Qualidades de Pambu Njila

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Pambu Njila - TBS - 2003

01.Nileodun; 02.Dundurê; 03.Meximaville;


04.Jamukangue; 05.Pambu-njila; 06.Uembesila;
07.Lajakala; 08.Uesaba; 09.Tambala; 10.Zunga Ao
To; 11.Mukusete; 12.Tunde-Tunde; 13.Tundaé;

Como todo disco da TBS, muitos criticam a


qualidade de áudio. E como sempre, nós dizemos
que a TBS sempre fêz um bom trabalho de
divulgação em suas produções que já se tornaram
emblemáticas. Aproveitamos esta postagem - como
sempre fazemos - para falarmos um pouco de nossa
vivência com os cultos Angola/congo.

Muitos irmãos nos escrevem em PVT, ou nos


perguntam na FTU - depois dos ritos - sobre as
nações Bantu e os cultos Angola/Congo e mesmo
Cabinda. A vivência que tivemos nesses cultos
(além de informações familiares) foi feita com Mãe
Maria Helena Batista (Taualuangi), que foi nossa
mãe de santo antes de conhecermos Mestre
Arapiagha. Ela foi feita no Omolokô mineiro, mas
teve sua iniciação primeiramente na Angola por
ancestralidade do Tumbensi e na Umbanda via
terreiro do famoso Sr. Caboclo Inko, grande
referência da Umbanda paulista nos anos 30/40.
Por isso apenas apresentaremos um estudo feito
com base em nossa vivência sobre a religiosidade
Bantu na África e suas decorrências no Brasil.
Assim, pretendemos contribuir com o nosso passado
para quem quiser saber destas informações, que
evidentemente podem ser completadas e mesmo
corrigidas por outros irmãos.

Na verdade são vivências que por nós estiveram


“congeladas” por muitos anos até nosso mestre
“retomar” algumas práticas rituais que são hoje
realizadas na OICD e a ele agradecemos por validar
essa nossa vivência em outras escolas com o
sentido depurado de conexão mais lídima e sem
conflito com as tradições que nos relacionamos hoje.
Como o assunto é muito extenso, utilizaremos esta
postagem para dividirmos um pouco nosso vivencial.
Como todo conhecimento digno de lembrança aqui
está somente um tanto de idéias daquilo que
aprendemos nos outros. E por lembrarmos,
deixamos a quem refletir, após a leitura, o passar
adiante após uma importantíssima consulta nos
nomes ao final do texto.
SOBRE AS LÍNGUAS BANTU
O termo Bantu foi utilizado pela primeira vez por
Willelm Bleek, filólogo alemão, para caracterizar e
definir as línguas africanas que utilizam a palavra
“MU-NTU (pl. “BA-NTU”) para designar a pessoa
humana. Nessas línguas, agrupadas sob o termo
genérico “BA-NTU” o radical é “NTU” e o prefixo
plural “BA” – Lembrando que “Ba” é utilizado como
plural em várias línguas pré-históricas, pois “Ba”
refere-se ao número 2 e possui a capacidade de
duplicar a natureza do verbo e da ação. É por isso
que, arqueometricamente, “BA” concentra em si o
“Y”, dando, por exemplo, origem à lenda do “Beth-
EL” em hebraico, como a Morada da Divindade.

Outros filólogos, como Joseph H. Greenberg (que foi


o primeiro a identificar os limites dessa família, que
ele chamou de línguas nigero-cordofanianas em seu
livro Languages of Africa) e John Bendor-Samuel
(que introduziu o nome nigero-congolês para toda a
família, o qual está atualmente em uso até hoje
entre os línguistas) após anos de estudo
encontraram relações importantes entre os vários
dialetos africanos. Um dos maiores avanços no
estudo das línguas subsaarianas veio com o
trabalho de Koelle, em sua obra “Polyglotta Africana”
de 1854 onde tentou uma classificação cuidadosa
em grupos, contribuindo em muito para a
classificação moderna, embora o primeiro registro
das línguas nigero-congolesas como uma família
linguística pode ser encontrada no próprio Bleek
(1856), que percebeu que as línguas atlânticas
usam prefixos tal como muitas línguas do centro
africano. Algumas décadas mais tarde, o trabalho
comparativo de Meinhof, estabeleceu as
características que reconhecem nas línguas Bantu
uma unidade linguística.

