Ciência Política e Teoria Geral Do Estado
Ciência Política e Teoria Geral Do Estado
Ciência Política e Teoria Geral Do Estado
POLÍTICA E
TEORIA GERAL
DO ESTADO
Felipe Scalabrin
Ciência política e teoria
geral do Estado
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A ciência política e a teoria geral do Estado são disciplinas diretamente
relacionadas com a organização da vida em sociedade. Apresentam-se
como fonte indispensável para a compreensão das relações de poder
e da atuação do Estado ao tratarem de temas relevantes como poder
político, direitos políticos, democracia, legitimidade do poder, formas de
governo, sistemas de governo e funções do Estado.
Neste capítulo, você verá os conceitos básicos que orientam a disci-
plina, com a diferenciação entre ciência política e teoria geral do Estado,
e, ao final, identificará a importância prática e teórica do estudo.
Considerações iniciais
Não é nova a ideia segundo a qual o homem somente pode ser compreendido a
partir da sua inserção na vida em sociedade. De fato, o ser humano é agregador
e depende, pela sua própria essência, da aproximação com o outro. Conforme
Aristóteles, o homem é um ser político. Em paralelo, a condição humana
também traz uma constante autorreflexão: o homem busca conhecimento e
aprofundamento das estruturas que lhe são apresentadas. É nessa linha de
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pública, como nela influem os atos legislativos, ou com a força dos parla-
mentos, sob a égide de grupos socioeconômicos poderosíssimos, empresta à
democracia algumas de suas peculiaridades mais flagrantes.
Conceitos fundamentais
A seguir, você identificará os conceitos de ciência política e teoria geral do
Estado e conhecerá suas diferenças e semelhanças.
Ciência política
A política, enquanto prática humana relacionada com a noção de poder, é objeto de
debate e reflexão desde o passado longínquo. Dessa forma, muitas obras clássicas
são referência até hoje, com relevância para Platão, Aristóteles, Nicolau Maquia-
vel, Thomas Hobbes, John Locke, Alexis de Tocqueville, Rousseau, Karl Marx,
George Burdeau, entre tantos outros. A palavra remonta à noção grega de pólis.
Sobre o conceito de ciência política, Dalmo Dallari (2013, p. 17) destaca
que ela “faz o estudo da organização política e dos comportamentos políticos,
tratando dessa temática à luz da Teoria Política, sem levar em conta os elemen-
tos jurídicos”. Essa definição considera que o elemento central do estudo é a
política e, por essa razão, deságua na noção de poder. Com efeito, a ciência
política é centrada no estudo do poder e, portanto, da autoridade (DUVERGER
apud DIAS, 2013, p. 9). Em síntese, o objeto da ciência política é o poder.
Para melhor estudar o seu objeto, é possível identificar quatro campos de
atuação da ciência política (DIAS, 2013):
e influindo sobre ele” (DALLARI, 2013, p. 18). É evidente, com isso, que o
estudo do Estado também diz respeito às condições de possibilidade de sua
compreensão (MORAIS, 2010).
Em termos práticos, as questões abordadas na teoria geral do Estado já
eram tratadas pelos autores clássicos da ciência política. A sistematização,
como disciplina autônoma, deveu-se principalmente à doutrina alemã do final
do século XIX e início do século XX, notadamente com Georg Jellinek e a
sua teoria geral do Estado (Allgemeine Staatslehre, 1911).
Diferenças e semelhanças
Apresentadas as definições de ciência política e teoria geral do Estado, verifica-
mos, com clareza, que as disciplinas não se confundem. Enquanto a primeira diz
respeito às relações de poder, a segunda diz respeito às relações com o Estado. É
certo, por outro lado, que “não há possibilidade de desenvolver qualquer estudo ou
pesquisa de Ciência Política sem considerar o Estado” (DALLARI, 2013, p. 17).
A ciência política, com efeito, é disciplina mais ampla e da qual a teoria
geral do Estado faz parte. Essa, aliás, é a concepção de Herman Heller (apud
DIAS, 2013), que já apontava a dificuldade em diferenciar ambos os fenômenos.
De todo modo, para ele, há uma dependência recíproca entre ambas: a teoria
geral do Estado é também pressuposto da ciência política.
Há, por outro, uma inevitável aproximação entre ambas. É que as duas se
debruçam sobre a convivência humana, o Estado e a política:
[...] não somente para saber como se constituem, nem somente no sentido de
uma obra de arte ou de uma teoria da constituição, mas, em última instância,
no sentido de que constituem uma ciência da ordem. Têm uma tarefa comum,
pois têm que responder à velha questão de como nós, seres humanos, podemos
chegar a ter uma vida racional e boa (DIAS, 2013, p. 14).
https://goo.gl/sqAVQN.
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Importância da disciplina
Variadas razões justificam o estudo da ciência política e da teoria geral do
Estado. Com efeito, a disciplina tem relevo jurídico e, na pena de Dalmo de
Abreu Dallari, podem ser identificadas três razões para se considerar a matéria
importante (DALLARI, 2013).
A primeira razão é de consciência: quem vive em sociedade precisa saber a
sua organização e o papel que deve cumprir, sob pena de se tornar um autômato
despido de intelectualidade e sem vontade própria.
A segunda razão é de ordem crítica. Assim, devem ser conhecidas as
formas e os métodos pelos quais os problemas sociais serão conhecidos e
as soluções propostas para que se “evite o erro de pretender o transplante,
puro e simples, de fórmulas importadas, ou a aplicação simplista de ideias
consagradas, sem a necessária adequação às exigências e possibilidades da
realidade social” (DALLARI, 2013, p. 13).
A terceira razão é de ordem prática. Isso porque a ciência política e da
teoria geral do Estado colaboram, de forma incisiva, para a elaboração da
ordem jurídica. São, portanto, passos necessários para a compreensão do
Direito de determinada sociedade. Essa perspectiva prática revela ainda o
enfrentamento que deve existir entre as construções teóricas e o cotidiano
daqueles inseridos em determinada comunidade jurídica. De fato, não há
qualquer utilidade em uma reflexão sobre o papel da autoridade e do Estado
que não considere as peculiaridades da sociedade na qual está inserida. Por
isso, deve ser acrescentada uma última boa razão para o estudo da disciplina.
A quarta razão proposta é reativa. De fato, compreender os institutos
é, também, encontrar as suas qualidades e os seus defeitos, suas virtudes
e seus vícios, de modo a buscar o aprimoramento das instituições. Assim,
por exemplo, no que concerne à teoria geral do Estado, não basta apenas
identificar a existência de propostas decorrentes do programa estatal, mas
cumpre perquirir sobre a efetividade da sua atuação. Se o Estado brasileiro
tem uma agenda, cumpre verificar se ela vem sendo cumprida. E, no âmbito
da ciência política, se há um debate sobre a democracia, cumpre refletir sobre
a real possibilidade de participação da comunidade na tomada de decisão. De
igual modo, mudanças nas regras do jogo político podem receber uma reflexão
mais tenaz em razão das posturas adotadas.
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