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DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
SUMARIO
Págs.
Editorial 3
Estudos e debates:
Documentação:
L E I DE D I R E T R I Z E S — R E F O R M A DE BASE DA
EDUCAÇÃO N A C I O N A L
CELSO KELLY
Secretário do Conselho
Federal de Educação
Estudos e debates
MESTRES DE AMANHÃ
ANÍSIO S. TEIXEIRA
Diretor do INEP
2
18 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
II
III
N ã o obstante, a m u d a n ç a de um sistema educativo p a r a o u t r o
n ã o p o d e r á ser i m p r o v i s a d a ; terá, pelo contrário, de obedecer
a um plano. Os educadores, como s e m p r e , devem t r a b a l h a r p a r a
o futuro. Desta vez, deveremos ter mais fantasia e previsão profé-
tica q u e de costume, se n ã o quisermos ser surpreendidos pela evolução
dos fatos.
Certas perguntas ingênuas, as mesmas q u e p r e o c u p a m o h o m e m
da r u a , hoje i n q u i e t a m a muitos de nós. A p r i m e i r a de t o d a s : em
u m a sociedade totalmente automatizada, que farão os homens com
o t e m p o livre? Melhor a i n d a : quais os pressupostos psicológicos
30 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
J. LEITE LOPES
Do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
II
III
IV
VI
VII
17 Ref. 14, p. 3.
44 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
VIII
VALNIR CHAGAS
Da Universidade do Ceará
4
50 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
"Um jovem discípulo de Platão, queles que por mais longo tempo
que ia ser recebido no Jardim a tenham exercido.
de Academo, perguntou ao mes- Ou será um pouco ao inverso,
tre como deveria agradecer essa pelo que se deverá dizer que só
honra. "Com simplicidade, ami- os desambiciosos é que permane-
go, com simplicidade", foi a res- cem no magistério ? . . . Assim
posta. pelo menos pensava Bernard
A circunstância da idade do Shaw, quando levou uma de suas
discípulo não condiz, helas!, personagens a dizer: "Quem po-
com a de quem vos fala. Mas a de faz, quem não pode ensina".
do prudente conselho aplica-se à Sem dúvida que há boa dose de
situação em que me encontro, malícia nesse dito famoso, mas
sobretudo quando se tenha em também certa parcela de verdade.
vista a qualidade de que não me De qualquer modo, com a sim-
posso despir, a de velho mestre- plicidade de um mestre-escola,
escola. 0 ensino é uma função devo exprimir-vos, a todos, e de
votada à humildade, senão a das forma a mais límpida, meu enor-
idéias, a dos costumes. Normal- me reconhecimento. Primeiro,
mente reduz as aspirações da- aos altos órgãos diretores da
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 67
7
98 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
ALMEIDA JÚNIOR
Do Conselho Federal de Educação
a
114 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
JAYME ABREU
Do C.B.P.E.
DECLARAÇÃO DE VOTO
Abgar Renault
DECLARAÇÃO DE VOTO
Conselheiros Ajadil Lemos e
A. Almeida Júnior
DECLARAÇÃO DE VOTO
Conselheiro Péricles Madureira de Pinho
INTERPRETAÇÃO DO ART. 18 DA L . D . B .
9
130 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
I — ASPECTO LEGAL
1. Cumpre, antes de mais nada, acentuar que o art. 100 não é
o único a tratar da matéria; na L.D.B. há dois outros artigos que
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 141
II _ ASPECTO PEDAGÓGICO
Impondo, porém, acentuar que, antes do aspecto legal, é indis-
pensável considerar os aspectos pedagógicos do problema transfe-
rência na vida escolar do aluno. Para que as adaptações e normas,
exigidas pelo art. 100 da L.D.B., se harmonizem com o contexto
legal e com a filosofia da lei, é preciso assentar alguns princípios
básicos:
1. A transferência é regime de exceção — Não pode prevalecer
sobre a regra geral. De acordo com as exigências de meio e com
plena liberdade, "cada estabelecimento de ensino disporá em regi-
mento ou estatutos sôbre a organização, a constituição de seus
cursos, e o seu regime administrativo, disciplinar e didático"
(art. 43). Nada de uniforme, nada de pré-moldado.
Seria lamentável, por isso, sacrificar esta riqueza de flexibili-
dade e variedade que a L.D.B. finalmente estendeu ao ensino
médio, para instalar o uniforme, com o fito de não criar dificuldades
ao aluno, em caso de transferência.
2. É problema educativo mais que problema legal — O que
verdadeiramente importa é descobrir e aplicar as melhores técnicas
indicadas para cada caso a fim de assimilar o aluno no novo
ambiente, reparando porventura o que lhe falta; e isto não é função
da lei, mas do magistério. Mais que regularizar, com luxo de
minúcias, as transferências, é preciso assistir aos transferidos.
3. É função da escola mais que dos sistemas de ensino — A
ela cabe, em última instância, não somente ajuizar da maturidade
do aluno que lhe bate às portas, mas até mesmo decidir, com
inteira liberdade, sôbre sua aceitação.
A transferência, reduzida a seu aspecto nuclear, se resume num
juízo de rendimento escolar anterior do aluno; deve ser estendida
a ela o crédito de confiança aberto pelo art. 39 aos estabeleci-
mentos de ensino, no capítulo da apuração do rendimento escolar.
Esta verificação se faz por critérios variados, já que ficou "a
cargo dos estabelecimentos de ensino". Pode, assim, não se tra-
duzir por notas decimais, mas por conceitos ou menções; mesmo
os números hão de ser interpretados à luz das normas contidas no
regimento do colégio, tendo em vista, entre outras coisas, a nota
estabelecida como mínimo para aprovação.
Dêste modo, para efeito de matrícula na série seguinte, o que
é essencial, num documento de transferência, é a declaração "apro-
vado", ou "reprovado"; a linguagem desta aprovação ou repro-
vação — nota, conceito, menção ou crédito — embora deva constar
no documento, para orientação da escola a que o aluno se transfere,
não pode ser por ela tomada isoladamente.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 143
10
146 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
O P R E S I D E N T E DO CONSELHO F E D E R A L DE EDUCAÇÃO,
tendo em vista o que decidiu o Conselho em sessão plenária de
agosto de 1 963, aprovando o Parecer n.° 206-B/63, para cumpri-
mento do art. 100 da Lei n.° 4 024, de 20 de dezembro de 1 961,
RESOLVE:
GEIGER, Pedro Pinchas — Evolução da uma obra que, por todos os títulos
rede urbana brasileira, Rio, t e n t r o está ao nível de grandes trabalhos do
Brasileiro de Pesquisas Educacionais, gênero publicados no estrangeiro.
1963, 462 págs. Mas êste é bem brasileiro, pelo autor,
pela matéria e pela abordagem, onde
Consultado a título particular, por métodos comprovados são aqui aper-
um grupo de economistas e sociólogos feiçoados e aplicados com autonomia
franceses, da nova geração, sôbre alguns e originalidade.
livros de consulta obrigatória acerca
Ninguém hoje poderá estudar o
dos problemas brasileiros, incluí entre
eles, o importante trabalho de Pedro desenvolvimento do Brasil sem consul-
Pinchas Geiger, "Evolução da Rede tar o livro de Pedro Pinchas Geiger.
Urbana Brasileira", porque o conside- O autor é licenciado pela Fac. Nac.
ro. de fato, um dos estudos mais sérios de Filosofia da Univ. do Brasil, geó-
ultimamente publicados, e de leitura grafo do Conselho Nac. de Geografia
rigorosamente indispensável, para uma e tem publicados já vários trabalhos
exata compreensão de alguns aspectos sôbre geografia econômica.
de nosso desenvolvimento.
PAULO DE CASTRO
Não há neste trabalho de pesquisa
feito em têrmos de ciência, escrito com
clareza e elgância, um capítulo supér-
M A N N H E I M , Karl e STEWART, W . A . C . ,
fluo ou desvinculado do conjunto; não
An Introduction to the Sociology of
há improvisação, mas uma sistemática
demonstração de teses; não há exces- Education, Routledge & Kegan Paul,
so de estatísticas. embora todas as Londres, 1962, 187 págs.
indispensáveis sejam de primeira mão
e de primeira ordem, desenvolvendo- Ao que se noticia, esta é a derra-
se o estudo por lances sucessivos até deira das obras póstumas de Mannheim.
chegar ao eapítulo final "Urbaniza- Nela, Stewart é menos do que o co-
ção e Industrialização", que, em pou- autor e mais do que simples editor:
cas páginas, representa como que uma selecionou, organizou e até recons-
síntese filosófica do livro, escrito por truiu notas ou apontamentos restantes
mão de mestre. de Mannheim, relativos à educação,
sem que tenha conseguido, devido ao
O trabalho de Pedro Pinchas Geiger
material escrito original — e como o
diz-nos bem como já saímos da fase
declara — impedir que êste livro se
do impressionismo na pesquisa, aná-
lise e crítica dos nossos grandes pro- mostre como a mais fragmentária das
blemas, como o desenvlvimento atinge obras póstumas dêste Autor.
as áreas intelectuais e como um bra- Como se sabe, o estudo sociológi-
sileiro, servindo-se de uma bibliogra- co da educação é dos que mais se
fia ao mesmo tempo vasta, séria e beneficaram dos interesses ao mesmo
rigorosamente selecionada, combinando tempo teóricos e pragmáticos de
isto com o estudo direto, a observação Mannheim. Focalizando a educação
pessoal, inquéritos conduzidos com como técnica social, evidenciou com
imensas dificuldades e, direi mesmo, profundidade as suas potencialidades
riscos, pode chegar à realização de inovadoras e concedeu-lhe posição das
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 169
por outro lado que o índice de mais 2/3 das matrículas da Cam-
matrícula cresceu de 1961 para panha de Educandários Gratui-
1962 de apenas 11,9%, vemos tos, cujo financiamento corres-
que êste índice representa me- ponde aproximadamente a 2/3
nos da metade do índice ideal de recursos públicos e 1/3 pri-
de 28%, que seria necessário para vados, representando esses 2/3:
atendermos a 90% da população cerca de 45.500 matrículas na
escolarizável que teremos em 10 sua escola secundária, teríamos,
anos. já em 1962, cerca de 593.360
Um outro aspecto interessante alunos freqüentando a escola
em relação ao aumento dos efe- secundária às expensas do poder
tivos da matrícula no ensino público e de 481.453 alunos fre-
médio, é o que ocorre no ensino qüentando a escola secundária
secundário: a diferença de ritmo pagos pelo particular.
de crescimento entre o ensino Vemos por aí que, contraria-
público e o privado. De 1961 para mente à impressão generalizada
1962, por exemplo, o crescimen- de que os gastos com a escola
to percentual registrado na ma- secundária brasileira estão prin-
trícula da escola pública foi de cipalmente a cargo da contri-
17%, ao passo que o registrado buição direta de particulares, na
na particular foi de 8,7% apenas. realidade o esforço público tem-
Na Guanabara, em 1961, o total se revelado atuante em propor-
de matrícula foi de 27.609 na ções apreciáveis, ensejando ao
escola pública, subindo no ano lado das bolsas concedidas, com
seguinte para 38.163 em núme-
ros absolutos e relativos de 30%. o crescimento de 17% de matrí-
No mesmo período de tempo a culas em seus estabelecimentos
escola particular registrou um de ensino de 1961 para 1962
aumento percentual de apenas contra o índice de crescimento
5%, tendo-se em vista as matrí- de matrícula da escola parti-
culas de 94.079 e 97.708 nos cular no mesmo período, que foi
anos de 1961 e 1962 respectiva- de apenas 8,5%, um crescimento
mente. relativo 100% maior que o do
setor privado.
Em São Paulo a matrícula na Fato também interessante a
escola secundária pública, cres- assinalar é o da transferência
cendo nestes dois anos de de matrícula da escola secun-
134.154 para 155.487, subiu 15%, dária para os demais ramos de
enquanto na escola particular a ensino, ao fim do 1.° ciclo. A
matrícula passou de 120.878 para análise da matrícula da 4.a série
128.852, representando um au- do 1.° ciclo do curso secundário
mento de apenas 7%. e da 1.ª série do 2.° ciclo dos
outros ramos, técnico e normal,
Os dados estatísticos em aná- evidencia o quanto tem a escola
lise revelam-nos ainda que em secundária funcionado como es-
1962 efetuaram-se 417.860 matrí- cola comum no 1.° ciclo, forne-
culas na escola secundária pú- cendo contingentes ao segundo
blica e 656.953 na escola secun- ciclo dos demais ramos.
dária particular. Deduzindo-se,
porém, em cálculo aquém da Pelo quadro a seguir, podemos
realidade, 130.000 bolsas pagas mostrar o que significa percen-
pelos cofres públicos federais, tualmente a matrícula nos dois
estaduais e municipais às esco- ciclos dos vários ramos do ensi-
las secundárias particulares e no médio.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 189
1961 1962
RAMOS
1.° CICLO-4. a S É R I E 2.° CICLO-lª SÉRIE
13
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
SUMARIO
Págs.
Editorial 3
Estudos e debates:
Documentação:
Atividades do I N E P em 1963 52
I R e u n i ã o do Conselho F e d e r a l e Conselhos E s t a d u a i s de E d u c a ç ã o :
Recomendações 59
X X V I Conferência I n t e r n a c i o n a l de I n s t r u ç ã o Pública — Recomen-
dações nº 56: Dispõe sôbre orientação escolar e profissional;
n° 57: Dispõe sôbre c a r ê n c i a de professôres p r i m á r i o s 61
INFORMAÇÃO DO PAÍS 74
INFORMAÇÃO DO ESTRANGEIRO 80
EDUCAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
Diretor do C.B.P.E.
Estudos e debates
ANÍSIO S. TEIXEIRA
Da Universidade de Brasília
2
16 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
GILDÁSIO AMADO
Do C.BP.E.
JAYME ABREU
Do C.B.P.E.
3
32 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
51
52
36 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Engenharia Medicina
Programas do ensino
V — Síntese Final
4
48 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
paro dos professôres de Língua e Gerais (1), São Paulo (1), Es-
Literatura, de Escolas Normais, tado do Rio (1) e Rio Grande
propiciando condições pará for- do Sul (1).
mação mais satisfatória dêsses
profissionais nas Facilidades de
Filosofia. 9. Cursos Avulsos
Iniciado em 1962 com 9 bolsis-
tas, para ser ministrado em dois Canto Orfeônico — 1; Mestre
anos, prosseguiu em 1963 com de Banda — le Estágio na Es-
7 bolsistas de: Bahia (3), Minas cola Guatemala — 1.
REUNIÃO DO CONSELHO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO E CONSELHOS ESTADUAIS
Reunida em Genebra em sua 26. a ses- a maioria das pessoas não pudesse
são, de 1.º a 12 de julho de 1963, escolher uma profissão conforme
por convocação da Unesco e do Bu-
rean Internacional de Educação, a seus interesses e aptidões e não
Conferência adotou as seguintes re- experimentasse a satisfação de
comendações, dirigidas aos Ministé- vencer nessa profissão,
rios de Instrução Pública:
que o conceito de orientação
está evoluindo e é considerado
Recomendação n.° 56 hoje como esforço contínuo, es-
treitamente ligado à ação educa-
ORIENTAÇÃO ESCOLAR E tiva da escola,
PROFISSIONAL
o acréscimo constante dos efe-
A Conferência Internacional tivos escolares e a necessidade de
de Instrução Pública, conside- oferecer conselhos individuais aos
derando alunos desde a idade em que co-
que a orientação escolar e pro- meçam a tomar consciência de
fissional deve permitir a cada suas responsabilidades perante a
um o completo desenvolvimento comunidade a que serão chamados
de suas aptidões, o uso total de a se integrar e participar como
sua capacidade e a expansão de membros úteis,
sua personalidade, que a orientação será mais efi-
que essa orientação se torna caz na medida em que se apoiar
indispensável, uma vez que, pela num conhecimento mais profundo
elevação do nível de conhecimen- da criança, observada durante pe-
tos e qualificações, se deseja sa- ríodo suficientemente longo nos
nar as dificuldades criadas pelo diversos aspectos de seu compor-
aceleramento da evolução técni- tamento e diferentes etapas de
ca, econômica e social, e a assegu- seu desenvolvimento,
rar a utilização racional do con- que a orientação pode constituir
junto dos recursos humanos, laço entre a escola e o trabalho,
que o desenvolvimento da so- influenciar a estrutura, a orga-
ciedade não estaria assegurado se nização do conteúdo do ensino, e
Estas recomendações foram traduzidas do Bulletin du Bureau International
d´Education, n.° 148, 3.° trimestre de 1963, por Heloisa Guimarães Monteiro, de
nossa redação.
