Material - 14 - A Literatura - Romântica - Poesia (Facisa 2021)

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PROFESSOR: LEONARDO QUEIROGA

@leoqueiroga2704/ [email protected]

A LITERATURA ROMÂNTICA

01.

SONETO

Pálida à luz da lâmpada sombria,


Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria


Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando


Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando

Não te rias de mim, meu anjo lindo!


Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

In: Álvares de Azevedo. Seleção de textos de Bárbara Heller, Luís Percival L. Brito e Marisa Lajolo. Sâo Paulo:
Abril Educação, 1982. p. 22. Literatura Comentada.

Levando-se em conta o autor e a corrente estética em que se enquadra o soneto apresentado, pode-se afirmar
que a figura feminina é tratada

a) de forma idealizada e sensualista, como se vê na recorrência à ideia de brancura, palidez e voluptuosidade.

b) de forma sensualista e mórbida, como referência a um cientificismo trágico que também é comum na estética naturalista.

c) de maneira a sentir-se plena e realizada na concretude dos sentimentos amorosos e integrada ao ser amado.

d) sem rebuscamento ou idealização, já que há um profundo sentido de morbidez que arremata o poema.

e) sem fantasia ou valorização sensualista, uma vez que o ultrarromantismo vê a mulher a partir do binômio amor x morte.
02.

Canto IV
Navio negreiro

Era um sonho dantesco... o tombadilho


Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica e serpente
Faz doudas espirrais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Castro Alves

"Navio negreiro" é um dos principais poemas da chamada Geração Condoreira do Romantismo brasileiro e foi
escrito em 1868, 18 anos após a promulgação da Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico negreiro. Observando ao longo
da história da literatura brasileira, outros autores também se interessaram por temas sociais, como comprova

a) a obra de Cecília Meireles, sempre preocupada com a realidade cotidiana e o compadecimento com os desvalidos.

b) a obra de Augusto de Campos, que se voltava para uma preocupação com a poesia e com a realidade concreta.

c) a obra de Álvares de Azevedo, escrita também no período do Romantismo e marcada por forte visão crítica.

d) a obra de Lima Barreto, cronista e romancista carioca que retratou a vida dos habitantes do subúrbio de sua cidade e
ironizou os desmandos do poder no país e os vícios das elites.

e) a obra de Guimarães Rosa, principal representante do regionalismo social da década de 1930, também chamado de
segunda fase do Modernismo brasileiro.

03.

Texto I

Senhor Deus dos desgraçados!


Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é mentira... se é verdade
Tanto horror perante os céus?...
Ó mar! por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados,


Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?...
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa!
Musa libérrima, audaz!

São os filhos do deserto


Onde a terra esposa a luz,
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Ontem simples, fortes, bravos...
Hoje mísero escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...

In: O navio negreiro – Castro Alves.

É próprio da poesia de Castro Alves tratar do tema da escravidão. Clamando em verso pelos oprimidos, recebeu
o epiteto de "O poeta dos escravos". Tal alcunha justifica-se no poema por meio da linguagem

a) denotativa, que evidencia o aspecto de crônica do cotidiano presente no texto.

b) hiperbólica, para sensibilizar o leitor para a urgência do tema e denunciar as autoridades pela inércia diante da escravidão.

c) referencial, para fazer o leitor assimilar a necessidade de reformas liberais através de uma poesia condoreira.

d) conotativa, que mescla versos ora exclamativos, ora interrogativos, ora reticentes para exprimir ideais libertários.

e) rebuscada de adjetivos macabros que evidenciam elementos próprios do mundo romântico à época do "mal-do-século".

04.

Leia o texto:

A lagartixa

A lagartixa ao sol ardente vive


E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.
Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.
Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.
Poesias completas, de Álvares de Azevedo.

Álvares de Azevedo, autor desse poema, é um dos principais representantes da segunda geração do
Romantismo brasileiro. Levando-se em conta as características dessa geração e o texto lido, podemos afirmar que

a) esse poema reflete de forma bem fidedigna as convenções da estética romântica.

b) a caracterização do amante ("lagartixa") e da amada ("clarão", "sol", "vinho", "sono", "copo", "leito", "néctar de amor") cria
uma atmosfera sarcástica, ironizando a falsa harmonia entre os amantes.

c) a imagem da lagartixa, prosaica e esdrúxula, por contraste às imagens líricas, gera estranheza e comicidade ao texto.

d) a melancolia, o ar sombrio e fúnebre, marcas da poética da segunda geração romântica, estão presentes no poema "A
lagartixa".

e) a pieguice amorosa e a frustração amorosa, temáticas frequentes na estética romântica, são amplamente exploradas
nesse poema.

