2ano Arte Revisada 2021

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ARTE
Produção

SILVEIRA, Greice Antolini


1ª Edição, 2019

Coordenação
Marcus Paulo Nepomuceno Dutra dos
Santos

Coordenação Pedagógica
Reinaldo de Oliveira Pantoja

Revisão Pedagógica
Monica Braido

Revisor Especialista
Ianeis de Jesus da Silva Xavier

Desing Gráfico
Greice Antolini Silveira

COLÉGIO MILITAR DE MANAUS


SEÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Tel/Fax: + 55 (92) 3622-4976 - (92) 3633-3555


E-mail: [email protected]
Website: www.ead.cmm.eb.mil.br
Rua José Clemente, 157 - Centro - Manaus - AM
Cep: 69010-070
Brasil
Ser Educador .......
........não é apenas escolher uma
profissão.
........ não é “dar aula”
....... não é ganhar dinheiro
....... não é “ter poder”
O que é ser Educador ?
Por mais que tentemos, talvez,
jamais consigamos responder e
resumir a sua grandeza, mas de
uma coisa eu tenho certeza ........
Para ser Educador é preciso
acreditar na vida, no amor, no
futuro e, principalmente, nas
pessoas, procurando encontrar
nelas o que há de melhor .....
o que, lá no fundo, significa
encontrar o amor de Deus que está
presente em cada um de nós.
(Maj Robson Santos da Silva, 2003)

È com esse espírito de luta e amor que nos co-


locamos à disposição de todos os nossos alunos.
Sabemos que os desafios são grandes, mas a re-
compensa está nas vitórias de cada um integrante
dessa nossa grande família militar.
No olhar de cada jovem nos fortalecemos e
continuamos firmes na crença de que o futuro po-
derá ser construído com base no conhecimento,
na ética e na justiça.

Obrigado!

Equipe da Seção de Educação a Distância


do Colégio Militar de Manaus
ARTE 2
unidade unidade
1 11 3 99
capítulo 1 capítulo 5
__________________________________ _________________________________
Arte na Pré-história ........................................... 12 Idade Contemporânea ......................................... 100
Arte no Paleolítico ............................................... 12 13. Neoclassicismo ............................................ 100
Arte no Neolítico ................................................. 14 14. Romantismo ................................................... 105
Idade dos Metais ................................................. 16 15. Realismo ......................................................... 110
Arte na Pré-história brasileira ......................... 16 Édouard Manet .................................................... 112
Grafite .................................................................. 17 16. Impressionismo ............................................. 115
17. Neo-Impressionismo .................................... 118
capítulo 2
__________________________________ capítulo 6
Idade Antiga ........................................................ 21 _________________________________
1. Arte Mesopotâmica ..................................... 21 18. Missão Artística Francesa .......................... 120
2. Arte Egípcia ................................................... 24
3. Arte Grega .....................................................28 capítulo 7
4. Arte Romana ................................................. 36 _________________________________
capítulo 3 19. Arte Negra ........................................................ 129
__________________________________
Idade Média........................................................ 43 capítulo 8
5. Arte Bizantina .................................................. 43 _________________________________
6. Arte Românica ............................................... 46 20. Arte Indígena ................................................. 141
7. Arte Gótica ..................................................... 49

unidade
2 55 Glossário ........................................................... 149
Recomendações de Livros, séries e filmes ... 151
capítulo 4 Referências ..................................................... 152
_________________________________
Artistas ............................................................ 153
Idade Moderna ...................................................... 56
8. Renascimento .................................................. 56 Locais da Arte ................................................. 153
9. Maneirismo ....................................................... 73
10. Barroco ......................................................... 77
11. Rococó ......................................................... 86
12. Barroco e Rococó no Brasil .................. 88
Unidade 1
Seção de Educação a Distância/SEAD

Depois de alguns anos sem ter em seu currículo a disciplina de Arte você pode estar se
perguntando: “para quê preciso estudar esse assunto? Será que este conteúdo vai aparecer nas
provas do vestibular, EsPCEx ou outros concursos?” Talvez a resposta para essa pergunta seja
“não”. Então por que estudar Arte?
A ideia de compreensão da Arte está, em alguns casos, ligada ao belo, aquilo que proporciona
prazer e agrada aos sentidos. Em alguns casos ela é associada aos sentimentos. Reduzimos a Arte
aos desenhos, às pinturas, às músicas, às danças, aos espetáculos teatrais etc. Na verdade, ela
vai além daquilo que podemos ver ou descrever; abrir-se para a Arte significa dar uma chance para
vivenciar uma experiência estética (do grego aisthésis): a percepção que nos chega pelos
cinco sentidos.
Para compreender a diferença entre a Arte ligada aos sentimentos e a ligada aos sentidos,
pensemos no vento. Ao caminharmos pela rua sentimos o vento em nosso rosto, desarrumando
nossos cabelos e tirando nossas roupas do lugar. Nós não nutrimos pelo vento um sentimento de
amor, ódio ou repulsa; simplesmente sentimos o vento. Sentimos através de nossos cinco sentidos:
o tato, o olfato, o paladar, a audição e a visão. A partir deste primeiro contato e pelo reconhecimento
por algum de nossos sentidos somos remetidos a alguma lembrança, boa ou ruim, pela qual talvez
nutrimos algum sentimento. Por exemplo, o vento traz o cheiro das videiras do outro lado da estrada.
Esse cheiro remete aos passeios realizados na serra gaúcha visitando os vinhedos, degustando
vinhos em frente à lareira nos dias de inverno. Essa lembrança agradável traz consigo a saudade
de um tempo bom, pelo qual nutro um sentimento de aconchego e paz. Pronto! Vivi a experiência
do vento. Assim é a Arte quando nos proporciona uma experiência estética, é única e pessoal.
Embora ela possa ser vivida de modo coletivo, sempre permanece a experiência individual, ou seja,
todos sentem o vento, mas cada um terá uma percepção distinta em relação a tal sensação.
Se outras tantas pessoas sentissem o mesmo vento, no mesmo lugar com as videiras ao
lado, mas sem conhecerem as plantas que geram as uvas, nunca teriam a mesma experiência, mas
sim outras. Quem sabe a textura das folhas das videiras as lembrassem das rugas de sua avó ou de
um desenho que fez quando criança; talvez a forma arredondada das uvas as remetessem aos seus
jogos com bolas de gude na infância.
Ninguém sabe qual seria a impressão
que a mesma plantação de videiras
causaria em diferentes pessoas.
Assim é uma obra de arte. Ela pode
despertar a repulsa ou a adoração
dependendo das referências pessoais
de cada espectador.
Indagar-se sobre o que é a
Arte e para que ela serve não é algo
novo no contexto artístico. Na década
de 1970 o artista Paulo Bruscky já
fazia estes questionamentos durante
a performance O que é arte? Para que
serve? de 1978. Paulo Bruscky, O que é arte? Para que serve? 1978. Registro de performance em
uma livraria do Recife. Disponível em: http://bit.ly/2Q2rOn6

