Intro A Patologia Renal - Dirceu
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RIM
Segmentos do néfron
O rim é constituído por unidades funcionais, os néfrons, cujo número varia entre 1 e 2 milhões. O néfron
compreende o glomérulo, que produz o ultrafiltrado do plasma, e os túbulos (túbulo contorcido proximal,
alça de Henle e túbulo contorcido distal), que modifica o filtrado glomerular para produzir urina. O néfron
abre-se no sistema dos túbulos coletores. O glomérulo é formado pela cápsula de Bowman, por um novelo
de 20 a 40 alças anastomosadas de capilares fenestrados e pelo mesângio (Figura 17.1). As alças capilares
enoveladas aumentam enormemente a superfície de filtração (equivalente a cerca de 13 km de extensão. Há
dois polos: o urinário, que se continua com o túbulo proximal, e o vascular, através do qual entra a arteríola
aferente e sai a eferente. No polo urinário, o epitélio da cápsula de Bowman se continua com o epitélio do
túbulo proximal. No polo vascular, o revestimento epitelial da cápsula se dobra e se continua com o epitélio
que envolve as alças capilares, formando o folheto visceral. O espaço entre os dois folhetos constitui o
espaço subcapsular ou de Bowman. O epitélio parietal do glomérulo é achatado. O epitélio visceral consiste
em células especializadas com longas expansões citoplasmáticas (podócitos), das quais surgem
prolongamentos (pés dos podócitos) que entram em contato íntimo com a membrana basal glomerular, a
qual se interpõe entre os podócitos e as células endoteliais. Os espaços de fuga (fendas de filtração) entre os
processos podais formam um conjunto de microcanais (20 a 30 nm) interligados e separados da membrana
basal por delgado diafragma. Além de ter papel na barreira de filtração glomerular, o epitélio visceral ou
podocitário participa na síntese de componentes da membrana basal.
As células endoteliais possuem expansões citoplasmáticas
delgadas e são perfuradas por poros ou fenestrações que medem 70 a 100 nm de diâmetro. O conjunto
endotélio-membrana basal-célula epitelial representa a barreira de filtração glomerular. Não há barreira à
passagem de água, eletrólitos e outros solutos de baixo peso molecular; existe obstáculo, principalmente na
membrana basal, à filtração de macromoléculas com peso molecular acima de 70 kD ou raio molecular
superior a 3,5 nm. O filtrado glomerular é, portanto, isotônico e praticamente sem proteínas. O mesângio é a
formação centrolobular ou axial do glomérulo, sendo constituído por células com limites mal definidos e
matriz amorfa, finamente fibrilar. No lado axial, os capilares glomerulares não ficam revestidos pela
membrana basal e, dessa forma, as células endoteliais mantêm contato direto com o mesângio; lateralmente,
o mesângio limita-se com a reflexão contínua da membrana basal e fica coberto pelos processos podais dos
podócitos.
O mesângio é contíguo ao aparelho justaglomerular e mantém contato com as arteríolas, o túbulo distal e a
mácula densa. O mesângio serve como suporte do tufo capilar e participa na regulação do fluxo sanguíneo,
por meio da contratilidade de suas células, que respondem a agentes neuro-humorais, inclusive a
angiotensina II. Com a zona subendotelial, forma o sistema subendotelial-mesangial, que parece atuar como
mecanismo de “limpeza” do glomérulo, influenciando na manutenção da permeabilidade e da integridade da
parede capilar. As células mesangiais removem macromoléculas na região subendotelial (são fagócitos), são
contráteis, secretam substâncias (p. ex., citocinas, prostaglandinas) e podem proliferar. Tais propriedades são
importantes na gênese, na evolução e na caracterização de muitas glomerulopatias.
O túbulo proximal, que começa no polo urinário e termina na alça de Henle, mede aproximadamente 14 mm
de comprimento e é muito tortuoso. É revestido por células cúbicas que possuem numerosas mitocôndrias e
orla em escova, rica em microvilosidades, além de interdigitações celulares que aumentam muito a
superfície de reabsorção. A reabsorção tubular corresponde a dois terços do filtrado glomerular e se faz por
mecanismos especiais e/ou de transporte ativo. Por meio dela, a concentração de sódio na urina é igual à do
plasma e a de bicarbonato, a cerca de 10%; a urina praticamente não contém glicose ou aminoácidos. O
paratormônio aumenta a absorção de cálcio e magnésio e inibe a absorção de fosfato e bicarbonato,
participando também no metabolismo da vitamina D.