05.
A POESIA

Ah se não houvesse a poesia,


se não houvesse a poesia, não haveria água,
nem madeira, nem caminho, nem céu, nem corpo
atraindo outro corpo. Ah, se não houvesse a poesia
eu simplesmente não seria um zé garcia atravessado
na garganta de deus e do diabo, eu não seria um zé,
um Zé Garcia Chuva de Manga, não um camarada
atravessado de nuvens e de tantas mulheres felizes,
eu não seria, engraçada, uma tempestade muda.
GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 25.

UM CADÁVER DE POETA
[...]
A poesia é de certo uma loucura;
Sêneca o disse, um homem de renome.
É um defeito no cérebro... Que doidos!
É um grande favor, é muita esmola
Dizer-lhes bravo! à inspiração divina...
E, quando tremem de miséria e fome,
Dar-lhes um leito no hospital dos loucos...
Quando é gelada a fronte sonhadora
Por que há de o vivo que despreza rimas
Cansar os braços arrastando um morto,
Ou pagar os salários do coveiro?
A bolsa esvaziar por um misérrimo,
Quando a emprega melhor em lodo e vício!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 127.

Os poemas transcritos tratam do mesmo tema, o fazer poético, mas apresentam diferentes concepções a
respeito dessa temática. Tal diferença se expressa na contraposição entre as ideias de que a poesia é

a) produto da observação da natureza, no primeiro poema; e fruto da inspiração divina, no segundo.

b) decorrente dos temas explorados pelo poeta, no primeiro poema; e resultado da insanidade de quem a produz, no segundo.

c) inspirada nos sentimentos amorosos, no primeiro poema; e responsável pelas dores vividas pelo poeta, no segundo.

d) forma de conhecimento para o poeta, no primeiro poema; e motivo de sofrimento para quem a cria, no segundo.
e) gênese da criação, no primeiro poema; e resultado de distúrbios emocionais do poeta, no segundo.

06.

I - Juca Pirama
VIII
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
"Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
"Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas como asco e terror!
[...]
In: Poemas de Gonçalves Dias. Seleção de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Rio de Janeiro.
Ediouro.

A força dramática do canto VIII de "I - Juca Pirama", analisada sob a ótica indianista do romantismo brasileiro,
decorre

a) das imagens utilizadas na maldição do pai, segundo o filho passaria a ser ente solitário e errante.

b) das sugestões visuais e táteis do texto, que sugerem a superioridade dos timbiras sobre o guerreiro tupi.

c) das representações sinestésicas do texto, que, de acordo com as palavras de um pai envergonhado, sugerem o ato de
fraqueza do filho.

d) das ideias discutidas ao longo, principalmente, da segunda estrofe do texto, em que as mulheres e amigos de I-Juca
Pirama também são amaldiçoados.

e) das organizações estruturais das estrofes, marcadas recorrentemente pelo rigor e pelo uso do solene verso decassílabo.

07.
Minha desgraça

Minha desgraça não é ser poeta,


Nem na terra de amor não ter um eco...
E, meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que meu peito assim blasfema,
É ter por escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos.

Álvares de Azevedo é reconhecidamente vinculado à geração "byroniana" do Romantismo. Essa característica


fica mais evidente pelo uso de expressões como:

a) "terra de amor" e "como trata-se um boneco".

b) "duro como pedra" e "cândida donzela".

c) "cotovelos rotos" e "dinheiro".

d) "Minha desgraça" e "O mundo é um lodaçal perdido".

e) "escrever todo um poema" e "não ter um vintém".

08.

Texto I Texto II
Canção do tamoio Berimbau
(...) Porém se a fortuna, Quem é homem de bem não trai
Traindo teus passos, O amor que lhe quer seu bem.
Te arroja nos laços Quem diz muito que vai não vai
Do imigo falaz! E, assim como não vai, não vem.
Na última hora Quem de dentro de si não sai
Teus feitos memora, Vai morrer sem amar ninguém,
Tranquilo nos gestos, O dinheiro de quem não dá
Impávido, audaz. É o trabalho de quem não tem,
E cai como o tronco Capoeira que é bom não cai
Do raio tocado, E, se um dia ele cai, cai bem!
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão. (...)

