TRABALHO DE TAXONOMIA DE CRIPTOGRAMAS Filo Basidiomycota (Basidiomicetos)

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1 INTRODUÇÃO

Os fungos juntamente com as bactérias heterotróficas são os principais


decompositores da biosfera. Ecologicamente de grande importância. Nas áreas médicas e
econômicas destacam-se as características que fazem dos fungos “pragas” importantes que
podem torná-los também de alto valor comercial.
O reino Fungi é um grupo de organismos eucariotos, heterotróficos, que vivem
principalmente em áreas terrestres. Eles podem ser unicelulares, como as leveduras, ou
pluricelulares, formados por hifas, podendo essas serem septadas ou asseptadas, também
denominadas cenocíticas. O conjunto de hifas é denominado micélio. Atualmente discute-se
seis filos para esse reino, são eles: Filo Microsporidia, Chytridiomycota, Zygomycota,
Ascomycota, Glomeromycota e Basidiomycota.
O presente trabalho irá discorrer a respeito do último filo citado, conhecido por
englobar, juntamente com Ascomycota, os “fungos superiores”. Nele estão presentes os
cogumelos e as orelhas-de-pau, além dos fitopatogênicos ferrugens e carvões. Ademais, os
principais representantes são a Pycilocybe mexicana, a Agaricus campestris e a Polyporus sp..

2 CARACTERÍSTICAS GERAIS

Os fungos do filo Basidiomycota possuem micélio septado e perfurados. Nesse âmbito,


muitas espécies têm margem inflada em forma de barril no poro do septo, chamada doliporo.
Sendo este uma característica usada para auxiliar na classificação, em que qualquer fungo
com septos com doliporo pertence aos Basidiomycota. Nos lados do doliporo são observadas
capas membranosas denominadas parentossomos, assim designadas porque lembram de perfil
um par de parênteses. É importante ressaltar também que muitos basidiomicetos, incluindo as
ferrugens e os carvões, apresentam septos que se assemelham aos dos ascomicetos. Para se
entender melhor os basidiomicetos morfologicamente pontua-se aqui um esquema de sua
estrutura geral.

Imagem 1: representação de estrutura interna de um corpo de frutificação. Fonte: Raven, Peter H. BIOLOGIA
VEGETAL:8.ed.Guanabara Koogan,2014.

Pode-se observar que as hifas são a unidade formadora do corpo do fungo e seu
conjunto é denominado micélio. Elas são filamentosas cilíndricas, alongadas e septadas. Hifas
septadas significam que elas são separadas por divisórias (septos) que são paredes que
dividem de modo completo ou incompleto uma cavidade ou estrutura em outras menores.
Nessa conformidade os fluxos protoplasmáticos correm através das aberturas dos septos e
fornecem nutrientes para as células, que são armazenados nas paredes das hifas como
glicogênio.
Para se conhecer mais detalhadamente essa estrutura cabe dissertar-se o ciclo de vida
de um cogumelo, tomando-o como referência para se entender a estrutura formadora de um
basidiomiceto.

Imagem 2: Ciclo de reprodução dos Basidiomicetos. Fonte: Raven, Peter H. BIOLOGIA


VEGETAL:8.ed.Guanabara Koogan,2014.

Os micélios primários monocarióticos são sintetizados a partir de basidiósporos (antes


da plasmogamia) desse himenomiceto (filo Basidiomycota). Esses micélios dão origem aos
micélios secundários dicarióticos, frequentemente após a fusão de diferentes tipos de
linhagens, caso em que os micélios são heterocarióticos. Os micélios terciários dicarióticos
formam o basidioma, dentro do qual ocorre formação de basídios no himênio que reveste as
lamelas, liberando, finalmente, até bilhões de basidiósporos.
O basídio (estrutura reprodutora, produtora de esporos) representado nos últimos
esquemas, é uma estrutura claviforme que produz os basidiósporos (esporos), sendo esses
fator de distinção a outros fungos.