As línguas Bantu constituem por volta de 500


línguas aparentadas, como demonstrou Meinhof,
línguas essas faladas por povos negros que vivem
na África sub-saariana e por ilhas culturais no sul da
Índia (vejam texto sobre a Índia negra em nosso
blogue). Compartilham de um tronco lingüístico
comum, o Proto-Bantu. Assim, quando nos referimos
aos Bantu, nos remetemos a povos e etnias cujas
línguas têm um tronco comum e não a povos com
traços raciais próximos. O que liga os Bantu entre si
é uma língua oriunda do mesmo tronco e que são
gramaticamente aparentadas, pois, em todas elas as
palavras são agrupadas por classes em função de

seu uso e natureza.


O universo Bantu ocupa grande parte do continente
africano, do centro em direção ao sul, sendo uma
família lingüística utilizada por milhares de falantes.
Foram os Bakongos e os Ambundos os dois povos
que vieram em número mais expressivo para o
Brasil, e que aqui deixaram sua marca, assim como
em toda a América, continente que ajudaram a
construir. Eram numericamente superiores e por isso
imprimiram suas características culturais a outros
povos Bantu (como os Kassanje, Benguela,
Moçambiques, Makuas, Kabindas, Munjolos etc) que
chegavam em menor número.

Suas línguas eram o Kikongo e o Kimbundo, faladas


respectivamente, pelos Bakongos (Bakongo = plural
de kongo) e pelos Ambundos. Os Ambundos são o
segundo maior grupo étnico de Angola e os
Bakongos o terceiro. O primeiro grupo é o dos
Ovimbundo e falam o Umbundo. No Brasil,
principalmente no candomblé Congo-angola se faz
ainda uso dessas línguas que vieram com os
africanos. O Kikongo e o Kimbundo são as duas
línguas mais usadas nos rituais e no cotidiano das
casas de santo de raiz Congo-angola (a possível
exceção seria a nação Cabinda no sul do país, mas
a língua ritual que utilizam é o Yorubá de origem
Ijexá). Atualmente são utilizadas como veículo de
comunicação em Angola, nos dois Congos, e em
países limítrofes.
Muitos dos africanos deste grupo quando aqui
chegaram já vinham cristianizados, pois o contato
deles com os portugueses aconteceu ainda no
século XV. Alguns eram realmente convertidos,
diferentemente de outros que eram católicos apenas
por batismo obrigatório – prática usada no interior
dos navios negreiros com anuência da igreja - mas
muitos por devoção por terem se convertido ou pelo
menos tido algum contato com o cristianismo em
suas terras de origem, ou ainda em Portugal, onde
havia também havia milhares de escravos e onde
muitas manifestações culturais brasileiras tiveram
origem, tais como as Congadas. Aqui estão as
raízes do Omolokô: em Portugal e não no Brasil.
Mas este é um outro assunto que por hora não
abordaremos.
AS DIVINDADES PARTE 1
As divindades que chegaram ao Brasil são
conhecidas como Bakissi (plural) ou Inquisse
(singular). Há ainda algumas casas que os definem
como Akixi ou Mukixi (mascarados), lembrando que
nos cultos Bantu originais há a presença de
máscaras rituais (bem diferentes dos cultos
Yorubás) e de assentamentos e fundamentos feitos
somente em barro ou madeira, já que a cultura
religiosa Bantu (e mesmo a Yorubá) desconhecia a
louça, que foi introduzida no culto – assim como as
roupas de renda, inclusive nos cultos
Gêge/Yorubanos – por influência cultural Européia.
Enfim, temos o termo Akixi para os Ambundo e Nkisi
para os Bakongo.