62 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
ressa tanto aos alunos como aos logia e suas aplicações, ciências
pais, deve ser integrada no sis- econômicas ou sociais e problemas
tema de orientação escolar e pro- de educação, do trabalho e da
fissional e feito em colaboração juventude, podendo contar com
com serviços especializados; deve auxílio de pessoas de qualificação
ser dada à escola e divulgada menos elevada.
amplamente através de folhetos,
palestras, filmes, pelo rádio, pela 22. Nos países onde a infor-
televisão e pela imprensa. mação e orientação profissionais
são integradas no ensino, convém
18. Com o intuito de facilitar que, em cada escola, um ou mais
a orientação, atividades práticas membros do corpo docente sejam
preparatórias ;\ vida profissional formados em face dêste trabalho
podem ser organizadas na esco- e estejam suficientemente infor-
la e, eventualmente, completadas mados sôbre as profissões e seus
por visitas ou estágios nas em- caminhos de acesso; além disso,
presas. lições sôbre os princípios, métodos
19. A despeito das dificulda- e prática da orientação escolar e
des inevitáveis que isto comporta, profissional devem estar incluídos
é conveniente encontrar meios de no programa de formação de
seguir os alunos orientados; tal mestres.
controle será útil não só aos inte- 23. Nos países em que a orien-
ressados, mas contribuirá para a tação constitui elemento sepa-
avaliação e aperfeiçoamento sis- rado do programa do ensino,
máticos e contínuos dos métodos apesar de algumas vezes confiada
de orientação; estes trabalhos de- a alguns professôres, convém que
vem ser confiados a serviços de estes sejam devidamente prepa-
pesquisa adequados, rados para essa tarefa especiali-
zada; deve-se assegurar uma dis-
Pessoal encarregado da orientação tribuição equilibrada entre sua
função de conselheiro e de mes-
20. Em tôda parte onde técni- tre, de maneira que possam consa-
cas psicológicas são empregadas grar tempo suficiente a cada uma
para a orientação escolar e pro- dessas funções.
fissional, é conveniente confiar a
aplicação a pessoas titulares de 24. Os especialistas em orien-
uma qualificação em psicologia tação devem sempre exercer sna
(pessoas portadoras de títulos em tarefa em colaboração contínua
psicologia) e com estudos de ní- com o corpo docente, com o mé-
vel superior. dico, o psicólogo e o assistente
social ligados à escola.
21. Desde que existam servi-
ços de orientação escolar e pro- 25. No quadro de um 1.° ciclo
fissional operando fora da escola, de ensino secundário concebido
deve-se confiar a responsabilidade como ciclo de orientação, é indis-
a pessoas com estudos de nível pensável que o pessoal responsá-
superior e que possuam formação vel conheça as diversas técnieas
especializada no campo da psico- necessárias a assegurar o enca-
66 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
volver livremente, sem coações nem vir que nessa ousada experiência
sugestões, a sua personalidade. Não muita coisa existe de positivo, de
é obrigado nunca a assistir às aulas; aceitável para uma verdadeira re-
pode deixar de freqüentá-las durante novação educacional. Senão, veja-
anos se assim o desejar. Todavia, mos: — Neill não perde de vista
assegura o A., as crianças acabam que o objetivo último da educação
procurando as lições e o serem pri- é a felicidade do ser humano, isto
vadas delas é olhado como castigo. é. a integração da personalidade do
Pelo que se pode concluir da lei- educando no processo vital.
tura dêste surpreendente livro, Neill Descrê da educação puramente
parte do princípio "rousseauniano" intelectual que não permite o de-
de que "o homem é bom; a socie- senvolvimento emocional e artístico
dade é que o deforma". Neill acre- do indivíduo. Daí a sua sistemática
dita na bondade natural da criança oposição a todo sistema educacional
e na sua potencialidade positiva. que tenda a provocar uma dissocia-
Daí a liberdade total que lhe é con- ção entre cérebro e sentimentos,
cedida em Summerhill, liberdade do dissociação que redundaria, segundo
tal maneira radical que difícil se êle. nas neuroses do homem contem-
nos torna crer que realmente esteja porâneo. (Aqui, entretanto. Neill
produzindo os frutos positivos de por vezes parece cair no extremo
que nos fala o A. oposto e subestimar "a compreensão
Fundando essa escola onde as intelectual do mundo", como diz
crianças teriam "a liberdade de Fromm, "preferindo-lhe a compreen-
ser elas próprias", Neill, para são artística e emocional").
reagir contra a escola dogmática e Neill chama ainda a atenção
autoritária do passado, cai (se não para a aplicação dos princípios psi-
incorremos em erro) no extremo cológicos à educação (o que, acredi-
oposto: renuncia "inteiramente à tamos, nunca deveria ser esquecido
disciplina, à direção, à sugestão, ao por professor algum), lembrando
treinamento moral e à instrução re- que as solicitações às reações e ao
ligiosa". acreditando firmemente interesse da criança devem forçosa-
que "se fôr entregue a si própria, mente corresponder ao seu estado
sem sugestão alguma ela se desen- psíquico para que dêem frutos posi-
volverá tanto quanto fôr capaz de tivos.
se desenvolver".
Abole sistematicamente a dis-
Na verdade, não acreditamos que ciplina e o castigo aplicados dog-
todas as crianças poderiam receber maticamente, pois tal procedimento
uma educação livre como a de Sum- entrava o harmonioso desenvolvi-
merhill, pois nem todas possuem mento psíquico da criança. É, pois,
em potencial, aquêle "gênio cria- através do amor, do interesse pelo
dor" de que nos fala o A. e assim aluno que o professor deverá corri-
nem todas poderiam, por si só, sem gir-lhe os erros.
sugestão alguma do adulto, encon-
trar o caminho certo para chegarem Como vemos, estes são pontos
ao desenvolvimento integral de sua fundamentais em qualquer organiza-
personalidade. Escolher caminhos ção educacional e deles Neill não
é muito difícil, mesmo para nós. se afasta. A par, todavia, dessas
adultos: que dirá para uma crian- atitudes que nos parecem plena-
ça. .. Entretanto Neill acredita mente razoáveis e lógicas sentimos
nisso firmemente e terá razões que o apontar de certa incoerência in-
não nos cabe discutir aqui. terna no seu método pedagógico.
Desde o início do livro o A. não nos
Porém, deixando de lado esse P esconde que não está absolutamente
outros radicalismos que espantam satisfeito com a sociedade de hoje
e que chegam mesmo a fazer sorrir (e quem o está?), apontando nela
cèpticamente a professôres e orien- muitos e muitos defeitos a que
tadores educacionais, temos de con- poderíamos levantar objeções. Mas
86 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
isso enfim não vem ao caso. O que balho educacional de outros povos,
resulta dessa atitude anti-social é a dos problemas e das particularida-
já citada incoerência. Pois se Neill des dos sistemas escolares de deze-
(como o diz textualmente em vários nas de países. Ela é a terceira de
trechos) não procura educar as uma série iniciada em 1955, e foi
crianças para ajustá-las ao meio preparada de acordo com a resolu-
social, à ordem existente no mundo ção (1.22) adotada pela Conferência
em que vivem, como pode pretender Geral da UNESCO, em sua décima
(e diz que o consegue) educá-las sessão. realizada em novembro-
apenas para serem seres humanos dezembro de 1958, em Paris. Essas
felizes? Aqui está o ponto vital da três obras constituem o "único tra-
incoerência apontada: poderia o balho padrão de referência que for-
homem realizar plenamente o seu nece, em forma sistemática, des-
destino humano sem achar-se inte- critiva e estatística, informações
grado na sociedade em que vive? sôbre a educação em todos os países
Contrariamente à opinião do A., e territórios do mundo".
julgamos que não. Deixemos de O primeiro volume da série
parte os casos de exceção. World Survey of Education, publi-
Porém, concordando ou não in- cado em 1955, apresenta um quadro
teiramente com as posições assumi- geral dos vários graus e ramos dos
das por Neill, não duvidamos de sistemas escolares dos vários países.
que a leitura desta curiosa expe- O segundo volume, publicado em
riência será de grande valor para 1958, é dedicado principalmente ao
todos aquêles que têm a seu cargo ensino elementar, além de fornecer
tarefas educativas. Para todos nós informações complementares que
que nos preocupamos com a orien- possibilitam situá-lo melhor no con-
tação dos jovens, "Summerhill" texto geral. O terceiro volume, ela-
(título original de "Liberdade sem borado sob orientação semelhante
Medo") é um livro que faz pensar. aos dois anteriores, além do estudo
dos sistemas escolares de um modo
NELLY NOVAIS COELHO geral, apresenta uma análise mais
minuciosa e mais profunda do en-
sino médio. Consta de duas partes
precedidas de um prefácio, das con-
UNESCO, World Survey of Educa- venções adotadas, além de uma subs-
tion III — Secondary Education, tanciosa introdução, redigida pelo
Paris, 1961, 1482 págs. Secretariado da UNESCO. Ela visa
a facilitar ao leitor a utilização da
Uma das maiores dificuldades obra e a adverti-lo a respeito das
encontradas por todos aquêles que cautelas que devem ser tomadas ao
se dedicam ao estudo da Educação se pretender realizar quaisquer com-
Comparada consiste na obtenção de parações ou generalizações relativas
material informativo atualizado e aos vários países. São também
que inspire confiança. Notadamen- apresentados os objetivos, os prin-
te, sôbre os sistemas e as realiza- cípios obedecidos na organização do
ções educacionais dos vários países. trabalho, uma visão geral dele. além
de esclarecimentos relativos aos dia-
A publicação acima indicada, gramas e glossários, às tábuas e
cujas qualidades e grande utilidade sumários estatísticos.
seria praticamente impossível res-
saltar numa simples resenha, preen- Na primeira parte, o Secreta-
cherá, sem dúvida, uma grande la- riado da UNESCO procurou "traçar
cuna na bibliografia pedagógica. um quadro de conjunto e resumir
Prestará inestimáveis serviços a as tendências e os problemas atuais
professôres e estudantes de Educa- do ensino". Compreende oito capí-
ção Comparada e de Administração tulos :
Escolar, e a todos os que se inte- I. "Survey da educação no
ressem pelo conhecimento do tra- mundo, de 1953 a 1957", em que são
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 87
perior. Por outro lado, o estudante cialistas, que formulem provas obje-
está na ante-sala da Universidade tivas, problemas ou questões com
e deverá ir conhecendo seus futu- antecedência, para que sejam bem
ros professôres, não já de chôfre, propostas, mimeografando-as para
como altos especialistas no nível distribuição na hora. Esse proce-
profissional. dimento poderia acarretar a padro-
Parece estar sendo esse o en- nização das questões no exame
tendimento do legislador. Atual- vestibular, o que traria várias van-
mente transita no Parlamento o tagens, uma das quais seria clas-
projeto de Lei nº 3.715-61, "que sificar o aluno para todos os
dispõe sôbre o salário-mínimo dos estabelecimentos congêneres, ficando
professôres do ensino particular e a critério do candidato a escolha
dá outras providências", em que se dentro das vagas, em relação à sua
procura estabelecer uma relação classificação.
entre salário de magistério parti- Nada, porém, nesse sentido já
cular e salário-mínimo. Nesse pro- se realizou entre nós, que aconselhe
jeto fixa-se o salário de professor a fazer uma experiência desse tipo.
de ensino superior em igualdade de Parece prudente, agora, que cada
condições com o do curso pré-vesti- estabelecimento poderá desenvolver
bular que, agora, é o do Colégio seus próprios procedimentos, deixar
Universitário. que eles atuem com liberdade, para
De fato, nessa fase, devem me- que dessa experiência nos advenha
recer preferência os professôres um entendimento comum, embora
mais experimentados e que tenham não unificador. Essa a grande
atuado tanto no âmbito do ensino vantagem da autonomia universi-
médio quanto no do superior, ou tária. Sendo também diferentes os
apenas neste. padrões de ensino das nossas es-
colas superiores, é claro que devem
Mesmo que se admitam pontos- variar as condições de ingresso. Se
de-vista contrários aos aqui expen- não podemos nivelar para cima, não
didos, êste problema não pode ser devemos fazê-lo para baixo. Sò-
posto de lado sem exame minucioso mente o tempo fará despontar, atra-
sôbre as inferências de um ou de vés de análises minuciosas, os meios
outro procedimento. Daí é que se de ir elevando cada vez mais o
pode partir para o recrutamento e nível médio e o superior.
a seleção do professorado desse
Curso. As Congregações dos estabele-
Há, porém, um ponto delicado cimentos de nível superior estão
a ser debatido. Em geral, quem certamente atentas a esse problema
leciona julga seus alunos, pois é no e o discutirão, sob ângulos mais
trato dêsses que se tornam conhe- amplos que os aqui apresentados,
cidos certos aspectos da sua parti- considerando as peculiaridades re-
cipação nas atividades escolares. gionais.
Para colocarmos, porém, os es- O certo, porém, é que do êxito
tudantes do Colégio Universitário da seleção adequada do corpo do-
em igualdade de condições com os cente dependerá a do destino do
provenientes de outros estabeleci- Colégio Universitário.
mentos, como determina a LDBEN Desse professorado será esco-
(§ 3º, art. 79), impõe-se, a meu ver, lhido o diretor do Colégio Univer-
o exame por banca diferente da- sitário, que deve possuir qualifica-
quela que lecionou. Na legislação ções especiais, pois de sua capaci-
anterior, mesmo quando havia o dade administrativa dependerá, em
Colégio Universitário, era proibido muito, o êxito da instituição. Um
participar da banca examinadora dos pontos em que será decisiva a
quem tivesse lecionado o aluno. Há sua orientação é o que se refere
mesmo quem advogue que os exa- à seleção adequada da matéria
mes sejam processados por espe- constitutiva do curso.
108 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
8
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Esta última razão nos parece ção não pode ser senão transitória.
particularmente importante. Pode-se imaginar os atritos que
O emprego de métodos primá- suscitará nos futuros colégios poli-
rios para alunos de 11 a 15 anos valentes do lº ciclo, a coexistência
tem graves inconvenientes. Não de duas categorias de professôres.
será o uso do ditado e cálculos No Ministério, como em muitos
impostos freqüentemente pelos pro- sindicatos, a orientação é dada de
fessôres, à maneira que fazem com acordo com o seguinte sistema:
as crianças, uma das causas da formação em tempo igual mas
intensa evasão escolar? Esses mé- de natureza diferente. Havia, ao
todos devem, além do mais, ser lado de licenciaturas especializadas
reformulados pará a escola primá- atuais, licenciaturas plurivalentes
ria, cuja tendência foi profunda- (uma literária e outra cientifica).
mente transformada: ao invés de Nos estabelecimentos polivalentes,
dar às crianças uma bagagem mí- os professôres especializados terão
nima de conhecimentos, deve pre- a seu cargo os alunos mais bem
parar o maior número possível ao dotados para os estudos abstratos,
prosseguimento dos estudos. enquanto os professôres plurivalen-
tes se incumbirão dos outros.3 Tal
O Sindicato Nacional de Pro- fórmula reclama, evidentemente, a
fessôres Primários insiste, e com igualdade de salários para as duas
razão, sôbre os valores fundamen- categorias de mestres. Na Ingla-
tais da escola primária — conhe- terra, contrariamente a todas as
cimento da criança, vigilância de nossas tradições, os salários-base
seu desenvolvimento, — mas que dos professôres de ensino secundá-
não se podem transmitir nos C.E.G. rio são idênticos, apenas acrescidos
por simples imitação de métodos. de complementação salarial ajus-
As escolas normais têm uma longa tada aos titulos e qualificações
e rica tradição pedagógica. Pare- pedagógicas: um professor especia-
cem inclinadas, junto com as facul- lizado no ensino de crianças inadap-
dades, ao ensino teórico, a fim tados pode ter uma remuneração
de dispensar uma formação nova igual à de um professor coberto de
e mais completa destinada aos fu- diplomas.
turos professôres de C.E.G.
primários e secundários, é favorável a
essa reforma e propôs, na última reu-
PERSPECTIVAS nião do Conselho Superior da Função
Pública, fixar a remuneração dos pro-
Não se trata de uma etapa que fessôres de C.E.G. em nível interme-
diário entre a de professôres primários
consista em criar um corpo inter- e de liceus. Atualmente a remunera-
mediário, pelo nível de conhecimen- ção destes é ligeiramente superior à dos
tos e salários, entre professôres professôres primários.
primários e de liceus.2 Esta solu- 3. Atualmente há, como titulares,
33.000 professôres nos liceus clássicos
e modernos, 2G.000 nos C.E.G. Há
2. O Sindicato Gera! de Educação nas escolas maternais e elementares
Nacional, que representa os professôres 1.15.000 professôres primários titulares.
ATOS OFICIAIS
DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
M I N I S T É R I O DA EDUCAÇÃO E CULTURA
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
M I N I S T É R I O DA E D U C A Ç Ã O E C U L T U R A
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
ATOS OFICIAIS: Dec. n." 53.464, de 21/1/64 — Regulamenta a Lei n." 4.119, de
27/8/62, que dispõe sôbre a profissão de psicólogo (266); Dec. n.° 53.531,
de 5/2/64 — Dispõe sôbre a execução e fiscalização áos convênios
referentes ao Plano Trienal de Educação e sôbre norma para elaboração
dos planos de aplicação dos recursos respectivos (269): Dec. 53.932.
de 26/5/64 — Altera dispositivos dos Dec. n.°s 29.741, de 11/7/51, 50.737,
de 7/6/61, 51.146, de 5/8/61, 49.355, de 28/11/60, 51.405, de 6/2/62,
52.456, de 16/9/63 e 53.325, de 18/12/63, reunindo num só órgão a
CAPES, COSUPI e PROTEC (269); Port. n.° 7, de 23/1/64 — Institui
a Comissão de Assessoramento, Documentação e Informação das Fa-
culdades de Filosofia (271); P o r t . n.° 46, de 31/1/64 — Especifica
os objetivos do Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-obra
Industrial (272); P o r t . n.° 49, de 31/1/64 — Aprova normas gerais
elaboradas pelo CFE que regulamentam o exame de suficiência ....................... 274
Editorial
DA EDUCAÇÃO D E P E N D E O RESGATE
DE CONDIÇÕES SOCIAIS INJUSTAS
homem, nos bens de que o homem se utiliza, mas atinge o próprio homem,
abrindo-lhe, ou não, em tôda a plenitude, os caminhos naturais de sua
realização integral e do seu aperfeiçoamento individual.
