Nova Ordem Mundial e A Justiça Brasileira

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 50

Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira

Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

1
“A ânsia de salvar a
humanidade é quase
sempre um disfarce para
a ânsia de governá-la.”
(H.L.Mencken)
SUMÁRIO
1. MATEUS 7.20. PORTANTO, PELOS SEUS
FRUTOS OS CONHECEREIS 4
2. A CRIAÇÃO DOS CONSELHOS 16
2.1 ORGANISMOS INTERNACIONAIS
E A REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO
NO CARIBE E NA AMÉRICA LATINA 22
2.2 A ESQUERDA LATINO AMERICANA E A
TRAMITAÇÃO LEGISLATIVA DA
REFORMA DO JUDICIÁRIO 27
2.3 OS FRUTOS 40
3. CONCLUSÃO
47
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

MATEUS 7.20. PORTANTO, PELOS


1 SEUS FRUTOS OS CONHECEREIS.
Em 2005, explodiu em Brasília o escân-
dalo de corrupção do governo petista que
foi apelidado de Mensalão. Durante anos, o
brasileiro acompanhou pela TV os depoi-
mentos da CPI dos Correios, na Câmara dos
Deputados, e o processo do Mensalão, nos
debates sobre o recebimento da denúncia na
Ação Penal 4701, que tramitou no Supremo
Tribunal Federal, e tinha como réus vários
parlamentares, banqueiros, empresários. Em
2012, durante 4 meses, o Supremo Tribunal
Federal teve sessões diárias para julgar os réus,
o que culminou na condenação e prisão de
alguns, em dezembro de 20122.
Em junho de 2013, um protesto de es-
tudantes culminou numa série de manifes-
tações populares que tomaram as ruas das
grandes e médias cidades, nas quais milhões
de brasileiros, de matizes ideológicas diversas,
expressavam a sua insatisfação pelos moti-
vos mais variados. Na mesma época, um pro-
jeto de emenda constitucional do deputado

1
https://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNe
wsletter.php?sigla=newsletterPortalInternacionalNoticias&idCon-
teudo=214544 - último acesso em 05 de setembro de 2019, às
11h46min.
2
http://g1.globo.com/politica/mensalao/noticia/2012/12/supremo-
-conclui-julgamento-do-mensalao-apos-quatro-meses-e-meio.
html – acesso em 01/09/2019, às 10h57min;

4
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Lorival Mendes do PT do B/MA, proposto em


junho de 2011, entrou na pauta de votação da
Câmara dos Deputados,
“Todo o poder
tratava-se do PEC 37/2011,
emana do povo,
cujo objetivo era impedir
que o exerce por
que órgãos que não fos-
meio de repre-
sem de polícia federal e
sentantes eleitos
civil realizassem investiga-
ou diretamente,
ções de infrações penais,
nos termos desta
buscando atingir e coibir
as atividades investigati-
Constituição.”
vas do Ministério Público, da Receita Federal,
dos Tribunais de Contas, por ex3. Diante des-
se cenário, as manifestações, que até então
eram difusas, concentraram-se em pedir a
rejeição do PEC 37, já que sua aprovação si-
nalizava o aumento da impunidade de cor-
ruptos e criminosos de toda espécie.
No dia 25 de junho de 2013, a Câmara
votou o projeto, que foi rejeitado por maio-
ria — 430 votos contra 09 —. A população
acompanhou a votação concentrada nas ruas,
assistindo à sessão por telões. A mensagem
fora dada, o art. 1º, § único, da Constituição
Federal que dispõe que “Todo o poder ema-
na do povo, que o exerce por meio de repre-
sentantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição” foi observado à plenitu-
de naquela noite. O povo deixou bem cla-
ro o que esperava dos poderes da República
e dos órgãos de persecução penal — um
3
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=507965 – acesso em 01 de setembro de 2019, às
11h04min.

5
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

combate intenso ao crime e punição severa


aos criminosos.
Em março de 2014, iniciou-se, na Justiça
Federal de Curitiba, a operação que investi-
gou talvez o maior esquema de corrupção
do mundo, a Lava-Jato4. Desde então, mi-
lhões de brasileiros já saíram diversas vezes
às ruas para defender a sua continuidade,
para apoiar os investigadores e os juízes que
nela atuam e para defender e exigir punição
exemplar dos criminosos corruptos.
O que fizeram os responsáveis pelo
Controle Externo do Judiciário e do Ministério
Público, muitos deles supostamente repre-
sentantes populares dentro desses órgãos,
diante do reclamo da população?
Em fevereiro de 2015, o Conselho Nacio-
nal de Justiça (CNJ) lançou um projeto-pilo-
to, em parceria com o TJ-SP, para implantar
audiências de custódia. A partir desse pro-
jeto-piloto, rapidamente, todos os Tribunais
de Justiça do país passaram a assinar termos
de adesão ao projeto e im-
Em março de
por a juízes, promotores e
2014, iniciou-se,
procuradores da repúbli-
a operação que
ca a realização de um ato
judicial não previsto em
investigou talvez
lei, não previsto em lei até
o maior esquema
2019, por meio do qual o
de corrupção
preso em flagrante deveria do mundo, a
ser apresentado a um juiz Lava-Jato.
4
http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato/entenda-o
-caso – acesso em 01 de setembro de 2019, às 10h15min.

6
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

e a um promotor ou procurador da repúbli-


ca, devidamente acompanhado de um advo-
gado, até 24 horas após a comunicação do
flagrante. Esse projeto-piloto foi implantado
de vez a partir de 15 de dezembro de 2015,
por meio da Resolução nº 213/2015 do CNJ , 5

corroborado por uma liminar do Supremo


Tribunal Federal, deferida em setembro de
2015, numa Ação de Descumprimento de
Preceito Fundamental – a ADPF 347 - pro-
posta pelo Partido Socialismo e Liberdade
(PSOL), em maio daquele mesmo ano . 6

Logo após o lançamento do projeto-pi-


loto, já em 09 de abril de 2015, foram assina-
dos três acordos de cooperação entre CNJ,
Ministério da Justiça (diga-se José Eduardo
Cardoso, advogado da Dilma) e o IDDD -
Instituto de Defesa do Direito de Defesa7, que
tinham por objetivo incentivar a difusão do
projeto Audiências de Custódia em todo o
País, o uso de medidas alternativas à prisão e a
monitoração eletrônica buscando combater

5
http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3059 – últi-
mo acesso em 28 de julho de 2019, às 15h14;
6
http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoele
tronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoinciden-
te=4783560
7
ONG de advogados e de grandes escritórios de advogados crimi-
nalistas criada ou ao menos que era integrada pelo advogado cri-
minalista MÁRCIO THOMAZ BASTOS, que fora Ministro da Justiça
de Lula e que atuou fortemente na reforma do judiciário.
http://www.iddd.org.br/?post_type=parceiros - último acesso em
28 de julho de 2019, às 15h17min.
http://www.iddd.org.br/index.php/quem-somos/ - último acesso
em 28 de julho de 2019, às 15h18min.

7
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

a “cultura do encarceramento” que alegavam


ter se instalado no Brasil .
8

Por sua vez, o Conselho Nacional do


Ministério Público (CNMP), a fim de regula-
mentar o poder de investigação do Ministério
Público, fortalecido pela rejeição do PEC
37, expediu, em 07 de agosto de 2017, a
Resolução 181/2017, na qual determinou
como se daria a instauração e tramitação do
Procedimento Investigatório Criminal, ins-
trumento a ser utilizado pelos Promotores
de Justiça e Procuradores da República para
a investigação criminal.
No artigo 18, da Resolução do CNMP, foi
criado o acordo de não-persecução penal,
que previa situações em que o agente minis-
terial, ao invés de oferecer denúncia contra
o criminoso, deveria lhe propor um acordo,
com algumas condições, que se cumpridas,
impediriam o início do processo penal, o que
nada mais é do que aumentar a dose do re-
médio que está matando o paciente. Assim,
o CNMP, por meio de resolução, criou um
novo instituto processual penal, uma nova
fase pré-processual, com efeitos penais e
processuais-penais, sem previsão legal, em
dissonância com os princípios da obriga-
toriedade e da legalidade (art. 5º, II, da CF)
que, respectivamente, obrigavam o agente
do Ministério Público a iniciar a ação penal,

8
http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/
audiencia-de-custodia/historico – acesso 21 de julho de 2019
– 12h10;

8
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

estando presentes os indícios de autoria e de


materialidade do crime, e a fazer ou deixar
da fazer algo senão em virtude de lei, enten-
dendo-se aí lei em sentido estrito .
9