O Inkissi só recebe esse nome quando se


particulariza no transe ou no assentamento, feito em
um cesto ou em um boneco, em geral cheio de
pregos (símbolo do poder coletivo da comunidade) e
com a barriga furada onde são colocadas as ervas e
o fundamento secreto de cada divindade. Antes
desse processo de individualização, eles são
chamados de Hamba, em seu estado não
diferenciado.
Vários povos Bantu reconhecem em geral o culto ao
Inquisse, aos Nkita e aos Simbi. Estes dois últimos
referem-se a divindades terrestres (Nkita) e fluviais e
marítimas (Simbi). As qualidades e funções desses
espíritos, quase sempre protetores, varia de povo
para povo, sendo que entre alguns o Nkita é sempre
agressivo, enquanto que para outros a
agressividade cabe ao Simbi. Para uns o Simbi é
aquático e o Nkita terrestre ou vice-versa. Apenas
para os três povos de Cabinda, cultuadores do
Nkissi é que estes sempre são benéficos, com
exceção do Nkondi e do Nkossi, que são por sua
vez, utilizados pelos Bandoki para feitiçaria. Afora
estes, todos tem o poder benevolente de curar,
trazer prosperidade, colheitas fartas e chuvas
benfazejas. Os Nkita, os Simbi e os NKissi fazem
parte do cotidiano desses povos e os ajudam a
vencer as batalhas do dia-a-dia.
Para os Bauoio (Woio, singular) os Simbi exercem
um papel subalterno, pois são como crianças
enviadas dos grandes espíritos da terra, os Bakissi
ba si. Aí está uma das origens da ligação dos
espíritos de crianças (os kafiotos, candengos ou
monandengues na Angola que são confundidos com
os Erês da nação Ketu, embora os Erês sejam uma
categoria de divindades completamente dissociadas
de todas as outras, que pouco tem a ver, como
muitos pensam, com o orixá Ibeji) com as divindades
fluviais e marítimas, como Dandalunda, Kaia,
Kissimbi e outras.
O elemento principal da representação do Nkissi é
uma pedra, retirada do leito de um rio, por pessoas
em transe com o espírito. Essa pedra é, quase
sempre, colocada num cesto, acompanhada de
pemba, argila vermelha, pó de tacula e outras
especiarias, tudo regado a vinho de palma e Menga
quando a divindade assim o pedir.

Nas tradições do Palo Congo (Cuba) o Nkita é


reconhecido e cultuado e no Haiti há o culto aos
Simbi. No Brasil apenas o Nkissi é cultuado, sendo a
única referência ao Nkita que conhecemos, são
informações nos dada por Tata Tawá - quando o
conhecemos no Alayandê Xirê - que é membro da
tradicional casa do Bate-Folha de Salvador-Ba. O
Simbi aparece em algumas cantigas, mas nem
sempre é notado pela maioria dos fiéis e sua única
ligação é com Kissimbe, um importante Nkissi das
águas doces.
Assim os cultos Bantu podem ser definidos –
imprecisamente, dada a grande variação religiosa e
ritualística existente nesses inúmeros povos – da
seguinte forma:

1) Zambiampungu, Nzamé, Zamby e outras


centenas de designações, sempre com os radicais
“Zam” (nas línguas antigas representa o Sol. Por ex:
Sabeísmo, palavra persa surgida da raiz “ZAAB”,
significando Deus, divindade, de onde provém todo
saber) representando o Deus supremo;
2) Os Hamba (Ou Nkissi, quando individualizados),
que são as grandes forças ctônicas, formadoras do
universo;

3) Os espíritos elementais da natureza, como os


Simbi e os Nkita, sendo os primeiros espíritos
aquáticos e os segundos espíritos terrestres;
4) Os espíritos dos antepassados, tanto os bons (os
Bakulu) quanto os maus, (os Matebo ou Nkuyu).

