Historia de Sergipe Republica 1889 2000
Historia de Sergipe Republica 1889 2000
Historia de Sergipe Republica 1889 2000
HISTÓRIA DE SERGIPE:
REPÚBLICA
(1889-2000)
Rio de Janeiro
2004
Copyright by José Ibarê Costa Dantas
Este livro, ou parte dele, nã o pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaçã o
do autor.
CATALOGAÇÃ O NA FONTE
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Histó ria de Sergipe: Repú blica (1889-2000)/ José Ibarê Costa Dantas.- Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 2004
ISBN 85-282-0126-0
Bibliografia
Histó ria- Repú blica. Sergipe (Estado).
Histó ria, Política, Economia, Cultura
A
Ancelmo de Oliveira,
Antô nio Carlos Santos e
Itamar Freitas de Oliveira,
companheiros solidá rios.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 7
6 CONCLUSÕES............................................................................................................................ 291
ANEXOS.......................................................................................................................................... 297
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................. 317
7
INTRODUÇÃO
avanços significativos em suas instituiçõ es. É certo que a magnitude dessas mudanças
seria melhor avaliada se se partisse do período colonial. E, de fato, alguns historiadores
já o fizeram ao tornar pú blicas suas histó rias de Sergipe. Na ú ltima década do século XIX,
surgiram as obras de Felisbelo Freire (1891) e Laudelino de Oliveira Freire (1898), que
ainda hoje servem de referência.2 Posteriormente, Acrísio Torres (1966) e Pires Wynne
(1972) deram sua contribuiçã o e chegaram a datas mais avançadas. Além dessas
sú mulas, apareceram numerosas monografias. Com a atuaçã o do curso de Histó ria,
iniciado na Faculdade Cató lica de Filosofia (1951) e depois incorporado à Universidade
Federal de Sergipe (1968), foi despontando nova geraçã o de historiadores que muito
concorreu para aprimorar os métodos de escrever histó ria. Muitas monografias,
dissertaçõ es e teses foram escritas e vá rias delas chegaram a ser publicadas em livros,
proporcionando renovaçã o à historiografia local. A professora Maria Thétis Nunes vem
tratando da fase colonial e do início da Província (1978-2000), e Ariosvaldo Figueiredo
divulgou alguns volumes sobre a Província e principalmente sobre a Repú blica (1986-
1996). Nas ú ltimas décadas, apareceram alguns compêndios com características
específicas. Os Textos para História de Sergipe (1991), elaborados por professoras da
UFS, sob a coordenaçã o de Diana Maria de Faro Leal Diniz, apresentaram abordagens
temá ticas sobre a histó ria local. Por esse tempo, surgiram também dois livros didá ticos
destinados ao primeiro grau: o de Maria Gorete Santos, Sergipe História/Geografia
(1994) e o de Lenalda Santos e Terezinha Oliva, Para Conhecer a História de Sergipe
(1998).
Esta síntese está fundamentada em variado elenco de informaçõ es. Apesar de
restrita ao período republicano, apresenta certa abrangência na medida em que focaliza
o processo histó rico sob três aspectos: político-administrativo, econô mico-social e
cultural. Dentro desses setores, o campo da cultura é o mais vasto, diversificado e
marcado por controvérsias. Abordá -lo é uma temeridade. Nã o é por acaso que muitos
historiadores evitam enfocá -lo. Diante, porém, de sua grande importâ ncia, considerei
necessá ria apresentar ao menos alguma notícia, uma amostra ligeira da produçã o local.
Para tanto adotei um conceito amplo, vendo cultura como “sistema de significados,
atitudes e valores partilhados e as formas simbó licas (apresentaçõ es, objetos artesanais)
2
O manual de L. C. Silva Lisboa (Chorographia do Estado de Sergipe, Aracaju: Imprensa Oficial, 1897) nã o chegou a
cobrir o período colonial.
9
Aracaju/Se, dezembro/2003.
que a sociedade era dividida entre senhores proprietá rios, habituados a amplo mando, e
trabalhadores despossuídos. É certo que havia uma camada intermediá ria heterogênea e
em crescimento, mas carente de unidade, de autonomia e de açõ es conjugadas.
Está vamos bem longe de uma ordem que assegurasse igualdade de oportunidades aos
cidadã os.
Com a instauraçã o da Repú blica, algumas alteraçõ es no arcabouço institucional
começaram a ser estabelecidas. Em primeiro lugar, o Poder Executivo passava a ser
ocupado pelos pró prios políticos da terra, com a perspectiva de serem eleitos pelo voto
popular. Era uma alteraçã o que inaugurava um ritual bem diferente dos tempos da
Província, quando o imperador indicava os governantes, geralmente gente de fora,
vinculada à burocracia estatal. Ocorre que para implementar o projeto de governo,
correspondente aos discursos da campanha, era preciso respaldo político e quadros com
alguma experiência e traquejo pú blico, elementos de que os novos administradores
tinham carência.
Nã o obstante ter havido movimento republicano significativo em Laranjeiras
(SE), em combinaçã o com Penedo (AL), as pregaçõ es careceram de maior enraizamento
e abrangência. Os clubes republicanos chegaram a ser criados em apenas cinco
municípios (Estâ ncia, Laranjeiras, Itaporanga, Aracaju e Vila Nova) dos 33. 7 As açõ es
proselitistas encontraram fria receptividade entre as principais forças políticas da
Província. O Partido Republicano, fundado em novembro de 1888, contou com a
simpatia de parte do patronato escravocrata, ressentido com a aboliçã o da escravatura,
mas nas eleiçõ es para o Parlamento Nacional em 1889, ainda em tempos da Monarquia,
o candidato daquela recém-criada agremiaçã o nã o obteve sucesso. É verdade que, uma
vez proclamada a Repú blica, as adesõ es proliferaram, mas os neorrepublicanos nã o
revelavam grande identificaçã o com a ideia de tornar a coisa pú blica objeto de bem
comum.
No â mbito econô mico-social, o momento era bastante desfavorá vel e complexo.
Em 13.05.1888 havia ocorrido a aboliçã o da escravatura que jogou no mercado de
trabalho uma grande massa de ex-escravos. Um ano e meio depois, desorientados e
desassistidos, os libertos tentavam a duras penas adequar-se à s novas formas de
7
Felisbelo Freire. História Constitucional da República dos Estados Unidos do Brasil. Brasília: EUnB, 1983 e Baltasar
Gó is. A República em Sergipe (Apontamentos para a histó ria). Aracaju: Tip. do Correio de Sergipe, 1891.
13
10
Cf. Mons. Olímpio de Souza Campos. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1902, Aracaju: Empresa Do “O Estado de Sergipe”, 1902, p. 22-24.
11
Clodomir Souza e Silva. Álbum de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.
12
Cf. Laudelino de Oliveira Freire. Quadro Chorográgico de Sergipe. Paris: H. Garnier, 2. ed., 1902.
13
Antô nio Samarone de Santana. As Febres do Aracaju (Dos Miasmas aos Micró bios). Dissertaçã o apresentada ao
Nú cleo de Ciências Sociais da UFS, Aracaju, 1997, p. 91.
15
14
Laudelino de Oliveira Freire, em obra citada, lista 12 cidades, mas inclui Riachuelo e Simã o Dias, que se tornaram
cidades ao longo do ano de 1890, e Porto da Folha, que somente deixou de ser vila em 1896. Cf. Clodomir Silva. Álbum
de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.
15
Laudelino de Oliveira Freire. Ob. cit., 1902.
16
Cf. Manoel Curvelo. Uma phase de Laranjeiras, in Almanak Sergipano para o ano de 1899. Aracaju: Tipografia
Comercial, 1899, apud Terezinha Oliva de Souza. Impasses do Federalismo Brasileiro (Sergipe e a Revolta Fausto
Cardoso). Rio de Janeiro: Paz e Terra, UFS, 1985, p. 54.
17
L. C. Silva Lisboa. Chorographia do Estado de Sergipe. Aracaju: Imprensa Oficial, 1897.
18
Ver Philadelplo Jô nathas de Oliveira. História de Laranjeiras Católica. Aracaju: Casa Á vila, 1935.
16
apenas seis cadeiras, e tinha uma vida cultural acanhada, salvo suas festas em geral bem
animadas.20
Capela, também localizada no agreste, tinha 11.034 habitantes e em seu territó rio
havia o maior nú mero engenhos (66). Seu comércio era ativo, mas sua indú stria era
rudimentar. Oferecia 12 cadeiras na á rea educacional e, embora nã o se tenha notícia de
jornais, havia gabinete de leitura e algum espaço para o teatro e a mú sica.
Propriá , situado à s margens do baixo Sã o Francisco, que fora município com
enorme extensã o territorial, perdeu grande parte de sua á rea com os desmembramentos
que geraram novos municípios. Em 1859, o imperador visitou a vila que já teria casas
boas, sobrados e fá brica de descascar arroz a vapor.21 Em 1890, o Censo registrou
19.267 habitantes. Dessa época nã o há notícias de engenho em suas terras, mas sua
receita era significativa. Sua populaçã o cultivava algodã o, arroz, criava gado, dedicava-se
à pesca, tinha comércio e atividades industriais relativamente pró speros. Embora
oferecesse apenas oito cadeiras no ensino, tinha uma tradiçã o de imprensa local. Em
1890, editava o jornal União Republicana e havia um certo cultivo da vida intelectual.
Itabaiana, situado no agreste, estendia-se também pelo sertã o. Com 28.272
habitantes, era município de grande á rea e o mais populoso. No campo, o itabaianense
dedicava-se à agricultura e à criaçã o. Mas sua sede comportava cerca de 3.000
moradores, a grande parte residindo em casas de taipa, registrando-se, no entanto, 21
sobrados, compondo uma existência rú stica.22 No entanto, sua feira já era bem
frequentada e mantinha um comércio muito ativo sobretudo com Laranjeiras, que lhe
fornecia produtos importados e escoava seu algodã o e cereais. Apresentava vida cultural
modesta, mas havia uma filarmô nica, e as notícias sobre o nú mero de cadeiras é
controvertido.23
Além desses municípios, havia 24 vilas: Aquidabã , Arauá , Boquim, Campos,
Cristina, Cedro, Carmo, Divina Pastora, Espírito Santo, Gararu, Itabaianinha, Itaporanga,
Japaratuba, N. S. das Dores, Pacatuba, Porto da Folha, Riachã o, Rosá rio, Santa Luzia,
Santo Amaro, Sã o Paulo, Siriri, Socorro e Vila Nova. Nos primeiros meses da Repú blica,
20
Sobre Lagarto, além de Laudelino Freire em obra citada, ver L. C. Silva Lisboa. Chorographia do Estado de Sergipe,
Aracaju: Imprensa Oficial, 1897. Vide também Severiano Cardoso in Almanak Sergipano para o ano de 1899. Aracaju:
Tipografia Comercial, 1899.
21
Cf. Carlos Roberto Britto Aragã o. Propriá 200 anos. Notas e fotos do bicentená rio. Aracaju: Soc. Semear, p. 20.
22
Cf. Vladimir Souza Carvalho. A República Velha em Itabaiana. Aracaju: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000, p. 32-39.
23
Laudelino de Oliveira Freire atribui oito cadeiras, mas Armindo Guaraná registra 18. Ver Vladimir Souza Carvalho. A
República Velha em Itabaiana. Aracaju: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000, p. 37.
18
24
Cf. Laudelino de Oliveira Freire. Quadro Chorográgico de Sergipe. Paris: H. Garnier, 2. ed., 1902. Lembramos que o
autor incluiu Porto da Folha entre as cidades e nã o entre as vilas, conforme apresentamos. Ver também Clodomir
Souza e Silva. Álbum de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.
25
No início da Repú blica apenas os Estados de Goiás, Mato Grosso, Amazonas, Maranhã o, Piauí e Sergipe não eram
cortados por ferrovias. Cf. Douglas Aprato Tenó rio. Capitalismo e Ferrovias no Brasil. Maceió : HD Livros, 1996, p. 52.
26
Cf. Laudelino de Oliveira Freire. Ob. cit., 1902, p.72. Sobre o comparecimento ver Mensagens de José Calazans.
19
SERGIPE
VEGETAÇÃ O PRIMITIVA
CIDADES EM 1889
20
28
Sobre a administraçã o de Felisbelo Freire ver Bonifá cio Fortes. Felisbelo Freire, o homem pú blico, o escritor e o
constitucionalista in Revista da Faculdade de Direito de Sergipe, Ano VI, n. 5, Aracaju: 1958.
22
29
Ver Francisco Carneiro Nobre de Lacerda. A Década Republicana em Sergipe. Aracaju: Typ. d’O Estado de Sergipe,
1906.
30
Sobre José Calazans e seu governo, ver José Bonifá cio Fortes Neto. “General Calazans, 1º Presidente Constitucional
de Sergipe”, in Revista da Faculdade de Direito da UFS, ano XV, n. 15, Aracaju, 1971, p. 147-172 e Francisco Carneiro
Nobre de Lacerda. Ob. cit., 1906.
31
Ver José Calazans. Mensagem lida perante a Assembleia Legislativa. Aracaju: Typ. d’ O Republicano, 1892.
23
pressõ es do presidente da Repú blica, Floriano Peixoto, para ajudar o coronel Manuel
Prisciliano de Oliveira Valadã o a eleger-se senador.32 Este militar, nascido em 1849 em
Vila Nova, hoje Neó polis (SE), participou da guerra contra o Paraguai, comandou brigada
policial por ocasiã o da proclamaçã o da Repú blica e ascendeu dentro da hierarquia do
Exército. Ligado a Floriano Peixoto, foi eleito deputado e inscreveu-se como postulante a
senador por Sergipe. Mas sua candidatura foi considerada ilegal e o coronel José
Calazans, zeloso nos deveres do cargo, resistiu aos apelos presidenciais. A campanha
tornou-se mais agitada com a presença de Sílvio Romero, que viera do Rio de Janeiro
para eleger Valadã o. Diante da derrota, aquele conceituado escritor protestou
veementemente e foi um dos responsá veis pelo movimento que encurtou o mandato de
primeiro presidente constitucional do período republicano. Apó s uma eleiçã o marcada
pela violência, o governo de Calazans passou a ser atropelado pelo grupo valadonista.
Inconformados com essa situaçã o, vá rios políticos, inclusive ex-monarquistas, tentaram
resistir. A sede da administraçã o foi transferida para Rosá rio do Catete, gerando
dualidade de poderes. A contenda entre os dois grupos acentuou-se. Os que ficaram nas
areias de Aracaju passaram a ser chamados de Pebas e os que se reuniram na zona dos
engenhos foram denominados de Cabaús.33 Em Aracaju, o médico Joã o Vieira Leite
assumiu o governo no auge da crise. Vinculado aos Pebas e carente de legitimidade, em
sua curta e tumultuada gestã o (11.09.1894 a 24.10.1894), pouco fez além de afastar e
reprimir adversá rios, preparando o campo para seu sucessor.
A administraçã o de Oliveira Valadã o (1894-1896) foi marcada por
arbitrariedades e perseguiçõ es políticas, afastamento de magistrados, brigas
prolongadas com o Judiciá rio, tudo contribuindo para desorganizar a vida institucional
que vinha sendo construída com dificuldades. Para agravar a vida dos cidadã os, os
surtos de varíola no curso dos anos 1895 e 1896 dizimaram numerosas pessoas. Nesse
clima crítico, o coronel Valadã o pouco realizou. Segundo um historiador do seu tempo,
suas obras mais notá veis foram: “alguns regulamentos, reformando o ensino pú blico, o
montepio dos empregados estaduais e outros institutos”; a criaçã o da imprensa oficial,
além da “contribuiçã o de dez contos de réis para a construçã o das linhas telegrá ficas de
32
Sobre Valadã o, ver Joã o Menezes. Traços biographicos do General Oliveira Valladão. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1920.
33
Sobre esse momento político, consulte-se José Ibarê Costa Dantas. Os Partidos Políticos em Sergipe - 1889/1964. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
24
Itabaiana e Vila Nova”.34 Ao deixar o governo, alegando motivo de saú de, o quadro de
incerteza continuou. Seu sucessor, o padre Leonardo Dantas, foi deposto por uma
revolta, depois foi reposto por ordem do presidente da Repú blica, e as crises políticas
pareciam uma constante. Ainda em 1896, foi eleito Martinho Garcez, advogado de
grande prestígio intelectual, ligado aos Pebas, que teve a infeliz iniciativa de extinguir a
Escola Normal.35 Governando num quadro marcado por disputas internas, novas
questõ es foram surgindo com seus afastamentos e as brigas com seus substitutos,
situaçã o que persistiu até 1899, quando o pró prio Garcez firmou acordo com o
monsenhor Olímpio de Souza Campos, do grupo oposto, o Cabaú, entregou o cargo ao
vice-presidente e retornou ao Rio de Janeiro agastado com os seus críticos.36
Ao fim da primeira década, computavam-se cerca de vinte e dois indivíduos que
estiveram no cargo de Executivo, participando de juntas provisó rias ou governando
isoladamente. Foi uma rotatividade elevada, permeada por vá rias questõ es
desgastantes: renú ncias, revoltas, deposiçõ es, substituiçõ es controvertidas e até
duplicidade de Assembleias Legislativas. As tendências autoritá rias de alguns
republicanos, a disputa destes com os ex-monarquistas, as questõ es pessoais e as
interferências externas contribuíram para tornar o quadro bastante instá vel, marcado
pela descontinuidade das administraçõ es que afetava as finanças pú blicas (ver a relaçã o
dos governantes no Anexo I).
Nã o obstante a hegemonia inabalá vel dos senhores do açú car como a grande
força econô mica do Estado, foi um tempo de adaptaçõ es difíceis, quer para o exercício da
administraçã o estadual, quer para a populaçã o em seu conjunto.
Contudo, nã o era apenas Sergipe que custava a construir um pacto político que
permitisse aos administradores concluírem seus mandatos. Nos vá rios Estados também
havia um saldo de grande mutabilidade política. Recordemos que ainda no governo do
marechal Floriano Peixoto, que enfrentou com mã o de ferro vá rias revoltas, foi realizada
34
Francisco Carneiro Nobre de Lacerda. Ob. cit., 1906, p. 140. Ver também Coronel Manoel P. de Oliveira Valladã o.
Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa. Aracaju: Typ. do Diá rio Oficial, 1895.
35
Sobre a Escola Normal, ver Anamaria Gonçalves Bruno de Freitas. “Vestidas de azul e branco”: um estudo sobre as
representaçõ es de ex-normalistas (1920-1950). Sã o Cristó vã o/SE: GEPHE/NPGED, 2003.
36
Com o intuito de homenagear Martinho Garcez e ao mesmo tempo desagravá -lo, em face das críticas dos opositores,
Fausto Cardoso organizou livro laudató rio, com depoimentos de vá rios intelectuais, no qual se destacava sobretudo a
figura do jurista. Ver O Vulto Político de Martinho Garcez. Rio de Janeiro: Casa Mont’Alverne, 1900. Por esse tempo,
Garcez recebeu dos seus patrícios no Rio de Janeiro uma coroa de ouro, cravada de brilhantes e rubis com a
dedicató ria de pacificador da família sergipana. Cf. Manuel Armindo Cordeiro Guaraná . Dicionário Biobibliográfico
Sergipano. Rio de Janeiro: Pongetti & Cia., 1925. p. 224-225.
25
a primeira eleiçã o direta para presidente (1894). Nã o foi por acaso que triunfou
Prudente de Morais, um civil de Sã o Paulo, onde havia o grupo de republicanos mais
organizado e identificado com a expansã o da economia capitalista exportadora, que
tinha no café o seu produto de maior importâ ncia nacional. Apesar do domínio paulista
no Executivo, sintonizado com a pujança de sua economia em expansã o, dentro do
Congresso as bancadas vinham se apresentando por demais dispersas, divididas em
vá rios grupos em competiçã o, sem orientaçã o definida, dificultando o encaminhamento
dos projetos. Quando o segundo paulista, Campos Sales, foi eleito presidente em 1898,
percebendo as dificuldades de governabilidade, em face da carência de uma base política
fiel, articulou-se com os administradores dos Estados e, juntos, formaram um pacto que
ficaria conhecido como política dos governadores. Esse arranjo político consistiu numa
reciprocidade de apoios. Enquanto o presidente da Repú blica passava a contar com o
suporte irrestrito dos parlamentares, os governantes estaduais, por sua vez, adquiriam
respaldo que lhes permitiam dominar o quadro político interno, inclusive fazer seus
sucessores. O controle passaria a ser assegurado graças à determinada alteraçã o na
Comissã o de Verificaçã o dos Poderes, que avaliava a lisura dos pleitos.
Para os governadores, essa mudança trouxe a vantagem de estimular lealdades e
garantir o domínio. Em contrapartida, engessava o sistema político, impedindo
renovaçõ es. No â mbito federal a influência dos paulistas, que já era grande, foi se
consolidando e tornou-se imbatível com a parceria com os mineiros, formando o grupo
do café com leite, que controlou o governo central até 1930. Enquanto isso, os demais
Estados formavam blocos auxiliares ou semi-independentes sem jamais conseguirem
quebrar a sua hegemonia. Nã o foi por acaso que o Estado na Primeira Repú blica foi
qualificado de Liberal-Oligá rquico. Embora a Carta de 1891 estabelecesse o sufrá gio
universal e as eleiçõ es passassem a ser perió dicas, o nú mero elevado de analfabetos
tornava o eleitorado muito reduzido. Por outro lado, a prá tica do voto a descoberto e a
inexistência de Justiça Eleitoral resultaram em pleitos viciados, facilitando o esquema de
dominaçã o que articulava os coronéis com oligarcas, assegurando grande domínio
político e inviabilizando a atuaçã o dos oposicionistas. Sem oportunidade de alternâ ncia
de poder, os divergentes foram se afastando, o pluripartidarismo foi cedendo lugar ao
partido ú nico e a vida política foi-se reduzindo ao ritual situacionista de resultados
26
previstos. Dessa forma, nos vá rios Estados, depois da primeira década de grande
instabilidade institucional, o controle político acentuou-se, a participaçã o política
declinou e a democracia nã o se desenvolveu.
Em Sergipe, depois da primeira década tumultuada, o acordo do presidente
Martinho Garcez com o monsenhor Olímpio Campos, um político remanescente do
quadro monarquista que sabia perseguir com determinaçã o seus objetivos, viabilizou
seu domínio. A partir de entã o, a política de Sergipe viveria um período de estabilidade.
Mas o forte predomínio de um grupo oligá rquico nã o deixou de gerar reaçõ es
crescentes.
No governo, monsenhor Olímpio de Souza Campos administrou o Estado de 1899
a 1902 com energia e algum empenho para a melhoria das condiçõ es de vida na capital e
no interior. Promoveu aterros em praças e começou o calçamento de ruas. Restaurou
alguns prédios pú blicos, inclusive a Escola Normal, que voltou a funcionar, e empenhou-
se em criar o Banco de Sergipe sem consumar seu intento. Reformou o ensino e instituiu
a vacinaçã o nas escolas. Cuidou de reforçar o montepio dos funcioná rios e organizou a
administraçã o dos hospitais de caridade. No interior, tratou da abertura de canais no rio
Japaratuba e investiu em açudes em Aquidabã e Itabaiana.37
Articulado com o presidente Campos Sales e com lideranças no Congresso, em
plena vigência da política dos governadores, controlando internamente o quadro
partidá rio, Olímpio Campos, ao fim do seu governo, pô de indicar para sucessor seu
secretá rio-geral. Tal opçã o contrariou fortes correligioná rios como Coelho e Campos e
Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel, que criaram o jornal O Momento, estabeleceram
dissidência, recorreram a instâ ncias federais e tentaram formar outra Assembleia para
referendar sua chapa. Mas Olímpio Campos, fortalecido por eficiente estrutura que
articulava o nacional com o local, chefiando o Partido Republicano de Sergipe, derrotou-
os irremediavelmente.
Josino Menezes era um farmacêutico que fora ativista do movimento republicano.
Como auxiliar do governo do monsenhor, conhecia a pequena burocracia e sabia como
relacionar-se com os adversá rios e correligioná rios. Leal ao seu chefe, deu continuidade
a obras iniciadas na gestã o anterior e desenvolveu novas açõ es. Prosseguiu as iniciativas
37
Cf. Mons. Olímpio de Souza Campos. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1902. Aracaju: Empresa de “O Estado de Sergipe”, 1902.
27
Organizou a Biblioteca Pú blica, que estava um tanto relegada, e tomou providências para
combater epidemias. Apesar das críticas dos adversá rios que visavam sobretudo a figura
do combativo Olímpio Campos, expressã o maior do domínio político oligá rquico, parecia
que chegaria ao fim do seu mandato sem grande transtornos. Mas quando a chapa
oposicionista, representada por Coelho e Campos para o Senado e Fausto Cardoso para a
Câ mara dos Deputados, facultada por um dispositivo da recente lei eleitoral, foi vitoriosa
em inícios de 1906, o movimento contra os governistas cresceu enormemente. As folhas
oposicionistas, especialmente o Jornal de Sergipe, exercitaram o discurso
antioligá rquico, em campanha apaixonada contra o domínio olympista, conquistando
muitas adesõ es entre os sergipanos. Entusiasmado com esse movimento, Fausto
Cardoso, que vivia na capital federal há 12 anos, decidiu voltar a Sergipe sem esconder
seus propó sitos de pô r fim à quela dominaçã o. Em ambiente marcado por emoçõ es, o
líder oposicionista foi recepcionado por seus admiradores. Nasceu o Partido
Progressista, congregando os divergentes e, pouco depois, o grupo que o apoiava depô s
o presidente do Estado e o vice (10.08.1906).
Desde entã o, tentou-se montar o novo governo e proporcionar-lhe legalidade.
Conseguiram o termo de renú ncia das autoridades depostas, mas houve dificuldades
para encontrar substituto até que o desembargador Loureiro Tavares assumiu o
governo de transiçã o. O movimento ampliou-se pelo interior do Estado e a popularidade
de Fausto Cardoso expandiu-se, assumindo as dimensõ es de grande ídolo. Os revoltosos
foram assegurando o controle da situaçã o em vá rios municípios, arrecadando recursos,
através do “imposto de guerra”, invadindo exatorias e hostilizando adversá rios.
Batalhõ es populares foram organizados para se juntar à s chamadas legiõ es libertadoras
e, em Divina Pastora, chegaram a reunir 1.200 homens em armas, preparando-se para
grandes embates.41
Guilherme de Souza Campos e seu irmã o senador Olímpio de Souza Campos se
homiziaram na casa do comandante da Capitania dos Portos e comunicaram ao governo
federal os fatos acontecidos. A Câ mara dos Deputados passou a discutir o assunto num
momento em que já havia um precedente recente com a deposiçã o e a morte do
governante do Estado de Mato Grosso. O presidente da Repú blica, nã o obstante ser
41
Cf. Terezinha Oliva de Souza. Impasses do Federalismo Brasileiro (Sergipe e a Revolta Fausto Cardoso). Rio de
Janeiro: Paz e Terra, UFS, 1985, p.190-201.
29
presidente Martinho Garcez em 1897. Dessa vez, quando o presidente adoeceu e viajou,
deixando carta de renú ncia em mã os de um médico “para ser apresentada caso os seus
males piorassem e nã o pudesse voltar”,45 o documento foi levado a pú blico, gerando
grande controvérsia. Instalado no governo, o dr. Itajahy, prometia resistência forte. A
contenda judicial dividiu a Assembleia e envolveu lideranças nacionais até que
Rodrigues Dó ria reassumiu, cerca de quatro meses depois, com o apoio do presidente
Nilo Peçanha, mas sem grande respaldo no quadro do seu partido, a essa altura bastante
dividido.
Apesar desses problemas, Rodrigues Dó ria deu prosseguimento ao projeto de
modernizaçã o do Estado. Pagou dívidas, promoveu aterros, consertou prédios pú blicos,
tomou as medidas mais efetivas para abastecimento de á gua encanada, e procurou
melhorar o ensino que era foco de reclamaçõ es inclusive dos antecessores presidentes
do Estado.46 Neste sentido, o governo ampliou as instalaçõ es do Atheneu, construiu nova
sede da Escola Normal e grupo escolar anexo, uma inovaçã o. Criou a Escola de
Aprendizes Artífices, associada a um projeto do governo federal de incentivar o ensino
técnico47 e contratou competente profissional de Sã o Paulo para operar reforma da
instruçã o pú blica. Com essa orientaçã o, promoveu levantamento estatístico da
populaçã o escolar e sinalizou para o ensino obrigató rio. Um tanto desintegrado do
quadro político local, sobretudo depois da questã o com o vice, dissolveu o corpo policial
e procurou reorganizá -lo ao tempo em que pregava a reorganizaçã o da Justiça,
considerando-a muito envolvida na política. Em sua gestã o, a construçã o da Estrada de
Ferro se intensificou, afetando a vida das comunidades onde os trabalhadores serviam.
Ao fim do seu governo, enfrentou grande epidemia de varíola, ao tempo em que
terminava o ciclo de representantes do grupo olympista (1899-1911). Nã o se pode dizer
que foi um período de grandes realizaçõ es, mas de conformidade com os meios
disponíveis no tempo, houve iniciativas meritó rias, sobretudo em Aracaju.
A essa altura, no início da gestã o do presidente da Repú blica marechal Hermes da
Fonseca (1910-1914), o ambiente político estava agitado com as intervençõ es militares
que tinham a pretensã o de “salvar” o país das oligarquias. Caíam os Accioly no Ceará e os
Malta em Alagoas num processo tumultuado. Em Sergipe, nã o houve quebra da
45
João Rodrigues da Costa Dó ria. Vida e Trabalhos do Professor Dr. José Rodrigues da Costa Dória. Aracaju: 1958, p.17.
46
Ver Mensagens Presidenciais de 1905, 1908 e 1911.
47
Cf. José Augusto Araú jo. As Escolas de Aprendizes Artífices na Primeira Repú blica in Jornal da Cidade, 24.09.2002.
31
48
Sobre a Política das Salvaçõ es no Estado, ver Josevanda Mendonça Franco. A Política das Salvações: Um Estudo de
Caso. UFS, Histó ria I, Trabalho apresentado no Curso de Bacharelado, 1982. (mimeografado).
49
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997, p. 119.
50
Cf. General José Siqueira de Menezes. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1912, Aracaju: Empresa de O Estado de Sergipe, 1912, p. 11.
32
quatro anos.51 Ao fim do seu o governo, nã o teve grande ingerência na escolha do seu
sucessor. Por isso, sua administraçã o já foi chamada de interregno salvacionista.
Desde 1911, a vida partidá ria, que já era diminuta, cedeu lugar à predominâ ncia
exclusiva do Partido Republicano Conservador como elemento formalizador das
candidaturas situacionistas. Dentro desse quadro, ascendeu o general Oliveira Valadã o
apoiado por Pinheiro Machado, que continuava gozando de grande influência na política
nacional. Valadã o, atuante na política sergipana desde a primeira década, influindo em
diversos acontecimentos com ou sem mandatos de presidente do Estado (1894-1896),
deputado federal (1903-1904 e 1906-1907) e senador (1907-1914), voltou a governar
Sergipe (1914-1918). Dessa vez, fez as pazes com alguns adversá rios e, numa quadra de
melhoria da arrecadaçã o devido à elevaçã o dos preços do açú car e dos tecidos, deu
continuidade à s obras de seus antecessores. Inaugurou o segundo trecho da ferrovia,
ligando Aracaju a Propriá , prosseguiu açõ es de saneamento e aterro, construiu dois
grupos escolares na capital e um em sua terra natal, Vila Nova. Reformou prédios
pú blicos, inclusive o Palá cio do Governo, investiu na Usina de Eletricidade e fez algumas
reformas do ensino, introduzindo inclusive cursos noturnos destinados aos operá rios.52
Em 1915, assassinaram, no Rio de Janeiro, Pinheiro Machado, muito atacado
como responsá vel pela estrutura de poder vigente. Mas o sistema oligá rquico
prosseguiu. Valadã o, antes de deixar o governo, combinou com o tenente-coronel
Pereira Lobo para candidatar-se ao Senado. Pouco tempo depois, fizeram a permuta.
Lobo renunciou ao mandato de senador e, dentro dos esquemas situacionistas, foi eleito
presidente do Estado. Nascido em Sã o Cristó vã o (SE), em 1864, o novo governante de
Sergipe, casado com uma enteada de Valadã o, era seu aliado leal desde as lutas da
primeira década republicana. Como vice-presidente chegou a assumir a titularidade
(11.10.1897 a 20.03.1898), quando sofreu rumoroso processo de impeachment. Eleito
para governar o Estado de 1918 a 1922, fora o ú ltimo dos militares, durante a Primeira
Repú blica, a administrar com o respaldo do voto popular. Ao todo foram quinze anos de
presença de oficiais do Exército. Nessa ú ltima safra, todos os três oficiais já estavam
reformados e já tinham ocupado o governo na primeira década, quase sempre por
tempo curto. Nessa ú ltima vez, mais experientes e amadurecidos, puderam colher alguns
51
Cf. Leis 603 de 24.08.1912 a 627 de 30.10.1912.
52
Cf. Manuel Priscilino de Oliveira Valadã o. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1918, Aracaju: Imprensa Oficial, 1918.
33
frutos das iniciativas passadas e semear novas obras, facilitadas pelo crescimento das
arrecadaçõ es decorrentes sobretudo da elevaçã o dos preços do açú car, no período
1915-1920.
Pereira Lobo, ainda nas festas da posse, em outubro de 1918, deparou-se com um
problema gravíssimo. Era o surto da gripe espanhola que se espalhava por praticamente
todas as cidades e vilas do Estado, sendo registrados 25.910 casos, resultando em 997
mortes segundo os registros oficiais.53 Tratava-se de mais uma epidemia que deixava
patente a falta de estrutura de saú de para enfrentar tragédias dessa natureza. Em 1920,
quando Sergipe comemorava um século de autonomia política em relaçã o à Bahia, em
meio a vá rios eventos, o presidente do Estado, em Mensagem à Assembleia Legislativa,
lembrava que Aracaju ainda tinha “grandes pâ ntanos”.
Desafiados pelas tragédias epidêmicas, os governantes vinham cuidando do
saneamento e do aperfeiçoamento dos métodos da saú de pú blica. Mas era uma evoluçã o
lenta com pouca ou nenhuma ajuda da esfera federal. Diante da mortandade de 1918,
uma comissã o da Diretoria Geral de Saú de Pú blica veio a Sergipe no ano seguinte e
passou a fornecer orientaçã o mais aprimorada de política sanitá ria.54 Enquanto isso, o
governo estadual ia fazendo novos aterros, drenagens e ampliando serviços de á gua,
esgotos, luz, calçamentos, melhorando principalmente a feiçã o de Aracaju. Novos grupos
escolares foram construídos na capital e no interior, outros prédios pú blicos foram
reformados e a Biblioteca do Estado ganhava casa pró pria. Mas, ao lado desses
melhoramentos, novas demandas iam aparecendo. O presidente, que já reclamava das
dificuldades para manter 89 muares que puxavam os bondes na capital, assumia o
controle da primeira rodovia, ligando Salgado a Estâ ncia, que fora construída por
particulares durante o governo de Valadã o. Intermediou questõ es entre capital e
trabalho, e procurou atender outras demandas como foi o caso da revisã o e atualizaçã o
dos velhos có digos de processo criminal, civil e comercial do Estado. O fato é que aos
poucos o aparato pú blico ia se modificando e a feiçã o das cidades se transformando.
A essa altura, o quadro político foi-se revelando mais inquieto. Recordemos que,
de 1907 a 1921, internamente, o controle político foi estabelecido sem a vigilâ ncia de
partidos oposicionistas. Sobretudo depois de 1911 a sociedade passou a viver entre os
53
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997, p. 124.
54
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997, p. 107.
34
elogios fá ceis e a indiferença tá cita. As campanhas civilistas lideradas por Rui Barbosa
em 1910 e 1919 criaram novas expectativas, mas nã o alcançaram êxito eleitoral.
Restaram as mensagens e as aspiraçõ es reprimidas. Mas a situaçã o foi-se modificando.
Embora os partidos fossem estaduais, os movimentos políticos nacionais repercutiam
em Sergipe. O comportamento de alguns jornais foi-se revelando mais crítico, e o
governo Pereira Lobo passou a reagir com medidas truculentas contra os divergentes.55
Por volta de 1922, desencadeou-se novo ciclo de inquietaçõ es com a campanha
da Reaçã o Republicana que dividiu a imprensa local, refletindo o clima de
descontentamento. Ex-presidentes do Estado, como o velho marechal Siqueira de
Menezes e Rodrigues Dó ria, oficiais do Exército e numerosos civis, chefes políticos do
interior e líderes da capital revelaram-se simpatizantes e até entusiastas do movimento
que, em Sergipe, apoiava o aristocrata senador Gonçalo Rolemberg para presidente do
Estado. A atuaçã o combativa dos irmã os Nobre, Manoel e Francisco à frente do Jornal do
Povo, com linguagem por vezes agressiva, resultou em invasã o da folha, prisã o de
jornalistas e ameaças de morte.
Apó s sucessivas eleiçõ es com postulante ú nico, a disputa voltava a agitar a
campanha eleitoral em Sergipe.56 Ao fim, o situacionismo venceu, mas deixou sequelas
represadas num ano particularmente marcado por eventos significativos como a
Semana da Arte Moderna, a fundaçã o do PCB e a criaçã o do Centro D. Vital, que haveria
de desempenhar importante papel no movimento da Igreja Cató lica. Em Sergipe, essa
inquietaçã o cultural e política de algum tempo vinha se gestando com o surgimento do
Centro Socialista Sergipano (1918) e da Liga Sergipense contra o Analfabetismo, na qual
expressõ es femininas como a farmacêutica Cezartina Régis e a médica Ítala Silva de
Oliveira se engajaram de forma decidida através da imprensa.57
Foi nesse novo momento que ascendeu Maurício Graccho Cardoso (1922-1926).
Filho do conceituado professor Brício Cardoso, o novo governante, depois de viver
alguns anos no Ceará , como jornalista, professor e político vinculado aos Accioly, diante
da derrocada política deste grupo, em momento de dificuldades foi para o Rio de Janeiro,
55
Sobre denú ncias contra o governo Lobo, ver Jornal do Povo, 1921 e 1922.
56
Sobre a campanha da Reaçã o Republicana em Sergipe, ver Manoel Dantas. Um Político da “Reação Republicana”.
Salvador: Progresso, s/d.
57
Sobre a participação das mulheres sergipanas nos eventos políticos e sociais, ver Maria Lígia Madureira Pina. A
Mulher na História. Aracaju: s/d e Maria Thetis Nunes. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.
35
58
Os calçamentos a paralelepípedos foram iniciados em 1919. Cf. Fernando de Figueiredo Porto. Alguns nomes antigos
de Aracaju. Aracaju: J. Andrade, 2003, p. 101.
59
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997.
60
Maurício Graccho Cardoso. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa, em 07.09.1926, Aracaju: Typ. Instituto
Coelho e Campos, 1926, p. 78.
61
Em 1922 havia três grupos na capital, um em Capela e outro em Vila Nova. Cf. Maurício Graccho Cardoso. Mensagens
apresentadas à Assembleia Legislativa, 1924-1925, Aracaju: Imprensa Oficial.
36
62
O Instituto Coelho e Campos fora construído na administraçã o de Pereira Lobo graças à doaçã o de 300 contos de
réis do senador Coelho Campos para este fim. Inicialmente foi oferecido um curso de mecâ nica prá tica. Ver Pereira
Lobo. Mensagens presidenciais, 1920-1922.
63
Cf. Maurício Graccho Cardoso. Mensagens presidenciais, 1923-26.
64
Ver Maurício Graccho Cardoso. Ibidem.
65
Cf. Maurício Graccho Cardoso. Mensagens apresentadas à Assembleia Legislativa, em 1925 e 1926 e Josué Modesto
dos Passos Subrinho. Reordenamento do Trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro, Sergipe
1850/1930. Aracaju: Funcaju, 2000. p. 343-365.
37
realizaçõ es aquém do ocorrido nas ú ltimas administraçõ es. Indisposto com o ex-
presidente Graccho Cardoso e premido pelas circunstâ ncias, inclusive dívidas herdadas,
empenhou-se em suprimir repartiçõ es, cargos e cortar despesas. Rescindiu contrato com
o Banco do Estado, criado em 1923, e com o Mercado Modelo, cuja administraçã o passou
para o controle do município da capital. Extinguiu a Inspetoria de Terras Matas e
Estradas, dispensando o pessoal ligado ao setor, agradando a parcela dos proprietá rios
rurais desinteressados na regularizaçã o da propriedade territorial. O Centro Agrícola,
por sua vez, careceu de maior assistência, ao tempo em que a natureza e a economia
manifestavam-se adversas. As secas de 1926 e 1928 afetaram a produçã o, a baixa dos
preços do açú car, que vinha ocorrendo desde 1926, agravou a situaçã o do tesouro do
Estado. A crise de 1929 atingiu o empresariado e as finanças internas, embora em menor
proporçã o do que em outros Estados.69 Como as estradas e as obras de engenharia
herdadas exigiam despesas elevadas com consertos, a conservaçã o nem sempre pô de
ser realizada com a presteza necessá ria. Mesmo assim, procurou-se levar avante o plano
rodoviá rio, construindo outras vias e providenciou-se a desobstruçã o do rio Japaratuba,
cuja navegaçã o estava prejudicada.70 No interior, o banditismo, representado pelo grupo
de Lampiã o, já começava a desafiar as autoridades e incomodar as populaçõ es sobretudo
do sertã o, provocando grande insegurança e migraçõ es.
Enquanto isso, a convivência do governo Manoel Dantas com alguns setores
influentes do Estado e da sociedade sergipana foi-se tornando difícil. A agressã o física
cometida pelos filhos do governante contra o presidente do Tribunal de Relaçã o foi
apenas uma das questõ es que marcaram sua administraçã o. Governando nos tempos de
uma ordem cada vez mais questionada, quando as agitaçõ es políticas se intensificavam,
nã o exercitou a tolerâ ncia com seus adversá rios políticos, incluindo aí alguns oradores
da Aliança Liberal.
No processo de escolha do futuro chefe do Executivo, o quadro político
situacionista dividiu-se, mas Manoel Dantas conseguiu, junto ao presidente da
Repú blica, que fosse indicado o comerciante Francisco de Souza Porto, que foi eleito pelo
69
Cf. Antô nio José Nascimento. O “Crash” de 29 e a Economia Sergipana in Newton Pedro da Silva e Dean Lee Hansen
(orgs.). Economia Regional e Outros Ensaios. Aracaju: UFS/Fundação Oviêdo Teixeira, 2001.
70
Cf. Manoel Corrêa Dantas. Mensagens apresentadas à Assembleia Legislativa, 1927-1930. Aracaju: Imprensa Oficial,
1927-1930.
40
QUADRO I
SUCESSÃ O DOS GOVERNANTES DE SERGIPE (1899-1930)
1
Da votaçã o de 1902, a fonte nã o dispunha do resultado de Santo Amaro.
2
Francisco Porto nã o chegou a tomar posse em face da Revoluçã o de 1930.
2
42
71
Cf. Mons. Olímpio de Souza Campos. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1902. Aracaju: Empresa de “O Estado de Sergipe”, 1902. Se incluirmos as embarcaçõ es pequenas, como canoas,
saveiros, jangadas, barcadas, lanchas, patachos, cluper, iates, vapores, balieiras, botes e logares, somente no porto de
Aracaju em 1899 foram matriculadas 661 unidades. Laudelino de Oliveira Freire. Quadro Chorográgico de Sergipe.
Paris: H. Garnier, 2. ed., 1902. p. 67.
72
Ver Josué Modesto dos Passos Subrinho. Reordenamento do Trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no nordeste
açucareiro, Sergipe 1850/1930. Aracaju: Funcaju, 2000. p. 209-210.
73
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob. cit. cap. VII.
43
engenho para usineiro. Dentro dessa tendência, o nú mero dos banguês decresceu
bruscamente e o de usinas aumentou, conforme pode ser observado pelo quadro abaixo.
QUADRO II
CENTROS DE PRODUÇÃ O DE AÇÚ CAR (SERGIPE –1903-1930)
74
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob.cit. p. 222.
