TD 2 de Linguagem e Comunicação-Prof. Manoel
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1
Texto 1
O milagre das folhas
Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes isso me basta como
esperança. Mas também me revolta: por que não a mim? Por que só de ouvir falar? Pois
já cheguei a ouvir conversas assim, sobre milagres: “Avisou-me que, ao ser dita
determinada palavra, um objeto de estimação se quebraria”. Meus objetos se quebram
banalmente e pelas mãos das empregadas.
Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que rolam pedras
durante séculos, e não daqueles para os quais os seixos já vêm prontos, polidos e
brancos. Bem que tenho visões fugitivas antes de adormecer – seria milagre? Mas já me
foi tranquilamente explicado que isso até nome tem: cidetismo (sic), capacidade de
projetar no alucinatório as imagens inconscientes.
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de coincidências, vivo de linhas que
incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamento formam um leve e instantâneo
ponto, tão leve e instantâneo que mais é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já
estaria falando em nada.
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do
vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhões de
folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a
mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a
escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa,
como o mais diminuto diamante.
Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca,
engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E
também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.
A) I.
B) II e III.
C) I e II.
D) I e III.
A) “Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande
delicadeza.”
B) “Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que rolam
pedras durante séculos...”
C) “Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se
cruzam...”
D) “Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca,
engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança.”
A) é puramente informativo.
B) tem sutis conotações irônicas.
C) exige um conhecimento especializado do leitor.
D) traz uma informação indispensável para a atribuição de um sentido ao texto.
7. O pronome “isso” (linha 1) constitui uma anáfora. Sobre ele é correto afirmar
que
A) I e II somente.
B) I, II e III.
C) I e III somente.
D) II e III somente
A) Ouve-se a voz de quem, como terceira voz, deu à segunda voz informações
sobre milagre.
B) A primeira voz é a do enunciador da crônica que relata o que lhe foi dito por
alguém.
C) Para fazer o relato do que lhe foi dito ele se vale do discurso indireto.
D) A segunda voz é a de alguém que fala sobre milagre ao enunciador da
crônica.
10. Reflita sobre o seguinte trecho “Até que fui obrigada a chegar à conclusão de
que sou daqueles que rolam pedras durante séculos, e não daqueles para os quais
os seixos já vêm prontos, polidos e brancos.”
Assinale com F o que for falso e com V o que for verdadeiro.
A) V, F, V.
B) V, F, F.
C) F, V, F.
D) V, V, V.
A) I, II e III.
B) I e III apenas.
C) II e III apenas.
D) I e II apenas.