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Imagem 3: As principais estruturas (basídio, anel, pé ou estipe, hifas diplóides, micélio monocariótico e
dicariótico, véu universal, volva, lâminas e píleo ou chapéu) e processos (cariogamia, meiose e formação e
libertação dos basidiósporos) do ciclo de vida dos Basidiomicetos. Fonte:
https://imagem.casadasciencias.org/index.php#!/descritivo?id=2041

Três subfilos são descritos no filo Basidiomycota: Agaricomycotina,


Pucciniomycotina e Ustilaginomycotina. Os fungos que produzem basidioma, como
cogumelos, orelhas-de-pau e bolotas-da-terra são os Agaricomycotina. Dentre os
Pucciniomycotina e os Ustilaginomycotina é possível citar as ferrugens e os carvões,
respectivamente, que serão tratados mais à frente no tópico a respeito de fitopatologias.

3 ASPECTOS ECOLÓGICOS DOS BASIDIOMICETOS

Os cogumelos constituem uma peça chave na ciclagem de nutrientes na natureza,


principalmente no ciclo do carbono, por serem excelentes degradadores de lignina, o
segundo biopolímero mais abundante sobre a terra. Os basidiomicetos causadores de
podridão branca parecem ser os melhores microrganismos com capacidade de
degradar lignina, celulose e hemicelulose em moléculas menores até CO2 e água.
Por conta disso, os basidiomicetos das ordens Russulales e Polyporales, conhecidos
vulgarmente como orelhas-de-pau, cumprem um papel ecológico muito importante ao
crescerem e se desenvolverem nos troncos das árvores ou matéria vegetal morta (no caso
lenhosa), pois, através do seu modo alimentar, aceleram a decomposição, enriquecendo o solo
com matéria orgânica e muitos nutrientes que são disponibilizados para as espécies
vegetais existentes na floresta.
Os cogumelos predominantemente das ordens Agaricales e Boletales possuem um
hábito de crescimento mais diverso, podendo ocorrer sobre a serapilheira, próximos às
árvores, solitários ou em grande número, na beira das nascentes por conta da
disponibilidade maior de água. No caso da serapilheira, os basidiomicetos atuam na
decomposição das camadas de folhas mortas e demais restos orgânicos depositados na
superfície do solo florestal. Os nutrientes da serapilheira e concentrações de frações de
carbono, como a lignina, têm sido identificados como indicadores da qualidade da
serapilheira. As relações entre algumas dessas substâncias têm sido usadas para explicar
diferenças entre a decomposição de materiais orgânicos.

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Os basidiomicetos, além de atuar na decomposição da matéria orgânica, contribuindo para
a fertilização do solo, também ajudam as plantas na absorção de nutrientes através de
associações com as raízes das mesmas. Os fungos basidiomicetos e ascomicetos formam
principalmente as micorrizas conhecidas como ectomicorizas. Elas são características de
certos grupos de árvores e arbustos encontrados principalmente nas zonas temperadas.
No Brasil, as ectomicorrizas são conhecidamente encontradas em espécies exploradas
economicamente, como Pinus, Eucalyptus e Acassia mangium.
As relações ecológicas dos fungos vão além da reciclagem de nutrientes e associação
com as plantas. Eles são capazes de atrair e interagir com diversos grupos de
organismos, principalmente insetos, como larvas de besouros e moscas, o que facilita a
criação de um ambiente mais rico em relações interespecíficas. Servem de alimento, ambiente
e substrato para sua reprodução, alimentando toda uma cadeia dentro de um ecossistema. O
resultado da interação destes organismos é uma floresta mais complexa, com crescimento
dinâmico.
O aumento das atividades industriais tem intensificado a poluição ambiental promovendo
a disposição inadequada de resíduos domésticos e industriais principalmente resíduos
perniciosos implicando na contaminação do solo ar recursos hídricos superficiais e
subterrâneos. Entre as tecnologias mais utilizadas na recuperação dessas áreas degradadas
destaca-se a biorremediação que tem como agentes recuperadores os microrganismos. Dentre
esses microrganismos um dos mais eficientes são os fungos, utilizados no processo
denominado micorremediação. Nesse processo os fungos aceleram o processo de
sucessão natural em áreas degradadas. Uma outra aplicação ambiental dos fungos está na
sua capacidade de controlar pragas enquanto bioinseticidas e no controle de ervas daninhas,
que podem substituir de maneira segura os pesticidas químicos nos próximos anos.