44
elevados do que os dos engenhos tradicionais. Entretanto, essa modernizaçã o75 nã o foi
suficiente para elevar a produçã o para os níveis do período 1881-1887. De 1891 a 1929,
a média anual nã o passou de 24.629 toneladas, aliá s bem distanciada daquela fase
anterior que fora de 41.590 toneladas.76 Também nã o evitou que Sergipe fosse perdendo
posiçã o diante das demais unidades da federaçã o. Enquanto no período 1890-1900,
nossa produçã o correspondia 8,6% do cô mputo nacional, de 1921 a 1930 ficamos com a
média de 2,6%.77
De qualquer forma, continuavam os seus centros de produçã o açucareira como
a principal fonte de riqueza, em face dos lucros proporcionados aos proprietá rios, dos
impostos arrecadados aos cofres pú blicos e dos empregos que geravam. Pelos idos de
1916, dados fornecidos por 32 usinas e 124 engenhos revelaram que nas primeiras
havia 1.441 operá rios e nos ú ltimos 3.379 trabalhadores.78
Depois do açú car, num segundo plano, vinha o algodã o que era cultivado
sobretudo no agreste e no sertã o pelos pequenos proprietá rios. Daí ser chamado de
cultura de pobre que, no entanto, gerava efeito econô mico significativo, sobretudo nos
municípios onde o cultivo da cana era impró prio. Pelo menos até 1911, o valor da
exportaçã o de algodã o superava a dos tecidos mas, a partir de 1913, a situaçã o inverteu-
se.
A pecuá ria nã o parava de crescer apesar de grande parte das terras ser ocupada
com a plantaçã o de cana e de algodã o. Pelo menos de 1912 para 1920, o aumento
registrado foi expressivo, mesmo numa fase em que os preços do açú car estavam
bastante elevados. Sobretudo a pecuá ria bovina expandia-se com alguma absorçã o de
mã o de obra na formaçã o e na manutençã o das pastagens. Coexistindo com a economia
exportadora e a pecuá ria, havia a produçã o agrícola de subsistência, ocupando vasta
á rea do Estado, mantendo uma populaçã o rural significativa que comercializava o
excedente nas feiras das cidades e das vilas.79 De qualquer forma, o setor rural absorvia
o grosso da força de trabalho da populaçã o sergipana, grande parte da qual ex-escravos
com nível de organizaçã o baixo e, portanto, sem grande poder de reivindicaçã o.
75
O termo modernizaçã o aparece aí como melhoria técnica com consequências sociais.
76
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob.cit. p. 207.
77
Josué Modesto dos Passos Subrinho. História Econômica de Sergipe (1850-1930). Aracaju: UFS, Programa Editorial
da UFS, 1987, p. 67.
78
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob. cit., 1987, p. 75.
79
Ver Antô nio José Nascimento. A Economia Sergipana e a Integração do Mercado Nacional (1930-1980). Dissertaçã o
de Mestrado apresentada na UNICAMP, Campinas, 1994, p. 20.
45
Nã o obstante a grande importâ ncia econô mica das atividades rurais, na á rea
urbana progrediam vá rios ramos da indú stria e dos serviços. Entre as exploraçõ es
industriais, aquela que mais ocupava mã o de obra era a fá brica de tecidos. A primeira foi
instalada em Aracaju em 1882, depois outras foram aparecendo. Em 1918 o quadro era
o seguinte.
QUADRO III
FÁ BRICA DE TECIDOS DO ESTADO DE SERGIPE (1918)
Ano de
No de No de
Criação e Nome da Fábrica Firma Social Capital
Teares operários
Município
1882- Sergipe Industrial Cruz, Ferraz e Cia 1.000.000$ 320 702
Aracaju
1918- Fá brica Confiança Ribeiro Chaves & 600.000$ 230 425
Aracaju Cia
1891- Santa Cruz Cia Industrial de 1.250.000$ 300 530
Estâ ncia Estâ ncia
1914- Senhor do Bonfim Silveira, Ribeiro & 800.000$ 186 380
Estâ ncia Cia
1913- Empresa Industrial Brittos, Menezes & 600.000$ 170 400
Propriá de Propriá Cia
1915- Sã o Empresa Industrial Andrade Chaves & 1.000.000$ 220 316
Cristó vã o de S. Cristó vã o Cia
1906-Vila Fá brica de Fiaçã o e Peixoto, Gonçalves 1.000.000$ 250 580
Nova Tecs. de Algodã o & Cia
Vila Nova Empresa Têxtil A. Antunes & Cia 300.000$ 120 330
TOTAL 1.796 3.663
Além das têxteis, outras indú strias de transformaçã o apareciam conforme pode-
se avaliar pelos dados abaixo.
QUADRO IV
ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS E OPERÁ RIOS - SERGIPE (1907-1930)
80
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob. Cit., p. 72-92. Quanto aos estabelecimentos industriais e aos operá rios, este
autor, baseado em outras fontes, encontrou nú meros diferentes.
47
melancó licos” com a presença de italianos e vá rios portugueses.81 Mas, por esse tempo,
já se notava a movimentaçã o crescer, a Associaçã o Comercial animar-se, construindo
nova sede,82 consequências da elevaçã o dos preços dos produtos de exportaçã o
associada à dinâ mica administraçã o de Graccho Cardoso (1922-1926). Nã o foi sem razã o
que vá rios empresá rios transferiram-se do interior para a capital, que se afirmava como
principal nú cleo econô mico. Se A. Fonseca chegou em 1902 e Ribeiro e Cia já estava
instalado desde pelo menos 1906, a maioria veio depois: Jú lio Prado Vasconcelos (1918),
Aguiar e Irmã o e Cia (1922), José Menezes Prudente (1925), J. C. Barreto (1926), P.
Franco e Cia (1928), entre outros. O fato é que o faturamento crescia e dessa
prosperidade beneficiava-se sobretudo a capital em detrimento dos municípios do
interior, especialmente daqueles mais pró ximos, como Laranjeiras e Maruim. Nã o
obstante os problemas que haveriam de deparar-se em face das políticas econô mico-
financeiras do governo federal, estes estabelecimentos foram demonstrando ao longo do
tempo grande capacidade de sobrevivência.
Quanto à s instituiçõ es financeiras, vimos que o governo Josino Menezes criou o
Banco de Sergipe, em 1905, que funcionou com alguma eficá cia até 1918. Com a
ascensã o de Pereira Lobo e sua indisposiçã o com o coronel Francino de Andrade Melo,
um dos seus principais acionistas, tudo indica que a crise que já afetava aquela
instituiçã o acentuou-se e persistiu até 1934 quando o Banco foi liquidado
judicialmente.83 Onze anos depois dessa primeira iniciativa, foi instalada a agência do
Banco do Brasil, em 1916.84 Graccho Cardoso criou o Banco Estadual de Sergipe, em
1923, em situaçã o nã o muito sustentá vel e no ano seguinte aparecia a primeira casa
bancá ria sob controle de particulares, o Banco Mercantil Sergipense, de Gonçalo
Rolemberg do Prado. Em 1925, foi fundado o Banco de Crédito Popular, em Maruim, de
Aureliano Azevedo Barreto e Octá vio de Mello Dantas. Há notícias de que em 1928 o
presidente Manuel Dantas e empresá rios teriam tentado criar o Banco dos Lavradores,
mas nã o chegou a funcionar. Da mesma forma, houve também a pretensã o de organizar
em Aracaju um Banco de Crédito Popular que nã o foi adiante. Além dessas iniciativas, há
81
Má rio Cabral. Espelho do Tempo: memó rias e reflexõ es. Salvador: Artes Grá ficas, 1973.
82
Ver Maria Nely Santos. Associação Comercial de Sergipe. Uma Instituiçã o Centená ria (1873/1993). Aracaju: 1996, p.
22-29.
83
Cf. Josino Menezes. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em 07.09.1905, Aracaju:
Empresa de O Estado de Sergipe, 1905, p. 40. e Fá bio Maza. As Origens do Sindicato dos Bancá rios de Sergipe in
Cadernos da UFS: História, Sã o Cristó vã o/SE: UFS/EDUFS, 1996, p. 80 .
84
Cf. Alberto Carvalho. Dispersa Memória, Aracaju: Acê, 2001.
48
informaçõ es da existência da Caixa Econô mica, sem falar da Phenix Econô mica, uma
sociedade de crédito popular, que teria funcionado com apoio do padre Solano Dantas
de Menezes voltada para a populaçã o de menor recurso.85
Nã o obstante as açõ es do Estado em vá rios campos administrativos, a sociedade,
através dos seus empresá rios, ocupou bastante espaço nessa fase. A iluminaçã o através
do gá s acetileno, a instalaçã o dos carris urbanos a traçã o animal, a encanaçã o de á gua, a
primeira estrada de rodagem,86 tudo deveu-se à s iniciativas dos grupos privados. Nos
anos vinte, Antô nio do Prado Franco (1880-1939) foi certamente quem mais participou.
Depois de arrecadar a Usina Central no Rio de Janeiro, através de leilã o, e adquirir a
parte dos só cios, progrediu e tomou parte ativa nos empreendimentos do governo
Graccho Cardoso (1922-26). A construçã o do Mercado Municipal e do Matadouro
Modelo, a substituiçã o dos bondes a burros por elétricos, tudo teve a sua participaçã o
ativa, de forma associada a Francino de Andrade Melo ou como só cio majoritá rio da
empresa de Melhoramentos de Aracaju,87 contribuindo assim para a modernizaçã o dos
serviços pú blicos de Sergipe.
O perfil de província monocultora, que marcou o período do Império, foi sendo
modificado com a diversificaçã o de atividades sem precedentes em Sergipe, alterando o
quadro social que adquiria maior densidade. Embora na primeira década republicana as
opçõ es de trabalho estivessem concentradas no campo, nos engenhos ou nas fazendas,
paulatinamente as indú strias e os serviços, inclusive as casas comerciais, foram
proliferando88 no meio urbano e com elas aumentando o contingente de empregados.
Como a Constituiçã o de 1891 estabeleceu a nã o intervençã o do Estado no trabalho, as
relaçõ es entre o patronato e os obreiros dependiam da força de cada parceiro.
Percebendo suas fragilidades, os trabalhadores urbanos foram criando suas
sociedades. Inicialmente eram de cará ter beneficente e de socorros mú tuos, como
tentativas embrioná rias de organizaçã o. Mas o movimento foi crescendo com a ediçã o de
seus jornais perió dicos: O Operário (1891, 1896, 1910-11, 1916) e Voz do Operário
85
Cf. Armando Barreto. Cadastro de Sergipe. 1949/50, n. 3, Aracaju, 1950 e Mensagem apresentada à Assembleia
Legislativa, em 7 de setembro de 1925, ao instalar-se a 3ª sessão ordiná ria da 15ª Legislatura, pelo Dr. Maurício
Graccho Cardoso, Presidente do Estado, Imprensa Oficial, Aracaju: 1925, p. 124.
86
Ver Edilberto Campos. Crônicas da Passagem do Século, volumes 1/6, 1965-1970.
87
Cf. Sílvio Leite Franco. Comentá rios sobre o artigo ‘a usina e o fornecedor’. Jornal da Cidade, 03/1993.
88
Cf. Josué Modesto dos Passos Subrinho. A Indú stria Têxtil em Sergipe: Gênese, crescimento e Limites de uma
Indú stria Periférica. In: Newton Pedro da Silva e Dean Lee Hanse (Orgs.) Economia Regional & Outros Ensaios. Aracaju:
UFS/Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2001, p.199.
49
89
Sobre essas greves, ver José Ibarê Costa Dantas. Notícias de Greves em Sergipe (1915-30). Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, n. 31, 1992.
50
90
Quadros Estatísticos de Sergipe, IBGE-Departamento de Estatística Geral e Publicidade. Aracaju: Imprensa Oficial,
1938, p. 8-10.
91
Cf. Fernando de Figueiredo Porto. Alguns nomes antigos de Aracaju. Aracaju: J. Andrade, 2003, p. 123 e 183 e
Francisco Viana Filho. Futebol Sergipano in Memó rias de Sergipe, Correio de Sergipe, 02.11.2003.
51
chegou também o primeiro automó vel, cujo uso como opçã o de transporte se afirmaria a
partir de 1918-1919,92 fomentando as primeiras estradas de rodagem (1917-1918). As
viagens, antes restritas ao carro de boi, ao cavalo ou à s barcas, encontravam nova
alternativa, redefinindo o tempo do homem.
Atrá s do primeiro carro nã o demoraram a chegar outros. Contudo, os veículos
de pneus e motor de explosã o exigiam reparos, rodovias, demandando a partir de entã o
novos serviços. Inicialmente apareciam como demonstraçã o de importâ ncia e riqueza,
mas aos poucos foram sendo encarados também como utilidade. Em 1929 já existiam no
Estado 152 automó veis e cinco caminhõ es. Era um momento em que a importaçã o se
acelerava de forma que, em 1930, já se contavam 346 carros, 51 caminhõ es e 32
ô nibus.93 Os calçamentos que vinham sendo feitos em pedra bruta, passaram a ser
realizados com paralelepípedos.
Numa manhã de sol de 1922, “Aracaju amanheceu alvoroçada. Muita gente na
rua. Os colégios cerraram as portas. O comércio cerrou as portas” e depois de ansiosa
espera apareceu o primeiro aviã o que sobrevoou Aracaju. “Depois, em julho de 1923,
amerissou no Rio Sergipe uma esquadrilha de hidroaviõ es. Espocaram foguetes.
Repicaram sinos. Silvaram os apitos das fá bricas”. A tripulaçã o foi recebida com todas as
honras com discursos e baile no Palá cio.94 Era um novo meio de transporte que
começava a se firmar, modificando costumes estabelecidos.
É verdade que os avanços traziam também custos. A chegada do trem
intensificava a devastaçã o das matas. Primeiro com a extraçã o de madeira para os
dormentes, depois a necessidade de lenha para alimentar as locomotivas incentivou a
derrubada continuada das á rvores. Em seguida, os terrenos viravam roças, plantaçõ es
de algodã o e, afinal, pastagens para a pecuá ria em ascensã o. As estradas de rodagem
foram sendo abertas ano apó s ano a partir de 1917 e, desde entã o, foram contabilizando
novos encargos expressivos.95 O fato é que a sociedade que se modernizava ia
produzindo novas demandas inclusive nas relaçõ es sociais.
A sociabilidade que se processava nos bondes entre as diversas classes foi-se
reduzindo com o transporte individual, segmentando e diferenciando os grupos pela
92
O primeiro carro foi uma fobica (Ford) de Arnon Coelho. Cf. Má rio Cabral. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Livraria
Regina Ltda., 1955, p.25 e Fernando de Figueiredo Porto. Ob. cit., 2003, p. 175.
93
Quadros Estatísticos de Sergipe, IBGE. Aracaju: Imprensa Oficial, 1938, p. 28.
94
Má rio Cabral. Espelho do Tempo. Salvador: Artes Grá ficas, 1973, p. 53-54.
95
Ver Edilberto Campos. Crônicas da Passagem do Século, volume 4, 1969, p. 71-75.
52
décadas da Repú blica, o interior do Estado teve uma presença expressiva. Pelos
registros que sobreviveram podemos contar o nú mero de títulos que circularam em
cada município: Capela (3), Estâ ncia (10), Lagarto (1), Laranjeiras (4), Maruim (10),
Propriá (10), Rosá rio (2), Santa Luzia (1), Vila Nova (3). 109 Somando com os perió dicos
da capital, ao longo dos quarenta anos da Primeira Repú blica cerca de 150 títulos
apareceram.110 É verdade que muitos nã o passavam de pequenas publicaçõ es de vida
curta, mas, em nenhum outro momento, encontramos notícias de tantos ó rgã os.
Paralelamente foram aparecendo também as revistas. Durante os tempos da
Província já se tem notícias de pelo menos uma, Belo Sexo, que, em 1882, teria editado
três nú meros. Mas foi durante a Repú blica que elas proliferaram (ver Anexo IV). Logo
em 1890 começou a circular a pequena Revista Literária, ó rgã o do Gabinete de Leitura
de Maruim, saindo pelo menos 34 nú meros. Depois surgem outras e, na segunda década
republicana, impressiona a permanência da Revista Agrícola, com boa apresentaçã o
grá fica. Editou, no mínimo, 92 nú meros voltados especialmente para os problemas da
lavoura, difundindo técnicas e inovaçõ es de outros países, analisando os problemas
setoriais da economia, trazendo dados que ainda hoje servem de referências aos
historiadores. Merece destaque também a Forense, especializada na á rea do Direito, da
qual restaram 16 nú meros. Por esse tempo, apareceram modestas publicaçõ es,
expressando discretamente objetivos políticos. A Redenção era de simpatizantes de
Fausto Cardoso e A Trombeta de gente do grupo olympista. Embora os textos e as
poesias nã o explicitassem agressõ es, eram ainda frutos de uma rivalidade política que o
tempo haveria de diluir. Seguiram-se outras pequenas experiências no campo da
literatura, mas o perió dico de melhor conteú do foi a Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe. Começou a sair em 1913 e persistiu até 1929 com boa
regularidade. Ao lado desta, surgiram, em 1928, três publicaçõ es de certo porte, que
sobreviveram por alguns anos, indicando aumento da vitalidade do movimento
intelectual do Estado.111 Por trá s desses ó rgã os estavam editores, alguns dos quais
revelando vocaçã o empreendedora, acreditando no mercado editorial num momento em
que a tecnologia engatinhava. Figuras como Homero de Oliveira, um dos editores da
109
Clodomir Souza Silva. Ob. cit., 1920, p. 102-105.
110
Ver Cristiane Vitó rio de Souza. Ob. cit., 1998. p. 41.
111
Sobre o tema, ver Jorge Carvalho do Nascimento e Itamar Freitas. A Revista em Sergipe. In: Revista de Aracaju, Ano
LIX, n. 9, 2002, p. 169-187.
57
Revista Agrícola, e sobretudo Armando Barreto estã o a merecer estudos específicos dos
pesquisadores. Este editou almanaques, o perió dico semanal Mercúrio por 119 nú meros
e depois publicaria o Cadastro de Sergipe.
Nas artes plá sticas, pode-se dizer que, no limiar do século XX, os pintores de
Sergipe foram bastante influenciados pela figura de Horá cio Hora (1853-1890). 112 Este
artista, natural de Laranjeiras, embora tenha morado e falecido em Paris, onde estudou
na Escola de Belas Artes, retratou cená rios e figuras locais e manteve ligaçõ es afetivas
com seus conterrâ neos até a morte. Seus quadros Pery e Cecy, A Gruta de Matriana do
acervo do Museu Histó rico de Sergipe, entre outros, foram apreciados e estudados pelos
seus contemporâ neos e ficaram como referências da pintura sergipana. Entre seus
seguidores, alguns foram esquecidos, mas continuou sendo lembrado Oséas Santos
(1865-1947),113 que viveu na Bahia, onde estudou na Escola de Belas Artes e deixou
vasta produçã o, alguns quadros inspirados na obra do mestre. Por esse tempo, começou
a destacar-se também Jordã o de Oliveira (1900-1980), que se vinculou à Escola de Belas
Artes no Rio de Janeiro, onde ministrou cursos por vá rios anos.114 Sem jamais perder os
vínculos com sua terra, permaneceu pintando retratos de sergipanos ilustres e
paisagens, dentro do melhor academicismo.
Um fato que provocou influxo inovador sobre os pintores locais foi a contrataçã o,
nos anos vinte, de artistas italianos para reformar o Palá cio do Governo. Entre os
escultores, uma figura que teve uma presença significativa nesse período foi Corinto
Mendonça, um engenheiro de sensibilidade que também deixou memó ria sobre os
costumes de Aracaju de seu tempo.115
Quanto à mú sica, em fins do século XIX era certamente a arte mais cultivada em
Sergipe, embora de forma diferenciada. Numa aná lise um tanto simplificada e
esquemá tica, podemos dizer que nas igrejas tocavam-se as mú sicas sacras nos ó rgã os,
nas ruas as bandas apresentavam os hinos, dobrados e sinfonias e nos salõ es das casas
grandes ouviam-se polcas, valsas, marchas em pianos, violinos, flautas e bandolins. Entre
112
Cf. Ana Conceiçã o Sobral de Carvalho. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, BB, BN, 2000.
p. 53-54 e Ana Conceiçã o Sobral de Carvalho e Verô nica Maria Menezes Nunes, Horá cio Hora. Aracaju: SEC, 1982.
113
Ver Oséas Santos. A vida de um pintor. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, n. 26A, v. 22, 1962-
1965.
114
Ver Jordã o de Oliveira. Caminhos Perdidos. Rio de Janeiro: Grá fica Ouvidor, 1975.
115
Ver Corinto Pinto de Mendonça. Tipos populares de Aracaju (sombras que passam). Aracaju: Departamento de
Cultura e Patrimô nio Histó rico de Sergipe (DCPH), 1974. 77p.; Praça da Matriz. Aracaju: 1955. 71p. e Contribuição ao
centenário do Aracaju. Aracaju: Escola Industrial de Aracaju, 1954. 78p.
58
116
Cf. Sílvio Romero. Cantos Populares no Brasil. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1954, tomo I, p. 58.
117
Cf. Henrique Cazes. Choro: Do Quintal ao Municipal. São Paulo: Editora 34, 1999, 2. ed., p.17.
118
Cf. Henrique Cazes. Ob. cit., 1999, p. 65-66.
119
Cf. Ariovaldo Figueiredo. História Política de Sergipe, 1955-62, v. 40, 1991, p. 114.
59
Bahiense e seu discípulo Francisco Avelino; Joã o Belizá rio Junqueira, compositor,
violinista e cantor emérito; Francisco Hora, pianista e flautista, irmã o do pintor Horá cio
Hora. De Sã o Cristó vã o, sã o lembrados, entre outros, Pedro de Barros, compositor e
instrumentista; Antô nio Emydio, inexcedível no violã o; e Waldettre Mello, “componista e
instrumentista exímia, laureada pelo Instituto Nacional de Mú sica”.120 Em Estâ ncia
também sã o citados compositores, como o poeta Severiano Cardoso, o religioso Vitorino
Fontes e a cantora violinista Ismênia Fontes, enaltecida pelos seus contemporâ neos.121 A
prá tica musical, através de valsas, polcas e marchas nos salõ es, mesmo num momento
em que as mulheres tinham tratamento diferenciado, revelou outros talentos femininos
como Adalgisa Barreto, “improvisadora no piano”; Natinha Andrade Cerrone,
“concertista adorá vel”; Maria Josefina de Mendonça, “exímia pianista”, entre outras.122 A
abordagem sumá ria de Prado Sampaio mostra como o tema está a merecer resgate mais
abrangente.
Nã o obstante a segmentaçã o social, aos poucos as diferenças foram diminuindo
nos sincretismos dos ritos, na miscigenaçã o dos ritmos e das cançõ es das três raças num
longo processo de amá lgama. Uma das festas mais equalizadoras eram os carnavais,
conforme sugerem as evocaçõ es dessas comemoraçõ es.123 Os desfiles dos carros
ornamentados, a troca de papéis, as brincadeiras entre blocos heterogêneos, tudo
concorria para superar convençõ es, hierarquias, ensaiando mistura social, sem deixar,
no entanto, de revelar novas diferenças.
No teatro, no fim do século XIX, já havia uma tradiçã o respeitá vel.124 Embora as
informaçõ es de que dispomos sobre as artes cênicas durante a Primeira Repú blica sejam
escassas, há notícias de apresentaçõ es de companhias de fora em algumas cidades como
Aracaju, Laranjeiras e Estâ ncia. Quanto à s produçõ es locais, há indícios de terem sido
um tanto disseminadas, embora mais frequentes em alguns municípios. Laranjeiras,
nesse sentido, destacou-se. Mesmo num momento em que sua vida econô mico-social
declinava, a escola da professora Zizinha Guimarã es contribuía para estimular a
120
Prado Sampaio. Sergipe Artístico, Litterário e Scientífico. Aracaju: Imprensa Oficial, 1928, p. 65-74.
121
Cf. Luiz Antô nio Barreto. Da arte musical em Sergipe in Gazeta de Sergipe, 17-18.02 e 20.02.2003.
122
Prado Sampaio. Ob. cit., 1928, p. 65-74.
123
Sobre essas festas no início do século XX, ver Corinto Mendonça. Ob. cit., 1955, p. 46-54 e Paulo Henrique Santos
Araú jo. Arranca e Filho Baccho. Aracajuanos na folia. Sã o Cristó vã o, 1995. Monografia apresentada no Departamento
de Histó ria/UFS. Fernando Lins de Carvalho. Dos Cordovínicos ao Pré-Caju in Jornal da Cidade, 26-27.01.2003 a 2-
5.03.2003.
124
Ver Geraldo Henrique dos Santos Prata. Teatro Aracajuano: “Um sonho civilizador” (1855-1910), S. Cristó vã o. 1998.
Monografia apresentada no Curso de Histó ria da UFS.
60
produçã o cultural da cidade, de tal forma que nos torneios entre grupos teatrais de
algumas comunidades (de Itaporanga, Lagarto, Barra dos Coqueiros e Laranjeiras) os
desta sempre ficavam em primeiro lugar.125 Nesse clima, vá rios escritores locais
dedicavam-se a escrever suas peças, indicando a presença do teatro na vida cultural
desse período. Mas, na pró pria Laranjeiras, os antigos teatros, tã o movimentados no
século XIX como o Sã o Pedro e o Santo Antô nio, foram-se transformando em ruínas no
curso da Repú blica. O Íris ainda serviu para exibiçã o de filmes e peças teatrais na
primeira metade do século XX, mas também sofreu decadência.126
Nã o obstante a importâ ncia também de Estâ ncia, Maruim e Propriá , Aracaju foi-
se impondo como o centro cultural mais expressivo. A inauguraçã o do Teatro Carlos
Gomes, em 1904, que depois se transformaria em Rio Branco, indicava um avanço em
relaçã o ao pequeno teatro Sã o José, localizado na Praça Olímpio Campos.127
Quanto ao cinema, há uma certa controvérsia sobre a primeira exibiçã o. Má rio
Cabral afirma que ocorreu no Teatro Sã o José em Aracaju, em 1899, mas nã o teria
despertado grande atençã o.128 Outro memorialista diz que “o primeiro espetá culo
realizado teve assistência estupenda! Nã o foi possível se fechar a porta do teatrinho; e,
assim se seguiram outros, porque, de todo o Estado, vinha gente para conhecer o
cinemató grafo”.129 Tudo indica que as primeiras exibiçõ es com alguma regularidade
começaram a acontecer em 1908 ou 1909, descritas como “exposiçã o de quadros do
aparelho cinemató grafo”130 acompanhadas por um gramofone no Teatro Carlos Gomes,
recebendo, entã o o nome de Teatro Sergipe”.131 Eram iniciativas dos exibidores
ambulantes, introduzindo em Sergipe uma nova forma de arte, pela qual “as imagens se
sucedem mais rá pidas do que o pensamento” na expressã o de Walter Benjamin. 132
125
Virgínia Lú cia Menezes. Levantamento das Manifestações teatrais em Laranjeiras-Sergipe, Aracaju:
Fundesc/Sercore, 1986, p.15. Ver também Gilberto Amado. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olímpio,
1975.
126
Cf. Jornal da Cidade, 21.06.1996.
127
Corinto Mendonça. Ob. cit., 1955, p. 54. Ver também Ivan Valença. Cine-Teatro Rio Branco. In Memó rias de Sergipe,
Correio de Sergipe, 29.06.2003.
128
Má rio Cabral. Ob. cit., 1955, p.55.
129
Corinto Mendonça. Ob. cit., 1955, p.55
130
Fernando Figueiredo Porto. Anotaçõ es particulares. Arquivo pessoal no IHGSe.
131
Oito anos depois da primeira exibiçã o em Paris, segundo Melvin L. De Fleur. Teorias de Comunicaçã o de Massa. Rio
de Janeiro: Zahar, 1971, p. 62. Outra informaçã o diz: “Realizou-se ontem o espetá culo anunciado pelo nosso patrício
Pedro Silvino Cortes, e com a exibição do Cinemató grafo e gramofone”. Teatro Sã o José, 07.09.1901. Anotaçõ es do
arquivo de Fernando Porto in Instituto Histó rico Geográ fico de Sergipe. O Cine-teatro Rio Branco foi a primeira casa
de cinema e teatro de Sergipe. Ver Má rio Cabral. Ob. cit., 1955.
132
Cf. Aldaci de Souza, Jornal da Cidade, 24 e 25.06.1992 e Ivan Valença, Jornal da Cidade, 21-22.11.1999. Sobre a
citaçã o de Walter Benjamin ver José Guilherme Merquior. Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 129.
61
Depois de 1918, quando o Cine Teatro Rio Branco passou para a propriedade do
conhecido Juca Barreto, este foi reformando sua casa e acompanhando a evoluçã o dos
espetá culos. Ao lado do irmã o, Paulo, formavam uma dupla dotada de “bom gosto
artístico”,133 incentivando as produçõ es locais e recebendo grandes nomes da mú sica e
da dramaturgia nacional. Ao mesmo tempo, foi popularizando o interesse por filmes, a
partir das crianças que acorriam a participar das novidades.134 Em 1927, uma grande
mudança. Era o filme com som, dispensando o gramofone. Nesse momento já havia
vá rias casas de espetá culo em Aracaju. “Em 1912 foi inaugurado o Elite, denominado
depois de Royal. Nasceu depois o Guarany no fundo do Hotel Internacional. Logo em
seguida vieram o Eden na travessa José de Faro, o Rio Negro na Avenida Simeã o Sobral,
e o Sã o Francisco na Praça Siqueira de Menezes no Bairro Santo Antô nio.135 Além desses,
ainda sã o lembrados o Universal (1918) da Fá brica Confiança, o Arabutan (1923) da
Fá brica de Tecidos Sergipe Industrial, o Tobias Barreto na rua de Vitó ria que funcionou
até 1934, o Popular e o Sã o Joã o.136
No campo da produçã o, o ú nico sergipano de que dispomos de notícias é J. Soares,
um propriaense que vivia em Pernambuco. Ao participar do movimento chamado de
Ciclo de Recife (1924-1930), fez alguns filmes importantes, já como longa metragem,
entre os quais o de maior relevâ ncia foi Aitaré da Praia.137 O fato é que a grande
novidade artística da Primeira Repú blica foi o aparecimento do cinema. Era um novo
tipo de arte que privilegiava a imagem e atingia as massas com efeitos difíceis de serem
exagerados. Começando como uma forma de diversã o, paulatinamente as câ meras
foram desvelando os mistérios do mundo, mostrando seus cená rios e suas contradiçõ es,
num tempo em que as opçõ es de entretenimento eram bastante restritas.
Na poesia, muitos nomes deixaram sua contribuiçã o. Alguns se despedindo como
Severiano Cardoso (1840-1907), outros aparecendo como José Barreto Filho (1908-?),
todos merecedores de tratamento mais apurado. Vá rios deles foram receptivos à s novas
tendências estéticas que apareciam no Sudeste. Neste sentido, como observou Jackson
da Silva Lima, “há experiências simbolistas”, [...] “florescem sementes do
neoparsasianismo” e, nos anos vinte, “vã o surgindo timidamente reflexos da Semana da
133
João Costa apud Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35, maio/1999.
134
Ver Uma vida dedicada ao Cine Teatro Rio Branco. Revista Alvorada, abril/1970, p. 5.
135
Aldaci de Souza, Jornal da Cidade, 24 e 25/06/1992.
136
Cf. Aldaci de Souza, Jornal da Cidade, 24 e 25.06.1992.
137
Cf. Ivan Valença, informações ao autor, em 02.04.2003.
62
138
Jackson da Silva Lima. História da Literatura Sergipana. Aracaju: Regina, 1971, v. 1, p. 66.
139
Cf. Gilfrancisco. A poesia de José Maria Fontes. Jornal da Cidade, 03.01.2002.
63
colô nia sergipana do Rio de Janeiro que agia como grupo de pressã o junto aos
governantes para alguns pleitos. Gozando de fama e prestígio, alguns deles (Sílvio
Romero, Fausto Cardoso, Felisbelo Freire, Gilberto Amado, Manoel Bonfim) tornaram-se
parlamentares, honrando a representaçã o de Sergipe. A terra natal também era
promovida quando deixaram pá ginas ontoló gicas evocando o meio marcante e fecundo
onde nasceram, cresceram e receberam os fundamentos de sua formaçã o moral e
intelectual.
Sílvio Romero, ao analisar as expressõ es literá rias do século XIX, teria dito que “a
literatura sergipana era uma literatura de emigrados”.140 Mas, no século XX, além dos
intelectuais que viveram no Rio de Janeiro, vá rios outros permaneceram em sua terra e,
nã o obstante as limitaçõ es do meio, produziram e proporcionaram inestimá vel
contribuiçã o à cultura do Estado. Para mencionar apenas os mais importantes,
lembramos os nomes de Gumercindo Bessa (1859-1913) com seu grande saber jurídico,
atuando na imprensa e no foro, cuja produçã o foi publicada em obra pó stuma (1916); o
professor Balthazar Gó es com sua memó ria sobre A República em Sergipe; o juiz Nobre
de Lacerda que analisou a Primeira Década Republicana (1906); o historiador Francisco
Lima Jú nior (1856-1929) autor de numerosas obras de singular importâ ncia, como o
estudo sobre a Revolta de Santo Amaro e outra sobre o Poder Legislativo nos tempos da
Província. Ivo do Prado publicou uma das mais extensas pesquisas sobre limites, A
Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias (1919), pela argumentaçã o apresentada no texto e
pela copiosa documentaçã o anexada. O ensaísta Oliveira Teles (1859-1935), discípulo de
Tobias Barreto e autor de Sergipenses (1903), teve participaçã o intelectual relevante.
Outro estudioso importante foi Clodomir Silva (1892-1932), que, além do Álbum de
Sergipe (1920), sua obra maior, dedicou-se também ao registro de manifestaçõ es
populares.141 Florentino Menezes (1886-1959), com sua orientaçã o positivista, publicou
artigos, ensaios e livros dentro do campo da sociologia, como Estudo Corográfico e Social
do Brasil (1912) e Escola Social Positiva (1917) e foi importante animador das atividades
culturais. O bió grafo Armindo Guaraná (1858-1924), com seu valioso Dicionário
Bibliográfico (1925), prestou uma das maiores contribuiçõ es à memó ria de nossa elite
intelectual. O ensaísta Prado Sampaio (1865-1932), autor de Sergipe Artístico, Literário e
140
Cf. Epifâ nio Dó ria in Revista da Academia Sergipana de Letras. Aracaju, n. 16, 1952, p. 191.
141
Ver Jackson da Silva Lima. Os Estudos Antropológicos, Etnográficos e Folclóricos em Sergipe. Governo do Estado de
Sergipe, Secretaria de Estado da Educaçã o e Cultura, Subsecretaria de Cultura e Arte, 1984.
64
arrebatado e suas pregaçõ es reacioná rias, como as qualificou seu discípulo maior, Alceu
Amoroso Lima, a força do seu entusiasmo e de sua fé contagiantes ganharam
repercussõ es enormes.
Em Sergipe, onde a presença do bispo d. José Tomá s, com seu Seminá rio e suas
açõ es pastorais, já vinha conquistando seguidores no meio intelectual, em 1918
começou a ser publicado A Cruzada. Sob orientaçã o da Igreja Cató lica, o jornal passou a
difundir de forma mais sistemá tica seus princípios e suas visualizaçõ es sobre as
questõ es conjunturais. Os religiosos, que antes travavam suas polêmicas pela imprensa
alheia, passavam a dispor de ó rgã o pró prio. Anos depois, na esteira da influência de
Jackson de Figueiredo, um grupo de parentes e amigos de Aracaju, criou, em outubro de
1928, a Revista de Sergipe, sob o influxo das ideias jaquistas. Planejada para sair
quinzenalmente com a contribuiçã o de escritores locais e de fora, entre os quais o
pró prio Jackson, o perió dico tinha como lema: “Deus, Pá tria e Família”, justamente o
mesmo que adotaria o Integralismo alguns anos mais tarde.
Quando o segundo nú mero estava prestes a sair, faleceu afogado, no Rio de
Janeiro, o líder cató lico, provocando grande comoçã o. Apesar do impacto do infausto
acontecimento, a Revista de Sergipe continuou por algum tempo. Esteve a divulgar seu
pensamento e seus feitos e, em 20.04.1929, foi editado o ú ltimo nú mero. Apesar disso, a
influência de Jackson de Figueiredo persistiu por mais tempo, inspirando novos
movimentos.
O fato é que ao fim dos anos vinte, o triunfo do Fascismo na Itá lia (1922) e a
ascensã o de Stalin na Uniã o Soviética (1924) estimulavam as tendências autoritá rias.
Pela direita havia os cató licos da revista A Ordem, sob o influxo das ideias de Jackson de
Figueiredo e, pela esquerda, os simpatizantes do movimento comunista, bem como do
tenentismo.
Nessa conjuntura de ilusõ es pelos atalhos extra-legais foi importante o
aparecimento em 1928 do perió dico Sergipe Judiciário, dirigido por Carvalho Neto, que
circularia pregando a expansã o do Estado de Direito. Mas figuras como essas se
revelavam impotentes para deter a onda autoritá ria que avançava.
67
depois veio novamente a Sergipe o general Juarez Tá vora e persuadiu o general José
Calazans a retornar ao governo, mas, seis dias depois, este entregou a direçã o do
Executivo ao tenente Augusto Maynard Gomes. A partir de entã o, o Estado passaria a ter
uma administraçã o mais duradoura.149
149
Para uma versão ampliada desse período, ver José Ibarê Costa Dantas. A Revolução de 1930 em Sergipe: dos tenentes
aos coronéis. Sã o Paulo, Aracaju: Cortez, UFS, 1983.
73
Estado. Enquanto isso, a interventoria criava Comissã o Legislativa, composta por três
membros, encarregada de elaborar os projetos de reforma da legislaçã o processual e de
organizaçã o judiciá ria que chegou a seu termo ainda em 1931.150
Nesses tempos de mudanças, seguindo orientaçõ es nacionais, o ensino passou
por transformaçõ es significativas, seguindo o ideá rio da Escola Nova. Buscou-se também
ampliar a eficiência da administraçã o, criando a Diretoria de Estatística de Sergipe e o
Departamento Estadual de Saú de Pú blica. O Estado era dividido em distritos sanitá rios e
aumentava sua atuaçã o. Adquiria os Serviços de Á gua e Esgoto que, à quela altura, estava
em mã os de sociedade comercial, e assumia o controle acioná rio da Empresa de Energia
Elétrica.151 A presença do Poder Central se ampliava, assim como a açã o do Estado na
á rea de serviços. Alguns atos como abatimento de aluguel, supressã o de gratificaçõ es e
adicionais de funcioná rios do Estado, inclusive de juízes, já indicavam a inserçã o na
tendência populista em alta. Essas inovaçõ es ocorreram sobretudo em 1931, apesar de
viver-se num momento de recessã o. Como se isso nã o bastasse, o governo deparou-se
com a grande seca de 1932, que afetou a arrecadaçã o e provocou débitos sucessivos.
Desde entã o, a administraçã o passou a assumir um ritmo mais rotineiro. Combatia o
banditismo dos grupos de Lampiã o sem sucesso e abria novas estradas. As obras de
maior porte foram a ponte de Pedra Branca e a abertura do canal Santa Maria com o
respaldo do governo federal. Em Aracaju realizava aterros e construía o Jardim de
Infâ ncia, sintonizado com a política nacional de assistência à s crianças. Por esse tempo, a
velha disputa de limites com a Bahia voltou à tona, mas, como sempre, sem êxito. A
questã o que mais embaraçou a interventoria foi a partidá ria.
Recorde-se que as lideranças tenentistas assumiram o governo declarando
aversã o à política partidá ria e aos políticos tradicionais. Mas, como estavam
preocupados em fortalecer-se, foram criando alguns ó rgã os com o objetivo de aglutinar
os grupos identificados com a Revoluçã o. Em Sergipe, Maynard Gomes, professando
superioridade sobre a política partidá ria que, no seu juízo, teria desaparecido em
Sergipe, estimulou ao má ximo a formaçã o da Legiã o de Outubro no Estado. 152 Assinou
manifestos, promoveu encontros, conclamou a adesã o de todas as classes sociais e,
150
Decreto-Lei SE n. 76 de 03.09.1931.
151
Ver Armando Barreto (org). Cadastro Industrial e Comercial e Informativo de Sergipe. Aracaju: Artes Grá ficas da
Escola de Aprendizes de Artífices, 1933, p. 84 e 146.
152
Cf. Diário Oficial, 30.04.1931 e Jornal de Notícias, 14.03.1931.
74
155
Sergipe Jornal, 04-06.12.1933 e 03.01.1934.
156
Sobre o tema, ver Ademir da Costa Santos. O Integralismo em Sergipe: os intelectuais e a ação da Igreja Cató lica
(1933/1938). Monografia apresentada no bacharelado de Ciências Sociais. Aracaju/SE, 1996.
78
aumentando seu aparato repressivo, fazendo vista grossa diante das açõ es dos
integralistas e investindo contra os esquerdistas. Em abril de 1935, foi aprovada a Lei de
Segurança Nacional e, em junho do mesmo ano, Vargas mandava fechar todos os nú cleos
da Aliança Nacional Libertadora, o que foi feito no mês seguinte.160 Pouco depois vinha a
ordem para impedir o funcionamento da Uniã o Feminina do Brasil pelo período de seis
meses, considerando que vinha desenvolvendo “atividade subversiva da ordem política
e social”.161 Da mesma forma, era reprimida a Frente Ú nica Antifascista e Antiguerreira
de Sergipe.
Quando os oposicionistas fustigavam o governador Eronides de Carvalho, com
base insuficiente para proporcionar-lhe segurança no parlamento, os comunistas
levantaram-se em novembro de 1935, em Natal, Recife e Rio de Janeiro. O movimento,
que ficou conhecido como Intentona Comunista, levou o governo nacional e o estadual a
intensificarem a repressã o. Em Sergipe dezenas de pessoas foram presas e algumas
bastante maltratadas. Enquanto isso, o interventor mantinha relaçõ es amistosas com
Virgulino Ferreira, dificultava a repressã o ao seu grupo de cangaceiros e fornecia-lhe
muniçã o. Nã o foi por acaso que passou a ser considerado “como o mais importante
aliado e protetor de Lampiã o”.162 Como efeito da repressã o, o movimento dos
trabalhadores urbanos, que vinha crescendo e já contando inclusive com um deputado
classista na Assembleia Legislativa, onde tinha atuaçã o bastante participativa, passou a
ser desarticulado. A partir de 1936 ainda procurou recompor-se, elegendo vereadores,
promovendo encontros no Centro Operá rio, editando jornal, mas seus membros eram
bastante rechaçados pelos integralistas, que chegaram a invadir as oficinas e
danificarem suas má quinas, enquanto a polícia, comandada por simpatizantes dos
camisas verdes, se omitia.
No período de 1936-1937, o governo Eronides de Carvalho passou a divulgar
propaganda de cunho ideoló gico e realizar açõ es repressivas, censurando e fechando
jornais, prendendo estudantes, jornalistas, perseguindo adversá rios políticos no interior
do Estado. Mas os oposicionistas nã o se davam por vencidos. Continuavam criticando os
160
“O pretexto para a promulgaçã o da lei é o extremismo, porém a medida nã o se dirige contra a Açã o Integralista
Brasileira e sim contra o movimento operá rio”. Edgard Carone. A República Nova. Sã o Paulo: Difel, 1974. p. 334.
161
Diário Oficial, 24.07.1935.
162
Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros. A Derradeira Gesta. Lampiã o e Nazarennos Guerreando no Sertã o. Rio de
Janeiro: FAPERJ, Mauad, 2000, p. 68. Sobre essa cumplicidade de Eronides de Carvalho com as açõ es de Lampiã o, ver
ainda: Joaquim Gó is. Lampião, o último cangaceiro. Aracaju: Regina, 1966, p.156 e José Anderson Nascimento.
Cangaceiros, Coiteiros e Volantes. São Paulo: Ícone, 1998.
81
atos governamentais pelo Jornal da Tarde e pelo Correio de Aracaju, ataques que eram
respondidos pelo Estado de Sergipe e pelo Diário Oficial. A partir de fins de outubro de
1937, o clima foi-se tornando mais tenso na Assembleia Legislativa com o empenho dos
deputados oposicionistas de votar o impeachment do governador Eronides de Carvalho.
A essa altura, no plano nacional, acirrava-se também a campanha eleitoral para
presidente da Repú blica com a disputa entre dois candidatos. De um lado, concorria o
paraibano José Américo de Almeida, contando com o apoio das forças de esquerda e a
maior parte do eleitorado nordestino. Do outro lado, disputava o paulista Armando Sales
de Oliveira, aglutinando os empresá rios e o grosso da populaçã o do Sudeste. Quando a
naçã o discutia suas opçõ es político-eleitorais, Vargas, com apoio dos militares e dos
integralistas, anunciou o golpe de Estado. Nascia o que foi denominado de Estado Novo.
163
Cf. Diário Oficial, 04.04.1940, 12.11.1940 e 30.03.1941.
83
164
Cf. Relatório de Sá lvio Oliveira de 24.02.1941, fotocó pia com o autor, gentilmente cedida pelo relator.
165
Correio de Aracaju, 30.06.1941.