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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Então isso quer dizer que nem mesmo os artistas sabem o que é Arte? Na verdade, não
temos uma resposta fechada e correta para definir o que é Arte e talvez seja este o seu maior valor.
Ela nos incita a pensar sobre vários pontos de vista, confrontando opiniões e em alguns casos nos
desestabilizando por completo.
Quando afirmamos que a Arte trata das questões sociais e culturais de um povo estamos
certos. Através dela conseguimos identificar a história, os costumes e as tradições de determinado
povo pelos detalhes materiais (como de suas obras, de sua arquitetura e de suas vestimentas) e
imateriais (como as danças, os cantos, as lendas e as representações que diferenciam sociedades,
culturas e tempos históricos).
E afinal, o que estudaremos este ano em Arte?
Vamos buscar uma compreensão geral sobre como surge a noção de Arte, suas funções e
onde a encontramos. Faremos um passeio pela história da Arte, desde suas primeiras manifestações
chegando até o final do século XIX. Relacionaremos as produções do passado com as criações
contemporâneas e identificaremos como a Arte apresenta-se em nossa vida.

ARTE E SOCIEDADE
Ao longo da história, o ser humano preocupou-se em produzir artefatos para melhorar sua
qualidade de vida e facilitar as atividades de seu dia a dia. O homem construiu máquinas para
produzir objetos mais rapidamente ou em grande quantidade, garfos e colheres que funcionam
como extensão de suas mãos, chapéus para protegê-lo do sol ou guarda-chuva para manter-
se seco, entre tantos outros prolongamentos artificiais de seu corpo que facilitam sua vida e a
convivência com os demais.
Mas nem só de objetos úteis vive o ser humano. Mesmo que necessite das máquinas ou
objetos que lhe são úteis, existem itens que agregam experiências sensíveis e estéticas e que
podem contribuir de modo ainda mais significativo para a formação do ser. Ainda sem tratar dos
objetos artísticos, podemos citar como exemplo os brinquedos. Os brinquedos têm um significado
lúdico, sensível e indireto de aprendizagem. Eles nem sempre têm um objetivo a cumprir ou uma
função definida; a experiência individual ao brincar com determinado objeto vai depender do
contexto social, cultural e histórico de cada pessoa. Mas, mesmo sem ter uma pretensão definida,
um brinquedo pode afetar de modo direto e sensível tanto quanto um objeto útil poderia fazer.
Assim são os objetos artísticos.
A verdade é que a história da
humanidade está intimamente ligada
à história da arte. Temos o registro
escrito de acontecimentos históricos e
das ações que os homens realizaram
em diferentes períodos. A arte nos deixa
memórias efetivas como a arquitetura,
as pinturas, os desenhos e todas as
manifestações sensíveis de fatos, pessoas,
costumes e culturas que se modificaram ao
longo dos anos.
Um garfo tem como finalidade servir de extensão das
nossas mãos para levar o alimento até a boca. Um garfo de brinquedo
pode explorar a imaginação e a criatividade da criança que alimenta sua
boneca ou simula almoços e jantares com seus amigos ou, simplesmente,
servir como uma ferramenta para pintar. Já uma obra de arte com garfos pode
nos chamar atenção para regiões onde não há alimentos, pode questionar
questões ambientais ou meramente “brincar” com o formato do objeto.
Garfo - objeto útil.

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Garfo sendo usado como de forma lúdica como pincel para


pintura.

Exploração da forma/sombra do garfo. Regina Silveira,


Voodoo Séries III, 2015. Gravura em metal, 63 x 47 cm
Disponível em: http://bit.ly/30flbTb

César Veiga Martins, escultura com garfos. Brique da Redenção,


Porto Alegre, RS.

