17282216022012linguistica Aplicada Ao Ensino Da Lingua Materna Aula 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 17

Linguística Aplicada

ao Ensino de
Língua Materna
Leilane Ramos da Silva

São Cristóvão/SE
2009
Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Materna
Elaboração de Conteúdo
Leilane Ramos da Silva

Projeto Gráfico e Capa


Hermeson Alves de Menezes

Diagramação
Nycolas Menezes Melo

Revisão
Raquel Meister Ko Freitag

Copyright © 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD.


Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e grava-
da por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a
prévia autorização por escrito da UFS.

FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Silva, Leilane Ramos da


S586I Linguística aplicada ao ensino de língua materna /
Leilane Ramos da Silva -- São Cristóvão: Universidade
Federal de Sergipe, CESAD, 2009.

1. Lingüística. 2. Língua - História 3. Pedagogia I. Título.

CDU 81’1:81’0
Presidente da República Chefe de Gabinete
Luiz Inácio Lula da Silva Ednalva Freire Caetano

Ministro da Educação Coordenador Geral da UAB/UFS


Fernando Haddad Diretor do CESAD
Antônio Ponciano Bezerra
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky Vice-coordenador da UAB/UFS
Vice-diretor do CESAD
Reitor Fábio Alves dos Santos
Josué Modesto dos Passos Subrinho

Vice-Reitor
Angelo Roberto Antoniolli

Diretoria Pedagógica Núcleo de Avaliação


Clotildes Farias (Diretora) Guilhermina Ramos (Coordenadora)
Hérica dos Santos Mota Carlos Alberto Vasconcelos
Iara Macedo Reis Elizabete Santos
Daniela Souza Santos Marialves Silva de Souza
Janaina de Oliveira Freitas
Núcleo de Serviços Gráficos e Audiovisuais
Diretoria Administrativa e Financeira Giselda Barros
Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor)
Sylvia Helena de Almeida Soares Núcleo de Tecnologia da Informação
Valter Siqueira Alves João Eduardo Batista de Deus Anselmo
Marcel da Conceição Souza
Coordenação de Cursos
Djalma Andrade (Coordenadora) Assessoria de Comunicação
Guilherme Borba Gouy
Núcleo de Formação Continuada
Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora)

Coordenadores de Curso Coordenadores de Tutoria


Denis Menezes (Letras Português) Edvan dos Santos Sousa (Física)
Eduardo Farias (Administração) Geraldo Ferreira Souza Júnior (Matemática)
Haroldo Dorea (Química) Janaína Couvo T. M. de Aguiar (Administração)
Hassan Sherafat (Matemática) Priscilla da Silva Góes (História)
Hélio Mario Araújo (Geografia) Rafael de Jesus Santana (Química)
Lourival Santana (História) Ronilse Pereira de Aquino Torres (Geografia)
Marcelo Macedo (Física) Trícia C. P. de Sant’ana (Ciências Biológicas)
Silmara Pantaleão (Ciências Biológicas) Vanessa Santos Góes (Letras Português)

NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO

Hermeson Menezes (Coordenador) Neverton Correia da Silva


Edvar Freire Caetano Nycolas Menezes Melo
Isabela Pinheiro Ewerton
Lucas Barros Oliveira

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos”
Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze
CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE
Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474
Sumário
AULA 1
Lingüística Aplicada: natureza, origens, evolução................................07

AULA 2
A Lingüística Aplicada e os desafios para uma pedagogia crítica........19

AULA 3
A Lingüística Aplicada e os princípios norteadores do ensino de língua

materna no Brasil............................................................................31

AULA 4
O ensino de língua portuguesa nas escolas de Educação Básica hoje: o
que é preciso mudar?..................................................................................................53

AULA 5
Concepções de linguagem e ensino de gramática: metodologias de
ensino................................................................................................67

AULA 6
O ensino da norma culta na escola: mitos e preconceitos lingüísticos...83

AULA 7
O tratamento da variação lingüística na escola: o que é preciso saber, o
que é preciso mudar?.....................................................................101