(Gonçalves Dias) (Vinicius de Moraes e Baden Powell)

No fragmento poético de Gonçalves Dias, um pai explica ao filho como se comporta um guerreiro no momento
da morte. Esse conselho demonstra que os românticos viam os índios

a) como retrato de uma sociedade em crise, pois eles estavam sendo dizimados pelos colonizadores europeus, que tinham
grande poder militar.

b) de modo cruel, uma vez que, em lugar de criticar as constantes lutas entre tribos rivais, eles preferiam falar dos aspectos
positivos da violência.
c) de modo idealizado, com valores próximos aos das Cruzadas europeias, quando era nobre morrer por uma causa
considerada justa.

d) como símbolos de um país que surgia, sem nenhuma influência dos valores europeus e celebrando apenas os costumes
dos povos nativos da América.

e) com base no mito do "bom selvagem", mostrando que eles nunca entravam em conflitos entre si.

09.

(...) qualquer que seja a preferência temática: contemplação panteísta e sentimento religioso, no sentido da associação
panteísta e sentimento religioso, no sentido da associação de Deus à natureza: lirismo pessoal que concilia a sua experiência
sentimental com o ideal amoroso revestido de significação autobiográfica; indianismo e inspiração medievalista, isto é, de
reconsideração de ideias e visões tomadas à tradição medieval. Nesse caso, deve-se entender a sua poesia indianista como
antevisão lírica e épica das nossas origens revigorando as intenções nacionalistas do Romantismo. Do ponto de vista da
expressão, deu exemplo de extraordinário equilíbrio e sobriedade, resultantes sobretudo de longa experiência com a tradição
poética em língua portuguesa. É de fato o nosso primeiro poeta romântico a se identificar imediatamente com a
sentimentalidade de seu povo e a dar um exemplo fecundo à nossa criação literária.

CÂNDIDO, Antônio; CASTILHO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira. São Paulo: Difel, 1979.

Podemos afirmar que o texto acima

a) refere-se ao poeta da primeira geração romântica, Gonçalves Dias.

b) alude de forma velada à poesia condoreira de Castro Alves.

c) trata do tom byroniano da poesia de Álvares de Azevedo.

d) nega o indianismo de escritores como Gonçalves de Magalhães.

e) identifica elementos presentes nos autores das três gerações poéticas do Romantismo.

10.

Texto I
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava


Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
ABREU, C. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993.

Texto II

Texto II
A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira metade do
século XIX, introduziu-se em 1836. Durante quatro decênios, imperaram o "eu", a
anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do
romance, do teatro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época).
MOISÉS, M; A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1971 (fragmento).

De acordo com as considerações de Massaud Moisés no texto II, o texto I centra-se

a) no imperativo do "eu", reforçando a ideia de que estar longe do Brasil é uma forma de estar bem, já que o país sufoca o
eu lírico.

b) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo saudosismo em relação à paisagem agradável onde o eu lírico
vivera a infância.

c) na liberdade formal, que se manifesta na opção por versos sem métrica rigorosa e temática voltada para o nacionalismo.

d) no fazer anárquico, entendida a poesia como negação do passado e da vida, seja pelas opções formais, seja pelos temas.

e) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a alegria presente em oposição à infância, marcada pela tristeza.

11.

"Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas


Passam tantas visões sobre meu peito
Palor de febre meu semblante cobre,
Batem meu coração com tanto fogo!"

Assinale a alternativa em que se considera o clima romântico expresso nos versos acima característico da
poesia do "Byron brasileiro", Álvares de Azevedo.

a) A expressão exaltada serve nitidamente ao desejo de sublinhar a indignação contra os fatores históricos que sufocam a
liberdade do homem.

b) A atmosfera noturna, própria ao devaneio, propicia um suave estado de contemplação poética, dentro do qual o ser
encontra docemente harmonizado com o mundo e consigo mesmo.

c) A noite significa não apenas o enquadramento natural, mas meio psicológico, tonalidade afetiva correspondente às
disposições do poeta aos movimentos turvos do eu.

d) Os símbolos da luz e do fogo expressam o anseio de uma nova civilização, que o poeta quer ver dirigida pela Razão e
pela Justiça, suas bandeiras de luta.

e) Amante fascinado da natureza, o poeta retrata-se em cores fortes e precisas, ciente de que ela representa o plano da
harmonia e da serenidade a que todos devemos apreciar.