A alça de Henle tem forma de U, com uma parte descen-dente e delgada e outra ascendente e larga. A
porção descendente é revestida por epitélio achatado com pequeno número de vilosidades e invaginações
basais. A porção ascendente tem diâmetro semelhante ao do túbulo proximal e fica recoberta por epitélio
cúbico com poucas vilosidades; na parte basal, há muitas mitocôndrias e numerosas invaginações tubulares
da membrana celular. A atividade enzimática é intensa. A alça de Henle situa-se muito próximo dos
capilares intertubulares, relacionando-se com a função de concentração da urina. Na porção descendente, a
água passa livremente para o interstício medular hipertônico, enquanto na ascendente ocorre a absorção de
25% do Na + filtrado; com isso, o fluido resultante tem volume igual a 10% do filtrado, com diluição
máxima.
O túbulo distal tem 4,6 a 5,2 mm de comprimento, é tortuoso como o proximal e desemboca no sistema de
túbulos coletores. É revestido por células cúbicas com poucas microvilosidades, muitas invaginações
tortuosas e profundas na parte basal e numerosas mitocôndrias. Nele, o Na + é absorvido sob ação da
aldosterona e ocorre a excreção de K+ , amônia e prótons. A junção da alça de Henle com o túbulo distal
encosta-se na arteríola aferente, onde esta penetra no glomérulo. Nessa região, algumas células tubulares
adquirem morfologia distinta (citoplasma compacto e granular, corável intensamente), formando massa de
40 a 70 μm chamada mácula densa. Nesse local, as células musculares da camada média da arteríola
aferente tornam-se epitelioides e adquirem numerosas granulações, constituindo as células
justaglomerulares, responsáveis pela secreção de renina. O conjunto de mácula densa, células
justaglomerulares e células não granuladas forma o aparelho justaglomerular. Os túbulos coletores
constituem a primeira via de excreção da urina. Possuem luz ampla, que aumenta progressivamente até os
ductos papilares (100 a 200 μm de diâmetro), os quais se abrem no ápice das papilas. São revestidos por
epitélio cúbico com citoplasma claro e poucas microvilosidades. No sistema coletor ocorre a regulação da
osmolaridade urinária, com participação do hormônio antidiurético.
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA
O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) é ativado a partir da liberação de renina pelas células do
aparelho justaglomerular.
Os principais estímulos para liberação de renina são:
Hipoperfusão (Ou Isquemia) Renal
Estimulação F3l-Adrenérgica
Diminuição Da Concentração De Naci No Lúmen Do Túbulo Distal Reto Percebida Pelas Células Da
Mácula Densa (Mecanismo De Auto-Regulação Renal Denominado Balanço Túbulo-Glomemlar).
Na circulação a renina cliva a porção N-terminal do angiotensinogênio, oligopeptídeo de origem
predominantemente hepática, formando o decapeptídeo angiotensina I. Este, pela ação da enzima conversora
de angiotensina (ECA), é clivado também na porção N-terminal, formando o octapeptídeo angiotensina II
(Ang II). Outros peptídeos, como Ang III, Ang IV e Ang (I-VII), também podem ser formados através da
ação de outras enzimas presentes em diversos tecidos, denominadas endopeptidases neutras,
aminopeptidases e carboxi-peptidases. A Ang II é o peptídeo ativo mais bem conhecido. A Ang II se liga a
receptores com sete domínios transmembranais acoplados à proteína G denominados AT1 e AT 2.
Suas principais ações são:
a) Vasoconstrição arterial sistêmica com aumento da RVP (via AT1). Através deste efeito a Ang II
exerce importante papel na gênese da hipertensão arterial sistêmica, uma das doenças mais
prevalentes em todo o mundo;
b) Vasoconstrição arterial renal com diminuição do fluxo sanguíneo renal (FSR), acompanhada de
contração ... das células mesangiais com redução do Kf e RFG. E importante lembrar que a Ang II
contrai preferencialmente a arteríola eferente, aumentando a pressão capilar glomerular e, portanto, o
RFG. Esta ação local minimiza a queda do RFG provocada pelo baixo FSR;
c) Aumento da reabsorção renal de sódio. Isto pode ocorrer diretamente, por aumento da reabsorção
tubular de sódio (como pelo estímulo das atividades (Na++ K + )-ATPásica e Na+ -ATPásica no
túbulo proximal) ou indiretamente, por estímulo da síntese e secreção de aldosterona, que promove
reabsorção distal de sódio;
d) Indução da proliferação celular. Um dos efeitos da Ang II é a indução do crescimento celular por
ação pró-mitogênica, estimulando, por exemplo, a proliferação de fibroblastos.