84
BC, sediado em Aracaju e, apesar da reaçã o de Eronides de Carvalho, foi enfim atendido,
em outubro de 1937, com o constrangimento explícito daquele governador. Para
atenuar a situaçã o, Vargas designou-o para missã o no sul da Bahia, onde demitiu e
empossou prefeitos e delegados em municípios daquela regiã o. Regressando a Aracaju
em janeiro de 1938, permaneceu no comando do 28º BC até setembro de 1939,
constituindo-se em incô moda presença para a interventoria de Eronides de Carvalho.
Em janeiro de 1940, foi nomeado Ministro do Tribunal de Segurança Nacional, ó rgã o
maior do sistema repressivo nacional, quando apresentou parecer favorá vel à
condenaçã o de Luiz Carlos Prestes, comprometendo irremediavelmente sua imagem
junto aos simpatizantes daquele líder comunista.
Empossado como interventor em 24 de março de 1942 no Rio de Janeiro,
Maynard chegou a Sergipe no dia 27, quando ocorreu a transferência de cargo.166
Recebido com grande festa e elevadas expectativas, tendeu a governar de forma
diferente, mesmo porque o contexto era outro. No aparelho de Estado, embora
mantivesse seus adeptos que vinham ocupando cargos de confiança desde a
interventoria de Milton Azevedo, incorporou alguns técnicos ou burocratas que haviam
participado da gestã o de Eronides de Carvalho, mostrando já certa atenuaçã o do espírito
partidá rio. Ao lado disso, colocou na Secretaria Geral o jovem advogado Francisco Leite
Neto, que iria imprimir rumos pró prios à administraçã o, coordenando as políticas,
adquirindo autonomia de açã o e formando seu pró prio grupo entre a classe dominante.
Outro fator que iria pesar na segunda interventoria Maynard seria a teia de relaçõ es
familiares. O casamento de uma filha com um Garcez, em 1937, iria contribuir para a
aproximaçã o entre o governo e personalidades da ex-Uniã o Republicana de Sergipe.
Apesar desses condicionamentos de tendência conservadora, no primeiro ano de
governo registrou-se certo empenho no sentido de pautar a administraçã o por maior
racionalidade. Tentou-se, por exemplo, uniformizar as posturas municipais, enquanto o
pessoal do Tesouro do Estado passava a exigir dos seus funcioná rios (exatores) a
prestaçã o de contas mensais, em vez de apó s a aposentadoria, como entã o ocorria.
Quanto ao relacionamento do governo Maynard com os trabalhadores urbanos,
também apresentou diferenciaçã o em face do primeiro período (1930-35). Por ocasiã o
166
Ver Sergipe Jornal, 05 a 28.03.1942, Correio de Aracaju, 28.03.1942. O seu lugar no Tribunal de Segurança seria
ocupado por Eronides Ferreira de Carvalho que mais tarde seria beneficiado com um Cartó rio.
86
167
O Nordeste, 18.05.1942.
168
Segundo estudioso do tema, de 15 para 16 de agosto de 1942 teriam sido bombardeados os navios Baependi com
270 mortes, Aníbal Benévolo com 150 falecimentos e Araraquara com 131 baixas. Pouco depois, foram atingidos na
costa da Bahia o Itagiba e o Arará com 36 e 20 mortes respectivamente. Em 31.07.43 foi abatido o Bagé em á guas
pró ximas a Sergipe e o Itapagé, em 26.09.1943, no litoral de Alagoas. Cf. Luiz Antô nio Pinto Cruz. Aracaju: Memória de
uma cidade sitiada (1942-1945). Sã o Cristó vã o, UFS, 1999. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS, p.28-
29.
169
Alguns empresá rios foram presos pelo fato de serem italianos, como uma forma de aplacar a revolta da populaçã o.
Ver Osmá rio Santos. Frederico: lenda viva na construção. Jornal da Cidade, 23 e 24.11.2003.
87
pú blicas. Enquanto isso, a lavoura também se ressentia das pragas que atingiam suas
plantaçõ es.
Nã o obstante a arrecadaçã o elevar-se consideravelmente de 1942 a 1945, a
dívida pú blica aumentou, apesar de o elenco de obras ter sido relativamente modesto:
construçã o e conservaçã o de escolas e estradas, apoio à agricultura e à pecuá ria etc.
Empreendimentos maiores, como a edificaçã o de casas populares e aquisiçã o de Usina
Elétrica, eram financiados pelo governo central.170 Ao fim do Estado Novo, o aparato
administrativo havia se ampliado e se tornado menos pessoal. Os serviços de saú de
estavam melhorados. As obras continuavam mudando a face da capital. Os alagados de
Aracaju haviam se reduzido consideravelmente. As ruas ganhavam calçamentos de
paralelepípedos para permitir o fluxo de automó veis e de ô nibus que aumentavam. A
grande maioria das sedes municipais já dispunha de seu motor para geraçã o de energia
elétrica. Em meio à s prá ticas autoritá rias, a administraçã o estadual modernizava-se.
Enquanto isso, à medida que a II Guerra Mundial transcorria, o quadro ideoló gico
justificador do autoritarismo foi sendo corroído de forma progressiva. A expansã o do
nazifascismo e as hesitaçõ es de Vargas preocupavam os setores democrá ticos. Aos
poucos foram sendo criadas entidades que, ao tempo em que se opunham à Guerra, iam
também atingindo a ordem autoritá ria. O reaparecimento da Liga de Defesa Nacional,
propondo o “congraçamento de todas as forças em defesa da nacionalidade”, a Sociedade
dos Amigos da América, a Uniã o dos Estudantes foram encontrando repercussã o até no
seio da sociedade civil e do aparato pú blico desde pelo menos 1942.
Em Sergipe, esses movimentos foram se refletindo em variadas proporçõ es. Os
estudantes, que de muito vinham participando dos eventos políticos, fundaram
associaçõ es, tais como a Liga Estudantil de Defesa Nacional, que tentava realizar
inclusive comícios contra os “inimigos do Brasil”. Enquanto isso, jornais como O
Nordeste se mostravam empenhados em combater “o quinta coluna”. 171 Tais
movimentos, em meio à demonstraçã o de inflamados patriotismos, apresentavam
sentido mobilizador e iam investindo contra as tendências autoritá rias e totalitá rias. O
manifesto dos intelectuais sergipanos de julho de 1942, endossando a declaraçã o de
princípios de personalidades do sul do país, contou com adesõ es até dentro da sociedade
170
Diário Oficial, 22.03.1944.
171
O Nordeste, julho e agosto de 1942. Este ó rgã o era dirigido por Francisco de Araú jo Macedo.
88
política. Os bombardeios dos navios na costa entre Sergipe e Bahia projetou o repú dio
aos nazifascistas com toda a força e, em contrapartida, a defesa dos aliados,
representantes dos ideais democrá ticos.
Internamente, Vargas foi postergando o trâ nsito do autoritarismo para a
democracia. Editou em 28.02.1945 o Ato Adicional nú mero 9, que tratava da
redemocratizaçã o, e concedeu a anistia em 18.04.1945 para crimes políticos. Os exilados
retornaram, mas, diante de um governo que se mantinha há quinze anos com manobras
imprevistas, a desconfiança era grande. Com o retorno dos pracinhas da Força
Expedicioná ria Brasileira, em meio a elevado clima emocional, as contradiçõ es se
acentuaram. Os soldados que lutaram pela democracia encontravam seu país ainda sob
o jugo do Estado autoritá rio. Quando, em fevereiro de 1945, caiu a censura no sul do país
e foram anunciadas eleiçõ es gerais, o processo de mobilizaçã o da sociedade pela
liberalizaçã o ganhou maior vigor. Intensificam-se as campanhas pela Anistia e contra o
Fascismo. Passeatas e manifestos se tornam frequentes, exigindo o fim da ditadura. O
movimento pela reorganizaçã o partidá ria acelerou-se, explicitando a nova configuraçã o
das relaçõ es de forças.172
No realinhamento partidá rio de Sergipe, destacaram-se três grupos políticos. O
primeiro era liderado por Leandro Maynard Maciel, agregando representantes de
famílias expressivas como os Franco, os Diniz, os Rolemberg, jovens advogados dos
estratos médios, fazendeiros de quase todos os municípios. Juntos criaram a Uniã o
Democrá tica Nacional (UDN). O segundo foi formado pelo quadro situacionista da
interventoria, envolvendo os novos aderentes das famílias Leite, Garcez e Sobral, o
pessoal mais identificado com o governo vigente, inclusive funcioná rios e outras
autoridades municipais, entre as quais prestigiosos coronéis. De conformidade com a
orientaçã o nacional, eles fundaram a sucursal do Partido Social Democrá tico (PSD). O
terceiro setor representativo da classe dominante se reunia sob a sigla do Partido
Republicano, sob a direçã o de Jú lio César Leite, aglutinando os remanescentes da ex-
Uniã o Republicana de Sergipe, agremiaçã o dos usineiros que a partir de 1937 foram se
dispersando. Nã o foi por acaso que alguns desses produtores de açú car aderiram à UDN,
parte continuou apoiando o esquema situacionista, incorporando-se ao PSD, enquanto
uma terceira parcela ingressava no Partido Republicano.
172
Ver José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1983.
89
Os estratos médios, por sua vez, dispersos em todos os partidos controlados pelas
forças dominantes, encontravam dificuldades em formar uma agremiaçã o com
identidade pró pria. Em situaçã o semelhante se encontravam os trabalhadores urbanos.
Embora Vargas tenha recomendado aos governos a criaçã o do PSD, agrupando a elite
governamental, e reservado o PTB para os trabalhadores, estes careciam de unidade.
Parte ficou solidá ria a Maynard, apoiando o PSD, outra parcela foi sendo arrastada pela
pregaçã o populista do Partido Trabalhista Brasileiro, que seria dirigido por Francisco
Araú jo Macedo, congregando inclusive os “queremistas” (grupo que queria a
Constituiçã o com Vargas), enquanto um setor mais ativo se articulava em torno do
Partido Comunista Brasileiro. Além desses, ainda havia os associados do Círculo
Operá rio, que tendiam a prestar apoio aos candidatos mais conservadores. O Estado
Novo, que consolidou a legislaçã o social, contribuiu para o fracionamento dos
trabalhadores urbanos.
Nesse momento de reorganizaçã o partidá ria, em seu trabalho de proselitismo, a
má quina governista contava com uma emissora de rá dio (Aperipê), dois jornais (Diário
Oficial e Diário de Sergipe), os aparelhos administrativos, incluindo os ó rgã os de
arrecadaçã o, e o aparato coercitivo. Mesmo um governante considerado por muitos de
seus adeptos como bastante tolerante, nã o deixava de provocar inú meras denú ncias
contra seus atos repressivos. Em pleno processo de liberalizaçã o, em março de 1945,
cerca de quinze dias apó s célebre entrevista de José Américo de Almeida ao Correio da
Manhã, a interventoria ainda teimava em manter a censura prévia, motivando o
fechamento dos dois jornais que lhe faziam oposiçã o. Ademais, a prisã o do jornalista
Paulo Costa, proprietá rio do Sergipe Jornal, em fins de agosto de 1945, e denú ncias de
violências no interior, no ensejo dos comícios, foram ajudando a aumentar a polarizaçã o
interna e a corrosã o do regime autoritá rio.173 Na á rea estudantil, o movimento pela
democratizaçã o espraiava-se, encontrando crescente entusiasmo dos jovens. No
Atheneu, o Grêmio Estudantil Clodomir Silva publicava seu jornal Voz do Estudante cada
vez mais animado com o novo amanhã que estava para nascer. Nesse ambiente,
estendiam sua participaçã o política ingressando no Partido Comunista, onde havia
nú cleo político bastante ativo. Mas quando o PCB dividiu-se em duas correntes, uma
173
Ver José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1983.
90
alinhada com a oposiçã o ao governo ditatorial e outra que o apoiava, provocou muita
discussã o, entrou em crise e arrefeceu o movimento.174
Na interventoria, Maynard, sempre solidá rio a Vargas, era apontado como o
candidato do PSD a governador, no pleito marcado para 2 de dezembro. O presidente,
que administrava o processo de transiçã o, manobrava para eleger seus aliados e
alimentava o movimento “queremista”, que defendia a sua permanência. Mas os fatos se
precipitaram. Interpretando os reclamos do movimento oposicionista, o general
Cordeiro de Farias, em nome dos seus pares, foi a Palá cio, no dia 29 de outubro de 1945,
levar-lhe um ultimato para que renunciasse. O Exército, que o entronizou, o depô s.
A queda do presidente surpreendeu Maynard em trâ nsito para Sergipe. Foi preso
em Salvador, como medida acautelató ria, já que o interventor permanecia fiel ao ditador
até o fim. Terminava o Estado Novo e, com ele, o primeiro governo Vargas, que perdurou
por quinze anos. Abria-se uma nova pá gina da política nacional e estadual.
174
Cf. Fernando Barreto Nunes. Entrevista ao autor, em 31.05.1982.
91
175
Ver Liana Maria Aureliano. No Limiar da Industrialização 1919-37. Sã o Paulo: Brasiliense, 1981.
176
Luiz Rolemberg. In: Anuá rio açucareiro, transcrito pelo O Estado de Sergipe em 1934. p. 141-2 e Censo de 1940, Série
Regional, Parte XI, IBGE, 1952, p. 318-19.
177
Manoel Correia de Andrade. A Agro Indústria Canavieira e a organização do Espaço - Contribuiçã o à Histó ria das
Usinas de Açú car de Sergipe. Natal: Cooperativa Cultura Universitá ria do Rio Grande do Norte Ltda, 1990, p. 28-30.
92
produtivas foram bastante afetadas pelas incursõ es de Lampiã o com o seu bando,
levando muitos proprietá rios a abandonarem suas terras e migrarem para zonas mais
seguras.
Ao passarmos ao mundo urbano, verificamos que do ponto de vista populacional,
o índice de urbanizaçã o permanecia reconhecidamente baixo. Em 1940, o Censo
registraria 69% da populaçã o estabelecida no campo. O centro mais populoso do Estado
continuava sendo de longe a capital, que, de 1920 para 1940, passara de 37.440 para
59.031 habitantes, gerando novas exigências. Era um crescimento significativo,
sobretudo quando nos lembramos de seu porte no início da Repú blica. No Estado, de
1920 para 1940, sua populaçã o crescera de 477.064 para 542.326 habitantes.181
O setor secundá rio prosseguiu em seu perfil do fim dos anos vinte. O nú mero de
estabelecimentos industriais, excluídos usinas e engenhos, continuou subindo, assim
como o nú mero de trabalhadores, que teria duplicado. As indú strias mais significativas
pela quantidade de pessoal empregado continuavam sendo as têxteis. Dispersas através
de sete municípios, no período 1931-45 sua produçã o foi se ampliando e, em 1945,
Sergipe era o quinto Estado do país em nú mero de empresas têxteis e produçã o,
perdendo, na regiã o Nordeste, apenas para Pernambuco.182 Nã o obstante o recuo do
plantio de algodã o no Estado, a produçã o de tecidos representava a principal atividade
econô mica do setor urbano.
No comércio houve alguns avanços. Levantamento efetuado por volta de 1932-
1933 dava conta da existência de 987 estabelecimentos, mas nã o há notícias da
quantidade de empregados.183 O Censo de 1940 registrou 2.023 estabelecimentos
comerciais, contando com pessoal ocupado na ordem de 3.576 indivíduos. Apesar dessa
larga diferenciaçã o, torna-se difícil estabelecer critérios de distinçã o quanto ao tamanho
dos estabelecimentos. Mas o crescimento do giro comercial passou de 1,4 milhõ es
(1936) para 10 milhõ es (1945),184 indicando grande progresso.
Quanto ao movimento do porto, apesar da crise de escoamento dos anos
quarenta, o volume de negó cios representado pelo comércio interestadual,
181
Censo de 1940.
182
Proposta Orçamentária para 1948. Aracaju: Secretaria da Fazenda, Produção e Obras Pú blicas, 1947. p. 48. Ver
quadro in José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1983.
183
Armando Barreto (org). Cadastro Industrial e Comercial e Informativo de Sergipe. Aracaju: Artes Grá ficas da Escola
de Aprendizes Artífices de Sergipe, 1933, p. 456.
184
Proposta Orçamentária para 1948. Secretaria da Fazenda, Produção e Obras Públicas, Aracaju: 1947, v. III, p.53 (dat).
94
QUADRO V
Fluxo de Embarcaçõ es no Porto de Aracaju (Média Anual –1927-1945)
Períodos Embarcaçõ es a vapor Embarcaçõ es a vela
1927-29 (1) 132 201
1930-35 (2) 155 224
1936-39 (3) 230 249
1940-45 (4) 125 165
Fontes:
1. Manoel Corrêa Dantas. Mensagem à Assembleia Legislativa em 07.09.28. Aracaju: Imprensa
Oficial, 1928. p. 11; id., ibid, 1929, p. 97; id., ibid., 1930, p. 11.
2, 3 e 4. Sergipe Econômico e Financeiro. Aracaju: IBGE, 1953. p. 193.
Em relaçã o ao período anterior a 1930, registrou-se aumento até 1939. Mas, com
a eclosã o da Guerra, verificou-se violento declínio que jamais seria recuperado, em face
das transformaçõ es no sistema de transportes no período pó s-1945. Além do
escoamento das mercadorias pela Barra do Rio Sergipe, correspondente ao porto de
Aracaju, havia também movimento através das barras dos rios Piauí e Sã o Francisco, em
menores proporçõ es, sobre o qual nã o dispomos de dados.
Outro aspecto que ilustrava o crescimento comercial era o movimento bancá rio.
Enquanto o volume de depó sitos ascendia de 22.170 (1931) para 199.522 (1945), os
empréstimos passavam de 18.000 (1931) para 283.551 (1945). 185 Esse aumento pode
ainda ser observado pelas alteraçõ es no nú mero de estabelecimentos, que teria evoluído
de três (Mercantil Sergipense, Banco de Crédito Popular e Banco do Brasil) em 1930
para quatro empresas e sete agências em 1940,186 indicando a diversificaçã o dos
investimentos. Portanto, embora o perfil da economia de exportaçã o se mantivesse de
uma década a outra, houve perda relativa do setor exportador e variaçã o dos
185
Até 1935 em contos de réis, de 1939 em diante em mil cruzeiros. Cf. Quadro Estatístico de Sergipe. Aracaju, 1938, p.
30 e Sergipe Econômico e Financeiro. Aracaju: IBGE, 1953, p. 195-6.
186
Armando Barreto (org). Ob. cit. p. 181; Censo de 1940 e Proposta Orçamentária para 1948, p. 51. Ernani Freire criou
a Casa Bancá ria Dantas Freire (1933), vendeu-a em 1944 e fundou a Freire Silveira. Cf. Manoel Cabral Machado. Brava
Gente Sergipana e Outros Bravos. Aracaju: UFS/BICEN, 1998, p.125-127.
95
187
Diário Oficial do Estado de Sergipe, 06.04.1934.
188
Cf. José Nunes da Silva, entrevista ao autor, em 25.01.1978.
97
189
José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: longo caminho. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2001, p.123.
190
Sobre os costumes desse tempo em Aracaju, ver Dilton Maynard. Em tempo de guerra: Aspectos do cotidiano em
Sergipe durante a II Guerra mundial (1939/45), Caderno do Estudante, Sã o Cristó vã o, UFS/Cimpe, v. 2, 1999.
98
191
O Censo de 1940 registrou a existência em Sergipe de 1.398 domicílios com rá dios, 308 com telefones e 192 com
automó veis.
99
192
Sobre a discussã o da época, ver Helvécio Andrade. A Escola e a Nacionalidade. Aracaju: Typ. D’O Lutador, 1931. Os
professores que estiveram no Rio de Janeiro e Sã o Paulo foram José Augusto de Rocha Lima, Franco Freire e Penélope
Magalhã es. Cf. Jorge Carvalho. Cinform, 01.07.2002.
193
Jorge Carvalho do Nascimento, citando Ester Vilas-Boas, in Visõ es da Modernidade. Pedagogos sergipanos em São
Paulo. Informe UFS, 04.09.2001.
194
Cf. Estatísticas do Século XX. Rio de Janeiro, IBGE, 2003, p. 294 e José Antonio Nunes Mendonça. A Educação em
Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1958, p. 172.
195
Fernando de Azevedo. A Cultura Brasileira. Sã o Paulo: Melhoramentos, 1964, p. 683.
196
A atençã o ao ensino técnico materializou-se na criaçã o do SENAI (1942) e na ediçã o da Lei Orgâ nica do Ensino
Industrial (1942) e na Lei Orgâ nica do Ensino Comercial em 1943. Ver Murilo Badaró . Gustavo Capanema. A Revolução
na Cultura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
100
atentados contra jornais, censuras sistemá ticas ou fechamentos de algum ó rgã o por
iniciativa da interventoria. A sociedade estava bem demarcada por divisõ es político-
ideoló gicas, mas havia uma convivência mais ou menos respeitosa entre os grupos
sociais e políticos. Cada um foi criando e/ou mantendo seu jornal, defendendo seu
projeto, desde os governistas até seus adversá rios. Entre os setores mais atuantes
estavam os militantes da Igreja Cató lica, pregando seus princípios dentro de uma visã o
conservadora. Além da proliferaçã o de pequenas folhas catequéticas,201 o semaná rio A
Cruzada, que esteve alguns anos desativado, foi reaberto em 1935 como parte do esforço
candente de nã o perder espaço em face das transformaçõ es em marcha. Nã o foi por
acaso que o movimento integralista desenvolveu-se recrutando boa parte dos seus
quadros entre os cató licos. Do outro lado, vinham os jornais ligados aos trabalhadores
urbanos, quase todos identificados com o ideá rio socialista e empenhados em lutar pelas
mudanças. O entusiasmo desse segmento vinha inclusive dos estudantes do Atheneu
Sergipense. Com a organizaçã o da Aliança Nacional Libertadora, que se ligara ao Partido
Comunista do Brasil, vá rios jovens passaram a emprestar sua vitalidade a esse
movimento.
A partir de 1935, o acirramento das disputas entre integralistas X socialistas
aumentou e o debate foi-se tornando tumultuado. Com a eclosã o do levante comunista
em Natal, no Recife e no Rio de Janeiro, o novo interventor, que já vinha se manifestando
conivente com as transgressõ es dos integralistas, intensificou suas coaçõ es sobre a
imprensa dos esquerdistas ligados aos trabalhadores urbanos. Essas disputas
ideoló gicas, pouco civilizadas, nã o se manifestaram profícuas para o movimento
cultural.
No Estado Novo, as publicaçõ es passaram por grande controle político com a
fundaçã o de uma sucursal do já referido DIP, no caso, o Departamento de Imprensa e
Propaganda Estadual (DIPE), que patrocinava as atividades locais e as vigiava. A
propaganda política ganhou dimensã o jamais vista. Diante das restriçõ es, o nú mero de
jornais diminuiu e a imprensa estadual ficou restrita a poucas folhas, a maioria oficial ou
oficiosa. O Correio de Aracaju e o Sergipe Jornal foram os principais ó rgã os a resistir ao
conjunto das coaçõ es pró prias dos regimes autoritá rios.
201
Entre os jornais catequéticos são registrados: Boletim Paroquial (1931), A Ordem (1931), Monitor Cristão (1931), A
Boa Nova (1931-1933), Lírio Mariano (1933), Boletim Vitalista (1933-1946). Ver Jackson da Silva Lima. Os Estudos
Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995, p. 131-133.
102
202
Ver Itamar Freitas. A Casa de Sergipe. São Cristó vã o/SE: Ed.UFS, F. Oviêdo Teixeira, 2003.
103
203
Ver Beatriz Gó is Dantas. Vovó Nagô e Papai Branco: Usos e abusos da Á frica no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1988 e
"De Feiticeiros a Comunistas - Acusações sobre o Candomblé". Comunicaçã o apresentada na XXXIV Reuniã o da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC, UNICAMP, 1982.
204
Ver Dilton Câ ndido Santos Maynard. Microfones e Bastidores: aspectos da radiodifusã o e da propaganda política em
Sergipe durante o Estado Novo. Sã o Cristó vã o, UFS, 2000. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS.
205
Cf. Diário Oficial do Estado de Sergipe, 23.06.1938.
104
Durante essa fase (1931-1945), é prová vel que tenha ocorrido maior avanço da
mú sica popular do que no período precedente. É verdade que os dobrados continuaram
despertando o sentimento patrió tico. Composiçõ es de sergipanos como Os Quatro
Tenentes, Sílvio Romero e Antônio Franco adquiriram grande popularidade e
“transpuseram a nossa fronteira”.208 No interior do Estado, as filarmô nicas continuaram
ativas. Em Capela foi criada a Sociedade Lítero Musical com uma banda, uma orquestra
de salã o e coral artístico, que funcionariam até os anos cinquenta. Por outro lado, houve
iniciativas visando propagar os clá ssicos, dentro do movimento nacional liderado por
Villa Lobos no Sudeste. Em Sergipe, em 1936, foi instituído o ensino de canto orfeô nico
sob a direçã o de Genaro Plech. Em 1945 foi inaugurado o Instituto de Mú sica e Canto
Orfeô nico, incorporando inclusive professoras formadas pela Escola Nacional de Mú sica
da Universidade do Brasil.209 Açõ es como essas contribuíam para estimular vocaçõ es
sem as dificuldades do autodidatismo, enquanto as cançõ es populares iam se
generalizando. Nesse ponto, a instalaçã o da Rá dio Aperipê (1939) representou um
marco. Apesar de criada como veículo de propaganda do Estado Novo, nã o deixava de
preencher a sua programaçã o com atividades musicais, tocando discos de compositores
nacionais e cedendo espaço para as apresentaçõ es pú blicas dos cantores locais. As
mú sicas populares brasileiras expandiram-se com mais vigor do que o gênero erudito.
Os chorinhos tornam-se cada vez mais aceitos, tocados nos gramofones e repetidos em
interpretaçõ es vá rias. Nos idos de 1939, num tempo de improvisaçõ es, foi importante a
presença de Sílvio Caldas por dois meses em Aracaju, convivendo com os amantes da
mú sica, bebendo, jogando, cantando e revelando suas experiências aos jovens artistas
que começavam a usar os microfones.210 Embora o rá dio fosse pouco difundido ainda em
Sergipe, a Aperipê tornou-se um veículo estimulante para o comércio, com seus
anú ncios e sobretudo para a expansã o da mú sica popular. Quanto aos carnavais de rua,
entre 1942-45, reduziram-se muito. Houve anos em que nã o houve apresentaçã o em
face dos bombardeios dos navios que enlutaram os sergipanos.
No â mbito das artes cênicas, tudo indica que a presença forte do cinema
contribuiu para inibir as suas manifestaçõ es. Mesmo assim, há notícia da “prá tica de um
teatro profissional com o aparecimento de companhias dramá ticas na cidade,
208
Leozírio F. Guimarã es. Panorama da Mú sica em Sergipe. Arte de Jovens, Aracaju, Jovreu, Ano 4, n. 20, 1970, p. 16.
209
Cf. Leozírio F. Guimarã es. Ob. cit., 1970, p. 17.
210
Cf. João Mello, depoimento ao autor, em 02.10.2001. Dilton Câ ndido Santos Maynard. Ob. cit., 2000.
106
211
Virgínia Lú cia Menezes. Levantamento das Manifestações teatrais em Laranjeiras-Sergipe. Aracaju:
Fundesc/Sercore, 1986, p. 15.
212
Cf. Ivan Valença, declaração ao autor, em 26.09.2001.
213
Ver José Sampaio. Poesia & Prosa. Aracaju: Soc. Editorial de Sergipe, 1992.
214
Ver Gilfrancisco. O poeta Enoch Santiago Filho. Jornal da Cidade, 30 e 31.10.2001.
215
Amando Fontes nasceu em Santos (SP). Aos cinco anos, veio para Aracaju onde viveu até 1930, passando a ser
considerado sergipano. Depois, passou a morar no Rio de Janeiro, onde escreveu seus dois livros, frutos da vivência
em Sergipe.
107
216
Sobre os intelectuais de Sergipe que emigraram, ver Luiz Antonio Barreto. Singularidades Sergipanas (Final) in
Gazeta de Sergipe, 12.07.2001.
108
(1944), mostrando seu talento. Má rio Cabral (1914-2009) afirmava-se como poeta e
crítico literá rio; Epifâ nio Dó rea revelava sua acuidade na pesquisa e sua dedicaçã o em
cuidar dos acervos documentais; Joel Silveira (1918-2007) já mostrava sua grande
habilidade com as reportagens jornalísticas; Joã o Carlos de Almeida divulgou obra muito
informativa, Sergipe e seus Municípios (1944), patrocinada pelo IBGE; José Cruz produziu
trabalhos ligados à economia e à estatística, construindo importante base empírica para
os estudos sociais. Carvalho Neto, desde a fase anterior, divulgava seus ensaios,
sobretudo no campo jurídico. Nessa nova conjuntura, escreveu seu romance Vidas
Perdidas. Além desses escritos, a obrigaçã o das teses, para ingresso de professores no
Colégio Atheneu D. Pedro II, induzia os candidatos à pesquisa e os obrigavam a elaborar
trabalhos de bom nível. Era uma nova geraçã o que despontava, dando continuidade aos
estudos locais, enriquecendo a literatura e as ciências humanas.
Nã o obstante essa série de publicaçõ es nos tempos do Estado Novo,
desconhecemos estudos de valor que fizeram apologia explicitada do regime autoritá rio.
Há ensaios biográ ficos, discursos e outras peças elogiosas, mas de pequena importâ ncia
literá ria ou científica. Em geral, os intelectuais conviviam com o sistema discricioná rio,
vá rios deles serviram-no, mas, à medida que a impopularidade do regime foi
aumentando, as pessoas foram se afastando, tornando-se reticentes. Quando o
movimento em prol da democracia foi crescendo em outros centros, vá rios literatos,
jornalistas e estudantes se incorporaram à corrente, participando de atos pú blicos e
encontros. Em 1944 um grupo de estudiosos fundou o Centro de Estudos Econô micos e
Sociais de Sergipe, promovendo conferências, pesquisando e publicando, contribuindo
para uma visualizaçã o mais amadurecida dos estudos econô micos e sociais. 217 Em meio a
essa movimentaçã o intelectual, foi instalado no ano seguinte, em Aracaju, o Centro
Democrá tico Arthur Fortes, enfatizando “a luta pela alfabetizaçã o das massas
populares”.218 O I Congresso Brasileiro de Escritores, acontecido em janeiro de 1945 no
Teatro Municipal de Sã o Paulo, apresentou sentido político bem evidente. Sergipe se fez
representar com uma delegaçã o, enquanto internamente os gestos de contestaçã o à
ordem vigente também cresciam. O declínio das forças nazifascistas no plano mundial e
o desgaste do governo autoritá rio no â mbito local concorriam para expandir o
217
Ver Jackson da Silva Lima. Os Estudos Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995, p. 139.
218
Luiz Antô nio Barreto. Centro democrá tico Artur Fortes in Gazeta de Sergipe, 21.08.2003.
109
dos empresá rios foi inibida pela política nacional intervencionista. É verdade que
durante o período da Segunda Guerra (1939-45) alguns agentes econô micos
prosperaram, mas a quebra das barreiras interestaduais, ao tempo em que contribuía
para a integraçã o econô mica, erodia a relativa autonomia do mercado interno. Enquanto
os Estados do Sudeste recebiam grande estímulo para a industrializaçã o, o governo
nacional criava cotas para o setor açucareiro do Nordeste, proporcionando sobrevida ao
modelo agroexportador que, protegido, passaria a descuidar do aperfeiçoamento
tecnoló gico.
Nesta situaçã o, os trabalhadores, depois de uma fase de participaçã o, criando
sindicatos e outros ó rgã os de representaçã o, foram reprimidos em 1935 e
desmobilizados durante o Estado Novo. Em compensaçã o, a CLT foi editada,
consagrando direitos importantes. Quando, no trâ nsito institucional, a reorganizaçã o
partidá ria foi desencadeada em 1945, nã o obstante o quadro político encontrar-se mais
disperso, abriram-se novas perspectivas para a sociedade. Apesar da predominâ ncia do
autoritarismo no período, ficavam os feitos modernizadores e as experiências a serem
lembradas no novo tempo de aprendizado de reconstruçã o da democracia.
Do ponto de vista das manifestaçõ es culturais, num primeiro momento o debate
apaixonado entre socialistas e integralistas prejudicou parcialmente a produtividade dos
artistas. Num segundo momento, sobretudo nas ciências humanas, as pesquisas e as
reflexõ es avançaram com maior preocupaçã o com a objetividade e com a
fundamentaçã o empírica. Mas a principal característica de todo o período foi a grande
interferência do Estado, assumindo responsabilidades mais decididas no setor
educacional, revelando preocupaçõ es sociais ao tempo em que inibia a açã o do mercado.
Os governos, inseridos numa ideologia de construçã o do Estado Nacional, promoveram
reorientaçã o do ensino e estiveram a subsidiar perió dicos. Numa segunda fase mais
explicitamente autoritá ria, passaram a implementar política cultural voltada para a
valorizaçã o da histó ria, preservaçã o do patrimô nio histó rico e maior controle das
informaçõ es no sentido de justificar o Estado Novo, que, mesmo assim, foi perdendo
legitimidade, diante dos movimentos de resistência. No conjunto, nã o foi das fases mais
profícuas em criaçõ es e produçõ es individuais. Mas despontava nova geraçã o de
111
Desde quando Getú lio Vargas foi deposto da Presidência da Repú blica (1945), o
país passou por uma fase de transiçã o até a montagem de uma nova ordem institucional.
O entã o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, assumiu o governo com
a missã o de administrar o cumprimento do calendá rio eleitoral e transmitir o cargo ao
novo eleito. De início, o novo presidente tomou duas medidas de grande repercussã o: a
extinçã o do Tribunal de Segurança Nacional, ó rgã o má ximo da repressã o do Estado
Novo, e a revogaçã o da data da eleiçã o de governadores que estava estabelecida para 02
de dezembro, simultaneamente ao pleito que elegeria o presidente da Repú blica e os
parlamentares da Constituinte. Com essa medida, os oposicionistas de todo o país
ganhavam mais tempo para articular-se.
A campanha foi relativamente curta. A UDN lançou um dos principais líderes da
revolta de 1922, o brigadeiro Eduardo Gomes, enquanto o PSD concorria com o general
Eurico Gaspar Dutra. O PCB, como partido legalizado, lançou Luiz Carlos Prestes para o
Senado e Iêdo Fiú za, ex-prefeito de Petró polis, para a Presidência da Repú blica.
Decorrido o pleito, o general Dutra, contando com o apoio de Vargas, em carta divulgada
na ú ltima hora, saiu vitorioso.
O novo presidente, embora eleito com o respaldo de Vargas, pautou-se por uma
política inibidora do processo de industrializaçã o e de contençã o do movimento popular.
Os constituintes elaboraram uma Carta, em 1946, que avançava em alguns pontos, entre
os quais no capítulo sobre os direitos e garantias individuais, mas nã o criava condiçõ es
para a fundaçã o de uma cidadania que se efetivasse amplamente. Os direitos sociais
praticamente restringiram-se à incorporaçã o da legislaçã o corporativa estabelecida
durante o Estado Novo, coexistindo, contraditoriamente, com a inspiraçã o liberal. De
qualquer forma, era um aperfeiçoamento em relaçã o à s constituiçõ es anteriores.
113
219
Para versã o ampliada desse período, ver José Ibarê Costa Dantas. Os Partidos Políticos em Sergipe -1889/1964. Rio
de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1989.
114
processo eleitoral. Num momento em que o nú mero de senhores do açú car já se achava
bastante reduzido, os pecuaristas ascendiam com muito â nimo ocupando o cená rio,
influindo na vida partidá ria. O pluripartidarismo, que se ensaiou nos anos 1933-35,
voltava com mais vigor. A dominaçã o interna, mais do que nunca, passava a ser definida
pela competiçã o partidá ria local.
Diante do novo pleito marcado para 19.01.1947, as articulaçõ es políticas
confirmaram o eixo competitivo que havia se delineado nas eleiçõ es anteriores, qual
seja, a disputa entre PSD X UDN. O primeiro tinha como liderança maior Francisco Leite
Neto, com a experiência adquirida como secretá rio geral da interventoria dos tempos de
Maynard. Na UDN, pontificava Leandro Maynard Maciel, homem já vivido na política,
desde quando fora secretá rio de obras na gestã o de Manoel Dantas, o ú ltimo governante
da Repú blica Velha.
A novidade da campanha de 1946-47 foi ver o PR, que antes havia se aliado à
UDN, coligado com o PSD, situaçã o que tenderia a persistir nos pleitos subsequentes.
Outro acontecimento surpreendente naquele momento foi a aliança do PCB com a UDN,
tentando eleger o advogado Luiz Garcia. Enquanto isso, a Esquerda Democrá tica, com
seu projeto de socialismo democrá tico, desligava-se da UDN e concorria aos cargos
eletivos com candidatos pró prios, inclusive para governador, através do usineiro
Orlando Dantas. Além dessas siglas, ainda surgiram o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), em fase de estruturaçã o, que ficaria sob o controle do líder populista Francisco de
Araú jo Macedo, e o pequeno Partido Trabalhista Nacional (PTN). Na campanha bastante
agitada como todas do período, a LEC desenvolveu forte movimento contra a chapa
aliada aos comunistas e a coalizã o PSD+PR elegeu José Rolemberg Leite governador,
bem como o senador e a grande maioria dos deputados.
Concluídos os trabalhos do pleito, o governante interino, coronel Antô nio Freitas
Brandã o, deu por encerrada a sua funçã o e passou o cargo ao industrial Joaquim Sabino
Ribeiro em 30.01.1947. Dois meses depois, este empresá rio transmitia-o ao novo
governador eleito.
220
Ver Diário da Justiça, 19.03.1947.
221
Cf. José Rolemberg Leite. Mensagem que apresentou, por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1950, à
Assembleia Legislativa Estadual. Aracaju: Imprensa Oficial, 1950.
116
222
Ver José Rolemberg Leite. Ob.cit., 1950.
223
Cf. Leô ncio Basbaum. História Sincera da República (1930/60). Sã o Paulo, Alfa ô mega, 1976, p. 188-192.
224
Cf. José Rosa de Oliveira. Depoimento ao autor em 19.08.1985 e Pires Wynne. História de Sergipe, 1930-1972. Rio de
Janeiro: Pongetti, 1973, p. 172-3.
117
capital estrangeiro, que se associaram com setores da cú pula das Forças Armadas,
exacerbando a luta política contra o governo.225
Embora esse debate fosse inibido pela orientaçã o conservadora da aliança
PSD+PR e por sua disputa com a UDN, nem por isso o Estado ficou alheio à s
repercussõ es das lutas ideoló gicas nacionais.
Quando Arnaldo Rolemberg Garcez assumiu o governo do Estado, em
12.03.1951, já dispunha de experiência na vida pú blica.226 Foi um dos fundadores do PSD
e, em 1946, cotado para a interventoria do Estado, apoiado por Maynard, que renunciou
à presidência do PSD em face de Dutra nã o haver atendido sua reivindicaçã o. Em 1951 o
novo governante assumia com imagem um pouco desgastada por uma campanha difícil,
desde a escolha de seu nome até o resultado eleitoral questionado nos tribunais. No
começo tentou imprimir uma orientaçã o pró pria à sua administraçã o, escolhendo um
secretariado mais agradá vel ao PR, provocando descontentamentos dentro do pró prio
PSD. Apesar disso, mostrou uma certa sensibilidade na á rea da educaçã o, apoiando a
criaçã o da Escola de Serviço Social e indicando pessoas criteriosas para dirigir
instituiçõ es oficiais. Realizou obras de dragagem na capital e fez açudes no interior.
Atendendo ao anseio dos agropecuaristas, construiu o Parque Joã o Cleofas, um centro
para exposiçã o de gado bovino. Voltado para a questã o econô mica, criou por decreto, em
1952, a Comissã o de Desenvolvimento Econô mico do Estado de Estado de Sergipe
(CDE), ó rgã o consultivo do governo e de assistência à s iniciativas de desenvolvimento.227
Na á rea social, levantou o primeiro conjunto habitacional de cunho popular, atendendo a
uma demanda de residência para as classes subalternas. Entretanto, o nível de
intolerâ ncia com relaçã o à s manifestaçõ es dos ativistas, comunistas ou nã o, continuava
semelhante ao de seu antecessor, evitando manifestaçõ es dos sindicalistas. Já no dia 1º
de maio de 1951, segundo denunciou A Verdade, tentou impedir a programaçã o
organizada pela Uniã o Geral dos Trabalhadores (UGTS) e outras organizaçõ es sindicais,
prendendo cidadã os, ao tempo em que cercava com a polícia a praça general Valadã o,
onde seria realizada a concentraçã o. Apesar desses impedimentos, os militantes
225
Ver Décio Saes. Classe Média e Sistema Político no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz, 1985.
226
Arnaldo Rolemberg Garcez nasceu em 1911 em Itaporanga d’Ajuda (SE). Proprietá rio rural com trâ nsito na política,
foi eleito deputado à constituinte estadual, atuou na Assembleia até novembro de 1937, quando ocorreu o golpe.
Posteriormente, como ex-membro da União Republicana de Sergipe (URS), e ligado ao interventor Eronildes Ferreira
de Carvalho, integrou, em 1940, o Conselho Administrativo do Estado por cerca de um ano.
227
Cf. Dilson Menezes Barreto. A Construção do Desenvolvimento de Sergipe e o Papel do CONDESE (1964-1982).
Dissertaçã o de mestrado apresentada ao DCS da UFS. São Cristó vã o, 2003, (digitada), p. 69.
119
teimaram, a todo custo, em realizá -la com comícios relâ mpagos, pintando muros e
distribuindo volantes.
Contudo, o maior complicador de sua administraçã o foi a operaçã o repressiva
contra os comunistas, realizada pelo setor antivarguista do Exército. A vitó ria dos
nacionalistas dentro do Clube Militar, com sede no Rio de Janeiro, exacerbou os â nimos
da corrente anticomunista, que passou a desenvolver açõ es em alguns Estados com o fim
de desmoralizar as bases militares nacionalistas de Vargas.228 Foi dentro desse
movimento que oficiais, com anuência do governador, instalaram-se em Sergipe e
realizaram a famosa sindicâ ncia de 1952. Depois de inquirir oficiais do pró prio 28º BC e
da Polícia, investiram contra a sociedade civil e prenderam mais de 50 pessoas, entre as
quais toda a direçã o estadual do Partido Comunista que, entã o, atuava na
clandestinidade. No curso do processo, os presos foram submetidos a longos
depoimentos, entremeados nã o raras vezes de tortura. Além dos atos de violência e a
imposiçã o de constrangimentos aos prisioneiros, oficiais do Exército encarregados da
operaçã o estenderam seus abusos até o comércio de Aracaju, realizando compras que
jamais seriam saldadas.229
Líderes anticomunistas vieram a Aracaju e pelo menos uma conferência foi
pronunciada, alardeando sobre o suposto perigo que a sociedade sergipana havia
passado com a existência desse movimento comunista. Enquanto isso, políticos locais
em geral manifestaram-se flexíveis, quando nã o submissos. Raros foram aqueles que se
pronunciaram na tribuna da Câ mara dos Deputados e, posteriormente, em comício em
Aracaju.230 O vice-governador e o governador somente intervieram quando as
investigaçõ es começaram a ameaçar alguns dos seus pró prios auxiliares.
Depois de meses de prisã o, os suspeitos foram liberados e o processo
permaneceu inconcluso. A partir de entã o, Vargas tenderia a encontrar maiores
dificuldades em implementar seu projeto político, enquanto o governo Arnaldo Garcez,
diminuído, assistia ao envolvimento dos correligioná rios em prá ticas partidá rias
desabonadoras, entre as quais sequestro de um deputado para evitar quorum na
Assembleia e a exacerbaçã o da violência.
228
Cf. Nelson Werneck Sodré. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 1965, p. 304-326.
229
Ver Mauro do Carmo Alves. Na Mira do Exército. Monografia apresentada ao Departamento de Histó ria da UFS. Sã o
Cristó vã o (SE), (Digitada), 2002.
230
Cf. José Rosa de Oliveira Neto, declaração ao autor, em 19.08.1985. O deputado Orlando Dantas pronunciou-se
contra as prisõ es.
120
A prá tica da truculência no processo político de Sergipe, embora tenha sido uma
constante em sua histó ria, variou de intensidade durante a Repú blica. A partir de 1945,
quando a competiçã o entre os pró prios subgrupos da classe dominante se acentuou,
dentro de certa autonomia estadual, os embates se tornaram mais renhidos, resultando
muitas vezes em atos de arbitrariedade.
Desde a primeira eleiçã o, em dezembro de 1945, que se registraram queixas
contra autoridades policiais, gerando animosidade com os oposicionistas. Enquanto isso,
os udenistas iam demonstrando agressividade, acentuando as tensõ es grupais. Em todos
ou quase todos os municípios, foram-se formando grupos rivais, cada vez mais
irreconciliá veis. Os situacionistas, com o aparato coercitivo, empreendiam perseguiçõ es,
enquanto os udenistas resistiam, fortalecendo-se e também provocando e investindo.