AULA 8
Leitura: diferentes conceitos, abordagens e posturas em sala de aula..113

AULA 9
Os (des)caminhos da produção textual escrita na escola: diálogos
constantes....................................................................................................................135

AULA 10
Gêneros textuais e ensino: diálogos possíveis...............................................157
Aula

LINGÜÍSTICA APLICADA:
1
NATUREZA, ORIGENS, EVOLUÇÃO

META
Apresentar a natureza, origem e evolução da Lingüística Aplicada no rol das ciências da
linguagem, destacando sua importância para o profissional da área de Letras.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
definir o campo de estudos da Lingüística Aplicada;
identificar os principais momentos históricos relativos à origem e à evolução dos estudos em
Lingüística Aplicada no Brasil;
reconhecer a importância da formação em Lingüística Aplicada para o profissional da área de
Letras.

PRÉ-REQUISITO:
Para iniciar bem este curso, é importante que você tenha aproveitado da melhor maneira a
disciplina Lingüística, trabalhada no semestre anterior. Por que isso? Porque continuaremos a
trabalhar muitos dos seus fundamentos na disciplina que ora iniciamos.

(Fonte: http://www.casadellibro.com).
Lingüística aplicada ao ensino de língua materna

INTRODUÇÃO

Para início de conversa, cabe uma pergunta bem prática: o que é Lin-
güística Aplicada? A que será que se destina esta disciplina? E aí? Você é
capaz de deduzir? Dá para imaginar que, ao menos, já começou a pensar
alguma coisa do tipo “Ora, em lugar de ter afirmações, eu tenho pergun-
tas!?” ou “Pela lógica, só pode ser algo que aplique assunto de lingüísti-
ca”, não é mesmo!? Pois é, de certa forma, você tem razão. Mas, além
disso, pensemos em outra pergunta: qual o papel da disciplina para a for-
mação do profissional da área de Letras? Que tal começarmos a pensar e
a falar sobre isso agora!? Como tudo na vida obedece a uma ordem, inici-
aremos estas nossas aulas focalizando a origem, a natureza e a evolução
dos estudos caracterizados com o rótulo da “Lingüística Aplicada” e, cla-
ro, daremos seqüência ao longo das aulas vindouras. Pois bem, vamos lá.

8
Lingüística aplicada: natureza, origens, evolução Aula

DO ONTEM AO HOJE: O CAMPO DE ATUAÇÃO


DA LINGÜÍSTICA APLICADA
1
1 2 3

(Fonte: 1. http://www.insular.com.br; 2. http://www.comprar-livro.com.bi;


3. http://www.iel.unicamp.br; 4 http:// www.jullianaveloso.com.br).

Segundo afirma Trask (2004), a Lingüística Aplicada (doravante LA)


consiste na aplicação de conceitos e métodos lingüísticos a algum proble-
ma prático que envolva a linguagem. Assinala o autor, ainda, que, na
maioria das vezes, o termo é encontrado em contextos que referendam o
ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, mas a lingüística tem en-
dossado a utilidade que o termo tem num conjunto de domínios os mais
diversos ¾ lexicografia, ensino de leitura, diagnóstico e tratamento de
distúrbios lingüísticos ¾ relacionados à língua materna.
O termo Lingüística Aplicada surgiu em 1940 e, já em 1946, como
apontam Bohn e Vandresen (1988), figurava como nome de disciplina na
Universidade de Michigan. Em 1948, foi a vez da fundação e publicação
do primeiro número do Journal of language learning: a journal of Applied Linguistic.