Os Inquisse se dividem em famílias, ou seja, não


são agrupados em categorias de uma mesma
divindade com várias características como acontece
com as divindades Yorubá, ou como fazem os Fon,
com seus reis divinizados. Assim, vamos encontrar
várias divindades aparentadas, com culto e
fundamentos específicos e diferenciados.
Começaremos com as divindades dos caminhos e
das encruzilhadas, que como verão, são várias.
Lembrando novamente que estas são as divindades
que conhecemos em nossa caminhada pessoal
pelos terreiros que conhecemos e pela vivência com
nossa primeira mãe de santo, Maria Helena Batista,
que era feita em Angola aliado a nossos estudos
sobre a religiosidade dos povos Bantu da África.

Por isso muitos destes Inquisses podem ter nomes


derivativos da cultura Yorubá, pois como bem
sabemos, o culto Angola/Congo tomou como matriz
o formato de cultos yorubano e os adotou em seus
ritos próprios, na verdade configurando as matrizes
das genuínas manifestações religiosas brasileiras.
Em outros discosde outras divindades
continuaremos com as famílias de outros Bakisse...

Família das Divindades Das Encruzilhadas


- Bakissi Da Ingestão E Restituição
Cor: cinza e o azul escuro (ou ainda o roxo) e em
algumas tribos, o branco transparente, simbolizando
a água (o vermelho e preto é uma influência dos
ritos Nagô, não são cores deste Inquisse nos cultos
Angola/Kongo em sua origem. Lembrando que há
seguimentos da Umbanda – nossa escola mesmo (!)
- que se utilizam destas cores para identificar os
espíritos-guardiões)
Pambu Njila, Mpambu Njila, Bambogira, Kongogiro,
Ganga Pambuguera, Pangira, Ungira, Ungila
Alguns autores – dentre eles Nei Lopes - registram e
dão a sua origem como do Kikongo e do Kimbundo
com ligeiras variações em seus nomes
(provavelmente fruto da mistura de diversas etnias
que pronunciavam de modo diferente um nome
comum à mesma divindade), na África, no Brasil e
em Cuba, no Haiti e em outros países americanos,
como a Colômbia e a costa dos EUA. Na verdade,
“Mpambu” tanto em Kimbundo quanto em Kikongo
significa cruzamento, encruzilhada (sendo que, em
Kikongo, há a tradução de “Mpambu” como portão,
ou local fechado), e “Njila” significa rua, caminho.
Por extensão, atribui-se em Angola esse nome aos
homens andarilhos, os “homens da rua”. O nome
“Pomba-Gira” já possui uma relação mais complexa
e profunda com o “Pambu Njila” Bantu, acrescido de
outras informações que vão de mitos europeus,
persas e até indígenas, que, se der, um dia coloco
aqui. Sem nenhuma variação mítica, em todos os
povos Bantu, a encruzilhada é o umbigo do mundo,
o início dos tempos primordiais onde tudo teve
começo, o ponto de onde surgem as quatro retas
que constroem a encruzilhada. Nzambi criou o
mundo a partir desta cruz e colocou Mpambu Njila
como o senhor absoluto desses caminhos, fazendo-
o segurar os quatro gomos principais do Ngombo
(jogo divinatório Bantu, equivalente em importância
ao Opón dos Sudaneses – para que Kukiakalunga
(Uma emanação de Nzambi. Kukiakalunga é o
“Pensador Angolano”, equivalente ao Orunmilá
Yorubá) pudesse vaticinar os destinos do mundo.
Mpambu Njila é o guardião por excelência.