Nos exemplos de imagens cujo foco é o objeto garfo, percebemos que ele pode ir muito além
da função para a qual foi pensado. A primeira percepção artística que temos é que seu formato, ao
longo dos anos, teve uma preocupação estética que acompanhou as classes sociais, a moda e os
materiais disponíveis para sua confecção. Muitos garfos pertencentes a períodos históricos ou a
famílias importantes encontram-se hoje expostos em museus.
Percebemos que tanto as crianças quanto os artistas dão ao mesmo objeto um significado lúdico e
poético, retirando sua funcionalidade principal e utilizando-o como meio para transmissão de outra
mensagem ou, simplesmente, como uma ferramenta.
Na escultura feita com garfos percebemos uma das manifestações artísticas que caminha
lado a lado com as obras de arte já institucionalizadas: o artesanato. Sua função é decorativa e, em
alguns casos, também utilitária. Desde o princípio os artesãos têm como foco a preocupação com
a técnica e o acabamento do objeto que está confeccionando, sem preocupar-se com questões
conceituais ou com possíveis experiências estéticas que este objeto possa causar ao público.
A produção artística tem algumas finalidades definidas. As ilustrações religiosas servem
como base visual para catequizar, principalmente nos momentos em que a maioria da população
ainda não sabia ler. A arte usada para contar a história foi além das paredes das igrejas e ganhou
grandes proporções com os murais, cujo foco era educar ou contar parte da história social e cultural
de determinado povo. A cada dia mais artistas usam ilustrações com engajamento político para

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manifestar seus pontos de vista e apresentar (ou criticar) a realidade na qual estão inseridos.
Alguns preferem manter-se no campo da arte e explorar a “Arte pela Arte”, ou seja, questionar em
seus trabalhos os próprios fundamentos e elementos da arte.
A arte nos acompanha diariamente, por exemplo, nos designs de objetos decorativos,
joias, roupas ou calçados. Ela também está presente nas linhas de montagens de automóveis, na
produção de jardins e na construção de prédios, nas exposições em galerias, museus e instituições
públicas e privadas, assim como nos grafites em muros ou paredes de edificações que se espalham
pelas cidades. A arte está nas músicas que ouvimos na rádio e nos aplicativos ou nos filmes que
assistimos. Está no teatro, na dança e no circo. Existe uma diferenciação das obras que ficarão
registradas ou não na história da arte, mas a percepção estética despertada pela arte está sempre
presente em nosso dia a dia.
A presença da arte em nossa vida não remete diretamente ao belo. A arte pode nos afetar
pela repulsa, pelo desconforto ou incômodo sensorial que as obras podem causar. O objetivo da
arte não é ser sempre bela, ela está relacionada a uma experiência estética e isso depende de
referências pessoais. Se um artista, por exemplo, montar uma instalação artística repleta de esterco
bovino, essa obra pode causar repulsa em muitas pessoas, mas por outro lado, em outras pessoas
pode despertar memórias afetivas através do cheiro, do visual ou da textura. Ou seja, o belo ou
aquilo que agrada pode ser subjetivo dependendo das referências individuais de cada espectador.
Perceberemos que ao longo da história da arte o foco da produção foi modificando-se, deixou
de servir à religião ou apenas aos interesses dos principais representantes da sociedade. Também
deixou de ser pensada por um grupo de artistas para apresentar pontos de vista individuais sobre
os mais diversos assuntos. Na arte contemporânea o artista expõe suas vivências, memórias e
percepções sobre os problemas que o rodeia. Mas algumas características permanecem; a arte
ainda nos traz questionamentos e diferentes versões sobre um mesmo tema. Talvez sejam essas
as principais funções da arte: apreciar, fruir, analisar e criticar objetos, conceitos e culturas a nossa
volta. Afinal, todo nosso entorno tem referências artísticas. A arte nos faz pensar criticamente sobre
a vida.

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Consideramos o período da pré-história desde o surgimento do homem até a invenção da


escrita. Por ser um período de longa duração, o dividiremos em Paleolítico, Neolítico e Idade dos
Metais. Cabe ressaltar que todas as produções aqui referidas ocorrem antes de qualquer registro
escrito. Então o que temos são os vestígios encontrados em determinadas regiões e a partir dos
quais antropólogos e historiadores fizeram suas pesquisas e tentaram recriar o estilo de vida e
características de cada época.

Arte no PALEOLÍTICO (do surgimento do ser humano até cerca de 12 mil anos atrás)

Também conhecido como “Idade da Pedra Lascada”, esse período histórico corresponde ao
momento em que as armas e instrumentos usados para realizar registros eram feitos com pedra
lascada, ou seja, pedras com as bordas cortantes.
Os povos que viveram nesta época eram nômades. Transitavam de um local para o outro
em busca de melhores condições climáticas, alimentos e água. Não fixavam residência por muito
tempo, impossibilitando-os de construírem moradias ou estabelecerem-se como sociedade. Assim
acabavam por, temporariamente, habitar em cavernas. São nestes espaços que encontramos os
desenhos, as pinturas e as esculturas que hoje classificamos como artísticas, mas que provavelmente
para os povos que viveram naquele período tinham outros propósitos.
As primeiras manifestações artísticas datadas desse momento foram encontradas nas
cavernas de Chauvet e Lascaux, na França, e na caverna de Altamira, na Espanha. Os registros
mais primitivos tratam das mãos em negativo nas paredes das cavernas, assim chamadas por deixar
fixada somente a silhueta das mãos, como se fosse o negativo de uma fotografia.

Mãos em negativo: pintura rupestre, Patagônia, Argentina, 9000 a.C. Disponível em: https://bit.ly/2vY5WQn

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As pinturas rupestres (do latim rupes, rocha) têm como característica principal o naturalismo.
São representações fiéis da realidade tendo, em alguns casos, o tamanho real dos animais
encontrados na natureza. Estas pinturas localizavam-se em locais de difícil acesso dentro das
cavernas, o que demonstra que o objetivo não era divulgar o desenho. Muitas pesquisas apontam que
o objetivo das pinturas estava ligado diretamente
a rituais de magia. Acredita-se que os povos do
paleolítico esperavam que ao pintar a imagem de
um bisão, por exemplo, capturariam a sua alma e
assim teriam poder sobre ele, chegando inclusive
a capturá-lo fisicamente.
As pinturas eram feitas sulcando seu
contorno com a pedra lascada e preenchendo-o
com pigmentos naturais que davam a
coloração. Estes pigmentos eram misturados,
provavelmente, com gordura ou sangue animal
para dar a liga à mistura e fixá-la na parede. O
tamanho, o detalhamento e a escolha de um local
de difícil acesso para deixar registrada a pintura
demonstra o respeito que os homens tinham
pelos animais neste período.