Com a vitó ria de Arnaldo Garcez, depois de uma eleiçã o plena de violência e de
um processo de apuraçõ es particularmente tumultuado, ocorreram as vinditas em
vá rios municípios com prisõ es e até mortes. Nesse clima de animosidade, estimulado
pela imprensa de ambos os lados, as acusaçõ es se repetiam, chegando os udenistas a
denunciarem os governistas em jornais e na Câ mara dos Deputados. Caravanas de
parlamentares visitaram cidades do interior e apresentaram relató rio que foi explorado
pelos oposicionistas.231
Esse quadro foi-se agravando pela parcialidade de juízes e desembargadores
que se deixavam envolver pelo partidarismo. Embora a democracia fosse enraizando-se
nos costumes, através da pluralidade de partidos, das eleiçõ es perió dicas e da liberdade
de manifestaçã o do pensamento, faltava a impessoalidade, o distanciamento de
instituiçõ es como o Judiciá rio e o Exército. As varas e os tribunais tornaram-se ó rgã os
meramente políticos. O partido que tivesse mais simpatizantes nos tribunais tenderia a
vencer os pleitos. Com o Judiciá rio partidá rio, a sua autoridade e a sua legitimidade
foram-se esgarçando, e os grupos políticos apelaram cada vez mais para a força. Como
soluçã o ocasional, declarava-se intervençã o e o Exército era convocado. Mas os pró prios
militares também se deixavam envolver e por vezes tornavam-se cú mplices de
irregularidades.
Preocupado com a escalada da violência política, um grupo de intelectuais,
composto por pessoas de diferentes partidos, criou, em Aracaju, o Centro de Açã o
231
Ver Correio de Aracaju, 27.06.1953.
121
235
Cf. Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu (coords). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, 1930-1983. Rio de
Janeiro: Forense Universitá ria: FGV/CPDOC; FINEP, 1984, v. 1, p. 415.
123
como provocaçã o brutal. Até entã o as vítimas fatais tinham sido figuras de menor
prestígio político-social, mas quando a UDN ascendia ao governo do Estado, dez anos
depois de sua fundaçã o, era golpeada com a morte de um ex-deputado estadual. Chefe
político daquele município, o governante estava no quarto mês de gestã o. Era um
desdobramento de lutas locais entre duas famílias que se rivalizavam: a dos “Ceará ” e a
dos Passos. A primeira, vinculada ao PSD, a segunda à UDN.
Diante da indignaçã o geral dos udenistas, o governo desencadeou a busca aos
supostos criminosos numa perseguiçã o desenfreada e, por si, arbitrá ria. Sob açã o de
uma polícia despreparada, ocupou o município de forma abusiva, estabelecendo
insegurança entre os pessedistas. Em contraposiçã o, os adversá rios desenvolveram seus
esquemas de denú ncias contra o governo Leandro Maciel, levando Ribeiró polis a viver
sob intervençã o do Exército de março de 1957 até o fim da gestã o daquele governante.
A imagem de administraçã o violenta acentuou-se na medida em que chefes
políticos de outros municípios também abusavam do respaldo do governador para
penalizar adversá rios. Como a Justiça se manifestava em regra conivente ou impotente, a
força continuava sendo o recurso mais eficiente para a resoluçã o de embates. A situaçã o
local agravou-se com o assassinato, em Aracaju, do prestigioso médico Carlos Firpo,
vinculado à UDN. Nã o obstante as controvérsias sobre os motivos do fato, o rumoroso
processo de apuraçã o nã o deixou de tumultuar o ambiente. Falou-se muito em
insegurança, mas nã o encontramos registros de atos contra o pessoal da imprensa,
apesar das denú ncias mais gritantes e das campanhas mais apaixonadas desenvolvidas
pelos ó rgã os de oposiçã o, entre os quais o Diário de Sergipe, jornal do PSD, e a Gazeta
Socialista, ó rgã o do PSB. Criada em 1948, a Gazeta Socialista entrou em recesso em 1951
e somente reapareceu cinco anos depois, ou seja, em janeiro de 1956, contando com uma
plêiade de jovens intelectuais, a maioria de tendência nacionalista e alguns
simpatizantes do socialismo. Na chefia, Orlando Dantas imprimiu orientaçã o de aná lises
e denú ncias contundentes, especialmente das prá ticas dos udenistas, dos quais nã o
aceitava nem divulgar suas versõ es.
Quanto à relaçã o do primeiro governo Leandro Maciel com as classes
subalternas, há dois lados a considerar. Primeiro, nã o se pode negar que, no processo de
competiçã o política conflituoso, os mais penalizados foram realmente os setores
125
populares, sobretudo aqueles mais envolvidos na militâ ncia partidá ria da aliança
PSD+PR. Por outro lado, os trabalhadores urbanos, ao contrá rio do ocorrido nos dois
governos anteriores, nã o foram molestados em seus movimentos sindicais, quaisquer
que fossem suas tendências ideoló gicas. Exerceu relacionamento amistoso com as
lideranças dos diversos grupos de culto afro-brasileiro e facilitou o acesso de homens do
“povo” ao Palá cio, muitas vezes sem hora determinada nem protocolo para recebê-los.
No que se refere aos trabalhadores urbanos, o governo manteve-os como aliados,
prestigiando o Centro Operá rio Sergipano, auxiliando sindicatos, assegurando-lhes
conquistas238 e proporcionando-lhes liberdade de atuaçã o. Nã o foi por acaso que o
Centro Operá rio tributou a Leandro Maciel uma homenagem, considerando-o “credor do
apoio dos operá rios sergipanos”.239
Integrando os trabalhadores urbanos ao processo político, os udenistas
preparavam-se para a sucessã o governamental. Para essa empreitada, a UDN dispunha
de vá rios quadros habilitados. A escolha pessoal de Luiz Garcia deixou
descontentamentos e sequelas nas relaçõ es com alguns correligioná rios. Na seara do
PSD, como nome de consenso relançaram José Rolemberg Leite. Os dois principais
partidos se defrontavam com os mesmos candidatos que concorreram em 1947.
Enquanto isso, o PTB de Francisco de Araú jo Macedo apresentava-o pela segunda vez
num momento de declínio. O PCB, embora ainda na ilegalidade, a exemplo do que
ocorrera em outras oportunidades, apoiou o candidato udenista. Abertas as urnas, deu-
se a desforra de 1947. O controle do aparato administrativo estadual, envolvendo a
maior parte das Prefeituras e parcela do Judiciá rio, facilitava o resultado favorá vel em
quase todos os níveis. Nas Prefeituras, entã o, o recuo dos pessedistas foi grande.
Quando Luiz Garcia assumiu o governo do Estado de Sergipe, para o mandato de
quase quatro anos (31.01.1959 a 06.06.1962), pelas mã os do seu chefe político, Leandro
Maciel, o pacto populista no â mbito nacional, firmado na aliança PSD-PTB, começava a
ingressar em nova fase de dificuldades. Depois da crise de 1954, que levou Vargas ao
suicídio, a UDN, associada a oficiais da ESG, tentou implementar um novo projeto
político, que foi interrompido com o afastamento definitivo de Café Filho da Presidência
da Repú blica em novembro de 1955. A eleiçã o da chapa Juscelino-Jango e, sobretudo, a
238
. Cf. Seixas Dó ria. Eu, réu sem crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d, p. 93.
239
Cf. Correio de Aracaju, 11.04.1959.
126
240
Ver Míriam Limoeiro Cardoso. Ideologia do Desenvolvimento no Brasil: JK-JQ. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p.
157-8.
241
Cf. João Manuel Cardoso de Melo e Luís Gonzaga de Melo Beluzzo. Reflexã o sobre a crise atual in Escrita Ensaio.
SAFA LTDA, Ano I, n. 2, 1977, p. 19.
242
Nascido em 1910, filho de um tabeliã o do município de Rosá rio do Catete (SE), Luiz Garcia vinha de uma família de
classe média. Ascendeu auxiliado por Leandro Maciel e fez carreira política como seu aliado leal. Em 1934, participou
da fundação do PSD de Sergipe e, neste mesmo ano, foi eleito deputado à constituinte estadual. Durante o Estado Novo
esteve à frente do Correio de Aracaju.
127
243
O termo modernizaçã o aparece aí como processo de transformaçã o, compreendido por mobilizaçã o social,
diferenciaçã o e laicizaçã o, afetando costumes e modificando valores. Cf. Lia Pinheiro Machado. Alcance e limites das
teorias da modernização in José Carlos Garcia Durand e Lia Pinheiro Machado. Sociologia do Desenvolvimento II. Rio de
Janeiro: Zahar, 1975.
128
244
João Nunes da Silva afirmou: “O Centro Operá rio Sergipano sente-se honrado em homenagear um governador
democrá tico, humano e justo”. A seguir enumerou entre suas realizaçõ es: a) liberdade de açã o dos trabalhadores, b)
criaçã o de escolas de corte, costura e bordados. Por fim, concluiu: “Os trabalhadores sergipanos reconhecem em Luiz
Garcia um seu verdadeiro amigo”. Correio de Aracaju, 02.05.1962.
129
diversas correntes partidá rias) reuniram-se no Palá cio do Governo e emitiram nota na
qual manifestavam esperanças na obediência à Constituiçã o.245
Enfim, as manifestaçõ es de vá rios setores da sociedade sergipana pelo respeito
à Constituiçã o, se por um lado expressavam aspiraçã o por um projeto democratizante,
por outro acentuaram o fosso com oficiais do Exército. A superaçã o do impasse político,
através da emenda constitucional, instaurando a forma de governo parlamentarista,
aparentemente superou a crise, mas alimentou indisposiçõ es das Forças Armadas,
sobretudo com o movimento popular. Formalmente, aceitaram o acordo, recolhendo-se
aos quartéis, mas uma ala considerá vel passou a preparar-se para uma açã o mais efetiva.
Com Joã o Goulart no governo, a polarizaçã o entre as forças sociais de direita e esquerda,
que vinha crescendo de há muito, acelerou-se, refletindo-se inclusive na sucessã o
governamental.
O primeiro nome da UDN a ser aventado como candidato foi o de Leandro
Maciel, cujo prestígio continuava elevado no seio da agremiaçã o situacionista. Inquieto,
astuto e bem articulado, ao deixar o governo, continuou mantendo contatos com as
lideranças do partido, no â mbito nacional, participando de encontros e dos
entendimentos com vista à sucessã o presidencial. Desses contatos nasceu o chamado
“Encontro de Aracaju”, reunindo lideranças expressivas da UDN.246 Era uma tentativa de
estabelecer um entendimento sobre o candidato à sucessã o presidencial. Justamente
nessa reuniã o de líderes, Leandro Maciel teve seu nome lançado como candidato a vice-
presidente e, na convençã o nacional, concorreu com Fernando Ferrari, homem dinâ mico
do Rio Grande do Sul, fundador do Partido Trabalhista Renovador (PTR). Mas o político
sergipano venceu-o por um voto, enquanto Jâ nio Quadros derrotava Juraci Magalhã es
em disputa acirrada.
Iniciada a campanha, num momento em que as divisõ es internas no partido
continuavam acentuadas, alguns correligioná rios passaram a fazer restriçõ es ao nome
de Leandro Maciel. Entre os mais insatisfeitos estava o pró prio Jâ nio Quadros que,
pressionado a iniciar os comícios ao seu lado no Acre, renunciou subitamente à
candidatura e desapareceu, provocando grande rebuliço nas hostes udenistas. Uma vez
245
Sobre esses episó dios, ver José Lopes Bragança. Sergipe por um óculo. Belo Horizonte: Carneiro e Cia, s/d.
246
Participaram das discussõ es: Leandro Maciel, presidente da UDN de Sergipe e os governadores Luiz Garcia (SE), Cid
Sampaio (PE), Dinarte Mariz (RN), Juracy Magalhã es (BA), Magalhã es Pinto (MG), entã o presidente nacional da UDN, o
presidente da UDN da Bahia, Albérico Fraga e Jâ nio Quadros. Ver foto dos participantes na Revista da Associação
Sergipana de Imprensa, Aracaju, 31.12.60, n. 3, p. 92.
131
localizado, Jâ nio foi persuadido a reconsiderar seu gesto e Carlos Lacerda encarregou-se
de bombardear a candidatura do político sergipano. Carente de respaldo, Leandro
Maciel renunciou (abril de 1960) e foi substituído pelo conceituado político mineiro
Milton Campos. Em 1960, o governador Luiz Garcia nomeou-o presidente da Energipe,
mas logo depois o presidente Jâ nio Quadros indicou-o para presidente do Instituto de
Açú car e do Á lcool e aí permaneceu até setembro de 1961. Com seu nome projetado,
voltou a candidatar-se à sucessã o governamental naquele ano. Ocorre que, a essa altura,
suas decisõ es já nã o encontravam o acatamento de outrora. Entre aqueles
correligioná rios que consideravam inoportuna a sua postulaçã o e almejavam
candidatar-se, estava o deputado Joã o Seixas Dó ria, que muito se destacara na
Assembleia, no Congresso e na campanha de Jâ nio Quadros à Presidência. Foi nesse
momento que o grupo da Gazeta de Sergipe mobilizou-se, articulou-se com lideranças do
PSD, do PR e, juntos, costuraram uma ampla coalizã o partidá ria, entã o denominada de
“Esquema”, somando forças de oposiçã o e da situaçã o. PSD e UDN, as duas maiores
agremiaçõ es, que vinham se rivalizando desde 1945, dividiram-se e formaram duas
coalizõ es heterogêneas. De um lado, a Aliança Nacional Trabalhista (ANT), envolvendo a
UDN, o PTB, o PST, parte do PSP e a dissidência do PSD. Do outro lado, a denominada
Aliança Social Democrata (ASD), formada pelo PSD, PR, PRT, PSB, PDC, e, por fim, pela
dissidência da UDN, liderada por Seixas Dó ria, candidato a governador, que terminou
vitorioso.
Em resumo, durante o domínio udenista em Sergipe (1955-63), o Estado
Populista transitou de uma crise (sucessã o de Vargas) a outra (sucessã o de Jâ nio
Quadros). Neste período, a cú pula da UDN frustrou-se em dois momentos: quando
tentou implementar um projeto político alternativo liberalizante via Café Filho e Carlos
Luz, e depois, quando fez de Jâ nio Quadros seu presidente. Enquanto isso, os governos
estaduais foram enquadrando-se nos padrõ es de dominaçã o populista. Em Sergipe, a
atuaçã o da UDN, de certo modo, correspondeu a uma atualizaçã o ou a uma tentativa de
adequaçã o do projeto político da classe dominante local aos padrõ es nacionais, na
medida em que reproduziam as tendências populistas. De um lado, na valorizaçã o do
ideá rio desenvolvimentista e, de outro, na aproximaçã o com os trabalhadores urbanos.
Durante esse tempo, a violência acentuou-se num primeiro momento para depois
132
250
Ver J. Pires Wynne. História de Sergipe (1930- 1972). Rio de Janeiro: Pongetti, 1973, p. 267.
251
Gazeta de Sergipe, 02.03. 1963, 27.04.1963, 05.01.1964.
135
252
Cf. Luís Rabelo Leite, depoimento ao autor, em 26.06.1988.
253
Cf. Gazeta de Sergipe, 06.2.1963.
254
Cf. Gazeta de Sergipe, 13.8.1963.
255
Ver José Ibarê Costa Dantas. Coronelismo e Dominação. Aracaju: Diplomata/UFS, 1987.
136
aglutinando vá rias entidades de esquerda (CGT, PUA, UNE), proporcionando mais força
ao chamado bloco popular, acirrando a luta de classes, cada um propondo a sua pró pria
Revoluçã o. No conjunto, segundo Eduardo Viola, havia três propostas bá sicas de
transformaçã o da sociedade brasileira, a partir das lideranças mais expressivas: uma
reformista limitada, encabeçada por Goulart, que tendia a conciliar-se com o sistema de
dominaçã o estabelecido; outra, reformista profunda, encabeçada por Arraes, que
abarcava toda a camada de esquerda e se propunha a uma longa guerra de posiçõ es no
caminho para uma sociedade socialista. A terceira era encabeçada por Brizola, com forte
peso do movimento estudantil, acreditando na iminência de uma revoluçã o radical do
tipo da cubana.256
Em Sergipe, a partir de 1963, Seixas Dó ria era a principal liderança que
galvanizava as transformaçõ es do movimento popular. Respaldado pela coalizã o que o
elegeu, tinha também o apoio crítico do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Se, no entanto, antes eram vistos como perigosos vermelhos revolucioná rios, em
1963 e início de 1964 os adeptos do PCB passaram a ser taxados de reformistas
ultrapassados e “reboquistas” pelas novas siglas que surgiam, entre as quais a AP, que,
desde o ano de 1962, começou a irradiar-se, sobretudo entre o movimento estudantil,
com propostas radicais. Infiltrou-se no MEB e, junto a ele, atuou como grupo de
vanguarda, influenciando nos textos radiofô nicos e atuando nos sindicatos rurais
criados com o apoio da Igreja. Apesar de iniciante no movimento popular, o grupo da AP
tornou-se o mais agressivo de todos quantos atuaram em 1963 e início de 1964,
contribuindo muito para excitar os â nimos e alimentar a fé na vitó ria das forças
populares. Menor influência teve em Sergipe a POLOP. Nos ú ltimos meses de 1963,
passou a atuar no movimento estudantil, difundindo seu ideá rio através de seu jornal
Política Operária. Foi também em fins de 1963 que os primeiros militantes do PC do B
começaram a atuar em Sergipe, propagando seu ideá rio, distribuindo jornais, discutindo
com certa agressividade e pregando a revoluçã o, tida como iminente.
Em início de 1964, o acompanhamento dos acontecimentos nacionais
aumentou. Entre os programas de maior audiência, liderava o de Brizola, em suas
pregaçõ es desafiadoras pela Rá dio Mayrink Veiga, servindo de tema de conversa no dia
256
Eduardo J. Viola, Formas de Estado e Formas de Regime no Capitalismo Periférico. Dissertaçã o de Mestrado.
Campinas, S. Paulo, UNICAMP, 1978 (mimeografada), p. 244.
137
257
Cf. José Silvério Leite Fontes, depoimento ao autor, 01.06.1988.
258
Sobre o projeto de Colonizaçã o, ver Gazeta de Sergipe, 14.01.64. Quanto à questã o da Fazenda Bica, consultar:
Seixas Dó ria. Eu, Réu sem Crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d., p. 92-93 e Gazeta de Sergipe, 10.1.1964 e 21.1.1964.
138
259
Ver José Onias de Carvalho. Memórias de um Matuto Sertanejo. Recife: Inojosa, s/d, p. 57/58.
260
Gazeta de Sergipe, 17.03.1964.
261
Gazeta de Sergipe, 29.02.1964.
139
262
Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu (coords). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, 1930-1983. Rio de Janeiro:
Forense Universitá ria, FGV/CPDOC, FINEP, 1984, v. 2, p. 1.604. Sobre a Açã o Democrá tica Parlamentar e seu
representante em Sergipe, ver René Armand Dreifuss. 1964: A Conquista do Estado - Ação Política, Poder e Golpe de
Classe. Petró polis, RJ: Vozes, 1981, p. 319-322.
140
governador de Sergipe, ainda entrou em contato com seu correligioná rio, o governador
Magalhã es Pinto, o qual teria admitido negociaçõ es, mas desde que houvesse proposta
concreta por parte de Jango. Contudo, o ainda presidente da Repú blica “recusou-se a
tomar iniciativa”.263
No dia 1º de abril, Seixas Dó ria retornou a Sergipe. À noite, leu mensagem em
rá dio a favor da legalidade e, na madrugada seguinte, foi preso e levado a Salvador. Um
jornal local publicava em manchete: “IV Exército controla o Nordeste”.264 Nã o era
somente o Nordeste: as Forças Armadas controlavam a sociedade política do Brasil.
263
Seixas Dó ria. Ob. cit., p. 48.
264
Gazeta de Sergipe, 02.04.1964.
265
Cf. Antô nio José Nascimento. A Economia Sergipana e a Integração do Mercado Nacional (1930/1980). Dissertaçã o
de Mestrado apresentada na UNICAMP, Campinas, 1994, quadro 9.
266
Manoel Correia de Andrade. A Agro Indústria Canavieira e a organização do Espaço - Contribuição à História das
Usinas de açúcar de Sergipe. Natal: Cooperativa Cultura Universitá ria do Rio Grande do Norte Ltda, 1990, p. 28-30.
141
longo do tempo minguavam, vivenciando declínio inexorá vel. Cada vez mais raros eram
os que sobreviviam. Um exemplo ilustrativo foi o crescimento da Usina Sã o José, que foi
ocupando o espaço das decadentes e, a partir do fim dos anos quarenta, ultrapassou o
desempenho da Usina Central, antes a maior unidade produtiva. No seu conjunto, a
produçã o açucareira de Sergipe estacionava, mas continuava perdendo posiçã o nã o
apenas em relaçã o aos demais Estados produtores do Nordeste, mas sobretudo diante
das unidades do Sudeste.
Em relaçã o ao algodã o, a situaçã o foi ainda pior. A á rea de plantio foi reduzida
consideravelmente, levando a produçã o a diminuir, nã o obstante a permanência, no
início dos anos sessenta, de cerca de 20 fá bricas de beneficiamento do produto.267
No campo, a grande atividade desse período foi a agropecuá ria que, de 1950 a
1960, chegou a atingir um crescimento da ordem de 31,5%. 268 Além da criaçã o de gado,
continuou com bastante sucesso, em Sergipe, a engorda de boiadas adquiridas em Minas
Gerais ou no sul da Bahia que, posteriormente, eram exportadas para outros Estados do
Nordeste. Essa prosperidade dos agropecuaristas, que vinha crescendo desde pelo
menos os anos quarenta, contribuía para fazê-la a fraçã o dominante mais importante do
Estado, pelas proporçõ es do grupo e pelas influências políticas. Na segunda fase do
domínio populista (1946-64), aquele grupo pontificava com grande desenvoltura na
política e nos negó cios.269
O Estado nã o tinha uma política planejada para os agropecuaristas, mas nem por
isso deixou de beneficiá -los, estimulando-os por meios de iniciativas como as exposiçõ es
agropecuá rias, que se constituíam em verdadeiras festas lucrativas. Por outro lado, os
créditos bancá rios e as dispensas dos empréstimos pelo governo federal, em
determinadas ocasiõ es, contribuíam para a capitalizaçã o da categoria. Essa
prosperidade certamente ajuda a entender o crescimento do setor primá rio de 1950
para 1960, conforme quadro abaixo.
267
Cf. Antonio José Nascimento. Ob. cit., 1994, quadro 17.
268
Cf. Bonifá cio Fortes. Democracia de Poucos. Aracaju: Regina, 1963, p. 20.
269
Por ocasiã o da XIV Exposiçã o Agro-Pecuá ria, alguns nomes foram citados como pioneiros. Além de Felisberto
Freire, que vinha criando gado desde o século XIX e comemorava-se o seu centená rio, foram lembrados: Dr. Antonio
Militã o T. Bragança (Laranjeiras), José do Prado Franco (Laranjeiras), Silvio Garcez (Itaporanga) e Bento Aguiar
(Neó polis). Mas, por esse tempo, outros também pontificavam como Acrísio d’ Á vila Garcez (Lagarto), Thomé Dantas
da Costa (Tobias Barreto), José Dó ria de Almeida (Simã o Dias), Edmundo Freire (Riachão do Dantas), Antô nio Torres
Neto (Canhoba), Martinho Almeida (Lagarto), Jacomildes Barreto (Boquim), os Garcez e os Sobral (Itaporanga,) os
Calumby Barreto e Murilo Dantas em outros municípios.
142
QUADRO VI
PARTICIPAÇÃ O DA RENDA INTERNA (1950-1960)
Anos Setor primá rio Setor secundá rio Setor terciá rio
1950 35,9% 18,6% 45,5%
1960 42,8% 10,8% 46,4%
Outro dado que chama atençã o nesse quadro é a queda do setor secundá rio.
Enquanto o país vivia numa fase de grande crescimento, atingindo índices
extremamente elevados, especialmente durante o Plano de Metas, em Sergipe o
desempenho das indú strias decrescia. A queda mais acentuada ocorria justamente no
setor têxtil, conforme quadro abaixo.
QUADRO VII
INDÚ STRIAS DE SERGIPE (1940-1960)
Fonte: Fundaçã o IBGE, apud Aluízio Capdeville Duarte. Aracaju e Sua Região. Rio de Janeiro:
IBGE, 1971 p. 20.
270
Cf. Antô nio José Nascimento. Ob. cit., 1994, p. 192.
143
portuá rio de Aracaju diminuía radicalmente com o assoreamento de sua barra. Diante
desses problemas, a sociedade passou a discutir a questã o a partir da imprensa, e o
Estado passou a intervir de forma mais efetiva.
Vimos como os governos vinham dando passos, tentando estimular o processo de
desenvolvimento. Arnaldo Garcez criou o Conselho de Desenvolvimento Econô mico,
Leandro Maciel tentou superar os pontos considerados de estrangulamento do
crescimento e Luiz Garcia ainda mais ampliou os investimentos em obras na indú stria e
nos serviços, dentro do ideá rio desenvolvimentista do governo JK, que se expandia
criando expectativas em torno da industrializaçã o do Estado. Tudo isso gerava um clima
de otimismo, porém algumas dificuldades persistiam.
A SUDENE, criada em fevereiro de 1959, passou a liberar recursos para
modernizar as indú strias têxteis do Estado, mas os efeitos nã o se revelariam
animadores, uma vez que as necessidades eram maiores do que as mudanças operadas.
O que animava era a expansã o da rede elétrica da Companhia Hidroelétrica do Sã o
Francisco (CHESF) que chegara a Sergipe por volta de 1954. Oito anos depois, apenas
dez municípios ainda nã o contavam com energia instalada. Somente Aracaju, que
começou com 3.200 Kw, já havia solicitado aumento para 10.000 Kw. 271
Por esse tempo, a populaçã o do Estado que, em 1940, era da ordem de 542.236,
vinte anos depois passara para 760.273 habitantes, enquanto Aracaju chegara a 115.713
residentes, segundo o Censo de 1960. Ao longo das duas décadas, nã o obstante os
problemas nas indú strias, os serviços tiveram melhor desempenho. O nú mero de casas
comerciais atingia 1.817 unidades,272 enquanto os estabelecimentos bancá rios somavam
24, envolvendo 7 matrizes e 17 sucursais, filiais e agências. 273 Mas, em relaçã o ao volume
de capitais e de depó sitos, o movimento era bem inferior nã o apenas ao dos Estados de
Bahia e Pernambuco, mas também ao de Alagoas.
No setor das comunicaçõ es, vinham ocorrendo mudanças expressivas. Em 1957
foi inaugurado o serviço automá tico da telefonia com 2.000 linhas e 1.500 aparelhos em
funcionamento. A construçã o da estrada Rio/Bahia operava grandes transformaçõ es na
economia do Nordeste. Em Sergipe, o fluxo comercial de produtos do Sudeste,
271
Em 1955 Sergipe dispunha apenas de um potencial instalado de 8.890 Kw. Problemas de Base do Estado de Sergipe.
Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, Vol. II, p. 300-302.
272
Censo de 1960.
273
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 300-302.
144
274
O percurso de Aracaju a Propriá era feito em cinco horas e trinta minutos. Para Pedra Azul em Minas Gerais (1.300
km) chegava a levar 90 dias. Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p.270.
275
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 283.
276
Ver Neuza Maria Gó is Ribeiro. Transformações do Espaço Urbano: o Caso de Aracaju. Recife: FUNDAJ/Massangana,
1989 e Vera Lú cia Alves França. Aracaju: estado e metropolização. Sã o Cristó vã o/SE: Editora da UFS/ Aracaju:
Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 1999.
277
Ricardo Lacerda. Geraçã o de Emprego e Renda. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs). Pensar
Sergipe, São Cristó vã o/SE: UFS, 2000, v. II, p. 24.
145
278
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 510.
279
Rosemiro Magno da Silva e Eliano Sérgio Azevedo Lopes. Conflitos de Terra e Reforma Agrária em Sergipe. Aracaju:
UFS/EDUFS, Secretaria do Estado da Irrigaçã o e Açã o Fundiá ria, 1996, p. 97.
280
O nú mero de propriedades agrícolas passou de 42.769 (1950) para 65.491 (1960) unidades agrícolas. Problemas
de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 461.
281
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 510.
147
meio urbano, mas as rurais gozavam de maior visibilidade pelo bom desempenho de
algumas, especialmente a Colô nia 13 no município de Lagarto.
Nã o obstante as iniciativas buscando formas de convivência alternativas à
tradicional relaçã o capital x trabalho, elas eram consideradas insuficientes sobretudo
para os grupos de esquerda. Por volta de meados dos anos cinquenta, foi lançada a
campanha pela reforma agrá ria que alcançou maior densidade com a criaçã o do
Movimento de Educaçã o de Base-MEB (1961). As relaçõ es de dominaçã o e dependência
pessoal passaram a sofrer grande erosã o. Embora a maior parte dos trabalhadores
continuasse subordinado ao patronato, as pregaçõ es dos líderes populistas e/ou
esquerdistas e os programas radiofô nicos do MEB abalavam a tradicional visã o de
mundo dos assalariados que lidavam diuturnamente com a terra. O exemplo das Ligas
Camponesas, criadas em 1955 por Francisco Juliã o em Pernambuco, despertava
apreensõ es desencontradas. Inspirado no exemplo de Cuba, a aposta na alternativa
socialista ganhou força no início dos anos sessenta dentro do movimento popular
nacional.
O governo federal tomou algumas medidas efetivas que encaminhavam o problema
agrá rio, visando nã o perder o controle da situaçã o. Regulamentou-se a legislaçã o que
permitia o reconhecimento dos sindicatos rurais e foi criada a Superintendência da
Política Agrícola (SUPRA) em 1962, objetivando formular e executar uma política
agrá ria para o país. Dentro desse processo, foram organizados em Sergipe os sindicatos
rurais com o apoio da SUPRA, da Igreja Cató lica e dos partidos de esquerda,
especialmente da Açã o Popular (AP). Em grandes concentraçõ es, celebravam-se a
fundaçã o de suas entidades de classe, passando os trabalhadores rurais a dispor de
representaçã o sindical em alguns municípios, entre os quais Maroim, Riachuelo,
Laranjeiras, Divina Pastora, Malhador. Ao final do ano de 1963, já havia em Sergipe uma
federaçã o e nove sindicatos reconhecidos. Outros nove aguardavam reconhecimento.282
“Apó s a fundaçã o e reconhecimento legal dos primeiros sindicatos, foi instalada, em
1963, a Federaçã o dos Trabalhadores da Agricultura de Sergipe – FETASE”. 283 Nesse
282
Cf. Gazeta de Sergipe, 20.02.1964 e Octá vio Iani. O Colapso do Populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizaçã o
Brasileira, 1968, p. 82.
283
Ver Gilvâ nia da Conceiçã o Santos. Organização Sindical dos Trabalhadores Rurais em Sergipe (1962/1964).
Monografia apresentada no Departamento de Histó ria da UFS, Aracaju, 1997, p. 32.
148
clima de mobilizaçã o, no mesmo ano foi promulgado pelo governo federal o Estatuto do
Trabalhador Rural, levando ao campo a legislaçã o social e sindical para todo o Brasil.
Desencadeado o processo de transformaçã o, alimentado pela normatizaçã o dos
direitos e pela organizaçã o dos trabalhadores, o passo seguinte foi a reforma agrá ria,
que significava transferir as terras para os camponeses. Essa operaçã o começou com a
invasã o da Fazenda Bica, uma propriedade semiabandonada no município de
Itabaianinha. Apesar do êxito dessa iniciativa, outras tentativas, inclusive na capital 284
foram-se revelando mais problemá ticas.
Nas cidades, intensificava-se o trabalho de organizaçã o e conscientizaçã o. As
articulaçõ es no campo sindical e partidá rio ampliavam-se com a atuaçã o do Partido
Comunista Brasileiro, influente entre os comerciá rios, ferroviá rios, estivadores e
trabalhadores da construçã o civil. Na ilegalidade desde 1947, nem por isso deixou de
estar presente nos principais movimentos populares do período populista. Em 1950,
seus membros participaram ativamente da greve dos ferroviá rios, num tempo em que
seu jornal, A Verdade, associava-se à apologia a Stalin, considerando-o “o maior gênio
dos dias atuais, [...] mestre, pai e amigo de todos os oprimidos”. 285 Sofrendo repressã o
até 1953, o PCB continuou a atuar em diversas campanhas. Algumas eram orientadas
pela direçã o nacional, tais como a do “Petró leo é Nosso”, “contra a participaçã o do Brasil
na guerra da Coreia”, “Pela Paz”, mas também participava de movimentos sobre
questõ es locais, entre os quais aquele que reivindicava instalaçã o da rede de á gua nos
bairros. No início dos anos sessenta, o partidã o persistiu atuante, participando das lutas
políticas e sindicais, controlando a ASPES, associaçã o dos funcioná rios, a Sociedade
Uniã o dos Operá rios Ferroviá rios (SUOF), o Sindicato da Construçã o Civil e o Centro
Operá rio Sergipano.286 Somando-se a essas entidades, foi organizada a seçã o estadual do
Comando Geral dos Trabalhadores em Sergipe (CGT-SE), que, sob a hegemonia do PCB,
passou a desempenhar papel importante na coordenaçã o da mobilizaçã o nacional. Neste
momento, suas lideranças desfrutavam de grande visibilidade,287 mas na luta política a
284
Gazeta de Sergipe, 25.02.1964.
285
A Verdade, 23.12.1950.
286
Cf. Maria da Conceiçã o Almeida Vasconcelos. Ação Político-sindical dos Petroleiros SE/AL nos anos 80. Aracaju,
Dissertaçã o de Mestrado em Ciências Sociais da UFS, 1999, p. 75-76.
287
Entre esses líderes, destacaram-se: Manoel Vicente do Nascimento, Manoel Francisco de Oliveira, presidente do
Sindicato dos Estivadores, Manoel Franco Freire, Manuel Messias dos Santos, presidente do CGT em Sergipe, José
Nunes da Silva, presidente do Centro Operá rio Sergipano, Agonaldo Pacheco, presidente da ASPES.
149
competiçã o interna foi-se tornando cada vez mais forte entre facçõ es dos líderes
trabalhistas.
Apesar dessa influência grande sobre os trabalhadores urbanos, o PCB foi
perdendo terreno. Embora participasse de movimentos grevistas, passeatas, seminá rios
de politizaçã o e de todas as lutas, diante do processo de radicalizaçã o do início dos anos
sessenta, especialmente no meio estudantil, o partido passou a ser confrontado com a
presença da Açã o Popular (AP). Os militantes dessa nova entidade, originá rios da
Juventude Operá ria Cató lica (JOC) e da Juventude Universitá ria Cató lica (JUC)
infiltraram-se no Movimento de Educaçã o de Base, criado em 1961, e passaram a gozar
de simpatia crescente, sobretudo no meio rural. Em 1963, o PC do B e a POLOP
começaram também a atuar em Sergipe, falando em nome dos trabalhadores, quando já
havia sido criada no Rio de Janeiro, em 1962, a Frente de Mobilizaçã o Popular, visando
aglutinar vá rias entidades de esquerda e proporcionar novo impulso ao movimento. A
essa altura, o eixo das discussõ es já havia deixado de ser a ampliaçã o dos direitos dos
trabalhadores. A questã o nesse momento era como fazer a revoluçã o.
Apesar de um certo clima de tensã o nos anos sessenta, as formas de lazer
cresciam, diversificavam-se e continuavam sendo vivenciadas. As praias se
popularizaram. A Atalaia ganhou acesso fá cil e fluxo crescente. A vida urbana de Aracaju
transformava-se. Em meados dos anos cinquenta, os bondes deixaram de circular,
cedendo lugar à s kombis e marinetes, que expandiram suas redes pelos diversos bairros
da capital. O futebol começou a profissionalizar-se (1960). Novos está dios foram
construídos na capital e no interior do Estado. As fá bricas de tecidos, tais como a
Confiança e sobretudo a Passagem, investiram em campos modernos. Os clubes
ganharam vida e maior importâ ncia com seus grupos de associados específicos, de certa
forma recriando a segmentaçã o social. Se antes havia a Associaçã o Atlética de Sergipe, o
Cotinguiba, o Vasco, o Sergipe, e o Confiança, a estes veio acrescentar-se o Iate Clube,
agregando elite local mais sofisticada. Em 1960 estavam registradas nada menos de 52
associaçõ es desportivo-recreativas, das quais 21 eram sediadas em Aracaju.288
288
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 512.
150
289
Jackson da Silva Lima. Os Estudos Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995, p. 95.
290
A Faculdade de Ciências Econô micas foi criada pela Lei 73 de 12.11.48 e começou a ensinar em 1950. Cf. José
Rolemberg Leite. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa. Aracaju, 1949, p. XV.
291
A Escola Superior de Química foi criada pela Lei 26 de 25.11.48. Cf. José Rolemberg Leite. Mensagem apresentada à
Assembleia Legislativa. Aracaju, 1949, p. XV.
292
Por esse tempo 2/3 das matrículas do ensino fundamental estavam localizadas nos colégios particulares, num total
de 7.037, enquanto as federais eram de 507 e as estaduais de 3.138 alunos. As Municipais cobriam apenas 208.
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 410-411.
151
dedicavam a determinada á rea, como era o caso de Florentino Menezes, que vinha de
muito publicando suas reflexõ es na á rea de sociologia. Também José Cruz, desde fins dos
anos trinta, vinha divulgando estatísticas, permitindo avançar no conhecimento do
quadro social. Mas, foi depois de 1945, que a questã o do desenvolvimento entrou na
pauta das discussõ es e Aloísio de Campos, junto com outros economistas, passaram a
estudar de forma mais científica as questõ es econô mico-financeiras. Felte Bezerra
enveredou para a á rea da Antropologia com estudo marcante sobre as Etnias Sergipanas
(1950), Nunes Mendonça publicou livro sobre A Educação em Sergipe (1958),
aproveitando pesquisa promovida pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagó gicos
(INEP). D. Luciano Duarte defendeu tese de doutorado na Sorbone sobre a Filosofia de
Santo Tomá s e Hume, José Silvério Leite Fontes (1924-2005), desde o estudo sobre
Jackson Figueiredo: sentido de sua obra (1952), revelou-se também um cultor da filosofia.
Jorge de Oliveira Neto (1914-1980) publicou Sergipe e o Problema da Seca (1955). No
campo da Histó ria, nã o tivemos nomes do porte de Felisbello Freire (1858-1916) nem
de Lima Jú nior (1856-1929), mas Sebrã o Sobrinho publicou Laudas da História de
Aracaju (1955), entre outras obras, mostrando bastante conhecimento das fontes
primá rias. No campo do Direito, destacaram-se vá rios juristas, entre os quais Gonçalo
Rolemberg Leite e Manuel Cabral Machado, embora com produçã o pequenina. Desde a
década de vinte, foi Carvalho Neto o maior nome do Direito pelo conjunto da obra, além
da atuaçã o na política e no foro. Na crô nica, Garcia Moreno (1910-1976), com Cajueiro
dos Papagaios, entre outros, deixou pá ginas saborosas sobre nossos costumes. No conto,
Renato Mazze Lucas (1919-1985) estreou com Anum Branco e outros contos (1961). Os
estudos de Folclore tiveram continuidade com vá rias contribuiçõ es, entre as quais a de
Má rio Cabral (1914- 2009), que continuou explorando também a crítica literá ria e
versejando. Aliá s, na poesia, nã o obstante a influência dos modernistas vir
manifestando-se desde o fim dos anos vinte, foi a partir de 1945 que essa forma se
tornou predominante. Além dos poetas já conhecidos, como Freire Ribeiro (1911-1975),
apareceram Alberto Carvalho (1932-2003), Nú bia Marques (1927-1999), Carmelita
Fontes (1933-), Giselda Morais (1939-2015), revelando suas experimentaçõ es. A
atuaçã o desses intelectuais, indicava certa efervescência que motivou a criaçã o do Clube
de Poesia (1955) e a publicaçã o da importante obra de Austragésilo Santana Porto, O
153
Florival Santos (1911-1999) 298 que haviam despontado na fase anterior. Enquanto isso,
outros talentos foram aparecendo, como José de Dome (1921-1982), Jenner Augusto
(1924-2003), Antô nio Maia (1940-) e Celso Oliva (1914-1963). 299 José de Dome, de
origem humilde, iniciou suas experiências em Estâ ncia, pintando santos, corujas,
marinhas e foi descoberto por artistas e empresá rios do Sudeste, tendo deixado Sergipe,
em 1965, para morrer reconhecido em Nova Iguaçu. Jenner Augusto estudou Belas Artes
e depois de nos legar bonitas aquarelas foi para a Bahia, em 1947, onde continuou
bastante produtivo, ganhando grande e merecida projeçã o. Apesar de passar a morar no
Estado vizinho, nã o se desvinculou de sua terra. Além do ambiente de sua infâ ncia
permanecer como fonte de inspiraçã o, continuou visitando Aracaju, expondo seus
trabalhos, decorando ambientes, pintando painéis, retratando sua cultura e derramando
sua influência sobre os artistas locais. Para estudiosa da histó ria das artes plá sticas em
Sergipe, Jenner Augusto foi a figura mais renovadora da pintura sergipana do século
XX.300
Outro personagem importante foi Antô nio Maia. Natural de Carmó polis, dedicou-
se inicialmente à cerâ mica, interessou-se pela pintura e ganhou o mundo com seu
talento excepcional. J. Iná cio pintou bananeiras, casebres e homens do campo com
colorido forte.301 Nã o obstante sua inquietude, chegou ao início do século XXI firme,
preservando seu estilo caracterizado de tropicalista e ecoló gico.302 Celso Oliva pintava
natureza morta, retratos e paisagens inspiradas nos clá ssicos. Mas, quando animava o
meio cultural com seu entusiasmo contagiante, adoeceu e repentinamente faleceu.
A fotografia passou a ser cultivada com feiçõ es artísticas, empolgando muita
gente. Em 1950 um grupo de cultores de fotos criou a Sociedade Sergipana de
Fotografia. Alguns deles expuseram seus trabalhos fora do Estado e foram premiados.
Entretanto, as dificuldades de manutençã o da sociedade foram inibindo seus
participantes e o entusiasmo dos primeiros tempos foi esmorecendo, pelo menos para
alguns amadores.
Na mú sica erudita, ao tempo em que o funcionamento do Instituto de Mú sica e
Canto Orfeô nico despertava para estudos sistemá ticos, a criaçã o da Sociedade de Cultura
298
Florival Santos. Texto de Alberto Carvalho. Aracaju: Habitacional Construçõ es, 1995.
299
Ver Clara Angélica Porto e Paulo Lobo (orgs). Pintores Sergipanos, Aracaju: Funcaju, s/d.
300
Cf. Verô nica Nunes, declarações ao autor, em 18.09.2001.
301
Cf. Clara Angélica Porto e Paulo Lobo (orgs). Pintores Sergipanos. Aracaju: Funcaju, s/d.
302
Cf. Luiz Antô nio Barreto in Brasil/Arte do Nordeste/Art of the Northeast. Rio de Janeiro: Impinta/Spala/CNI, s/d.
155
303
Participavam desse grupo: Felte Bezerra, Alberto Carvalho, Bonifá cio Fortes, José Carlos Teixeira, Joã o Costa, entre
outros.
304
Sobre a atuação da SCAS, ver Joã o Costa. A Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS), Revista de Aracaju.
Aracaju: Sercore/ Prefeitura de Aracaju, ano 43, 1985, n. 8, 1985, p. 25-27.
305
Ver Joã o Costa. O Teatro em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do
Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000, p. 48 e Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35,
maio/1999.
306
Cf. José Melchíades. José Carlos Teixeira e a SCAS. Revista de Aracaju, Aracaju: Sercore/Prefeitura de Aracaju, ano
43, n. 8, 1985, p.131-132.
307
Cf. José Carlos Teixeira, Jornal da Cidade, 16.06.2001.
156
Por esse tempo, o rá dio ampliava seu prestígio. Embora já existisse a Rá dio
Aperipê (1939), que passou a se chamar Difusora, seu estatuto de rede oficial sempre
limitou seu raio de açã o. Mas o aparecimento da Rá dio Liberdade (1953), dotada de
maior potência, inicialmente como ó rgã o da oposiçã o ao governo, empenhada em
ganhar ouvintes, representou um marco para os meios de comunicaçã o de Sergipe,
afetando os há bitos do sergipano. À s 12h30 começava o Informativo Cinzano da
Liberdade, sob a direçã o de Silva Lima, com seu jeito peculiar de narrar os fatos. À s 20
horas entrava no ar o programa Calendá rio, apresentado por Santos Mendonça, que,
com competência jornalística e uma certa inclinaçã o pelo sensacionalismo, conquistava
grande audiência. Em contrapartida, em 1958, um grupo do PSD-PR, entã o na oposiçã o,
criou a Rá dio Jornal e seu programa Risolâ ndia fez sucesso, especialmente nas críticas ao
governo de Luiz Garcia. Enquanto isso, os programas de auditó rio, sobretudo da
Difusora, revelavam artistas locais, embora raros chegassem a lançar disco. 308 Em 1959
surgia outra rá dio, a Cultura, que embora ligada à Diocese, tinha uma orientaçã o
bastante secularizada.