Do êxito que a obra da educação alcançar, através da espontânea diver-
sidade de formas e variedade de processos, dependerá a consecução dos mais
altos objetivos que se impõem à Democracia: a segurança da liberdade, o bom
desempenho de todo cidadão na comunidade a que pertence, a garantia das
ftanquias individuais, e o resgate das condições sociais injustas.
Em face da organização descentralizada e diversificada dos serviços do
ensino, o INEP constituirá o instrumento de coordenação nacional que, reco-
lhendo, analisando e difundindo os resultados das experiências, que se ensaiam
nas várias Unidades da Federação, promoverá, pela troca de informações, o
intercâmbio das idéias que há de contribuir para tornar mais fecunda a obra
de renovação educativa do país.
Não poderá ser ignorada, nesse trabalho, a contribuição prestada pelo
ensino de livre iniciativa, não apenas porque, em muitos casos, chega a ser
numericamente superior ao mantido pelos Poderes Públicos, como também,
porque, na autorizada observação do eminente Professor Almeida Júnior, "as
instituições educativas particulares, mais livres do formalismo burocrático, mais
propensas a inovar, mais plásticas, desempenham, em tôda parte, o papel de
vanguardeiras da experimentação, quebrando, com isso, a monotonia da escola
padronizada e abrindo caminhos inétidos à evolução pedagógica".
Aliás, para o educador isento, o ensino é um só: não se define pela
natureza, oficial ou privada, da escola que o ministra, mas se distingue, apenas,
pela qualidade, boa ou má, dos resultados que oferece.
à luz da documentação pedagógica coligida, dos estudos e das pesquisas
feitas, a ação do INEP há de desdobrar-se em valiosas contribuições para a
definição da política educacional, a elaboração de planos de educação e de
programas de trabalho, procurando proporcionar, a uns e outros, base cien-
tífica e unidade de pensamento e de ação,
Como salientou o Ministro Flávio Suplicy de Lacerda, a situação educa-
cional do pais ê das mais graves e a solução dêste problema fundamental,
prometida ao povo desde a implantação da República, não pode ser procras-
tinada ainda uma vez mais, e está a exigir de todos os brasileiros ação ampla,
pronta e vigorosa.
A ninguém — e menos ainda aos que têm qualquer parcela de atribuição
nas searas do ensino —• ê licito omitir-se ou negligenciar. Onde e quando
quer que se lhe oferecer oportunidade ou forma de agir, deverá concorrer
com seu esforço individual para que não se percam, diluída no limbo do
analfabetismo e da ignorância, consideráveis parcelas das novas gerações de
brasileiros, os bens mais preciosos com que a Nação pode contar para o seu
desenvolvimento econômico e social.
Por outro lado, diante da flagrante desproporção que existe entre a gran-
deza do empreendimento, que nao conhece limites, e a escassez dos meios
materiais e humanos de que dispomos para realizá-lo, torna-se imperioso que
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 133
INTRODUÇÃO
Leituras Sugeridas
Dentre as referências abaixo, as precedidas de um asterisco são
leituras preferenciais.
K a r l P e a r s o n . The, Grammar of Science, 1900.
H e n r i P o i n c a r é . La Science ar l´Hypothèse, 1906.
* H e n r i P o i n c a r é . La Valeur de la Science, 1912.
W. Ostwald. Esquisse d´une Philosophie des Sciences, 1912.
P. F. T h o m a s e o u t r o s . De Ia Méthode dans les Sciences ( l , a e
2. a s é r i e ) , 1909-1911.
* Stanley Jevens. The Principies of Science, 1924.
K e l l e y . Scientific Method: Its Function in Research and Edu-
cation, 1932.
* Bernal. The Social Functions of Science, 1937.
* C o n a n t . On Understanding Science, 1947.
C h u r c h m a n . The Theory of Experimental Inference, 1948.
*
F r e e d m a n . The Principies of Scientific Research, 1950.
B e r n a r d B a r b e r . Science and the Social Order, 1953.
138 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Referências
Leitura recomendada
B a r r . Methodology, cap. iv, p. 185-201.
4. PLANEJAMENTO DO TRABALHO
Não seria possível, n u m a apresentação resumida como a presente,
dar indicações d e t a l h a d a s sôbre a maneira de p l a n e j a r u m a pesquisa
educacional. Isto é assunto que só a experiência p r ó p r i a pode ensinar,
o que n ã o i m p e d e que muitas sugestões e ensinamentos possam ser
colhidos pelo estudo e análise da experiência alheia, donde a impor-
tância fundamental, para a formação do pesquisador, da leitura de
t r a b a l h o s realizados por investigadores e x p e r i m e n t a d o s .
Na presente exposição, não se poderá fazer mais que indicar algu-
mas das condições gerais que o pesquisador deverá ter em vista. Antes
de mais nada, o pesquisador deve conhecer os métodos gerais de tra-
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
2 — 34 901
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Leitura recomendada
Good. Methodology, cap. xii, p. 631-647.
Leituras recomendadas
* Cardasco — Research and Report Weiting.
Reis — Preparo de artigos técnicos.
* Good — Methodology, cap. xiii, p. 648-678.
* Whitney — Elements of Research, cap. xvi, p. 359-388.
Barr — Educational Research, apêndice A, p. 335-343.
Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação — Norma-
lização da Documentação no Brasil.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho foi elaborado por João Torres Jatobá, Pedro Henrique
Saint Martin, Maria da Clória Cunha Ribeiro da Cruz e Noèmia Brandão de
Perdigão, da equipe de Estudos e Análises.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
1. População escolarizando,
Em 1960, estavam matriculadas 4.895.313 crianças de 7 a 11 anos
de idade, o que representava 54% da população escolarizável, isto é,
cerca de 4.200 mil permaneciam fora da escola.
Dessas crianças, 72,3% encontravam-se matriculadas nas escolas da
Região Sul, enquanto as Regiões Norte-Oeste e Nordeste abrangiam
1.354.466, sendo 8,5% na Norte-Oeste e 19,2% da Nordeste.
Mas o que ressalta aos olhos do pesquisador é o contraste acen-
tuado existente entre a Região Sul e as Regiões Norte-Oeste e Nordeste,
no tocante à taxa de escolarização. Enquanto a primeira oferecia esco-
larização a cerca de 68% de crianças, na Região Norte-Oeste essa taxa
caía para 32,5 e na Nordeste para 36,6. O resumo seguinte proporciona
melhor confronto entre as regiões geo-econômicas citadas acima, com
os valores observados da taxa de escolarização no período 1954/60.
TAXA DE ESCOLARIZAÇÃO
REGIÕES
GEO-ECONOMICAS
1954 55 56 57 58 59 1960
POPULAÇÃO ESCOLARIZADA
ANOS
Metas Acréscimo
educacionais anual
.........................................................
1962.. ......................................................... 5 635 392 (1)
63.. ......................................................... 6 375 556 740 164
64.. ......................................................... 6 978 988 603 432
65.. ......................................................... 7 651 051 672 063
66.. ......................................................... 8 402 173 751 122
67.. ......................................................... 9 235 734 833 561
68..
......................................................... 10 168 131 932 397
.........................................................
69.. 11 212 015 1 043 884
1970 12 385 483 1 173 468
(1) Valor da taxa de escolarização esperada. — (2) Acréscimo anual mais déficit existente.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 153
2. Professorado
P a r á atender a êste acréscimo de escolares, é óbvio que o n ú m e r o
de professôres será forçosamente a u m e n t a d o c o p l a n o estabelece que
o sistema escolar deverá contar com professôres diplomados até 1970.
À p r i m e i r a vista, n ã o considerando a localização do professor em área
u r b a n a ou r u r a l , o p l a n o apresenta-se exeqüível logo de i m e d i a t o , se,
em vez de 28,4, a m é d i a atingir 35 alunos p o r professor, segundo o
resumo abaixo:
PROFESSORAS
NORMALISTAS ALUNOS/PROFESSOR
REGIÕES (%)
PROFESSORES DIPLOMADOS
Segundo os cursos
ANOS de formação
Total Acréscimo
anual
Conclusões PROFESSORAS
de curso NORMALISTAS
ANOS no ensino
normal Total Acréscimo
anual
3 — 34 901
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
2
"Como o contrato é simples forma de admissão, em vez de posto de hierar-
quia docente, conviria que essa classificação fosse revista".
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
C o n t r a o i t e m citado v o t a r a m os conselheiros A l m e i d a J ú n i o r e
A j a d i l d e Lemos, p o r e n t e n d e r e m q u e n ã o p o d e h a v e r opção e n t r e
a d o t a r ou n ã o o sistema de c á t e d r a s , a seu ver o b r i g a t ó r i o .
b) E m longo p r o n u n c i a m e n t o , c o n t r á r i o a o e n t e n d i m e n t o d a q u e -
les dois m e m b r o s do Conselho, a f i r m o u o conselheiro M a u r í c i o R o c h a
e Silva n a d a existir na Lei de Diretrizes e Bases q u e " i n s t i t u a taxativa-
m e n t e a o b r i g a t o r i e d a d e do sistema de c á t e d r a s e, ipso jacto, da cate-
goria do seu o c u p a n t e , o professor c a t e d r á t i c o . . . N ã o é contra a exis-
tência de c á t e d r a s , o n d e f o r a m elas estabelecidas, q u e me insurjo, é
c o n t r a essa a b s u r d a e descabida o b r i g a ç ã o de se i n s t i t u i r o r e g i m e de
c á t e d r a s e m todas a s u n i v e r s i d a d e s e escolas i s o l a d a s " 3 . . .
Sugeria, o D r . R o c h a e Silva, a adoção de d a d o c r i t é r i o , q u a n t o à
exigência da categoria de professor c a t e d r á t i c o vitalício, no escalona-
mento da carerira do magistério.4
3
Disse, também, o Professor Maurício Rocha e Silva: "Todos os artigos em
que se encontrava a idéia de cátedra como unidade básica de ensino superior,
foram sabiamente v e t a d o s . . . e o veto a c o l h i d o . . . O caput do art. 74, vetado,
dizia apenas o seguinte: "O ensino das disciplinas obrigatórias... será ministrado
por professor catedrático... "Ora, é precisamente um artigo redigido dessa ou de
maneira análoga o que falta à lei para tornar o cargo de professor catedrático
obrigatório nas carreiras de magistério de todas as universidades ou escolas iso-
l a d a s . . . " . E mais adiante: "O argumento fundamental de que c o m . . . isso se
procura preservar a liberdade de ensino é um mito ou mero sofisma, que só tinha
algum sentido quando a cátedra se confundia com o catedrático: a cátedra era o
catedrático... Hoje, a cátedra estendeu-se e se transformou no Departamento. Em
muitos dêsses Departamentos trabalham 10 a 20 pessoas, entre assistentes, auxiliares
de ensino e professôres adjuntos. Ora, o que se entende por liberdade de cátedra
aplica-se apenas a um único indivíduo, o catedrático onipotente. Todos os outros
devem seguir documente a batuta do catedrático... Vetando o art. 7 4 . . . o Senhor
Presidente da República quis deixar claro q u e . . . no caso de haver cátedras, serão
preenchidas por concurso de títulos e provas e só aquêles que vencerem tais
maratonas receberão o título de professor catedrático vitalício".
4
" I . A exigência será feita pará os Estatutos das Universidades oficiais
federais, que devem obrigatoriamente possuir professôres catedráticos, dentre os
quais serão escolhidos os Diretores de Faculdades, de acordo com o art. 76 da
Lei de Diretrizes e Bases.
I I . As Universidades que se organizarem na base de Fundações, terão a facul-
dade de introduzir nos Estatutos a categoria de Professor Catedrático e serão livres
de fazê-lo, cabendo a êste Conselho tão-somente verificar a legitimidade do processo
proposto para sua escolha, de acordo com o preceito constitucional do concurso
de títulos e provas.
I I I . As Universidades privadas e Escolas isoladas gozarão da mesma liber-
dade constante do inciso II desta Indicação.
IV. Quando constar dos Estatutos ou Regimentos das Universidades e Escolas
isoladas referidas nos incisos II e III, a categoria de Professor Catedrático, o Con-
selho Federal de Educação zelará para que constem dos referidos documentos os
processos adotados para a escolha daquele titular, o qual gozará da vilaliciedude
nos têrmos do art. 168 da Constituição F e d e r a l " .
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
oficiais dos Estados e Municípios. Torna-o indispensável à escolha do
Diretor das escolas oficiais federais. Assim, indiretamente o exige nessas
escolas" 5 .
d) Contra as opiniões dos Conselheiros Rocha e Silva e Clóvis
Salgado manifestou-se o Professor Almeida Júnior, em Parecer n.° 3,
de 1963,° transcrevendo trechos das opiniões que sôbre o assunto,
obtivera dos professôres Waldemar Ferreira, Miguel Reale (subscrito
pelo professor Mário Mazagão), Washington de Barros Monteiro e pelo
livre docente José Luiz de Anhais Melo.
e) Em novas considerações, o conselheiro Maurício Rocha e Silva,
depois de indagar da razão de ser de um Conselho Federal de Educa-
ção, constituído de educadores, "se os assuntos podem ser resolvidos
com uma simples consulta a um advogado de renome", lembrava que
a vitaliciedade se refere ao indivíduo e não à escola; c apontava o
conflito entre a idéia de Departamento e a de Cátedra;
f) O conselheiro D. Cândido Padim criticou a argumentação
baseada apenas em argumentos jurídicos, pois "o Conselho Federal
de Educação não é um tribunal de justiça" e assim, "desde que um
dispositivo legal apresenta um mínimo de dúvidas, possibilitando on
permitindo duas interpretações, o que deve prevalecer neste Conselho
é o atendimento das reais necessidades do ensino"; e propôs que se
distinga a situação das Faculdades oficiais e a das outras.
A matéria continuou em discussão, constando da ordem do dia da
reunião do mês seguinte, abril, o Parecer n.° 3/63, da Comissão de
Legislação e Normas, de autoria do Conselheiro Almeida Júnior, a
que já aludimos, contido nas páginas 15 a 27 do citado n.° 13 de
11
O Título VI, "Dos Corpos Universitários", contém apenas dois capítulos
— "Do Corpo Docente", com 11 artigos, e "Do Corpo Discente", com 2 artigos;
o primeiro trata da carreira do magistério e dos cargos que esta compreende.
170 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
12
" . . . Em nenhuma escola de ensino superior... a ninguém assiste direito
para ser provido em qualquer de suas cátedras sem que se submeta... a con-
curso... Esse concurso é que dá ingresso... aos professôres catedráticos. Professor
sem concurso poderá ser assistente, colaborador ou o que possa ser. Professor
catedrático, não... Em face do art. 168. n.° VI, da Constituição Federal... não
pode... dispensar quaisquer escolas... de prover as suas cátedras, senão por con-
curso... ninguém... poderá ser professor catedrático... sem ser aprovado em
concurso... Não pode ser negada a vitaliciedade a quem, por concurso... tenha
sido provido em cadeira do ensino superior"...
13
Constituição, art. 96: "É vedado ao juiz: I — exercer... qualquer outra
função pública, salvo o magistério secundário ou superior"... Art. 185: "É vedada
a acumulação... exceto a prevista no art. 96, n.° I, e a de dois cargos de magis-
tério ou a de um destes com outro técnico"...
14
Decreto-lei n.° 1.212, de 174-1939. modificado pelo Decreto-lei n.° 7.781,
de 26-7-1945. que deu ao art. 15 a seguinte redação: "Art. 15. As cadeiras d e . . .
serão providas por extranumerário mensalista. admitido nos têrmos da legislação
vigente. — Parágrafo único. Os professôres admitidos na forma dêste artigo con-
sideram-se investidos das mesmas atribuições conferidas aos professôres catedráticos
em geral".
15
Lei n.° 3.780, de 12-7-1960.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
10
"Nenhum corpo docente pode ser estruturado sem que no alo constitutivo
da entidade universitária fiquem claramente previstos os seguintes pressupostos:
a) criação de cátedras, ou seja, de cargos docentes fundamentais, destinados a serem
ocupados por professôres ein caráter vitalício, com liberdade de pesquisa e ensino;
h) provimento... mediante c o n c u r s o ; . . . c) caráter provisório do exercício da
cátedra por quem não se tenha tornado titular graças a concurso; d) obrigatoriedade
de concurso'"... (Os grifos não são do original).
17
" . . . como sejam: a) garantia de vitaliciedade aos membros do corpo
d o c e n t e . . . a fim de serem postos a cobro de perseguições políticas e ideológicas,
em salvaguarda da liberdade de cátedra;... b) obrigatoriedade de concurso...
evitando-se as escoliias de mero favor ou simpatia; c) . . . em se tratando de
entidades mantidas pelos cofres p ú b l i c o s . . . a necessidade de uma forma de seleção
que atenda ao princípio constitucional segundo o qual "os cargos públicos são
acessíveis a todos os brasileiros". (Os grifos não são do original.)
18
Alaim de Almeida Carneiro, em trabalho publicado na Revista de Direito
Administrativo, vol. 13, 1948, pp. 507-313 ("Os funcionários públicos e a Consti-
tuição — art. 187"), mostra que a associação cátedra-vitaliciedade. necessária no
passado e cabível ainda no regime constitucional de 1934, não mais se compreende
a partir da carta de 1937, que institui a estabilidade dos funcionários. Escreve êle:
"A nova Constituição, e n t r e t a n t o . . . reproduziu os preceitos referentes à estabili-
dade. insertos no diploma de 1937, e os de vitaliciedade de 1934! Por certo, os
defensores da prerrogativa antidemocrática reproduzirão os argumentos repelidos
por Bentham: a vitaliciedade é essencial para assegurar a independência da cátedra.