Sobreposição de desenhos (talvez para criar a sensação de


Interior da Caverna de Lascaux, França. movimento), Caverna de Chauvet, França. Disponível em:
Disponível em: http://bit.ly/2JHkjRa http://bit.ly/2VEQU1p

Pintura rupestre de bisontes selvagens, Caverna de Altamira, Espanha. Disponível em: https://bit.ly/2WJ2B3t

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Assim como o povo no paleolítico acreditava que pintar a imagem dos animais estabeleceria
uma relação entre eles, eles acreditavam que suas esculturas representavam aquilo que desejavam
da mulher, a fertilidade. As esculturas eram pequenas estatuetas de pedra que enfatizavam os seios,
o ventre e os quadris da figura feminina. Entre esses trabalhos, destaca-se a Vênus de Willendorf,
encontrada na Áustria e datada de aproximadamente 24 mil anos atrás.
A Vênus de Sauvignano também apresenta as mesmas características da Vênus de Willendorf,
com membros superiores e inferiores quase inexistentes e ênfase nos seios, quadris e ventre, sem
nenhuma expressividade ou identificação pessoal no rosto.

Vênus de Willendorf, estatueta de 11 cm de altura Vênus de Savignano, estatueta de 22 cm de altura


encontrada na Áustria em 1908. Museu de História encontrada na Itália em 1925. Disponível em: http://bit.
Natural, Viena. Disponível em: http://bit.ly/2VqFwB4 ly/30lYqgf

Arte no NEOLÍTICO (12 mil até 6 mil anos atrás)

Os instrumentos e as armas deste período, também conhecido como “Idade da Pedra Polida”,
eram feitos com pedra e polidos por atrito, ou seja, eram mais afiados. O neolítico caracteriza-se
pela sedentarização dos povos. Com uma estabilidade maior do clima foi possível fixar residência
em determinados locais. Graças a isso, alguns hábitos modificaram-se, e os primeiros núcleos
familiares se formaram. O foco não estava mais somente na caça, mas também voltou-se para a
agricultura.
O abandono da vida nômade permitiu que os homens estabelecessem uma relação de
domesticação com os animais e não apenas de caça, como no período paleolítico. A convivência
pacífica e diária dos homens com os animais foi registrada nas imagens no interior de cavernas,
agora em locais mais acessíveis. Nesse período, para atender às demandas de uma sociedade em
crescimento, também se desenvolveu a cerâmica e a tecelagem.
A modificação na postura e no modo de vida dos homens do período neolítico transformou
também seu modo de se expressar. Diferentemente das pinturas rupestres naturalistas do paleolítico,
as representações da figura humana do neolítico são mais simplificadas e geometrizadas, enquanto
os animais permanecem mais detalhados. Nas pinturas deste período podemos observar cenas do

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cotidiano, como a caça, o cultivo agrícola e outras representações da vida do homem lado a lado
com os animais.
Enquanto no paleolítico, a ideia de movimento das figuras ocorria pela sobreposição de
imagens deslocadas, nas pinturas do neolítico elas tornaram-se mais suaves e seu movimento era
representado por leves deslocamentos nas posições de braços e pernas. O desenho de figuras
humanas simplificadas e estilizadas deva-se talvez à busca pela representação do movimento nas
pinturas.

Pintura rupestre nas cavernas de Tassili n’Ajjer, na Argélia.

Pintura rupestre encontrada em Tessili, Região do Saara.

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IDADE DOS METAIS (de 6 mil anos até o desenvolvimento da escrita)


Com o domínio do fogo e da técnica de derretimento dos metais foi
possível a construção de esculturas detalhadas de guerreiros e mulheres
desse período. Essas estatuetas servem como documentação dos
costumes e características desse povo.
Para a elaboração dessas esculturas foram usadas as técnicas
da forma de barro ou a técnica da cera perdida. Tanto o barro quanto a
cera serviam de base e modelo para os detalhes da escultura. No
primeiro caso, a forma de barro era quebrada após passar pelo fogo
e esfriar, resultando na peça de metal. Já no caso da cera, ela era
usada como molde e coberta com o barro, deixando-se um orifício
para a saída da cera e entrada do metal líquido. Ao ser levada ao
fogo, a cera derretia e o seu lugar era preenchido com o metal. Após aquecer,
endurecer e esfriar, o barro era quebrado, dando origem à escultura.

Escultura neolítica de bronze, encontrada na Sardenha.


Museu Pigorini, Roma. Disponível em: http://bit.ly/2VqaBoH

ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA

Até 2006, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) havia identificado
cerca de 10 mil sítios arqueológicos no Brasil com vestígios da arte rupestre. A partir dos sinais
encontrados nesses locais, podemos identificar a cultura de homens e mulheres que viveram em
determinadas regiões. Isso ocorre pela compreensão geográfica do lugar, possível alimentação
e os vestígios encontrados,
como instrumentos de trabalho,
armas, enfeites e pinturas.
Como exemplo, temos os
sítios arqueológicos tombados
pelo IPHAN que ficam no
Parque Nacional da Capivara,
no município de São Raimundo
Nonato, no Piauí, considerado
hoje o maior conjunto de pinturas
pré-históricas do mundo. Desde
os anos 1970, pesquisadores
e arqueólogos têm realizado
estudos para compreender as
razões e os materiais utilizados
nas pinturas rupestres, assim
como as características dos
povos que viviam no Parque. Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, no município de São
Raimundo Nonato, no Piauí. Disponível em: http://bit.ly/2LHBk0n

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As pinturas rupestres realizadas na Serra da Capivara foram feitas por diversos grupos
étnicos que passaram ou habitaram na região em diferentes momentos da história. As pinturas não
mantêm um padrão, uma temática, um estilo ou técnicas de registro. As leituras e interpretações
desses registros são suposições, mas que trazem muitas características dos povos que viveram
no local. Algumas parecem indicar atividades do dia a dia dos seres humanos, pintados isolados
ou em grupos, usando ornamentos e outros objetos. Outras pinturas representam situações que
lembram danças ou rituais, além de momentos de afetividade entre as figuras. Também há registros
de diversos animais pintados isolados ou em bandos.

Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara,
no município de São Raimundo Nonato, no Piauí. Disponível no município de São Raimundo Nonato, no Piauí. Disponível
em: http://bit.ly/2WFZedO em: http://bit.ly/2WK6Uf1

No estado de Minas Gerais encontra-se o sítio arqueológico de Lapa da Cerca Grande,


localizado no município de Matozinhos, também tombado pelo IPHAN. As tonalidades avermelhadas
predominam nas pinturas deste sítio, mas também há desenhos com pigmentos amarelados,
brancos e pretos.

Pinturas rupestres na Lapa da Cerca Grande, Matosinhos, Pinturas rupestres na Lapa da Cerca Grande, Matosinhos,
Minas Gerais. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/mg Minas Gerais. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/mg

Existem vários outros locais no país onde encontramos vestígios de povos que transitaram
buscando alimento, água e melhores condições de vida ou que fixaram moradia cultivando a
agricultura e domesticando os animais. Como não existem registros escritos desse período,
os vestígios encontrados contam parte da história. No entanto, vale ressaltar que as leituras e
interpretações de pesquisadores e arqueólogos tratam-se de suposições.
Pode parecer estranho pintar imagens de animais para adorá-las ou estabelecer algum laço
entre a figura e a vida real. No entanto, ainda hoje várias sociedades adoram imagens (religiosas,
por exemplo) ou utilizam imagens para dissuadir e modificar nossas percepções, como na mídia
publicitária.

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Analisando a produção artística da pré-história, percebemos que a necessidade de se


manifestar através de desenhos, pinturas, cerâmicas ou esculturas precede a ideia de arte enquanto
área de conhecimento. Manifestar-se através da arte é uma necessidade humana que aparece
antes mesmo da escrita. Os objetivos da arte modificaram-se ao longo dos anos e acompanharam
os questionamentos e as problemáticas de cada período histórico.

GRAFITES (do italiano graffiti, plural de graffito)

Na arte contemporânea, uma das manifestações mais conhecidas e facilmente identificadas


no espaço urbano são os grafites. Tanto as pinturas rupestres quanto os grafites mantêm propósitos
e temáticas diferentes mas usam o mesmo “suporte” para exibir a produção: locais de moradias ou
circulação das pessoas.
Espalhados pelas cidades, os grafites ocupam as paredes de casas, muros, prédios e outros
edifícios ou locais que os artistas consigam acessar. O grafite surgiu inspirado nas inscrições de
caráter poético-político nos muros de Paris, no movimento de maio de 1968. Nesta mesma década,
espalhou-se pelos Estados Unidos como uma forma de manifestação das minorias. Depois destas
primeiras manifestações, propagou-se pelo mundo em diferentes estilos, contextos e temáticas.
Os grafites são inscrições nas paredes dos espaços públicos, associados ao ritmo hip hop, que
geralmente abordam temáticas contestadoras e manifestam ideias de parte da população menos
favorecida.
No Brasil, o grafite surgiu na década de 1970 adaptando sua temática e características
às problemáticas do país. Destacam-se no cenário nacional os grafiteiros Eduardo Kobra e Os
Gêmeos (Gustavo e Otávio Pandolfo). Há, ainda, vários outros artistas que, trabalhando sozinhos
ou em coletivos, deixam suas marcas pelas cidades.
Os Gêmeos caracterizam-se por personagens amarelos em diversas situações e locais.
Já com reconhecimento institucional, esses artistas participam de vários festivais, exposições e
projetos em diversos países. Em alguns casos, levam seus trabalhos para dentro de galerias e
museus, modificando seu foco. Trabalhos expostos na rua podem ser vistos por qualquer pessoa,
a qualquer horário e o registro de sua imagem circula rapidamente no mundo através da mídia.
No ano de 2015 Os Gêmeos participaram do Festival de Arte Urbana brasileiro-bielorusso
“Vulica Brasil”. Durante esse evento os artistas grafitaram o Gigante, pintura realizada no condomínio
da Embaixada do Brasil em Belarus, na capital Minsk. Contrapondo-se a grafites que ocupam
fachadas de prédios ou casas, Os Gêmeos foram os responsáveis por grafitar a aeronave da
empresa Gol Linhas Aéreas que iria transportar a seleção brasileira de futebol durante a Copa do
Mundo. Seus personagens característicos pelas cores e formas habitaram os ares entre 2014 e
2016.

Colaboração entre Os Gêmeos e Gol Linhas Aéreas Inteligentes, 2014-2016. Os Disponível em: http://www.osgemeos.com.br

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Os Gêmeos - Gustavo e Otávio Pandolfo. Disponível em: http:// Os Gêmeos, O gigante, 2015. Disponível em: http://www.
www.osgemeos.com.br osgemeos.com.br

Com inúmeros murais realistas espalhados pelo mundo, em


2017, o grafiteiro Eduardo Kobra executou seu primeiro mural em
Portugal. Buscando alertar para a situação dos indígenas no Brasil
e no mundo, ele retratou o cacique Raoni, da tribo Caipó. Essa obra
faz parte de um projeto maior do artista de “proteção dos povos
indígenas, das etnias e preservação da floresta amazônica”.