Aluvaiá
Aluvaiá em Quicongo fonetiza-se “Alu-Vuya”.
Algumas nações, como os Tio e os Shona fonetizam
Alu, ou Lalu. É uma divindade do Congo. Nas casas
Angola/Congo, normalmente as cantigas referentes
à Aluvaiá são entoadas em português. É o Inquisse
da herança espiritual, da continuidade dos valores. É
a divindade que faz os acordos com o inimigo, se
fazendo passar por ele, sendo um senhor da
infiltração. É quem fecha os acordos e os
favorecimentos no terreno da magia.
Mavambo, Mavangu, Marambo, Marabu,
Malagô, Navango, Igo Mavan, Marabô,
Jiramavambo
O Senhor do Barro, o Conquistador! Nascido dos
sonhos de Nkoce. Quando em suas andanças,
Nkoce parava para dormir nascia um montículo de
barro onde Nkoce colocava sua cabeça. Pela
manhã, nesse monte, a cada dia nascia um
Mavambo, para vigiar os caminhos dominados pelo
vencedor dos Leões. Em várias regiões da África, os
muçulmanos eram chamados de Marabu, em alusão
ao fato de terem sido conquistadores em várias
partes do continente. Há ainda, o termo Barabô,
numa clara fusão do Jeje e do Cabinda nos terreiros
do sul do país.
Sinzamuzila
O Inquisse que recebe o poder das bebidas que são
colocadas na casa de fundamento e nas tronqueiras.
Aquele que é sempre seco e que recebe a “Marafa”
na cuia de cabaça no ritual propiciatório das escolas
Congo/Angola, quando se envia o Sinzamuzilla para
a porta. Do quikongo “Sanzala”, bêbado, trôpego.

Malungo
O Inquisse que acompanha as pessoas durante toda
a vida. Aquele que envia seus “fantasmas de
proteção” (Zumbikukulu) para acobertar quem entra
e sai do terreiro, quem nos protege da morte; Aquele
que livra do sofrimento. Entre os Lundakioko, “Ma-
lunga” homem, amigo etc. Do Kikongo “Lungo” (Ma-
lungo, plural), morte, dificuldade.
Jujuku
Aquele que faz magia de morte. Ainda que a palavra
“Jujuku” seja uma palavra provavelmente Yorubá
(“Juju” = magia com objetos; + “Iku” = morte) que
deve ter sido aprendida pelos descendentes
Bakongo, este Inquisse é utilizado para feitiços e
para tormentos onde são usadas coisas pessoais
daquele que se pretende agredir magisticamente.
Kijanjá, Kujanjo
Inquisse da matança e da Lua. É aquele que recebe
as oferendas de todos os outros Inquisse e faz a
transmissão do poder das oferendas a todos do
terreiro. Por isso as matanças são feitas com os
animais em ciclos que obedecem às fases lunares.
Do Proto-Bantu “Kijan”, Lua, usado ainda hoje pelos
jongueiros do Brasil como “Quijama”.
Mavilutango
O Inquisse da dança e do movimento, dizem as
lendas que ele é que dá ao ser humano, através da
dança, a capacidade de se relacionar com o mundo,
com os vivos e os mortos. Por isso é ele quem se
encarrega de levar o “Padê”. A palavra “Tango” vem
do quibundo “Tangu”, significando pernada. A dança
argentina de mesmo nome provém dessa mesma
raiz Bantu, cujas origens foram praticamente
esquecidas por lá.
Burungangi
Inquisse dos Bakongos, conhecido como “Mbulu” ou
“Mbulunganga”. Há uma expressão em Bakongo que
significa “Grande força” (Mbulu-nguzu, embora esta
palavra se relacione mais com o Inquisse
Burugunzo). É aquele que acompanha Biolê e é
assentado nos trilhos e nas ferrovias. Nesse caso,
este Jila descreve-se como “Mbulu-Nganga”, “Poder
do Ferro”. A palavra “Nganga” aponta para termos
Bantu relacionados a “derreter”, tais como o
quicongo “Kanga” ou o Quioco “Nganga” (metal
fundido), e finalmente ao Bantu genérico “Ngangula”
(ferreiro). Associa-se ainda, ao Bantu multilingüistico
“Nganga”, significando feiticeiro.
Bionatan
Inquisse patrono da alegria. Recebe doces e flores.
Algumas traduções do Quimbundo indicam essa
palavra como “risada”, bem ao estilo dos Njila. Mas
há ainda, traduções do Quicongo: “Mbyantunda”;
“Ntunda” – Monte, colina; “Mbya” – coquinho de
palmeira, talvez uma aproximação deste Inquisse
com o Exu yorubano nas questões dos métodos
divinatórios.
Sigatana, Singangara, Siganga, Gangaiô
“Singa” – nome que se dá à vara do canoeiro. No
quicongo “Sinda”, se traduz como ir ao fundo d’água;
no umbundo “Sinda” refere-se ao ato de empurrar
associado ao multi-Bantu “Nganga” – feiticeiro,
traduz-se aproximadamente como o feiticeiro que
habita o fundo das águas. De fato esse Njila
associa-se a Zumbarandá e Kissimbi nos
assentamentos destes outros MiInquisse. É
invocado simbolizada pelo egan (gorrinho em forma
de cone), e pela pena vermelha do papagaio.
Tibiriri, Tonã
Encontra-se menção a este Inquisse nos rituais
Angola, embora seja óbvia a sua relação com o Tiriri
dos Yorubá: “Ti” – Grande Força; “Riri” – Valor,
traduz-se como “Valoroso”. Igualmente Tonã parece
relacionar-se com o Lonã (Caminho) Yorubá. Resta
descobrir se houve uma aculturação do Nagô sobre
os rituais Congo/Angola, ou se na própria África
essa divindade se espalhou por várias regiões. Há
ainda a o termo Tupi Tiriri (nome de uma ilha),
originado de su-y-ry-ry, que significa "pássaro que
faz barulho”. Interessante é que em alguns totens
deste Inquisse há um pássaro esculpido e ainda, na
Umbanda, Tiriri é o guardião de Yori/Ibeji/Oxum
(yabá dona de um pássaro), cujo sinal cabalístico de
pemba representa hieraticamente, um pássaro. E,
finalmente, encontramos na Cabala hebraica o
termo “Tirirel” como o demônio guardião de mercúrio
(planeta de Yori). Vai saber...
Ngambe, Ingambeiro, Engambeiro
O termo engambeiro ou engambelo é comumente