A isso se poderá responder que, com o mesmo argumento, seria de conceder a
vitaliciedade a inúmehos outros servidores públicos por cuja independência fun-
cional não é menos necessário zelar. Acresce considerar que, com esse objetivo,
a medida seria inoperante. De que vale a conservação do cargo sem a inamovibili-
dade, a irredutividade de vencimentos e a imunidade disciplinar?"
172 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
10
Já tivemos oportunidade de citar, em reunião da Câmara de Ensino Su-
perior do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, o Parecer n.° 393/49, do
antigo Conselho Nacional de Educação, assinado em 14-1049 pelos conselheiros
Cesário de Andrade, relator, A. Almeida Júnior e João Carlos Machado: "O con-
ceito de liberdade sempre foi relativo, nunca absoluto, de sorte que o legislador
nunca o teria tomado além de sua interpretação jurídica, que a tem como um
bem, que deve ser gozado por todos nos limites traçados pelo direito alheio. Não
pode ser amparada a liberdade quando o seu uso fere os princípios jurídicos esta-
belecidos e causa, por conseguinte, um mal, quer individual, quer coletivo. Não
seria, portanto, dado ao professor, em nome da liberdade, o direito de servir-se de
sua cátedra para pregar ideologias não só contrárias às instituições políticas do
país, como ofensivas à moral social. Abusa também, da liberdade, o professor, que
pretende subjugar os seus alunos a seu exclusivo modo de pensar, porque a liber-
dade que lhe é assegurada é a de adotar os métodos pedagógicos que lhe pareçam
mais convenientes, e esposar, na matéria que ensina, doutrinas científicas de sua
convicção". (In, Carlos Souza Neves, Ensino Superior no Brasil, vol. IV, p. 218) .
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
20
Por exemplo, de instrutor a professor-assistente; dêste, a professor asso-
ciado; dêste, a professor pleno.
21
Oswaldo Aranha Bandeira de Melo, na Revista de Direito Administrativo,
vol. 22, out.-dez.-1950, pp. 507-513, cita a lição de Pontes de Miranda (Comentários
à Constituição de 1946, vol. IV, p. 148), segundo a qual o texto constitucional
mencionado é de aplicação aos funcionários estaduais e municipais.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
22
Constituição de 1934, art. 158: "É vedado a dispensa do concurso de títulos
e provas no provimento dos cargos do magistério oficial;... § 1.°. Podem, todavia,
ser contratados, por tempo certo, professôres de nomeada, nacionais e estrangeiros;
§ 2.°. Aos professôres nomeados por concurso para os institutos oficiais cabem as
garantias de vitaliciedade nos cargos"...
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 175
23
Parece o ilustre jurista admitir, por um momento, que a Constituição de
1946 não vai ao extremo de exigir o concurso para todos os cargos do magistério
oficial.
Vai além o Prof. Barros Monteiro: "Uma vez que a Constituição exige a
presença de todos os elementos colocados no mesmo pé de igualdade, não é pos-
sível condescender-se com a dispensa de um deles, como o da liberdade de cátedra,
ou o de provimento mediante concurso, ou o de prelecionamento por professôres
não catedráticos". E diz ainda: " . . . seria uma burla o processo de investimento
que, para fugir à exigência do concurso, desse à cátedra ou a seu titular denomi-
nações diferentes das usuais"... Na parte final de seu parecer: "Não posso aderir
à idéia de que às Universidades organizadas sob a forma de Fundações, às Univer-
sidades Livres e às Escolas superiores isoladas, assistirá o direito de optar entre
instituir, ou não o cargo de professor catedrático, tornando-se obrigatório o concurso
apenas se afirmativa fôr a solução. Conquanto a Lei de Diretrizes... seja realmente
omissa sôbre a exigência do concurso... aí está o texto constitucional, na sua ampli-
tude e clareza, a compreender indistintamente todas as escolas superiores federais
ou estaduais, públicas ou particulares, ainda que organizadas sob a forma de
fundações".
4 — 34 901
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
25
Edmundo Lins Neto, Consultor Jurídico do Ministério da Educação e Cul-
tura, em Parecer n.° 537/950, de 154-1950, escreveu: "Estabelece a Constituição
que "para o provimento das cátedras exigir-se-á c o n c u r s o " . . . Quer isto dizer que
as cátedras só podem ser providas, isto é, providas definitivamente, por concurso
de títulos e provas. Tanto é assim, que a parte final do artigo fala em "vitalicie-
dade" dos professores admitidos por concurso de títulos e provas, prevendo, dêste
modo, a contrario sensu, a possibilidade da admissão de outras espécies de pro-
fessôres (interinos, contratados, etc.) que não sejam vitalícios, que não ocupem,
em definitivo, a cátedra". (Carlos Souza Neves, op. cit., vol. 4, p. 319.)
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
e D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l ) , c o n s t i t u i n d o , c a d a u m a d a s disciplinas, o b j e t o
d e u m a cadeira e s p e c i a l , e c r i a n d o - s e , e m c o n s e q ü ê n c i a , o s r e s p e c t i v o s
cargos d e p r o f e s s o r c a t e d r á t i c o .
Volta-se, assim, a e m p r e g a r c o m o sinônimos os vocábulos " m a t é r i a
e disciplina".
Na Escola P o l i t é c n i c a , d i s p u n h a o D e c r e t o n.° 19.852, de 1931,
s e r i a m p r o v i d a s p o r p r o f e s s ô r e s c a t e d r á t i c o s a s cadeiras e n u m e r a d a s
n o a r t . 136 ( e n t r e a s q u a i s , C á l c u l o i n f i n i t e s i m a l , F í s i c a , p r i m e i r a ca-
deira, Física, segunda c a d e i r a ) , acrescentando-se que a " m a t é r i a " de
c a d a cadeira o u a u l a c o n s t a r i a d e p r o g r a m a a p r o v a d o ( a r t . 139) .
Neste caso, "matéria' é o conteúdo da cadeira.
O emprego indistinto de "cadeira" ou "disciplina" ressurge no
R e g u l a m e n t o da Escola Politécnica (Decreto n.° 20.865, de 28-12-1931),
s e g u n d o o q u a l p o d e m os professôres c o n t r a t a d o s ser i n c u m b i d o s da
r e g ê n c i a do e n s i n o de q u a l q u e r d i s c i p l i n a (art. 141) .
A equivalência absoluta dos vocábulos "cadeira" e " m a t é r i a " é
encontrada, t a m b é m no Decreto n.° 19.852, em outros preceitos.32
N ã o s o m e n t e nos citados d e c r e t o s de 1931 e nos q u e os modifi-
c a r a m , c o m o t a m b é m em m u i t o s outros e n c o n t r a m o s o e m p r e g o indis-
c r i m i n a d o dos três têrmos — " c a d e i r a " , " m a t é r i a " , "disciplina", ora
com extensão maior, quase eqüivalendo ao que n o r m a l m e n t e se contém
n u m departamento de ensino, ora no mais restrito sentido, correspon-
dendo a uma parte delimitada de um ramo de uma ciência.33
32
"Art. 225. Além do estudo das cadeiras... os alunos realizarão... excursões
e visitas que interessem à natureza dos cursos que seguirem... Art. 237. Consti-
tuem o Curso de Pintura e Escultura as seguintes cadeiras: . . . C r í t i c a . . . Gra-
v u r a " . . . Também no Decreto n.° 22.897, de 6-7-1933, que o modificou na parte
referente à Escola Nacional de Belas Artes: '"A matéria, cujo ensino será minis-
trado nas cadeiras de qualquer dos c u r s o s . . . deverá constar de um programa revisto
e a p r o v a d o " . . . (art. 1.°, § 6 ) . "As cadeiras... s e r ã o . . . t e ó r i c a s . . . teórico-prá-
t i c a s . . . p r á t i c a s " . . . (art. 2.°). "Os programas de ensino das cadeiras... (ficarão)
sujeitos... às seguintes delimitações de assuntos e distribuição de matérias: I —
Matemática superior: Geometria analítica, Cálculo diferencial, Cálculo integral,
Nações de cálculo gráfico" (art. 7.°j.
33
Citaremos apenas alguns: a) Decreto-lei n.° 7.988, de 22-9-1945, sôbre o
ensino de ciências econômicas e de ciências contábeis e atuariais, dá o nome de
"disciplina" a "Complementos de matemática" e a "História econômica", por
exemplo. Mas a Lei n.º 1.401, de 31-7-1951, modificou-o e dispõe que "A atual
cadeira de História Econômica passará a denominar-se História Econômica Geral
e do Brasil e deverá ser ministrada como disciplina autônoma"; b) Decreto-lei
n.° 9.617, de 28-8-1946 e Decreto n.° 21.964, de 18-10-1946. o primeiro criando cargos
de professor catedrático, o segundo esclarecendo que aquêles cargos correspondem
às cadeiras que enumera (ex: Mecânica Racional, Grafo-Estatística) ; c) a Lei
n.° 775, de 6-8-1949 e o Decreto n.° 27.426, de 14-11-1949, que a regulamentou,
ambos relativos ao ensino da enfermagem, que compreende diversas disciplinas.
umas privativas e outras não, sendo a Congregação constituída, entre outros, pelos
professôres das cadeiras privativas e por representantes da9 cadeiras não priva-
tivas; d) finalmente, a Lei n.° 2.311, de 3-9-1954, que instituiu a cadeira de "Etno-
grafia Brasileira e Língua T u p i " e determinou que até a criação dos respectivos
cargos fossem os lugares de professôres dessa disciplina exercidos mediante contrato.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
a) p o d e h a v e r m a i s d e unia disciplina e m u m a s ó c a d e i r a . 3 4
h) p o d e h a v e r u m a única disciplina n u m a s ó c á t e d r a ; 3 5
c) disciplina é a m a t é r i a l e c i o n a d a . 3 8
4. Consultores j u r í d i c o s t ê m sido c h a m a d o s p a r a o p i n a r a r e s p e i t o .
E n t r e o u t r o s p a r e c e r e s se d e s t a c a m :
a) o do D r . E d m u n d o L i n s Neto, do M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o ,
c o n t r á r i o ã p r e t e n s ã o de professor da F a c u l d a d e de Ciências Econô-
micas da U n i v e r s i d a d e do R i o G r a n d e do Sul, de o c u p a r dois cargos
p o r q u e d e s d o b r a d a sua c a d e i r a ; 3 7
b) o do D r . Carlos Medeiros Silva, Consultor G e r a l da R e p ú b l i c a ,
sôbre o exercício de d u a s cadeiras na m e s m a F a c u l d a d e , favorável por-
q u e houve d e s d o b r a m e n t o . 3 8
5. Cabe t a m b é m a transcrição de trechos do j u l g a m e n t o , p e l o T r i -
b u n a l F e d e r a l de Recursos, do m a n d a d o de segurança n.° 1.292, do R i o
G r a n d e d o Sul, sôbre a c u m u l a ç ã o d e c á t e d r a s .
Segundo o M i n i s t r o A r t u r M a r i n h o , r e l a t o r , o i m p e t r a n t e era p r o -
fessor da c a d e i r a de "Ciência das F i n a n ç a s e P o l í t i c a F i n a n c e i r a " na
34
Parecer n.° 224/1949: " . . . p a r e c e . . . não existir dúvida sôbre a legalidade
da reunião de mais de uma disciplina em uma só cadeira... Quanto ao fato de
pertencerem tais cadeiras a cursos diferentes, também não parece haver qualquer
dúvida, pois numerosos são os exemplos que podem ser citados, a começar pela
própria Escola Nacional de Engenharia, onde cadeiras nas condições acima men-
cionadas são ensinadas em cursos diferentes (civil, eletricidade, industrial) . In
Carlos Souza Neves, Ensino Superior no Brasil, 1954, vol. 4.
35
Parecer n.° 321/40: "A disciplina "Patologia Cirúrgica" figurava... entre
as obrigatórias. Havendo o titular dessa cátedra... obtido sua disponibilidade,
deliberou a Congregação extinguir o ensino daquela d i s c i p l i n a " . . . In Carlos
Souza Neves, op. e loc. cit.
36
Parecer n.° 303/50: " D e acordo com o Parecer n.° 15/47 entende-se que
"disciplina é a matéria lecionada, podendo ser ministrado o conhecimento de que
ela é objeto em uma ou muis cadeiras". Destarte, quem faz o concurso para uma
disciplina pode ser provido indistintamente em qualquer das cadeiras em que ela
é ensinada. Por isso é que a lei (§ 4.° do art. 3.° da Lei 444) permite que se
realize um único concurso para provimento de mais de uma cadeira da mesma
disciplina") . in C. Souza Neves, op. e loc. cit.
Parecer n.° 12/1954: " . . . Em virtude de lei estadual... à cátedra do inte-
ressado, que continuou una, imposta foi também a obrigação de lecionar, a mais,
"Legislação Tributária e Fiscal". Foi imais um ônus que se impôs a um só cargo.
Com a federalização, foi essa cátedra (Prática de Processo Civil e Comercial) des-
dobrada. .. (grifamos) .
' Parecer de 19-7-1951, sôbre requerimento de professor de Faculdade de
Odontologia e Farmácia, em que pedia nomeação para a cátedra de "Patologia e
Terapêutica, 2. a parte", já ocupando a cátedra de "Patologia e Terapêutica, l. a parte:
" . . . Em face do art. 185 da Constituição, não há acumulação proibida no exercício
simultâneo da mesma disciplina, quando desdobrada em mais de uma cátedra e
ministrada em séries diferentes" ( C . Souza Neves, op. loc. cit.).
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
CÁTEDRA E DEPARTAMENTO
42
"Departamento é a unidade didático-científico-administrativa constituída pela
reunião de cátedras afins e de suas disciplinas e demais serviços auxiliares".
43
Rudolph P. Atcon, op. cit. Enquanto que nesse sentido o departamento é
"a Cooperative venture" e nele todos os integrantes "are all associated and inter-
dependem", na América Latina o departamento é uma aliança de lordes soberanos,
onde cada uma das matérias, "loosely connected... is tauglit by an independem
"catedrático". Little can be done collectively to eliminate unnecessary duplication
or undesirable overlap".
44
Decreto estadual n.° 6.283, de 25-1-1934, art. 47, letra " c " : "criação de
cursos comuns, que atendam às necessidades de alunos de diferentes Faculdades,
Escolas ou Institutos".
45
Estatutos da Universidade de São Paulo (de julho 1934): "Art. 110. É
permitido que a mesma cadeira ou parte dela sob a regência do mesmo professor
seja comuum a mais de um Instituto Universitário. § 1.° Quando a mesma matéria,
ou parte dela, fôr lecionada separadamente, em mais de um instituto, e houver
equivalência de programa e de grau, é facultado aos alunos fazer o curso em
qualquer destes, mediante aquiescência do Conselho Universitário, ouvido o Con-
selho Técnico-Administrativo do Instituto onde o aluno preferir fazer o curso.
§ 2.° Vagando, em um Instituto, cadeira que tenha correspondente em outro, o
Conselho Universitário poderá propor a extinção de uma delas, ouvidas as respec-
tivas Congregações".
46
Decreto estadual n.° 40.346, de 7-7-1962: "Art. 44. São órgãos da admi-
nistração dos estabelecimentos de ensino superior: . . . II — O Conselho Técnico-
Administrativo (C.T.A.) poderá ser substituído por um Conselho Departamental,
constituído por professôres catedráticos eleitos pela Congregação, dentre os repre-
senantes de cada Departamento. Art. 60. Os Departamentos constituem-se de
cátedrasou disciplinas autônomas, afins. Art. 61. Por proposta das respectivas
Congregações, poderão constituir-se em Departamentos, nos Institutos Universi-
tários, cátedras e disciplinas autônomas, afins, de diversos estabelecimentos de
ensino superior".
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
E s t á , assim, a p a r e l h a d a a U n i v e r s i d a d e , p a r a e v i t a r q u e n e l a se
c o n f u n d a a a u t o n o m i a de cada I n s t i t u t o com desvinculação t o t a l dos
respectivos grupos p r o f i s s i o n a i s . 4 ' Basta a adoção da m e d i d a preconi-
zada no art. 61 dos Estatutos da U S P , p a r a se i m p l a n t a r o sistema de-
p a r t a m e n t a l 4 8 q u e a i n d a m a i s a d e q u a d a m e n t e está definido do Regi-
m e n t o da F a c u l d a d e do Ciências Médicas dos H o s p i t a i s da S a n t a Casa
de Misericórdia de São P a u l o . 4 9 a p r o v a d o pelo Consellio F e d e r a l de
E d u c a ç ã o em 2-3-1963. 5 0
47
Atcon, op. cit., dá o exemplo de uma Escola de Agronomia, onde se cria
um "departamento" de biologia, com as cadeiras tradicionais de biologia animal,
biologia vegetal, botânica e zoologia. Aparentemente acertada a orientação, na
realidade o departamento trata daqueles assuntos e orienta seus trabalhos exclusiva-
mente para a preparação de um grupo de estudantes — os de agronomia — e não
para o desenvolvimento daqueles campos da ciência independentemente de sua
aplicação à agronomia.