12.

I - Juca Pirama

VIII

"Tu choraste em presença da morte?


Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
\"Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
\"Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas como asco e terror!
[...]

In: Poemas de Gonçalves Dias. Seleção de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Rio de Janeiro. Ediouro.

O poema "I - Juca Pirama" compõe o livro Últimos Cantos, de 1851, do poeta maranhense Antônio Gonçalves
Dias. Sabendo-se que tal obra pertence à primeira geração do romantismo, pode-se inferir que nela encontraremos

a) grande força telúrica, sobretudo pela recorrência a elementos da fauna e da flora brasileiras, conforme se vê no fragmento.

b) idealização do índio como elemento simbólico de uma nação que começa a construir sua identidade mesmo esbarrando
em influências estéticas "afrancesadas".

c) valorização do índio como elemento histórico de resistência aos processos de colonização impostos por monarquias
europeias.

d) evidências da permanente influência da cultura europeia, que persistirá no Brasil literário até o fim do período que
convencionamos chamar de pós-modernismo.

e) profundo sentimento nativista, sobretudo no ato de coragem do pai que intercede pelo filho junto ao chefe timbira temendo
por sua vida.

13.

Texto I

Quando à noite no leito perfumado

Quando à noite no leito perfumado


Lânguida fronte no sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por que te orvalha
Pranto de amor as pálpebras divinas?
E, quando eu te contemplo adormecida
Solto o cabelo no suave leito,
Por que um suspiro tépido ressona
E desmaia suavíssimo em teu peito?
Virgem do meu amor, o beijo a furto
Que pouso em tua face adormecida
Não te lembra no peito os meus amores
E a febre do sonhar de minha vida?
Dorme, ó anjo de amor! No teu silêncio
O meu peito se afoga de ternura
E sinto que o porvir não vale um beijo
E o céu um teu suspiro de ventura!
Um beijo divinal que acende as veias,
Que de encantos os olhos ilumina,
Colhido a medo como flor da noite
Do teu lábio na rosa purpurina,
E um volver de teus olhos transparentes,
Um olhar dessa pálpebra sombria,
Talvez pudessem reviver-me n’alma
As santas ilusões de que eu vivia!
Álvares de Azevedo

Texto II

Todo azul do mar

Foi assim, como ver o mar/ a primeira vez que meus


olhos se viram no seu olhar/ Não tive a intenção de me
apaixonar/ mera distração e já era momento de se gostar/
Quando eu dei por mim, nem tentei fugir/ do visgo que me
prendeu dentro do seu olhar/ Quando eu mergulhei, no
azul do mar/ sabia que era amor e vinha pra ficar/ Daria
pra plantar todo o azul do céu/ Dava pra encher o
universo da vida que eu quis pra mim/ Tudo o que eu fiz
foi me confessar escravo do seu amor/livre para amar/
Quando eu mergulhei, fundo nesse olhar, fui dono do mar
azul/ de todo azul do mar/ Foi assim, como ver o mar/ Foi
a primeira vez que eu vi o mar/ Onda azul, todo azul do
mar/ Daria pra beber todo azul do mar/ Foi quando eu
mergulhei no azul do mar.
Flávio Venturini, Ronaldo Bastos, Toninho Horta. 1997.

Considerando a leitura dos dois textos anteriores, podemos inferir que

a) diferentemente do que acontecia na poesia nacionalista, o texto de Álvares de Azevedo e o de Flávio Venturini se detêm
na subjetividade e no sentimentalismo, evidenciando a visão egocêntrica.

b) o eu lírico do texto I demonstra adoração pela mulher quando afirma "E, quando eu te contemplo adormecida/ Solto o
cabelo no suave leito"; o do texto II, diferentemente, não demonstra sentimentalismo nem exagero.

c) como pertencem a momentos históricos diferentes, não há como evidenciar exagero, emoção, idealização e forte
subjetividade em ambos os textos. Isso só aparece no texto de Álvares de Azevedo.

d) a antítese aparece no texto de Álvares de Azevedo, quando ele diz "Dorme, ó anjo de amor! No teu silêncio/ O meu peito
se afoga de ternura". Esse recurso estilístico não aparece no texto II.

e) a natureza representa o topo no texto I, enquanto no texto II ela aparece como um recurso pouco importante pa ra
exemplificar o sentimento do eu lírico.