9
Lingüística aplicada ao ensino de língua materna

Outros dois marcos importantes na consolidação dos estudos em


LA foram a criação da Escola de Lingüística Aplicada na Universidade de
Edimburgo, em 1956, e a do Centro de Lingüística Aplicada nos Estados
Unidos, em 1969. Essa época costuma ser reconhecida como a da “apli-
cação de saberes”. Isso porque a LA refletia algumas idéias (de natureza
estruturalista ou funcionalista) de lingüistas que poderiam ser aplicadas
ao ensino de uma segunda língua ou mesmo da língua materna.
Nesse sentido, a influência dos estudos estruturalistas, notadamente o
privilégio do sincrônico sobre o diacrônico1, a ênfase nas relações internas sobre
as externas e o realce da dicotomia “indivíduo vs sociedade” afetaram esse
momento histórico da LA. Aliás, a predominância desse modo dicotômico de
se pensar a linguagem e /ou a aquisição de línguas gera a dissociação dos estu-
dos lingüísticos aplicados das questões históricas, sociais, culturais. Em outras
palavras, essa perspectiva da LA subjugava a concepção de que a língua é um
sistema de significação de idéias que tem um importante papel na definição do
modo como o homem concebe a si mesmo e o mundo que o cerca.
Na década de 1960, esse panorama começa a mudar. Em 1963, foi
fundada a Associação Internacional de Lingüística Aplicada (AILA), em
1964, a Associação Britânica de Lingüística e, em 1967, o TESOL
Quartely. Em terras brasileiras, foi criado, em 1966, o Centro de Lingüís-
tica Aplicada Yázigi, em São Paulo.
Embora esse período ainda se caracterize pela aplicação dos
“insights” dos lingüistas ao ensino de línguas, pode-se dizer que a LA
passou a se preocupar com as formas de avaliação, as políticas educacio-
nais e com um campo de aquisição de uma segunda língua, com o foco
voltado mais para a aprendizagem do que para o ensino.
Em 1970, o marco inaugural (oficial) da LA no Brasil foi a implan-
tação do primeiro Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Lingüística
Aplicada, até hoje reconhecido como centro de excelência na área (ver
seção “É importante saber que ...” ao final da aula).
Para Rojo (1999), A LA esteve, nesse período, ainda muito dependente
da Lingüística Teórica. Representava, assim, uma aplicação de teorias ao con-
texto de uso, ao ensino-aprendizagem de línguas (estrangeira e/ou materna).
Ainda segundo a autora, o lingüista aplicado mostrava-se impassí-
vel às suas crenças nos princípios decorrentes do positivismo e do estru-
turalismo. O que acarreta, entre outras:
a) uma perspectiva de linguagem a-política e a-histórica;
b) uma ênfase na noção de objetividade, decorrente da separação entre
sujeito e objeto; c) a concepção de que a experiência é anterior à linguagem;
d) o desenvolvimento de modelos e métodos eminentemente científicos;
e) a crença na idéia de que o conhecimento é gradual e cumulativo;
f) a aplicação universal do princípio da verdade e da racionalidade.
A década de 1980 é cenário para o alvorecer de uma LA com defi-
nições cuja ênfase recaía não só sobre a diversidade de assuntos tratados,

10
Lingüística aplicada: natureza, origens, evolução Aula

mas também sobre os domínios disciplinares usados para trabalhar ques-


tões lingüísticas. O foco de análise do lingüista aplicado, então, extrapolou
1
os limites entre ensino-aprendizagem de línguas, à medida que voltou seu
olhar para questões de ordem política e de planejamento educacional,
para o uso da linguagem em contextos os mais diversos (profissional, por
exemplo), para os processos de tradução, para a lexicografia, para a rela-
ção “linguagem e tecnologia”, dentre outras.
Segundo Kleiman (1998), no Brasil, muitos foram os trabalhos,
dentre teses e artigos científicos, que focalizaram o processo de produção
de linguagem, seja observando os textos dos alunos, seja analisando a
linguagem veiculada nos livros didáticos.
Assim, nesse contexto, a LA passa a dialogar com outros saberes. A
Psicologia (em particular, a Cognitiva), a Sociologia, a Antropologia, a
Etnografia e a Estilística, por exemplo, passaram a oferecer bases de es-
tudos antes procurados tão somente na Lingüística. Para Celani (1998), a
LA passa a ser encarada como articuladora dos variados domínios do
conhecimento, em função do casamento dos seus princípios com aqueles
advindos desses outros campos científicos que abordam a linguagem.
Na verdade, a percepção da LA depois da segunda metade dos anos
de 1980 é visivelmente mais ampla, superando a antiga idéia de que a
área se definia como pura aplicação de teoria lingüística à prática do ensi-
no de línguas. Se antes, para cada nova classificação de palavras proposta
nos meios acadêmicos, era criada uma forma de inserção em salas de
aula, agora a situação passava a se caracterizar de forma bem diferencia-
da. Nessa época, como vimos acima, passa-se a contar com o apoio de
saberes disciplinares de outros campos, assim, dada a identificação do
assunto/problema, eram indicadas as ciências auxiliares apropriadas para
o encaminhamento de suas prováveis soluções.
Esse universo de conciliação dos saberes trouxe à tona, nos anos
de 1990, a multiplicidade de enfoques, de temas e metodologias, desa-
brochando uma discussão sobre a identidade da LA, sobre a
representatividade dessa área frente aos estudos da linguagem.
Quantas informações históricas, não é mesmo!? Bom, mas você já deve
estar atentando para o fato de que os lingüistas aplicados despertaram para a
necessidade de olhar a linguagem enquanto processo, posto que esta implica
convenções e práticas determinadas por relações de poder e por processos
ideológicos que moldam a sociedade e vice-versa. (cf. FAIRCLOUGH, 1992).
Diante desse momento histórico, Moita Lopes (1996) afirma que a
LA configurou-se como uma perspectiva mediadora, pautada na solução
de problemas do uso da linguagem pelos participantes do discurso no
contexto social. Os estudos em LA, além de operarem com conhecimen-
tos de outras ciências, formularam seus modelos teóricos e passaram a
focalizar a linguagem no âmbito dos procedimentos de interpretação e
produção lingüística que determinavam a interação oral e escrita.

11
Lingüística aplicada ao ensino de língua materna

De modo geral, os autores têm mostrado que, nos últimos anos da


década de 1990, a LA passou a priorizar questões como:
a) a noção de conscientização lingüística;
b) o “modo” de aprendizagem de línguas;
c) a aprendizagem via interações dialógicas;
d) os padrões de interação professor-aluno;
e) a aprendizagem centrada no contexto e o professor como pesquisador.
CONCEITO Como DEbom entendedor que é, você já deve ter inferido que a LA pas-
sou a discutir questões mais práticas, mais voltadas ao dia-a-dia do ensino-
REPRESENTAÇÃO
aprendizagem de línguas, sejam elas maternas ou estrangeiras. Assim, a LA
passou a oferecer bases sobre as quais se alicerçam muitos dos estudos
desenvolvidos sobre as habilidades de leitura, escrita, análise lingüística e
outras, despertando discussões importantes nos meios acadêmicos e, igual-
mente, apontando possíveis saídas para o desenvolvimento de tais habili-
dades no universo da sala de aula. Sem falar, claro, no fato de ter contribu-
ído sensivelmente para o desabrochar de documentos governamentais que
reforçam como os estudos lingüísticos em ebulição podem contribuir (e
contribuem!) para a melhoria do ensino de línguas no Brasil. Nas próximas
aulas desta disciplina, alguns desses documentos serão abordados.
Hoje, com o avanço das pesquisas em LA, reconhece-se a necessida-
de de renovação dos métodos de ensino de língua que se sacralizaram ao
longo dos anos. De modo geral, pesquisas em LA destacam que o profis-
sional de Letras não pode perder de vista:
a) a discussão e o aprofundamento de questões relativas aos fundamen-
tos teórico-metodológicos do processo de ensino e de aprendizagem da
língua (materna ou estrangeira);
b) o repensar do processo e do ensino da língua (materna e estrangeira) a
partir das contribuições de estudos lingüísticos e de campos auxiliares;
c) o conhecimento de diferentes concepções de alfabetização e métodos
que orientem sua prática pedagógica;
d) a compreensão do ensino de língua (materna e estrangeira) em dois
eixos: fala/escuta e leitura/escritura, percorridos pela reflexão sobre a
língua (análise lingüística), para uma prática de ensino articulada (atitu-
des, atividades, conteúdos, procedimentos);
e) a discussão da problemática do ensino da língua materna e da alfabeti-
zação, buscando alternativas que possibilitem a formação de sujeitos lei-
tores/produtores nos espaços pedagógicos e fora deles.
Cagliari (1989), ao tratar do ensino de língua, ressalta questões liga-
das às diversas teorias lingüísticas que precisam integrar o repertório de
conhecimento do professor, a fim de que este possa contribuir para a
melhoria ou mudança da face do ensino.
Entre essas questões, estão:
- a distinção entre os aspectos fonéticos e os fonológicos. Como sabemos,
a Fonética se preocupa com os sons da fala (nas mais variadas situações);

12
Lingüística aplicada: natureza, origens, evolução Aula

já a Fonologia preocupa-se com os sons da língua, os fonemas (enquanto


traços distintivos);
1
- a consideração do nível sintático-semântico, ou seja, aquele que reporta
ao fato de uma unidade de expressão associar-se a uma unidade de con-
teúdo;
- no nível textual, devem ser analisados todos os constituintes da mensa-
gem (sua articulação, seus significados) e não apenas aspectos semântico-
literários;
- o conhecimento das variedades dialetais que seus alunos apresentam, se-
jam elas históricas, geográficas, sociais e/ou estilísticas, pois o profissional de
Letras precisa saber lidar com as variações. Isso porque, ao conduzir seus
alunos ao conhecimento da variação lingüística, o professor contribuirá para
que eles compreendam seus mundos e os alheios e se dêem conta de que a
cultura (e/ou sabedoria) não é privilégio de quem usa a norma culta.
Enfim, a LA tem insistido na idéia de que é preciso selecionar com
cuidado os conteúdos lingüísticos a serem trabalhados na prática de sala
de aula. Defende-se, sobremaneira, uma comunhão equilibrada entre as
modalidades oral e escrita da língua. Melhor dizendo, enfatiza-se a impor-
tância de se considerar oralidade e letramento como práticas sociais, de
se promover um estudo crítico sobre a linguagem.
Puxa, muita coisa dita ao mesmo tempo, sim? Sem muitas preocupa-
ções, ao longo deste curso, você terá oportunidade de vivenciar como a
LA tem abordado cada um desses assuntos acima comentados. Por ora,
basta ter um conhecimento em relação ao seu processo de evolução his-
tórica, dado o destaque aos fatos que contribuíram para que essa área do
conhecimento ganhasse seu lugar ao sol.

CONCLUSÃO

Que mais a dizer? Como você pôde notar, é fácil concluir que, tendo
passado por momentos históricos decisivos para a sua consolidação en-
quanto área de estudos em linguagem, a LA, embora não se limite a uma
mera aplicação de teoria lingüística a algum problema da sala de aula de
língua, tem mostrado sua importância para a atuação pedagógica do profis-
sional da área de Letras, à medida que desperta questionamentos os mais
diversos sobre a natureza desse ensino, sobre a forma de condução desse
trabalho no espaço escolar. Além disso, é de preocupação da LA todo e
qualquer problema prático que envolva o universo complexo da linguagem
enquanto prática social. Para finalizar, registremos as palavras de Almeida
Filho (2007, p.16): “a Aplicação de teoria lingüística passou a ser uma mo-
dalidade de pesquisa em lingüística aplicada, mas nem de longe a mais vi-
çosa de suas tendências. Agora, a LA é a área de estudos voltados para a
pesquisa sobre questões de linguagem colocadas na prática social”.

13
Lingüística aplicada ao ensino de língua materna

RESUMO

Nesta aula, apresentamos, de forma sucinta, a história e evolução


dos estudos em Lingüística Aplicada, a partir de uma amostragem que vai
desde o aparecimento do termo no rol das ciências que tomam a lingua-
gem como foco de análise, em 1940, até os questionamentos que ora são
despertados por esse campo disciplinar nos dias atuais, sobretudo aque-
les que estão ligados diretamente ao ensino de línguas (materna ou es-
trangeira). Dessa forma: a) delineamos tal campo a partir da história dos
primeiros trabalhos rotulados de lingüistas aplicados, enquanto sinôni-
mos de aplicações de teoria lingüística a algum conteúdo exposto nas
salas de aula de língua, passando pelas significativas mudanças de pensa-
mento desencadeadas no alvorecer dos anos de 1980, com a recorrência
aos princípios advindos de ciências auxiliares; b) em seguida, observa-
mos como a mudança de pensamento instaurada a partir da década de
1980 ocasionou uma multiplicidade de estudos sobre o papel da LA junto
ao ensino de línguas, assim como essa mudança fez aparecer novos mo-
dos de olhar o trabalho com a linguagem nos anos de 1990, marcado,
principalmente, pelo alvorecer de estudos centrados, entre outros, nos
“modos” de aprendizagem de línguas e nas formas de interação profes-
sor-alunos; c) afora essas questões, vimos também questões que corri-
queiramente são tratadas com grande deferência pela LA, como essenci-
ais ao trabalho do professor da área de Letras. Ou seja, questões que
motivaram e, ao mesmo tempo, integram o corpo de documentos gover-
namentais que institucionalizam o ensino de língua no Brasil, por exem-
plo; d) por fim, destacamos, com base nas necessidades latentes ao pro-
fissional de letras para o trabalho pedagógico a ser desenvolvido junto ao
ensino de línguas, como os princípios advindos da LA são importantes
para o desencadear de um ensino crítico, voltado à melhoria das capaci-
dades de produção e recepção de conteúdo pelo aluno.

ATIVIDADES

1. Com base no que vimos, considerando-se desde a sua origem, quais as


principais mudanças de percepção/atuação ligadas à evolução do campo
de estudos da LA?

14
Lingüística aplicada: natureza, origens, evolução Aula

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


1
É claro que você pode responder a essa questão enumerando cada
uma das fases vividas pela LA ao longo de seu processo de evolução,
destacando desde o momento em que o termo fora aplicado pela
primeira vez, nos idos anos de 1940, até os dias de hoje, com o
destaque a questões que antes não eram vinculadas a esse campo de
atuação. Porém, é de se esperar que conduza sua resposta a uma
discussão mais epistemológica, apontando, de fato, momentos
decisivos para essa consolidação da LA como área dos estudos em
linguagem, a exemplo da comparação entre as formas de pensar das
décadas de 1980 e 1990 com os trabalhos desenvolvidos antes desses
períodos e, igualmente, com os que hoje têm merecido destaque. Ou
melhor, em que medida esses modos de pensar contribuíram para os
estudos que hoje são desenvolvidos sob o rótulo de LA.

2. Que questões importantes podem ser citadas como forma de justificar


a importância da LA para o profissional da área de Letras nos dias de
hoje?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Você pode citar aqui muitas questões como importantes para o


reconhecimento das preocupações da LA com formação profissional
em Letras, desde que esclareça até que ponto tais questões, de fato,
devem compor o repertório de conhecimento e/ou atuação do professor
em sala de aula. Um bom exemplo seria mostrar os conhecimentos
propriamente lingüísticos (fonéticos, fonológicos, morfológicos,
sintáticos, textuais...) e os possíveis cuidados que o profissional em
Letras deve ter quando de sua seleção e aplicação junto aos alunos.

É IMPORTANTE SABER QUE...

O Programa de Estudos Pós-Graduados em Lingüística Aplicada e


Estudos da Linguagem (LAEL) da PUC-SP, tendo sido criado em 1970,
foi o primeiro Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Lingüística
Aplicada fundado no Brasil. Em 31/03/1971, foi reconhecido como
centro de excelência, credenciado pelo Conselho Federal de Educação
em 23/09/1973 e recredenciado em 20/08/1978.

15
Lingüística aplicada ao ensino de língua materna

Em 1980, criava-se o Programa de Doutorado na área, tendo seu


credenciamento acontecido em 05/05/1983, simultaneamente ao
credenciamento do Mestrado. Tais cursos foram recredenciados em
1989. A partir de 1997, o Programa foi renomeado, passando a
chamar-se Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem.
Nos dias de hoje, além de formar mestres e doutores no campo da
Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem, o Programa tem
supervisionado trabalhos em nível de pós-doutorado. Suas linhas de
pesquisa estão assim distribuídas: Linguagem e Educação; Linguagem
e Trabalho; Linguagem, Educação e Tecnologia;Linguagem e
Patologias de Linguagem.

Informações extraídas, no dia 24/01/2008, do endereço eletrônico:


http://www.pucsp.br/pos/lael

LINGÜÍSTICA

Como você já deve ter estudado em Lingüística, os termos


sincronia e a diacronia foram cunhados por Ferdinand de
Saussure, pai da Lingüística Moderna, e remetem à forma por
meio da qual os estudiosos podem lançar mão (ou não), ao
fazer uma abordagem (descrição) lingüística. Os estudos
rotulados de sincrônicos analisam os fatos lingüísticos num
dado momento de desenvolvimento histórico e aqueles que
são tidos como diacrônicos descrevem os fenômenos
lingüísticos a partir das relações que estes mantêm com
outros fenômenos, que o precedem ou o sucedem, na linha
do tempo. Por considerar incompatível a noção de sistema e
de evolução, Saussure excluiu a diacronia do domínio da
Lingüística, situando-a numa condição periférica, ao lado da
fala. Justifica-se, então, a predominância dos estudos
sincrônicos sobre os diacrônicos nos primeiros trabalhos
desenvolvidos sob a rubrica da LA.

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, discutiremos, de forma mais específica, que desafi-


os a Lingüística Aplicada vem destacando para o profissional de Letras
poder desenvolver um ensino de língua caracterizado como crítico.

16
Lingüística aplicada: natureza, origens, evolução Aula

AUTO-AVALIAÇÃO 1
Agora que foi oficialmente apresentado ao campo de estudos da Lin-
güística Aplicada, você é capaz de especular sobre as problemáticas futu-
ramente desenvolvidas no curso de nossas aulas, não é mesmo? Pense e
tente responder a si mesmo até que a nossa próxima aula comece a desta-
car melhor cada um dos tópicos imaginados. Só mais uma sugestão: que
tal imaginar que você terá que repassar, como se fosse um seminário aca-
dêmico a um colega, o que representa esse maravilhoso universo de estu-
dos da linguagem?! Tente ousar. Boa sorte!

REFERÊNCIAS

ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes de Almeida. Lingüística Aplicada –


ensino de línguas e comunicação. 2 ed. Campinas-SP: Pontes, 2007.
BOHN, Hilário; VANDRESEN, Paulino. Tópicos de lingüística aplica-
da. Florianópolis: Editora da UFSC, 1988.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1989.
CELANI, Maria Antonieta Alba. Transdisciplinaridade na lingüística
aplicada no Brasil. In: SIGNORINI, Inês; CAVALCANTI, Marilda C.
(orgs.). Lingüística aplicada e transdisciplinaridade: questões e pers-
pectivas. Campinas: Mercado de Letras, 1998. pp.129-142.
FAIRCLOUGH, Norman. Critical language awareness. London
Longman, 1992.
KLEIMAN, Angela. O estatuto disciplinar da lingüística aplicada: o
traçado de um percurso. Um rumo para o debate. In: SIGNORINI, Inês;
CAVALCANTI, Marilda C. (orgs.). Lingüística aplicada e
transdisciplinaridade: questões e perspectivas. Campinas: Mercado de
Letras, 1998. p.15-23.
MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Oficina de lingüística aplicada: a na-
tureza social e educacional dos processos de ensino/aprendizagem de
línguas. São Paulo: Mercado de Letras, 1996.
ROJO, Roxane. Perspectivas para os estudos sobre a linguagem na
virada do milênio: o caso da lingüística aplicada. V Seminário de Teses
em Andamento. IEL/UNICAMP, 1999.
TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e lingüística. Tradução de
Rodolfo Ilari e revisão técnica de Ingedore Villaça Koch e Thaís Cristófaro
Silva. São Paulo: Contexto, 2004.

17

Você também pode gostar