Além de inobservar os princípios consti-


tucionais da obrigatoriedade e da legalidade,
9
Art. 18. Não sendo o caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor ao investigado acordo de não persecução penal quando, comi-
nada pena mínima inferior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido
com violência ou grave ameaça a pessoa, o investigado tiver confessado
formal e circunstanciadamente a sua prática, mediante as seguintes con-
dições, ajustadas cumulativa ou alternativamente: (Redação dada pela
Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) I – reparar o dano ou restituir
a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo; (Redação dada pela Re-
solução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) II – renunciar voluntariamente
a bens e direitos, indicados pelo Ministério Público como instrumentos,
produto ou proveito do crime; (Redação dada pela Resolução n° 183, de
24 de janeiro de 2018) III – prestar serviço à comunidade ou a entidades
públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao deli-
to, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo Ministério
Público; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018)
IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do
Código Penal, a entidade pública ou de interesse social a ser indicada pelo
Ministério Público, devendo a prestação ser destinada preferencialmen-
te àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos
iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; (Redação
dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) V – cumprir ou-
tra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional
e compatível com a infração penal aparentemente praticada. (Redação
dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) § 1º Não se admi-
tirá a proposta nos casos em que: (Redação dada pela Resolução n° 183,
de 24 de janeiro de 2018) I – for cabível a transação penal, nos termos da
lei; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) II – o
dano causado for superior a vinte salários mínimos ou a parâmetro eco-
nômico diverso definido pelo respectivo órgão de revisão, nos termos da
regulamentação local; (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24
de janeiro de 2018) III – o investigado incorra em alguma das hipó-
teses previstas no art. 76, § 2º, da Lei nº 9.099/95; (Redação dada
pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) IV – o aguardo
para o cumprimento do acordo possa acarretar a prescrição da
pretensão punitiva estatal; (Redação dada pela Resolução n° 183,
de 24 de janeiro de 2018) V – o delito for hediondo ou equiparado
e nos casos de incidência da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006;
(Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018)
VI – a celebração do acordo não atender ao que seja necessário e
suficiente para a reprovação e prevenção do crime. (Redação dada
pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018) RESOLUÇÃO Nº
181, DE 7 DE AGOSTO DE 2017. CONSELHO NACIONAL DO MINIS-
TÉRIO PÚBLICO.

9
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

esse dispositivo, inicialmente escrito de for-


ma a beneficiar furtadores, estelionatários,
receptadores, falsários, portadores de armas
de fogo de uso proibido
e restrito e até trafican- O Ministério
tes, ainda criou alguns Público e o Poder
dilemas para os agentes Judiciário passa-
ministeriais . Explico. ram por grandes
10

Quando um agente do transformações ao


Ministério Público toma ponto de, na atuali-
posse em seu cargo, dade, terem perdi-
assume o compromis- do suas caracterís-
so de atuar dentro dos ticas e se afastado
limites da lei e de sua de suas funções
consciência jurídica, o típicas.
que garante uma atua-
ção independente de interferências internas
e externas, políticas e econômicas, e está an-
corado pelo princípio constitucional da in-
dependência funcional. Assim, não sendo a
Resolução do CNMP lei em sentido estrito, o
agente ministerial que se recusasse a aplicar
tal dispositivo sofreria alguma sanção discipli-
nar por não cumprir resolução do Conselho?
Um benefício criado por Resolução criaria di-
reito subjetivo ao réu? O acordo, previsto para
casos investigados pelo Ministério Público,
10
O texto inicial, de 2017, foi alterado em janeiro de 2018, após mui-
tas reclamações sobre o alcance da Resolução para beneficiar até
crime assemelhado a hediondo, como tráfico de drogas - https://
www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd
=1&ved=2ahUKEwibnY3M66_kAhWZDrkGHbtWD78QFjAAegQIBhA-
C&url=http%3A%2F%2Fwww.cnmp.mp.br%2Fportal%2Fimages%-
2FResolucoes%2FResolu%25C3%25A7%25C3%25A3o-181.pdf&us-
g=AOvVaw2aAZqbnAmADzM7wSFdOqme – acesso: 01/09/2019,
às 11h37min.

10
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

seria estendido às investigações em inqué-


ritos policiais, conduzidas por Delegados de
Polícia, ampliando ainda mais o leque de be-
nefícios para criminosos?
No sentido da obrigatoriedade de propor
o acordo sob pena de sanção, uma decisão
liminar do CNMP, de 17 de abril de 2019, de-
terminou a obrigação da aplicação imediata
do acordo de não-persecução penal, amea-
çando agente ministerial de sanção discipli-
nar se desobedecesse a resolução do CNMP .11

11
“Citando doutrina e jurisprudência específica sobre a obrigato-
riedade de observância das resoluções do CNMP e a ausência de
qualquer decisão judicial questionando a possibilidade de celebra-
ção de acordos de não persecução penal, o relator demonstrou
que a conduta dos órgãos internos do MPDFT importou em paten-
te desconsideração da autoridade do CNMP: “O que é inadmissível
e merece todo o repúdio deste Conselho Nacional do Ministério
Público é a pura e simples desconsideração e o desprezo a ato
deste Órgão Constitucional de Controle não somente em razão do
trabalho e da devoção dos seus integrantes, mas, sim, em decor-
rência da competência outorgada pela Constituição da República.
Por essas razões, reputo que a negativa de aplicação da Resolução
CNMP n.º 181/2017 por parte do Ministério Público do Distrito Fe-
deral e Territórios mostra-se ofensiva ao princípio da legalidade,
insculpido no artigo 37, caput, da Constituição da República, bem
como desrespeita a competência estabelecida pelo artigo 130-A, §
2º, I, do texto constitucional”.
Com o deferimento da medida, o MPDFT, por seus órgãos inter-
nos, deverá abster-se de praticar qualquer ato ou de aplicar norma
que signifique negativa de aplicabilidade da Resolução CNMP nº
181/2017, particularmente de seu artigo 18, que trata dos acordos
de não persecução penal.
As Reclamações seguirão rito regimental até serem apreciadas
pelo Plenário do CNMP, o qual poderá, nos termos dos artigos 117
e 121 do Regimento Interno do Conselho: expedir regulamenta-
ções; cassar atos ofensivos; determinar medidas adequadas à pre-
servação da competência do CNMP; determinar a instauração de
processo administrativo disciplinar contra as autoridades que te-
nham desrespeitado a autoridade do CNMP.” http://www.cnmp.
mp.br/portal/todas-as-noticias/12074-conselheiro-do-cnmp-de-
fere-medida-liminar-para-garantir-a-aplicabilidade-imediata-da-
-resolucao-cnmp-n-181-2017. Acesso: 01/09/2019;

11
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

A partir desses dois exemplos de atua-


ção do Conselho Nacional de Justiça e do
Conselho Nacional do Ministério Público, que
criaram mais benefícios aos que violam as
leis penais, foi possível perceber que os dois
órgãos se afastaram dos anseios da popula-
ção brasileira, não obstante os ministros do
STF, que presidem alternadamente o CNJ, e
a chefia do Ministério Público da União, que
chefia o CNMP, representarem os órgãos que
são os guardiões da democracia.
Nas últimas décadas, o Ministério Público
e o Poder Judiciário passaram por grandes
transformações ao ponto de, na atualidade,
terem perdido suas características e se afas-
tado de suas funções típicas. O Ministério
Público, de órgão incumbido precipuamente
da persecução penal nas décadas anteriores,
passou a atuar em todas as esferas da vida
dos indivíduos e, por meio de seu órgão de
controle externo, passou a legislar. O Poder
Judiciário, de órgão julgador, aplicador das
leis, agora também legisla, seja por meio dos
julgados, seja por meio do seu órgão de con-
trole externo.
Não obstante as transformações te-
nham começado há várias décadas, e no
caso do Ministério Público é possível bus-
car no início dos anos 80 os primeiros si-
12

nais evidentes dessas modificações, com a


12
http://www.memorial.mppr.mp.br/pagina-28.html – acesso em
01/09/2019, às 10h30min.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp40.htm – acesso
em 01/09/2019, às 10h37min.

12
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Lei Complementar 40/8113 (Lei Orgânica do


Ministério Público) e com a Lei de Ação Civil
Pública14, os pontos mais marcantes vieram
com a Constituição de 1988, embasada na
Carta de Curitiba, de 198615, e se acelerou
após a criação do Conselho Nacional do
Ministério Público16.
Igualmente, desde a criação do CNJ, o
Poder Judiciário mudou suas prioridades. Se
de um lado defende enfaticamente o aces-
so à justiça e a eficiência, de outro apresenta
como solução a oferta de métodos alterna-
tivos de resolução de conflitos, entregando
funções tradicionalmente judiciais para ou-
tros entes, tais como cartórios (divórcio, al-
teração de assentos para transsexuais), tribu-
nais de arbitragem (arbitragem, mediação),
polícia (imposição de medidas de urgência
em casos de violência doméstica por dele-
gado e polícia militar).
Então, a questão que se coloca é se es-
ses conselhos se desviaram dos fins para os
quais foram criados, já que a Justiça não se
13
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp40.htm – aces-
so em 06/09/2019, às 11h45.
14
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7347orig.htm - aces-
so em 04/09/2019, às 10h48;
15
http://www.mazzilli.com.br/pages/artigos/curitibaconst.pdf –
acesso em 07 de setembro de 2019 – às 10h40min.
https://periodicos.set.edu.br/index.php/direito/article/viewFi-
le/2128/1236 - – acesso em 07 de setembro de 2019 – às 10h35min.
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web
16

&cd=18&ved=2ahUKEwjggfHRqavkAhU3G7kGHZ_hDJIQFjAReg-
QIAhAC&url=https%3A%2F%2Fwww.conamp.org.br%2Fimages%-
2Flivros%2FCONAMP_-_Uma_historia_sem_fim.pdf&usg=AO-
vVaw3Szzjo0H5eNJjiTwPcAcBy – acesso em 30 de agosto, às
16h10min.

13
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

tornou nem mais eficiente, nem mais céle-


re, nem mais barata e cada vez mais a po-
pulação se indigna com decisões de Juízes,
Desembargadores e Ministros das cortes su-
periores e com atuações de alguns membros
do Ministério Público, ou se eles estão se-
guindo à risca o objetivo verdadeiro de sua
criação e existência.
De fato, Ministério Público e Judiciário
— com honrosas exceções —, por óbvio,
capitaneados pelos Conselhos, têm atuado
como agentes de moldagem de compor-
tamento das massas e de seus próprios in-
tegrantes. Suas atuações
não buscam mais a en- A criação desses
trega da justiça nos mol- conselhos foi o
des em que a população modo da Nova
estava acostumada, mas Ordem Mundial,
buscam criar uma nova se infiltrar defini-
sociedade e um novo ho- tiva e silenciosa-
mem. Interna e externa- mente na justiça
mente, ambos os órgãos brasileira.
realizam cursos, palestras,
encontros, congressos e campanhas publi-
citárias voltados à disseminação de novos
valores distantes das expectativas e anseios
da sociedade, sempre buscando impor, sub-
-repticiamente, um novo senso comum, nos
moldes propostos por Antônio Gramsci, por
H.G.Wells, pela Escola de Frankfurt e tantos
outros.
Nesta mesma perspectiva, ambas ins-
tituições que, nos governos anteriores
14
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

andavam de mãos dadas com o Poder


Executivo Federal, a partir da assunção de um
novo governante, com outro viés ideológico,
atuam em várias frentes, com enxurradas de
ações e liminares, para impedir que o gover-
no realize as mudanças prometidas ao elei-
torado que o elegeu.
Assim, uma pesquisa sobre a origem
dos Conselhos Nacionais de Justiça e do
Ministério Público, partindo de uma mera
impressão sobre a influência da Nova Ordem
Mundial em sua criação e em suas pautas;
tendo em mente que dos frutos se conhece
a árvore (Mateus 7.20. Portanto, pelos seus
frutos os conhecereis.), a teoria dos quatro
discursos, do Professor Olavo de Carvalho,
partindo de uma mera possibilidade inerente
ao discurso poético, e, tendo como pressu-
posto as importantíssimas informações ob-
tidas nos livros e nas palestras do escritor
Alexandre Costa, foi possível concluir que
a criação desses conselhos faz parte do 4º
Ciclo Globalista, que é o de infiltração, e foi
o modo do globalismo-socialista, portanto
da Nova Ordem Mundial, se infiltrar defini-
tiva e silenciosamente na justiça brasileira.
A prevalecer a atuação do CNJ e do CNMP
será inevitável a submissão passiva do Brasil
a um governo mundial. Por isso, é preciso
descortinar, tirar o véu de quem está por trás
da criação desses conselhos para entender
sua atuação.

15
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

2 A CRIAÇÃO DOS CONSELHOS


Em 2004, foi aprovado o Projeto de
Emenda Constitucional 29/2000 que re-
formou o Judiciário e criou os Conselhos
Nacionais de Justiça e do Ministério Público.
Durante a tramitação do projeto, vários foram
os pontos polêmicos, dentre eles, o proces-
so de seleção e de admissão de magistrados;
os critérios de promoção de magistrados, as
formas de indicações e de eleições nos tri-
bunais; os efeitos da súmula vinculante; e a
criação de um órgão de controle externo do
Poder Judiciário.
Com a aprovação do PEC 29/2000, a
Emenda Constitucional 45/2004 entrou
em vigor e assim nasceram os Conselhos
Nacionais de Justiça e do Ministério Público
(CNJ e CNMP), apesar da enorme resistência
de membros da Magistratura e do Ministério
Público. Em junho de 2005, os conselhos fo-
ram instalados e, atualmente, quando come-
moram seus 17 anos de existência, ao custo
anual de cerca de 300.000.000,00 (trezentos
milhões de reais) somados, eles continuam
sendo objeto de discussão e de controvérsias.
Nos anos que antecederam à criação dos
Conselhos, foram utilizadas as velhas estra-
tégias de manipulação, de dessensibilização

16
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

e de engenharia so- Viu-se na imprensa


cial, por meio do tru- uma campanha de
que de três etapas ou desmoralização da
três estágios descrito Justiça, de modo a
por Alexandre Costa, tornar até desejável
em Introdução à Nova
a criação de órgãos
Ordem Mundial17, para
de controle externo
se alcançar um fim de-
da atividade do MP
sejado desde o início,
e do Judiciário.
que era a colocação
de uma trava no Judiciário e no Ministério
Público, de modo a transformá-los gradati-
vamente, de dentro para fora.
Assim, tornou-se frequente a publicação
de notícias e a divulgação de fatos que macu-
lavam a atuação de Juízes, de Tribunais e de
suas respectivas corregedorias e igualmen-
te do Ministério Público e de seus membros.
Viu-se na imprensa uma maciça campanha
de desmoralização da Justiça, de modo a
tornar até desejável ou ao menos palatável
a criação de órgãos de controle externo da
atividade do MP e do Judiciário, que foi exa-
tamente o objetivo almejado desde o início

17
“1) Encontre um problema na sociedade e amplifique seus trans-
tornos e malefícios. Se for o caso, transforme um pequeno incô-
modo em um problema gigantesco, ou ainda, se preferir, invente
um problema;
2) Concentre suas energias em divulgar este problema. Faça abai-
xo-assinados, protestos, passeatas e incentive os militantes até que
todos repitam, em uníssono: “alguém precisa fazer alguma coisa.”
3) Apareça no momento exato, com a solução perfeita para a situ-
ação, afinal de contas ela estava pronta antes mesmo do problema
aparecer. Não se esqueça de revestir a solução com boas inten-
ções, caso contrário as pessoas não vão entregar mais um pedaço
de sua liberdade tão facilmente.” (COSTA, Alexandre, in Introdução
à Nova Ordem Mundial. Vide Editorial, 2ª edição, 2015, p. 111.

17
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

e que foi apresentado como a solução para


todos os “problemas” da Justiça. Os slogans
eram: “É PRECISO ABRIR A CAIXA PRETA DO
JUDICIÁRIO BRASILEIRO” e “QUEM FISCALIZA
O FISCAL?”.
Em 1999, o Senado, presidido por Antônio
Carlos Magalhães, do PFL/BA, partido da
base de apoio do governo de FHC, deu sua
contribuição instaurando uma Comissão
Parlamentar de Inquérito que ficou conheci-
da como CPI do Judiciário, cujo objetivo era
apurar casos pontuais de corrupção de ma-
gistrados e membros do parquet, o que pode-
ria ter sido apurado pela atuação do Ministério
Público e do Judiciário não fosse, por exem-
plo, o foro privilegiado a dificultar a atuação
da justiça de primeira instância na apuração
de crimes de membros da Magistratura e do
Ministério Público .18

Durante a tramitação dessa CPI, ACM de-


fendeu a criação de um órgão de controle
externo do Judiciário , o que significou, com
19

efeito, a inserção de pessoas indicadas pelo


Senado Federal, pela Câmara dos Deputados
e pela OAB no coração do Judiciário e do

18
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc26039904.htm –
acesso: 14/09/2019;
19
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc27039910.htm -
acesso: 14/09/2019.
https://bahia.ba/politica/em-1999-acm-criou-cpi-no-senado-
-para-investigar-judiciario/ - acesso: 14/09/2019.
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/1999/12/17/cpi-
-do-judiciario-investigou-nove-casos-187578364 - acesso:
14/09/2019.

18
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Ministério Público20, como se viu depois, na


20
Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15
(quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma)
recondução, sendo:
I - um Ministro do Supremo Tribunal Federal, indicado pelo respec-
tivo tribunal;
I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo res-
pectivo tribunal;
III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo
respectivo tribunal;
IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Su-
premo Tribunal Federal;
V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior
Tribunal de Justiça;
VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribu-
nal Superior do Trabalho;
IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho
X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Pro-
curador-Geral da República;
XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Pro-
curador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão
competente de cada instituição estadual;
XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil;
XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado
Federal.
§ 1º O Conselho será presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal
Federal, que votará em caso de empate, ficando excluído da distri-
buição de processos naquele tribunal.
§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribu-
nal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-Presi-
dente do Supremo Tribunal Federal.
§ 2º Os membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente
da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta
do Senado Federal.
§ 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Pre-
sidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal.
Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-
-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da Repúbli-
ca, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado
Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondu-
ção, sendo:
I o Procurador-Geral da República, que o preside;
II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a
representação de cada uma de suas carreiras;
III três membros do Ministério Público dos Estados;
IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro

19
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

formação do CNMP e do CNJ, o que obvia-


mente resultou em interferência política den-
tro da Magistratura e do Ministério Público,
inclusive porque todos os seus conselheiros
são escolhidos politicamente.
Além da justificativa de tornar eficaz a
apuração de desvios de conduta e de cor-
rupção praticados por integrantes das duas
instituições, a propaganda também prome-
tia tornar a Justiça mais eficiente, mais céle-
re, mais barata para o contribuinte; facilitar
o acesso do cidadão à justiça; garantir segu-
rança jurídica, e tornar mais homogênea a
atuação dos diversos tribunais, sem, contu-
do, violar a independência funcional e a au-
tonomia dos agentes e dos tribunais.
Na prática, os conselhos passaram a le-
gislar e a punir juízes e promotores que não
seguem suas recomendações, que são suas
“leis”, e, com bastante naturalidade, impõem
novas regras ao sistema jurídico nacional, sob
o elástico princípio da dignidade da pessoa
humana e do discurso da defesa dos direi-
tos humanos, como nos casos já menciona-
dos da audiência de custódia e do acordo de
não persecução penal. No entanto, de ou-
tra banda, o CNJ tem atuado fortemente na

pelo Superior Tribunal de Justiça;


V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil;
VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indi-
cados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público se-
rão indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na forma da
lei. (negritei)

20
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

mudança de regras que visam alterar os cos-


tumes e a moral judaico-cristã que prevale-
cem no país, como no caso de permitir altera-
ção de nome, sem necessidade de processo
judicial para transexuais21, por exemplo. Essa
atuação legiferante do CNJ só encontra si-
milar no STF, que admitiu a união civil entre
homossexuais, contrariando texto expresso
da Constituição Federal, por meio de ADPF22
e criou tipo penal sem prévia lei .
23

Além disso, os Conselhos se sobrepõem


aos Tribunais de Justiça e às Procuradorias-
Gerais de Justiça e respectivas corregedorias,
usurpando funções de outros órgãos de ad-
ministração e de cor-
reição e violam a inde- Na prática, os
pendência funcional de conselhos passaram
Juízes, Promotores de a legislar e a punir
Justiça e Procuradores juízes e promoto-
da República, inobser- res que não seguem
vando uma das mais suas recomenda-
importantes garantias ções, que são
constitucionais, que é suas “leis”.
21
https://www.conjur.com.br/2018-jun-29/cnj-regulamenta-alte-
racoes-nome-sexo-registro-transexuais; acesso em 05 de setem-
bro de 2019, às 15h45;
22
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idCon-
teudo=178931; acesso em 05/09/2019, às 15h47;
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união es-
tável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo
a lei facilitar sua conversão em casamento.
23
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idCon-
teudo=414010 – acesso em 07/09/2019, às 10h04;

21
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

a independência funcional, como apontado


acima no caso do acordo de não-persecu-
ção penal sem lei à época.

2.1 ORGANISMOS INTERNACIONAIS E A REFORMA DO


PODER JUDICIÁRIO NO CARIBE E NA AMÉRICA
LATINA
Já no início da década de 90, mais pre-
cisamente em fevereiro de 1993, o Banco
Inter-Americano de Desenvolvimento re-
alizou uma conferência, em San Juan da
Costa Rica, sobre reforma judicial. Em 13 e
14 de junho de 1994, o Banco Mundial, bra-
ço financeiro da ONU , realizou uma confe-
24

rência em Washington D.C., na qual lançou


estudos propondo a necessidade de refor-
ma no Judiciário do Caribe e da América
Latina, para o desenvolvimento econômi-
co desses países. Por meio do documento
chamado WTP 280 (World Bank Technical
Paper number 280) , que reuniu os tra-
25

balhos apresentados na Conferência de


Washington, foi lançada uma das primei-
ras sementes sobre o que consistiriam
essas reformas. Após, foi lançado o documento
écnico 319 ou o WTP 319, que também é um

24
https://nacoesunidas.org/agencia/bancomundial/ - acesso em 01/09/
2019, às 11h13min.
25
http://documents.worldbank.org/curated/en/4907314687724666
93/Judicial-reform-in-Latin-America-and-the-Caribbean-procee-
dings-of-a-World-Bank-conference – acesso em 12 de agosto de
2019, 9h50.

22
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

estudo acerca do setor judiciário na América


Latina e no Caribe, produzido nos EUA e pu-
blicado em julho de 1996, elaborado por Ma-
ria Dakolias, especialista no setor judiciário
da divisão do setor privado e público de mo-
dernização, no intuito de proceder a um le-
vantamento de elementos para a reforma26.
Inicialmente o documento abordava uma
crise institucional do Poder Judiciário, apon-
tando posteriormente alguns valores neces-
sários para a superação dessa crise, tais como:
ampliação do acesso à justiça (adoção de
meios alternativos de solução de conflitos),
credibilidade (combate à corrupção), efici-
ência, transparência, independência, previ-
sibilidade, proteção à propriedade privada e
respeito aos contratos. Sem a adoção desses
valores mediante uma reforma institucional e
criação de padrões internacionais, segundo
o relatório, não haveria ambiente propício ao
crescimento da integração econômica entre
países e regiões, ou seja, os países latino-a-
mericanos não possuíam aptidão para uma
adequada inserção na economia globaliza-
da. Por isso o próprio Banco Mundial atua-
va como parceiro dos países que decidissem
implementar as reformas sugeridas . E ain-
27

da houve o WTP 350, todos eles realizando


diagnósticos da Justiça dos países latinos e
propondo mudanças.
26
https://www.anamatra.org.br/attachments/article/24400/0000
3439.pdf – acesso em 27 de agosto de 2019, 8h50min.
http://www.ibrajus.org.br/revista/artigo.asp?idArtigo=33, acesso
27

em 12 de agosto de 2019, 9h54.

23
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Na Conferência realizada pelo Banco


Mundial, em 1994, participaram e colaboraram
para o evento representantes do Judiciário,
da advocacia de diversos países, represen-
tantes de Estados e, dentre outros, a ONU,
o Diálogo Interamericano, o Banco Inter-
Americano de Desenvolvimento e algumas
ONGs. Do Brasil estiveram presentes Jose
Renato Nalini, da Escola de Magistratura
Tribunal de Justiça do São Paulo; Antonio
Carlos Alves Braga, Corregedor Geral da
Justiça, do TJ de São Paulo, Carlos Mario
Velloso, Ministro do Supremo Tribunal Federal.
O Documento Técnico 319 tornou-se a
base das reformas a serem realizadas no judi-
ciário da região do Caribe e da América Latina
e, de fato, uma comparação com o seu con-
teúdo e com as mudanças que foram reali-
zadas no Brasil nas décadas seguintes com-
provam facilmente que ali estava a origem de
tudo, em especial, a criação de mecanismos
de controle do Poder Judiciário.
Esse documento de apenas 61 pági-
nas aborda desde o Juizado de Pequenas
Causas, que vieram a ser criados ainda em
1995, até questões de gênero, que hoje do-
minam a pauta do Legislativo, do Judiciário
e do Ministério Público, da mídia e da mi-
litância política. Além disso, o documento
incentiva a adoção de métodos alternativos
de resolução de conflitos — hoje a Justiça
Restaurativa é o assunto da moda —. Ao lon-
go do documento, há recomendação para
24
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

que juízes sejam “educados” por meio do sis-


tema disciplinar e pela criação de escolas de
formação de juízes. No entanto, a prioridade
seria alcançar os estudantes de direito, ata-
cando a formação jurídica.
O WTP 280 propõe a criação de um ór-
gão de governança e administração para os
tribunais, indicando como os sistemas cana-
dense , europeu e americano poderiam ser
28

utilizados modelos. Além disso, o documento


aborda as diversas formas que foram tenta-
das pelos americanos, desde 1939, para criar
um órgão ou conselho para a administração
e governança do judiciário, separando a ativi-
dade administrativa da justiça de sua ativida-
de jurisdicional. Em seguida, o autor aponta a
existência de conselho de justiça em alguns
países da América Latina, como Venezuela,
Colômbia e Peru . 29

Dos documentos do Banco Mundial ex-


trai-se que sob a justificativa de desenvol-
ver economicamente os países da América
Latina e facilitar o comércio internacional, o
objetivo era homogenizar as legislações e os
sistemas judiciários globalmente, tanto que
o documento 319 se reporta à reforma da
justiça chinesa, para a qual o Banco Mundial
havia colaborado.

https://laws-lois.justice.gc.ca/eng/acts/j-1/page-13.html#h-337712
28

– último acesso em 06/09/2019, às 12h12;


DOC 319, Governance and Administration of the Courts in Latin
29

America, Robert W Page, Jr. pág 70 e seguintes.

25
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Outro aspecto a ser lembrado é que


na época em que tramitava a reforma, no
Governo de Fernando Henrique Cardoso,
membro do Diálogo Interamericano30, o
Brasil passou por graves crises econômicas
e recebeu ajuda financeira internacional do
Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário
Internacional), mediante empréstimos vul-
tosos, e assumiu compromissos de reformas
para o desenvolvimento do país.
Diversos artigos que tratam da Reforma
do Judiciário brasileiro apontam o neolibe-
ralismo, a economia capitalista, a interven-
ção de instituições internacionais e as pautas
do governo tucano de Fernando Henrique
Cardoso como os grandes vilões. De fato,
colaboraram para a reforma do judiciário
os socialistas fabianos, ou seja, o tucanato
brasileiro, diversos organismos internacio-
nais, ONU, e seus braços BM, FMI, DIÁLOGO
INTERAMERICANO e diversas ONGs estran-
geiras, governos e agentes públicos de di-
versos países, inclusive do Brasil31.
O que nenhum desses artigos mencio-
na é como se deu a reforma do judiciário no
Congresso brasileiro e quem foram os princi-
pais atores para a concretização da reforma.
30
https://www.thedialogue.org/experts/?iad_experttype=75 – ace-
-sso em 26 de agosto de 2019, às 11h27;
31
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revis-
ta_artigos_leitura&artigo_id=2885%3E – acesso em 27 de agosto
de 2019, às 09h;
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_art
igos_leitura&artigo_id=4309 – acesso e 27 de agosto de 2019, às
9h03min.
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=1e00996d70a-
49ff8 – último acesso em 05/09/2019, às 15h15;

26
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

2.2 A ESQUERDA LATINO AMERICANA E A TRAMITAÇÃO


LEGISLATIVA DA REFORMA DO JUDICIÁRIO
Para melhor compreensão acerca da
criação dos conselhos no Brasil, importa co-
nhecer um pouco da tramitação do Projeto
de Emenda Constitucional, que começou em
1992 e terminou em 2004, e os seus atores
principais.
Não obstante a Constituição Federal te-
nha entrado em vigor em outubro de 1988,
menos de 4 anos depois, em 1992, foi apre-
sentado o projeto de emenda à constitui-
ção pelo Deputado Federal Hélio Bicudo,
do PT/SP, para reformar o Poder Judiciário,
cuja formatação fora dada pela então recen-
te Constituição. Tratava-se do PEC 96/92, de
26 de março de 1992 . 32

No Projeto de Hélio Bicudo, todavia,


não havia ainda a proposta de criação de
um Conselho de Justiça, o que foi inseri-
do por uma emenda apresentada por outro
Deputado Federal, José Genoíno, do PT/SP,
o PEC 112/95, que propunha instituir o siste-
ma de controle do Poder Judiciário .
33

32
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=14373 – acesso em 27 de agosto de 2019, às 09h40;
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/re-
forma-do-poder-judiciario-fatos-historicos-e-alguns-aspectos-
-polemicos/ - acesso em 15 de julho de 2019, às 18h45min.
33
Consta na justificativa do projeto do deputado petista, extraída do
Diário Oficial do Congresso Nacional de 14 de setembro de 1995,
pág 21905 e 21906: “A crise do Estado é a crise de suas funções.
Como uma das funções estatais, a justiça brasileira tem se defron-
tado com a complexidade crescente de uma sociedade dilacerada

27
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Ao longo da tramitação da reforma, que


levou cerca de 12 anos, foram sendo inclu-
ídas emendas ao projeto e aprovados ou-
tros PECs que retiravam a independência dos
Juízes, que amarravam o sistema judiciário,
dando, no entanto, mais poderes ao Supremo
Tribunal Federal, ao Conselho Nacional de
Justiça, que ainda estava sendo gestado, e a
organismos e tratados internacionais34.
por diferenças sócioeconômicas cada vez maiores. Os conflitos
de interesses não se restringem mais a conflitos individuais, mas a
conflitos coletivos e transgressões de massa envolvendo grupos e
coletividades. Dentro desse contexto, pergunta-se: O Poder Judi-
ciário tem se mostrado capaz de se administrar a si mesmo e de
desempenhar com eficácia suas funções de reduzir conflitos e mi-
norar as incertezas dos sistemas político e econômico, restringin-
do as divergências de interesses e impedindo sua generalização?
Entendemos que não.
(…) A proposta que estamos apresentando para discussão objetiva
criar um sistema de controle do Poder Judiciário com a finalidade
de exercer a fiscalização externa de suas atividades. Entretanto, tal
fiscalização, para garantir a sua própria eficácia e, notadamente,
para preservar a autonomia e a independência do Poder, não po-
derá se imiscuir nas atividades jurisdicionais. (…)
Estamos convencidos que em sociedades fragmentadas em con-
flitos de classe como a nossa as instituições estatais não esgotam a
realidade do direito. Nesse contexto, a justiça não pode ser enten-
dida dentro de uma perspectiva exclusivamente técnico-formal. O
princípio da separação dos poderes não pode ser utilizado para
consolidar a fragmentação do próprio Estado e justificar a impossi-
bilidade de controle social sobre uma atividade que é pública e da
mais alta relevância social. Não há Estado Democrático de Direito
sem uma atividade jurisdicional autônoma e independente, assim
como não há Estado democrático de direito sem que a sociedade
civil não possa controlar as suas instituições políticas, legislativas e
judiciais.”
34
Em 1993, por exemplo, foi aprovada a emenda que criou a ADPF, a
EC 03/93, que foi regulamentada em 03 de dezembro de 1999, pela
Lei 9.882. A ADPF tornou-se um importante mecanismo para os obje-
tivos globalistas-socialistas, tanto que foi o instrumento judicial utili-
zado pelo PSOL para obter uma liminar do STF a fim de obrigar a reali-
zação de audiências de custódia em todo o Brasil, sem previsão legal.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc03.htm#art1
A Lei nº. 11.418/2006 introduziu a Repercussão Geral no Recur-
so Extraordinário de acordo com o art. 102, §3º da CF/88, também
introduzido pela EC nº. 45/2004 e pelo art. 543-A do Código de

28
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Em 30 de junho de 2000, após a aprova-


ção do PEC 96/92 na Câmara, ele chegou ao
Senado transformado em PEC 29/2000, que
passou a tramitar conjuntamente na Câmara
e no Senado, por meio de proposta assina-
da pelo então Presidente da Câmara, Michel
Temer35.
O novo PEC incluía já, além da criação dos
Conselhos do Ministério Público e de Justiça,
outros dois dispositivos importantes a serem
enxertados no artigo 5º, da Constituição, que
trata dos direitos e garantias fundamentais,
amarrando ainda mais nosso país a organis-
mos internacionais36:
§ 3º Os tratados e convenções inter-
nacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respec-
tivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Atos aprovados na forma deste pará-
grafo: DLG nº 186, de 2008, DEC 6.949,

Processo Civil. Para efeito da Repercussão Geral, a lei considera a


existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista eco-
nômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses
subjetivos da causa.
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4393436
35

&ts=1543147362697&disposition=inline – acesso em 15 de julho


de 2019, às 19h03min.
36
Esses dispositivos foram fundamentais para fortalecer a atuação
da ONU e de seus tentáculos no Brasil, por meio da subordinação
do País a tratados internacionais e ao Tribunal Penal Internacional,
estrangulando ainda mais a soberania nacional.

29
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

de 2009, DLG 261, de 2015, DEC 9.522,


de 2018)
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional a cuja cria-
ção tenha manifestado adesão. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004).

Em 2003, toma posse o governo petista


de Lula e assume o comando da Reforma do
Judiciário o ministro da Justiça, o advoga-
do criminalista Márcio Thomaz Bastos, que
montou uma comissão para analisar o texto
e apresentar propostas, conforme relato do
então advogado militante e agora ministro
do STF, Luiz Roberto Barroso, e, em menos
de dois anos, o projeto que tramitava desde
1992 foi finalmente aprovado. É de se obser-
var no artigo escrito por Barroso que ele mes-
mo defendia o controle social do Judiciário .
37

Assim, em 17 de novembro de 2004,


foi aprovada definitivamente a Emenda
Constitucional 45/2004, que inseriu no art. 92,
da Constituição Federal, o Conselho Nacional
de Justiça, como órgão do Poder Judiciário,
e o Conselho Nacional do Ministério Público
passou a figurar no capítulo que trata do
Ministério Público, no art. 130-A .
38

37
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI4155,41046-A+verdade
ira+Reforma+do+Judiciario, – último acesso em 05/09/2019, às –
último acesso em 05/09/2019, às 15h20;
38
Os artigos 103 e 130-A, da CF contemplam as funções do CNJ
e do CNMP:

30
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Art. 103, § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação admi-


nistrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos
deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribui-
ções que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento
do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares,
no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou me-
diante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados
por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconsti-
tuí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências
necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da compe-
tência do Tribunal de Contas da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou ór-
gãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares,
serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro
que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem
prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais,
podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a
remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou
proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras san-
ções administrativas, assegurada ampla defesa
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a
administração pública ou de abuso de autoridade;
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos discipli-
nares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um
ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos
e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes
órgãos do Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar
necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as ativi-
dades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente
do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacio-
nal, por ocasião da abertura da sessão legislativa.
§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de
Ministro-Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos
no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes
I receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, re-
lativas aos magistrados e aos serviços judiciários;
II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e de cor-
reição geral;
III requisitar e designar magistrados, delegando-lhes atribuições, e
requisitar servidores de juízos ou tribunais, inclusive nos Estados,
Distrito Federal e Territórios.
§ 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República
e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil.,
§ 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, cria-
rá ouvidorias de justiça, competentes para receber reclamações e
denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do

31
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Embora toda a discussão acerca da re-


forma girassem em torno dos interesses eco-
nômicos do capital estrangeiro, a iniciativa e
Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando
diretamente ao Conselho Nacional de Justiça.
Art. 130-A, § 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Pú-
blico o controle da atuação administrativa e financeira do Minis-
tério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus
membros, cabendo lhe:
I zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Públi-
co, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua com-
petência, ou recomendar providências;
II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante
provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por
membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados,
podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se ado-
tem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem
prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;
III receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos
do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus
serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e cor-
reicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em
curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria
com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e
aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos discipli-
nares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados
julgados há menos de um ano;
V elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar ne-
cessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as ativi-
dades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no
art. 84, XI.
§ 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor
nacional, dentre os membros do Ministério Público que o integram,
vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que
lhe forem conferidas pela lei, as seguintes:
I receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relati-
vas aos membros do Ministério Público e dos seus serviços auxiliares;
II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correi-
ção geral;
III requisitar e designar membros do Ministério Público, delegan-
do-lhes atribuições, e requisitar servidores de órgãos do Ministério
Público.
§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil oficiará junto ao Conselho.
§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério
Público, competentes para receber reclamações e denúncias de
qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério Pú-
blico, inclusive contra seus serviços auxiliares, representando dire-
tamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.

32
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

a tramitação do projeto Se a reforma do


demonstram que quem judiciário e a
propôs inicialmente a re- criação desses
forma e depois a inclusão conselhos teve
do Conselhos no projeto como pai os
foram deputados do nú-
globalistas, a mãe
cleo duro petista, o parti-
que os pariu foi
do que alegava combater
o Partido dos
o capital econômico e ser
Trabalhadores.
adversário do Governo
FHC, a quem imputava subserviência aos in-
teresses financeiros internacionais. Ocorre
que todos os partidos políticos com assento
no Congresso deram sua contribuição com
diversas emendas ao projeto, lembrando que
no Brasil não havia partidos que não tivessem
viés socialista e imperava o mise en scene da
estratégia das tesouras .
39

Portanto, se a reforma do judiciário e a


criação desses conselhos teve como pai os
globalistas, a mãe que os pariu foi o Partido
dos Trabalhadores, dentro do Congresso
39
O professor Olavo de Carvalho explica a estratégia das tesouras,
em um artigo publicado no jornal Zero Hora, de 15 de junho de
2003 e que consta no livro A Nova Era e a Revolução Cultural, cha-
mado A CLAREZA DO PROCESSO: “Inspirada pela fórmula leninista
da “estratégia das tesouras”, a esquerda cresce por cissiparidade,
ou esquizogênese, dividindo-se contra si mesma para tomar o lu-
gar de quaisquer concorrentes possíveis, que hoje se reduzem a
quase nada. Quem domina o centro, domina o conjunto. A esquer-
da inventa sua própria direita, criminalizando e excluindo do jogo
todas as demais direitas imagináveis. Uns anos atrás tornou-se feio
estar à direita de FHC. Agora é impensável estar à direita de Lula. A
política nacional inteira já não é senão um subproduto da estraté-
gia esquerdista, realizando a fórmula de Gramsci, de que o Partido
deve imperar sobre toda a sociedade, não como uma autoridade
externa que a oprima ostensivamente, mas com a força invisível e
onipresente de uma fatalidade natural, de “um imperativo categó-
rico, um mandamento divino” (sic).”

33
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Nacional, com o apoio dos tucanos e de to-


dos os demais partidos.
A estreita relação entre os globalistas e
os socialistas latino-americanos fica mais
evidente quando se percebe que agiram em
sintonia e perfeito sincronismo, haja vista que
enquanto a elite financeira globalista discu-
tia as reformas do judiciário, supostamente,
para fins econômicos e financeiros, o Foro
de São Paulo também tinha como pauta uma
reforma no judiciário .40

Na ata do 2º Encontro do Foro de São


Paulo, de 1991, no México, há uma nítida re-
solução para debater a Nova Ordem Mundial,
a de nº 4. Diz o texto:
Os participantes deste II Encontro con-
cordamos com uma série de eventos
que permitam dar continuidade ao in-
tercâmbio de opiniões sobre a atual te-
mática latino-americana: (…) 4. Celebrar
um fórum sobre América Latina e a
nova ordem mundial, a realizar-se nos
Estados Unidos (pág 81).

No 3º Encontro do Foro de São Paulo,


ocorrido de 16 a 19 de julho de 1992, em
Manágua, ao mesmo tempo em que ataca-
vam as entidades financeiras do globalismo
e da ONU, Banco Mundial e FMI, os comu-
nistas latino-americanos propunham:

40
http://forodesaopaulo.org/declaraciones_finales/ - acesso em
06/09/2019, às 12h15;

34
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

O impulso à reforma jurídica interna-


cional, de acordo com as metas pro-
postas, no contexto da designação pe-
las Nações Unidas desta década como
a Década do Direito Internacional e da
Paz, para a elaboração de projetos de
acordos e convenções que garantam
que entramos no ano 2000 com um
sistema jurídico internacional à altura
das exigências da justiça e da paz;

Vale lembrar que a reforma do judiciário


brasileiro acabara de ser proposta pelo de-
putado petista, Hélio Bicudo, na Câmara de
Deputados, em 26 de março de 1992.
No 4º Encontro do Foro de São Paulo,
em Havana, em 1993, a relação entre o co-
munismo latino-americano e os globalistas
ficou mais evidente: “En el plano internacio-
nal, finalmente, el Foro declara que es nece-
sario bregar por Ia construcción de un nuevo
orden mundial, cuyo contenido precisamos
en el III Encuentro en Managua”.
Ademais, a reforma do judiciário contou
com o apoio da classe empresarial nacional,
e de grande parte da sociedade, iludida pelo
discurso disseminado pela imprensa, por
acadêmicos, por intelectuais orgânicos , no
41

sentido gramsciano do termo. Sobre isso, vale


lembrar alguns trechos do artigo do Professor
Olavo de Carvalho, publicado no jornal Zero

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi=S0103-40
41

142004000200005, – último acesso em 05/09/2019, às 15h25;

35
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Hora, de 30 de novembro de 2003, chama-


do ENGORDANDO O PORCO:

“Consciente de que as nossas classes


empresariais são incapazes de enxer-
gar o mundo exceto sob a ótica de um
sonso economicismo, a liderança es-
querdista tem conseguido fazer delas
instrumentos prestativos para a implan-
tação de uma ditadura comunista no
país.
Os mais tolos e servis são justamente
os empresários inflados de pretensões
intelectuais, que leram uns verbetes
do Dicionário de Política de Norberto
Bobbio e já saem afagando seus pró-
prios ouvidos com a recitação pom-
posa dos termos recém-aprendidos —
ética, sociedade civil, controle externo,
democracia participativa, etc. — , cujo
alcance estratégico nem de longe per-
cebem, pois para isso precisariam ter
estudado muito Antonio Gramsci de-
pois de adquirir a sólida base marxista-
-leninista necessária para saber do que
ele está falando.
Ouvem dizer, por exemplo, que para
acabar com a corrupção o único re-
médio é o “controle externo” da polícia
e do judiciário pela “sociedade civil or-
ganizada”. Iludidos pelo valor nominal
das expressões sem saber que são ter-
mos técnicos do vocabulário gramscia-
no no qual têm uma carga semântica
36
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

muito precisa, diferente do que as pa-


lavras sugerem na acepção geral, che-
gam quase às lágrimas ante a imagem
rósea que nelas se parece anunciar, e,
prestam-se por isso a colaborar com a
empreitada revolucionária como se es-
tivesse lutando por seus mais viscerais
interesses. Um grupo deles, totalizan-
do a quarta parte do PNB, já pôs tudo
a serviço da realização de tão sublimes
ideais.
Quem tenha estudado Gramsci, no
entanto, sabe que “sociedade civil or-
ganizada” quer dizer apenas o Partido,
gigantescamente ampliado até perder
sua identidade aparente, espalhado por
meio de seus agentes até os setores pe-
riféricos da vida social, e transforma-
do portanto — nos termos do próprio
Gramsci — “num poder invisível e oni-
presente”, habilitado a dominar a so-
ciedade com a força ao mesmo tempo
avassaladora e imperceptível “de um
imperativo categórico, de mandamen-
to divino” (sic). É a completa ditadura
do Partido. (…)
E a proposta que acolhem não quer o
“controle externo” só da polícia e do
judiciário, mas do legislativo, dos mi-
nistérios, das empresas, das entidades
religiosas e educacionais, dos órgãos
assistenciais e da mídia. Nunca palavras
tão doces foram usadas para encobrir
uma realidade tão brutal e hedionda.”
37
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Por fim, é interessante observar que os


argumentos para aprovação da criação do
Conselho Nacional de Justiça foram fortale-
cidos pela Associação de Juízes para a demo-
cracia, cuja manifestação foi citada em parte
pela relatora do PEC 112/95, Zuleide Cobra,
Deputada Federal do PSDB/SP, em seu rela-
tório, nos seguintes termos:

Em amplo debate sobre a questão


do controle externo do Judiciário a
Associação dos Juízes para Democracia
concorda sobre um órgão fiscalizador
que, respeitando o poder decisório e
direto dos juízes, “deverá reportar-se à
cúpula dos tribunais para moldar ade-
quadamente a presença político-insti-
tucional do Judiciário no Estado demo-
crático de direito, mediante proposta de
controle administrativo amplo sobre o
órgão que detém o governo do poder”.
Justificam: “porque os juízes, em sua
atividade cotidiana já são acompanha-
dos pelas corregedorias internas, pela
sociedade, por advogados, pela im-
prensa. Já os tribunais, no que se refere
à administração do acesso à justiça, da
eleição de prioridades e ataque dos pro-
blemas de modernização da estrutura
não estão sujeitos à fiscalização alguma.
Isso tem grave repercussão social, pois
é sabido que a ineficiência do judiciário
tem levado ao preocupante fenômeno
da privatização da justiça, sobretudo
38
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

na periferia das grandes cidades, onde


fórmulas particulares de auto-resolu-
ção de conflitos cada vez mais se so-
brepõem às garantias da Constituição.
Embora não tenha havido consenso,
sobre as ações decisórias, aceita-se
que poderia o Conselho auxiliar na de-
finição de políticas públicas de atuação
do Judiciário, sobretudo na moderni-
zação da estrutura e escolha de prio-
ridade, uma espécie de órgão de pla-
nejamento no sentido de fazer valer os
direitos maiores da população. O Órgão
poderia identificar as prioridades, fisca-
lizar a distribuição de processos aos ju-
ízes e cobrar respeito princípio do juiz
natural”.
Advertem, porém, sobre o perigo de “se
criar um Órgão marcado pela elitização,
sem o propósito e o efeito de resgatar
a transparência e a noção de serviço
público que devem orientar sua ativi-
dade global, que mantenham com o
Judiciário um mero relacionamento de
cúpulas”. Concluem: “Todas essas pon-
derações são feitas com o propósito de
evitar que se adotem formas de controle
que não correspondam aos interesses
da sociedade, mas de elites que pre-
tendam restringir as decisões dos con-
flitos da maior importância aos Órgãos
de cúpula do Judiciário.” (Juízes para
a Democracia e Revisão Constitucional

39
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

– Antônio Carlos Villen e Dyrceu Aguiar


Dias Cintra Junior) Relatório de Zuleide
Cobra, Relatora do Projeto de Emenda
Constitucional 112/95, publicado
DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL,
pág, 21910, Quinta-feira 14 (Seção 1)
Setembro de 199542.

2.3 OS FRUTOS
Passados 15 anos desde a aprovação do
PEC 29/2000, que entrou em vigor como a
EC 45/2004, as palavras do Professor Olavo
de Carvalho se materializaram diante de nos-
sos olhos.
Como se verifica no rol de competências
dos dois conselhos, sua função seria preci-
puamente administrativa e disciplinar. No de-
bate público que ocorreu durante a tramita-
ção legislativa, os defensores dos Conselhos
afirmavam que não haveria qualquer forma
de interferência na atividade-fim do Poder
Judiciário e nem do Ministério Público, o que
já era uma grande preocupação dentre os
membros das duas instituições.
Assim, em seus primeiros anos de funcio-
namento, os Conselhos atuaram com vistas
a levantar dados sobre os diversos Tribunais e
Ministérios Públicos e a atuar como uma es-
pécie de corregedoria subsidiária. No entanto,
https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/24974, – últi-
42

mo acesso em 05/09/2019, às 15h07min

40
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

paulatinamente, com a desculpa da neces-


sidade de impor eficiência, ambos os con-
selhos passaram a intervir na administração
direta de Tribunais e MPs, com vistas a impor
formas e conteúdos à atuação de membros
de ambas as instituições, passaram a legislar
sobre matéria processual penal, o que só cabe
ao Congresso, nos termos da Constituição
Federal, e, por fim, atualmente atuam dire-
tamente com o objetivo de modelar o com-
portamento da população, alterando o senso
comum, impondo o politicamente correto,
nos exatos termos propostos pela ONU, UE
e outras entidades internacionais, com inte-
resses globalistas e socialistas43.
43
http://www.cnmp.mp.br/portal/institucional/comissoes/comissao-
de-defesa-dos-direitos-fundamentais/apresentacao
http://www.cnmp.mp.br/portal/institucional/comissoes/
comissao-de-defesa-dos-direitos-fundamentais/atuacao
http://www.cnmp.mp.br/portal/publicacoes/11797-avisaodosiste-
maprisionalbrasileiro
http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documen-
tos/2018/SISTEMA_PRISIONAL_3.pdf
http://www.cnmp.mp.br/portal/todas-as-noticias/10165-reco-
mendacao-visa-a-garantir-a-laicidade-de-funcoes-no-estado-
-brasileiro
http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Recomendaco-
es/RECOMENDAO_51.pdf
http://200.142.14.29/portal/genero-lgbt-e-laicidade
http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Recomendacoes/Reco-
menda%C3%A7%C3%A3o-031.pdf
http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/pgr-transgenero-nao-
-pode-ser-proibido-de-usar-banheiro-do-genero-com-o-qual-
-se-identifica
http://www.cnmp.mp.br/portal/todas-as-noticias/11850-abertas-
-as-inscricoes-para-conferencia-que-reune-promotoras-e-pro-
curadoras-de-justica-da-regiao-norte
https://www.conjur.com.br/dl/portaria-uso-nome-social-mpu.
pdf
http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/informativos/informativos-por-tema/
liberdade-religiosa
http://www.cnmp.mp.br/portal/todas-as-noticias/11729-cnmp-
-recomenda-que-ministerio-publico-priorize-acoes-de-preven-
cao-e-combate-da-obesidade-infantil

41
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Na Constituição Federal não é vi-


sível qualquer dispositivo que autorize
a atuação que se tem visto desses dois conse-
lhos, que passaram a criar regras que alcan-
çam não apenas as atividades administrativas
e correicionais dos tribunais, mas que alteram
enormemente o sistema legal e judiciário,
ainda que muitas vezes contrariando a legis-
lação em vigor. Além disso, metas do CNJ e o
planejamento estratégico do CNMP corres-
pondem visivelmente às diversas pautas da
ONU e do Foro de São Paulo, seja em maté-
ria penal e processual (desencarceramento,
desarmamento civil e militar, métodos alter-
nativos de resolução de conflitos), sejam em
pautas ambientalistas, educacionais, sanitá-
rias, religiosas e identitárias (questões de gê-
nero, causa LGBT, racismo, enfrentamento à
pandemia do covid, etc.), de modo que pas-
saram a gerenciar cada aspecto da vida dos
indivíduos e a grande maioria de seus proje-
tos se chocam com os valores, princípios e
crenças da maioria da população brasileira, de
modo que suas atuações têm movimentado
a Janela de Overton a fim de levar a socie-
dade a aceitar com
Metas do CNJ e
normalidade situa-
o planejamento
ções anteriormente
estratégico do CNMP
sequer cogitadas.
correspondem visi-
Para justificar a velmente às diversas
enorme ingerência pautas da ONU e do
na vida dos cidadãos Foro de São Paulo.
e alterar as regras sem

42
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

o devido processo legal, os longos conside-


randos das resoluções tanto do CNJ quanto
do CNMP se apoiam em tratados internacio-
nais, estudos e resoluções da ONU e de di-
versos de seus órgãos auxiliares não eleitos
pelos brasileiros e até mesmo desconheci-
dos do público.
O exemplo mais recente disso é que a
pandemia do Covid-19 colocou a Organização
Mundial da Saúde no comando do país, de-
terminando a forma de atuação do Ministério
Público, do Judiciário, dos executivos esta-
duais e municipais, que têm seguido seus
cânones sem questionamento, em nome de
uma suposta ciência.
O CNJ, além de atuar de modo a implan-
tar na justiça brasileira todos os mecanismos
propostos no projeto do Banco Mundial, re-
centemente anunciou ter montado uma
equipe para estudar a implantação da Agenda
2030 da ONU, na justiça brasileira .44

Ademais, no mês de agosto de 2019, CNJ


organizou o 1º Encontro Ibero-Americano da
Agenda 2030 no Poder Judiciário . Segundo
45

o site do CNJ:

“o evento tem como objetivo reunir os


22 países Ibero-Americanos para discu-
tir a institucionalização dos Objetivos de
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/agenda2030 – últi-
44

mo acesso em 05/09/2019, às 11h15;


45
https://www.cnj.jus.br/eventos-campanhas/evento/870-1-en-
contro-ibero-americano-da-agenda-2030-no-poder-judiciario –
último acesso em 05/09/2019, às 11h17;

43
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

Desenvolvimento Sustentável (ODS) da


Agenda 2030 nos Poderes Judiciários.
Além disso, o encontro terá por
finalidade:
• Fortalecer, incentivar e promover par-
cerias entre os Poderes Judiciários de
todos os países Ibero-Americanos;
• Possibilitar a troca de experiências e
o diálogo entre as instituições;
• Desenvolver indicadores que possam
ser utilizados pelos Poderes Judiciários
para unificação das métricas; e
• Incentivar o desenvolvimento de pes-
quisas, estudos de casos e o levanta-
mento de boas-práticas no âmbito dos
Poderes Judiciários.
A Agenda global 2030 é um compro-
misso assumido por líderes de 193
Países, inclusive o Brasil, e coordena-
da pelas Nações Unidas, por meio do
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), nos termos
da Resolução A/RES/72/279.OP32, de
2018, da Assembleia Geral da ONU.
São 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável e 169 metas a serem atingi-
das no período de 2016 a 2030, relacio-
nadas à efetivação dos direitos huma-
nos e promoção do desenvolvimento,
que incorporam e dão continuidade
aos 8 Objetivos de Desenvolvimento

44
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

do Milênio, a partir de subsídios cons-


truídos na Rio + 20.
Em 28/9/2018, a Presidência do CNJ
instituiu o Comitê Interinstitucional, por
meio da Portaria n. 133/2019, a fim de
proceder estudos e apresentar propos-
ta de integração das metas do Poder
Judiciário com as metas e indicado-
res dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), Agenda 2030.

Por outro lado, as denúncias de corrup-


ção de juízes e ministros continuam surgin-
do, sem resposta à altura, aliás, a impunidade
em geral tem sido a bandeira dos conselhos,
ponto de partida deste artigo . Os excessos
46

de despesas e de lentidão da justiça continu-


am existindo . Os maiores escândalos saem
47

justamente do STF, que foi enormemente for-


talecido pelas reformas do judiciário, levan-
do o país rumo a uma juristocracia. Logo, a
reforma do judiciário e a criação dos conse-
lhos não alcançaram o objetivo declarado da
melhoria da prestação jurisdicional e da cor-
reção do Judiciário e do Ministério Público,
mas levaram à ideologização e infiltração da
nova ordem mundial na nossa justiça.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-243
46

22011000100005 – acesso: 14/09/2019;


47
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,supremo-ve-cri-
se-atual-como-a-mais-grave-do-judiciario-desde-1999,815010
– acesso: 14/09/2019;
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/16/politi-
ca/1487263344_802
616.html – acesso: 14/09/2019;

45
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

A audiência de custódia e o acordo de


não-persecução penal, instrumentos fora da
lei até recentemente, foram legalizados pela
aprovação do pacote anticrime, a lei 13.964,
de 24 de dezembro de 2019, inserindo defini-
tivamente as propostas de organismos e tra-
tados internacionais na legislação brasileira.

46
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

3 CONCLUSÃO
A criação do Conselho Nacional de
Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público faz parte do ciclo de infiltração da
nova ordem mundial na justiça e burocracia
estatal, em um dos pilares da nossa civiliza-
ção, que é o Direito, com o objetivo de im-
plantação sub-reptícia de um governo mun-
dial, a ser conduzido por uma pequena elite,
sem a participação popular, logo, distante
interesses, valores e princípios da sociedade
brasileira e mediante a quebra da soberania
nacional .48

https://www.thenewamerican.com/tech/environment/item/22267-
48

un-agenda-2030-a-recipe-for-global-socialism?fbclid=IwAR-
3NE-6N1rmwPsuTxfpsZsukuVX5WAyma9WCCMk2sqBwYQchlg-
FhCGFYIdY

47
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLAN G.; ABRAHAM, L. Política, ideologia
e conspirações: A sujeira por trás das ideias
que dominam o mundo. 1ª edição brasileira.
Barueri: Faro Editorial, 2017;
CARVALHO, Olavo. A nova era e a revolução
cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci. 4ª
Edição. Campinas: Vide Editorial, julho de
2014.
CARVALHO, Olavo. Aristóteles em nova pers-
pectiva: Introdução à Teoria dos quatro dis-
cursos. 2ª Edição (revisada). Campinas: Vide
Editorial, outubro de 2013.
CARVALHO, Olavo. Os Estados Unidos e
a nova ordem mundial: Um debate entre
Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho. 1ª edi-
ção. Campinas: Vide Editorial, Agosto de 2012
COSTA, Alexandre. Introdução à nova ordem
mundial. 2ª edição. Campinas: Vide Editorial,
maio de 2015;
COSTA, Alexandre. O Brasil e a Nova ordem
mundial. 1ª edição. Campinas: Vide Editorial,
setembro de 2018;
HIRSCHL, Ran. Towards Juristocracy – The
origins and consequences os the new cons-
titucionalism. 1ª edição. Harvard University
Press, 2007.
48
Nova Ordem Mundial na Justiça Brasileira
Cláudia Rodrigues de Morais Piovezan

HOROWITZ, D.; PERAZZO, J. Do partido


das sombras ao governo clandestino. Santo
André: Armada, 2018;
KINCAID, Cliff. Impostos globais para o go-
verno mundial. 1ª edição. Editora Libertatem,
2018;
MORGENSTERN, F. Por trás da máscara: do
passe livre aos black blocks, as manifestações
que tomaram as ruas do Brasil. 2ª edição. Rio
de Janeiro: Record, 2015;
ROCELLA, E.; SCARAFFIA, L. Contra o
Cristianismo: A ONU e a União Europeia
como nova ideologia. 1ª edição. Campinas:
Ecclesiae, novembro de 2014;
SANAHUJA, Juan Cláudio. Poder Global e reli-
gião universal. 1ª edição. Campinas, Ecclesiae,
maio de 2012;
WELLS H.G. Conspiração aberta: Diagramas
para uma revolução mundial. 1ª edição.
Campinas: Vide Editorial, setembro de 2016;
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL DE 1988.

49

Você também pode gostar