Eduardo Kobra, Grafite - retrato cacique Raoni, 2017.


Disponível em: http://www.eduardokobra.com/raoni/

Esses são apenas alguns grafiteiros reconhecidos no cenário artístico, mas encontramos
diariamente artista anônimos que deixam suas marcas pelas cidades, alertando para problemas ou
enfatizando temáticas locais, sociais e culturais.

Grafite em bueiro. Disponível em: https://bit.ly/2XMJsO4 Nunca, grafite em Kiev. Mag Magrela, grafite.
Disponível em: https://bit. Disponível em: https://
ly/2XMJsO4 bit.ly/2XMJsO4

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Nina Pandolfo, grafite. Disponível em: https://bit.ly/2XMJsO4

Fábio de Oliveira Parnaiba, conhecido como Crânio, grafite. Paulo Ito, grafite. Disponível em: https://bit.ly/2XMJsO4
Disponível em: https://bit.ly/2XMJsO4

Anotações

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Período em que surgem as primeiras cidades e a invenção da escrita. Na busca pela


sobrevivência e cultivo agrícola, as sociedades dessa época localizaram-se próximas a grandes
rios, como a civilização mesopotâmica, no Vale dos rios Tigre e Eufrates (territórios que hoje
pertencem a Turquia e ao Iraque), e os egípcios, que se desenvolveram às margens do rio Nilo.
Também fazem parte da idade antiga as produções artísticas grega, romana e bizantina.

1. ARTE MESOPOTÂMICA
A Mesopotâmia foi habitada por diferentes
povos ao longo dos anos; os principais foram os
sumérios, os acádios, os babilônios e os assírios.
Devido a essa variedade de culturas, diversas
características distintas permeiam as produções
artísticas, refletindo a história, a política, a religião,
as particularidades da natureza e as conquistas
de cada povo que ali viveu.
A principal área desenvolvida por todos
os povos que habitaram a Mesopotâmia foi a
arquitetura, com seus templos – os Zigurates –
e palácios. As pinturas, esculturas, murais e
relevos serviam para ornamentar as estruturas
arquitetônicas.
Tanto os povos mesopotâmicos quanto
os egípcios viveram e produziram no mesmo
período, mas as produções mesopotâmicas
acabaram perdendo-se no tempo, principalmente
por suas características frágeis. Nesta região era
difícil encontrar pedras, motivo pelo qual existem
preservadas apenas pequenas esculturas.
Pela falta de material mais resistente utilizou-se
barro cozido para as construções arquitetônicas,
material que se deteriorou com o passar dos anos.
Os povos mesopotâmicos acreditavam
no poder da imagem. Produziram diversas
estátuas de adoradores, que eram os membros
importantes ou governantes das comunidades
e que representavam o Deus – figura ligada
diretamente à natureza. Também representaram
seus governantes em cenas de batalhas, caçando
e dominando povos e animais como demonstração Estela da vitória de Naram-Sin, 2300 a 2200 a.C.,
de poder. encontrado em Sura, pedra altura 200 cm. Museu do Louvre,
Paris. Disponível em: http://bit.ly/2JBAbF0

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No relevo Estela da vitória de Naram-Sin percebemos a representação de poder do rei Naram-


Sin ao derrotar seu inimigo e posicionar-se em cima dele enquanto os demais parecem implorar
clemência. Todos estão abaixo do rei na representação e são apresentados em tamanho menor.
Acima dele somente os dois sóis, símbolo máximo de poder para este povo.
Os Sumérios, provavelmente os primeiros povos a habitar a região, desenvolveram técnicas
e tecnologias que foram absorvidas pelos demais povos, como a escrita cuneiforme e a construção
de Zigurates – templos que abrigavam as questões da fé, mas também as relações políticas e
sociais da localidade. Devido às diversas invasões e batalhas pelo espaço próximo ao rio, essas
“cidades” eram muradas e o Zigurate ocupava seu espaço principal.

Zigurate de Ur, 2200 a.C., reconstrução moderna da fachada, com ruínas no topo. Iraque. Disponível em: http://bit.ly/2YvjnUs

Na estátua de adorador de Ebih II, do período Sumério,


percebemos traços suaves e formas arredondadas.
O rei está com as mãos posicionadas sobre o peito
em sinal de oração e um leve sorriso na face.
Sua expressividade concentra-se em seu olhar e
mesmo sendo o representante de Deus, parece
colocar-se próximo da população. O foco inicial
concentrou-se na adoração de Deuses ligados à
natureza e à religiosidade do povo.

Estátua de Ebih II, nu-banda (“general”) do rei Ishqi-Mari da cidade


de Mari (hoje na Síria), usando um kaunakes (do grego “manto
grosso”, saia de lã com textura de penas ou pétalas). 2.400 a.C.
Alabastro, gesso, conchas e lápis-lazuli. Altura: 53 cm. Museu do
Louvre, Paris. Disponível em: http://bit.ly/30nbhPm

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Os Acádios apresentam o primeiro império sob o domínio de um governante. Acreditavam


que acima do poder do governante estava somente o do Deus Sol. Reflexos do império são
as construções dos primeiros palácios na região. Os Acádios também desenvolveram os selos
cilíndricos – estruturas circulares com baixo-relevo que marcava no barro ou em outras superfícies
o que nele estava registrado. Tratava-se da assinatura das pessoas.
Os povos Babilônicos foram responsáveis pelas primeiras leis impostas a uma sociedade.
Conhecidas como os Códigos de Hamurabi, tratavam de regras severas e duramente punidas caso
fossem contrariadas. Mesmo que pareçam rígidas demais para os tempos atuais, foram muito
importantes para iniciar um pensamento
de vida em sociedade baseado em regras,
limites e respeito ao outro.
Os Assírios eram a sociedade mais
violenta e cruel deste período. Além de
escravizar os povos que dominavam, também
os torturavam. Eram focados em guerras
e batalhas. Acreditavam que a força dos
homens era equivalente à dos animais, os
quais eram muito cultuados e respeitados. A
figura dos seus representantes era retratada
de modo autoritário. A religião estava presente
na devoção aos Deuses da Guerra, mas o
principal objetivo não era o culto, e sim, as
batalhas. Caçada ao leão pelos assírios. Representação do Rei
Assurbanípal (668-627 a.C.) matando um leão.

