logo, desconsiderando os
primos 2 e 3, basta que 18|p2 − 1. Dessa forma, fica mais natural chutar 17.

Problemas

1. (Sérvia TST 2019) Resolva nos inteiros não negativos a equação 2x = 5y + 3.

2. (TCS 2013) Encontre todas as triplas de inteiros não negativos (k, m, n) tais que 2k + 7m − 9n = 0.

3. Prove que a única solução nos inteiros positivos para a equação 5a − 3b = 2 é a = b = 1.

4. Provar que não existe inteiro n tal que n2 − 2 é uma potência de 7 com expoente maior que 1.

5. Encontrar todos os inteiros positivos n tais que 3n − 2 é um quadrado perfeito.

6. Encontre todos os inteirso não negativos x, y tais que 2.3x + 1 = 7.5y .

7. Determine todos os pares de inteiros positivos (m, n) tais que 7n = m2 + m + 1.

4 Referências
[1] MARTINEZ, Fabio Brochero; et al. Teoria dos números: um passeio com primos e outros números familiares
pelo mundo inteiro. 3 ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2013.

[2] GELCA, Răzvan; ANDREEESCU, Titu. Putnam & Beyond. Springer Science+Business Media, LLC 2007.

[3] ANDREESCU, Titu; ANDRICA, Dorin. Number Theory: Structures, Examples, and Problems. Springer
Science+Business Media, LLC 2009.

"With great power, comes great responsibility" - Uncle Ben

11

Você também pode gostar