14. (UPE 2017) O Romantismo não é só um período literário, ele também é um movimento que abarca as artes
plásticas. Assim, analise as imagens a seguir.
Acerca dos textos acima, assinale com V as afirmativas Verdadeiras e com F as Falsas.

( ) É possível afirmar que esses textos têm em comum complexos valores ideológicos, próprios da expressão plástica
romântica.
( ) A Imagem 1 expressa uma das temáticas do Romantismo, isto é, a liberdade contra a tirania.
( ) A Imagem 2 dialoga com o Romantismo por tratar de uma temática cara aos românticos, que é a exaltação do passado
histórico e de caráter nacionalista.
( ) A Imagem 3 expressa, de forma dramática, a tragédia de um naufrágio. Nessa obra, é possível identificar uma das
características do Romantismo, a hipervalorização dos sentimentos, tanto as do mundo físico natural como as emoções
pessoais.
( ) A Imagem 4 dialoga com a obra de José de Alencar, O Uraguai, cuja protagonista é Iracema.

A sequência CORRETA, de cima para baixo é:

a) V – V – V – V – F b) F – F – V – V – F c) F – V – V – F – F d) V – V – V – F – V e) V – F – V – F – V

15. (UPE 2017)

Texto 1

Amor

Amemos! Quero de amor


Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!

Na tu‘alma, em teus encantos


E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!

Quero viver d´esperança,


Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,


Minh‘alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento


Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Álvares de Azevedo

Texto 2

Era no tempo do rei.

Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo
– O canto dos meirinhos –; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos
dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata
dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da
formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de
vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro
do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais
que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.

Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

Sobre os textos 1 e 2, analise as proposições a seguir e assinale com V as Verdadeiras e com F as Falsas.

( ) O Texto 1 tematiza o amor como sentimento da ação interior do sujeito, deixando transparecer seu estado afetivo; revela
a intimidade de um amor irresoluto e ambivalente.
( ) O poeta Álvaro de Azevedo transita entre um amor humano e um amor divino, numa tentativa de equacionar seus
desejos pela mulher amada e pela imagem de mulher divinizada.
( ) A obra Memórias de um Sargento de Milícias caracteriza-se como uma novela, ao apresentar uma sequência de células
dramáticas, ou episódios semelhantes a capítulos, posicionados numa ordem linear temporal.
( ) O Texto 2, fragmento de Memórias de um Sargento de Milícias, caracteriza-se como um romance, e é baseado nos
valores sociais, contemporâneos ao autor da obra.

A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:

a) F – V – V – F b) V – V – V – F c) V – F – V – V d) V – V – F – V e) V – V – F – F

16. (Imed 2016)

Leia os poemas a seguir, de Casimiro de Abreu e Carlos Drummond de Andrade, respectivamente:

MEUS OITO ANOS

Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
- Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,


Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! […]

Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Que doce a vida não era


Em vez das mágoas de agora.

CONSOLO NA PRAIA

Vamos, não chores...


A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.


O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.


Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,


em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.


À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias


precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Analise as seguintes afirmações a partir dos poemas:

I. Embora Casimiro de Abreu integre o período literário romântico, e Carlos Drummond de Andrade, o modernismo, ambos os
poemas abordam a passagem do tempo e a ideia de perda de momentos da vida humana: infância e juventude.
II. No primeiro poema, o eu lírico apresenta a infância com certo escapismo, fugindo, assim, do momento presente, o qual é
resgatado no último verso.
III. Identifica-se que, em ambos os poemas, o eu lírico mostra-se pesaroso e inconformado com a passagem do tempo e da
vida.

Quais estão corretas?

a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.


17. (UFG 2014) Leia o poema a seguir.

SONETO

Ao sol do meio-dia eu vi dormindo


Na calçada da rua um marinheiro,
Roncava a todo o pano o tal brejeiro
Do vinho nos vapores se expandindo!
Além um Espanhol eu vi sorrindo
Saboreando um cigarro feiticeiro,
Enchia de fumaça o quarto inteiro.
Parecia de gosto se esvaindo!
Mais longe estava um pobretão careca
De uma esquina lodosa no retiro
Enlevado tocando uma rabeca!
Venturosa indolência! não deliro
Se morro de preguiça... o mais é seca!
Desta vida o que mais vale um suspiro?