A representação da caçada ao leão pelos assírios demonstra algumas características dos


relevos desse povo: o detalhamento e naturalismo das figuras, a anatomia destacada tanto do rei
quanto do leão, a representação do poder do rei matando cara a cara o forte leão, os mínimos
detalhes e ornamentos de sua barba, entre outras minúcias que podemos perceber.
A barba sempre foi demonstração de poder aos povos da Mesopotâmia, mas os assírios elevaram
a decoração e cuidados com ela a um novo patamar, chegando a enfeitá-la com pó de ouro e amido
amarelo em ocasiões festivas.
As esculturas dos touros alados do período assírio remetem à ideia de força e poder do homem
e dos animais. Posicionados nas
entradas de algumas portas das
cidades muradas e de alguns
palácios, serviam como vigias e
protetores. Misturam os poderes
e forças de diversos animais, mas
conservavam a cabeça pensante
dos humanos. Diferente dos
primeiros povos que habitaram a
Mesopotâmia, e tinham o foco na
adoração dos Deuses, na natureza
e na religiosidade, o foco nesse
período estava nas batalhas e nas
guerras.

Touros alados, vigias da cidade e do palácio de Khorsabad, na Mesopotâmia, 723


a.C. Museu do Louvre. Disponível em: http://bit.ly/2VJGFck

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Muitas das construções, dos palácios e Zigurates dessa região foram destruídos total ou
parcialmente pelos constantes conflitos de caráter religioso, e que atualmente ainda ocorrem no
local. A violência, emprego de crianças nos conflitos, o uso de barba pelos homens e a figura
desvalorizada da mulher parecem ser influências do período mesopotâmico. A região nunca deixou
de ser uma área de conflito, seja pelo acesso à água ou pelas diferenças ideológicas e religiosas.

2. ARTE EGÍPCIA

A civilização egípcia talvez esteja entre as mais significativas no que diz respeito à produção
artística. Baseada totalmente em crenças religiosas e adoração aos Deuses, os egípcios fizeram
grandiosas construções arquitetônicas, pinturas que seguiam regras pré-concebidas, relevos que
contam a história do seu povo – e principalmente dos Faraós – e esculturas que tratavam da
“duplicidade” da imagem da figura humana.
Localizada ao longo da extensão do Rio Nilo, a civilização egípcia esteve por muitos anos
protegida de invasões pelos desertos da Arábia e da Líbia e pelo mar Vermelho, o que propiciou
uma estabilidade na sua formação e tempo para sua organização física, social e cultural. Nesse
período, sua história dividiu-se em Antigo Império, Médio Império e Novo Império. Embora muitas
mudanças tenham ocorrido naquele tempo, a religiosidade e a intensão de ‘eternidade’ permearam
a história egípcia.
Por muitos anos a arte egípcia manteve algumas características bem marcadas e seguiu
algumas concepções rígidas, mas nunca teve como foco adornar ou representar a realidade.A
função primeira e única da arquitetura, das esculturas e das pinturas egípcias era preservar a
realidade em qeu viviam os homens mesmo após a sua morte. Assim, a ideia de eternidade
era o centro do pensamento egípcio. Seguindo essa concepção, alguns elementos podem ser
apresentados como símbolos egípcios: o sol, que mesmo “morrendo” diariamente retorna dia após
dia para iluminar; o Rio Nilo, cultuado como Deus Nilo que garante a fertilidade pela irrigação, a
água para consumo e a pesca abundante; o papiro, planta usada pelos egípcios para escrever,
confeccionar roupas, sapatos etc.; e a flor de lótus. Tanto o papiro quanto a flor de lótus morriam
nos alagamentos em períodos de cheia, mas renasciam ainda mais bonitos e abundantes após o
rio voltar ao normal, confirmando para os egípcios a concepção de renascimento e vida eterna.
Acreditando que a vida continuava após a morte, os Faraós reuniam toda sua fortuna, servos
e objetos pessoais em grandes túmulos, pois assim quando renascessem teriam tudo de que
precisassem a sua volta. A produção artística foi fundamentada nessa crença.

ARQUITETURA EGÍPCIA
A arquitetura egípcia era feita pelos escravos para os Deuses, governantes ou pessoas que
estavam no poder.
As principais obras arquitetônicas dos egípcios eram os túmulos, mas também erguiam
palácios, templos e moradias menores. Os túmulos construídos pelos egípcios eram inicialmente
estruturas menores, mas logo ganharam grandes proporções. As tumbas dos primeiros Faraós são
as MASTABAS. A palavra mastaba vem do termo árabe maabba, que significa “banco”, pois essas
estruturas lembravam bancos de pedra.
Como a religiosidade era a ideia central, e aproximar-se do Deus Sol era importante, para
ganhar verticalidade as mastabas logo se transformaram em PIRÂMIDES. A montagem desses
túmulos lembra a sobreposição de diversas mastabas e ganham enormes proporções, elevando-se
aos céus. As pirâmides mais conhecidas ficam na Necrópole de Gizé, do antigo Império: Quéops,
Quéfren e Miquerinos.
Outra estrutura funerária usada pelos egípcios foram os HIPOGEUS, que são túmulos

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subterrâneos, tão grandiosos quanto as pirâmides. Suas construções, no entanto, não ficam
aparentes.
Todas estas estruturas destinavam-se a receber o corpo mumificado do Faraó junto com sua
riqueza, objetos pessoais, esculturas, pinturas, escritas contando sua história de vida, e até mesmo
os corpos dos escravos que lhe serviam em vida. Como a preservação de tudo que estava dentro
desses espaços era importante, em seu interior eram construídos verdadeiros labirintos de modo a
dificultar roubos ou ataques ao corpo e pertences do Faraó.