4 FUNGOS BASIDIOMICETOS EM PROCESSOS BIOTECNOLÓGICOS

O uso dos basidiomicetos em processos biotecnológicos pode ser dividido em duas


vertentes: o uso de sua capacidade de metabolizar lignina e a exploração de sua habilidade de
degradação de xenobióticos. A bioconversão de resíduos ligninolíticos resulta em produtos
metabólicos úteis para o ramo industrial, como enzimas e polissacarídeos, além de se poder
usar o próprio cogumelo como alimento básico.

Imagem 4: Esquema das possibilidades de uso dos basidiomicetos. Fonte: Matheus & Okino, 1998
A capacidade desses fungos de degradar xenobióticos (compostos orgânicos
sintetizados industrialmente) é especialmente útil no tratamento de resíduos líquidos
industriais, os chamados efluentes, evitando que toneladas de produtos tóxicos e nocivos ao

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ambiente alcancem os corpos d’água. O uso de tal potencialidade se prova igualmente
interessante para a recuperar solos degradados, já que possibilita a eliminação de substâncias
químicas sem resíduos poluentes. Isso apenas é possível graças aos basidiomicetos que
promovem a podridão branca.
Esse grupo degradador de madeira digere substâncias complexas e as retornam aos
estados mais básicos da matéria, tornando-as um material inócuo para o ambiente e até
possibilitando o uso dos produtos finais dessa degradação como fertilizantes em plantações ou
como suplementos para ração animal. Os fungos causadores de podridão branca têm a
habilidade de decompor celulose, hemicelulose e lignina, quebrando-as em moléculas
menores até CO2 e H2O, por isso são chamados de fungos lignocelulolíticos. Esses fungos
também demonstram potencial para metabolizar polímeros complexos e altamente resistentes
como o epóxi, mas tal tecnologia ainda está análise e seu uso futuro ainda é incerto.

4.1 OS BASIDIOMICETOS NA INDÚSTRIA

Os basidiomicetos já são usados nas indústrias farmacêuticas, alimentícia e cosmética


há milênios, como é o caso do cogumelo Ganoderma lucidum, que é usado na medicina
tradicional chinesa desde 4 mil anos atrás. Pesquisas recentes já encontraram muitos novos
compostos bioativos potencialmente benéficos nesses fungos, com atributos antibióticos,
antitumorais e antioxidantes. Cerca de 700 espécies do filo Basidiomycota apresentam
propriedades terapêuticas, entretanto, estima-se que esse número pode chegar a 1800 com o
crescente número de descobertas nesse ramo.
Um exemplo prático de seu uso na indústria são as proteases, conjunto de enzimas que
correspondem a 60% da venda total dessas substâncias no mundo. São usadas na indústria em
produtos e processos de alto valor agregado. Tais enzimas vêm despertando um interesse
particular na indústria farmacêutica, pois podem ser um substituto mais viável e eficaz de
alguns fármacos de ação fibrinolítica. Os compostos atualmente utilizados, além de terem
baixa especificidade à fibrina, trazem efeitos colaterais severos como hemorragia intestinal
durante o tratamento.