Através das rá dios, as mú sicas se propagam. Os programas de calouro e as
ofertas de brindes musicais aos aniversariantes ampliavam o pú blico ouvinte,
familiarizando-o com letras e ritmos de choro, samba, bolero, baiã o, entre outros.
Cantores locais como Guaracy Leite França, Neuza Paes, Bissextino, Joã o Melo, Dã o e
Joã o Ribeiro sã o lembrados como os mais expressivos desse tempo.309 Nã o obstante
todos esses fatores contribuíssem para o avanço da mú sica popular, os apreciadores da
mú sica erudita foram bastante favorecidos pelo aparecimento do LP, substituindo os
discos pesados de 78 rotaçõ es, permitindo assim maior acesso aos clá ssicos.
Nos clubes, nas boates, nos bares, nas ruas, intérpretes da mú sica popular
animavam as noites de Sergipe. Em Aracaju, dois conjuntos se destacavam. O Regional
de Carnera310 e a Rá dio Orquestra de Pinduca. Esta, composta de cerca de uma dú zia de
artistas trajados a cará ter, tocava tanto cançõ es brasileiras quanto estrangeiras,
inclusive americanas (swings, blues e jazz), que iam se tornando populares no país em
face da influência dos filmes produzidos em Hollywood (EUA).311
308
Um dos poucos que conseguiu gravar foi João Melo, facilitado por sua estada no Rio de Janeiro.
309
Cf. Murilo Melins. Aracaju romântica que vi e vivi. Aracaju: UNIT, 2000, p. 92.
310
O Regional de Carnera era composto de dois violõ es, um cavaquinho, um clarinete e um pandeirista. Cf. Joã o Mello,
depoimento ao autor, em 02.10.2001.
311
Cf. Murilo Melins. Aracaju romântica que vi e vivi. Aracaju: UNIT, 2000, p. 96.
157
312
Cf. Correio de Sergipe, 22.07.2001.
313
Djaldino Mota Moreno. Cinema Sergipano Catálogo de Filmes. Aracaju: Banese, 1988, p. 19.
314
Cf. Ivan Valença. Informações ao autor, em 02.04.2003.
315
Ilma Fontes. Memó ria do cinema sergipano. Aracaju Magazine, n. 54, dezembro/2000. Os maiores entusiastas da
sétima arte, segundo a autora, eram José Carlos Teixeira, Ivan Valença e José Carlos Monteiro.
316
Cf. Walmir Almeida, informações ao autor, em 27.11.2001.
158
317
Sueli Bispo da Silva. “O fim do sonho”: A morte do cine Vera Cruz e a crise do cinema de bairro em Aracaju (dos anos
45 aos 90). Sã o Cristó vã o, Monografia orientada por Antô nio Fernando de A. Sá , apresentada ao Departamento de
Histó ria, UFS, 2000.
318
Cf. Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, v. II, 1965.
319
Cf. Revista da Associação Sergipana de Imprensa, n. 3, Aracaju, 31.12.1960, p. 116.
320
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, v. II, 1965, p. 511.
159
Assistência a Mendicâ ncia (SAME), criado em 1949 para atender os grupos mais
carentes no mundo urbano, especialmente os velhos desamparados e/ou os mendigos
de Aracaju, envolvendo governo e sociedade numa açã o engenhosa.
Por esse tempo, as atividades da Açã o Cató lica estavam em franco progresso
integrando leigos nas iniciativas de cará ter religioso. Atuando em nú cleos específicos,
como a Juventude Universitá ria Cató lica (JUC) e a Juventude Operá ria Cató lica (JOC), a
preocupaçã o com o social foi ocupando o espaço do espiritual, gerando tensõ es internas
crescentes. Quando esse processo começava a acentuar-se, D. Fernando Gomes foi
transferido para Goiâ nia (GO), sendo substituído por D. Tá vora em 1958. Este procurou
conviver bem com as diversas correntes políticas, mas passou a engajar-se na luta social
pela promoçã o do homem, sobretudo dos grupos mais carentes. Concorreu
decisivamente para a criaçã o do MEB, que contou com o apoio dos governos federal e
estadual, e incorporou numerosas pessoas em atividades particularmente criativas,
inclusive jovens universitá rios sequiosos de mudanças, e permaneceu como sua
principal autoridade.321 Atingindo milhares de pessoas, nenhum movimento, até entã o
em Sergipe, teve tanta influência, no sentido de proporcionar uma nova consciência aos
trabalhadores rurais.
Além do MEB, nasceu a Campanha Nacional de Educandá rios Gratuitos. Em
Sergipe a CNEG contou com o apoio do governo estadual, através de convênios,322 e a
dedicaçã o de professores e jovens intelectuais, todos empenhados na expansã o
educacional. No fundo, estava em curso a construçã o de um novo bloco hegemô nico,
voltado para os interesses das classes subalternas, dentro de um projeto que tinha por
horizonte o socialismo. É verdade que havia discrepâ ncias sobre a natureza do modelo,
mas isso nã o impedia que vá rios setores da sociedade participassem, entre os quais os
estudantes. Era um momento de atividades febris, parecendo viver-se em clima pré-
revoluçã o entre o entusiasmo triunfalista e a ansiosa preparaçã o para a grande ruptura.
Concorreu para tanto o Movimento de Cultura Popular (MCP) criado no Rio de Janeiro,
que se expandiu por vá rios Estados, difundindo um modelo alternativo de política
cultural denominada nacional-popular. A orientaçã o tanto do Partido Comunista
321
Calcula-se que o MEB atingiu “cerca de 12.000 pessoas, em perto de 460 localidades e 57 municípios” e contou
“com quase 550 monitores orientados por 19 supervisores”. FIES/Condese. Problemas de Educação de Base, p. 409.
Ver também Maria Aparecida Farias. Movimento de educação da base em Sergipe – MEB – 1964/1970. São Cristó vã o,
1996. Monografia (Licenciatura em Histó ria) – Departamento de Histó ria, Universidade Federal de Sergipe.
322
Ver Luiz Garcia. Mensagem à Assembleia Legislativa. Aracaju: Imprensa Oficial, 1962.
160
Brasileiro (PCB) quanto da Açã o Popular (AP) era conscientizar a populaçã o com
discursos e prá ticas, inclusive representaçõ es pú blicas. A cultura popular virou mote
para as açõ es engajadas. “Intelectuais e artistas”, imbuídos do “espírito de catequese, se
colocam na qualidade de missioná rios que devem ‘converter’ o povo e a naçã o à sua
verdade oculta”. Neste sentido, “a tarefa política é construir o Estado Nacional por meio
de uma aliança ou cooperaçã o de classes” para a “tomada de poder”. 323
Em Sergipe atuaram os grupos da Uniã o Nacional dos Estudantes (UNE), da
Uniã o Estadual dos Estudantes de Sergipe (UEES) e do Centro Acadêmico Sílvio Romero
(CASR). Dentro da política de intercâ mbio, representaçõ es de outros Estados, como
Bahia e Pernambuco, estiveram também em Sergipe animando os espaços.324 Na Rá dio
Cultura, era apresentado o Teatro Gato de Botas sob a direçã o de Aglaé Fontes. Esta,
junto com outros atores locais, encenaram com sucesso a peça Eles não usam black-tie,
dirigida por Wilson Maux, demonstrando de forma eloquente a boa qualidade dos atores
da terra.325 A pró pria Secretaria de Educaçã o e Cultura, respaldada pelo MEC,
incorporou-se ao movimento pela educaçã o popular e passou a estimular suas
iniciativas que se estendiam pelo interior do Estado. Entre seus patrocínios, um dos mais
significativos foi a vinda a Sergipe do educador Paulo Freire, que ministrou curso,
explicando seu famoso método de alfabetizaçã o de adultos, visando à preparaçã o de
coordenadores. A secretaria ainda selecionou 440 candidatos, entre 700 inscritos, a fim
de atuarem no programa de alfabetizaçã o, mas este nã o chegou a iniciar-se antes da
intervençã o militar de 01/04/1964. Nesse contexto, ocorreram também os seminá rios
eminentemente políticos de conscientizaçã o como parte da preparaçã o para um novo
tempo. Tanto em Aracaju como no interior do Estado, inclusive em Lagarto, pregaçõ es,
debates interminá veis agitavam os ambientes. Nã o obstante a excessiva politizaçã o,
jamais havia ocorrido experiência educacional tã o rica no país e em Sergipe.
Ao tempo em que os sergipanos iam participando de iniciativas locais,
acompanhavam a produçã o de ideias provenientes sobretudo do Sudeste. As
publicaçõ es do ISEB e da Editora Civilizaçã o Brasileira, do Rio de Janeiro, enfocando
questõ es políticas de modo simplificado como os Cadernos do Povo, uma série de livros
323
Marilena Chauí. Seminários. São Paulo, Brasiliense, 1983, p. 95/96.
324
Sobre o assunto, ver José Vieira da Cruz, O engajamento político-cultural dos estudantes sergipanos no início dos
anos 60, Caderno do Estudante. Sã o Cristó vã o, UFS/Cimpe, v. 2, 1999.
325
Ver Joã o Costa. Aspectos do Teatro em Sergipe. Palestra patrocinado pelo FUNDESC no Centro de Criatividade, em
24.08.1992. Có pia datilografada.
161
Quando o presidente da Repú blica Joã o Goulart foi deposto pelos militares, o país
passou a ser governado, de fato, pelos titulares das três Armas: Exército, Marinha e
Aeroná utica. Este triunvirato formou o “Comando Supremo da Revoluçã o”, que lançou
um Ato Institucional apresentando as primeiras diretrizes da nova ordem. Por esse
tempo, foi escolhido o novo chefe do Executivo, o marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, que tomou posse no dia 15.04.1964.
Nos diversos Estados, os comandantes da corporaçã o do Exército passavam a
atuar como poderosas autoridades, sobrepondo-se muitas vezes aos pró prios
governadores. Começava o período da tutela militar com o objetivo de combater a
subversã o e reorientar a política nacional. Neste sentido, a primeira preocupaçã o dos
oficiais que mandavam era de desmontar a estrutura de poder vigente, reprimindo os
grupos envolvidos com o governo deposto.326
Em Sergipe, o governador Joã o Seixas Dó ria, que estava afinado com o projeto
reformista do presidente Goulart, foi preso, levado para o quartel da 6a Regiã o Militar,
sediada em Salvador. O vice, Sebastiã o Celso de Carvalho (PSD), foi empossado sem
protocolo e poucos dias depois o governante deposto era cassado e transferido para a
ilha de Fernando de Noronha, onde passaria 117 dias ao lado do ex-governador de
Pernambuco, Miguel Arraes.327 A Assembleia Legislativa, pressionada por militares,
cassava o mandato do seu governante, entã o prisioneiro, e de quatro deputados.328 A
essa altura, o movimento repressivo estava em plena atividade, prendendo e cassando
prefeitos, enquanto sindicalistas, estudantes, intelectuais, trabalhadores rurais e
urbanos eram levados para o quartel do 28o BC sem mandato judicial, sem culpa
326
Para uma versã o ampliada deste capítulo, ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe - 1964/1984.
(Partidos e Eleiçõ es num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
327
Ver Seixas Dó ria. Eu, Réu Sem Crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d.
328
Os deputados cassados foram Cleto Maia (PRT), Viana de Assis (PR), Nivaldo Santos (PR) e Balthazar Santos (PSD).
165
332
Participaram da discussã o: Leandro Maynard Maciel, Heribaldo Dantas Vieira e Lourival Batista (ex-UDN), Jú lio
Cézar Leite e Godofredo Gonçalves Diniz (ex-PR), José Rollemberg Leite e Sebastiã o Celso de Carvalho (ex-PSD).
333
Empenharam-se em organizar o MDB: José Carlos Teixeira, Walter Batista, Ariosto Amado, Otá vio Penalva, entre
outros.
334
A Diretoria incluiu José Carlos Teixeira como presidente, Walter Batista como vice, na 1 ª vice-presidência Ariosto
Mesquita Amado e na 2ª vice-presidência Eraldo Machado Lemos. Antô nio Tavares ficou na Secretaria geral e Umberto
Mandarino como tesoureiro. Cf. Diário da Justiça Eleitoral, 26.05.1966.
335
O AI-3 prescrevia que os prefeitos das capitais seriam indicados pelo governador.
336
Na votaçã o, Leandro Maciel saiu em primeiro lugar com 26 votos, seguido de Augusto do Prado Franco com 22
votos e, por fim, no terceiro lugar, Arnaldo Rolemberg Garcez com 19 votos.
168
Com maioria nas duas casas legislativas, o presidente Castello Branco levou
adiante seu projeto de completar a institucionalizaçã o do novo regime com uma Carta
Constitucional mais condizente com as concepçõ es do grupo “sorbonista”. Em 7 de
dezembro, o governo baixou o AI-4, convocando o Legislativo Federal para discussã o,
votaçã o e promulgaçã o de um projeto constitucional encomendado a uma comissã o de
juristas. Trabalhando sob a limitaçã o de prazos reduzidos, o Congresso promulgou a
nova Constituiçã o em 24.01.1967, ou seja, pouco mais de um mês apó s a convocaçã o.
Apesar da manutençã o dos direitos individuais, dentro da tradiçã o liberal, a nova Carta
no fundo legalizava medidas excepcionais enquanto ampliava as atribuiçõ es do
Executivo federal, retirava do Congresso o direito de legislar sobre segurança e finanças
pú blicas e coibia poderes do Judiciá rio. Aliá s, o destaque dado à questã o da segurança
nacional foi expressivo. Ampliava-a para o â mbito interno e estendia a sua
responsabilidade para todos (art. 89). Além de tudo, mantinha as eleiçõ es indiretas para
presidente da Repú blica e governadores.
A essa altura, o governo de Celso de Carvalho ultimava os preparativos para
passar o cargo ao seu sucessor. Depois de assumir a titularidade do Executivo Estadual,
em abril de 1964, com a situaçã o econô mico-financeira do Estado difícil, com ajuda do
governo central e de recursos da USAID, num tempo de baixa das medidas populistas e
de queda da inflaçã o, o saneamento financeiro foi se tornando possível. A arrecadaçã o
passou de 7,7 bilhõ es em 1965 para 12,2 bilhõ es em 1966, permitindo assim algum
saldo para investimento. Neste contexto, foram criadas algumas instituiçõ es como a
Companhia Agrícola de Sergipe (COMASE) e a Companhia de Habitaçã o Popular
(COHAB), que construiu cem casas populares. Apoiou ampla reestruturaçã o do
CONDESE e reformas no DESO e na ENERGIPE.339
Enfim, a situaçã o do Estado parecia encaminhar-se para um está gio de
estabilidade sem grandes turbulências à vista. Com a economia em recuperaçã o, as
finanças pú blicas sendo saneadas, os grupos políticos representantes dos interesses
dominantes em fase de acomodaçã o dentro do partido oficial, a ARENA, e os
descontentes enfraquecidos no MDB, tudo isso ajudava a reestruturaçã o de um pacto de
dominaçã o, sob a tutela militar, com perspectiva de continuidade. Contudo, no â mbito
339
Cf. Sebastiã o Celso de Carvalho. O Destino Acontece. Aracaju: Livraria Regina, s/d.
170
começou a preparar sua base política, tendo sido prefeito daquela cidade, deputado
estadual e deputado federal.
Na política interna, sua posiçã o nã o era das mais confortá veis. Escolheu
secretariado abrangente, contemplando vá rias forças políticas do momento, mas havia
tanto as inconformidades do senador Leandro Maciel e do deputado Augusto Franco,
que se sentiam preteridos por suas espertezas, quanto as desconfianças das facçõ es do
ex-PR e do ex-PSD, que ainda o identificavam como udenista pouco confiá vel. Nã o
obstante esse clima um tanto adverso, o novo governador, desde cedo, começou a
sinalizar para suas pretensõ es de controlar o quadro político. Antes mesmo de tomar
posse, recorreu a casuísmos jurídicos e nas eleiçõ es municipais de 1967 contribuiu para
que a ARENA elegesse 68 prefeitos. O MDB conseguia vencer apenas em Estâ ncia, um
dos maiores centros urbanos do interior, e no inexpressivo município de Pedra Mole. Em
Aracaju, onde houve eleiçã o apenas para a Câ mara Municipal, a ARENA elegeu 11
vereadores e o MDB conseguiu sete. “Em 32 municípios a ARENA disputou sem
adversá rios”.340
Três dias depois daquele pleito, ou seja, em 15.03.1967, assumiu a Presidência da
Repú blica o marechal Artur da Costa e Silva, porta-voz da ala dos “duros”. Todavia, a sua
ascensã o nã o foi suficiente para aplacar as ambiçõ es dos militares da linha dura. Antes
facilitou as suas investidas. É verdade que a mudança de governo inicialmente trouxe
uma renovaçã o do discurso oficial. Falou-se recorrentemente em humanismo, em
desenvolvimento com participaçã o e promoçã o social e, na política externa, voltou-se
para uma orientaçã o mais sintonizada com os países do Terceiro Mundo, substituindo o
alinhamento incondicional com os Estados Unidos. Envolvida por essa retó rica, a Naçã o,
depois de três anos de crescente polarizaçã o, parecia que caminhava para uma fase de
contemporizaçã o e desarmamento dos espíritos. Contudo, além dos problemas herdados
do governo anterior, o novo presidente, cercado de elementos da linha dura, inclusive
em ministérios, e pressionado por radicais nos quartéis, tenderia a encontrar crescentes
dificuldades para concretizar suas anunciadas intençõ es de abertura.
O contencioso dos militares com o movimento estudantil acentuou-se, alimentado
por outras questõ es, tais como a dos vestibulandos excedentes, a renovaçã o do acordo
MEC-USAID e a nova invasã o da Universidade de Brasília (abril de 1967), aumentando a
340
Bonifá cio Fortes. Ob.cit., 1968, p.114.
172
indisposiçã o entre as partes. O governo proibiu a UNE de efetuar seus congressos, mas,
em 1967, os estudantes realizaram-no com a colaboraçã o de setores da Igreja Cató lica,
que terminaram hostilizados pelas forças da repressã o. Promoveu-se uma reforma
universitá ria, mas o clima de animosidade tornou-a mal recebida, apesar de atender a
algumas reivindicaçõ es passadas do mundo acadêmico.341 Em meio a tensõ es
continuadas, a morte do estudante Edson Luís, em confronto com os policiais do Rio de
Janeiro, acendeu as paixõ es, alimentando o processo de mobilizaçã o estudantil que
cresceu ao longo dos meses, tornando a situaçã o bastante conflituosa.
Por outro lado, se as relaçõ es dos militares com os políticos oposicionistas já
eram difíceis, pioraram a partir da morte do marechal Castelo Branco (julho de 67) e da
formaçã o da “Frente Ampla”, liderada por Carlos Lacerda, buscando o apoio de Jango e
Kubitscheck. O anú ncio do Pacto de Montevidéu (setembro de 1967), unindo os três
principais líderes partidá rios nacionais, antes adversá rios, numa proposta alternativa ao
domínio militar, galvanizou as atençõ es dos políticos de todos os partidos e de todas as
facçõ es. A maioria esmagadora dos parlamentares do MDB optou pelo apoio ao novo
movimento.
Em Sergipe, a “Frente Ampla” foi usada em vá rios sentidos. Alguns deputados
estaduais da ARENA utilizaram-na como uma espécie de chantagem diante do
governador, para conseguir maior atençã o. Em 04.04.1968, o governo federal proibiu a
referida “Frente”, e as forças que apoiavam seus líderes nã o se manifestaram. O
pretensioso movimento caiu como um castelo de cartas. Com os partidos legais sem
capacidade de intermediar as grandes questõ es nacionais, os ilegais se apresentaram
como alternativa. Alguns segmentos sociais acreditaram em suas propostas, e a ideia de
luta armada ganhou adesã o de expressiva parte da esquerda. Em Sergipe, o movimento
estudantil, sob a hegemonia do PCB, desenvolvia açõ es mais moderadas do que em
outros Estados. O “partidã o” ameaçava a legalidade, apenas, quando promovia
treinamentos de algumas lideranças voltados para a luta armada.
Do lado do governo, o problema maior vinha da atuaçã o dos setores da linha
dura. Divididos em vá rios subgrupos, ganhavam terreno, impacientes, pressionando as
autoridades com manifestos, ameaças e até açõ es de rebeldes nas ruas e nos quartéis. A
341
Ver José Willington Germano. Estado Militar e Educação no Brasil (1964/1985). São Paulo: Cortez/UNICAMP, 1992,
p.106-156.
173
situaçã o começou a ficar ameaçadora depois que o deputado Má rcio Moreira Alves fez
um discurso ofensivo à s Forças Armadas e os militares pediram sua cassaçã o. O
processo evoluiu até que na noite de 12.12.1968, o Congresso, por 216 x 141 votos,
negou a licença para cassá -lo. No dia seguinte o marechal Costa e Silva, apó s a reuniã o
com o Conselho de Segurança Nacional, sob a pressã o das Forças Armadas,
especialmente da sua linha dura, editou o AI-5, marcando o início de nova fase do Estado
Autoritá rio.
4.1.2 O AI-5 e o Novo Ciclo Repressivo. De Lourival Batista a Paulo Barreto (1969-1973)
O quinto Ato Institucional significava a vitó ria da linha dura sobre os moderados,
proporcionando nova fase do Estado Autoritá rio. Com esse instrumento normativo, o
Executivo tornou-se autorizado a fechar as diversas casas legislativas, intervir nos
Estados e municípios, cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos, remover e
aposentar ou reformar funcioná rios, decretar estado de sítio e confisco de bens,
suspender garantias constitucionais e estabelecer censura à imprensa. As garantias dos
magistrados foram suspensas assim como o habeas corpus para variados casos. Era a
legalizaçã o mais explicitada do arbítrio do governo da Repú blica. Sob a predominâ ncia
dos “duros”, a tutela militar acentuava-se com a ampliaçã o das operaçõ es coercitivas
tanto sobre o Legislativo e o Judiciá rio quanto sobre a sociedade civil.
Em Sergipe, no dia seguinte à ediçã o do quinto Ato Institucional, recomeçaram as
prisõ es dos estudantes que haviam participado do congresso da UNE em Ibiú na (SP),
acrescidos de mais sete ou oito pessoas. Vá rios outros cidadã os que haviam sido presos
nos primeiros meses do movimento voltaram a ser convocados para depor. Três
conceituados professores foram intimados a comparecer ao 28º BC, onde também foram
inquiridos. Quanto aos estudantes, apó s trinta dias foram liberados e, já indiciados,
passaram a responder processo junto à Justiça Militar da 6a Regiã o Militar na capital da
Bahia.
A recém-criada Universidade Federal de Sergipe, que já sofria pressã o, a partir de
entã o passou a viver sob fogo cruzado dos ó rgã os repressivos: da 6ª Regiã o Militar, do
174
342
Sobre a relaçã o dos punidos e para mais informaçõ es, ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe -
1964/1984 (Partidos e Eleiçõ es num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 100-103.
175
candidatos e contribuindo para torná -los vitoriosos. A ú ltima lista de cassaçõ es atingiu
mais dois deputados estaduais e um federal.343
No decorrer do ano de 1969, os trabalhos da Comissã o Geral de Investigaçã o
(CGI), que funcionava na Capitania dos Portos, prosseguiram, apurando denú ncias
recebidas, notificando vá rias personalidades a apresentar sua defesa por escrito em
poucos dias e montando peças visando evidenciar atos ilícitos. Nessa época, um ex-
prefeito de Estâ ncia foi condenado na capital da Bahia, por processo iniciado em 1964 e
cumpriu pena na Casa de Detençã o Santo Antô nio, em Salvador, por cerca de oito meses,
até que foi absolvido.344 Situaçã o semelhante ocorreu com um grupo de operá rios
vinculados à Leste Brasileiro. Por esse tempo (agosto de 1970), saiu também a sentença
final dos réus arrolados em outro processo, onde foram indiciados 34 pessoas. Ao fim,
quase todos foram absolvidos. Três líderes receberam sentença de dois anos de
reclusã o, entretanto por razõ es diversas ninguém cumpriu a pena.345 Os estudantes
também terminaram nã o sendo incriminados. Os que deixaram o Estado para cumprir
missõ es clandestinas dos seus partidos tiveram destino mais cruel. Entre os ligados ao
PCB, alguns foram para a URSS. Os que retornaram, ainda na primeira metade da década
de setenta, foram presos, torturados e alguns sofreram sérios riscos de morte. Os
vinculados a AP viveram situaçã o similar. Enquanto isso os políticos da ARENA e do
MDB permaneciam obedecendo à s regras estabelecidas pelo sistema militar,
alimentando esperanças de mudança no quadro institucional.
Mas as pressõ es dos generais em postos chaves se acentuaram depois que o
marechal Costa e Silva encomendou ao vice-presidente Pedro Aleixo projeto
constitucional para “restituir a normalidade democrá tica”, segundo a expressã o da
época. Quando o velho presidente teimava em legar ao país uma Constituiçã o reformada
e extirpada dos dispositivos coercitivos do AI-5, adoeceu em 28.08.1969, perdeu o
controle da administraçã o e faleceu, em 17.12.1969, sem conseguir realizar seu intento.
Morria também a primeira tentativa de abertura política.
O vice-presidente, Pedro Aleixo, foi impedido de assumir. Em 31.08.1969 formou-
se o Triunvirato, composto pelos comandantes das três armas, quatro dias depois
343
Os novos cassados, por razõ es diversas, foram os deputados estaduais Rozendo Ribeiro Filho e Jayme Araú jo de
Andrade, bem como o deputado federal Joã o Machado Rolemberg.
344
Cf. Manoel Pascoal Nabuco D’Á vila. Entrevista a Osmá rio Santos, Jornal da Cidade, 07.10.1991.
345
Ver Processo 59/67 da Auditoria da 6a Circunscriçã o Judiciá ria Militar. Arquivo do DOPS, dossiê 747 in Arquivo
Pú blico do Estado de Sergipe (APES).
176
tempo com a Assembleia fechada e sem ó rgã o fiscalizador efetivo, diversas construçõ es
foram realizadas sem abertura de concorrência e, aparentemente, sem a devida
adequaçã o com a definiçã o de prioridades, subestimando a estratégia de planejamento
do CONDESE. Isso, porém, nã o era suficiente para abalar seu prestígio solidificado numa
era de intransparência, facilidade de recursos e fortalecimento da má quina pú blica.
Dentro desse quadro, antes de deixar o governo criou o Tribunal de Contas do Estado e
nomeou como conselheiros boa parte de seus auxiliares, prolongando sua influência
sobre a política sergipana.
Quando Lourival Batista renunciou, em 14.05.1970, seis meses antes das eleiçõ es
para candidatar-se ao Senado, criou um problema institucional para o governo federal
resolver. Como o vice-governador, Manuel Cabral Machado, preferiu o Tribunal de
Contas ao governo de nove meses e a posse de Paulo Barreto de Menezes estava
estabelecida para 15.03.71, tornou-se necessá rio escolher um novo sucessor. Neste
interstício, inicialmente assumiu interinamente a chefia do Executivo o entã o presidente
da Assembleia Legislativa Wolney Leal de Melo, de 14.05.1970 a 04.6.1970, quando foi
substituído por Joã o Andrade Garcez para cumprir o mandato “tampã o” que haveria de
prolongar-se até meado de março do ano seguinte.
A indicaçã o do novo governante sergipano seguiu o mesmo ritual da política do
regime autoritá rio. Em meio a muita divergência interna entre os principais chefes
políticos locais, a Presidência arbitrou, concedendo o prazo de 72 horas para a executiva
arenista apresentar a lista tríplice. Desta relaçã o, o general Médici escolheu Joã o
Andrade Garcez, tendo como vice Manoel Prado Vasconcelos. Dois dias depois, a
Assembleia homologou-os e, apó s mais dois dias, empossou-os.351
O novo chefe do Poder Executivo sergipano era um cirurgiã o dentista voltado
sobretudo para o exercício da profissã o, atuando inclusive junto ao Instituto de
Aposentadoria e Pensõ es dos Comerciá rios (IAPC). Homem só brio e discreto, inscreveu-
se na ARENA em face da informaçã o de que todo servidor federal era obrigado a filiar-se
no partido do governo sob pena de nã o receber os proventos.352 Apesar da pequena
duraçã o de seu mandato, Joã o Andrade Garcez fez questã o de escolher seu pró prio
351
Cf. João Andrade Garcez, depoimento ao autor em 30.11.1995. Sobre a lista tríplice, ver Diário de Aracaju,
30.05.1970, 02.06.1970, 05.06.1970.
352
Cf. João Andrade Garcez, depoimento ao autor em 30.11.1995. Sobre seu currículo, ver Gazeta de Sergipe,
30.05.1970. Seu vice Manoel do Prado Vasconcelos era comerciante de Riachuelo, mais conhecido por Reizinho e
também sem militâ ncia político-partidá ria.
179
353
Cf. João Andrade Garcez, depoimento ao autor em 30.11.1995.
354
Cf. José Carlos Teixeira, depoimento ao autor em 13.12. 1977.
355
Diário de Aracaju, 18.08.1970.
180
356
Idem, 10.11. 1970.
357
Idem, 08 a 10.12. 1973.
358
Compartilhavam dessa ideia vá rios técnicos da esfera federal e local, bem como economistas de projeçã o nacional.
Ver Rô mulo de Almeida. Perspectiva de um Complexo de Indústria de Base em Sergipe. In: Governo do Estado de
Sergipe, CONDESE, Palestra no 1o Ciclo de Estudos sobre o Aproveitamento dos Recurso Minerais de Sergipe, Aracaju:
J. Andrade, 1972.
181
359
Sobre o processo de abertura, ver Suzeley Kalil Mathias. Distensão no Brasil: O Projeto Militar (1973-1979).
Campinas/SP: Papirus, 1995, p. 39.
360
Jornal da Cidade, 24 e 25.03.1974.
182
candidatos. Mas o escolhido foi José Rolemberg Leite, que nã o constava da relaçã o. O
indicado para vice-governador foi o também engenheiro Antô nio Ribeiro Soutello.
A escolha daquele velho político do ex-PSD indicava que os ventos da abertura
política tenderiam a ser estimulados em Sergipe. Homem experiente, discreto e
conciliador, avesso a polêmicas, constituiu-se em alternativa de conciliaçã o.
Os indicados foram referendados pela Assembleia Legislativa em 03.10.1974.
Cerca de um mês depois, ocorreriam as eleiçõ es para o Legislativo estadual e federal.
Num ambiente de maior liberdade de manifestaçã o, o MDB colhia melhor resultado. O
médico e professor universitá rio Gilvan Rocha vencia na eleiçã o para o Senado o velho
senador Leandro Maciel. Em todo o país, o MDB preencheu 16 das 22 vagas, enquanto na
Câ mara dos Deputados, o partido oposicionista aumentava sua bancada de 28% para
44%. Desde entã o, “o governo ficou impossibilitado de aprovar emendas constitucionais
no Congresso sem o apoio do MDB”.361 Em Sergipe, além do senador, os oposicionistas
elegeram um dos cinco deputados federais, enquanto que na Assembleia Legislativa a
ARENA contava 11 representantes numa bancada de 15 membros.
Para os setores mais identificados com o sistema autoritá rio, especialmente para
a linha dura, foi um resultado traumá tico, difícil de ser assimilado, sobretudo porque a
eleiçã o do voto majoritá rio (Senado) tomou feiçã o plebiscitá ria, como se expressasse o
julgamento do regime militar. Houve temores de retrocesso, mas o general Geisel
declarou que a distensã o continuaria.
Em Sergipe, José Rolemberg Leite tomou posse em 15 de março de 1975 e passou
a governar com uma equipe predominante de técnicos, mas contemplando de alguma
forma certos grupos dominantes. Com visã o de conjunto sobre a administraçã o estadual,
esteve a coordenar sua equipe, procurando atender os objetivos técnicos voltados para o
desenvolvimento do Estado, sem desprezar as demandas políticas. Arejou a Secretaria
da Justiça, substituiu da direçã o do Banco do Estado um pecuarista que há anos
controlava essa agência de crédito de forma patrimonialista. Diante dos ó rgã os de
segurança, em vá rios momentos resistiu à s suas imposiçõ es. Mais de uma vez venceu
resistências do SNI para fazer indicaçõ es. Nomeou nomes vetados e desconsiderou
361
David Fleischer in Glá ucio Ary Dillon Soares e Maria Celina D'Araujo (orgs); [et al.]. 21 Anos de Regime militar:
Balanços e Perspectivas. Rio de Janeiro: Fundaçã o Getú lio Vargas, 1994, p. 175.
183
ordens para demitir funcioná rios tidos como subversivos.362 A Assembleia Legislativa
voltou a ser palco de debates acalorados com a participaçã o ativa dos parlamentares
oposicionistas. O MDB procurou ampliar sua atuaçã o com a criaçã o do Instituto de
Estudos Políticos e Econô micos Sociais D. José Vicente Tá vora, promovendo palestras de
eminentes personalidades da política nacional. Nesse clima de esperança, a tenra
sociedade civil começou a manifestar-se. Os jornais passavam a conceder mais espaço
aos parlamentares da oposiçã o. Na Universidade, sob controle rígido desde dezembro de
1968, os diretó rios acadêmicos dos diversos Centros voltaram a funcionar, culminando
com a reabertura do Diretó rio Central dos Estudantes (DCE).
Mas havia uma certa insegurança, pois os instrumentos coercitivos continuavam
em vigor e sem data estabelecida para serem revogados. Dentro de açã o de â mbito
nacional, voltada para debilitar o Partido Comunista Brasileiro, realizou-se em Sergipe a
chamada Operaçã o Cajueiro.363 Forças da Polícia Federal, do DOPS e do DOI-CODI, em
fevereiro de 1976, desencadearam a prisã o de cerca de 30 de seus militantes,
inquiriram-nos sob intensas torturas, chegando a cegar um deles. Cinco dias depois
soltaram uma parte, enquanto outros 19 permaneciam por cerca de dois meses sendo
processados e, depois, julgados. Era o exemplo mais candente do clima de ameaças e
incertezas.
Por esse tempo, tanto no â mbito nacional quanto no local, o projeto de distensã o
perdia muito de sua confiabilidade inicial, sobretudo pela permanência do estado de
insegurança. Jornais continuavam discutindo a abertura, mas o governo voltava a cassar
parlamentares. Em junho de 1976 foi aprovada lei eleitoral (Lei Falcã o) restringindo a
propaganda no rá dio e na televisã o.364 Era uma tentativa de evitar que o resultado de
1974 se repetisse. Mas a estratégia do MDB era de continuar batalhando pela
democratizaçã o sem se deixar esmorecer pelas adversidades. Dentro dessa orientaçã o,
realizou-se em Sergipe simpó sio sobre “O Homem e o Problema Social”, contando com a
presença dos mais expressivos nomes do partido. Poucos dias depois, a ARENA realizava
362
Cf. José Rolemberg Leite, depoimentos ao autor em 02.03.94. Everaldo Aragã o Prado, depoimentos ao autor em
13.08.96.
363
Sobre a Operação Cajueiro, ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe - 1964/1984. (Partidos e
Eleiçõ es num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 181-186.
364
Os candidatos podiam apenas mencionar seu nome, o nú mero e um condensado currículo. Na TV podiam ainda
apresentar sua foto.
184
também seu seminá rio tratando do aproveitamento dos recursos minerais, mas sem a
repercussã o das palestras dos oposicionistas.
À s vésperas de mais uma campanha para prefeitos do interior e vereadores de
todo o Estado, o uso da má quina pú blica para fins eleitorais parece que se acentuava.
Conforme denunciava o deputado Leopoldo Souza, políticos da ARENA vinham
fornecendo guias de internamento em hospitais privativos do FUNRURAL.365 Decorrido o
pleito municipal de 1976, o MDB em Sergipe pouco avançou em relaçã o ao ano de 1972,
ano da ú ltima eleiçã o municipal. A exemplo do que ocorrera em 1972, a ARENA elegera
65 prefeitos e o MDB, 8.
Na esfera nacional, ó rgã os de segurança continuavam cometendo arbitrariedades.
Determinados grupos de direita engajados nas açõ es anticomunistas desafiavam todos
ao lançar bombas contra instituiçõ es e bancas de jornais e revistas. 366 A caça aos
comunistas prosseguia, como correu contra o PC do B na Lapa (SP), quando policiais
cercaram casa, simularam combate, mataram três militantes, prenderam os demais e
submeteram-nos a torturas.367
Em 1977 o governo decretou recesso do Congresso e, apó s cerca de quinze dias,
anunciava reforma do Judiciá rio e o estabelecimento da eleiçã o indireta para uma vaga
no Senado (“biô nico”). O governo Geisel alterou também o quó rum para matérias
constitucionais no Congresso, a duraçã o do mandato presidencial para seis anos e a
composiçã o do Colégio Eleitoral. O acesso do MDB aos governos dos Estados ficava mais
difícil. Por esse tempo, a movimentaçã o do general Sílvio Frota para suceder Geisel
tornou-se centro de tensã o interna. A oposiçã o começou a levantar a bandeira da
Assembleia Nacional Constituinte. Os estudantes intensificaram os debates pú blicos pela
revogaçã o da legislaçã o coercitiva, especialmente o Decreto 477. Em Sergipe, a discussã o
de problemas sociais localizados, inclusive no baixo Sã o Francisco, passou a receber
cobertura da imprensa. Em Sã o Paulo, reivindicaçõ es trabalhistas agitavam os centros
industriais, indicando a emergência de um sindicalismo mais combativo, ensejando
novas lideranças, entre as quais se destacava Luís Iná cio da Silva (Lula), que em 1978
365
Cf. Leopoldo Souza in Gazeta de Sergipe, 11.09. 1976.
366
Ver José Amaral Argolo et alii... A Direita Explosiva no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1996.
367
Ver Jornal do Brasil, 17.12.1976.
185
368
Ver Margaret E. Keek. O “novo sindicalismo” na transiçã o Brasileira. In: Alfredo Stepan (org). Democratizando o
Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
369
Sobre a guerra de bastidores nesse momento, ver Elio Gaspari. A ditadura derrotada. Sã o Paulo: Companhia de
Letras, 2003.
186
370
Governo do Estado de Sergipe. Secretaria do Planejamento, Instituto de Economia e Pesquisas (INEP). Indicadores
Sociais de Sergipe. Aracaju, v. 3, 1981, p.181.
371
Cf. Jornal da Cidade, 02.03.1978.
187
aquele empresá rio empenhava-se em tornar-se governador enquanto seu patrimô nio se
ampliava ramificado no setor açucareiro, no têxtil e nas comunicaçõ es. Esse poderio, se
por um lado despertava má vontade por parte de alguns generais, de outro facilitaria o
controle do quadro interno e o fortalecimento do seu lobby em Brasília. Para governar,
anunciou secretariado mesclado por algumas figuras experientes de respeitabilidade
social, a maioria composta de ex-udenistas e de políticos que tiveram na ARENA sua
escola partidá ria. No período pó s-1964 nenhum governante assumira tal cargo em meio
a tantos prognó sticos otimistas, anunciando nova era desenvolvimentista.375 Entre os
primeiros atos do novo governo estava a transformaçã o do CONDESE em Secretaria de
Planejamento, reduzindo drasticamente as atribuiçõ es daquele ó rgã o.376 As tendências
centralizadoras acentuaram-se dentro da estratégia de evitar que as bases políticas
municipais migrassem para os demais partidos em época de declínio do regime
autoritá rio. A política clientelista foi entã o cultivada como em nenhum governo depois
de 1964. O funcionalismo estadual expandiu-se, admissõ es ocorreram sem concurso,377
tendo por principal condiçã o o pertencimento ao grupo político dominante e/ou à
conivência com suas políticas. Exemplo dessas prá ticas foi a aprovaçã o pela Assembleia
da emenda constitucional 14/81, autorizando o governo a promover contrataçõ es.
Enquanto isso, o espaço de crítica encolhia com o grande controle governamental dos
meios de comunicaçã o. Com apoio das principais lideranças do PDS, do Legislativo, do
Judiciá rio e contando com a generosa compreensã o dos procuradores, o governador foi
administrando com rédeas curtas o processo de transiçã o e realizando diversas obras
significativas. Os serviços de telefonia que existiam em 20 municípios expandiram-se
para todos os demais. Os centros de saú de passaram de 14 para 82. Cerca de 550 salas
de aula foram construídas, permitindo grande ampliaçã o do nú mero de matrículas, 378
mas a Secretaria de Educaçã o, que nos ú ltimos dez anos vinha sendo gerida sem grandes
interferências políticas, a partir de 1979 voltou a ser instrumento de barganha eleitoral,
comportando favoritismo, alterando a estrutura preexistente, afetando bastante o seu
funcionamento.379
375
Ver Gazeta de Sergipe, 01 a 03.1979.
376
Newton Pedro da Silva. Estado e Região: Contribuiçã o ao Estudo da "Modernizaçã o Autoritá ria" do Nordeste
Brasileiro. Aracaju, 1994 - Tese de Doutoramento em Economia, UNICAMP, p. 18-20.
377
Ressalve-se que houve concurso realizado pela Secretaria de Educação.
378
Segundo dados da propaganda do governo, as matrículas teriam se ampliado de 116.756 (1979) para condiçõ es de
oferta de 202.000 (1982). Ver Três Anos que Mudaram o Curso da História. Aracaju, 1982.
379
Cf. Everaldo Aragã o Prado, depoimento ao autor em 13.08.1996 e Gazeta de Sergipe, 27.05.1982.
190
380
Ver Gazeta de Sergipe, 01.12.1981.
381
Cf. Manuela Carneiro da Cunha in Beatriz Gó is Dantas e Dalmo Dallari. Terra dos Índios Xocó. São Paulo: Comissã o
Pró -Índio, 1980.
382
Ver José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1997.
191
aumento já autorizado por Lei.” Diante desse quadro de penú ria, o governador solicitava
auxílio de emergência da ordem de doze bilhõ es, duzentos e quarenta milhõ es de
cruzeiros.384 Entretanto, o governo federal liberou apenas um bilhã o de cruzeiros.
Enquanto isso, o quadro foi-se transformando. As finanças pú blicas eram
saneadas, o setor de serviços começava a ser beneficiado pela presença da Petrobras. A
exploraçã o do grande campo de petró leo no município de Carmó polis (SE), descoberto
em 1963, passava a dar bons resultados. Em fevereiro de 1965 saiu o primeiro
carregamento do ó leo negro para a Bahia e os efeitos da presença da empresa estatal em
Sergipe começavam a ser sentidos na economia interna. Com a promulgaçã o da
Constituiçã o de 1967 e as mudanças da legislaçã o tributá ria, entre as quais a que
alterava o Fundo de Participaçã o dos Estados, Sergipe saiu beneficiado. Desde entã o,
raros foram os anos em que o montante de tais transferências nã o ultrapassava 60% do
total da receita.385 Durante o governo de Lourival Batista (1967-70) já se observava
grande disponibilidade de recursos, como atesta o conjunto de obras construídas, entre
as quais está dio, edifícios, estradas, pontes, viadutos etc.
O saneamento das finanças pú blicas, durante a gestã o do marechal Castello
Branco, e a reorientaçã o do padrã o de investimento nacional, com a fundaçã o de
instituiçõ es financeiras de estímulo à poupança e ao mercado de capitais, contribuíram
para melhorar o quadro econô mico. A partir dos anos setenta, o país passou a viver um
elevado ciclo expansivo e tornou-se possível implementar vá rias políticas, envolvendo
subsídios, incentivos fiscais e investimentos em diversos setores, especialmente na
infraestrutura, dentro de uma conjuntura extremamente favorá vel pela ampla
disponibilidade de petrodó lares. Neste contexto, apostou-se nos capitais financeiros e,
de 1970 a 1974, o PIB cresceu a uma média anual de 11,36%, a inflaçã o beirou a média
de 21%, enquanto a dívida externa aumentava de 5,3 para 17,2 bilhõ es de dó lares. Mas
essa expansã o revelou-se com fô lego curto. A partir de 1974 a inflaçã o, antes reprimida,
passou a elevar-se e novos problemas começaram a preocupar. O governo Geisel (1974-
79) apresentou o II PND, tentando fortalecer o parque produtivo nacional diante da
dinâ mica do capitalismo internacional, mas o preço do petró leo disparou no mercado
384
Idem, 06.08.1964.