Este efeito de substituição de tecido normal por fibroblastos prejudica o funcionamento de diversos tecidos,
contribuindo para o estabelecimento de doenças (como as glomerulonefrites).
A aldosterona é um hormônio mineralocorticóide produzido na zona glomerulosa das glândulas adrenais a
partir da corticosterona. Os principais estímulos para sua síntese e liberação na circulação são: ACTH,
aumento sérico do potássio e ação da Ang II. A ação da aldosterona nos rins se dá através de receptores
citoplasmáticos presentes em células do túbulo contorcido distal e túbulo coletor. A aldosterona aumenta a
síntese e a inserção de canais epiteliais de sódio (ENaC) na membrana luminal, favorecendo a reabsorção de
sódio e a secreção de potássio no néfron distal, além de estimular a secreção de hidrogênio e conseqüente
acidificação urinária.
URINA
EAS
TERMOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS
Manifestações Clínicas das Doenças Renais
A azotemia é a manifestação bioquímica de lesão renal aguda ou crônica e se caracteriza por nitrogênio
ureico sanguíneo (BUN) elevado ou, alternativamente, por uma elevação da creatinina sérica. Reflete uma
redução na taxa de filtração glomerular.
A lesão renal que resulta em azotemia pode ser aguda ou crônica. A lesão renal aguda pode ser reversível ou
evoluir para doença renal crônica; a doença renal crônica é geralmente irreversível. Uma importante
manifestação de lesão renal é a síndrome nefrótica, em que a lesão do glomérulo resulta em filtração
anormal, levando a proteinúria grave, edema e distúrbios metabólicos. As síndromes nefríticas são aquelas
em que hematúria, azotemia, hipertensão e proteinúria subnefrótica são as principais manifestações.
Doenças que envolvem os túbulos e o interstício podem ter manifestações clínicas da síndrome nefrótica, ou
de distúrbios específicos na função tubular, ou de doença renal aguda ou crônica sem características
definidoras mais específicas.
BIÓPSIA RENAL
A biópsia renal é feita essencialmente para o diagnóstico de glomerulopatias.
Sua análise inclui o exame sistemático dos diferentes compartimentos do parênquima: glomérulos, túbulos,
interstício e vasos.
A identificação do compartimento renal primariamente lesado é essencial para se estabelecer o diagnóstico.
Existe ampla integração entre os compartimentos renais, de modo que lesão em um deles pode causar
alterações secundárias nos demais. Muitas vezes, a progressão da lesão e a cronificação da doença resultam
em quadro pouco específico, dificultando a identificação do processo patológico primário ou inicial.
Colorações especiais, como ácido periódico de Schiff (PAS), tricrômico de Masson e impregnação pela
prata metanamina (PAMS), além da coloração convencional por hematoxilina e eosina (HE), permite a
análise das diferentes estruturas do parênquima.
O diagnóstico final depende muitas vezes dos achados à histologia convencional, à imunofluorescência
(IMF) e à microscopia eletrônica (ME), além das informações clínicas.
Avaliação imuno-histológica, geralmente realizada por imunofluorescência, é uma ferramenta diagnóstica
valiosa, que possibilita a identificação de entidades distintas que se expressam por meio de um mesmo
quadro histológico.
A microscopia eletrônica é essencial para detectar alterações na membrana basal (adelgaçamento ou
desdobramento), para identificar depósitos de substâncias (como na doença de Fabry e na nefrite lúpica) e
para localizar depósitos (subepiteliais, membranosos e subendoteliais).
A biópsia renal possibilita ainda a identificação de mecanismos patogenéticos envolvidos no processo e o
estabelecimento de correlações entre os achados morfológicos e as manifestações clínicas. Como regra
geral, as respostas do rim a agressões por agentes de diferente natureza são limitadas: agressões e
mecanismos patogenéticos distintos podem produzir uma mesma alteração morfológica. Por outro lado, a
biópsia ajuda a diferenciar doenças com apresentação clínica semelhante, porém associadas a etiopatogênese
e lesões morfológicas distintas, com prognóstico e implicações terapêuticas igualmente diferentes. A biópsia
renal é importante também para determinar o predomínio de lesões agudas (potencialmente).