Frente Negra Brasileira
Frente Negra Brasileira
Frente Negra Brasileira
O presente trabalho tem como objetivo promover um diálogo entre algumas narrativas
historiográficas a respeito das origens da Frente Negra Brasileira tendo como
direcionamento de trabalho compreender algumas das causas que contribuíram para o
seu aparecimento na década de 1930.
A Frente Negra Brasileira foi uma organização de caráter político, social e cultural
criada em São Paulo no ano de 1931 que tinha como proposição básica explicita no
primeiro artigo do seu estatuto a
“ Art.1º - ... união política e social da Gente Negra Nacional, para a
afirmação dos direitos históricos da mesma, em virtude da sua
atividade material e moral no passado e para reivindicação de seus
direitos sociais e políticos, atuais, na Comunhão Brasileira”.
(OLIVEIRA, 2002, p.14)
Essa instituição será de suma importância para luta por melhores condições de vida e de
valorização da identidade negra nos anos de 1930 na cidade de São Paulo e interior do
Estado e estendendo direta ou indiretamente a sua influência para os estados do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia.
(DOMINGUES, 2007)
A Frente Negra Brasileira além da questão cultural e beneficente que era comum as
outras associações de negros que eram fundadas desde o início do século XX, irá tomar
uma posição diferenciada ao propor a organização política da população negra e no
decorrer do tempo irá tornar-se um partido político preocupado em defender os
interesses desse segmento social. (OLIVEIRA, 2002; DOMINGUES, 2007; LANNES,
2009).1
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M. Pollak. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos. 1989.
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Nesse artigo Pollak cita as disputas de memória entre na Europa em torno da Memória de Stalin no
contexto de desestalinização ocorrida no século XIX e os diferentes usos e silenciamentos dessa
memória. Ibdem, páginas 4-8.
pela historiografia na produção de uma narrativa histórica, devemos retornar a uma
questão essencial: Qual é o conceito de memória trabalhado por Pollak e como ele pode
ser útil na aplicação dessa proposta de trabalho ?
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Por regime de historicidade, entendemos ser o conjunto de regras que regem a escrita da história.
compreender porque algumas memórias são mais valorizadas e ganham estatuto de
veracidade histórica. (POLLAK, 1988,1992.)
Considerando que outros autores também tratam do uso da memória como recurso para
o trabalho dos historiadores e para a elaboração de um discurso histórico que de conta
de interpretar a realidade social, podemos utilizar deste instrumental teórico para
embasar o referido trabalho e ajudar na compreensão histórica5.
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Contexto Político
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Como destaque o Movimento operário e Revoltas tenentistas.
oportunidades de participação política criadas pela mudança do
regime”8.” (OLIVEIRA, 2002, p.27)
Segundo Laiana Lannes a situação de pobreza e miséria vivida pela população negra
paulista no pós-abolição agravou no final dos anos 20 e o início dos anos 30,
contribuindo para a busca de uma organização política mais acentuada que pudesse
promover maior inserção social deste segmento.
A partir do século XIX surgiram associações de negros que buscaram uma maior
inserção social e espaços de sociabilidade em uma sociedade marcada pelo racismo e
exclusão social.
A fim de demarcar os diferentes tipos de associações que surgiram no decorrer de dos
séculos XIX e início do século XX, Arilson S. Gomes utilizando-se das ideias de L.C.
Pinto irá dividir as associações de negros em dois tipos: as tradicionais e as de novo
tipo.
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Glifo da autora.
Neste sentido, L.C Pinto explica que as associações tradicionais,
surgidas no século XIX, são próximas as iniciativas brancas, de
imitação dos valores dos grupos dirigentes da sociedade o que acabava
beneficiando a tolerância social para com os negros em uma sociedade
tensa. As associações tradicionais são: A Irmandade da Nossa Senhora
do Rosário e de S. Benedito dos Homens Pretos, o Candomblé, a
Macumba que liga as pessoas como centros de curandeirismo e centro
recreativo, o samba, as sociedades bailantes, esportivas e as escolas
carnavalescas. (GOMES,s/d, p.4)
Considerações finais
Como podemos perceber ao longo desse estudo diversos fatores contribuíram para a
formação da Frente Negra Brasileira no início dos anos 30. Isoladamente esses fatores
em nada falam por si, mas quando analisamos eles em conjunto, percebendo que em um
contexto plural de transformações políticas e econômicas aceleradas na cidade de São
Paulo desde o final do século XIX, somado a fragilidade da população negra no Pós-
abolição que tinha que lidar com o preconceito social e racial e a concorrência por
postos de trabalho com os imigrantes, tornou-se fulcral para essa população organizar-se
politicamente através da criação da Frente Negra Brasileira, no intuito, de enfrentar os
desafios monumentais que se colocavam para eles.
Bibliografia
CAMPOS, Antonia Junqueira Malta. A colaboração com intelectuais dos “movimentos
sociais do meio negro”durante a pesquisa UNESCO em São Paulo e sua importância
para a obra A Integração do Negro na Sociedade de Classes. 38º Encontro Anual da
Anpocs GT28 Pensamento social no Brasil. In: http://anpocs.org/index.php/papers-38-
encontro/gt-1/gt28-1/9095-a-colaboracao-com-intelectuais-dos-movimentos-sociais-do-
meio-negro-durante-a-pesquisa-unesco-em-sao-paulo-e-sua-importancia-para-a-obra-a-
integracao-do-negro-na-sociedade-de-classes/file. Acessado em 03/01/2016.
OLIVEIRA, Laiana Lannes de. A Frente Negra Brasileira: Política e Questão Racial nos
anos 1930. Rio de Janeiro. 2002. In: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp000139.pdf.
Acessado em 05/01/2017.