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 183.

Exemplar da segunda parte de Lira dos vinte anos, o poema transcrito encarna o lado Caliban do poeta, que
se manifesta ao empregar a ironia como recurso para expressar

a) uma distinção da imagem do artista, presente nos versos “De uma esquina lodosa no retiro / Enlevado tocando uma
rabeca!”.
b) uma visão pejorativa do homem, que se evidencia nos vocábulos do verso “Mais longe estava um pobretão careca”.
c) um rebaixamento da condição humana, o que se confirma na descrição depreciativa dos espaços, na terceira estrofe.
d) uma perspectiva escandalizada da sociedade, comprovada pela representação depravada dos sujeitos, na primeira estrofe.
e) um deboche da moralidade, visível nos versos “Venturosa indolência! não deliro / Se morro de preguiça... o mais é seca!”.

18. (UPE 2014)

No filme Sociedade dos Poetas Mortos (USA, 1989), a personagem, interpretada pelo ator Robim Willams, é
um professor de literatura provocativo e dissonante do tradicionalismo da Welton Academy, onde estudou e retornou na
condição de docente. Os alunos, como se pode ver na película dirigida por Peter Weir, antes da chegada do John Keating,
estudavam literatura de modo bastante técnico e pouco reflexivo. A chegada do “Capitão”, como o professor Keating ficou
conhecido entre os alunos, é determinante para a mudança do pensamento dos estudantes e para promover uma ruptura
entre a tradição e a inovação na Welton Academy.

Considerando o que se afirmou sobre o filme Sociedade dos Poetas Mortos (USA, 1989), quando comparamos
com o Romantismo no Brasil, assinale a alternativa CORRETA.

a) A estética romântica apresentada tanto na prosa quanto na poesia, a despeito de suas fases, coaduna-se com o
pensamento apresentado nos textos de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.
b) As bases da ideologia do pensamento romântico no Brasil são totalmente divergentes das bases ideológicas do
pensamento romântico na Europa, mais precisamente na Alemanha.
c) Os autores românticos brasileiros, a depender da fase, evidenciam extremo subjetivismo, diferentemente de autores que
ovacionavam expressões como Fugere Urbem e Carpe Diem.
d) O autor José de Alencar, quando escreve seus romances urbanos, diferentemente do professor John Keating, não promove
confrontos entre o “antigo” e o “novo”.
e) O Romantismo no Brasil, diferentemente do pensamento desenvolvido no filme de Peter Weir, coaduna-se com a estética
de início difundida na Europa, nos anos de 1751.

19. (ENEM PPL 2016)


Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial.
Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indômito guerreiro pronunciar a seus pés palavras
do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção: – Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma
que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo
perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo,
embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida
entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração
abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.

GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.


Acesso em: 7 out. 2015.

O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que
evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a

a) referência a elementos da natureza local.


b) exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.
c) cumplicidade entre o narrador e a paisagem.
d) representação idealizada do cenário descrito.
e) expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.

20. (ENEM PPL 2012)

TEXTO I

A canção do africano
Lá na úmida senzala.
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia-voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez p’ra não o escutar!
“Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita.
Mas à outra eu quero bem.”

ALVES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995 (fragmento).

TEXTO II

No caso da Literatura Brasileira, se é verdade que prevalecem as reformas radicais, elas têm acontecido mais no âmbito de
movimentos literários do que de gerações literárias. A poesia de Castro Alves em relação à de Gonçalves Dias não é a de
negação radical, mas de superação, dentro do mesmo espírito romântico.
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003 (fragmento)

O fragmento do poema de Castro Alves exemplifica a afirmação de João Cabral de Melo Neto porque

a) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo ideológico retórico.


b) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais do liberalismo.
c) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas renova o tema amoroso.
d) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que tematize a injustiça social.
e) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém a visão lírica da terra pátria.
21. (ENEM CANCELADO 2009)

Texto 1

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
[...]

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o Sabiá.

DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998.

Texto 2

Canto de regresso à Pátria

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas


E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas


Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra


Sem que volte pra São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo

ANDRADE, O. Cadernos de poesia do aluno Oswald. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.