4.2 OS BASIDIOMICETOS NA ALIMENTAÇÃO

Os Basidiomicetos comestíveis, principalmente os cogumelos, vêm sendo consumidos


desde a antiguidade por povos orientais devido às suas propriedades medicinais e nutricionais
(são ricos em proteínas, sais minerais, cálcio, ferro e vitaminas do complexo B), e atualmente
têm conquistado cada vez mais espaço na indústria alimentícia mundial, tendo a China como a
maior consumidora (chegando a 10kg por pessoa ao ano), seguida por outros asiáticos. As
espécies mais cultivadas mundialmente são Agaricus Bisporus (Champignon), Lentinula
edodes (Shiitake), Volvariella volvacea (Cogumelo Palha) e Pleorotus ostreatus (Shiimeji).
No mercado, distinguem-se claramente dois nichos: o do champignon (Agaricus
Bisporus), a espécie mais explorada e comercializada no mundo; e o dos exóticos ou de
especialidade, que engloba espécies como Auricularia spp., Flamulina velutipes, Grifola
frondosa, Hypsizygus marmoreus, Lentinula edodes, Pleurotus Ostreatus, Pholiota nameko,
Tremella fuciformis e Volvariella spp., cujo volume de produção e comercialização está em
escala muito inferior ao do primeiro.
A produção mundial de cogumelos foi estimada pela FAO - Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação, em 2000, em cerca de 2,4 milhões de toneladas
métricas, destacando-se como maiores produtores a China, com 708 mil toneladas métricas; e
os Estados Unidos, com 390 mil toneladas métricas.

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Já no Brasil, a produção de cogumelos é pouco representativa, também é pouco
significativa sua participação no comércio mundial.O agronegócio de cogumelos no Brasil é
bastante reduzido, envolvendo poucos produtores, praticamente concentrados no estado de
São Paulo, e algumas empresas processadoras. O champignon é a espécie mais cultivada, mas
outras vêm despertando interesse nos produtores nacionais, como o shimeji. Existem ainda
algumas espécies nativas que são comestíveis, mas que ainda não são exploradas
comercialmente, como Auricularia fuscosuccinea, Oudemansiella canarii, Macrolepiota
procera, e Polyporus tenuiculus.

Imagem 5: Ilustração de alguns fungos comestíveis. Fonte: http://tungmellos.blogspot.com/2013/10/cogumelos-


alimento-ou-medicina.html

5 BASIDIOMICETOS SOB O PONTO DE VISTA FITOPATOLÓGICO

As fitopatologias se caracterizam como alterações negativas provocadas nas plantas,


podendo ser consequências de diversos fatores, tais como: ataque por insetos e outros animais,
fungos, bactérias e vírus, assim como outras plantas parasitas e fatores climáticos.
Dentre os fungos, o filo Basidiomycota possui grande importância para o estudo das
patologias que acometem as plantas, tendo em vista que há diversos representantes desse filo
causadores de tais moléstias. É pertinente ressaltar o interesse econômico no estudo desses
fungos, já que muitas espécies de plantas voltadas para o cultivo agropecuário são alvo desses
patógenos. Serão listados a seguir os mais relevantes fitopatógenos pertencentes ao filo dos
Basidiomicetos.

5. 1 AGARICOMYCOTINA

O subfilo que inclui os cogumelos, os fungos coraloides e os dentiformes e as orelhas-


de-pau, tem sua importância na patologia vegetal na medida em que os seus representantes

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podem causar apodrecimento em madeiras e raízes, estando associados à podridão de árvores
vivas.
Além disso, vale citar a conhecida espécie Crinipellis perniciosa, que é causadora da
fitopatologia conhecida popularmente como vassoura de bruxa do cacaueiro. Possui grande
importância econômica, visto que a presença do fungo em plantações agrícolas de cacau pode
causar prejuízo de valores exorbitantes.
Durante o ciclo de vida do fungo, é possível notar duas fases. Na parasítica há a
formação de um micélio mais grosso com hifas intracelulares, monocarióticas e sem grampo
de conexão, encontradas apenas nos tecidos vivos do hospedeiro. Já na fase saprofítica
observa-se um micélio formado por hifas mais finas, intracelulares, dicarióticas, com grampos
de conexão. É encontrada nos tecidos mortos de seu hospedeiro. É na fase saprofítica que o
fungo produz seus corpos de frutificação, que são rosados e de tamanho variando de pequeno
a médio.