385
Ver Ildá cio Viana Guimarã es e Neide Santana. Evoluçã o das Finanças Pú blicas do Estado de Sergipe, 1977-1981 in
Governo do Estado de Sergipe - Secretaria do Planejamento, Instituto de Economia e Pesquisas (INEP). Indicadores da
Conjuntura Sergipana. Aracaju, v. 6, 1982, p. 183-201.
193
No setor terciá rio houve também melhoras considerá veis a partir de 1967. A
implantaçã o da Universidade Federal de Sergipe (1968) ampliou o setor de serviços e
passou a injetar boa soma de salá rios no mercado interno, aumentando o contingente da
classe média. No início dos anos setenta, foi realizada reforma administrativa no setor
pú blico, reestruturando todas as secretarias do Estado, adotando métodos modernos de
gestã o. Reformaram-se as empresas estatais encarregadas dos serviços bá sicos: á gua,
energia, transporte e telecomunicaçõ es. Nestas, a expansã o nacional atingiu o menor
Estado da federaçã o que inaugurava a TV Sergipe em novembro de 1971, integrando a
populaçã o de Aracaju e do interior do Estado nesse sistema de comunicaçã o, operando
uma revoluçã o nos costumes provincianos. Em 1972 foi criada a Telergipe, do sistema
Telebrá s, e, no ano seguinte, o governo assinava com a NEC contrato para instalaçã o de
novo equipamento telefô nico em Aracaju. Somente no período de 1976-84 os terminais
telefô nicos passaram de 8.988 para 30.868.389
No setor secundá rio, foi implantado o Distrito Industrial de Aracaju que atraiu
novos empreendimentos, enquanto o setor da construçã o civil viveu grande expansã o.
Em Sergipe, 87% de todas as aplicaçõ es no setor habitacional, em certo período,
provieram do Banco Nacional de Habitaçã o.390 Aracaju, a capital, era o centro
privilegiado com esses investimentos, que se tornaram responsá veis por acentuado
processo de seu crescimento. Enquanto as casas bancá rias fechavam suas portas em
decorrência das mudanças concentracionistas no sistema financeiro, vá rias empresas de
construçã o civil (Atenco, Norcon, Celi, Cosil, Habitacional, entre outras) nasciam e/ou
prosperavam trazendo consequências significativas nã o apenas para a economia, mas
também para a política, inclusive pela influência crescente nos pleitos eleitorais. A
Norcon dos irmã os Teixeira e a Celi de Luciano Barreto aparentemente eram as que mais
cresciam. Entre os grupos empresariais do passado, alguns continuaram influentes como
Constâ ncio Vieira, H. Dantas, Calumby Barreto, os Leite de Estâ ncia, entre outros, mas
nenhum deles prosperou como o grupo comandado por Augusto do Prado Franco.
Quanto à indú stria extrativa, novos poços de petró leo foram sendo descobertos,
projetando Sergipe nacionalmente. As pesquisas sobre minerais revelavam a existência
389
Wanderley Guilherme dos Santos (coord.). Que Brasil é Este? Manual de Indicadores Políticos e Sociais. Rio de
Janeiro, IUPERJ/Vértice, 1990 p. 126-128.
390
Governo do Estado de Sergipe. I Plano de Desenvolvimento Econômico e Social: 1976-79. Salvador: CONDESE
/Bureau Grá fica Editora, s/d, p. 311.
195
391
Ver Aloísio de Campos. Jornal de Sergipe, 10 e 11.10.1982. Ver também Jornal da Cidade, 19.12.1973.
392
Cf. Paulo Manoel Mendes Mendonça. Contribuição da Petrobras para o Desenvolvimento do Estado de Sergipe.
Palestra no ciclo de conferências Pensar Sergipe III, UFS, novembro/2001.
196
QUADRO VIII
Variaçã o Anual do Produto Interno Bruto (Sergipe, Nordeste e Brasil - 1971-1982)
Fontes:
1. Boletim Conjuntural do Nordeste do Brasil, n. 2, Recife: SUDENE; FUNDAJ, 1994, p. 242.
2. Marcelo de Paiva Abreu (org). A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econô mica
Republicana, 1889/1989. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 408.
393
Cf. Dados elaborados para a pesquisa “Desenvolvimento Capitalista no Nordeste Brasileiro. Estudo Comparativo das
Trajetórias Estaduais” por Ricardo Oliveira Lacerda de Melo, com base em dados do DPG/SUDENE.
197
continuava bem pequeno, abaixo de vá rios Estados da Regiã o. Eram indicaçõ es de que o
desenvolvimento nã o se estendia como seria de esperar.
No plano nacional, as reformas na economia nã o foram suficientes para resistir à s
oscilaçõ es da economia internacional. A expansã o interna firmada no sistema financeiro
e no endividamento externo ampliou sua vulnerabilidade. Em fins de 1973, quando
surgiu o primeiro choque do Petró leo, quadruplicando seus preços, o governo Médici,
imbuído de ufanismo, ignorou seus efeitos, considerando o Brasil como uma ilha de
prosperidade. O presidente Geisel continuou na mesma tendência, aprofundando a
orientaçã o estatista, mas, com os choques externos, o país entrou em crise e passou a
vivenciar sucessivas dificuldades no tempo do general Figueiredo, que deixou para os
civis um legado problemá tico.
Quanto ao movimento sindical, a vitó ria dos militares, através da
contrarrevoluçã o de 1964, resultou na sua imediata desarticulaçã o. A ideia de que as
centrais sindicais, especialmente o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), seriam
capazes de parar o país e impedir qualquer açã o contra seus interesses nã o se
concretizou.
Como nos demais Estados, em Sergipe a maioria dos líderes foi presa. Aqueles
que conseguiram fugir ingressaram em esquemas de clandestinidade. Mas vá rios deles
terminaram sendo alcançados e responderam a processo. O CGT foi extinto e os
sindicatos deixaram de atuar politicamente. Nos idos de 1964-65 pelo menos quatro
entidades passaram a sofrer intervençã o. A intensa mobilizaçã o política foi estancada.
Era tempo de resistência, quando os sindicalistas procuravam conviver com as
adversidades. Internamente o movimento arrefeceu. Como a vida associativa tornou-se
suspeita, muitos só cios afastaram-se de sua instituiçã o e as atividades sindicais
decaíram. Mas, a partir de meados de 1966, estimulados pelo quadro político nacional de
expressã o de descontentamentos, foi-se retomando alguma tímida animaçã o. Em meio
ao crescimento do movimento estudantil, à atuaçã o de membros da Igreja Cató lica e dos
partidos de esquerda, os protestos foram se generalizando contra as políticas
governamentais, envolvendo cada vez maiores parcelas das classes subalternas. A
situaçã o atingiu o clímax em 1968 com novas agitaçõ es políticas. As greves de Contagem
(MG) e Osasco (SP) apesar de reprimidas, mostraram inovaçõ es no movimento sindical,
199
repercutindo no Estado através de inquietaçõ es tanto nas cidades como no campo. Mas
logo a ediçã o do AI-5 instaurou novo ciclo repressivo. Em Sergipe, pelo menos três
sindicatos voltaram a sofrer intervençõ es e novas prisõ es foram encetadas, inclusive de
trabalhadores. Além do mais, os processos iniciados em 1964 contra as lideranças
sindicais foram agilizados e prolatadas as sentenças. A maioria dos indiciados
permaneceu em liberdade, mas seis deles cumpriram cinco meses de detençã o em
presídio de Salvador (BA).
A partir de 1974, com o desencadeamento do processo de distensã o, entre
avanços e recuos, o clima político começou a mudar. Mas a repressã o ainda demonstrava
vigor. Em Sergipe novas prisõ es de militantes de PCB, acompanhadas de torturas,
voltaram a acontecer no primeiro semestre de 1976, frutos da denominada Operaçã o
Cajueiro. Apesar do ambiente de certa insegurança, no campo e na cidade, a
movimentaçã o foi crescendo.
Por esse tempo, o índice de urbanizaçã o aumentava. Recorde-se que, no curso das
duas décadas, a populaçã o de Sergipe nã o chegou a dobrar, mas aumentou em cerca de
75%. Ocorreu grande deslocamento do setor rural para o urbano de tal forma que os
habitantes das cidades passaram a ser maioria, conforme mostram os dados abaixo.
QUADRO IX
SERGIPE - POPULAÇÃ O RESIDENTE (1960 e 1980)
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro: Fundaçã o IBGE, 1984, p. 80.
Em 1960, Sergipe era um Estado de predominâ ncia agrá ria nã o apenas porque
61% dos seus habitantes viviam no meio rural, mas também porque nada menos de
68,53% dos cidadã os economicamente ativos estavam ocupadas no setor primá rio,
enquanto o secundá rio absorvia apenas 8,70%. Vinte anos depois, esta estrutura
produtiva, típica de regiã o subdesenvolvida, havia se modificado consideravelmente. Os
200
que estavam no setor primá rio haviam baixado para 42,35% e os do secundá rio
simplesmente duplicaram, chegando a 17,34%.398 Apesar dessa diminuiçã o de
importâ ncia do setor rural, os descontentamentos persistiam, mesmo porque sobretudo
nos anos setenta verificou-se uma certa concentraçã o da propriedade, pois o aumento
do nú mero de estabelecimentos foi bem menor do que a expansã o da á rea ocupada.399
Embora o regime autoritá rio tenha abafado o movimento pela reforma agrá ria do
início dos anos sessenta, aqui e acolá apareciam sinais de descontentamentos. Pelos idos
de 1968 alguns incidentes sociais levaram setores da Igreja Cató lica, sob a liderança do
seu arcebispo D. Luciano Duarte, a implantar a Promoçã o do Homem do Campo de
Sergipe (PRHOCASE), que, no curso de dez anos (1967-1977), adquiriu fazendas nos
municípios de Maruim, Santa Rosa de Lima, General Maynard, Santo Amaro das Brotas e
Divina Pastora que foram entregues a trabalhadores sem terra.400 Pelos idos de 1978,
começaram a eclodir conflitos em municípios à s margens do Sã o Francisco sob a
jurisdiçã o do bispado de Propriá , onde a Comissã o Pastoral da Terra (CPT) agia atuante.
Tanto a fazenda de Santana dos Frades, reivindicada pelos posseiros, quanto as terras da
Ilha de Sã o Pedro, pleiteadas pelo grupo indígena Xocó , terminaram em
desapropriaçã o.401 Essas lutas vitoriosas estimularam novas iniciativas que haveriam de
prolongar-se por bastante tempo. A essa altura o pró prio crescimento do nú mero de
sindicatos indicava a intensificaçã o da organizaçã o dos trabalhadores rurais como
nenhuma outra categoria.
398
Wanderley Guilherme dos Santos (coord.). Que Brasil é este: Manual de Indicadores Políticos e Sociais. Sã o Paulo:
Vértice/ Revista dos Tribunais, 1990, p. 32 e 34.
399
Ver Censos, 1970 e 1980.
400
Cf. Maria Luisa Souza. Movimentos Sociais em Sergipe nas Décadas de 60, 70 e 80. In: Movimentos. Aracaju, ano 1, n.
1, julho/1995, p. 10; Rosemiro Magno da Silva e Eliano Sérgio Azevedo Lopes. Ob. Cit., 1996, p. 98; Alexandre Diniz. A
Condição Camponesa em Sergipe. Desigualdade e Persistência da Agricultura Familiar. Aracaju: NPGEO/UFS, 1996, p.
55.
401
Ver Beatriz Gó is Dantas e Dalmo Dallari. Terra dos Índios Xocó. São Paulo: Comissã o Pró -Índio, 1980.
201
QUADRO X
NÚ MERO DE SINDICATOS - SERGIPE
402
Cf. Governo de Sergipe. Seplan/INEP. Indicadores Sociais de Sergipe. 1981. Aracaju, v. 3, 1981, p. 180.
202
O período 1964-1982 foi marcado pela predominâ ncia do Estado, em meio a uma
contínua tensã o com a sociedade, inclusive com alguns setores artísticos.
Ao tempo em que os militares tentavam reorientar a política e a economia,
empenhavam-se também em estabelecer novos padrõ es para o setor cultural. Mas esse
processo ocorreu dentro de relacionamento difícil entre Estado e sociedade, sobretudo
pelas desconfianças de setores intelectualizados em relaçã o à s decisõ es que provinham
do governo central. Diante da repressã o, os grupos organizados da sociedade ligados à
esquerda passaram a reagir.
Na á rea educacional, como o movimento estudantil permaneceu insubmisso, o
MEC passou a implementar uma série de normas, visando coibir as atividades
promovidas pelos estudantes. Basta lembrar a intervençã o na Uniã o Estadual dos
Estudantes de Sergipe (UEES), a extinçã o da UNE e a famosa “Lei Suplicy”, nascida com a
pretensã o de despolitizar o movimento estudantil. Foi nesse clima de tensã o que se
desenvolveu a discussã o sobre a criaçã o da Universidade em Sergipe. Como as pessoas
mais ligadas à administraçã o do Estado propunham o modelo de Fundaçã o, segundo a
orientaçã o do MEC, em contraposiçã o, alguns setores de esquerda advogavam a forma
autá rquica, gerando debates por vezes acirrados, até quando foi criada em 28.02.1967,
seguindo a orientaçã o oficial. A instalaçã o festiva ocorreu em 15.05.1968, quando a
representaçã o estudantil nã o teve direito ao uso da palavra.403
Apesar desses problemas iniciais, a chegada da UFS indicava um novo momento
no ensino superior de Sergipe. As faculdades até entã o existentes foram agrupadas
dentro de uma orientaçã o geral, com estrutura de apoio e disponibilidade de recursos.
403
Ver Gazeta de Sergipe, 16.05.1968.
203
Acabou-se a fase heroica. Os professores que lecionavam com proventos simbó licos
passaram a receber salá rios condizentes com a profissã o. As possibilidades de
reciclagem ampliaram-se. Os Centros passaram a organizar seminá rios e cursos com
especialistas de fora. A UFS integrou-se no Programa Nacional de Incentivo à
Capacitaçã o Docente (PICD) em convênio com a CAPES. A partir dos anos setenta, vá rios
professores e alunos recém-formados começaram a deslocar-se para centros maiores a
fim de cursarem mestrado ou doutorado, gerando dissertaçõ es e teses nos vá rios
campos de saber, ampliando o conhecimento teó rico e empírico. Novos cursos foram
criados dentro da filosofia de conjugar o ensino, a pesquisa e a extensã o. Buscou-se a
promoçã o de determinadas comunidades consideradas carentes, incentivando o
aprendizado de artes e ofícios. Os professores, com o apoio do Estado, intervieram nos
arquivos e procuraram retirá -los do abandono, recuperando um patrimô nio cultural dos
mais expressivos. Em 1981 a Universidade Federal transferiu-se para seu campus amplo
e moderno. As matrículas em cursos superiores que eram 336 (1962), vinte anos depois
a maior parte delas estava concentrada na UFS, que inscrevia 5.035 alunos (1982). 404 De
1967 a 1982 a referida instituiçã o graduou 5.860 estudantes de diversos cursos. Enfim,
nã o obstante o clima nebuloso em que o país vivia com a tutela militar, a iniciativa era
importante. Por esse tempo, começam a funcionar também os cursos superiores da rede
particular. Em fevereiro de 1972, apareceu a Faculdade Pio X com o curso de Pedagogia
e em julho do mesmo ano despontava as Faculdades Integradas Tiradentes para ofertar
Administraçã o e Direito.
No ensino médio, grandes colégios foram construídos em diferentes bairros da
capital e em alguns municípios, atendendo à demanda da mocidade que pretendia
prosseguir nos estudos. Para diminuir o analfabetismo dos adultos foi criado o MOBRAL,
com êxito menor do que se esperava. Apesar disso, se tomarmos os anos de 1962 e 1982
como referências, verificamos que a soma das matrículas dos dois primeiros graus
cresceu de 91.148 para 293.829 alunos, ou seja, multiplicou-se por 3,6.405
Na esfera nacional, apesar de submetidos à repressã o, os grupos de esquerda
continuaram mantendo uma certa hegemonia cultural até 1968, quando o divó rcio entre
404
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 407-411 e Dados fornecidos pela
UFS.
405
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 407-411 e Indicadores Sociais de
Sergipe. Aracaju, v. 7, INEP, 1985, p. 21-23. Observe-se, no entanto, que o contingente do segundo grau nã o chegava a
9% do primeiro grau, indicando como era restrita a formaçã o dos jovens ainda na década de 1980.
204
Estado e a sociedade acentuou-se e a radicalizaçã o das partes levou à ediçã o do AI-5. 406
Foi nesse contexto que nasceram dois projetos do regime autoritá rio. O primeiro era
patrocinado pela Escola Superior de Guerra e o segundo via Conselho Federal de
Cultura.
Estando os partidos em suspeiçã o, sob a vigência do AI-5, a soluçã o encontrada
foi selecionar quadros e aprimorá -los, através de uma orientaçã o considerada sadia,
dentro dos preceitos da Doutrina da Segurança Nacional. Em vá rias unidades
federativas, foram criadas Delegacias da Associaçã o dos Diplomados da Escola Superior
de Guerra (ADESG), que atuavam nos Estados como agências de recrutamento e
formaçã o de pessoal, sob inspiraçã o e influência da Escola Superior de Guerra, de
conformidade com os padrõ es do Estado Autoritá rio, centralizado, controlado pelas
Forças Armadas e administrado pela tecnocracia.
Em Sergipe, a ADESG foi estruturada e contou com participaçã o da grande parte
das autoridades do Estado, passando, a partir de 1971, a promover seus cursos que, nos
primeiros anos, foram muito procurados. Funcioná rios pú blicos, profissionais liberais,
empresá rios de níveis culturais heterogêneos empenharam-se para serem indicados.
Apó s triagem efetuada pelo 28o BC, era exigido dos inscritos frequência à s palestras,
visitas a campo e apresentaçã o de trabalho final. Com esses cursos os militares
esperavam preparar seus quadros para preencher os cargos político-administrativos ao
tempo em que esvaziavam o sistema representativo no qual a seleçã o dos políticos se
processava pelos partidos e pelo eleitorado. Foi desses estudos da Associaçã o dos
diplomados da Escola Superior de Guerra (ESG), como agência ideoló gica da sociedade
política, que nasceu a ideia da introduçã o de Moral e Cívica como disciplina obrigató ria
no segundo grau e Estudos de Problemas Brasileiros no terceiro grau.
O segundo projeto militar voltou-se para oferecer uma política cultural para o
país no sentido de integrar a naçã o no novo processo de desenvolvimento em curso.
Desde a instalaçã o do Conselho Federal de Cultura (CFC), em 1966, composto por
intelectuais de prestígio nacional, começaram as sugestõ es para a elaboraçã o de um
projeto cultural. Alguns conselhos estaduais de cultura foram formalmente criados,
inclusive o de Sergipe em 1970. 407 A exemplo do que ocorrera durante o Estado Novo
406
Cf. Roberto Schwarz. O Pai de Família e outros Estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
407
Ver Governo de Sergipe. Plano Estadual de Educação e Cultura (1971-1974). Aracaju: SEC, 1970.
205
(1937-45), a preocupaçã o com o patrimô nio histó rico nacional entrou na pauta,
associada ao incentivo à s criaçõ es artísticas, inclusive à s tradiçõ es populares, ligadas ao
folclore, de forma a favorecer o turismo.408
Entretanto, o quadro das instituiçõ es ligadas à cultura era precá rio,
especialmente no interior do Estado. Levantamento de 1970 registrou que apenas 16
dos 74 municípios dispunham de bibliotecas. A maioria pertencia a colégios e apenas
quatro eram municipais. Museu somente havia em Sã o Cristó vã o. Jornal somente em
Capela. Nenhum deles dispunha de revista.409 Na verdade, desde os anos trinta as
cidades do interior vinham se esvaziando culturalmente enquanto cresciam as
atividades da capital, onde, segundo levantamento efetuado pelo Departamento de
Cultura e Patrimô nio Histó rico, em 1970, havia nove entidades culturais:
1. Academia Sergipana de Letras (ASL)
2. Academia Sergipana de Poesia (ASP)
3. Associaçã o de Teatro Amador de Sergipe (ATAS)
4. Associaçã o Sergipana de Cultura (ASC)
5. Clube do Cinema de Sergipe (CCS)
6. Clube Estudantil de Geologia Amadorista de Sergipe (CEGAS)
7. Clube Sergipano de Poesia (CSP)
8. Editora Jovens Reunidos (JOVREU)
9. Grupo de Teatro e Arte (CULTURART)
408
Ver Sérgio Miceli (org). Estado e Cultura no Brasil. Sã o Paulo: Difel, 1984.
409
Cf. levantamento promovido pelo Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico de Sergipe, 1970.
410
O Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico (DCPH) foi criado pelo Decreto-Lei nú mero 405 de 08.04.1970.
Cf. Diário Oficial do Estado de Sergipe, 10.04.1970.
206
cooperaçã o de professores e alunos da UFS. Por esse tempo, os monumentos histó ricos
do Estado foram vistoriados e fotografados, servindo de bases aos relató rios enviados ao
Instituto do Patrimô nio Histó rico Nacional com vista à sua restauraçã o.
A cidade de Laranjeiras foi elevada à condiçã o de Cidade Monumento (1971).
Começou-se a planejar a sua restauraçã o e utilizaçã o com fins turísticos, ideia reforçada
pelo entã o ministro da Educaçã o que, em visita à velha cidade, chamou-a de “Museu a
Céu Aberto”. Depois de tombada, foi incluída no Programa Integrado de Reconstruçã o de
Cidades Histó ricas do Nordeste (1973) e teve vá rios de seus prédios recuperados, ao
lado de algumas Igrejas de outras localidades. No período de 1970-1982, é de ressaltar
que 23 bens culturais foram tombados pelo Estado.411 Na década de 1970 a Biblioteca
Pú blica estadual ganhou nova sede, com vá rias salas para atividades auxiliares, mas
espaço pequeno para o acervo bibliográ fico.
Essa preocupaçã o com o patrimô nio avançou para o campo dos museus. Até
entã o existiam apenas o Museu Histó rico de Sã o Cristó vã o, um pequeno acervo no
Instituto Histó rico Geográ fico de Sergipe e as coleçõ es particulares. Convênio firmado
entre o governo do Estado, a Arquidiocese e a UFS criou o Museu de Arte Sacra de Sã o
Cristó vã o (1973), reunindo peças de grande valor, passando a ser liberado à visitaçã o
pú blica. Nesse mesmo ano, em Laranjeiras, foi inaugurada a Casa de Joã o Ribeiro em
homenagem ao grande historiador filho da terra. Nesta cidade, em 1976 foi criado
oficialmente o Museu Afro-brasileiro, abrigando mobiliá rio, instrumentos de trabalho e
de castigos aplicados aos escravos e uma variedade de outras peças relacionadas com a
presença negra. Em 1978 Laranjeiras ganhou também seu pró prio Museu de Arte Sacra
enquanto o Departamento de Antropologia da UFS organizava seu acervo que funcionou
provisoriamente como Sala de Cultura Popular. Embora com espaço exíguo, os
professores da á rea estiveram a promover diversas exposiçõ es educativas com variadas
temá ticas. Em inícios da década de 1970, o Departamento de Cultura e Patrimô nio
Histó rico (DCPH) promoveu levantamento dos grupos folcló ricos no Estado.412 Pouco
depois, professores do Departamento de Histó ria da UFS, com apoio de magistrados,
começaram a recolher documentos cartoriais em vá rios municípios de Sergipe,
411
Cf. Verô nica Maria Meneses Nunes. Laranjeiras: de cidade histórica a encontro cultural. Busca de elementos para
integraçã o da açã o cultural. Dissertaçã o de Mestrado em Administraçã o de Centros Culturais da Universidade do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro, 1993, anexo 9A, p. 118-122.
412
Ver Terezinha Alves de Oliva (Coord). Manifestações da Lúdica Folclórica em Sergipe. Aracaju: SEC/DCPH, 1975.
207
possibilitando mais tarde (1984) a criaçã o do Arquivo do Judiciá rio. Essa sequência de
atos buscando salvar e organizar o acervo documental, preservar imó veis
representativos de nossa arquitetura do passado, bem como a reuniã o de peças raras em
museus e o levantamento de manifestaçõ es culturais e das tradiçõ es orais, foi possível
pela existência de uma intelectualidade com sensibilidade para aproveitar os recursos
pú blicos, mesmo numa época de obscurantismo político.
A disponibilidade de incentivos serviu também para dinamizar outros setores
culturais. Diante da programaçã o do sesquicentená rio da independência do Brasil
(1972), foi organizado, pela UFS, um Festival de Arte em Sã o Cristó vã o, sob os auspícios
do mecenato da administraçã o federal, incentivando vasto espectro de grupos artísticos:
orquestras, corais, jograis, ballet, teatro, folcló ricos e toda a espécie de apresentaçã o.413
Nã o obstante a atuaçã o da censura bastante ativa, cerceando produçõ es, o
empreendimento provocou também estímulos apreciá veis. Em face dessa iniciativa
revestida de êxito, que passou a repetir-se anualmente por cerca de duas décadas, a
partir de 1976 a Secretaria de Educaçã o, com apoio do Departamento Cultural do
Ministério de Educaçã o, esteve a promover regularmente o Encontro Cultural de
Laranjeiras com a presença de estudiosos da cultura popular de vá rios Estados.
Enfim, os diversos segmentos ligados à cultura, tanto na esfera nacional como na
local, se inseriram na nova orientaçã o cultural, aproveitando os recursos federais. Era
um momento em que a economia encontrava-se em franco crescimento e o Estado
beneficiava-se das políticas oficiais como nunca havia ocorrido em outro período da
Repú blica. Enquanto isso, os militantes de esquerda, cada vez mais debilitados, em face
da repressã o, perdiam espaço. Os divergentes iam diminuindo. Uma das instituiçõ es que,
de alguma forma, mais resistiu foi a Igreja Cató lica, mesmo assim marcada pela divisã o.
Enquanto o arcebispo d. José Tá vora teimava em implementar seus trabalhos voltados
para o social, o bispo auxiliar de Aracaju, d. Luciano Cabral Duarte, cada vez mais
integrado no staff do governo federal, inclusive como membro do Conselho Federal de
Educaçã o, buscava harmonizar a Igreja com a orientaçã o militar. Mas, apó s muitas
divergências internas, o arcebispo faleceu, em abril de 1972, caindo mais uma
resistência à orientaçã o conservadora. Seus auxiliares estrangeiros que trabalhavam em
413
Ver Antô nio Fernando de Araujo Sá . O I FASC e a Política Cultural do Estado Autoritá rio. Cadernos da UFS. História
1. Aracaju, UFS, Dep. de Histó ria/EDUFS, 1995.
208
vá rias paró quias foram-se embora, restando de divergente apenas o bispo de Propriá , d.
José Brandã o de Castro, um tanto afinado com a doutrina da Teologia da Libertaçã o.
De qualquer forma, tanto o aporte de recursos federais quanto a ajuda de ó rgã os
locais, como o BANESE, o governo do Estado, através do DCPH, da EMSETUR e da SEC, e
a Prefeitura da capital incentivaram as iniciativas culturais e artísticas sem precedentes
em nossa histó ria. O Executivo estadual em 1975, através da lei 1962, instituiu o Fundo
de Promoçã o Cultural, mas ficou carecendo de regulamentaçã o e, portanto, sem eficá cia
jurídica. Os benefícios da administraçã o estadual viabilizaram-se através de obras
específicas a partir de demandas circunstanciais, entre as quais a publicaçã o de livros.
A mú sica instrumental e a de câ mara ganharam uma nova sede de sua escola em
1970 com 32 salas, auditó rio, biblioteca e discoteca.414 O nú mero de alunos, que
geralmente era pequeno, cresceu muito, atingindo cerca de 400.415 Organizou-se
orquestra pró pria, tudo contribuindo para os estudos de mú sica prosperarem. É verdade
que a maioria das bandas do interior a essa altura havia fenecido. Em Aracaju, entre
dificuldades continuavam ensaiando e tocando a do 28o BC, do Corpo de Bombeiros, da
Escola Normal e da Assembleia de Deus.416 Por esse tempo a UFS organizou seu pró prio
coral e a Escola Técnica de Sergipe sediou o I Encontro de Corais de Escolas Técnicas.
Vá rios pianistas, violonistas, sopranos ganharam projeçã o e proporcionaram aos seus
ouvintes embevecimento e emoçã o.
Quanto à mú sica popular, prosperou ainda mais. Diante do potencial
preexistente, a realizaçã o dos festivais da Mú sica Popular Brasileira, na TV Record,
alcançou repercussã o extraordiná ria em todo o país.417 Num momento de mobilizaçã o
política, certas letras tornaram-se uma forma de expressã o das mais eficientes na luta
contra o regime autoritá rio. Movidos ou nã o por motivos políticos, os jovens voltavam-
se para mú sica como grande atraçã o. Em Sergipe, uma das mais eloquentes reproduçõ es
desse movimento nacional foi a realizaçã o do I Festival da Cançã o no Colégio Atheneu
em 1969, despertando vocaçõ es e interesses sobretudo por parte dos jovens. Dentro
desse clima propício, os grupos artísticos foram proliferando, em meio à vontade de
414
Cf. Maria de Andrade Gonçalves. O Processo de Formaçã o e as Manifestaçõ es Culturais. In: Diana Maria de Faro Leal
Diniz (coord). Textos para a História de Sergipe. Aracaju: UFS/Banese, 1991, p. 282.
415
Cf. Leozírio F. Guimarã es. Panorama da Mú sica em Sergipe. Arte de Jovens, Aracaju, Jovreu, Ano IV, n. 20, 1970, p. 19.
416
Cf. Leozírio F. Guimarã es. Ob. cit., 1970, p. 19.
417
A repercussã o assumiu maiores dimensõ es a partir do festival de 1966, quando duas mú sicas de protesto
Disparada e Para Dizer Que Não Falei de Flores ganharam a simpatia do pú blico, mas nã o venceram, gerando debate
generalizado.
209
418
Cf. Antô nio Alves do Amaral e Wellington dos Santos (irmã o). Alguns Aspectos Sobre a Mú sica Popular Sergipana.
Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000. p.
43-46.
419
Cf. Antô nio Alves do Amaral e Wellington dos Santos (irmã o). Ob. cit., p. 43-46.
420
Antes de 1965, a iniciativa registrada no ensino da dança foi o Curso de Desenvolvimento Artístico, criado por
Neyde de Albuquerque Mesquita, que também ministrava aulas de teatro, poesia e mú sica. Cf. Dorinha Teixeira
Machado. Dança em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do
Nordeste do Brasil, 2000, p. 49.
421
Dorinha Teixeira Machado. Ob. cit., p. 49.
422
Ver Arquivos do FASC in Cultart. UFS.
210
desafio e acicate para esses personagens que prosseguiram resistindo, levando arte ao
povo “centrado na temá tica liberdade e justiça”.423
Na década de setenta, fizeram-se presentes nos festivais de Arte de S. Cristó vã o,
que se iniciaram em 1972 e foram-se repetindo anualmente. Os ventos da abertura
política, a partir de 1974, ensejaram a organizaçã o de novos grupos. Aos elencos do
Expressionista da Universidade, dirigido pela professora Aglaé Fontes e Clodoaldo
Alencar, e o Experimental, criado em 1975 e dirigido por Carlos Murtinho, vieram
somar-se outros. Primeiro, Opiniã o de Vieira Neto, depois Raízes (1974), idealizado por
Jorge Lins, que nasceu voltado para o teatro infantil, atuando na periferia da capital, em
cidades do interior do Estado, associando-se ao ensino da educaçã o artística e
mantendo-se dentro do Projeto Escola. Em 1977 nasceu Imbuaça, influenciado pelo
Teatro Livre da Bahia, inspirando-se na literatura de cordel, especializado em teatro de
rua com garra e embasamento técnico, fatores que haveriam de fundamentar sua
trajetó ria de sucesso e reconhecimento.424 Por esse tempo, outros foram surgindo como
Mamulengo do Cheiroso (1978) de Aglaé Fontes de Alencar e o Mambembe (1982) sob a
orientaçã o de Virgínia Lú cia Fonseca de Menezes. O fato é que no período de abertura
política, o teatro retomou o vigor manifestado no período 1965-68 e viveu grande
momento de expansã o em Sergipe. Em 1982 os atores fundaram a Federaçã o do Teatro
Amador, indicando suas preocupaçõ es em superar o amadorismo e estabelecer
estrutura mais profissional.
Quanto ao cinema, o período em aná lise foi o mais ativo em estudos e
experiências de filmagens. Enquanto na Primeira Repú blica houve a exibiçã o das
primeiras películas e a proliferaçã o de salas de projeçã o, no período autoritá rio (1964-
1982) as iniciativas de divulgaçã o do período anterior reproduziram-se. Recorde-se que
no início da década de sessenta, o movimento em prol do Cinema Novo estava em
ebuliçã o, inclusive na Bahia com as produçõ es de Glauber Rocha. Foi dentro desse clima
nacional que, em Sergipe, foi criado o Clube de Cinema em 1966, estimulando filmagens,
envolvendo inclusive jovens estudantes do curso secundá rio que fizeram suas
experiências.425 Alguns profissionais partiram para “tomar de cena” paisagens e eventos
423
Ver Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35, maio/1999.
424
Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 36, junho/1999.
425
Cf. Djaldino Mota Moreno. Cinema Sergipano Catálogo de Filmes. Aracaju: Banese, 1988 e Ilma Fontes. Memó ria do
cinema sergipano. Aracaju Magazine, n. 54, dezembro/2000.
211
paisagens e folguedos com colorido alegre e marcante; Gervá sio Teixeira (1952-1972)
deixou marinhas, alagados, paisagens e figuras humanas; Hortência Barreto (1954- )
explorou motivos regionais, incluindo o lú dico; Jorge Luiz (1954- ) representou marcas
sutis da realidade humana; Joubert Morais (1952- ) concebeu sugestivas figuras
abstratas, demonstrando bastante sensibilidade mística; Leonardo Alencar (1940-2016)
mostrou grande habilidade com sua produçã o variada, pintando faces humanas, cavalos,
paisagens e cenas eró ticas; Melcíades (1957- ) dedicou-se a traçar painéis e a
representar o homem nordestino, inclusive cangaceiros; Pithiu (1946- ) elaborou figuras
humanas com tom surrealista. Como seria de esperar, alguns artistas tornaram-se mais
reconhecidos do que outros, assim como variados foram os estilos. Alguns marcaram sua
presença com traços mais está veis, outros foram variando, utilizando novos recursos
técnicos, apresentando novas linguagens. A grande maioria procurou distanciar-se do
academicismo, optando pelo impressionismo ou pelo expressionismo, alguns cultivando
em maior ou menor proporçã o o abstracionismo.
Entre os escritores, a produçã o foi promissora já com a participaçã o de trabalhos
de professores da UFS. Alguns intelectuais, que nã o pertenciam aos seus quadros,
também marcaram presença, como o grande pesquisador Jackson da Silva Lima com a
História da Literatura Sergipana (1971) e O folclore em Sergipe I: Romanceiro (1977),
Acrísio Torres (1966) e Pires Wynne (1970 e 1973) com suas Histó ria de Sergipe.
Orlando Dantas editou A Vida Patriarcal em Sergipe (1980) e Carvalho Déda divulgou
Brefáias e burundangas do folclore sergipano (s/d). Por esse tempo, começaram a
aparecer ensaios e monografias de professores da UFS revelando novas investigaçõ es.
Sem incluir as obras de ciências exatas, nem da á rea da saú de, merecem ser lembrados
Alexandre Diniz, que além de estudar a geografia urbana e rural, liderou um grupo de
estudiosos que elaborou grande Atlas de Sergipe. Beatriz Gó is Dantas analisou algumas
danças folcló ricas (1972-1975) (Taieira, Chegança e São Gonçalo), depois se dedicou à
pesquisa das aldeias indígenas, desde a de Á gua Azeda até a dos Xocó (1980). Maria
Thetis Nunes enfocou o início da fase provincial divulgando a História de Sergipe a partir
de 1820 (1978). Ariosvaldo Figueiredo escreveu sobre O Negro e a Violência do Branco
(1977) e Enforcados (1981). Por esse tempo, foi relevante a iniciativa de alguns
departamentos da UFS em lançar cadernos de pequenas monografias mimeografados.
213
428
Cf. relaçã o fornecida pela Livraria Regina ao Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico (DCPH).
429
Cf. Em Tela. Galeria José Iná cio, Aracaju, s/d.
214
certo alinhamento com o sistema militar durante o seu fastígio. O Jornal da Cidade,
criado em 1972, preservou alguma distâ ncia, até que foi adquirido por Augusto Franco.
O Jornal de Sergipe reapareceu em 1978 e serviu aos oposicionistas. Mas, terminado o
pleito, foi vendido a um grupo pragmá tico que procurou conviver com a vigilâ ncia
oficial, sem perder a credibilidade.
Durante esse tempo chegou a TV. Em 1967 foi lançada a pedra inicial para
construçã o do prédio e, em 1971, sob o controle de um grupo de empresá rios do Estado,
começaram as programaçõ es em cará ter experimental através do canal 4. Era o início de
uma nova fase nos meios de comunicaçã o com a apresentaçã o de imagens nos
noticiá rios, nas novelas e numerosos programas, homogeneizando informaçõ es para
todas as classes, unificando o mercado, aumentando a influência do Sudeste. Em 1975
surgiu o canal 8, denominado Atalaia, de Augusto Franco, que, poucos anos depois,
compraria também o 4, monopolizando o novo meio de comunicaçã o em Sergipe.
Juntando com um jornal e uma rá dio, ampliava-se a influência desse importante grupo
político-empresarial sobre a sociedade sergipana.
Durante o auge do regime militar, a mídia ajudou a alimentar a ideologia
dominante, divulgando seus projetos de impacto e os slogans de “Brasil potência”,
“Ninguém segura esse país”, mas quando as dificuldades econô micas se pronunciaram e
a inflaçã o voltou a subir junto com a dívida externa, tornou-se mais difícil fabricar
ilusõ es. Quando surgiu a campanha pelas Eleiçõ es Diretas, os rá dios, os jornais e as TVs
também contribuíram para a mobilizaçã o política e para o término do Estado
autoritá rio.
O processo de transiçã o do regime autoritá rio para o democrá tico, que vinha se
gestando, ganhou novo alento com as eleiçõ es de 1982. Sendo o primeiro pleito com
voto popular para governador depois de 1962,430 despertou muita animaçã o na
sociedade. A vitó ria dos candidatos da oposiçã o em dez Estados de grande importâ ncia
política e econô mica fortaleceu os grupos mudancistas e enfraqueceu o domínio militar.
As bases políticas do presidente Figueiredo foram se restringindo à s unidades
430
O pleito de 1965 reduziu-se a poucos Estados.
217
431
Ver Jornal de Sergipe, 29.02.1984.
432
Ver Jornal do Brasil, 24.06.1984.
218
433
Cf. Jornal de Sergipe, 16.01. 1985.
219
Em Sergipe o vitorioso pelo voto direto para governador nas eleiçõ es de 1982 foi
o engenheiro e ex-prefeito de Aracaju Joã o Alves Filho434 (PDS). Ao assumir o governo,
em 15.03.83, foi demonstrando autonomia de açã o, afastando-se do grupo Franco, mas
resistia a abrir a sociedade política à participaçã o de novos atores sociais. Alheios à s
demandas do processo democrá tico, os situacionistas provenientes da ARENA
continuavam fechados e predominantes.
Diante dos movimentos nacionais, visando à reconstruçã o da democracia, o novo
governante resistiu o quanto pô de para formar a Aliança Democrá tica. Permaneceu no
PDS, nã o se engajou na campanha das Diretas e estimulou seus aliados a votarem contra.
Com o fortalecimento do movimento da Frente Liberal, tornar-se-ia o ú ltimo governador
a assinar o seu manifesto, assim como fora o derradeiro a aderir à candidatura de
Tancredo Neves, concorrente ao Colégio Eleitoral. Somente em dezembro de 1984
anunciou que iria deixar o PDS e passou a organizar o PFL em março de 1985, já nos
tempos da Nova Repú blica. Essas opçõ es demoradas em parte sã o explicadas pela força
que gozava o ex-governador e deputado federal Augusto do Prado Franco, 435 influente
chefe do partido situacionista e responsá vel pela sua vitó ria.
Ao compor seu secretariado,436 incluiu seis pessoas que lhe haviam servido
quando fora prefeito e concedeu ao grupo Franco duas pastas: Fazenda e Educaçã o. A
partir daí as divergências com o chefe do PDS estadual foram se sucedendo no correr de
1983 e 1984. Com o movimento crescendo em torno de Tancredo Neves, Joã o Alves
recepcionou-o e participou do grande comício de 15 de dezembro. Parecia que o
rompimento com Augusto Franco estava na iminência de concretizar-se, mas o chefe do
Executivo dissimulava: avançava, recuava e assim ia coexistindo numa ambiguidade
exasperante para os peemedebistas que de muito esperavam pela sua saída do PDS.
Faltando uma semana da data marcada para a posse de Tancredo Neves, dizia-se
que o PMDB de Sergipe havia reivindicado 21 dos 57 cargos entã o existentes na á rea
federal.437 Por esse tempo, Joã o Alves começou a formalizar a criaçã o do PFL em Sergipe
434
Sobre Joã o Alves Filho ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe – 1964/1984 (Partidos e Eleiçõ es
num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 266.
435
Sobre a administraçã o de Augusto do Prado Franco, ver José Ibarê Costa Dantas, ob. cit., 1997, p. 232-264.
436
Sobre o secretariado do governo Joã o Alves Filho, ver Jornal de Sergipe, 12.03.1983.
437
Ver Jornal de Sergipe, 09.03.1985.
220
438
Ver Jornal de Sergipe, 04.06.1985. Adversá rios do prefeito davam conta que em inícios de agosto de 1985 cerca de
dez comunistas já haviam tomado posse em cargos da Prefeitura. Cf. Jornal da Cidade, 09 e 10.08.1985.
439
Mais informaçõ es sobre este pleito, ver José Ibarê Costa Dantas. Eleições em Sergipe –1985/2000. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 2002.
221
baixou para 165 com a defecçã o dos que foram fundar o PFL. Em 1986, a nova
representaçã o vitoriosa reduziu-se a 33. No Senado conseguia apenas cinco cadeiras.
A vitó ria do PMDB, na esteira da exploraçã o do plano Cruzado, revelou-se
avassaladora sobretudo nos pleitos estaduais, na medida em que elegeu 22 dos 23
governadores. Sergipe foi a ú nica exceçã o nacional do PFL, graças principalmente ao
empenho de Joã o Alves Filho que deixou de concorrer ao Senado, usou a má quina
pú blica de forma generosa, investiu mais nos prefeitos, sobretudo no sertã o, fez deles
ponta de lança junto à s bases municipais, e evitou a alternâ ncia de poder.
Com a eleiçã o de seu sucessor, ia chegando ao seu termo o mandato de Joã o Alves
Filho (1983-87), que dirigiu o Estado entre o fim do domínio militar e o início da Nova
Repú blica, numa conjuntura agitada e marcada por pressõ es políticas continuadas. De
um lado teve que administrar as demandas do seu partido, o PDS, especialmente do
poderio de Augusto Franco, reclamando maior espaço. De outro, a influência crescente
dos oposicionistas, especialmente do PMDB, respaldado pelas lideranças nacionais.
Apesar dos problemas, foi uma gestã o de sucesso tanto pelas vitó rias políticas, quanto
pelas realizaçõ es materiais. Segundo dados da propaganda oficial, que devem ser vistos
com reservas, tentou superar grandes carências da populaçã o. Nesse sentido, ampliou a
rede de esgoto da capital de 14 para 140 km. Mais que duplicou a quantidade de leitos
da rede hoteleira e construiu mais de 11 mil casas populares. Duplicou a quilometragem
de rodovias pavimentadas, o efetivo militar e mais do que duplicou a extensã o das
adutoras.
No interior, empenhou-se em proporcionar condiçõ es para o sertanejo conviver
com os períodos de seca. Construiu dez mil cisternas, cerca de mil poços artesianos e
promoveu a irrigaçã o pú blica de quatro mil hectares de terra.440 Entretanto, a falta de
avaliaçõ es abalizadas de seus projetos limitou o sucesso. Numerosos poços artesianos e
cisternas inviabilizaram-se.
No setor educacional, o saldo foi modesto, senã o negativo. Negociou a Secretaria
com o grupo Franco e, durante os primeiros dois anos, cerca de oito titulares se
sucederam, alguns dos quais sem qualquer identificaçã o com a á rea, degradando a
má quina burocrá tica e sobretudo o ensino. Somente a partir de março de 1985, um novo
440
Por que João Alves (Livreto de propaganda do governo Joã o Alves, distribuído por ocasiã o das eleiçõ es de 1990).
222
441
Cf. João Gomes Cardoso Barreto, depoimento ao autor, em 02.02.1999. Entre os críticos, ver Gazeta de Sergipe, 11 e
12.05.1986.