48
Êste, ainda recentemente, foi objeto de consideração de parte da Comissão
Especial para Promover a Programação e o Desenvolvimento da Educação, da
Ciência e da Cultura na América Latina ("La educación superior en America
Latina", publicação da Organização dos Estados Americanos, por Ismael Rodriguez
Bou, Washington, janeiro de 1963). Destacamos desse estudo: Las facultades, en
su mayoria, son dentro de las próprias universidades, lo que en sus origines se
decia de las universidades, un imperium in império. No existe un concepto integral
del funcionamiento universitário... Este deficiente sistema de organización trae
consecuencias adversas a las instituciones: se repiten cursos, se duplican las escasas
facilidades de laboratório, de equipo, de professores; surgen y se fomentan rivali-
dades improduetivas". Entre diversos trabalhos citados na publicação, destaca-se o
de T. Keith Glennan, Ray E. Bolz e Rex Hopper, "Engineering Education in Latin
America", no qual os autores insistem que não basta a união física dos institutos
de uma universidade: "La localization y operación de las distintas facultades dentro
de la propia Universidade en forma que cada una de ellas sea autosuficiente
atui en las nuevas Ciudades Universitárias, anula lo que a nuestro juicio
constituye el concepto fundamental de una Universidad — un grupo de "scholars"
y educadores que se comunican y trabajan juntos. Los esfuerzos pará
congregar fisicamente las varias facultades de una Universidad no perecen
estar acompanados por una integración de los cuerpos docentes, que asegure
el desarrolo vigoroso en áreas de interés mutuo, esto es. matemáticas, fisica, e t c . "
49
"Art. 7.° O Departamento deverá ser entendido como uma reunião de
disciplinas afins e formado por uma equipe de docentes integrados num plano que
apresente unidade didático-científico-adminislrativa de ação e pensamento; § 1.° Os
docentes de cada Departamento dividirão entre si, por deliberação coletiva, as
tarefas do Departamento".
50
In Documenta 14/1963, p. 2-1. Disse o D r . Maurício Rocha e Silva, conse-
lheiro relator: "Não creio que se possa encontrar uma definição mais feliz da
essência de um D e p a r t a m e n t o " . . .
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 185
EM CONCLUSÃO
56
Parecer n.° 307/63, Cons. Fed. Educ, 3-10-63, Documenta n.° 20, p. 10.
57
"Normas sôbre currículo", C.F.E., Documenta n.° 8, p. 87.
58
Já observamos que há "cadeiras" que abrangem diversas disciplinas, como
a de "Matemática superior: Geometria analítica, Cálculo diferencial, Cálculo inte-
gral, Noções de cálculo gráfico". Em memorial apresentado há alguns meses ao
Conselho Estadual de Educação de São Paulo, o Professor Lucien Lison, diretor
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, se refere ao con-
traste entre o moderno conceito de "departamento" e o sistema ainda vigente
entre nós, que permite a existência de "cátedras" tais como "Complementos de
matemática elementar", "Complementos de Física" e "Introdução à História". Ou,
como já mencionamos, numa Faculdade de Farmácia e Odontologia, uma cátedra
de "Patologia e Terapêutica, l. a parte" e outra cátedra de "Patologia e Terapêu-
tica, 2. a parte".
59
Correspondente ao "full professor". Expressão empregada no Instituto Tec-
nológico de Aeronáutica, escola de engenharia que funciona desde 1947 sem nenhum
professor catedrático, e que desde 1950 se organiza em departamentos correspon-
dentes aos grandes setores da engenharia e das ciências básicas.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
60
Em abril de 1962, a Congregação daquele Instituto aprovou trabalho elabo-
rado por unia sua comissão especial, para encaminhamento ao Presidente do Con-
selho Federal de Educação, em resposta a circular enviada pelo CFE sôbre a estru-
turação do currículo. À consulta sôbre " d e que modo a escola julgaria conveniente
distribuir em cátedras e disciplinas as matérias de um curso, a fim de que fossem
asseguradas a flexibilidade e inter-relação das matérias componentes do currículo",
respondeu-se:
. . . '"A s o l u ç ã o . . . é a do funcionamento da escola em base departamental, em
que grandes setores da engenharia e das ciências básicas estão a cargo de departa-
m e n t o s . . . cujas funções se resumem no seguinte:
1) reunião de um grupo de professôres... que se mantêm atualizados através
da pesquisa e da atividade de pós-graduação...
2) manutenção de laboratórios... para o desenvolvimento das atividades de
pesquisa e ensino nos níveis de pré e pós-graduação;
3) ministração dos vários cursos, distribuídos entre os professôres do depar-
tamento. . . ;
4) recrutamento de recém-formados, e sua preparação e desenvolvimento na
carreira acadêmica através de estudos pós-graduados e de pesquisas...
Garante-se, assim, um funcionamento dinâmico, envolutivo e coordenado em
que, a par da continuidade das atividades departamentais, se verifica contínua revi-
talização do corpo docente.. . e contínua renovação do currículo pelo afluxo de
idéias novas. Não há ligação indissolúvel entre uni professor e a matéria a seu
cargo, eliminando-se, assim, o interesse da manutenção de uma determinada dis-
ciplina". ..
Documentação
5 — 34 901
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
pará a vida pública e que anseiam Não terminarei sem vos assegu-
exercer a profissão difícil de se- rar que tudo quando disse está
rem homens. Confiança tanto ungido pela emoção de vos falar
mais necessária quando antevemos dêste recanto da Pátria comum e
as imensas responsabilidades que que, nas minhas mais longínquas
assumiro ao substituir os que têm recordações, está sempre marcado
hoje os encargos do Govêrno e as pela visão de pessoas, de lugares,
tarefas do desenvolvimento do e acontecimentos, que se ligam
País, do bem-estar do povo e da profundamente à admirável terra
paz social. cearense".
SALARÍO-EDUCAÇÃO PARÁ O ENSINO PRIMÁRIO
I. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
gados adultos será cumprida na Por sua vez, a aplicação dos re-
forma da legislação estadual. cursos, fazendo-se através da am-
17. Contando-se, em 1962, em pliação dos serviços públicos de
4.800.960 o número de segurados ensino, não implicará, igualmente,
ativos das diversas instituições da na necessidade de criação de no-
Previdência Social e dado que o vos órgãos da administração esco-
salário-mínimo mensal médio vi- lar. Nesses têrmos, a totalidade
gente nas diversas regiões corres- dos recursos será aplicada no de-
ponde a Cr$ 36.000,00, a arreca- senvolvimento dos próprios servi-
dação anual do salário-educação, ços de ensino.
calculada à base dêsses dados, 20. A contribuição percentual
orçaria em (Cr$ 36.000,00 x 0,02 devida pelas empresas não incidirá
x 4.800.960 x 12 = sôbre o total da respectiva folha
Cr$ 41.480.294.400,00). de pagamento, mas sôbre o valor
Em virtude do aumento do resultante da multiplicação do
número de filiados aos Institutos número total de seus empregados
de Previdência Social, que se vêm pelo salário-mínimo local. De
fazendo nestes últimos anos, à ra- acordo com dados que figuram em
zão de cerca de 300.000 por ano, estudo publicado por Conjuntura
não será exagerado estimar-se que Econômica — dezembro de 1963
a arrecadação anual do salário- — págs. 54/56, pode-se calcular
-educação atingiria cerca de cin- que a incidência do salário-educa-
qüenta bilhões de cruzeiros. ção sôbre a folha de pagamento
A arrecadação prevista ultrapas- do pessoal das empresas será em
saria a totalidade dos recursos que, média de 1,33%, oscilando entre os
no presente Exercício, nos têrmos limites de 0,72% a 2%.
da Lei de Diretrizes e Bases (ar- 2 1 . Note-se, Outrossim, que as
tigo 92 e §§), caberia ao Fundo medidas preconizadas pelo ante-
Nacional do Ensino Primário. projeto não acarretarão ônus no-
18. Ainda com base nas esti- vos às empresas que empreguem
mativas atuariais já referidas, po- mais de cem pessoas, pois, estas,
de-se admitir que a contribuição obrigadas pelo imperativo consti-
das empresas, prestada pela forma tucional, já vêm concorrendo, em-
estabelecida pelo anteprojeto, en- bora geralmente sem plano, atra-
sejará anualmente recursos para o vés de formas várias e de provi-
custeio total do ensino primário dências episódicas, para a manu-
de mais de 1.500.000 alunos, ele- tenção do ensino primário.
vando praticamente de 30% o 22. Cabe, ainda, observar que
número de crianças de 7 a 11 anos as medidas determinadas pelo an-
matriculadas atualmente. teprojeto para assegurar a partici-
19. Cumpre ressaltar que, em pação geral das empresas no
face da forma prevista para arre- custeio do ensino primário dos fi-
cadação dos recursos, a instituição lhos de seus servidores consultam
do salário-educação far-se-á sem os princípios de justiça distributiva
a necessidade de criação de qual- e atendem, em medida mais ade-
quer organismo novo e sem a quada, às prementes necessidades
nomeação de nenhum funcionário. da educação nacional.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
23. Não será, também, ocioso nistério, tendo recebido não ape-
lembrar que às próprias empresas nas o apoio, mas, também, a valio-
reverterão, afinal, os frutos do sa colaboração dos ilustres mem-
surto de desenvolvimento que o bros que estiveram presentes aos
salário-educação irá imprimir aos trabalhos: Prof. Jucundino Fur-
efetivos do ensino primário, pois, tado — Chefe do Gabinete, Prof.
como ninguém contesta, a educa- Leônidas Sobrino Porto — Diretor
ção fundamental, pela qualificação Geral do Departamento Nacional
do trabalho, repercute sempre sô- de Educação, Prof. Gildásio Ama-
bre a produtividade e, pela eleva- do — Diretor do Ensino Secundá-
ção do padrão de extensas cama- rio, Prof. Armando Hildebrand —
das da população, não deixa ja- Diretor do Ensino Industrial e
mais de concorrer para o fomento Prof. Lafayette Belford Garcia —
do consumo. Diretor do Ensino Comercial.
24. Devemos, finalmente, res- Aproveito a oportunidade pa-
saltar que, consoante as diretrizes ra apresentar a Vossa Excelência
firmadas por Vossa Excelência, o protestos de estima e alta conside-
anteprojeto de lei foi examinado ração.
pela Comissão de Coordenação CARLOS PASQUALE
Técnico-Administrativa dêste Mi- Diretor do INEP
omissão de elementos fundamentais não damente para um órgão novo das possi-
computados ainda pela estatística, uso bilidades e recursos do Conselho Esta-
de estimativas grosseiras para a obten- dual de Educação.
ção da população escolarizável), que Não podemos, porém, considerá-lo
terão afetado seus resultados, provavel- inexeqüível, quando nos lembramos que
mente com significativa margem de o Estado de São Paulo já o realizou uma
erro, foi utilizado, apesar de tudo, por vez, com pleno êxito.
ser a única fonte disponível sôbre o Ocorreu isso em 1920, quando o Es-
assunto e cujos dados resultantes ser- tado contava apenas 4,5 milhões de
viriam, pelo menos, como ponto de habitantes.
partida e de referência inicial para no- O Recenseamento Escolar, então rea-
vos e mais seguros estudos". lizado, visava saber, "com segurança e
Confrontando-se os resultados do le- verdade":
vantamento do déficit de salas de aula
a) quantas eram as crianças de 6
no Estado de São Paulo feito pelo INEP a 12 anos analfabetas; b) onde se
com o realizado pelo Fundo Estadual achavam elas; c) quais as condições
de Construções Escolares, verifica-se dêsses locais.
que a margem de que aquêles resultados
Por uma feliz coincidência para os
foram afetados, em virtude provavel-
bons resultados dêste primeiro encontro
mente da omissão de elementos funda-
de Conselhos de Educação, a chefia do
mentais, de que pudemos dispor na Recenseamento Escolar Paulista de 1920
esfera estadual, é realmente muito foi exercida pelo ilustre relator do tema
grande, atingindo freqüentemente cerca desta sessão, o eminente Conselheiro
de 100% e até mais dos valores apu- Almeida Júnior, que nos poderá prestar
rados . seu autorizado depoimento sôbre o tra-
A promoção da realização do Recen- balho, que, não obstante a precariedade
seamento Escolar do Estado não foge dos meios de comunicação de que o
à competência do Conselho de Edu- Estado dispunha àquela época, foi rea-
cação de São Paulo, pois a êste in- lizado em apenas 81 dias, pois tal foi
cumbe, nos têrmos da lei que o insti- o espaço de tempo que decorreu entre
tuiu, "promover e realizar estudos sôbre a ordem de execução do serviço (18 de
o sistema estadual de ensino, adotando junho) e a publicação dos resultados
e propondo medidas que visem à sua (7 de setembro).
expansão e aperfeiçoamento (art. 4.°, Nos têrmos da Resolução aprovada
XV)". pelo Conselho Estadual de Educação
Por sua vez, as Normas Regimentais (20-10-1963), o Recenseamento Escolar
do Conselho cometem à Comissão de do Estado deverá ser realizado no iní-
Elaboração do Plano Estadual de Edu- cio do próximo ano letivo, segundo bases
cação: "a) realizar, reunir e coordenar e critérios a serem sugeridos pela Co-
estudos e levantamentos relativos à de- missão de Elaboração do Plano Estadual
finição de política educacional, fixação de Educação.
de objetivos e determinação de priori- Afigura-se-nos que os objetivos do
dades no âmbito do sistema estadual de próximo Recenseamento Escolar pode-
ensino" (art. 2 2 ) . rão ser um pouco mais ambiciosos do
A realização do Recenseamento Es- que os de 1920, a fim de que o levan-
colar pode parecer obra temerária, nota- tamento abranja as áreas de ensino
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
* Idem, p. 77 e seguintes.
** Idem. pp. 155 e 156.
6 — 34 901
208 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
vez em ação, você deve seguir as ins- por setor os logradouros a serem recen-
truções dêste manual sem interpreta- seados conforme consta da folha des-
ções particulares ou modificações pes- tinada à discriminação dos locais;
soais . — o 3.° número designa os domicílios
recenseados e deverá ser atribuído de
PREENCHIMENTO DO acordo com a ordem em que fôr rea-
FORMULÁRIO
lizada a coleta dos dados. Êste número
O formulário deve ser preenchido de ordem deve ser idêntico ao consig-
com clareza, pelo rccenseador, com base nado na folha de controle. Inicie a nu-
nas informações prestadas pelo pai ou meração com 001 correspondente ao
responsável. Em hipótese alguma, po- primeiro domicílio recenseado e prossi-
derá ser deixado na residência do in- ga utilizando sempre três algarismos
formante . (por exemplo, o 4.° domicílio visitado
Preencha o formulário com letra le- receberá o número 004; o 25.° domicílio
gível. Lembre-se de que qualquer ine- receberá o número 025, etc.).
xatidão ou falha poderá vir a anular
os resultados de seu esforço. Para maior Observe no formulário os seguintes
clareza, utilize caneta esferográfica. quesitos:
Todas as informações devem ser re-
gistradas nos espaços reservados para • RESIDÊNCIA
esse fim. Marque, portanto, com um X Registre o nome do local, especifi-
apenas os quadrinhos correspondentes cando se é rua, avenida, travessa, largo,
às informações obtidas. Complemente, e t c , bem como o número do prédio, da
se necessário, com outras informações
dependência, o bairro e o número do
escritas por extenso nas linhas adequa-
telefone, se houver.
das.
Procure obter todas as informações EXEMPLO: Rua Conselheiro Lafayette
solicitadas. Não deixe em branco ne- n.° 29, apt. 402, Copacabana -
nhum tópico. Se de todo fôr impossível Tel. 27-2292.
obter determinada informação, assinale
o fato nas linhas destinadas às obser- Na hipótese de não existirem estes
vações . dados, procure registrar indicações que
Mesmo que alguma resposta lhe pa- permitam localizar o domicílio da me-
Teça inexata ou deficiente, não a altere lhor forma possível.
por conta própria. Procure obter do
informante a necessária complementação. EXEMPLO: Morro do Cantagalo s/n.°
— Copacabana.
NUMERAÇÃO DO
FORMULÁRIO Não existindo telefone na residência,
especifique o número de outro aparelho
O formulário deverá ser numerado
em que pode ser encontrado o respon-
pelo recenseador, obedecendo às se-
sável (vizinho, local de trabalho, e t c . ) .
guintes recomendações:
Se de todo fôr impossível apurá-lo, faça
— o 1.º número corresponderá ao
um traço horizontal indicando ausência.
Distrito Educacional;
— o 2.° número corresponderá ao se- EXEMPLO: Avenida do Comércio,
tor que lhe foi confiado. Entendem-se n.° 33, casa II.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
F O L H A DE CONTROLE DISTRIBUIÇÃO E E N T R E G A DO
MATERIAL DO CENSO
UTILIZAÇÃO DA FOLHA DE
CONTROLE Os formulários e folhas de controle
serão distribuídos pelo Departamento
Registre, no espaço destinado a de Educação Primária aos Diretores de
"logradouro", além do nome ou indi- Divisão de Educação das Regiões Ad-
cação correspondente à discriminação ministrativas e, por estes, aos Chefes dos
do Setor, se é zona urbana ou não, Distritos Educacionais que lhes são su-
favela, morro urbanizado ou não. bordinados e aos quais compete realizar
a distribuição do material aos recensea-
A l. a coluna corresponde ao "número dores, assim como a atribuição de
de o r d e m " . Inicie a numeração com setores.
001 no 1.° domicílio visitado e siga as-
O material do censo consta do se-
sim até o final do trabalho. Não in- guinte:
terropa esta seqüência mesmo que mude
de logradouro, pois assim teremos auto- a) Formulário destinado à coleta do
maticamente as informações necessárias censo;
para a avaliação do seu trabalho. b) Folha de controle;
a
A 2. coluna corresponde ao "número c) Folha contendo a distribuição
do domicílio e dependência". Anote as dos logradouros onde cada equi-
indicações devidas e, em casos especiais pe de coletores irá trabalhar e
da ausência de número, outra informa- que delimita o setor a seu cargo.