Imagem 6: Fitopatologia popularmente conhecida como vassoura de bruxa, seus danos e seu causador. Fonte:
https://www.agrolink.com.br/problemas/vassoura-de-bruxa_1625.html

5.2 PUCCINIOMYCOTINA

Dentro do subfilo Pucciniomycotina é possível descrever a presença de leveduras,


saprófitas e espécies que parasitam plantas, animais e até mesmo outros fungos. A maioria
consiste nas chamadas ferrugens, que se caracterizam por não formarem basidiomas, salvo
poucas exceções. Geralmente seus esporos ocorrem em massas que são conhecidas como
soros.

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Imagem 7: Ferrugem do café. Fonte: agronomiarustica.com
As ferrugens como fitopatógenos são extremamente visadas na agricultura mundial,
visto que podem causar perdas de bilhões de dólares por todo mundo. As principais ferrugens
e mais graves são as que atingem o café, os cereais, o amendoim, o trigo e a soja, dentre
outras. Essas espécies geralmente apresentam um ciclo de vida complexo, sendo um desafio
controlar essas pragas. O ciclo da Puccinia graminis, por exemplo, consiste em sua
sobrevivência em dois hospedeiros diferentes e se inicia de forma sexuada em arbustos de
uva-espim (Berberis spp.), partindo para uma gramínea hospedeira, no caso o trigo e se
reproduzindo indefinidamente de forma assexuada.

Imagem 8: Representação esquemática do ciclo de vida da Puccinia graminis. Fonte:


https://br.pinterest.com/pin/774759942115720618/?lp=true

5.3 USTILAGINOMYCOTINA

Os fungos pertencentes ao subfilo Ustilaginomycotina é constituído em sua maioria


por parasitos de angiospermas. São denominados usualmente como carvões, devido a
aparência enegrecida das massas de teliósporos pretos que caracterizam os esporos desses
fungos. São extremamente importantes economicamente, visto que causam patologias em
cerca de 4.000 espécies de angiospermas, sendo que muitas são espécies alimentícias ou
ornamentais.
As espécies mais conhecidas são o Ustilago maydis, que ataca o milho, o Ustilago
avenae, causador do carvão da aveia e Tilletia tritici, que causa o chamado carvão do trigo
fétido. As espécies causadoras do carvão necessitam de somente um hospedeiro e possuem
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um ciclo mais simples comparado às ferrugens. O Ustilago maydis, por exemplo, causa
infecções localizadas que produzem tumores ou galhas nas espigas de milho.

Imagem 9: Milho parasitado por o Ustilago maydis. Fonte: http://fitopatologia-lfn424.blogspot.com/2012/10/

6 BASIDIOMICETOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA E VETERINÁRIA

Relativos aos fungos pertencentes ao filo Basidiomycota, existem algumas espécies


parasitas, sendo mais comum que os seres desse grupo espoliem plantas. Sendo assim,
lembrar de relações ecológicas negativas em fungos de septos com doliporo leva ao subfilo
Ustilaginomycotina, um clado obrigatoriamente parasita. Dentro desse grupo, mais
comumente fitopatológico, existem algumas ordens e classes incertas que agrupam os únicos
indivíduos do filo que parasitam animais.