442
Segundo um economista que estudou o período, Sergipe tornou-se o reino encantado das empresas de consultorias.
Nilton Pedro da Silva. Estado e Região, Contribuição ao Estudo da “Modernização Autoritária” do Nordeste Brasileiro.
Tese de Doutorado em Economia, Aracaju, 1994, p.199.
443
O governo Joã o Alves Filho proporcionou dois “trens da alegria”. Ambos em tempos de campanha eleitoral. O
primeiro em julho de 1985 e o outro em julho 1986. Estima-se que ao todo foram contratados cerca de 8.000
funcioná rios. No Estado de Alagoas teriam sido 10.000 os admitidos pelo governador Suruagy. Cf. Jornal do Brasil,
19.08.1986.
444
Segundo noticiá rio da imprensa, somente para aprovaçã o de um projeto de suplementaçã o de recursos, o governo
teria pago ao deputado José Vieira dois milhõ es de cruzados e para o deputado José Ribeiro três milhõ es de cruzados.
Cf. Jornal da Cidade, 20.08.85 e Jornal de Sergipe, 10.08.1986.
445
Deixou o Estado em situaçã o financeira com dívidas de difícil rolagem em face dos contratos de escalamento até o
ano 2017. Cf. Jornal de Sergipe, 24-25.06.1987. O parecer de conselheiro do Tribunal de Contas, Gilson Cajueiro de
223
446
Holanda, de 07.05.1987, manifestou-se pela rejeição das contas do governo do exercício financeiro de 1986.
Sobre a trajetó ria política de Antô nio Carlos Valadares, ver José Ibarê Costa Dantas. Eleições em Sergipe – 1985/2000.
Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2002.
447
Sobre as relaçõ es políticas do governo Valadares com o PT, ver Marcelo da Silva Ribeiro. PT saudações (um
depoimento para petistas e não petistas). Aracaju: Sercore, 2003.
448
Ver Gazeta de Sergipe, 21.05.1987.
449
Folha de São Paulo, 17.04.1987, p. A-6.
224
aumentando450 e os salá rios ficavam cada vez mais contraídos, essa situaçã o favorecia o
caixa do governo, mas as pressõ es de vá rias categorias se intensificavam. Manifestaçõ es
na Assembleia e nas ruas, críticas acerbas, movimentos do Sem Teto e dos Sem Terra,
greves dos professores, tudo passou a fazer parte do dia a dia do chefe do Executivo
estadual, enquanto a polícia nem sempre exercitava a tolerâ ncia. Para garantir a rotina
da má quina administrativa, através do empenho das chefias, o governador concedeu
aumentos seletivos, favorecendo comissionados, distanciando-os ainda mais da massa
de servidores. O treinamento de pessoal diminuiu, enquanto se desarrumava a estrutura
organizacional de ó rgã os vitais para o acompanhamento da vida econô mica e funcional
do Estado, chegando a desativar alguns deles.451
Como ú nico governador eleito do PFL, empenhou-se para que o presidente José
Sarney nomeasse Joã o Alves para algum ministério como uma forma de transferir
verbas para Sergipe. Seu pleito foi atendido em inícios de agosto de 1987, quando aquele
ex-governador foi indicado para o Ministério do Interior. Com efeito, embora a situaçã o
do Estado nã o melhorasse logo, ao fim do primeiro ano de gestã o, os convênios com o
Ministério de Habitaçã o, Urbanismo e Meio Ambiente estabelecidos para a construçã o
de 6.423 casas populares ajudariam a dinamizar a economia local. Posteriormente os
projetos Campo Verde, Padre Cícero, como primeiros de uma série patrocinada pelo
Ministério do Interior, tenderiam a favorecer a situaçã o financeira do governo estadual.
Por esse tempo, a á rea política agitou-se com as denú ncias de irregularidades na
Prefeitura de Aracaju, veiculadas pela imprensa e por políticos. Nã o obstante realizar
uma administraçã o com grande aceitaçã o popular,452 Jackson Barreto passou a ser
acusado de malversaçã o do dinheiro pú blico. Visando amortecer as críticas, o prefeito
fez algumas demissõ es, mas o Tribunal de Contas persistiu com a apuraçã o e pediu
intervençã o. O governador Antô nio Carlos Valadares acompanhou o processo sem
demonstrar interferências e a Assembleia aprovou-a por 13 x 11, sob o empenho dos
deputados do PT e do PL, contando também com votos do PMDB e talvez do PFL, nã o
450
O índice de inflaçã o nacional passou de 124,3% em 1986 para 415,8% em 1987. Cf. Conjuntura
451
dos trabalhadores, Jornal do Brasil, 27.06.1992.
O IESAP, que era encarregado da coleta de dados e da política de planejamento, reduziu drasticamente suas funçõ es
bá sicas. A Revista Ecos deixou de circular e até o Anuário Estatístico do Estado, editado por 17 anos consecutivos, foi
desativado de 1987 a
452
1992.
Ver anú ncio onde informava tratar-se do prefeito com maior índice de aceitaçã o do país in Jornal da Cidade,
14.08.1988.
225
454
Ver Marcelo da Silva Ribeiro. PT saudações (um depoimento para petistas e não petistas). Aracaju: Sercore, 2003.
227
455
Aloísio Mercandante. Revista Teoria e Debate. Sã o Paulo, n. 10, abril a junho de 1990.
456
Para o BTNF a inflaçã o de março teria sido da ordem de 84,32% e a de abril 3,29%. O IBGE calculou a de março em
84,32%, a de abril em 44,80% e a de maio em 7,87%. A Fipe divulgou a inflaçã o de maio em 3,29%.
457
Ver Jornal de Sergipe, 16.05.1990 e Gazeta de Sergipe, 16.05.1990.
458
Ver O Estado de São Paulo em 22.03.1992.
459
Noticiou-se que o presidente do Banco do Brasil, Lafayete Coutinho, teria liberado recursos para determinados
municípios, onde deputados do PFL mantinham influência, visando assegurar o voto contra possível pedido de
impeachment. Cinform, 17-23.08.1992.
228
Imprensa e o DCE da UFS, entre outros ó rgã os, promoviam passeatas, incorporando-se
assim ao movimento nacional que propugnava a saída do governante. O mote dos
oradores era o impeachment de Collor e o fim da corrupçã o.460 Pesquisa realizada pelo
Dataform detectou que 87,5% dos aracajuanos defendiam o imediato afastamento de
Fernando Collor da Presidência.461 À s vésperas da votaçã o no Congresso, Albano Franco
e Joã o Alves, que até entã o professavam lealdade, negaram-lhe apoio. A Câ mara dos
Deputados conseguiu comprovar um ilícito penal para respaldar o impeachment e
aprovou-o em 29.09.1992, resultando no afastamento do presidente da Repú blica no
início do mês seguinte (02.10.1992). Em meio à batalha judicial que se seguiu, quando o
Senado preparava-se para cassar-lhe os direitos políticos, o chefe do Executivo
apresentou sua carta de renú ncia. Era 29.12.92, a sorte de Fernando Collor estava
consumada, mas as controvérsias continuavam.
O governador Antô nio Carlos Valadares, exercitando sua habilidade de
articulador, cedo começou a montar uma chapa consensual com vistas ao pleito de 1990.
O grande problema inicial era a existência de dois postulantes fortes, Albano Franco
(PRN) e Joã o Alves Filho (PFL). Mas o primeiro desistiu, e a campanha tornou-se mais
fá cil, sobretudo porque os oposicionistas participaram desunidos em duas frentes: a
“Uniã o Contra o Acordã o” formada pelo PDT + PCB e a “Frente Sergipe Popular”,
envolvendo PT + PC do B + PSB + PV.462 Concorreu também uma fraca candidatura do
PTR. Decorrido o pleito, Joã o Alves voltou a ser eleito governador apoiado por uma
enorme aliança (PFL + PDS + PMDB + PDC + PL + PCM + PMN + PRN + PRP e PSDB)
enquanto Albano Franco retornava ao Senado.
O resultado satisfazia também Valadares, responsá vel pela montagem do
“acordã o”. Rejubilou-se com sua vitó ria, elegeu um sobrinho para a Câ mara dos
Deputados e outro parente para a Assembleia Legislativa, apó s uma administraçã o de
políticas miú das, sem projeto de desenvolvimento para o Estado, a nã o ser a defesa do
Polo Cloroquímico. De certo modo, ganharam ainda os Teixeira que, mais do que nunca,
viram-se integrados na política situacionista. Enfim, venceram o patronato urbano e
rural e todos os grupos conservadores da classe dominante, associados numa das
maiores coalizõ es políticas da histó ria de Sergipe. Do outro lado, perderam os setores de
460
Ver Gazeta de Sergipe, 27.08.1992.
461
Cinform, 31.08 a 06.09.1992.
462
Ver Jornal de Sergipe, 22.06.1990. Ver Jornal da Cidade, 03.02.1988 e Jornal de Sergipe, 03.02.1988.
229
esquerda que permaneceram fracionados e mais uma vez assistiram, sem grandes
avanços, ao triunfo dos adversá rios. No conjunto, foi um resultado de mudanças
inexpressivas.
Realizadas as eleiçõ es de 1990, foi chegando ao final a gestã o de Antô nio Carlos
Valadares. Depois de passar o primeiro ano premido por dificuldades financeiras,
desfrutou de alguma folga por alguns meses subsequentes, mas os problemas voltaram a
acentuar-se até que o governador, em janeiro de 1989, promoveu reforma no sentido de
diminuir despesas com a má quina administrativa e ampliar seu controle político sobre o
setor pú blico. Extinguiu dez das 25 secretarias de Estado, duas autarquias, duas
empresas e uma fundaçã o.463 A expectativa do governo era de economizar um bilhã o de
cruzados por mês com esse corte. Dos antigos secretá rios, 11 deles foram mantidos e
três foram transferidos para o segundo escalã o.464 Ao tentar adquirir mais autonomia,
estreitou seu círculo de influência e nã o conseguiu sustentar a independência esperada.
É certo que, a curto prazo, tanto o setor do PFL controlado por Joã o Alves Filho, quanto
os peemedebistas, nos quais duas facçõ es disputavam poder,465 perdiam terreno,
provocando insatisfaçõ es na sua base de sustentaçã o. Fortalecido, Joã o Alves Filho
tratava seu aliado como um subalterno e continuou demonstrando insatisfaçã o em face
das atençõ es dispensadas aos seus amigos. Desconfortá vel no PFL466 e carente de apoio
partidá rio, Valadares foi-se contentando com pequenas realizaçõ es nos povoados e
municípios, tentando consolidar sua base política. Deu prioridade à s obras voltadas para
o lazer: giná sios de esportes, incentivos à casa de espetá culos artísticos. Em Aracaju, o
Augustu’s, o forró dromo Gonzagã o e o Parque dos Cajueiros sã o frutos dessa época. No
ú ltimo ano de sua administraçã o, conseguiu recuperar estradas, pavimentar rodovias e
recompor parte das perdas salariais dos servidores estaduais. Mas seu maior feito foi a
construçã o de aproximadamente 25 mil casas populares. No meio rural, atuou
respaldado no Projeto Campo Verde empreendendo pequenas obras.467 Expandiu a
eletrificaçã o rural e levantou 20 estaçõ es rodoviá rias, quase todas em sedes
463
O Instituto de Estatística Social e Pesquisa de Sergipe, IESAP, teria sido transformado na Fundaçã o Estadual de
Estatística e Geografia. Cf. Jornal de Sergipe, 08 e 09.01.1989.
464
Além das secretarias, a má quina do Estado persistiu com “10 autarquias, 10 sociedades de economia mista, sete
fundaçõ es e três empresas pú blicas ligadas à administraçã o estadual.” Jornal de Sergipe, 01.06.1990.
465
As facçõ es que disputavam a hegemonia do PMDB eram comandadas por Antô nio Carlos Franco e José Carlos
Teixeira.
466
Comentou-se que o governador teria pensado em sair do PFL. Ver Gazeta de Sergipe, 19.03.91.
467
Jornal da Cidade, 15.03.1991.
230
de Fora. Apesar disso, o novo presidente inclinou-se um tanto para a esquerda, mas
ampliou a influência militar na sua administraçã o, e governou apoiando-se na caserna.485
No Congresso Nacional, a açã o dos partidos passou a ser orientada pelas
perspectivas eleitorais de 1994, apesar de faltarem ainda dois anos para a nova eleiçã o
presidencial. Um exemplo ilustrativo ocorreu com o plebiscito sobre a forma de governo
que levou alguns chefes partidá rios a mudarem de posiçã o diante da perspectiva de
serem eleitos. Por outro lado, a revisã o constitucional que deveria corrigir os excessos
populistas dos constituintes de 1988 e adequar as leis à nova realidade mundial, foi
inviabilizada pelos partidos de esquerda com o estímulo de setores organizados da
sociedade civil, inclusive OAB, UNE e CNBB. O ú nico ponto aprovado foi a reduçã o do
mandato do presidente da Repú blica de cinco para quatro anos. O processo de
modernizaçã o das instituiçõ es encontrava dificuldades para ampliar-se.
Por esse tempo, o Congresso ainda mais se debilitava com denú ncias de
corrupçã o, especialmente contra o grupo responsá vel pelo orçamento. Foi instaurada
CPI mista e, ao fim, foi proposta a puniçã o de 18 dos seus integrantes, mas apenas cinco
parlamentares foram cassados. Enquanto isso, o governo Itamar Franco transcorria
inseguro, mudando de ministros com frequência e relacionando-se mal com deputados e
governadores sobretudo do PMDB, contribuindo para agravar o quadro. A inflaçã o
atingiu o patamar de 1.157% em 1992 e continuava aumentando. As contas pú blicas
pioravam. Como fó rmula de ir aliviando os compromissos do Estado intervencionista, o
governo fez importantes privatizaçõ es, inclusive da Companhia Siderú rgica Nacional, em
meio à comoçã o dos nacionalistas estatistas e/ou sindicalistas. Mas eram passos
insuficientes para resolver a questã o dos gastos pú blicos que estendia seus efeitos em
vá rios campos, inclusive na política monetá ria em descontrole, com as autoridades se
restringindo praticamente a arbitrar taxas de juros. A administraçã o como um todo
também carecia de controle, na medida em que o governo se revelava incapaz de
combater a corrupçã o, conforme parecer do Tribunal de Contas de Uniã o.486
Em Sergipe, Joã o Alves Filho movimentava-se num quadro mais diversificado e
favorá vel. Apesar dos constrangimentos por ocasiã o do afastamento de Collor (outubro
485
Itamar chegou a ter nove ministros militares, superando os sete dos tempos do governo Sarney. Ver Jorge
Zaverucha. Frágil Democracia. Collor, Itamar, FHC e os Militares 1990-98. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2000, p.
305.
486
Cf. O Estado de São Paulo, 18.04.1993.
234
487
O mais combativo foi o deputado Bosco Mendonça.
488
Em 1993 o conselheiro Tertuliano Azevedo emitiu parecer contrá rio à aprovaçã o das contas do governo Joã o Alves
Filho relativas ao ano de 1992, alegando vá rias irregularidades. Mas a maioria aprovou-as. Ver O Estado de Sergipe, 16
a 22.08.1993.
235
Essas iniciativas foram, em geral, bem recebidas. Mas outras foram criticadas,
entre as quais a forma de encaminhar o projeto de irrigaçã o do Platô de Neó polis.
Situado a uma altura superior a 100 metros do leito do Rio Sã o Francisco, envolvendo
uma á rea de 7.200 hectares, voltado para a produçã o de fruticultura de exportaçã o e
agroindú stria, o empreendimento foi-se revelando controvertido. O clima, o custo
energético da irrigaçã o e a escolha dos parceiros foram algumas das questõ es levantadas
pelos seus opositores. Muito mais problemá tica foi a aposta no Polo Cloroquímico onde
investiu cerca de 20 milhõ es na infraestrutura do projeto489 quando as perspectivas de
viabilizaçã o se tornavam remotas.
Na questã o da á gua, cuidou do abastecimento de algumas cidades do interior do
Estado e assegurou que “Aracaju, a partir de 1994, era a capital brasileira melhor
abastecida de á gua”. Dois anos depois, a capital voltou a sofrer sérias restriçõ es do
precioso líquido. Realizou açõ es eficazes de desfavelamento na capital e, na á rea da
saú de, reformou vá rios centros, ampliou o nú mero de leitos, mas, a exemplo da primeira
administraçã o, fez da secretaria instrumento de clientelismo eleitoral. Situaçã o
semelhante ocorreria com a educaçã o. Reformou prédios, aumentou o conjunto das
matrículas, mas entregou a direçã o da pasta a políticos ou a técnicos pouco credenciados
para a á rea. A exemplo da gestã o anterior, afirmou-se como tocador de obras materiais,
preocupado com a estrutura física, mas faltaram açõ es institucionais que indicassem
crença na importâ ncia da educaçã o como afirmaçã o da cidadania. Na á rea
administrativa, deixou de fazer a reforma prometida no seu Plano Plurianual de
Governo, contribuiu para acentuar a desarticulaçã o entre as pastas e legou ao seu
sucessor um quadro aquém do esperado.490 Na segurança, os índices nã o foram
animadores. Em pesquisa sobre a média de mortes violentas entre 1990 e 1993, Sergipe
figurou no 11º lugar491 no conjunto dos Estados da federaçã o, ao tempo em que medrava
“A Missã o”, grupo criado dentro da Polícia Militar para exterminar o roubo de gado, mas
que teria cometido “bá rbaros crimes”, segundo denú ncia da imprensa.492
A exemplo do primeiro mandato, Joã o Alves Filho deixou o Estado bastante
endividado e com alguns ó rgã os em crise. O Instituto de Previdência (IPES) estava em
489
Cf. Projeto Capital, Principais ações do Governo de Sergipe na Capital. Aracaju, 1994.
490
Ver declaraçõ es do entã o secretá rio de Educaçã o in Cinform, 7 a 13.08.1995, p.7.
491
Sergipe ficou com 22,32 mortes violentas por cada 10 mil habitantes, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa
Econô mica Aplicada (IPEA) divulgada pela Folha de S. Paulo, 19.02.1997 e Jornal da Cidade 22.02.1997, p.B-15.
492
Cinform, 12 a 18.06.2000.
236
situaçã o financeira insustentá vel apó s sofrer abusos e reduçã o da contribuiçã o pú blica.
O Banco do Estado de Sergipe (BANESE) encontrava-se desestruturado e com enormes
dificuldades apó s sua administraçã o mais desastrosa. O chefe do Executivo emitiu letras
financeiras para serem honradas pelo futuro governador e entregou o tesouro estadual
comprometido com alto percentual da receita para pagamento de pessoal.493
Apesar dessas deficiências e de suas apostas voluntariosas em custosas obras,
algumas das quais aparentemente de escassa utilidade, persistiu como um
administrador interessado em abrir perspectivas para o crescimento do Estado, num
momento em que a produçã o extrativa de petró leo diminuía e os setores produtivos
declinavam como indica a queda sucessiva do PIB estadual nos três primeiros anos do
seu governo.
No plano nacional, o presidente Itamar Franco prosseguiu criando insegurança,
com rompantes populistas, falando em renunciar para antecipar eleiçõ es e
demonstrando limitada compreensã o do funcionamento da economia.494 Em menos de
nove meses, três ministros foram substituídos na Fazenda. O quarto titular foi Fernando
Henrique Cardoso, que atraiu um grupo de técnicos competentes e passou a buscar
alternativas. Renegociou a dívida externa, conseguiu a aprovaçã o do Fundo Social de
Emergência mediante a promessa de renegociaçã o da dívida de alguns bancos estaduais
e, em dezembro de 1993, anunciou a existência de novo plano de combate à inflaçã o.
Apesar das incertezas, a implementaçã o do Real foi obtendo sucesso e, ao final de 1994,
o desempenho da economia já dava sinais de alento. Por esse tempo, a dívida externa
continuava elevada, a inflaçã o declinava, o PIB crescia e até o desemprego aberto
diminuía um pouco. Diante desse quadro, a candidatura de Cardoso tornou-se
irreversível, levando ao seu afastamento do Ministério em julho de 1994. Era substituído
por Rubens Recú pero que, em setembro de 1994, deixava o cargo para ser ocupado por
Ciro Gomes. Ao final de seu governo, Itamar Franco elegia seu sucessor e terminava o
mandato como um presidente bem-sucedido.
493
Segundo revelaçã o do deputado Augusto Bezerra, líder do PMDB, na tribuna da Assembleia, a administraçã o Joã o
Alves Filho, entre 1990 e 1994, contraiu empréstimos em valores correspondentes a R$ 283.542.000,00. Gazeta de
Sergipe, 23.02.2000. O total dos empréstimos dos dois mandatos (1983-87 e 1991-95) teria sido de R$
589.100.000,00. Cf. Jornal da Cidade, 23.02.2000, p.A-3.
494
Seu pedido para que o fusquinha voltasse a ser fabricado e suas reaçõ es contra a alta de juros sã o ilustrativos de
sua postura bisonha.
237
495
Ver Brasilio Sallum Jr. O Brasil sob Cardoso: neoliberalismo e desenvolvimentismo in Tempo Social. Revista de
Sociologia da USP, v. 11, n. 2, 1999, ed. 02-2000, p.41.
496
Sobre a administraçã o do presidente Fernando Henrique Cardoso, ver Bolívar Lamounier, Rubens Figueiredo
(orgs.). FHC: A Era FHC, um balanço. Sã o Paulo: Cultura Editores Associados, 2002.
238
497
Fundo Escola consiste na remessa de recursos diretamente para conselhos das escolas, sem a intermediação dos
governadores e/ou prefeitos.
498
“A distribuiçã o dos recursos estaduais e municipais é feita tomando como critério o aluno. Obriga governadores e
prefeitos a aplicar 25% de suas receitas em educação: 15% para o ensino fundamental, 60% para salá rios e o restante
para investimentos e manutençã o. Por enquanto, sã o destinados R$ 315,00 por aluno/ano. Quando nã o atinge esse
teto, a Uniã o completa”. Paulo Renato Souza, O Fundef e a fiscalizaçã o dos recursos do ensino. Folha de S. Paulo,
20.06.1999.
499
Sobre o secretariado de Albano Franco indicado em 1995, ver Jornal da Cidade, 31.12.1994 e 06.07.1995.
240
500
Levantamento efetuado pelo Tribunal de Contas teria constatado que somente na Governadoria existiam 728
(setecentos e vinte oito) cargos em comissã o, segundo o conselheiro Tertuliano Azevedo. Cf. Jornal da Cidade,
05.05.1996 e Cinform, 13 a 19.05.1996.
501
Albano Franco. Um Projeto para Sergipe. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs.) Fórum Pensar
Sergipe. São Cristó vã o/SE: UFS, 1999, p. 118 e Gazeta de Sergipe, 27.05.1999.
502
“A diferença de R$ 34 milhõ es foi ganha pelo Estado, a título de subsídio, em razã o do Protocolo de Acordo assinado
com a Uniã o em setembro de 1996 que previa a correçã o da dívida mobiliá ria pelo IGP-DI em substituiçã o a
atualização que estava sendo feita praticamente a juros de mercado”. Albano Franco, palestra citada, proferida em
28.05.1999, Aracaju, 1999, p. 6.
503
Gilvan Manoel in Jornal da Cidade, 04.12.1997. Sobre o valor liberado para cada município à s vésperas do período
eleitoral, ou seja, em julho de 1998, ver Jornal da Manhã, 26 e 27.07.1998.
504
Sergipe Tem Futuro. Programa de Governo Albano Franco, É tica e Desenvolvimento, p. 9.
241
governo anterior, mas ainda se mostrava acanhado. Todavia, com recursos do Prodetur
melhorou as condiçõ es sanitá rias da Atalaia e duplicou a rodovia dos Ná ufragos.
Concluiu a Linha Verde, ampliou adutoras e realizou outras obras em parceria com a
Prefeitura da capital, entre as quais a construçã o de um novo mercado e restauraçã o do
velho.
Na educaçã o, reduziu o nú mero de diretores e secretá rios das escolas e expandiu
o segundo grau, abrangendo todos os municípios. Implementou o Programa de
Qualificaçã o Docente (PQD) em parceria com a UFS, elevando o nível dos professores do
interior. Aumentou as matrículas, construiu novas escolas505 e diminuiu o índice de
reprovaçã o.506 Mas, diante das denú ncias contra seu secretá rio da educaçã o, sobre a
forma como gastava os recursos pú blicos e ampliava o Partido Popular Socialista (PPS),
ex-PCB, incomodando os correligioná rios do chefe do Executivo, este o substituiu.507
Na á rea de saú de, diante da demanda crescente, ampliou hospitais na capital, mas
nã o evitou o fechamento de casas de saú de no interior.508 A situaçã o foi sendo minorada
pelas açõ es do governo federal.
No setor rural, a citricultura na regiã o sul do Estado declinou com as secas, as
pragas e os baixos preços do suco de laranja. Mas o governo atuou no Platô de Neó polis,
afastando desinteressados e/ou especuladores, expandiu a eletrificaçã o rural e concluiu
as obras do Jacarecica II em Itabaiana. Exercitou a tolerâ ncia com o Movimento Sem
Terra (MST) em face de invasõ es e saques, e destinou-lhe á rea irrigá vel (Jacaré-
Curituba) estimada em 3.200 hectares.509 Pelos diversos municípios, dados oficiais
falavam da construçã o de cerca de 10 mil casas populares e investimentos para
melhorar o fornecimento de á gua, sobretudo na capital.
Na esfera política, gozou de maioria na Assembleia Legislativa e conseguiu
aprovar suas proposiçõ es. Mas, na Câ mara dos Deputados, dos oito parlamentares de
505
“A matrícula nas escolas pú blicas teria passado de 233 mil (1994) para 292 mil alunos (1998), a quantidade de
salas de aula teria aumentado 12% e o nú mero de escolas disponíveis em 17%.” Albano Franco. Um Projeto para
Sergipe in José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs.) Fórum Pensar Sergipe. São Cristó vã o/SE: UFS, 1999, p.
122.
506
Segundo censo realizado pelo MEC, o Estado deixou de apresentar a maior taxa de reprovaçã o do país, de 29,9%. Cf.
Jornal da Cidade, 14.07.1997. Mas o fez reduzindo a média mínima de aprovação de 5,0 para 4,1.
507
O governo Albano Franco, na época (09.1999), substituiu três secretá rios: Segurança, Fazenda e Educação.
508
O nú mero de hospitais pú blicos reduziu-se de 46 (1990) para nove em 1997. Enquanto isso, os particulares
cresciam de 34 para 42, conforme informaçõ es do deputado Bosco Mendonça, reproduzindo dados do Anuá rio
Estatístico da Fundação Nacional de saú de. Jornal da Cidade 07-08.12.1997, p. A-3.
509
Albano Franco. Um Projeto para Sergipe. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs.) Fórum Pensar
Sergipe. São Cristó vã o/SE: UFS, 1999, p. 122.
242
Sergipe, raros eram aqueles que lhe demonstravam lealdade, apoiando as reformas de
iniciativa da Presidência da Repú blica. Enquanto membros do PFL nacional revelavam-
se leais e aprovavam as proposiçõ es do Executivo federal, em Sergipe Joã o Alves Filho
(PFL) manifestava-se contra as mudanças, ao tempo em que criava dificuldades para o
governador com suas exigências. As pressõ es amenizaram-se apó s o pleito de 1996
quando o grupo Alves afastou-se de Albano Franco queixoso pela falta de empenho
governista à candidata Maria do Carmo Alves na campanha para Prefeitura da capital.
Liberto dessa aliança, o governador negociou com seu mais tradicional adversá rio,
Jackson Barreto, que se candidatou a senador.510 Com esse apoio, Albano Franco
concorreu à reeleiçã o no pleito de 1998 e enfrentou dois ex-governadores e ex-
correligioná rios (Joã o Alves e Valadares), entre outros postulantes. Ao fim, foi para o
segundo turno com Alves e derrotou-o. Ademais, fez maioria na Assembleia, elegeu o
maior nú mero de prefeitos e prosseguiu gozando de ampla influência junto aos tribunais
estaduais e à cú pula do Ministério Pú blico. Enquanto assistia à derrota de Jackson
Barreto para Maria do Carmo Alves na eleiçã o para o Senado, testemunhava a vitó ria de
dois jovens sobrinhos, um para a Câ mara dos Deputados e outro para a Assembleia
Legislativa. Era a influência política da família Franco que prosseguia através de uma
nova geraçã o, proporcionando-lhe continuidade rara na Histó ria de Sergipe.
Ocorrência negativa para Sergipe foi a transferência, a partir de 1995, de alguns
ó rgã os de empresas estatais de Aracaju para Salvador: Superintendência do Patrimô nio
da Uniã o (SPU), do Almoxarifado da Petrobras, do Cesec do Banco do Brasil e da
Superintendência do INSS. Com a extinçã o da Telergipe, que foi incorporada à Telemar,
esta empresa passou a administrar os serviços de telefonia fixa fora do Estado, gerando
problemas e irritaçã o por parte dos sergipanos. Essas medidas da política modernizante
do governo federal, além de prejudicarem a economia do Sergipe, afetavam a autoestima
dos seus habitantes que viam renovar a dependência em relaçã o à Bahia. Enfim, o
governo Albano Franco dispô s de muitos recursos, melhorou as finanças do Estado, mas,
carente de autoridade, exerceu uma política patrimonialista, marcada de ajeitamentos
nem sempre compatíveis como o bem pú blico.511
510
Sobre a negociaçã o para o acordo dos Franco com Jackson Barreto, ver Ká tia Santana. Ecos da Política. Aracaju:
Instituto Desenvolver, 2001, p. 44-60.
511
No governo de Albano Franco, houve vá rias denú ncias por parte da imprensa local e nacional, OAB, setores da
Igreja Cató lica, Procuradoria Federal, decorrentes de suas prá ticas eleitorais, inclusive compras superfaturadas, obras
inacabadas, pagamento controvertido à Construtura Celi. Ver Gazeta de Sergipe, 01.12.98; Jornal da Cidade,
243
O sistema coercitivo cresceu e ganhou maior importâ ncia, mas sua eficá cia nã o
acompanhou a elevaçã o dos seus custos. O Tribunal de Contas, criado para coibir abusos
dos administradores pú blicos, tornou-se muito dispendioso e sua atuaçã o técnica teria
sido desviada para açõ es políticas, gerando insatisfaçõ es. Nã o foi por acaso que sua
extinçã o vinha sendo defendida até por parlamentares situacionistas.
O Judiciá rio criou os Juizados Especiais, a grande inovaçã o do século, facilitando
o acesso dos grupos de menor recurso. Mas os elementos influentes na política e/ou na
economia, envolvidos em grandes causas, em geral continuaram com tratamento
diferenciado. Em Sergipe, o referido setor melhorou bastante sua infraestrutura.
Construiu palá cios e fó runs em comarcas acima dos padrõ es da sociedade e
informatizou-se. Os magistrados ganharam prerrogativas com a Constituiçã o de 1988,
maior autonomia e os seus salá rios ocuparam o topo dos servidores pú blicos, mas o
desempenho continuou alvo de reclamaçõ es. Sem controle externo, o nepotismo
ampliou-se como nunca513 e a lentidã o persistiu. Carente de impessoalidade em vá rias
decisõ es, sua contribuiçã o para o avanço da democracia ficou aquém do esperado.514
O Ministério Pú blico, redefinido pela Constituiçã o de 1988 como um poder
específico, estruturou-se e contribuiu muito para as conquistas da cidadania. Mas além
da crise interna nos anos noventa, que o desgastou, a atuaçã o de determinados
procuradores da capital nem sempre foi exemplar. Alguns se revelaram pouco
empenhados em debilitar o clima de impunidade quando envolviam interesses de
setores influentes. Houve casos em que chegavam “a advogar contra os interesses do
pró prio Estado”.515 Enquanto isso, as denú ncias da Procuradoria Federal contra
autoridades constituídas geralmente eram arquivadas pelos tribunais superiores. Por
coincidência, os processos contra os ex-governadores Albano Franco e Joã o Alves 516
tiveram o mesmo destino, o arquivamento pelo Superior Tribunal de Justiça. O Estado de
Direito careceu de maior abrangência.
Com os ó rgã os superiores tolerantes com os setores dominantes e o Executivo
com excesso de atribuiçõ es, o Estado tornou-se mais impotente diante das demandas
513
Cf. Cinform, 29.11 a 05.12.1999, 12 a 18.04. 1999, 14 a 20.06.1999.
514
Sobre os procedimentos dos magistrados, ver Dió genes Brayner in Gazeta de Sergipe, 02.08.2003 e Cinform, 10 a
16.05.1999.
515
Sobre o assunto, ver Fausto Leite na coluna Data Vênia in Jornal da Cidade, 05.12.2003 e Cinform, 22 a 28.12.2003.
516
Cf. Cinform, 07 a 13. 08.2000, Gazeta de Sergipe, 08.08.2000 e Folha de S. Paulo, 08.08.2000.
245
517
Segundo reportagem de semaná rio local, toda a complexa estrutura da Segurança Pú blica, composta pela Polícia
Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Hospital da Polícia Militar, Instituto de Criminalística, Instituto de
Identificaçã o e Instituto Médico Legal recebia mensalmente pouco mais de R$ 4,9 milhõ es. Desse montante, R$ 4,5
milhõ es eram destinados a pessoal e os R$ 400 mil restantes para custeio e investimento de toda a SSP. A Polícia
Militar, que tinha mais de 4.600 homens, recebia mensalmente R$ 120 mil. Enquanto isso, a Casa Civil recebia para
custeio R$ 800 mil. Aliá s, enquanto a Secretaria de Segurança Pú blica recebia 4,7% do orçamento do Estado, a Casa
Civil consumia 16% desse bolo, cf. Cinform 14-20.04.1997.
518
Durante a gestã o do secretá rio de Segurança Jugurta Barreto teriam havido 573 fugas. Cf. Dió genes Brayner in
Gazeta de Sergipe, 18.11.2003.
519
Cf. Fernando Luiz Abrucio. Os Barões da Federação. Sã o Paulo: Hucitec, 1998, p. 97.
246
520
Rui de Britto Á lvares Affonso. Federalismo no Brasil, Reforma Tributária e Federação. Sã o Paulo: FUNDAP/UNESP,
1995, p. 58.
247
QUADRO XI
INDICADORES ECONÔ MICOS (BRASIL –1983-2000)
DÍVIDA
INFLAÇÃ O IPC PIB REAL(1) % TAXA MÉ DIA
Ano PIB PERCAPITA EXTERNA
(FIPE)(1) ao ano VARIAÇÃ O DEESEMPREGO
(US$)(1) TOTAL*
% ANUAL (2) ABERTO (1)
Dezembro
1983 135,57 -2,92 1.497 93.556 6,7
1984 172,36 5,39 1.468 102.040 7,1
1985 201,75 7,91 1.599 105.171 5,3
1986 129,93 7,50 1.915 101.759 3,6
1987 220,94 3,61 2.057 121.188 3,7
1988 586,36 -0,05 2.186 113.511 3,8
1989 1.201,00 3,20 2.923 112.506 3,3
1990 2.900,84 -5,05 3.343 123.439 4,3
1991 410,59 1,25 2.771 123.910 4,8
1992 965,20 -0,30 2.605 135.949 5,7
1993 1.920,41 4,43 2.847 145.726 5,3
1994 2.149,26 5,85 3.546 148.295 5,1
1995 67,34 4,22 4.542 159.256 4,6
1996 16,48 2,66 4.924 179.935 5,4
1997 6,44 3,27 5.060 199.998 5,7
1998 1,43 0,22 4.867 241.644 7,6
1999 8,64 0,79 3.324 241.468 7,6
2000 4,38 4,46 3.584 236.151 7,1
* Em bilhõ es de dó lares.
Fontes:
1. Conjuntura Econô mica, v. 54, n. 6, jun. 2000, p. XIV.
2. Conjuntura Econô mica, v. 55, n. 7, jul. 2001. P. XXVII.
Observe-se que, de 1985 a 1994, a média anual do índice inflacioná rio foi
superior a 1.000% enquanto o PIB tinha pouco crescimento quando nã o se apresentava
negativo e a dívida externa permanecia elevada. Com a inflaçã o incontrolá vel, tudo foi
contribuindo para enfraquecer a coordenaçã o do poder central. Diante da imobilizaçã o
do Estado para políticas a médio prazo, começaram a surgir os planos econô micos como
tentativas de debelar a inflaçã o e readquirir o comando do processo político-econô mico.
Ao todo foram seis experimentos, Cruzado (02/1986), Bresser (06/1987), Verã o
(01/1989), Collor I (03/1990), Collor II (01/1991) e Real (1994), que quase sempre
acarretaram esperanças e desilusõ es em face dos grandes transtornos aos agentes
econô micos e aos cidadã os. Com a falência dos três primeiros e a exaustã o dos
instrumentos heterodoxos para conter a alta de preços, procurou-se atacar as causas
248
521
Folha de S. Paulo, 14.12.2001. Ver também Conjuntura Econômica, v. 54, n. 6, junho/2000, p. 30-31.
249
QUADRO XII
SERGIPE - VARIAÇÕ ES ANUAIS DO PIB SEGUNDO OS SETORES ECONÔ MICOS
(ANO BASE 1980=100)
Agropecuá ria Indú stria Serviços TOTAL
Anos Variaçã o Variaçã o Variaçã o Variaçã o
Anual (%) Anual (%) Anual (%) Anual (%)
1983 -62,0 7,3 1,8 5,4
1984 153,8 4,5 -3,3 5,4
1985 21,4 8,4 14,4 13,0
1986 22,8 9,8 21,3 17,1
1987 -37,0 4,8 -5,1 -5,5
1988 21,0 8,5 -5,9 2,5
1989 15,7 3,9 6,1 6,4
1990 -13,5 -0,6 -6,9 -5,6
1991 13,1 -10,0 4,7 -0,5
1992 -18,2 4,6 -0,6 -1,5
1993 -39,0 3,1 3,3 -2,9
1994 30,6 -0,3 5,0 4,8
1995 2,7 2,2 5,2 3,6
1996 -0,4 5,2 5,2 4,6
1997 1,6 10,5 3,2 6,3
1998 -12,7 4,8 1,1 0,8
1999 6,9 6,2 4,2 5,2
2000 3,7
1. Dados Preliminares
2. Pá gina Eletrô nica- SUDENE.
Por este quadro, pode-se ver como, a partir de 1994, os serviços melhoraram,
mas a recuperaçã o da indú stria somente ocorreria a partir do ano seguinte. De qualquer
forma, no ú ltimo quinquênio, os dois ú ltimos setores reagiram, ainda que com taxas nem
sempre altas.
O setor primá rio, que já tinha participaçã o pequena na formaçã o do PIB
estadual,522 encontrou mais problemas. A agropecuá ria e a agricultura pouco produtiva
ressentiram-se das estiagens, da concorrência interestadual, compondo um período
ruim para o homem do campo. Em meio à s adversidades, o poder pú blico interferiu com
projetos como Chapéu de Couro, Sertanejo, Nordeste, Jacaré-Curituba sem falar da
Codevasf. Cada qual à sua maneira procurou minorar a situaçã o do trabalhador rural. A
522
Em 1999 a agropecuá ria participou em 6,9% do PIB do Estado de Sergipe, enquanto a indú stria entrava com 48,5%
e os serviços com 44,6%. Cf. Carta de Conjuntura Nordeste do Brasil, SUDENE, Contas Regionais, 2000, n. 1, p. 18.
250
á rea de lavoura ampliou-se de 31% para 37% entre 1985 e 1995, enquanto o espaço de
pastagens persistia inalterado, ocupando 36%.523 Apesar da ponderá vel continuidade de
formas tradicionais de cultivo, aumentou a preocupaçã o com a produtividade, que já
vinha sendo observada no cultivo da cana-de-açú car e foi estendida aos novos projetos
irrigá veis (Califó rnia e o Platô de Neó polis) e à citricultura, nã o obstante o desâ nimo dos
produtores castigados pelas estiagens e pelos baixos preços da laranja. No conjunto
houve melhorias na infraestrutura, inclusive no acesso à á gua. Vá rias barragens foram
construídas, visando seu maior armazenamento. A energia elétrica passou a cobrir todos
os municípios, quase a totalidade dos povoados e numerosas fazendas. Dessa forma, a
estrutura da propriedade fundiá ria sofria mudanças.
No setor secundá rio, a Nitrofértil, que se transformou em FAFEN, e a Petromisa
entraram em franca produçã o, embora os projetos do Polo Cloroquímico e da Zona de
Processamento para Exportaçã o (ZPE) tenham sido arquivados diante da conjuntura
adversa. O nível de investimento pelo poder pú blico diminuiu consideravelmente em
relaçã o ao período anterior. Entretanto, a Petrobras continuou como principal empresa
de investimento no Estado. Além dos gastos com a planta da FAFEN e na construçã o da
Mina de Potá ssio, empreendimentos que provinham do final dos anos setenta, aplicou
nas obras do Porto de Sergipe 130 milhõ es de dó lares. Somente no ano 2000 pagou R$
68,4 milhõ es em salá rios e R$ 9 milhõ es de ICMS. De royalties, naquele ano entregou R$
29 milhõ es ao Estado e R$ 21 milhõ es aos municípios. Com duas unidades de
processamento de gá s, 21 estaçõ es de tratamento de ó leo, 26 plataformas de produçã o
no mar e sete sondas de perfuraçã o, criando milhares de empregos diretos e indiretos,
ocupava um porte inigualá vel no Estado.524 A partir do fim dos anos oitenta, a produçã o
de ó leo declinou, mas no ano 2000 já dava sinal de ascensã o.525 As produçõ es de amô nia,
ureia, cloreto de potá ssio, açú car e cimento continuavam aumentando. A fabricaçã o de
tecidos de algodã o, calçados e mó veis permanecia com alguma importâ ncia no mercado
interno.526
523
IBGE. Censo Agropecuário – Sergipe. 1995/1996, apud Governo de Sergipe. Sergipe em Síntese, Aracaju: SEPLAN,
1998, p. 15.
524
No fim do milênio, a Petrobras tinha 1.671 empregados pró prios, 2.772 contratados e 26.658 empregos indiretos.
Cf. Paulo Manoel Mendes Mendonça. Contribuição da Petrobras para o Desenvolvimento do Estado de Sergipe. Palestra
no ciclo de conferências Pensar Sergipe III, UFS, novembro/2001.
525
Cf. Paulo Manoel Mendes Mendonça. Ob. Cit., novembro/2001.
526
Ricardo Lacerda. Geraçã o de Emprego e Renda in José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs). Pensar
Sergipe, São Cristó vã o/SE: UFS, 2000, v. II, p. 34.
251
528
Sobre a estrutura ocupacional nos anos oitenta e noventa em Sergipe, ver Ricardo Lacerda. Geraçã o de Emprego e
Renda. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs). Pensar Sergipe, v. II. Sã o Cristó vã o/SE: UFS, 2000, p.
35-41.
253
QUADRO XIII
PRODUTO INTERNO BRUTO (CRESCIMENTO ANUAL)
QUADRO XIV
POPULAÇÃ O URBANA E RURAL (SERGIPE)
entidades passou de nove para 75, além dos 28 centros sociais.529 Nessa onda de
mobilizaçã o, outros movimentos sociais emergiram: os sem teto, os negros, os meninos
de rua, todos tentando organizar-se e reivindicando direitos.530 Em geral com o apoio de
terceiros, cada grupo passou a apresentar seus pleitos, enriquecendo as iniciativas da
sociedade civil com passeatas e atos pú blicos. A campanha pelos Direitos Humanos
adquiriu maior abrangência com a abertura de nú cleo em Propriá (1985). Foi também
neste ano que se realizou o I Congresso dos Trabalhadores Sem Terra (Curitiba),
lançando as bases do MST. Representaçã o de Sergipe participou do encontro e, de volta,
passou a estruturar seu nú cleo no Estado.
Enquanto isso, o quadro sindical se robustecia com o crescimento de três
sindicatos modernos e combativos, o dos petroleiros e os dois dos operá rios da indú stria
química (Nitrofértil e Petromisa). Os empregados da Petrobras, que nos anos 60 e 70
tiveram suas açõ es cerceadas, criaram o Sindipetro AL/SE e, a partir de 1981, as
reivindicaçõ es foram sendo explicitadas com maior visibilidade. A articulaçã o com os
petroleiros de outros Estados acentuou-se. A realizaçã o de eleiçõ es, a participaçã o em
congressos, a divulgaçã o do seu jornal Ouro Negro, a integraçã o nos movimentos
nacionais, tudo foi compondo a mobilizaçã o crescente com realizaçã o de vá rias greves
locais ou gerais e de campanhas da categoria, entre as quais a defesa do monopó lio da
pesquisa, lavra, refinaçã o, importaçã o e exportaçã o e transporte de Petró leo por parte
da Uniã o que foi incluída na Constituiçã o de 1988.531
Quanto ao Sindiquímica, começou a estruturar-se em 1982 com o funcionamento
da unidade da fá brica Nitrofértil. Esta empresa que, já dispunha de uma planta em
Camaçari (BA), passou a dispor de outra, situada no município de Laranjeiras (SE). Em
1985, os 470 trabalhadores da empresa conseguiram sua carta sindical e, dispondo de
seu jornal Zaga, empreenderam sucessivas campanhas reivindicativas e ganharam
vá rios pleitos, inclusive a equiparaçã o dos direitos aos petroleiros. Entre movimentos
internos e greves, uma das quais com certo teor de violência, os associados foram
adquirindo autonomia, ditando normas e tornando suas açõ es cada vez mais ousadas.532
529
Cf. Maria Luíza Souza. Movimentos Sociais em Sergipe nas Décadas de 60, 70 e 80. In: Movimentos. Aracaju, ano 1, n.
1, julho/1995, p. 19.
530
Ver Maria Luiza Souza. Ob. cit., julho de 1995.
531
Cf. Maria da Conceiçã o Almeida Vasconcelos. Ação Político-sindical dos Petroleiros SE/AL nos anos 80. Aracaju,
Dissertaçã o de Mestrado em Ciências Sociais da UFS.
532
Segundo estudioso do tema, “o nível de organizaçã o e de ousadia era tamanho que, no ano de 1993, no auge do
processo de privatizaçã o, os trabalhadores puxados pelo sindicato impediram que a empresa Price Westinghouse
256
entrasse na Fafen para avaliá -la”. Frederico Lisboa Romão. A Globalização e seus Reflexos sobre os Trabalhadores
“Estáveis”: Petroleiros da Fafen/Petrobras. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Anual da ANPOCS, Petró polis,
Outubro/2000, p.6.
533
Cf. Augusto Santos. Depoimento ao autor em 23.11.2001.
257
534
As greves foram as seguintes: dois dias em fevereiro, dois dias em março, quatro dias em maio, um dia em agosto,
um dia em outubro e 11 dias em novembro. Cf. Maria da Conceiçã o Almeida Vasconcelos. Ação Político-sindical dos
Petroleiros SE/AL nos anos 80. Aracaju, Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais da UFS, p.187.
535
Nú mero de Greves no país no período de 1945 a 1977: 1945- 28; 1946- 98; 1947- 16; 1948- 39; 1949- 17; 1950-
09; 1951- 20; 1952- 14; 1953- 19; 1954- 09; 1955- 15; 1956- 14; 1957- 35; 1958- 29; 1959- 88; 1960- 67; 1961- 110;
1962- 141; 1963- 159; 1964- ; 1965- 25; 1966- 15; 1967- 1; 1968- 25; 1969- 17; 1970- 12; 1971- 1; 1972- 12; 1973-
1977- 3 - (média anual). Fonte: Retrato do Brasil. Sã o Paulo: Política Editora, 1984, p. 211.
536
Leô ncio Martins Rodrigues, A década dos trabalhadores. Jornal do Brasil, 27.06.1992.
537
Jornal da Cidade, 02.02.91, Aracaju, apud Diese.
538
Leô ncio Martins Rodrigues. A década dos trabalhadores. Jornal do Brasil, 27.06.1992.
258
Apó s grande impasse, o Tribunal Superior do Trabalho julgou a greve ilegal. Mas
os trabalhadores nã o acataram a decisã o e ocuparam as refinarias. O governo convocou
o Exército, interveio e impô s aos petroleiros a sua mais séria derrota. Vá rias lideranças
foram demitidas, e os sindicatos ficaram a pagar elevadas multas, inclusive o de Sergipe.
As açõ es de outras categorias como servidores e professores universitá rios, ferroviá rios,
setores da saú de e da previdência, que já pediam de 12 a 189% de aumento, foram
inibidas.547 O projeto de privatizaçã o continuou, assim como as reformas constitucionais,
inclusive a que extinguia o monopó lio estatal do petró leo, velho dogma dos nacionalistas
desde pelo menos os anos cinquenta do século XX. Como efeito, a mobilizaçã o sindical
decaiu consideravelmente, em menor escala entre os servidores e professores da UFS,
que haviam feito greve em 1987, 1988, 1989, 1991 e 1993. Apó s uma pequena trégua,
em abril de 1996 voltaram a parar, dessa vez por 67 dias, mas sem sucesso. De qualquer
forma, o movimento popular ficava mais concentrado nos funcioná rios pú blicos e no
545
Cf. Marcelo Barreto. Depoimento ao autor em 19.11.2001.
546
Patrícia de Andrade e Raymundo Costa, ISTOÉ, 07.06.1995.
547
ISTOÉ, 24.05.1995.
261
MST. Na greve geral programada pela CUT em junho de 1996, vá rias categorias tais
como bancá rios, comerciá rios, industriá rios e tantas outras decidiram nã o participar,
mas os funcioná rios das estatais tanto estaduais quanto federais aderiram.548 Enquanto
isso, outras categorias também estiveram a protestar, entre as quais as ligadas aos
transportes alternativos. Mas o grosso das manifestaçõ es provinha dos empregados do
setor pú blico, mestres, policiais, agentes penitenciá rios e alguns mais.
Em 1998, ano eleitoral, professores e servidores da UFS retomaram as
paralisaçõ es, dessa vez por cem dias. Como o governo continuou sem uma política
salarial que amenizasse as perdas por parte do funcionalismo federal, os
descontentamentos com o presidente avolumaram-se no segundo mandato.
Seguindo as orientaçõ es nacionais, os movimentos contra as políticas
governamentais aumentaram em Aracaju. Em março de 1999, grupos da sociedade civil
promoveram o Acorda Sergipe tendo como palavras de ordem: Fora FHC, Fora FMI,
Morató ria Já . O 1o de maio de 1999 foi marcado por manifestaçõ es populares em repú dio
ao valor do salá rio mínimo e ao desemprego. No segundo semestre, colheram
assinaturas pedindo o impeachment do presidente, depois vá rios deles participaram da
marcha de protesto em Brasília.549 Além dos slogans costumeiros, ganhou força a
campanha pelo nã o pagamento da dívida externa. No ano seguinte, essa ideia se
transformaria em recomendaçã o da Igreja Cató lica, que promoveu plebiscito, secundada
pelas siglas partidá rias tais como PT, PSTU, PC do B, entre outras.
Entre todas as categorias, os que mais permaneceram aguerridos e tiveram
maiores ganhos nesse período foram os trabalhadores rurais. A criaçã o do Plano
Nacional de Reforma Agrá ria pelo governo Sarney, em plena fase de redemocratizaçã o,
animou o homem do campo e deu â nimo ao movimento popular. A Diocese de Propriá ,
que atuava em 26 municípios do Estado, e os sindicatos rurais passaram a incentivar e
respaldar as açõ es dos trabalhadores. A partir de 1985 os conflitos de terra
proliferaram, chegando a duas dezenas e, em meio a ameaças do patronato e açõ es
repressoras da polícia, o movimento cresceu, ocupando fazendas com o apoio da
Comissã o Pastoral da Terra (CPC) e de militantes de partidos políticos. Era o processo de
548
Cf. Jornal da Cidade, 21.06.1996.
549
O Movimento “Fora FHC”, de agosto de 1999, recebeu o nome de Fó rum Sergipano por Terra Trabalho e Cidadania.
Participaram partidos de esquerda (PT, PC do B, PDT, PSTU, PCB, PSB), OAB, CUT e FETASE. O abaixo assinado em
prol do impeachment teria alcançado cerca de 40 mil adesõ es. Cf. Jornal da Cidade, 17.08.1999.
262
Humano (IDHM) da populaçã o de Sergipe evoluiu de 0,597 (1991) para 0,682 (2000),
mas ocupava a 23a posiçã o entre os 27 Estados da federaçã o, superando apenas Paraíba,
Piauí, Alagoas e Maranhã o. Enfim, sua situaçã o melhorava, mas ainda deixava muito a
desejar.554
Deve-se observar também que os dados expostos nã o dã o conta de toda a
realidade. Apesar do crescimento significativo dos grupos médios e de estar situado
entre os Estados de menor concentraçã o de renda na Regiã o, um grupo relativamente
pequeno gozava de grande predominâ ncia na economia e na política. Na educaçã o, a
qualidade de ensino permanecia bastante crítica, pelo menos na maioria dos
estabelecimentos. Mas cresceu muito a preocupaçã o com a educaçã o fundamental. Os
professores do Estado no interior passaram por um processo de reciclagem jamais visto.
Contudo, três grandes pragas se agravaram nas ú ltimas décadas do século. O
desemprego, a violência e as drogas. Nã o eram problemas novos, mas atingiram
dimensã o preocupante. A falta de emprego acentuou-se, afetando a autoestima das
pessoas e nã o se descortinavam possibilidades de alterar radicalmente o quadro. A
segurança degradou-se. A impunidade estimulou o crescimento das redes de
delinquentes, quase sempre associadas com o trá fico de drogas. O perigo passou a
rondar os indivíduos na cidade e no campo, mas nã o pareciam problemas insolú veis.
Enquanto a segurança piorava, a saú de melhorava. Nã o obstante a concentraçã o
dos serviços em Aracaju, gerando superlotaçã o no atendimento de urgência dos
hospitais pú blicos, houve avanços. O atendimento tornou-se universal, o sistema foi
melhor organizado. Todos os municípios foram cobertos pelos agentes comunitá rios e o
processo de municipalizaçã o foi iniciado. Para os que nã o usam os serviços de SUS,
estruturaram-se os planos de saú de cada vez mais vigiados pelo Governo Federal.
Contribuíram para a melhoria a presença maior do poder pú blico com recursos amplos,
serviços preventivos como a vacinaçã o para crianças, o tratamento da á gua e o
saneamento bá sico. É certo que, ao fim do século, persistiam carências neste ú ltimo
setor, mas passaram a ser atacadas pelo poder pú blico como nunca o fora. Por outro
lado, nã o se deve esquecer dos progressos da indú stria química, fabricando drogas mais
eficientes e do aperfeiçoamento das informaçõ es dos profissionais da saú de. Enquanto
isso, o culto do corpo aumentava consideravelmente. Ao lado dos centros de dança,
554
Cf. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Programa das Naçõ es Unidas para o Desenvolvimento, 2000.
264
558
Cf. Governo do Estado de Sergipe. Projeto Capital. Aracaju, 1994.
559
Cf. Luiz Antô nio Barreto. Algumas Informações (Institucionais) sobre a Cultura. Documento fornecido pelo ex-
secretá rio da Educação e da Cultura ao autor em 23.08.2001.
560
Antes do fim do seu mandato, Albano Franco promoveu melhoria dos prédios da Biblioteca Pú blica Epifâ nio Dó rea
e do Arquivo Pú blico.
561
Cf. Virgínia Lú cia Fonseca de Menezes. Pronunciamento na Assembleia Legislativa em 25.11.1999.
562
A primeira lei foi proposta por Bosco Mendonça (1987) e a segunda deveu-se à iniciativa de Edvaldo Nogueira
(1991).
267
563
Segundo Ivan Valença, antes de sua gestã o na FUNCAJU, o interessado fazia a captação de recursos e nã o prestava
contas. Cf. declarações ao autor em 27.09.2001.
268
QUADRO XV
MATRÍCULAS NO ENSINO EM 2000 (SERGIPE)
ESTABELECIME
NTOS/NÍVEL
Infantil Fundamental Médio Superior
Nú mero % Nú mero % Nú mero % Nú mero %
Federais 257 0,06 1.639 2,43 9.617 49,21
Estaduais 404 9,70 188.208 43,57 52.750 78,29
Municipais 2.463 59,14 206.750 47,86 3.229 4,79
Privados 1.298 31,16 36.737 8,51 9.758 14,49 9.925 50,79
Total 4.165 100,00 431.952 100,00 67.376 100,00 19.542 100,00
Fontes: MEC/INEP/SEEC
564
Ver Relatório de Gestão da UFS 1996-2000. Sã o Cristó vã o/SE: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000 e Notícias UFS, n. 5 de
maio de 2003.
269
567
A UNIT promoveu a ediçã o de três livros no ano de 2000.
568
Ver Beatriz Gó is Dantas. Nanã de Aracaju: trajetó ria de uma mã e plural. In: Vagner Gonçalves da Silva (org).
Caminhos da Alma. Memó ria afro-brasileira. São Paulo: Summus, 2002; Maria Lú cia Leite de Carvalho (coord). Abaças
e Centros de Umbanda. Aracaju: Funcaju, 1991 e Eufrá zia Cristina Menezes Santos. Visão do mundo no espiritismo: uma
análise sócio antropológica. Aracaju, monografia de graduaçã o de Serviço Social, 1994.
271
569
De instituiçõ es de outros Estados, merece registro a contribuiçã o da Fundação Bradesco que mantém colégio de
segundo grau em Propriá com bom nível de assistência.
272
575
Cf. Aracaju Magazine, n. 24, junho de 1998.
576
Cf. Governo do Estado de Sergipe, Plano Plurianual, 1992/1995, v. I, Administraçã o Joã o Alves Filho, p. 55-56.
577
Sobre as transformaçõ es das festas de rua, ver Fernando Lins de Carvalho. Dos Cordovínicos ao Pré-Caju in Jornal
da Cidade, 26-27.01.2003 a 2-5.03.2003.
278
581
Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 37, julho de 1999.
582
Governo do Estado de Sergipe. Plano Plurianual (1992/1995). Administraçã o Joã o Alves, v. I, p. 51.
583
Sueli Carvalho. Ob. cit., 1999.
280
584
Cf. Virgínia Lú cia Fonseca de Menezes. Pronunciamento na Assembleia Legislativa em 25.11.1999.
585
Cf. Imbuaça, 20 anos. Aracaju: Imbuaça Produçõ es Artísticas, 1997.
586
Dorinha Teixeira Machado. Dança em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco
do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000, p. 49-51.
587
Dorinha Teixeira Machado. Ob. cit., 2000, p. 49-51.
281
6 CONCLUSÕES
exercício da cidadania. Essas limitaçõ es devem ter contribuído para que o ciclo de
crescimento da economia nã o reduzisse as discrepâ ncias sociais.
Depois de 1982 e sobretudo a partir de 1985, houve grande avanço político-
eleitoral. O movimento sindical desenvolveu-se como nunca e houve muitas conquistas,
apesar do refluxo na década de noventa. Enquanto isso, a crise que afetou a economia
nacional refletiu-se no Estado onde o desempenho revelou-se modesto. Enfim,
conjunçõ es internas e externas provocaram esse desencontro, atingindo o quadro social.
Ao final do milênio persistia elevado percentual de analfabetos em grande parte
incorporado à enorme massa de pobres, vivendo como “semicidadã os”, sem usufruir
ativamente dos direitos civis e políticos, participando marginalmente do mercado, sem
carteira assinada, sem vínculos com quaisquer associaçõ es de classe e sem capacidade
reivindicató ria expressiva. Dentro desse grupo também estavam muitos descendentes
dos escravos que passaram por grande processo de miscigenaçã o, mas nã o desfrutaram
de reais possibilidades de ascensã o econô mico-social. Num nível superior, estavam os
grupos médios, inclusive os empregados dos setores pú blico e privado com salá rios
variados, inseridos no mercado, organizados de forma diversificada, gozando direitos
civis, políticos e sociais. Acima dos dois blocos, situavam-se os grupos dominantes, que
secularmente controlaram os três poderes da Repú blica. Ao longo do tempo, dominaram
os senhores do açú car, depois os pecuaristas e, por fim, os empresá rios urbanos com
variados graus de influência na burocracia estatal, mas nenhuma fraçã o hegemô nica foi
capaz de viabilizar projeto de desenvolvimento democrá tico efetivamente equalizador.
As experiências ditatoriais de â mbito nacional trouxeram alguns benefícios materiais,
mas desorganizaram grande parte da sociedade civil e acarretaram grande desserviço à
construçã o da democracia.
Os grupos político-ideoló gicos, que surgiram durante esse tempo propondo
alternativas, inspirados em variadas concepçõ es autoritá rias, dificultaram a
compreensã o da democracia como meio mais eficaz para edificaçã o de instituiçõ es
só lidas e de uma convivência mais igualitá ria. Neste sentido, os momentos mais
favorá veis foram entre 1945-1964 e sobretudo a partir de 1985 quando a participaçã o
popular aumentou e as eleiçõ es tornaram-se mais livres, embora ainda sofrendo as
coaçõ es do poder econô mico.
288
ANEXOS
293
ANEXO I
REPÚ BLICA (GOVERNANTES DE SERGIPE - 1889 – 2000)
Obs. Vá rias datas de nascimento e morte dos presidentes do Estado foram fornecidas
pelo pesquisador Jackson da Silva Lima, a quem agradecemos.
296
ANEXO II
SENADORES DA REPÚ BLICA - SERGIPE
Mandato
Nome completo Partido
Início Fim
01/02/1982 31/01/1991
Albano do Prado Pimentel Franco PFL
01/02/1991 31/12/1994
Albino Silva da Fonseca PMDB 22/07/1959 30/09/1959
01/02/1995 31/01/2003
Antô nio Carlos Valadares PSB
01/02/2003
Augusto César Leite PR 02/05/1935 10/11/1937
Augusto César Lopes Gonçalves 26/04/1924 11/10/1930
01/02/1955 12/08/1957
Augusto Maynard Gomes PSP
02/03/1947 31/01/1951
Augusto do Prado Franco PDS 01/02/1971 31/01/1979
Durval Rodrigues da Cruz PR 19/09/1946 31/01/1955
Dylton Augusto Rodrigues da Costa ARENA 1963
Francisco Guimarã es Rollemberg PMDB 1987 1995
Francisco Leite Neto PSD 01/02/1963 10/12/1964
Gilberto de Lima Azevedo Souza F. Amado
PR 21/04/1927 11/11/1930
de Faria
Gonçalo de Faro Rollemberg 01/05/1918 31/01/1926
Guilherme de Souza Campos PCO 28/10/1909 31/01/1917
Heribaldo Dantas Vieira ARENA 01/02/1959 31/01/1967
Herá clito Guimarã es Rollemberg PDS 17/06/1985 14/10/1985
Jorge Campos Maynard UDN 30/08/1957 31/01/1963
José Almeida Lima PDT 01/02/2003
José Alves do Nascimento PFL 01/02/1995 31/01/1999
José Eduardo de Barros Dutra PT 01/02/1995 02/01/2003
07/05/1923 21/04/1930
José Joaquim Pereira Lobo 21/04/1930 11/11/1930
24/12/1914 1918
14/06/1897 18/05/1906
José Luiz Coelho e Campos PR 15/11/1890 14/06/1897
18/05/1906 30/09/1913
José Passos Porto PMDB 01/02/1979 31/01/1987
José Rollemberg Leite ARENA 08/02/1965 31/01/1971
José Siqueira Menezes PR 24/04/1915 31/12/1923
Joã o Gilvan Rocha PP 1975 1982
03/02/1963 31/01/1971
Jú lio César Leite PR/ARENA
10/03/1951 31/01/1959
Lauro Dantas Hora PTB 1955 1963
297
01/02/1967 31/1/1975
Leandro Maynard Maciel ARENA
04/05/1935 09/11/1937
Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel PP 18/05/1894 31/01/1903
01/02/1979 31/01/1987
Lourival Baptista PFL 01/02/1987 31/01/1995
1970 1978
Lourival Fontes PTB 01/02/1955 31/01/1963
Manoel Elias de Santana PFL 25/02/2003
02/05/1919 10/11/1921
Manoel Presciliano de Oliveira Valladã o PR 27/05/1907 22/04/1912
1912 1914
Manoel da Silva Rosa Jú nior 15/11/1890 31/01/1900
Maria do Carmo do Nascimento Alves PFL 01/02/1999
Partido
Martinho Cézar da Silveira Garcez Constitucional 07/05/1900 31/01/1909
Sergipano
Maurício Gracho Cardoso PR 15/05/1922 03/05/1950
Moacyr Sobral Barreto PR
Partido
Olímpio de Souza Campos 23/04/1903 9/11/1906
Cató lico
Pedro Diniz Gonçalves Filho 01/06/1951 30/09/1951
Serapiã o de Aguiar Mello PR 05/05/1914 31/01/1915
Thomaz Rodrigues da Cruz PR 15/11/1890 1893
Valdiolanda Teó filo Assis Nunes Leite PT 03/01/2003 31/01/2003
Walter do Prado Franco UDN 19/09/1946 31/01/1955
ANEXO III
DEPUTADOS FEDERAIS POR SERGIPE (1891-2000)
1894-1896: Olímpio Souza Campos, Antô nio Alves de Gouveia Lima, Geminiano Brasil de
Oliveira Gó is, Manoel José de Menezes Prado.
1909-1911: Joviniano de Carvalho, Rodrigues Dó ria, Gumercindo Bessa, Antô nio Pedro
da Silva Marques, falecido em 09.11.1909 e substituído por Felisbelo Freire.
1912-1914: Joviniano de Carvalho, Felisbelo Freire, Antô nio Dias de Barros, Joã o de
Siqueira Cavalcanti, falecido em 01.06.1912 e substituído por Moreira Guimarã es.
1915-1917: Antô nio Dias Rolemberg, Gilberto Amado, Felisbelo Freire faleceu em
07.05.1916 e foi substituído por Espiridiã o Ferreira Monteiro 1916-1917.
299
1921-1923: Gilberto Amado, Carvalho Neto, Ivo do Prado, Graccho Cardoso renunciou
em 1922 para ir para o Senado e foi substituído por Gentil Tavares.
1935-1937: Deodato Maia, Melchisedech Amado, Amando Fontes, José Barreto Filho.
Dissolvida em 1937.
1946-1950: Leandro Maciel, Amando Fontes, Heribaldo Vieira, Leite Neto, Graccho
Cardoso, Carlos Waldemar Acioli Rollemberg, Godofredo Diniz.
1951-1954: F. Leite Neto, Carvalho Neto, Leandro Maciel, Luiz Garcia, Francisco de
Araujo Macedo, Orlando Dantas e Amando Fontes.
1959-1962: Lourival Batista, Passos Porto, Seixas Dó ria, Euvaldo Diniz, F. Leite Neto,
Armando Rolemberg, e Arnaldo Garcez.
300
1963-1966: Euclides Paes Mendonça (faleceu em 1963) foi substituído por F. de Araujo
Macedo, Arnaldo Garcez, Lourival Batista, Joã o Machado Rolemberg, Euvaldo Diniz,
Armando Rolemberg e José Carlos Teixeira.
1971-1974: Francisco Guimarã es Rollemberg, Luiz Garcia, Raimundo Diniz, José Passos
Porto, Eraldo Machado Lemos.
1979-1982: Antô nio Carlos Valadares optou pela Secretaria de Educaçã o e foi
substituído por Adroaldo Campos Filho (1º suplente), Francisco Guimarã es Rollemberg,
Raimundo Menezes Diniz, Sebastiã o Celso de Carvalho, Jackson Barreto de Lima,
Tertuliano Azevedo.
1987-1990: Antonio Carlos Leite Franco, Acival Gomes Santos, Joã o Bosco França Cruz,
Djenal Goncalves Soares, José Cleonâ ncio da Fonseca, Manoel Messias de Gó is, José
Queiroz da Costa, Joã o Machado Rollemberg Mendonça. Suplentes que assumiram
temporariamente Leopoldo de Araú jo Souza Neto, Gerson Vilas Boas.
1991-1994: Pedro Almeida Valadares Neto, Jerô nimo de Oliveira Reis, Manuel Messias
Gois, Benedito de Figueiredo, Jose Teles de Mendonça, Djenal Gonçalves Soares, Jose
Everaldo de Oliviera, José Cleonâ ncio da Fonseca.
301
1995-1998: José Cleonâ ncio da Fonseca, Jerô nimo de Oliveira Reis, José Teles de
Mendonça, Joã o Bosco França Cruz, Carlos Magno Costa Garcia, Adelson Rosendo Lima
Ribeiro, Marcelo Déda Chagas, José Wilson Cunha.
1999-2002: José Cleonâ ncio da Fonseca, José Teles de Mendonça, Sérgio Reis, Marcelo
Déda Chagas (substituído por Tâ nia Soares em 2001), Ivan Paixã o, Pedrinho Valadares,
Jorge Alberto, Augusto Franco Neto.
ANEXO IV
PERIÓ DICOS DE SERGIPE
1890-1930
Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1. Revista Literá ria 34 1890-91
2. Caderneta Jurídica 01 1898
3. Cená culo 05 1902
4. A Revistinha 13 1905-?
5. Revista Agrícola 92 1905-08
6. A Trombeta – Revista Humorística, Literá ria, Crítica e 08 1907
Ilustrada
7. A Redempçã o 06 1907
8. Revista Forense do Estado de Sergipe: doutrina 16 1907-9
jurisprudência e legislaçã o
9. Revista do Brasil 03 1908-10
10. Revista Médica de Sergipe 01 1911
11. A Onda 06 1912
12. Revista D’arte e Propaganda – Vida Sergipana 04 1912
13. A Diocese de Aracaju – Ó rgã o Oficial 13 1912
14. Revista do Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 17 1912-29
15. A Sergipana 06 1914-15
16. Heliantho 06 1924
17. A Semana 03 1924
18. Revista de Sergipe 12 1928-29
19. Sergipe Judiciá rio 19 1928-30
20. Mercú rio 119 1928-30
Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1. Revista da Academia Sergipana de Letras 09 1931-43
2. Lírio Mariano 01 1936
3. Revista de Aracaju 02 1943-44
4. Revista do Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 04 1939-45
5. Renascença 05 1935-36
6. Renovaçã o 34 1931-34
7. Revista de Sergipe 01 1936
8. Sergipe Artífice 13 1934-45
303
Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1. Alvorada: Revista de Difusã o Literá ria Artística e 07 1946-51
Esportiva
2. É poca 03 1948-49
3. Vida Nova 02
4. Revista da Academia Sergipana de Letras 10 1946-62
5. Revista da Associaçã o Sergipana de Imprensa* 06 1949-63
6. Revista da Faculdade Cató lica de Filosofia 01 1961
7. Revista de Aracaju 02 1943-44
8. Revista de Faculdade de Direito 10 1953-6
9. Revista de Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 08 1948-61
10. Revista Sergipana de Contabilidade 03 1953
11. Sergipe Rodoviá rio 01 1956
* A revista da Associaçã o Sergipana de Imprensa, até o nú mero 2, intitulava-se Poliantéa.
Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1.Artes de Jovens 10 1968-72
2.Boletim do Ministério Pú blico 145 1971-82
3.Cadernos de Folclore Sergipano 05 1976
4.Cadernos Sergipanos de Geografia 06 1978-80
5.Momento: Revista Cultural da Gazeta de Sergipe 19 1976-79
6.Revista Alvorada 29 1972-82
7.Revista da Academia Sergipana de Letras 06 1969-81
8.Revista da Faculdade de Direito 02 1970-71
9.Revista da Faculdade de Filosofia de Sergipe 01 1967
10. Revista da Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 03 1965-82
11. Revista da Universidade Federal de Sergipe 02 1979-80
12. Revista Sergipana da Cultura 02 1977-78
13. Revista Sergipana do Folclore 03 1976-79
14. Síntese 06 1969-77
304
Obs. A revista Nordeste Hoje representou a continuidade de Sergipe Hoje. Foi editada pelo
governo do Estado com fins promocionais.
Fontes:
1. Dados coletados pelo autor no Instituto Histó rico Geográ fico de Sergipe e na Biblioteca
Ephifâ nio Dó ria.
2. Jorge Carvalho do Nascimento e Itamar Freitas. A Revista em Sergipe. Revista de Aracaju.
Aracaju: FUNCAJU, Ano LIX, n. 9, 2002, 169-187.
306
ANEXO V
AMOSTRA DE DISCOS DE MÚ SICA POPULAR DE CANTORES SERGIPANOS (1983-2000)
Fonte: Cf. Antô nio Alves do Amaral e Wellington dos Santos (irmã o). Alguns Aspectos Sobre a
Mú sica Popular Sergipana. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, BB,
BN, 2000, p 43-46.
307
ANEXO VI
AMOSTRA DE PRODUÇÕ ES CINEMATOGRÁ FICAS DE SERGIPANOS (1966-1982)
ANEXO VII
EMISSORAS DO ESTADO DE SERGIPE (ANO 2000)
Frequência
Razã o Social Nome Fantasia Cidade Proprietá rio
/ Indicativo
TV
1. FUNDAÇÃ O APERIPÊ TV APERIPÊ 55,25 MHz Governo do
Aracaju
LTDA TVE CANAL 2 ZYB832 Estado
2. FUNDAÇÃ O JOÃ O TV CANÇÃ O
211,25 Aracaju Igreja Cató lica
PAULO II NOVA
3. RÁ DIO E TELEVISÃ O DE TV SERGIPE 67,25MHz
Aracaju Albano Franco
SERGIPE SA GLOBO-4 ZYB 830
4. TELEVISÃ O ATALAIA TV ATALAIA 181,25 MHz
Aracaju Walter Franco
LTDA SBT 8 ZYB 831
RTV
1. RÁ DIO E TELEVISÃ O TV RECORD 495,25 MHz
Aracaju Igreja Universal
RECORD SA CANAL 18 ZYB 854
2. TELEVISÃ O
REDE VIDA 621,25MHz
INDEPENDENTE DE SÃ O JOSÉ Aracaju Igreja Cató lica
CANAL 39 ZYB 886
DO RIO PRETO LTDA
FM
1. RÁ DIO LIBERDADE DE 99,7 MHz Heráclito
LIBERDADE FM Aracaju
SERGIPE FM LTDA ZYD 786 Rolemberg
2. RÁ DIO TELEVISÃ O DE 95,9 MHz
FM SERGIPE Aracaju Albano Franco
SERGIPE SA ZYD 781
3. EMPRESA SERGIPANA 103,1 MHz
103 FM Aracaju Grupo Cosil
DE RADIO DIFUSÃ O LTDA ZYD
4. RÁ DIO APERIPÊ FM DE 104,9MHz Governo do
APERIPÊ FM Aracaju
SERGIPE ZYD 796 Estado
5. RÁ DIO ATALAIA LTDA FM ATALAIA 93,5 MHz Aracaju Walter Franco
6. RÁ DIO E TELEVISÃ O 98,1 MHz
FM JORNAL Aracaju Igreja Universal
ARACAJU LTDA ZYD 784
7. RÁ DIO FM ARACAJU 88,7 MHz
DELMAR FM Aracaju Grupo Cosil
LTDA ZYD 790
8. RÁ DIO FM DA ILHA 89,5 MHz Barra dos
FM ILHA Joã o Alves
LTDA ZYD 797 Coqueiros
9. EMPRESA
95,5 MHz
BOQUINHENSE DE LAGAMAR FM Boquim Grupo Fonseca
ZYD 795
COMUNICAÇÃ O LTDA
Canindé
98,7 MHz Luiz Eduardo
10. RÁ DIO XINGÓ LTDA RÁ DIO XINGÓ de Sã o
ZYD 792 Costa
Francisco
11. RÁ DIO CARMÓ POLIS OURO NEGRO 94,3 MHz Carmó poli Heráclito
LTDA FM ZYD 788 s Rolemberg
12. RÁ DIO JORNAL DE 94,1 MHz
FM JORNAL Estâ ncia Joã o Alves
ESTÂ NCIA LTDA ZYD 787
311
Fonte: Dentel. Os proprietá rios foram identificados por Alceu Monteiro que nos forneceu os
dados desta relaçã o.
312
BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA588
AFFONSO, Rui de Britto Á lvares. Federalismo no Brasil: Reforma Tributá ria e Federaçã o,
Sã o Paulo: FUNDAP-UNESP, 1995.
AMARAL, Antô nio Alves do e SANTOS, Wellington (irmã o). Alguns Aspectos Sobre a
Mú sica Popular Sergipana. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae,
Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000.
ANDRADE JÚ NIOR, Péricles Morais de. Sob o olhar diligente do pastor: a Igreja Católica
em Sergipe (1831-1926). Dissertaçã o de Mestrado no NPPCS, Sã o Cristó vã o-Se, UFS.
ARAÚ JO, Paulo Henrique Santos. Arranca e Filho Baccho. Aracajuanos na folia. Sã o
Cristó vã o, 1995. Monografia apresentada no Departamento de Histó ria-UFS.
BARBOSA, Naide. Em Busca das Imagens Perdidas – 1900/40. Aracaju: FUNCAJU, 1982.
BARRETO, Armando (org). Cadastro de Sergipe. Aracaju: 1933, 1938, 1949-50, 1953 e
1957.
BARRETO, Luiz Antô nio. Cultura: Um Roteiro de Alusões. Aracaju: Soc. Editorial de
Sergipe 1994.
588
Os livros simplesmente mencionados nã o foram incluídos nesta bibliografia.
313
BASBAUM, Leô ncio. História Sincera da República (1930/60). Sã o Paulo: Alfa ô mega,
1976.
BRAGANÇA, José Lopes. Sergipe por um óculo. Belo Horizonte: Carneiro e Cia, s/d.
BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. Sã o Paulo: Cia de Letras, 1989.
______. Espelho do Tempo: memórias e reflexões. Salvador: Artes Grá ficas, 1973.
CARVALHO, Ana Conceiçã o Sobral. Artes Plá sticas em Sergipe. Sergipe Artístico e
Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do
Brasil, 2000.
CARVALHO, Fernando Lins de. Dos Cordovínicos ao Pré-Caju. In: Jornal da Cidade,
Aracaju, 26-27.01.2003 a 2-5.03.2003.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilizaçã o Brasileira, 2001.
CARVALHO, José Onias de. Memórias de um Matuto Sertanejo. Recife: Inojosa, s/d.
CARVALHO, Sebastiã o Celso de. O Destino Acontece. Aracaju: Livraria Regina, s/d.
CAVALHO, Ana Conceiçã o Sobral de. NUNES, Verô nica Maria Menezes. Horácio Hora.
Aracaju: SEC, 1982.
______. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, BB, BN, 2000.
COSTA, Joã o apud CARVALHO, Sueli. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35, maio-
1999.
CRUZ, Ivonete Alves da. Tecendo a História na Luta: Industriais e Tecelõ es em Sergipe
(1930/35). Sã o Cristó vã o, UFS, 1997. Monografia apresentada no curso de Histó ria da
UFS.
CRUZ, José Vieira da. O Centro Popular de Cultura da União Estadual dos Estudantes
Sergipanos – CPC da UEES – e os Movimentos Culturais do Início dos Anos 60 –
(1962/1964). Sã o Cristó vã o, UFS, 1998. Monografia apresentada no curso de Histó ria da
UFS.
______. O engajamento político-cultural dos estudantes sergipanos no início dos anos 60.
Caderno do Estudante, Sã o Cristó vã o, UFS-Cimpe, v. 2, 1999.
CRUZ, Luiz Antonio Pinto. Aracaju: Memória de uma cidade sitiada (1942/1945). Sã o
Cristó vã o/SE: UFS, 1999. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS.
DANTAS, Beatriz Gó is; DALLARI, Dalmo. Terra dos Índios Xocó. Sã o Paulo: Comissã o Pró -
Índio, 1980.
DANTAS, Beatriz Gó is. Vovó Nagô e Papai Branco: Usos e abusos da Á frica no Brasil. Rio
de Janeiro, Graal, 1988.
______. Nanã de Aracaju: trajetó ria de uma mã e plural. In: Vagner Gonçalves da Silva
(org). Caminhos da Alma. Memó ria afro-brasileira. Sã o Paulo: Summus, 2002.
______. A Revolução de 1930 em Sergipe: dos Tenentes aos Coronéis. Sã o Paulo: Cortez,
1983.
DINIZ, José Alexandre Felizola. O Subsistema Urbano Regional de Aracaju. Recife: Sudene,
1987.
DINIZ, Maria de Faro Leal (coord). Textos para a História de Sergipe. Aracaju: UFS,
Banese, 1991.
DÓ RIA, Joã o Rodrigues da Costa. Vida e Trabalhos do Professor Dr. José Rodrigues da
Costa Dória. Aracaju, 1958.
DÓ RIA, Seixas. Eu, réu sem crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d.
FLEISCHER, David. In: Glá ucio Ary Dillon Soares e Maria Celina D'Araujo (orgs); [et al.].
21 Anos de Regime militar: Balanços e Perspectivas. Rio de Janeiro, Fundaçã o Getú lio
Vargas, 1994.
FLEUR, Melvin L. De. Teorias de Comunicação de Massa. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
FONTES, Ilma. Memó ria do cinema sergipano. Aracaju Magazine, n. 54, dez. 2000.---
Silveira, Arte e Vida. Funcaju, 1999.
FONTES, José Silvério Leite. Jackson de Figueiredo: sentido de sua obra. Aracaju: Livraria
Regina, 1952.
FORTES NETO, José Bonifá cio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade de Aracaju.
Aracaju: Livraria Regina 1955.
FRANÇA, Vera Lú cia. Aracaju: Estado & Metropolização. Sã o Cristó vã o/SE: UFS,
Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 1999.
317
FRANCO, Albano. Palestra proferida no Fó rum Pensar Sergipe, promovido pela UFS em
28.05.1999, Aracaju-1999.
FRANCO, Josevanda Mendonça. A Política das Salvações: Um Estudo de Caso. UFS, Histó ria
I, Trabalho apresentado no Curso de Bacharelado, 1982, (mimeografado).
FREITAS, Anamaria Gonçalves Bruno de. Pesquisando a educaçã o feminina do século XIX
para o século XX. Revista do Mestrado em Educação. Sã o Cristó vã o, v. 1, n. 4, UFS-NPGED,
1998.
______. A Casa de Sergipe. Sã o Cristó vã o, Editora UFS; Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2003.
GÓ IS, Baltasar. A República em Sergipe (Apontamentos para a histó ria). Aracaju: Tip. do
Correio de Sergipe, 1891.
GUIMARÃ ES, Leozírio F. Panorama da Mú sica em Sergipe. Arte de Jovens. Aracaju, Jovreu,
Ano IV, n. 20, 1970.
LACERDA, Francisco Carneiro Nobre de. A Década Republicana em Sergipe. Aracaju: Typ.
d’O Estado de Sergipe, 1906.
MACHADO, Manoel Cabral. Brava Gente Sergipana e Outros Bravos. Aracaju: UFS-BICEN,
1998.
MAZA, Fá bio. As Origens do Sindicato dos Bancá rios de Sergipe. Cadernos da UFS:
História. Sã o Cristó vã o/SE:UFS-EDUFS, 1996.
MELCHIADES, José. José Carlos Teixeira e a SCAS. Revista de Aracaju, ano 43, n. 8,
Aracaju: Sercore; Prefeitura de Aracaju, 1985.
______. Geraçã o de emprego e renda. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento
(orgs). Pensar Sergipe, v. II. Sã o Cristó vã o/SE: UFS, 2000.
319
MENDONÇA, Corinto Pinto de. Tipos populares de Aracaju (sombras que passam).
Aracaju: Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico de Sergipe (DCPH), 1974.
MENDONÇA, José Antonio Nunes. A Educação em Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1958.
MENEZES, Florentino Telles de. Escola Social Positivo. Aracaju: Imprensa Popular, 1917,
2 volumes.
MORENO, Djaldino Mota. Cinema Sergipano Catálogo de Filmes. Aracaju: BANESE, 1988.
NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Historiografia Educacional Sergipana. Uma Crítica aos
Estudos de Histó ria da Educaçã o. Sã o Cristó vã o/SE: Grupo de Estudos e Pesquisas e
Histó ria da Educaçã o-NPGED, 2003.
NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Boas Carvalho do. A Escola Americana de Aracaju. In:
Revista de Aracaju, Ano LIX, n. 9, 2002.
NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
320
NUNES, Verô nica Maria Meneses. Laranjeiras: de cidade histórica a encontro cultural.
Busca de elementos para a integração da ação cultura. Dissertaçã o de Mestrado, URJ, Rio
de Janeiro, 1933.
OLIVEIRA NETO, José Olyntho de; LIMA, Má rcia Maria Felix de. Prosa Sergipana: uma
antologia. Brasília: Thesaurus, 1992
OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gião. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
OLIVEIRA, Juarez Ferreira de. Pão, Terra e liberdade: A Aliança Nacional Libertadora em
Sergipe. Sã o Cristó vã o/SE: UFS, 1999. Monografia apresentada no curso de Histó ria da
UFS.
OLIVEIRA, Philadelplo Jô nathas de. História de Laranjeiras Católica. Aracaju: Casa Á vila,
1935.
______. A Indú stria Têxtil em Sergipe: Gênese, crescimento e Limites de uma Indú stria
Periférica. In: Newton Pedro da Silva e Dean Lee Hanse (Orgs.). Economia Regional &
Outros Ensaios. Aracaju: UFS, Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2001.
PORTO, Clara Angélica e LOBO, Paulo (orgs). Pintores Sergipanos, Aracaju: Funcaju, s/d.
PRATA, Geraldo Henrique dos Santos. Teatro Aracajuano: “Um sonho civilizador”
(1855/1910). S. Cristó vã o. 1998. Monografia apresentada no Curso de Histó ria da UFS.
REGO, general Gustavo Moraes. Depoimento in Maria Celina D'Araujo et ali... (Introduçã o
e Organizaçã o). Visões do Golpe: A memó ria militar sobre l964. Rio de Janeiro: Relume-
dumará , 1994.
321
RIBEIRO, Neuza Maria Gó is. Transformações do Espaço Urbano: o Caso de Aracaju. Recife,
FUNDAJ, Massangana, 1989.
ROLLEMBERG, Francisco Guimarã es. Fausto Cardoso. Brasília: Câ mara dos Deputados,
1987.
ROMERO, Sílvio. Cantos Populares no Brasil, tomo I. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1954.
SAES, Décio. Classe Média e Sistema Político no Brasil. Sã o Paulo: T. A. Queiroz, 1985.
SAMPAIO, José. Poesia & Prosa. Aracaju: Soc. Editorial de Sergipe, 1992.
SANTANA, Antô nio Samarone de. As Febres do Aracaju (Dos Miasmas aos Micró bios).
Dissertaçã o apresentada ao Nú cleo de Ciências Sociais da UFS, Aracaju, 1997.
SANTOS, Ana Maria dos. Indústria e Agricultura de Cítricos no Brasil. O Caso de Sergipe
1960-1989. Aracaju: Fundaçã o Augusto Franco, 1990.
SANTOS, Eufrá zia Cristina Menezes. Visão do mundo no espiritismo: uma aná lise só cio
antropoló gica. Aracaju, monografia de graduaçã o de Serviço Social, 1994.
SANTOS, Maria Gorete da Rocha dos. Sergipe: geografia/história. Sã o Paulo: FTD, 1994.
SANTOS, Maria Nely. Associação Comercial de Sergipe. Uma Instituiçã o Centená ria (1873-
1993): Aracaju, 1996.
SCHWARZ, Roberto. O Pai de Família e outros Estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
SILVA, Newton Pedro da; HANSEN, Dean Lee (orgs.). Economia Regional e Outros
Ensaios. Aracaju: UFS, Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2001.
SILVA, Rosemiro Magno da; LOPES, Eliano Sérgio Azevedo. Conflitos de Terra e Reforma
Agrária em Sergipe. Aracaju: UFS-EDUFS, Secretaria do Estado da Irrigaçã o e Açã o
Fundiá ria, 1996.
323
SILVA, Sueli Bispo da. “O fim do sonho”: A morte do cine Vera Cruz e a crise do cinema de
bairro em Aracaju (dos anos 45 aos 90). Sã o Cristó vã o, Monografia orientada por
Antô nio Fernando de A. Sá , apresentada ao Departamento de Histó ria, UFS, 2000.
SODRÉ , Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira,
1965.
SOUZA, Cristiane Vitó rio de. A “República das Letras” em Sergipe (1989-1930). Sã o
Cristó vã o, UFS, 1998. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS, p. 86-92.
SOUZA, Maria Luiza. Movimentos Sociais em Sergipe nas Décadas de 60, 70 e 80. In:
Movimentos, Aracaju, ano 1, n. 1, julho-1995.
STEPAN, Alfred (org). Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
TELES, Manoel dos Passos de Oliveira. Sergipenses. Aracaju: Typ. Do Estado de Sergipe,
1903.
TENÓ RIO, Douglas Apprato. Capitalismo e Ferrovias no Brasil. Maceió : HD Livros, 1996.
VIANA FILHO, Francisco. Futebol Sergipano. In: Memó rias de Sergipe, Correio de Sergipe,
02.11.2003.
WYNNE, J. Pires. História de Sergipe (1575- 1930). Rio de Janeiro: Pongetti, 1970 e 1973.
ZAVERUCHA, Jorge. Frágil Democracia: Collor, Itamar, FHC e os Militares 1990-98. Rio de
Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2000.
324
DOCUMENTOS OFICIAIS
SERGIPE, Governo de. Plano Plurianual, 1992/1995, vol. I, Administraçã o Joã o Alves
Filho.
O Autor