ção que possibilite a localização, como:
próximo ao número, rua ou km tal, etc. Uma vez terminada a coleta, os dados
deverão ser entregues à Chefia do Dis-
A 3 . a coluna corresponde ao "nome trito Educacional que fará o controle
do informante". Quando o informante do material e a triagem das fichas de
não fôr responsável pelo domicílio, re- crianças matriculadas e não matricula-
gistre a condição do mesmo. Exemplo: das.
empregada, filho, vizinho ou outra no
gênero. III - PROVIDÊNCIAS INICIAIS DO
a
A 4. coluna diz respeito ao total das MINISTÉRIO
crianças de 5 a 14 anos recenseados
Em exposição de motivos ao Ministro
no domicílio. Flávio Lacerda, o Prof. Carlos Pasquale
fundamentou a oportunidade da reali-
A 5. a coluna se destina a anotar os
zação do Censo, havendo então o Minis-
números dos questionários utilizados. tro oficiado ao Presidente do IBGE pro-
Exemplo: 0 0 1 / 4 — no caso de serem pondo o convênio. Seguem esses do-
4 crianças. cumentos:
A T O INSTITUCIONAL E COMPETÊNCIA DO C O N S E L H O
Parágrafo único. Para determinar as regiões ou cidades que ainda não possuem
número suficiente de professôres legalmente habilitados, o Ministério da Educação
fará periodicamente levantamento das necessidades de professôres nas diversas
regiões do País, para o que poderão prestar contribuição os Conselhos Estaduais
de Educação.
Art. 2.° O Conselho Federal de Educação, visando a atender a todas as regiões
do país, indicará anualmente as Faculdades de Filosofia oficiais, ou as unidades
universitárias equivalentes, onde poderão realizar-se exames de suficiência.
§ 1.° Nos Estados onde houver mais de uma, as faculdades oficiais serão esco-
lhidas, levando-se em conta, também, sua distribuição pelas diferentes regiões do
Estado.
§ 2.° Sempre que necessário, as Faculdades poderão contratar, para os exames
de suficiência, professôres devidamente habilitados, bem como deslocar as Comissões
Examinadoras para onde melhor possam atender à demanda de candidatos.
Art. 3.° O certificado de suficiência habilita o candidato ao exercício do
magistério na localidade para a qual foi requerido o exame, como nas demais em
que se verifique a carência de licenciados.
Art. 4.° Os candidatos inscritos em exame de suficiência poderão ser autori-
zados a lecionar enquanto aguardam a realização dos exames, podendo ser pror-
rogada essa autorização por mais um ano no caso em que o candidato resolver
adiar a prestação do exame.
Parágrafo único. Os alunos das Faculdades de Filosofia, quando estejam
matriculados na 3 . a série, ou em nível equivalente no sistema de matrícula por
disciplina, terão, dois anos, direito de lecionar, quer como treinamento, quer para
suprir a carência de professôres.
Art. 5.° Serão oferecidos cursos de preparação e orientação para o exame
de suficiência pelos órgãos competentes do Ministério da Educação.
§ 1.º Cursos semelhantes poderão ser organizados pelas Secretarias da Edu-
cação, Faculdades de Filosofia ou outras entidades devidamente habilitadas.
§ 2.° Os candidatos inscritos poderão prestar o exame de suficiência sem que
hajam freqüentado os cursos mencionados neste artigo.
Art. 6.° O exame de suficiência constará de duas partes: a) verificação de
conhecimentos na disciplina que o candidato pretende ensinar; b) verificação da
capacidade didática.
Art. 7.° As entidades referidas no artigo 2.° e em seus parágrafos, que decidam
realizar exames de suficiência, deverão publicar os programas respectivos com ante-
cedência de um ano, pelo menos, da realização dos exames.
§ 1.° Os programas devem abranger globalmente a matéria de cada disci-
plina, necessária ao seu ensino em nível médio.
§ 2.° O prazo a que se refere êste artigo poderá ser reduzido para os exames
de suficiência que se realizem no ano de 1964.
Art. 8.° Haverá exames de suficiência distintos para o 1.° e o 2.° ciclos de ensino
de grau médio, sendo a suficiência colegial válida para ambos os ciclos.
Art. 9.° O mesmo candidato poderá submeter-se a exame de suficiência para
o ensino de três disciplinas no máximo.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
a) prova de identidade
b) de nacionalidade
c) de idade mínima de 21 anos
d) quitação com o serviço militar, quando brasileiro
e) de idoneidade moral, atestada por duas pessoas que exerçam atividades
educacionais ou por autoridade competente
f) sanidade física e mental atestada por serviço médio oficial
g) comprovante,fornecido pela Inspetoria Secional, ou órgão equivalente, de
que não existem, na região, professôres legalmente habilitados pará o ensino
da disciplina.
h) prova de conclusão de ciclo ginasial ou equivalente.
Não é das mais felizes a nomenclatura empregada pela lei para êste setor da
escola média: genérica, imprecisa, prestando-se ao mal-entendido de que estas
atividades sejam necessariamente vinculadas à área da execução. E, embora corri-
gida pelo adjetivo para assinalar que devem completar o processo educativo, a
palavra não diz de tôda a variedade e riqueza de função que a L . D . B . lhe atribuiu.
"A terminologia usada pela L.D.B. na denominação dos componentes do
currículo, embora com algumas falhas, obedeceu ao sentido comum das palavras,
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 221
em uso até agora entre nós. Costuma-se denominar disciplinas às atividades esco-
lares destinadas à assimilação de conhecimentos sistemáticos e progressivos, dosados
certos endereços.
As práticas educativas, por outro lado, abrangendo as atividades que devem
atender às necessidades do adolescente na ordem física, artística, cívica, moral e
religiosa, colocam o acento principal na maturação da personalidade, com a for-
mação dos hábitos correspondentes, embora necessitem também da assimilação de
certos conhecimentos". (Cf. Par. n.° 131/62 — Doe. 7, pág. 4 3 ) .
"As disciplinas — acrescenta o Par. n.° 214/63 — visam, antes de tudo, a uma
finalidade informativa. Ao passo que as práticas educativas visam antes de tudo a
uma finalidade formativa. As primeiras são por natureza teóricas, embora alcancem
resultados práticos. As segundas são de natureza prática, embora alcancem resul-
tados teóricos e exijam conhecimentos doutrinários.
As primeiras, quer obrigatórias, quer Optativas, têm os seus campos mais clara-
mente delimitados. Quanto às segundas, também obrigatórias ou Optativas, obe-
decem a um critério mais elástico e variam segundo a orientação de cada estabele-
cimento ou método de ensino. ( . . . ) Umas e outras, entretanto, serão indispen-
sáveis à plenitude do processo educativo, segundo a própria conceituação da
L . D . B . " . (Doe. 17-18, pág. 6 8 ) .
Cabe-nos apenas acentuar que o supracitado Par. n.° 131/62 não deseja por
certo insinuar que as práticas educativas estejam todas contidas, em seus limites,
nas exigências dos arts. 22 e 38. Muito ao contrário. Há tôda uma gama de ativi-
dades outras que serão vantajosamente incorporadas na educação da juventude,
tendo em vista a expansão e expressão da personalidade, a integração da escola no
meio, a pesquisa vocacional e a educação para o lazer, como passaremos a examinar.
Quaisquer que sejam estas finalidades, importa ressaltar, antes de mais nada,
a unidade orgânica que se deve preservar no processo educativo destinado à for-
mação do adolescente. Dir-se-ia que a L.D.B. teve mais presente esta preocupação
de unidade no capítulo do ensino médio do que no do elementar. Com efeito,
enquanto o art. 25, definindo as finalidades do ensino primário, enumera em sepa-
rado as várias atividades que o devem compor e os fins a atingir, o art. 33 afirma
simplesmente que a educação de grau médio se destina à "formação do adolescente".
Esta unidade, no entanto, não impede que consideremos aspectos distintos das
práticas educativas na escola média.
A distinção é de Aristóteles. "Trabalho, diz êle, é uma coisa feita não pelo
amor do trabalho cm si mesmo, mas como meio para alcançar outro fim; recreação
é descanso do trabalho; o lazer, ao contrário, é uma coisa nobre, a mais nobre da
vida, é a ocupação em algo por amor a isso".
As práticas educativas, o lado da expansão da personalidade, da manifestação
e do cultivo do vocacional e da integração no meio, devem proporcionar aos
adolescentes uma boa educação para o lazer.
2. Exigências legais.
No entanto, a consulta quer saber se a esta pessoa, "hábil e capaz" será obri-
gatoriamente exigido o registro de professor". Se por "registro de professor" se
entender uma burocracia complicada e formal, a resposta é negativa. Mas, pará
felicidade nossa, só em alguns testes as respostas têm que ser sim ou não, e vai nisso
o maior de seus defeitos.
O artigo chamado a exame é o 59, da L . D . B . :
"A formação de professôres para o ensino médio será feita nas Faculdades
de Filosofia, Ciências e Letras e a de professôres de disciplinas específicas de
ensino médio técnico, em cursos especiais de educação técnica".
7 — 34 901
224 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Conclusão
E F E I T O S DA LICENCIATURA
Parecer n.° 15/64, C. E. Su., aprov. pelo Plenário em 30-1-1964. — Sob forma
de consulta encaminhada a êste Conselho pelo Sr. Presidente, o Diretor da Facul-
dade de Filosofia "Cristo Rei", de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, solicita os
seguintes esclarecimentos:
Esse regime persistiu até 1954 quando foi baixada a Port. 478 que, contra-
riando os princípios estabelecidos nos decretos-lei já mencionados, e aos quais faz
referência, ampliou consideravelmente a faixa de habilitação profissional dos cursos,
seja para atender à escassez de professôres, seja com o fim de criar maiores oportu-
nidades para certos cursos de reduzida procura. Mas a falta de um critério siste-
mático deu lugar a que alguns cursos fossem contemplados com liberalidade em
detrimento de outros que se viram, por assim dizer, esvaziados dos seus objetivos
próprios. Além disso, foi permitido aos licenciados de alguns cursos registrar-se em
matéria que não figurava sequer em seus currículos. Enquanto o curso de História
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
cia Espacial, das Ciências Sociais, nesse período foi fruto do trabalho
da Cristalografia, da Economia, iniciado em 1934, na Faculdade de
da Energia Nuclear, da Estatística, Filosofia, Ciências e Letras da Uni-
da Física, da Geodésia, da Logís- versidade de São Paulo, que é o
tica, da Meteorologia, da Progra- berço da atual escola matemática
mação, da Química, da Tecnolo- brasileira e que, ainda hoje, é a
gia, e t c , de modo que a inexistên- melhor instituição de ensino uni-
cia, no Brasil, de um grupo versitário no país, no setor mate-
numeroso de matemáticos bem mático .
formados prejudica esses diversos Há que ressaltar, também, a
setores. criação, em 1952, na cidade do Rio
Com vistas ao treinamento de de Janeiro, do Instituto de Mate-
um número grande de jovens ma- mática Pura e Aplicada (IMPA)
temáticos e ao melhor aproveita- do Conselho Nacional de Pesquisa,
mento de nossos talentos, é que o qual adquiriu justa reputação
vemos com grande esperança o como centro nacional de treina-
surgimento da Universidade de mento de matemáticos e deu pro-
Brasília, organizada em novos jeção internacional ao nosso país
moldes, na qual todo o ensino bá- no setor da pesquisa, exercendo
sico ou especializado e a pesquisa uma atividade irradiante de co-
em Matemática serão feitos no laboração com as diversas univer-
Instituto Central de Matemática, sidades brasileiras.
de modo a não haver a separação Como fruto desse esforço de mais
tradicional e inflexível, nos está- de uma geração, contamos hoje
gios iniciais da carreira, entre os alguns matemáticos de real
candidatos à Matemática e os as- talento, verdadeiramente entrosa-
pirantes às outras profissões. dos com o processo de expansão
Sôbre essa nova experiência uni- das fronteiras do conhecimento
versitária a ser feita em Brasília, matemático atual, que publicam
concentram-se hoje os olhares suas pesquisas e seus livros nas
idealistas, os olhares curiosos, e os mais famosas revistas e coleções
olhares críticos dos professôres. internacionais, dando contribuições
estudantes e administradores de à Matemática que são do conheci-
nosso país. Almejemos todos que mento dos melhores especialistas
a nova Universidade de Brasília, antes mesmo da sua divulgação
que nasceu dos esforços prolonga- impressa. Entre tais matemáticos
dos de um grupo de trabalho que brasileiros, não posso deixar de sa-
aspirava realizar numa nova ins- lientar o nome de meu caro amigo
tituição aquilo que não pôde con- Maurício Matos Peixoto, meu co-
cretizar em nossas universidades lega dos bancos escolares da Uni-
tradicionais, venha a ser um exem- versidade do Brasil, cujas pesqui-
sas em equações diferenciais de-
plo de trabalho e organização, a ram-lhe justa reputação interna-
emular e estimular os nossos de- cional, segundo pude testemunhar
mais centros. repetidas vezes.
Se, de um lado, é verdade que
a Matemática brasileira se encon- O futuro da Matemática brasi-
tra ainda em sua infância, por ou- leira depende vitalmente do apoio
tro lado já conseguimos formar que os nossos órgãos governamen-
vários matemáticos competentes, tais, como a CAPES, a COSUPI, o
alguns de projeção internacional Conselho Nacional de Pesquisas e
em suas especialidades. A semente a Comissão Nacional de Energia
do verdadeiro espírito matemático Nuclear, derem a homens de real
foi lançada entre nós e germinou. talento e com genuínas qualidades
de liderança que já formamos. O
Em breves palavras, podemos que importa é que os nossos me-
dizer que a atual escola matemá- lhores matemáticos disponham de
tica brasileira data de 1930, apro- todos os recursos de que carecem,
ximadamente, tendo apenas cerca pois dêsses líderes e da irradiação
de 30 anos. O que logramos fazer de suas atividades é que dependem
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
INFORMAÇÃO DO ESTRANGEIRO
MUDANÇAS NAS ESCOLAS da-se uma reforma do plano de
PÚBLICAS DE NOVA IORQUE estudos que permita aos pro-
fessôres desenvolver o espírito de
O novo superintendente de esco- iniciativa e experimentação; o en-
las públicas de Nova Iorque decidiu sino deverá concentrar-se nas cri-
descentralizar a administração es- anças superdotadas, sem esquecer
colar em 25 seções urbanas. Estu- aquelas que parecem retardadas
236 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Estados Unidos, se essa revolução não São Paulo e de Minas Gerais repartiram
tivesse sido esmagada pelo movimento de entre si o poder federal e exerceram até
contra-revolução, que se sucedeu à apa- 1930 o comando político da nação. Com
rente derrota de São Paulo, no seu levante a cisão entre eles e a aliança de Minas
contra o poder central. Foi a rendição Gerais ao Estado do Rio Grande do Sul,
política desse poder às forças conserva- sobreveio a Revolução de 1930, provocando
doras da nação que manteve o Brasil em a Instabilidade política conseqüente de
suas linhas tradicionais e restaurou o um período ditatorial que Sòmente se
sentido de Império do governo da Repú- encerra em 1946, com uma nova Consti-
blica Brasileira. tuição, em que se restabelece o poder
Com efeito, desde a Independência, da União em linhas semelhantes em mui-
tos aspectos à situação reinante ao tempo
em 1822, nada mais havíamos feito do
de Império, lembrando os estados agora
que transferir o poder da Metrópole
as antigas províncias sob o comando do
estrangeira para a Metrópole nacional, poder econômico e político extremamente
conservando o sentido colonizador do go- ampliado do governo federal.
verno central. Aos que estão familiari-
zados com a história das províncias, ao Essa concepção do Estado Brasileiro
tempo do Império, e depois dos estados, como poder Imperial sôbre as culturas lo-
ao tempo da República, será impossível cais das províncias, hoje estados, é que
evitar a comparação das autoridades im- permitiu manter-se a unidade política
periais e depois das autoridades federais dentro da extrema diversidade cultural de
aos procônsules romanos. Verificava-se todo o país. Tal natureza Imperial do
sempre entre a autoridade e o povo a governo central, que se transferiu da Co-
mesma distância social e a mesma pro- lônia para o Império e dêste para a Re-
funda Incompreensão que deveria carac- pública, retardou, sem dúvida, o desen-
terizar a autoridade colonizadora. Episó- volvimento global do país, mas, por outro
dios de levantes populares nas cidades, ao lado, permitindo e mesmo promovendo o
tempo do Império, e, talvez ainda mais desenvolvimento desigual e particular de
eloqüentemente, episódios de fanatismo certas zonas de hegemonia e contendo as
religioso, já na República — nenhum mais demais, operou como que uma superor-
famoso do que o de Canudos, imortali- dem para a manutenção da integridade
zado por Euclides da Cunha — foram nacional.
