Os Efeitos Imediatos Da Reforma Protestante
Os Efeitos Imediatos Da Reforma Protestante
Os Efeitos Imediatos Da Reforma Protestante
O caráter da Reforma
Nos séculos anteriores à Reforma, especialmente depois do Concílio de Constança, o
poder da igreja foi cada vez mais neutralizado pelo poder do imperador. O Vaticano
tornou-se cada vez mais um centro cultural, sujeitando-se à ascensão do Renascimento,
e cada vez menos ousou desafiar a autoridade secular; tornou-se uma igreja pragmática,
cada vez mais sincrética e influenciada pela força do pensamento pagão que insinuava-
se. O Imperador Maximiliano I esperava juntar o poder secular e espiritual sobre sua
própria pessoa. As universidades eram palcos de revoltas; seitas, uma substituição da
moralidade pela moda, estética e técnica começou a criar raízes.
Erik von Kuehnelt-Leddihn, intelectual católico romano austríaco, vem concordar com
os intelectuais protestantes e reconhece a Reforma Protestante como uma reação
monástica tardia ao Renascimento e ao Humanismo.
Parece, contudo, haver uma grande dificuldade para entender, entre os aspirantes a
intelectuais, a realidade concreta e as dificuldades que envolveram os movimentos de
Reforma.
Na Suíça, poucos têm consciência da luta enfrentada pela igreja contra os poderes
estatais, que quiseram aproveitar-se da Reforma para aumentar em poder. Embora fosse
convidado pela cidade como conselheiro, Calvino sofria tentativas de ser controlado
pelos magistrados, tendo sido, inclusive, expulso da cidade de Genebra por três anos. O
conflito entre a Igreja de Genebra e os Magistrados torna-se ainda mais evidente quando
lemos que, logo depois da morte de Calvino, os Magistrados exigiram para si o direito
de excomunhão, em virtude da inconformidade da teoria da relação entre Estado e Igreja
de Calvino com as estruturas sociais existentes. Para Calvino, tal direito cabia à Igreja,
enquanto os Magistrados preferiram ficar com a opinião de outros reformadores como
Zwínglio. Como Richard C. Gable escreveu:
“Em setembro de 1548, o Conselho da cidade determinou que os pastores podiam
apenas exortar o povo, mas não excomungá-lo. Em dezembro, o Conselho prosseguiu
em suas tentativas de usurpar o poder dando a Guichard Roux a permissão de receber a
Ceia do Senhor, após ter sido proibido de fazê-lo pelo Consistório. O próprio Calvino
foi admoestado pelo Conselho no dia 24 de setembro de 1548 por causa de uma carta
que tinha escrito, criticando os magistrados de Genebra. Após vários protestos e
esforços dos pastores, o Conselho finalmente concordou, em 24 de janeiro de 1555, em
conceder ao Consistório os direitos que lhe cabiam conforme o estabelecido pelas
Ordenanças Eclesiásticas de 1541. Basicamente, as Ordenanças Eclesiásticas
estabeleciam o padrão pelo qual a Igreja funcionaria. Foram estabelecidos o horário e o
número de cultos na cidade, bem como a frequência dos pastores aos encontros e outras
regulamentações, tais como a excomunhão.”
[“Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental”, pg. 90.]
O mesmo conflito teve a Inglaterra como palco, quando os puritanos cada vez tornaram-
se mais marginalizados da uniformização requerida pelo estado. Finalmente, eles
apoiaram o Parlamento para depois serem usados por eles. No fim da Guerra Civil, os
puritanos tiveram de conformar-se com a secularização. Mas de todos os efeitos, um
particularmente interessante foi o percebido pelo católico Leopold Ranke. Para ele, a
Reforma Protestante, seguida pela Contra-Reforma tornaram possível a re-cristianização
da Europa depois de dois séculos de intensa decadência religiosa.
“Não houve período em que os teólogos tenham sido mais influentes do que naqueles no
fim do século XVI. Eles sentavam nos conselhos dos reis, e discutiam assuntos políticos
do púlpito na presença de todo o povo – eles dirigiam escolas, controlavam esforços de
aprendizado, e governavam o alcance da literatura. (...) Talvez possa ser afirmado que a
violência ansiosa com que opuseram-se um ao outro, o fato de que cada uma das duas
grandes divisões encontrou seu antagonismo em seu próprio corpo, essa era a causa da
crescente e penetrante influência.”
[“The History of the Popes”,pg. 42-43.]
A necessidade da Reforma
Os taboritas liderados por Thomas Muntzer acabaram atacando castelos, matando ricos,
confiscando propriedades, além de outras práticas condenáveis, numa versão que
precedia a atual teologia da libertação. Na Suíça também, uma outra onda anabatista,
extremamente perfeccionista, foi um desafio para Calvino. Eles desejavam a separação
total da igreja dos assuntos políticos e para eles Calvino escreveu o último capítulo do
Volume IV das Institutas.
Conclusão