6.1 A INCERTEZA DA CLASSIFICAÇÃO

O subfilo Ustilaginomycota contém a classe Exobasidiomiceto, que contém a ordem


Malasseziales, que contém o gênero Malassezia. Assim, o clado Malasseziales deveria ser o
único grupo que parasita animais de acordo com essa classificação. Entretanto, em uma classe
incerta de Unstilaginomycota, existe uma ordem que também carece de informações que se
propõe a agrupar a família das Moniliellacea, que contém em si o gênero Moniliella, com
indivíduos também zooparasitas.
Dessa forma, a classificação dos gêneros mais importantes para a micoparasitologia
animal dos Basidiomycotas (Moniliella e Malassezia) ainda não é muito certa. Entretanto, em
2014 houve uma reclassificação do subfilo Ustilaginomycota e duas novas classes foram
criadas: Moniliellomycetos e Malasseziomycetos.
O trabalho responsável por essa reclassificação foi publicado na US National Institute
of Health e, utilizando-se de diferentes algoritmos de análise filogenética baseados em seis
genes de fungos parasitas, foi montada a seguinte filogenia:

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Imagem 10: Filogenia de Moniliellomycetos e Malasseziomycetos. Fonte: Wang, Q. M., B. Theelen, M.
Groenewald, F. Y. Bai & T. Boekhout. 2014. Moniliellomycetes and Malasseziomycetes, two new classes in
Ustilaginomycotina. Persoonia 33: 41–47.

6.3 A IMUNOSSUPRESSÃO PODE OCASIONAR INFECÇÕES ATÍPICAS

Estabelecido Malassezia e Moniliella como os dois principais gêneros de


basidiomycotas parasitas de animais vertebrados, é importante ressaltar que algumas espécies,
mesmo que não pertencentes aos dois primeiros grupos, podem desencadear infecções em
metazoários com o sistema imunológico comprometido.
Tomando como exemplo o gênero Rodotorulla, um Ustilaginomyceto do qual são
conhecidos poucos casos de parasitismo em animais, considerado não-patogênico. Todavia,
um trabalho realizado na UFMT em Cuiabá, descreveu um caso clínico de dermatite fúngica
por Rodotorulla glutinis em um cão com leishmaniose.
Dessa forma, é difícil determinar quais gêneros podem ou não parasitar animais,
existindo infecções oportunistas de espécies que sequer são classificadas como patogênicas.
Porém, por critérios de objetividade, o foco aqui será nos Malassezia e Moniliella.

6.4 GÊNERO Malassezia E MALASSEZIOSE


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Os Malassezia. sp são leveduras que vivem na superfície da pele de animais. Nos seres
humanos, é capaz de gerar hipopigmentação (pitiríase versicolor) principalmente no tronco,
embora possa atingir outras áreas do corpo quando se torna uma infecção oportunista.
Atualmente, foram identificadas 13 espécies desse fungo, embora não reconhecidas com
unanimidade.
Geralmente, as espécies do gênero Malassezia crescem em meios com grande
concentração de lipídios e possuem brotamento unipolar. Quando analisados no microscópio,
percebe-se a presença de hifas curtas e curvas e blastoconídios organizados em forma de
cachos, como mostra a figura:

Imagem 11: Hifas de Malassezia. sp. Fonte: OLIVEIRA, Jeferson Carvalhaes de. 2014. Tópicos em Micologia
Médica
6.4.1 Malassezia caprae
Espécie que ataca bodes, ovelhas e cabras em infecções oportunistas. Possui células
redondas e elipsóides.
6.4.2 Malassezia dermatis
Espécie descoberta em 2002. É um exacerbador da dermatite atópica em seres
humanos, causando vermelhidão e coceira.
6.4.3 Malassezia sympodialis
É a espécie mais comum do gênero encontrada na pele de seres humanos. Isso se deve
ao fato de M.sympodialis viver simbioticamente conosco desde o nascimento, sendo
considerada parte da microbiota humana. Assim como as outras espécies do gênero, esse
fungo causa infecções em indivíduos com o sistema imune comprometido.
Quando a reação imune é anormal, Malassezia sympodialis pode causar dermatite
atópica em seres humanos e cães. Entretanto, o parasita é bastante lipofílico, sendo
encontrado geralmente no pescoço e tronco, onde desencadeia pitiríase versicolor, doença
ocasionadora de manchas com tonalidades claras e escuras na pele.
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6.4.4 Malassezia equina
Espécie que ataca principalmente cavalos, embora possa causar infecções oportunistas
em outros animais.
6.4.5 Malassezia nana
Parasita de animais com o sistema imune comprometido. Não é muito diferente das
demais espécies de Malassezia, exceto por sua capacidade de utilizar várias fontes de lipídios
para obter energia.
6.4.6 Malassezia furfur
É uma espécie que parasita seres humanos. Vive em pele com grande quantidade de
gordura, sendo mais comum de ser encontrado no couro cabeludo. O fungo Malassezia furfur
é um dos diversos causadores de dermatite seborreica.
6.4.7 Malassezia obtusa
Pouco se sabe a respeito dessa espécie. Ao contrário das outras de Malassezia, seu
crescimento se dá a aproximadamente 25ºC.
6.4.8 Malassezia japonica
Descrita em 2003 na pele de mulheres japonesas. Não se sabe muito a respeito dessa
espécie, apenas que parasita animais em infecções oportunistas.
6.4.9 Malassezia yamatoensis
Espécie até então somente isolada em pacientes com dermatite seborreica.
6.4.10 Malassezia sloffiae
Pouco se sabe acerca desta espécie, sendo ela associada a dermatite em cabras em um
artigo de 2007.
6.4.11 Malassezia globosa
É um dos principais fungos causadores de dermatite seborreica. Em 2007,
pesquisadores da Protector & Gamble sequenciaram seu DNA para obter mais informações.
6.4.12 Malassezia restricta
Acredita-se ser o principal, dentre os fungos, causadores de caspa. M. restricta, por
degradar mais rapidamente os lipídios do couro cabeludo, produz maior quantidade de ácido
oleico, o que pode ser a causa da descamação do epitélio na dermatite seborreica.
6.4.13 Malassezia pachydermatis
Isolada primeiramente em um elefante indiano, M. pachydermatis é parte da
microbiota de diversos mamíferos, embora possa causar infecções oportunistas. Dentre as
doenças causadas por esse fungo, estão a dermatite seborreica e a otite (infecção no ouvido).
Sua ocorrência é maior em cachorros, em virtude da alcalinidade de sua pele, embora
possa também parasitar gatos e seres humanos, mesmo que muito raramente. Mais incomum
ainda, sendo diagnosticado apenas em bebês e adultos imunossuprimidos, é que esse fungo
atinja o sangue, causando fungemia.
Embora os cães sejam os mais atingidos por esse parasita, aves também estão sujeitas
ao quadro clínico. Isto se deve pois M. pachydermatis é um fungo extremamente lipofílico,
alojando-se em tecido rico em glândulas sebáceas, podendo ser encontrado em lábios, ânus e
pele interdigital de cães. A seborreia canina ocasionada por esse patógeno é um quadro
importante em medicina veterinária, assim como a otite também. Quando alojado no canal
auditivo externo, seus sintomas variam de hematomas na palmilha auricular até presença de
secreção escura no ouvido.

6.5 GÊNERO Moniliella


O gênero Moniliella corresponde a um grupo de leveduras das quais, se conhece 9
espécies. Entretanto, apenas é sabido de uma espécie causadora de doenças em animais.

6.5.1 Moniliella suaveolens

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Única espécie patogênica, com dois casos de parasitismo em gatos. Pouco se sabe
sobre quadros clínicos em pessoas com o sistema imune comprometido. Acerca dos felinos,
M. suaveolens é responsável por causar feo-hifomicose cutânea.

6.6 BASIDIOMICETOS VENENOSOS


Basidiomycotas possuem uma ampla diversidade de espécies formadoras de
cogumelos e, embora muitos sejam comestíveis, algumas espécies são conhecidas por sua
toxicidade. Um exemplo é o gênero Amanita, com cerca de 600 espécies incluindo os
cogumelos mais venenoso do planeta.

Imagem 12: Amanita muscaria - O Amanita muscaria é um fungo natural de regiões com clima boreal ou
temperado do hemisfério norte. Possui propriedades psicoativas e alucinógenas em humanos. Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Amanita_muscaria

A espécie Amanita arocheae contém grandes concentrações de alfa-amanitina, assim


como outras espécies do gênero que é responsável por 95% das intoxicações por cogumelos
do planeta. Outro indivíduo desse mesmo grupo é A.bisporigera, com pouca variedade de
amanitinas, embora extremamente mortal.
As amatotoxinas alfa, beta e gama são responsáveis por inibir a transcrição do RNA,
impedindo a síntese proteica. Isso leva a necrose celular, sendo suficiente menos de 0,1mg por
grama corporal para causar um quadro letal de intoxicação.

Imagem 12: Amanita arocheae. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Amanita_arocheae


Existem muitas substâncias produzidas por cogumelos capazes de gerar um grave
quadro clínico em seres humanos e outros vertebrados. Entretanto, embora o nome amanitina
leve a entender que se trata de uma substância produzida apenas por indivíduos do gênero
Amanita, esse composto está presente em várias espécies de fungos não pertencentes a essa
categoria, vide Lepiota brunneioncarnata, tido como um dos mais tóxicos cogumelos de que
se tem notícia e produtor de amanitina alfa.

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Alguns outros gêneros de cogumelos venenosos incluem Tricholoma, Russula,
Pleurocybella, Omphalotus, Lactarius, Hypholoma, Entoloma, Boletus, Trogia, Paxillus,
Podostroma, Pholiotina, Lepiota, Inocybe, Galerina, Cortinarius e Clitocybe. Embora
cogumelos sejam mais conhecidos como pertencentes a Basidiomycotas, alguns Ascomycotas
também formam corpos de frutificação produtores de toxinas para seres humanos.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por serem decompositores naturais de matéria orgânica, os fungos normalmente


apresentam uma extensa área de atuação no meio natural, seja em termos de relações
ecológicas benéficas, seja em relações parasitárias. Essa diversidade e alta capacidade
adaptativa dos fungos também foi observada no filo Basidiomycota, visto que o filo se
caracteriza pela forte presença de fitopatógenos de grande interesse econômico,
principalmente em termos de um país com tão alta produção agrícola como o Brasil. E
também pela presença de alguns causadores de doenças em animais, incluindo o ser humano.
Ainda há estudos em desenvolvimento (principalmente no que se refere a taxonomia do grupo)
que consideram dentro do subfilo Ustilaginomycotina a presença de zooparasitas,
evidenciando a relevância no estudo de zoo parasitoses causadas por fungos.
Quanto ao uso comercial é evidente que, embora o Brasil não apresente uma produção
expressiva do fungo, os basidiomicetos apresentam um destaque na indústria alimentícia no
mercado mundial, principalmente no mercado asiático. Por apresentarem uma alta capacidade
nutritiva e englobarem as espécies comestíveis mais famosas como Champignon e Shiitake, o
filo se destaca em um agrupamento dos fungos comestíveis. O filo ainda apresenta os
cogumelos alucinógenos e venenosos, o que coloca ainda mais os basidiomicetos entre as
espécies populares e relevantes no meio comercial e popular.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Raven, Peter H.2014. BIOLOGIA VEGETAL: 8.ed.Guanabara Koogan.

Benjamin, D.R. 1995. Mushrooms: poisons and panaceas. W.H. Freeman and Company,
New York.

McKenzie R.A., Connole M.O., McGinnis M.R. and Lepelaar R. (1984): Subcutaneous
phaeohyphomycosis caused by Moniliella suaveolens in two cats. -Vet. Pathol. 21: 582–
586.

Dawson TL, Jr. 2007. Malassezia globosa and restricta: breakthrough understanding of
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