tratados pela autoridade central do go- Graças a esse processo de retarda-
verno brasileiro do mesmo modo por que mento causado pela natureza colonizadora
semelhantes Incidentes seriam resolvidos do governo central pôde o Brasil atra-
pelas autoridades romanas no Oriente vessar o possível período de desmembra-
Médio. A ordem política era uma ordem mento e chegar à época contemporânea,
externa, "federal", de cúpula, sob cuja quando o progresso da tecnologia das
proteção e domínio viviam os povos pro- comunicações e dos transportes Já per-
vinciais, com os seus costumes, hábitos e mite enfrentar os problemas de desenvol-
tradições, substancialmente semelhantes vimento global sem perda da unidade
devido à unidade de língua e aos três política. Ninguém poderá dizer se a divisão
séculos de calculada e planejada unifor- do Brasil não teria ocorrido se o avião e
mização imposta pelo domínio português. os meios de comunicação não tivessem
Com a proclamação da República, chegado a tempo de mantê-lo unido, a
concedeu-se autonomia às províncias, despeito de seu desenvolvimento desigual
agora estados à maneira da federação nor- e contrastante. A observação que assim
te-americana. Mas, enquanto a fe- ouso ajuntar à análise lúcida e percucien-
deração nos Estados Unidos resultava da te de Charles Wagley em relação ao "mis-
limitação dos direitos originários dos tério" da unidade brasileira não escapa
estados, os quais subsistiam sempre que a certo aspecto paradoxal.
não expressamente transferidos, no Brasil A nossa unidade resultou, no passado,
os direitos dos estados foram outorgados de uma estrutura colonial interna, que
pela União. Encerra-se essa verdadeira retardou o desenvolvimento global e con-
experiência política nos primeiros qua- teve o país atrasado em face de sua região
renta anos da república. Na prática, con- em desenvolvimento, impedindo qualquer
sistiu a experiência no estabelecimento fragmentação; e, no futuro, em face do
da hegemonia dos dois estados mais im- desenvolvimento global ora iniciado, será
portantes sôbre a União. Os Estados de mantida graças aos novos meios de co-
8 — 34 901
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
municação e de transporte, que Já agora contexto social, têm elas que atender a
tornam plenamente exeqüível o desenvol- padrões culturais e aos reclamos da co-
vimento material de nações de tipo con- munidade que, de modo geral, são os de
tinental como o Brasil. Se o retarda- criar o ambiente propício ao desenvolvi-
mento do nosso desenvolvimento nao mento adequado de personalidades, ao
tivesse ocorrido, ou nos desmembraría- mesmo tempo que distribuir essa clien-
mos, ou realizaríamos a nossa integração tela pelos diversos níveis profissionais
com a violência que marcou a integração existentes no meio.
política e a expansão territorial dos Es- Salienta, em primeiro plano, que
tados Unidos. Ficamos unidos porque cumpre analisar a sociedade em que atua
éramos atrasados e seremos unidos porque a escola e, por conseguinte, o sistema es-
hoje os meios tecnológicos permitem o colar, Indagando de sua filosofia, para
desenvolvimento pacífico de nações de que se firmem princípios que fundamen-
porte continental. tam os planos educacionais à luz dos quais
Nao desejo encerrar êste rápido co- se criam as estruturas capazes de realizar
mentário sem renovar a Charles Wagley os objetivos tidos como válidos.
a gratidão de um brasileiro por mais êste As realidades da vida escolar, no sen-
livro, que tanto nos ajuda a ver e sentir tido amplo, são as do processo educativo,
a nossa realidade e a formar a consciên- envolvendo aluno e mestre, matéria e mé-
cia nacional, sem o que não poderíamos todo, bem como todo e qualquer recurso
dirigir o movimento de nossa emancipação auxiliar para que aquêles elementos pas-
econômica, mantendo íntegro o nosso sem a operar de maneira eficiente. São,
caráter nacional. afinal, os mesmos elementos abrangidos
ANÍSIO TEIXEIRA pela didática, mas com perspectiva dife-
rente .
LOURENÇO F I L H O , Manuel Bergstrõm — A administração escolar cria o am-
Organização e Administração Esco- biente em que atua a didática e vai
acompanhando as fases desta, inclusive
lar, São Paulo, Melhoramentos, 1963, na apuração final do seu rendimento. O
288 páginas. administrador, em última análise, julga
o processo didático.
Ainda não se deu realce necessário
Considerados os elementos com que
ao livro que, no final de 1963, o Pro-
trabalha, a administração escolar tem que
fessor Lourenço Filho publicou, Organi-
forçosamente utilizar-se de todas as ma-
zação e Administração Escolar, e em que
térias pedagógicas: da filosofia educacio-
apresenta conceitos, princípios e instru-
nal, para extrair o sentido da educação;
mentos de análise, de maneira concisa e
da política educacional, para colocar os
segura, preenchendo uma grande falha
objetivos dentro da época da atuação;
na nossa literatura didática.
da psicologia educacional, para entender
No prefácio, o autor traça, com pre- o educando e saber conduzi-lo da maneira
cisão, o delineamento da obra, mostrando mais apropriada e, ainda, para ater-se às
a complexidade da matéria, uma vez que limitações e as diferenciações de cada um,
a administração escolar abrange vários dentro da seqüência do seu desenvolvi-
segmentos de um todo e o próprio todo: mento e amadurecimento paulatino,
o sistema escolar. guiando-se pelas chamadas leis da apren-
O que há de peculiar na administração dizagem que condicionam a organização
escolar, em relação a qualquer outro do trabalho escolar; da sociologia educa-
campo de administração, é que, nela, a cional, para investigar não somente o
clientela que produz é da mesma natu- nível de expectação da comunidade, como
reza substancial do produto, isto é, é os seus reais interesses, conduzindo o
matéria ativa. Não se trata, assim, de área trabalho escolar para servir a uma deter-
em que possamos adaptar princípios de minada polis; enfim, todas as demais
administração industrial, a não ser os naquilo em que elas ajudam a coligir
que se refiram as relações humanas. dados e a interpretá-los, de modo que
No capítulo I, mostra os diferentes se crie o mecanismo mais aperfeiçoado
aspectos da matéria do livro. Como ponto para obter resultados dignos de esforços
básico, ressalta o objetívo comum das e previamente fixados no planejamento.
escolas ou, antes, o objetivo geral da edu- Isso é que faz com que a administração
cação que elas prosseguem. Inseridas no escolar se torne interdisciplinar.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
O autor preferiu separar a estrutura- se verifique pela obra a sua posição. Trata
ção (organização) da gestão (adminis- da necessidade de dar uma fundamenta-
tração), justificando, com segurança, seu ção teórica para os esquemas de reali-
ponto-de-vista. zação prática, objetivando a eficiência no
Coloca, como fim precípuo da admi- seu duplo sentido. Não perde, porém, a
nistração escolar, a "eficiência", como oportunidade para dar seguro roteiro a
alias o é em qualquer gênero de admi- quem pretenda aprofundar-se no campo
nistração: obter o máximo rendimento teórico.
com o mínimo de esforço e o menor gasto No capítulo III, com o sugestivo titulo
de dinheiro, desde que o produto seja da — "Os administradores escolares em
mais alta qualidade que se possa alcançar ação", um dos mais originais do livro,
com os recursos utilizados. faz o estudo do "comportamento admi-
Na empresa industrial, o preço está nistrativo", estabelecendo a distinção en-
condicionado ao produto. Na empresa tre atividades operativas e não operativas
escolar, só se pode admitir que se deseje no campo escolar. Mostra os níveis de
obter de cada um a mais perfeita for- ação administrativa, que se ligam a aluno
mação dentro das limitações que cada e professor, professor e órgão estruturado,
um oferece (diferenças Individuais) e focalizando, neste, o tipo de organização,
segundo os recursos que foram postos ao seja em forma linear, seja a de assesso-
alcance do administrador, tanto os hu- ramento (funcional ou de "staff"). Em
manos (educadores) quanto os materiais seguida, expõe situações concretas com
(equipamento), que dependem, é claro, que se defrontam os administradores em
das finanças escolares. ação, separando o processo administrativo
nas suas fases primordiais:
De modo geral, a melhoria do padrão
cia eficiência, ensina Henry Mlller, se planejar e programar;
apresenta sob duas formas: dirigir e coordenar;
1 — aumento quantitativo: maior comunicar e inspecionar;
produção no mesmo tempo de trabalho controlar e pesquisar.
ou a mesma produção em menos tempo
de trabalho ou menos tempo de trabalho Para cada uma dessas fases, indica
por unidade produzida; princípios gerais, ao mesmo tempo que
2 — aumento qualitativo, que signi- salienta normas, entre as quais transcreve
fica ou melhor resultado ou mais rapidez as do clássico tratadista Arthur Moehl-
ou mais precisão. mann.
É claro que, no âmbito escolar, temos Conclui, daí, que as tarefas funda-
que encarar as duas formas, sobretudo mentais do organizador e administrador
em nosso país, onde os anseios por uma se resumem em duas: informar e decidir.
escola única ainda não estão sendo aten- Ao tratar de "Sistema de Ensino",
didos pela maior parte dos Estados. no capítulo IV, focaliza-o de dois
No capitulo II, depois de justificar ângulos: o da filosofia política e o da
porque adota a expressão "organização e ação política, mostrando que o instru-
administração" em vez de apenas "admi- mento de expressão política é a legislação,
nistração", o autor retraça as teorias ge- que trata de conceituar e hierarquizar,
rais sôbre o campo, divldindo-as em três chegando a indicar princípios de sua
grupos: as clássicas, as intermediárias e hermenêutica.
as novas, colocando-se no movimento Ressalta a importância da legislação
destas, pois que elas dão mais ênfase ao no planejamento geral dos sistemas, apre-
"comportamento administrativo" do que sentando um esquema das "relações entre
ao "processo", em abstrato. os preceitos ou normas de legislação e
São elas que "sistematizam idéias e decisões administrativas", com indicação
métodos de ação e modos de ver que o das partes e funções respectivas.
homem desenvolveu, experimentou, aper- Destaca normas gerais para o plane-
feiçoou e acumulou através das idades, jamento dos sistemas de ensino e pará
na luta em busca da intelectuallzação do identificação de princípios de estruturação
esforço", conforme diz bem Georges didática.
Valois. Pecha êste capítulo o estudo da evo-
Não se sente preocupação do autor lução do conceito de sistema nacional de
em se situar dentro de teorias, embora ensino.
242 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
aluno muitas vezes nem tem cons- À luz da concepção exposta pelos
ciência. Cada capitulo deve, de inicio, membros da Comissão organizada pela
criar uma Interrogação no espírito do National Society for Study of Education,
aluno. A curiosidade habilmente des- fica Indicado o caminho para uma adap-
pertada tem enorme íôrça motivadora, tação local (e até Individual, se possível)
e esta íase inicial de colocar-se o pro- dos programas. Os princípios, as genera-
blema é parte indispensável do pro- lizações científicas são universais, as
cesso de pensamento clentííico (cf. aplicações, cujo número é Infinito, variam
Dewey, Como Pensamos). Prosseguirá multo conforme o ambiente. Já em 1927,
o texto favorecendo o raciocínio do o célebre relatório da Comissão Hadow
aluno pela apresentação de novos fa- The education of the adolescent, ao tratar
tos, pela divisão das dificuldades, até do ensino das diversas matérias do currí-
a conclusão que atinge em cheio o culo secundário, Insistia na necessidade
princípio em estudo. Segue-se a etapa de diferenciar o ensino de ciências nas
dedutiva, em que se examinam novas áreas Industriais e agrícolas. Nas pri-
aplicações do princípio o casos parti- meiras :
culares" (grifo m e u ) .
" deve ser devotada atenção
Os professôres estrangeiros de ciências especial à física e mecânica elemen-
que vêm ao Brasil têm manifestado a sua tares, e as lições devem ser baseadas
no maquinismo e no equipamento
surpresa diante da capacidade que têm
usados na Indústria local", ao passo
os nossos estudantes de expor os princí- que, nos distritos agrícolas, "o curso
pios e da sua incapacidade de aplicá-los em física e mecânica elementares
aos fenômenos da vida comum. Essa dis- pode ser Ilustrado, em parte ao me-
paridade é a marca inconfundível da nos, com ceifadelras, atadeiras, ascen-
educação verbalista. O Professor Paulo sores, tratores e outros exemplos de
Sawaya, em uma aula Inaugural do curso maquinismo agrícola, ou ainda com
de férias para professôres secundários, batedeiras mecânicas, separadores, ex-
patrocinado pela Faculdade de Filosofia, tratores de mel e coisas semelhantes".
Ciências e Letras da Universidade de São Acentua, entretanto, que o essencial
Paulo e pela Secretaria de Educação do nas escolas rurais é prover os funda-
mesmo Estado, diz: mentos para um curso de biologia
elementar, relacionado especialmente
"Há, ninguém nega, completo com horticultura e agricultura.
divórcio entre o ensino de ciência e (pág. 223).
a. vida prática do estudante. O ver-
balismo daquele ensino, a falta de Mais recentemente, em 1950, um outro
objetividade, o desinteresse do pro- educador britânico, W. L. Sumner, da
fessor, são, entre outras, as causas Universidade de Nottingham, em seu livro
principais da precariedade desse en- The Teaching of Science, ratifica a mes-
sino. Nossos alunos dos ginásios e
ma Idéia, ao falar de programas:
colégios não relacionam o funciona-
mento dos aparelhos de rádio e tele- "Acima de tudo deve ser frisado
visão com o estudo de eletromagne- que cada professor deve elaborar o seu
tlsmo e das ondas hertzianas que próprio programa, tendo em mente as
fazem nos seus cursos; estão longe de sugestões mínimas esboçadas no Re-
entender como funciona a campainha latório Hadow, porquanto Sòmente êle
elétrica de sua casa, ou como conhece os seus alunos e o distrito
foi feita a instalação elétrica do em que vivem", (pág. 53).
próprio quarto de dormir, para
não falarmos das relações entre
Voltando agora à questão dos prin-
a instalação da água corrente na sua
cípios que devem ser ensinados: é claro
habitação e as leis de hidrodlnãmica,
que decoraram e não entenderam. que, aceito o ponto-de-vista da Co-
Raros, rarissimos, os estudantes de missão americana, seria extremamente
história natural que possuem coleções útil um acordo sôbre a seleção deles.
de minerais, de Insetos, ou se dão ao Tal acordo resultaria da consideração
trabalho de organizar um pequeno aprofundada do assunto sob o ponto-
herbário". -de-vlsta científico, educacional e social.
Vários pesquisadores já tinham feito nos
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
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REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Armstrong. Esse método, aliado ao dedu- ao geral, a menos que, depois, possa-
tivo, seria o Ideal, se houvesse tempo pará mos reverter o processo e descer do
íazer cada aluno percorrer as rotas que geral ao particular, subindo e des-
os sábios Já trilharam, antes de obterem cendo como os anjos na escada de
o resultado desejado. Jacob" (pág. 61).
Na prática, o principal recurso peda- Sem dúvida devido ao peso dessas e
gógico íicou sendo o dedutivo. Diz de outras reflexões do mesmo teor os
Downing na obra Já citada: compêndios americanos de ciência, se
procuram suscitar no aluno o interesse
"O processo indutivo é o método indutivo por meio de perguntas seguidas
usado pelo descobridor. Na base de de experiências, não se contentam com
íatos, êle generaliza e revela princípios isto e, ao fim de cada capitulo, colocam
e leis. O processo dedutivo é o que problemas para os quais não trazem solu-
é usado principalmente pelo homem ções. Isto obriga o aluno ao esforço de-
que aplica a ciência por êle sabida à dutivo.
solução de situações problemáticas"
(pág. 81). "É a prática nesse processo Vejamos, por exemplo, o compêndio
dedutivo de pensar que é mais neces- chamado Everyday science, da autoria de
sitada pelo consumidor da ciência, Otis Caldwell e Francis Curtis (êste foi
pelo homem que está adquirindo um dos membros da Comissão da National
ciência para aplicá-la na sua vida Society). No capítulo primeiro, sôbre "A
diária. Poucos de nossos discípulos natureza do ar", vêm perguntas desta na-
vão tornar-se produtores de ciência, tureza: "Tem o ar peso?"; "Toma o ar
descobridores de novas leis, mas todos espaço?"; Existe ar no solo?"; "Existe ar
se destinam a fazer aplicações das leis na água?"; etc., etc. A cada uma delas
segue-se experiência esclarecedora. Agora,
que conhecem às situações pro-
no fim do capítulo, vêm problemas como
blemáticas que envolvem a ciência"
os seguintes, para os quais a solução só
(pág. 86). aparece no livro-chave para o professor:
"Por que não se tem podido medir a al-
Já antes de Downing havia dito mais tura exata da atmosfera?" "Por que re-
ou menos a mesma coisa, e com muito bentam nas altitudes mais elevadas balões
mais autoridade, o notável matemático e que são mandados o mais alto possível
loglsta britânico Alfred North Whitehead, com instrumentos de registro?"; "Às vezes
em seu magnífico capítulo sôbre "Tech- os oleados pegam fogo por si mesmos.
nical education and its relation to science Como explicar essa combustão espontâ-
and llterature", publicado, a princípio, nea?", etc.
em 1917, e depois republicado em um livro
com o titulo The aims of education, donde Esse é o sistema usado em todo o livro,
extraio os seguintes trechos: como em geral nos compêndios america-
nos. É verdade que Downing deseja coisa
"A lógica da descoberta consiste ainda melhor. Êle acha que colocar os
no pesar de probabilidades, no descar- problemas próximos à lei é indicar ao
tar de detalhes considerados de pouca estudante a solução. Chega a preconizar
Importância, no pressentimento das que se proponham problemas miscelâneos
regras gerais conforme as quais ocor- ao fim do curso de uma dada ciência, ou
rem os acontecimentos, e na verflca- mesmo ao fim do estudo das várias ciên-
ção de hipóteses por meio de experi- cias (pág. 86) . Parece-me que podem ser
mentos adequados. É a lógica indu- feitas as seguintes objeções a esse ponto-
tiva. de-vista: de um lado, a colocação de
A lógica do descoberto é a dedução verdadeiros problemas perto da exposição
dos acontecimentos especiais, que, sob das leis não suprime o trabalho de re-
certas circunstâncias, sucederiam em flexão, porque o aluno tem sempre de
obediência às leis presumidas da na- procurar o nexo entre uns e outros; de
tureza. Assim, quando as leis são outro lado, a colocação dele ao fim do
descobertas ou presumidas, sua utili- curso, ou mais remotamente, concentraria
zação depende inteiramente da lógica o referido trabalho só em determinadas
dedutiva. Sem a lógica dedutiva, a épocas espaçadas da vida estudantil, e,
ciência seria inteiramente inútil, É assim, teria efeitos poucos duráveis. Que
um jogo estéril ascender do particular dizem os entendidos?