Os textos 1 e 2, escritos em contextos históricos e culturais diversos, enfocam o mesmo motivo poético: a
paisagem brasileira entrevista a distância. Analisando-os, conclui-se que
a) o ufanismo, atitude de quem se orgulha excessivamente do país em que nasceu, é o tom de que se revestem os dois
textos.
b) a exaltação da natureza é a principal característica do texto 2, que valoriza a paisagem tropical realçada no texto 1.
c) o texto 2 aborda o tema da nação, como o texto 1, mas sem perder a visão crítica da realidade brasileira.
d) o texto 1, em oposição ao texto 2, revela distanciamento geográfico do poeta em relação à pátria.
e) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem brasileira.

22. (ENEM CANCELADO 2009)

Ouvir estrelas

“Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo


perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
que, para ouvi-las, muita vez desperto
e abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
a Via-Láctea, como um pálio aberto,
cintila. E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,
inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?” Que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

BILAC, Olavo. Ouvir estrelas. In: Tarde, 1919.

Ouvir estrelas

Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo


que estás beirando a maluquice extrema.
No entanto o certo é que não perco o ensejo
De ouvi-las nos programas de cinema.
Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
que mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma boca de estrela dando beijo
é, meu amigo, assunto p’ra um poema.
Direis agora: Mas, enfim, meu caro,
As estrelas que dizem? Que sentido
têm suas frases de sabor tão raro?
Amigo, aprende inglês para entendê-las,
Pois só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas. In: Becker, I. Humor e humorismo: Antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961.

A partir da comparação entre os poemas, verifica-se que,

a) no texto de Bilac, a construção do eixo temático se deu em linguagem denotativa, enquanto no de Tigre, em linguagem
conotativa.
b) no texto de Bilac, as estrelas são inacessíveis, distantes, e no texto de Tigre, são próximas, acessíveis aos que as ouvem
e as entendem.
c) no texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais trabalhada, como se observa no uso de estruturas como “dir-vos-ei sem
pejo” e “entendê-las”.
d) no texto de Tigre, percebe-se o uso da linguagem metalinguística no trecho “Uma boca de estrela dando beijo/é, meu
amigo, assunto p’ra um poema.”
e) no texto de Tigre, a visão romântica apresentada para alcançar as estrelas é enfatizada na última estrofe de seu poema
com a recomendação de compreensão de outras línguas.

23. (ENEM 2014)


SONETO

Oh! Páginas da vida que eu amava,

Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...


Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!

E que doido que eu fui! como eu pensava


Em mãe, amor de irmã! em sossegado
Adormecer na vida acalentado

Pelos lábios que eu tímido beijava!

Embora é meu destino. Em treva densa


Dentro do peito a existência finda

Pressinto a morte na fatal doença!

A mim a solidão da noite infinda!

Possa dormir o trovador sem crença.


Perdoa minha mãe eu te amo ainda!

AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura brasileira como
Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica identifica-se com o(a)

a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico.

b) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã.

c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica.

d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir.

e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante.

24. (ENEM 2010)

Soneto

Já da morte o palor me cobre o rosto,


Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto


Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,


Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!


Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!

AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.


O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo
que o projeta para além desse momento especifico. O fundamento desse lirismo é

a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.


b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.
c) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.
d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.

25. (ENEM 2007)

O CANTO DO GUERREIRO

Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
- Ouvi-me, Guerreiros,
- Ouvi meu cantar.

Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me;
- Quem há, como eu sou?

Gonçalves Dias

MACUNAÍMA
(Epílogo)

Acabou-se a história e morreu a vitória.


Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não
havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos
misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a
terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói?

Mário de Andrade.

A leitura comparativa dos dois textos indica que

a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo
do nacionalismo romântico.
b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do
Brasil.
c) as perguntas "- Quem há, como eu sou?" e "Quem podia saber do Herói?" expressam diferentes visões da realidade
indígena brasileira.
d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de
colonização no Brasil.
e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados
pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto.

26. (ENEM 1998)

Texto 1
Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são gotas da mentira
E o juramento manto da perfídia.
(Joaquim Manoel de Macedo)

Texto 2

Teresa, se algum sujeito bancar o


sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA
(Manuel Bandeira)

Os autores, ao fazerem alusão às imagens da lágrima sugerem que

a) há um tratamento idealizado da relação homem/mulher.


b) há um tratamento realista da relação homem/mulher.
c) a relação familiar é idealizada.
d) a mulher é superior ao homem.
e) a mulher é igual ao homem.

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