usado pelo Povo-de-Santo como verbo, na flexão
engambelar, o que aproxima este Inquisse da
representação de Trickster do Exu yorubano. No
Umbundo diz-se “Uyambelo” como o presente que
se dá ao curandeiro, o que originou, possivelmente a
palavra engambelar - de uso nos terreiros quando se
dá uma oferenda de paliativo ao “santo” até que se
possa dar outra melhor. O povo Ganguela diz
“ndambelo” como aquela porção que se dá a mais
do que se promete como “agrado” em troca de um
favor. Os Soto dizem “Kabelo” com o sentido de
contribuição. Ngambe é o nome de um Inquisse
onde em sua barriga colocam-se moedas, notas (na
antiga África usava-se búzios, marfim e cobre) e
outros objetos de valor.
Etajelungi
Mais um Njila que nos parece uma somatória
brasileira do fundamento das qualidades de Exu
com o de algum Inquisse Congo. “Etá” em quicongo
traduz-se como pênis ou como qualquer objeto que
lembre o falo. É acrescido, talvez da palavra
yorubana “Ijélu” – “I” – (Aquele que); “jê” (é); “Elú”
(Índigo, a planta que produz a tinta chamada “Arô”
para fazer o “Wáji”, que representa o preto nas
pinturas rituais. Entre os Bakongo a representação
do falo de alguns Njila é pintada com a cor azul,
assim como dissemos na abertura, sobre os Pambu
Njila e a influência ritual Yorubá.
Korobo
O Pambu da folha, espécie de “Aroni” angolano,
portador da enxada, foi quem ensinou os homens a
plantar. É o guardião da “Kisaba Kiasambuka” do
Inquisse Katendê. Em quicongo encontramos a
palavra “Kulumba”, como “homem rude do mato”,
que vaga pelas estradas e “Kuluba” como “enxada
velha”.
Niquerô
Inquisse que recebe as oferendas dos Minquisse
caçadores. O guardião da fartura e da distribuição
de força vital para o terreiro. Em quicongo, “Ndiiki”,
aquele que alimenta.
Dundo Salunga, Dundo Calunga
Inquisse do mistério, Pambu do silêncio, o grande
peixe que leva as pessoas para o infinito. Sua
representação é a de um peixe de madeira onde se
colocam mensagens e objetos para os que se foram.
Dundo em quicongo é “Ndundu” e refere-se ao peixe
Seese. Calunga vem do termo multilingüístico Bantu
“Kalunga” que traduz a idéia de grandeza,
eternidade, vastidão. Pode ser tanto identificado
com o céu e o espaço infinito como com o mar.
Kukiakalunga é o Inquisse pensador dos Angolanos
(do verbo “Oku-Lunga” – ser esperto), o patrono do
jogo Ngombo. No Brasil o termo se ligou ao
cemitério e à morte, pois muitos escravos morriam
no mar antes de aqui chegarem, embora a idéia de
eternidade ainda assim, tenha relação com o local
onde habitam os mortos
Naban, Nabondo
Inquisse guardião das árvores. Representado por
um pássaro (!). Conforme o quikongo “Na-mbondo”,
uma árvore, o embondeiro. Divide seus poderes com
Nkondi – Inquisse da família de Nkoce - esta árvore
é cultuada principalmente para o feitiço. O
embondeiro tem forma de garrafão, e é chamado de
“Nkondo Ikuta Mvumbi” (Embondeiro do morto
gordo), por que a pessoa contra quem se faça o
feitiço, contra quem se prega o prego, morrerá
gordo, inchado como o embondeiro. Conforme o
prego usado, o efeito, segundo o povo de Cabinda,
será mais ou menos imediato, se for de ferro, de
cobre ou de alumínio.
Ingué, Izangué, Yanga
Entre os Tchokwe encontramos a divindade Yanga,
fonetizada como Yangue em outras tribos do norte
de Angola. A lembrança da relação do nome com o
Exu Yangi dos Yorubanos é inevitável. No Brasil e
em Angola Ingué e Yanga compactuam do fato de
não beberem cachaça nem dendê. Veste-se de
branco. Na África, como no Brasil, quando está
possuindo alguém, não come nada vermelho.
Malusibango
Encontra-se referências rituais de um Inquisse da
fortuna em Angola, chamado “Luo-Mbangu”. E
encontramos a palavra “Mbangu” em quicongo
significando “benesses” ou “ganho”.
Apavenã
É o senhor das oferendas, o portador e o
mensageiro. É sempre o primeiro a ser invocado. É
o dono do dendê, por isso o carrega na peneira,
segundo dizem...
Imbeberiquiti, Imbeperequeté
Inquisse guardião das portas das casas. Seu nome
refere-se a alguém sentado, ou baixinho,
provavelmente em alusão a postura que assumem
as pessoas que o incorporam na África. Do
Umbundo “Velekete”, pessoa de estatura baixa, ou
alguém de cócoras/sentado.
Manawelé, Mawe, Mavilê
Maville é um dos nomes associados a todos os Njila.
Mavile vem do Umbundo “Omavele” ou do Quicongo
“Mavele”, plurais de “Avele” que significa leite,
provavelmente alusão ao poder de ligação destas
divindades guardiãs com o poder criador do
esperma.
Kunkurunguanje
Inquisse da palavra e da invocação, das poesias e
dos Jamberessu. O que fala pelas outras
divindades. Do quicongo “Nkunga”, canto, poema,
palavra, associado ao Umbundo “Ulungundju”, ronco
ou urro. Traduz-se como “aquele de voz rouca”,
característica bem típica da manifestação destas
divindades.
Kamungo, Camunga
Inquisse que se esconde, que mora embaixo da
terra. Seus fetiches são enterrados e as oferendas
colocadas por cima, o que o relaciona aos mortos e
aos ancestrais. Em linguagem cifrada os jongueiros
chamam “Kamungo” de tambor, em alusão ao
orifício do instrumento, onde algo pode se esconder.
Há o Nhungue “Kabungu”, o Iaca “Nungo”, o
Umbundo “Ochimunga” e Quibundo “Kibunga”, todos
significando objetos como chapéus, panelas, baldes,
etc, utensílios que identificam algo que cobre. Há
ainda a concepção totêmica do rato, animal
relacionado, na África aos Njila, assim como o
marimbondo e outros, pequenos animais com
grande poder de penetração nos lugares. A
linguagem cifrada dos velhos feiticeiros velou o
significado sagrado deste Inquisse, assim, no
Umbundo encontramos a forma diminutiva “Oka-
mpuku”, ou “Okamundongo”, rato, camundongo, e
ainda, “Mundongo”, como escravo, identificando a
função exterior de divindades guardiãs africanas
como Exu, Bara e Pambu-Njila.
Jembelu
Classe de Njilas que recebe a menga do sacrifício:
são os Yembêle. Do quicongo “Mbe”, som
onomatopaico de pancada, associado à raiz “Ele”,
líquido, leite, ou algo que escorre, no caso, a menga.
Embarujo
O Inquisse guardião da cura, é quem acompanha
Kavungu. Do Umbundo “Uemba”, significando
feitiço, veneno e remédio.
Kariapemba
Talvez por influência católica já em terras africanas,
ou talvez mesmo em Portugal, essa divindade –
assim como outras, tais como Nkoce, conforme
veremos – é tida como extremamente maléfica entre
os angolanos, havendo a necessidade de benzer-se
o ambiente onde se acredite que ele esteja. Seu
nome, em Quicongo “Nkadi-a-pemba” e em
Quibundo “Kádia-Pemba” não assimila outra
tradução que não “demônio”.
Manakó, Manacuco, Mancuco, Mancuce
Invocado no pade, é quem providencia a comida e a
bebida de todos. Benéfico, não gosta de bebida
alcoólica, gosta de branco. É quem dá a fortuna. Há
a relação oculta da fortuna e da bem aventurança
com o fato de seu nome bantu ser, no Quicongo,
“Nkusi”, no plural “Bakusi”, traduzindo “o pescador”.
Há ainda “Munkusi” – “Vento que vem do estômago
(flatulência)”, traduzindo o estado de saciedade
quando se está farto de comida.
Toroni Batola, Bute
Do Ronga “Mbuti”, bode, animal geralmente usado
em sacrifício a estes Njila.
Quitungueiro
Inquisse ou espírito da morte, que se apresenta de
todas as formas possíveis, pois não é possível
desvencilhar-se dela. Do Quicongo “Kintungu”, tudo
que aparece por inteiro, que se desenvolve e que se
mostra de várias formas. Associa-se o conceito ao
Quibundo “Kitungu”, casebre, mausoléu, ou seja, o
lugar onde habitam os que se transformaram:
cemitério.

Caracoci
Do Quicongo “Ekala” homem (quando se refere a
alguém que não se conhece), associado ao
Quibundo “Kutxi, Kuxi”, orelha, de onde vem o
português “cochichar”. “Homem que murmura, fala
baixo”. Muitas das manifestações mediúnicas e
possessões africanas e no Brasil, estes espíritos se
comunicam dessa forma.
Para ouvir a faixa 03, "Meximaville", clique abaixo:

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