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O certo é que o processo usual em Conforme foi dito acima, a idéia havia
nossos compêndios de enunciar a lei ou sido importada dos Estados Unidos, onde
princípio e de se limitar a trazer em se- a sua evolução começou já nos fins da
guida uma ou duas experiências compro- primeira década dêste século. O seu de-
vantes, ou de agir em sentido inverso, senvolvimento se beneficiou do desenvol-
colocando as experiências primeiro e a vimento da "Júnior high school", que vi-
generalização depois, tanto se assemelha sava criar, no curso secundário, uma es-
ao método dedutivo e indutivo de ensinar pécie de ciclo intermediário de três anos
como o ovo ao espeto. Verdade é que o entre a escola primária de seis anos e
segundo processo estimula a curiosidade a "sênior high school", também de três
do aluno e, nas mãos de um bom profes- anos. A "júnior", além de outros conhe-
sor, pode levar à fixação do conhecimento. cimentos fundamentais, visa dar ao ado-
Mas por si só a sua Influência na criação lescente, em uma disciplina sob o nome
de "atitudes científicas" e mesmo na de "general science", uma compreensão
aprendizagem é restrita. dos fenômenos físicos, químicos e bioló-
gicos que se passam em seu ambiente,
Uma contrafação não muito rara, entre bem como das leis que os regulam. Os
nós, do método dedutivo é a colocação, fenômenos geográficos, históricos, cívicos
no fim de capítulos, de questões ou exer- e outros semelhantes são Integrados em
cícios, que pedem simples definições já "estudos sociais", e as noções de aritmé-
contidas no texto. Êste diz, por exemplo, tica, álgebra, geometria e trigonometria
o que é uma substância simples e o que são estudadas como "matemáticas".
é uma substancia composta. O questio-
nário pergunta: "Que é substância sim- Cumpre dizer que a Integração nos
ples?", "Que é substância composta?" dois últimos campos não encontrou a
Realmente, se papagaios soubessem ler, aceitação ampla concedida á "general
esse processo seria o ideal pará eles. science". Em todo caso, a extensão da
idéia é defendida vigorosamente por vários
O que é "ciência geral" educadores. Fora dos argumentos provin-
dos da psicologia da aprendizagem que
Em 1931, introduziu-se, por decreto, podem ser aduzidos em seu favor, há uma
em todos os estabelecimentos de ensino vantagem visível no fato de o aluno, emer-
secundário do Brasil a fusão de noções gido da escola primária, não ter de lidar
de física, de química e de biologia numa com um número grande de professôres e
cadeira única, que foi Intitulada nessa de matérias. Os defensores da reforma
época de "ciências físicas e naturais", e Langevin em França insistem neste ponto.
mais tarde, passou a chamar-se simples- Na "sênior high school" americana,
mente de "ciências naturais". embora as matérias se desintegrem para
Não havia entre nós compêndios sôbre o estudo, a vantagem acima apontada
o assunto. Os estrangeiros, quer dizer, os persiste, devido às opções. Pode-se estu-
americanos, pois era nos Estados Unidos dar física, sem estudar química, e vice-
que a Idéia vinha sendo ensaiada, não se versa. O mesmo quanto à história e geo-
avistavam nas livrarias, conforme verifi- grafia. Presume-se que a globalização
quei então. Ainda sobrariam provavel- atingida na "júnior" suprirá as deficiên-
mente dedos nas mãos se alguém fosse cias provindas da rejeição de um assunto.
contar com eles o número de professôres Conhecida a liberdade que têm os
nossos que antes tinham ouvido falar na estados e até as cidades americanas para
integração referida. organizar os seus sistemas de ensino, é
O programa organizado em 1931 o foi de ver que a descrição acima é puramente
por professor conhecedor do assunto e era esquemática. Ainda há numerosas escolas
incomparavelmente superior ao que vigora secundárias de quatro anos, sucedendo a
atualmente. Mas a sua derrocada poste- elementares de oito. Nelas procura-se
rior, sem protestos, foi mais uma prova conjugar o ensino globalizado nos últimos
de que os meios educacionais do país anos da elementar com o dos primeiros
estavam pouco preparados para aceitar a anos da secundária. Em outras comuni-
inovação. A nossa história administrativa dades está sendo ensaiado o sistema da
encerra exemplos sem número da futili- escola primária de seis anos e da secun-
dade de tentar implantar novas concepções dária de oito, absorvendo esta dois anos
simplesmente através de dispositivos ofi- do chamado "Júnior College", antes uni-
ciais lacônicos. versitário.
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como tal, num país em que há vitalicie- dos países desenvolvidos, que precisam
dade de tudo. A vitallcledade de cátedra, cada vez mais dos peritos, dos técnicos,
aliás, surgiu como defesa da autonomia dos especialistas para dirigirem suas so-
do professor diante do ditador, uma ciedades livres e prósperas, nós nao só
espécie de imunidade no tempo de Var- produzimos cientistas e técnicos mais
gas. Catedráticos rotineiros sem dúvida ordinários devido ao excesso de alunos
emperram multa coisa, mas serào forçados em relação aos meios de ensino, como
a dividir sua autoridade com a dos mes- ainda exportamos, ou deixamos que firmas
tres de disciplinas afins, dentro da Refor- estrangeiras empreguem aqui uma parte
ma da Universidade. A criação dos Depar- substancial dos melhores cérebros que
tamentos cuidará deles. conseguimos formar.
Para descentralizar didática e admi- Dentro do Brasil o espaço A espolia,
nistrativamente a Universidade é preciso: dessa forma, os demais; os Estados Uni-
"definir o lote ótimo do ponto-de-vista dos nos espoliam como espoliam a Grã-
da eficiência no tríplice sentido adminis- Bretanha; dentro do Mercado Comum os
trativo, didático e escolar; instituir o mais industrializados espoliam os outros.
Departamento como unidade básica mas É uma espécie de lei da selva cultural,
efetiva da administração setorial e de sofisticada, impossível de combater, já
ensino de uma classe de disciplinas, redu- que os espoliados vão produzir mais em
zida em número; instituir, com apoio nos estruturas mais adiantadas, vão ganhar
dois elementos anteriores, a unidade-es- mais, vão até mesmo se realizar de ma-
cola; transformar, por fim, cada estabe- neira mais adequada e profunda. É uma
lecimento de ensino numa pluralidade drenagem amável esta que suga o talento
orgânica de unidades-escola. Dentro das do mundo para as ilhas mais Venturosas.
linhas que ora se sugere acreditamos ser Mas, pará os países subdesenvolvidos que
possível conciliar o problema da escala não souberam reagir criando aqui o ta-
de massa com os imperativos de eficiência lento necessário ao desenvolvimento e o
entendida no seu mais amplo sentido". desenvolvimento esclarecido que dê con-
dições de realização a esse talento — é
BRAIN-DRAIN o fim. Na Conferência de Planejamento
Sanitário da Mills Bank Foundation che-
O breve apanhado que aí fica do tra- gou-se à conclusão de que só nessa co-
balho de Jorge Felipe Kafurl tem apenas lheita de talentos já prontos, colhidos no
a intenção de levar o Govêrno, as auto- pé da retorcida árvore dos países subde-
ridades educacionais e as classes produ- senvolvidos, os países investidores se
toras do Pais (que devem investir capital pagavam do Investimento.
na educação em lugar de se formarem Não vá agora o Supremo Comando
em clubes reacionários de bebedores de Militar amarrar uma bola de chumbo na
uísque, que é coisa excelente mas tem canela de cada talento brasileiro para
hora) a lerem e meditarem sôbre o ver- que só trabalhe para a Petrobrás ou a
dadeiro brado de alarme que está dando Vale do Rio Doce. Faça a Reforma de
a Universidade do Brasil. Em palestra não Kafuri. Esprema os privilegiados para que
só com Kafurl como ainda com os pro- soltem dinheiro na educação do povo, a
fessôres Eulália, Bruno Lobo e Paulo de quem tanto temem e sabem muito bem
Góis discutimos o fenômeno que os ingle- por quê. Na reforma Kafurl a educação
ses batizaram de brain-drain e para o não é flor na lapela de ninguém. Não
qual em breve teremos cunhado uma é nem mesmo um floraço espetacular
expressão brasileira. bolando num silêncio de igarapé. É san-
A rocha final, o cristalino, o fundo gue e osso. É educação para o desenvol-
do abismo que divide o mundo indus- vimento, para civilizar êste País que vive
trializado do mundo subdesenvolvido a procurar o regaço das Forças Armadas,
reside na educação e tem seu aspecto País hábil, cauteloso, tlmorato como se
mais trágico na drenagem do talento dos fosse um velho Império. País cansado de
subdesenvolvidos para os desenvolvidos. audácias que nunca teve. É mais do que
Enquanto o proletário vai desaparecendo tempo de educar o bruto.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS 265
res de Ensino Médio formados pelas Fa- VII — estudo da conveniência de di-
culdades de Filosofia, em número bastante versificar os cursos de Licenciatura em
para satisfazer às progressivas demandas mais de um ciclo;
que os reclamam; VIII — incremento da matrícula, in-
Considerando, ainda mais, as suges- clusive por melo de concursos de habi-
tões, feitas durante o Simpósio de Bra- litação que proporcionem sistemas de
silia, no sentido de se diversificarem tipos opções vocacionais;
de professôres secundários, não só em re- IX — proposição de critérios de Ins-
lação aos dois ciclos do Ensino Médio peção para efeitos de autorização e reco-
como também a dois grupos de séries do nhecimento, em função das peculiarida-
primeiro ciclo; des regionais e sub-regionals da demanda
Considerando também a relativa di- da mão-de-obra e das disponibilidades de
versidade de situações entre as Faculda- pessoal, equipamentos e Instalações.
des de Filosofia, Integrantes de universi- Art. 3.º Ficam designados como mem-
dades e as isoladas; bros da CADIFF o Diretor da Diretoria
Considerando Igualmente a necessi- do Ensino Superior que presidirá seus
dade duma Identificação das Faculdades trabalhos, e os seguintes professôres de
de Filosofia segundo as peculiaridades e Faculdades de Filosofia; Clemente Honó-
possibilidades regionais a que correspon- rio Parentes Fortes, Gilberto Osório de
dem no País, resolve: Andrade, Laerte Ramos de Carvalho, Nair
Art. 1.º Fica Instituída, na Diretoria Abu-Merhy, Newton Sucupira e Valnlr
do Ensino Superior, uma Comissão de As- Chagas.
sessoramento, Documentação e Informa- Parágrafo único. O Diretor da Dire-
ção das Faculdades de Filosofia (CADIFF), toria do Ensino Superior poderá designar
com a atribuição, Inclusive, de sugerir quem o substitua eventualmente na pre-
um plano de formação de professôres sidência dos trabalhos.
do Ensino Médio dentro das previsões Art. 4.º O convocação de cada reu-
do Plano Nacional de Educação. nião da CADIFF será feita pelo Diretor
Art. 2.º Para o desempenho de suas da Diretoria do Ensino Sueprior.
atribuições a CADIFF procederá em fun- Art. 5.° Os casos omissos serão re-
ção dos seguintes propósitos fundamen- solvidos pelo Ministério da Educação e
tais: Cultura. — Júlio Furquim Sambaquy.
I — determinação da posição que as (Publicado no D.O. de 23-2-1964) .
Faculdades de Filosofia ocupam nas áreas
de Influência regional e sub-reglonal das
PORTARIA N.° 46 — DE 31 DE
redes urbanas do país;
JANEIRO DE 1964
II — consideração das diferentes si-
tuações das Faculdades de Filosofia Inte- Especí/ica os objetivos do Programa In-
grantes de Universidades e das Isoladas; tensivo de Preparação da Mão-de-Obra
Industrial.
III — Levantamento em cada Facul-
dade de Filosofia das reais condições que O Ministro de Estado da Educação e
nela se verifiquem para o desenvolvimento Cultura, de acordo com o art. 4.» do De-
doutras funções além da de formar pro- creto n.° 53.324, de 18 de dezembro de
fessôres do Ensino Médio; 1963, que aprovou o Programa Intensivo
IV — Inventário dos cursos ministra- da Preparação da Mão-de-Obra Industrial,
dos nas Faculdades de Filosofia, verifi- resolve:
cação das demandas regionais e sub-re- Art. l.o O Programa Intensivo de
gionais de professôres do Ensino Médio Preparação da Mão-de-Obra Industrial
e efetivo estímulo a instalação dos novos terá como objetivo:
cursos reclamados por essas demandas.
a) especializar, retreinar e aperfei-
V — estímulo do Intercâmbio docente çoar o pessoal empregado na Indústria:
e discente, nos âmbitos regional e lnter- b) habilitar novos profissionais para
regional, se a forma. Inclusive de cursos a Indústria;
intensivos; c) preparar pessoal docente, técnico
VI — avaliação da oportunidade de e administrativo para o ensino Industrial,
unificar o ensino básico para dois ou bem como Instrutores e encarregados de
mais cursos de graduação; treinamento de pessoal na indústria.
REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Art. 2.° Para atingir esses objetivos Art. 7.° A Coordenação Nacional que
o Programa promoverá: será desempenhada pelo Diretor do En-
a) a capacitação das empresas In- sino Industrial, terá Assessôres-técnlcos e
dustriais para ministrarem o treinamento setores de coordenação de Planejamento.
do seu próprio pessoal e, especialmente, de Controle e de Divulgação, bem como
o do menor aprendiz; serviços de Administração e Contabilidade.
b) a capacitação das escolas Indus- Art. 8.° Haverá uma ou mais Coorde-
triais federais, estaduais, municipais, do nações Regionais em cada unidade da
Serviço Nacional de Aprendizagem In- Federação, de acordo com a amplitude das
dustrial e particulares relativamente a atividades do Programa no Estado.
pessoal, instalações, equipamento e mate- Art. 9.» Compete à Coordenação Na-
rial didático para que melhor possam cional:
contribuir para a formaçáo, aperfeiçoa-
mento, retreinamento e especialização da a) planejar o Programa para todo o
mão-de-obra industrial; território nacional;
b) supervisionar a execução do Pro-
c) a seleção, elaboração, preparo e
grama;
Impressão do material didático necessário
aos cursos; c) designar os Coordenadores Regio-
d) a divulgação orientada de infor- nais e os auxiliares técnicos e adminis-
mações técnicas relacionadas com o pre- trativos da Coordenação Nacional;
paro da mão-de-obra industrial; d) promover a distribuição dos re-
e) levantamentos, pesquisas e do- cursos necessários à execução do Programa
cumentação sôbre mercado de trabalho. às Coordenações Regionais;
e) efetuar o controle contábil da
Art. 3.º Na execução do Programa, aplicação dêsses recursos;
levar-se-á em conta: /) elaborar, Imprimir e distribuir o
o) a potencialidade e necessidade da material didático a ser utilizado nos
Indústria de formar a própria mão-de-obra cursos;
dentro do trabalho; g) firmar convênios de Interesse na-
b) a utilização racional da capaci- cional para a realização de levantamentos,
dade total das escolas federais de ensino estudos de mercado, confecção de mate-
Industrial, das escolas estaduais, munici- rial didático, colocação profissional e
pais, do SENAI e particulares; cursos especiais;
c) o desejo do trabalhador de aper- h) estabelecer normas técnicas e ad-
felçoar-se e especlalizar-se, ensejando-lhe ministrativas de trabalho para a execução
condições de realizá-lo em suas horas do Programa.
disponíveis. Art. 10. Compete à Coordenação Re-
Art. 4.o Será o Programa executado gional :
por instituições educacionais e por em- a) realizar levantamento das neces-
presas industriais, mediante convênio, e, sidades da indústria da região, estabele-
em casos excepcionais, diretamente pelas cendo as áreas de maior prioridade;
Coordenações Regionais.
b) levantar as disponibilidades de
Art. 5.° A execução do Programa escolas e empresas para a realização do
dar-se-á por melo de: Programa e determinar o equipamento
a) treinamento dentro das empresas suplementar necessário;
Industriais; c) fazer o recrutamento e cooperar
b) cursos Intensivos ou regulares em no treinamento dos instrutores;
escolas técnicas, industriais e de apren- d) firmar com escolas, empresas,
dizagem; entidades federais, Estados, Prefeituras
c) cursos por correspondência; Municipais e SENAI, convênios pará a
d) cursos volantes; realização do treinamento, cursos, está-
e) aprendizagem programada; gios e demais atividades do Programa;
f) seminários, reuniões de estudo, e) distribuir o material didático para
levantamentos, pesquisas e trabalhos prá- os cursos;
ticos. /) realizar a divulgação e a propa-
Art. 6.º O Programa Intensivo de ganda dos cursos e do Programa;
Preparação da Mão-de-Obra Industrial g) promover a aquisição ou adquirir
será administrado por uma Coordenação diretamente o equipamento suplementar
Nacional e por Coordenações Regionais. necessário;
274 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS