Singularidade Na Educação

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Cada um de nós é diferente.

Temos experiências

Diferentes. Recebemos o sol de maneira diferente

Projetamos nossa sombra de maneira...

Buscaglia, 1982

Introdução

Este artigo remete bibliograficamente à possibilidade de reflexão a respeito da


inclusão nas escolas, pois se percebe a dificuldade em que os educadores encontram
para adaptar suas salas de aula, pois ainda são criadas e mantidas para alunos
idealizados e homogêneos, sem levar em conta a diversidade encontrada na sociedade,
e, portanto, na escola. Essa é uma perspectiva que torna possível a tarefa de
educar para o respeito a todos os sujeitos sem distinção de qualquer tipo.

Fatos observados e contatados durante os estágios acadêmicos e em anos de


prática em instituições de ensino, acumulando experiências e desenvolvendo a idéia
de que para haver inclusão é necessário criar o respeito pelas diferenças, criando
uma visão de valorização as singularidades, individualizando sem excluir.

Educar para diversidade

Presenciar a indiferença, a discriminação, o preconceito, a injustiça, os


rótulos é quase que comum nas escolas públicas em relação a alunos que não seguem o
padrão idealizado pela escola tradicional, causam indignação, pois a escola é um
lugar privilegiado para ensinar as crianças desde cedo, com carinho e respeito pelo
outro.

As crianças sempre entram nesse cenário que é a escola. Lugar primeiramente que
receberia a todos com respeito, afeto, solidariedade. Isso contribuiria muito para
que crescessem aprendendo a lidar com as diferenças com sensibilidade.

É durante os seus anos de formação que as crianças adquirem o entendimento das


diferenças, o respeito e o apoio mútuos em ambientes educacionais que celebram a
diversidade humana. Pois segundo Senra [et al], 2008, p.19,

A escola regular, enquanto um ambiente plural e segundo a Constituição Federal,


deve retratar a sociedade como ela é. Nesse sentido, deve reconhecer que cada
indivíduo tem necessidades particulares. Mesmo que a escola seja eminentemente o
lugar do coletivo, é fundamental que haja uma reflexão sobre a escola que queremos,
onde a educação seja pensada a partir de cada um, visando ao pleno desenvolvimento
de todos.

A exclusão escolar acontece, ironicamente, desde que a escola se tornou


democrática. Ela recebeu alunos de vários novos grupos sociais sem se preparar para
isso e com a mesma estrutura física, valores e conhecimento. Analisando o contexto
atual, composto por alunos, pais, professores e autoridades responsáveis, deveriam
verificar um empenho para enfrentar o desafio da intransigência e da indiferença,
para que assim fosse possível oferecer um ensino de qualidade, respeitando a
heterogeneidade e a individualidade dos alunos.

Pois estas diferenças não estão só relacionadas com as deficiências e sim com
outras diferenças e singularidades como corrobora a autoraSENRA [et al.], 2008 p.
33,

Deve incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças que vivem na rua e


aquelas que trabalham crianças provenientes de população nômade e de outros grupos
em desvantagem ou marginalização. Depreende-se, da letra dessa recomendação com
vistas a uma escola inclusiva, que todas as crianças, deficientes ou não, cuja
necessidades educacionais escolares decorrem de suas dificuldades ou de suas
capacidades diferenciadas de aprendizagem, devem ser incluídas nas escolas
regulares.

Almejamos uma nova concepção de educação escolar e uma prática pedagógica que
reconheça que o conhecimento se constrói coletivamente mediante interações,
vivências mútuas e através do exemplo.

Uma escola onde os professores sejam os mediadores de toda a diversidade que


vem da vida dos alunos, promovendo a produção de novas idéias, a elevação de
sentimentos, o respeito aos valores e às diferenças sociais e escolares. Assumir,
compreender e respeitar essa diversidade é requisito para orientar a transformação
de uma sociedade tradicionalmente pontuada pela exclusão.

Pensando sobre inclusão

Eventos e acordos internacionais foram fundamentais para impulsionar a criação


de uma política educacional mais justa para todos, sobretudo para as pessoas com
necessidades especiais. Mas não foram apenas esses que ganharam com isso, alunos
vindos de classes sociais menos favorecidas também. Entre eles, destaca-se a
Declaração Mundial de Educação para Todos, resultado da Conferencia Mundial de
Educação, realizada em Jomtien, na Tailândia, 1990 a uma década passada, e
posteriormente a Declaração de Salamanca, oriunda da Conferência Mundial sobre
Necessidades Especiais (Acesso e Oralidade UNESCO, 1994).

[...] reconhecimento da necessidade de se caminhar rumo à escola para todos –


lugar que inclua todos os alunos celebre as diferenças, apóie a aprendizagem e
responda às necessidades individuais.

A Declaração de Salamanca (1994, p.17) recomenda que as escolas se ajustem ás


necessidades dos alunos, quaisquer que sejam suas condições físicas, sociais e
lingüísticas, incluindo também aqueles que vivem nas ruas, as que trabalham as
nômades, as minorias étnicas, culturais e sociais. Do documento destáca-se:

O princípio fundamental da escola inclusiva é o que de todas as crianças


deveram aprender juntas, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças
que possam ter. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder ás diversas
necessidades de seus alunos, acomodando tantos estilos como ritmos diferentes de
aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos por meio do currículo
apropriado, modificações organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e
parcerias com a comunidade.

Alem destes documentos legais, possuímos também a Constituição Federal/1988, a


LDB/1996 e a Convenção Internacional de para Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra Pessoas Portadoras de Deficiência que trazem discussões sobre
o direito de todos.

Enquanto educadores temos a responsabilidade de refletir sobre o nosso fazer


pedagógico, não por imposição, já que as leis estão para normatizar ás práticas nas
instituições educacionais do nosso país, mas pela ética do nosso papel social. Ter
responsabilidade de enfrentar os desafios com coragem e determinação para então
conseguir um futuro melhor para nossas crianças.

A escola de hoje precisa encontrar o caminho para a diversidade, engajando as


crianças no mundo das diferenças preparando- as a exercerem uma cidadania plena. Na
sala de aula há alunos de diversas culturas, o que requer do professor um olhar
diferenciado para seu planejamento, bem como o currículo escolar, através de
adaptações aos conteúdos e atividades desenvolvidas em sala de aula.

Segundo Mantoan (1998, p.02):

A inclusão, como conseqüência de um ensino de qualidade para todos os alunos


provoca e exige da escola e dos professores novos posicionamentos e é um motivo a
mais para o ensino se modernize e para que os professores aperfeiçoem as suas
práticas. É uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação
das condições atuais da maioria de nossas escolas.

Incluir as pessoas com necessidades especiais nas turmas de educação regular


eleva a responsabilidade e a consciência sobre cada aspecto que deve,
necessariamente, ser interligado entre escola e comunidade, pois a convivência e a
cooperação mútua proporcionam para o portador de deficiência o desenvolvimento de
uma vida social saudável. Mittler (2003, p. 140) complementa essa disposição
dizendo que a

Inclusão e exclusão começam na sala de aula. Não importa o quão comprometido um


governo possa ser com relação à inclusão; são as experiências cotidianas das
crianças nas salas de aula que definem a qualidade de sua participação e a gama
total de experiências de aprendizagem oferecidas em uma escola.

No entanto, deve-se ter ciente que as escolas, ainda, não estão preparadas para
a inclusão e muitas delas ainda vivem um processo integrativo e não inclusivo.

Faz-se necessário contrariar o paradigma da exclusão, promovendo a aceitação do


outro, sua singularidade, individualidade e na possibilidade do existir na
diferença.

Para que esse paradigma se instale é preciso não só compreender esse aluno, mas
implementar políticas que ofereçam condições necessárias para que os alunos
estabeleçam sua permanência nas escolas.

Gestar uma escola para todos, não envolve somente dispositivos legais, mas
também em criar ações no âmbito político, que assegure a matrícula de todos os
alunos com ou sem necessidades especiais. É muito importante a elaboração de
projetos políticos pedagógicos que deve estar orientado pela política da inclusão e
pelo compromisso com a educação escolar desses alunos.

Cada um no seu ritmo

No cotidiano escolar dos professores é importante ressaltar que todos os anos


surgem desafios de grande relevância. Mesmo não se tratando de alunos instituídos
com “especiais”, em âmbito intelectual, social, financeiro, psicológico ou físico
educadores também encontram seus obstáculos com alunos convencionais, que apenas
não alcançam as expectativas impostas por um currículo arcaico, pois não valorizam
ou buscam desenvolver suas habilidades e talentos, não compreendendo que todas as
crianças não saíram da mesma forma, todavia, por esse motivo não devem ser
rotuladas e excluídas por suas diferenças, e sim valorizadas e incluídas no grupo
por suas singularidades.

Segundo GARDNER, (1995, p. 194),

Quanto mais avançamos além de uma visão unitária da inteligência, em que todas
as pessoas podem ser medidas pelo mesmo termômetro cognitivo, mais evidente se
torna que a mente de cada pessoa é diferente da de todas as outras. A pluralização
da inteligência sugere que pode haver de sete a várias centenas de dimensões
mentais e naturalmente as combinações e recombinações destas dimensões logo criam
um número indefinidamente grande de mentes.
Resta ao professor assumir suas limitações e indo em busca de novos
conhecimentos com dedicação, ter por princípio básico a compreensão ao invés da
exclusão. Temos que optar com toda convicção em acabar com concepções tradicionais
dos problemas escolares que tornam em dogmas, que o aluno com alguma dificuldade de
aprendizagem seja repassado para um profissional na área de saúde, começando na
maioria das vezes medicado.

Sabe-se que este é um processo complexo em que estão incluídos inúmeros fatores
como: aluno, professor, concepção e organização curricular, metodologia, estratégia
e recursos. Mas ainda não depende deles, e sim da maneira que o professor se dispõe
a se adaptar as peculiaridades de cada aluno para desenvolver suas tarefas. Esse
ajuste entre aluno e professor é fundamental para que ocorram progressos no
processo de ensino aprendizagem.

A escola é um espaço heterogêneo, como a sociedade, temos que ter em nossa


concepção que todos aprendem da mesma maneira, mas que cada um aprende em seu
ritmo, e em seu nível. Pesquisas desenvolvidas sobre o cérebro no processo de
aprendizagem se verifica que cada individuo possui diferentes potenciais de
inteligência, que ela não é fixa, já que todo ser humano possui habilidade para
desenvolver e aumentar sua própria aprendizagem.

Precisam-se criar novos contextos que se adaptem às individualidades dos


alunos, partindo do que cada um sabe e de suas potencialidades, capacidades e não
de suas dificuldades.

A escola deve valorizar os muitos saberes do aluno, e seja oportunizado a ele


demonstrar suas potencialidades. A escola ainda tem valorizado apenas o
conhecimento verbal e matemático, deixando de lado tantos outros conhecimentos
importantes para a vida. Conhecimentos tão importantes não são muitas vezes
oportunizados aos alunos como: atividades físicas, teatro, artes plásticas, música
e dança. O professor deverá oportunizar as crianças situações favoráveis à
aquisição do conhecimento e acreditar nas capacidades dos seus alunos de forma
positiva e confiante, fazendo com que cada um deles tenha o sentimento de pertencer
a um grupo, pois jamais vai demonstrar as potencialidades que possui.

O professor deve sempre tornar o ambiente escolar acolhedor aceitando a criança


como ela é, oferecendo meios para que ela se desenvolva, com essas atitudes a
garantia de sucesso é certa. Segundo Perreoud (2000) para que cada indivíduo
progrida rumo aos domínios visados, convém colocá-lo, com bastante freqüência, em
situação de aprendizagens para ele. Não basta somente que ela tenha sentido, que
envolva e mobilize. Deve também solicitá-lo em sua zona de desenvolvimento próximo.
No entanto, uma situação ótima para um, pode não ser ótima para outro, visto que em
uma sala de aula existem inúmeros alunos cada um com seus costumes e cultura, e que
conseqüentemente não possuem os mesmos conhecimentos prévios, a mesma relação com
os saberes, os mesmos interesses, os mesmos versos e maneiras de aprender.

Logo, diversificar as situações de aprendizagem é adequá-las as características


próprias dos alunos, é tentar responder ao problema muitas vezes rotulado de
dificuldade de aprendizagem, buscar caminhos educativos as diferenças individuais,
da possibilidades oportunizando o aprendizado valorizando e respeitando a
diversidade do ser humano.

Conclusão

Portanto, este artigo se propôs a uma reflexão crítica, um chamamento à


realidade do funcionamento da instituição escola, a quem estamos servindo, de que
administramos nosso tempo, e pensar em atitudes que podem ser tomadas no presente
para a escola mudar e atender a todos com dignidade é uma responsabilidade de todo
o educador.

Educação é para todos, e a maneira de efetivá-la é ensinar as crianças desde


cedo a conviver com as dificuldades, que fazem parte da complexidade do ser humano
e isso inclui também aceitar as próprias diferenças e as outras pessoas, precisamos
assim fazer uma lógica da educação como expõe a autora Senra [et al.], 2008, “para
todos” seja uma educação “para cada um”? Apostando que a lógica do “para - todos” é
suscetível de trocar o singular, na medida em que sua inscrição não depende de
nenhuma determinação em particular.

Para tanto necessitamos coragem, amor, competência, ações cooperativas e muita


vontade de aceitar o outro como único e com direitos a vida e ao processo
permanente do aprender. Pois segundo Senra [et al.], 2008,

A negação da diferença não permite a superação do preconceito, mas pelo


contrário, o exacerba, na medida em que o mascara. Apesar de “politicamente
correto” ser afirmar que somos iguais, é necessário afirmar que somos todos
diferentes, e que essa diferença é necessário assumir. De outro modo, tomaríamos
como bandeira a inclusão do custe o que custar, mesmo que seja ao preço da anulação
da subjetividade de nossos alunos, da confissão de nossa importância e da exposição
da escola como um gueto, alienante.

Portanto, queremos deixar claro que a negação da diferença e da singularidade,


não acaba e não permite a superação do preconceito, e assim o afirma e reforça, por
esse motivo vemos a necessidade de uma escola que consiga olhar para todos e para
cada um, dando igual importância e procurando atender a todos os alunos da melhor
maneira, permitindo a convivência na singularidade de todos, assim como é a
sociedade e a cultura em que vivemos.

Referências

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n° 9.394/96. Diário


Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996.

BRASIL. Ministério da Justiça. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre


necessidades educativas especiais. Brasília: CORDE, 1997.

BUSCAGLIA, L. A história de uma folha: uma fábula para todas as idades. 9. Ed. Rio
de Janeiro: Record, 1982.

UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação para todos. Plano de ação para satisfazer
as necessidades básicas de aprendizagem. Tailândia, 1990.

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo, Cortez, 1998.

FREIRE, P. F. A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio e Janeiro, Editora Paz e Terra,
1985.

GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática/Howard Gardner; trad.


Maria Adriana Veríssimo Veronese. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

KAZUMI, S. R. Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. 3º edição anos 1999.
Ed. WVARJ.

MANTOAN, M.T.E. Ensinando a turma toda. Pátio, Porto Alegre, ano 5, n. 20, p. 18 –
23, 2002.

MANTOAN, Maria Tereza Égler. A integração de pessoas com deficiência: contribuições


para uma reflexão sobre o tema. São Paulo. Mennon, 1998.
MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Editor Artimed: Porto
Alegre, 2003.

PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Artes Médicas, Porto Alegre,
2000.

PERRENOUD, P. A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos de uma sociologia do


fracasso. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

SENRA, A. H. [et al.]. Inclusão e singularidade: um convite aos professores da


escola regular. Belo Horizonte: Scriptum, 2008.

TAILLE, Y. de La (2001) Limites: três dimensões educacionais. Editora Ática.

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