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Controladoria - 2020 -sistema de informação - profa.

Maria albansia correia marinho

A FÁBULA DOS PORCOS ASSADOS


Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram
assados pelo fogo. Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e
acharam deliciosa a carne assada. A partir dai, sempre que queriam comer porco assado,
incendiavam um bosque..Até que descobriram novo método.

Mas o que quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o SISTEMA
para implantar um novo. Fazia tempo que as coisas não iam lá muito bem: as vezes, os
animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. O processo preocupava muito a
todos, porque se o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram muito grandes -
milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também milhões os que se
ocupavam com a tarefa de assa-los. Portanto, o SISTEMA simplesmente não podia falhar.
Mas, curiosamente, quanto mais crescia a escala do processo, mais parecia falhar e
maiores eram as perdas causadas.

Em razão das inúmeras deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor


geral a necessidade de reformar profundamente o SISTEMA. Congressos, seminários e
conferencias passaram a ser realizados anualmente para buscar uma solução. Mas parece
que não acertavam o melhoramento do mecanismo. Assim, no ano seguinte, repetiam-se
os congressos, seminários e conferencias.

As causas do fracasso do SISTEMA, segundo os especialistas, eram atribuídas a


indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, ou a inconstante natureza
do fogo, tão difícil de controlar, ou ainda as arvores, excessivamente verdes, ou a umidade
da terra ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o
momento e a quantidade das chuvas.

As causas eram, como se vê, difíceis de determinar - na verdade, o sistema para


assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: maquinário
diversificado, indivíduos dedicados exclusivamente a acender o fogo - incendiadores que
eram também especializados (incendiadores da Zona Norte, da Zona Oeste, etc,
incendiadores noturnos e diurnos - com especialização matutina e vespertina - incendiador
de verão, de inverno etc). Havia especialista também em ventos - os anemotecnicos. Havia
um diretor geral de assamento e alimentação assada, um diretor de técnicas ígneas (com
seu Conselho Geral de Assessores), um administrador geral de reflorestamento, uma
comissão de treinamento profissional em Porcologia, um instituto superior de cultura e
técnicas alimentícias (ISCUTA) e o bureau orientador de reforma ignoperativas.

Havia sido projetada e encontrava-se em plena atividade a formação de bosques e


selvas, de acordo com as mais recentes técnicas de implantação - utilizando-se regiões de
baixa umidade e onde os ventos não soprariam mais que três horas seguidas.

Eram milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam
incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores
arvores e sementes, o fogo mais potente etc. Havia grandes instalações para manter os
porcos antes do incêndio, alem de mecanismos para deixa-los sair apenas no momento
oportuno.

Foram formados professores especializados na construção dessas instalações.


Pesquisadores trabalhavam para as universidades para que os professores fossem
especializados na construção das instalações para porcos. Fundações apoiavam os
pesquisadores que trabalhavam para as universidades que preparavam os professores
especializados na construção das instalações para porcos etc.
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As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar


triangularmente o fogo depois de atingida determinada velocidade do vento, soltar os
porcos 15 minutos antes que o incêndio médio da floresta atingisse 47 graus e posicionar
ventiladores gigantes em direção oposta a do vento, de forma a direcionar o fogo. Não é
preciso dizer que os poucos especialistas estavam de acordo entre si, e que cada um
embasava suas idéias em dados e pesquisas específicos.

Um dia, um incendiador categoria AB/SODM-VCH (ou seja, um acendedor de


bosques especializado em sudoeste diurno, matutino, com bacharelado em verão chuvoso)
chamado João Bom-Senso resolveu dizer que o problema era muito fácil de ser resolvido -
bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o
animal, colocando-o então numa armação metálica sobre brasas, até que o efeito do calor
- e não as chamas - assasse a carne.

Tendo sido informado sobre as idéias do funcionário, o diretor geral de assamento


mandou chamá-lo ao seu gabinete, e depois de ouvi-lo pacientemente, disse-lhe: "Tudo o
que o senhor disse esta muito bem, mas não funciona na pratica. O que o senhor faria, por
exemplo, com os anemotecnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria? Onde seria
empregado todo o conhecimento dos acendedores de diversas especialidades?". "Não
sei", disse João. "E os especialistas em sementes? Em arvores importadas? E os
desenhistas de instalações para porcos, com suas maquinas purificadores automáticas de
ar?". "Não sei". "E os anemotecnicos que levaram anos especializando-se no exterior, e
cuja formação custou tanto dinheiro ao pais? Vou manda-los limpar porquinhos? E os
conferencistas e estudiosos, que ano após ano tem trabalhado no Programa de Reforma e
Melhoramentos? Que faço com eles, se a sua solução resolver tudo? Heim?". "Não sei",
repetiu João, encabulado. "O senhor percebe, agora, que a sua idéia não vem ao encontro
daquilo de que necessitamos?

O senhor não vê que se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam
encontrado a solução ha muito tempo atrás? O senhor, com certeza, compreende que eu
não posso simplesmente convocar os anemotecnicos e dizer-lhes que tudo se resume a
utilizar brasinhas, sem chamas! O que o senhor espera que eu faça com os quilômetros e
quilômetros de bosques já preparados, cujas arvores não dão frutos e nem tem folhas para
dar sombra? Vamos, diga-me?". "Não sei, não, senhor". "Diga-me, nossos três
engenheiros em Porcopirotecnia, o senhor não considera que sejam personalidades
cientificas do mais extraordinário valor?". "Sim, parece que sim". "Pois então.

O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que


nosso sistema é muito bom. O que eu faria com indivíduos tão importantes para o pais?"
"Não sei". "Viu? O senhor tem que trazer soluções para certos problemas específicos - por
exemplo, como melhorar as anemotecnicas atualmente utilizadas, como obter mais
rapidamente acendedores de Oeste (nossa maior carência) ou como construir instalações
para porcos com mais de sete andares.

Temos que melhorar o sistema, e não transforma-lo radicalmente, o senhor,


entende? Ao senhor, falta-lhe sensatez!". "Realmente, eu estou perplexo!", respondeu
João. "Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por
ai que pode resolver tudo.

O problema é bem mais serio e complexo do que o senhor imagina. Agora, entre
nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua idéia - isso poderia trazer problemas
para o senhor no seu cargo. Não por mim, o senhor entende. Eu falo isso para o seu
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próprio bem, porque eu o compreendo, entendo perfeitamente o seu posicionamento, mas


o senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo, não é mesmo?".
João Bom-Senso, coitado, não falou mais um "a". Sem despedir-se, meio atordoado, meio
assustado com a sua sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu de fininho
e ninguém nunca mais o viu.
Autor desconhecido ou ignorado
 
QUESTÕES: PARA DEBATE EM EQUIPE E GRANDE GRUPO

1. Qual o posicionamento do controller perante a mudança de paradigma ?

2. Qual o melhor sistema:o existente ou o sugerido pelo Bom Senso ? Por que ?

3. Por parte de quais elementos do sistema pode existir uma grande resistência a
mudança ?

4. Quais as atitudes do controller para minimizar efeitos destrutivos dessa resistência?

5. Faça um paralelo da fábula com a situação atual do Brasil

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