Mastaba do Faraó Shepseskaf, chamada “Mastaba el Fara’un”


(2510 a.C.), da 4ª Dinastia, Sakara, Vale funerário de Mênfis,
Egito.

Necrópole de Gizé, pirâmides de Quéops, Quéfren e


Miquerinos, 4ª Dinastia. Gizé, Egito.

Templo da Rainha Hatshepsut, em Deir el-Bahari, Egito.

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ESCULTURA EGÍPCIA
Podemos dizer que as esculturas são “duplicidades” da figura, pois essa era literalmente
uma de suas funções: ser a imagem de quem estava sendo representado. O escultor egípcio ficou
conhecido como “aquele que mantém vivo” pois através de sua obra a alma permaneceria viva
e o corpo preservado para ser “usado” na próxima vida. Em alguns casos, a preocupação com a
religiosidade também é acompanhada de demonstrações de poder, o que justifica a dimensão de
alguns trabalhos.
Os artistas desse período não tinham um traço ou característica marcante e mantinham-se no
anonimato. Eles seguiam algumas regras para representação tanto no plano bidimensional quanto
no plano tridimensional, praticamente padronizando a produção. Nas esculturas, apresentavam
a figura geralmente de frente, rígida, com os membros inferiores e superiores presos ao corpo,
punhos fechados e um pé na frente do outro. Eram estruturas sempre feitas a partir de um único
bloco de pedra, no qual permaneciam fixadas. Toda essa rigidez e cuidados para que todos os
membros ficassem preservados ao longo dos anos reflete a preocupação de manter a preservação
da figura, que deveria manter-se intacta mesmo após a morte de quem foi representado.
Na civilização egípcia também encontramos diversas esfinges (do grego sphingo, que significa
estrangular). São figuras mitológicas com corpo de leão e cabeça humana, geralmente de um
Faraó, que simbolizam o poder e a sabedoria e serviam como protetoras das pirâmides e dos
templos. A mais conhecida é a Esfinge de Gizé.

Estátua de Menkaura e sua Tríade de Miquerinos ou Tríade de Menkaure, feitas entre 2490 e 2472 a.C. Três grupos
esposa Jamerernebty. Museu de estátuas de grauvaca, aproximadamente 90cm. Encontradas em Giza, na Tumba de
de Belas Artes de Boston. Miquerinos. Disponível em: http://bit.ly/2Vn2NUJ
Disponível em: http://bit.
ly/2HmM0NW

Esfinge de Gizé, construída no 3º milênio a.C., pedra calcária, 20 m de altura, 6 m de largura e 57 m de


comprimento. A cabeça representa o Faraó Quéfren ou seu irmão Djedefré. Disponível em: http://bit.ly/2JHjaZW

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PINTURA EGÍPCIA
Se através das esculturas o corpo humano era preservado, era pela pintura que os faraós
conservavam a pesca, a caça, a colheita, as festividades e as homenagens aos Deuses. Os afrescos
feitos nas paredes e objetos distribuídos no sepulcro representavam tudo o que o Faraó teria na
próxima vida.
Os egípcios seguem em suas representações bidimensionais a LEI DA FRONTALIDADE.
Como ainda não tinham desenvolvido técnicas de perspectiva, luz e sombra ou qualquer outro
recurso que proporcionasse a ideia de profundidade nas pinturas, a Lei da Frontalidade permite
ressaltar todas as partes da figura que eles achavam importantes. Ou seja, tudo que eles deveriam
ter na próxima vida deveria estar bem aparente.
As figuras eram representadas sempre com o rosto de perfil para enfatizar a saliência do
nariz, os olhos vistos de frente, o tronco de frente para demonstrar exatamente como ocorria o
encaixe dos braços e os dois pés representados do lado de dentro para deixar visível todos os
dedos. Geralmente Faraós e Deuses eram pintados maiores que as demais figuras da cena, com o
objetivo de destacar sua importância. Com esses recursos conseguiam ressaltar as partes do corpo
e figuras importantes da civilização egípcia de modo objetivo e pleno.
Embora sigam regras para representar a figura humana, seus “erros” de anatomia não tratam
de falta de domínio da técnica. Se observarmos a pintura na Tumba de Jaemwaset perceberemos
o detalhamento e domínio do desenho nos animais e nas plantas. Também nessas formas
compreendemos a preocupação de representar diversas espécies na pintura da Tumba, assim,
esses animais e plantas também seguiriam para próxima vida do Faraó. Na imagem também
podemos observar a diferença de tamanho dos personagens apontando a importância de cada um
dentro do contexto social e político do período.

Afrescos no Túmulo da Rainha Nefertari, Vale das Rainhas,


Egito. Disponível em: http://bit.ly/2Vs90Pc
Pintura na Tumba de Jaemwaset, filho de Ramsés III.
Disponível em: http://bit.ly/2Q1ttco

Nas pinturas e afrescos também observamos a presença de corpos humanos com cabeças
de animais – o antropozoomorfismo. Essas eram as representações de alguns Deuses, como o
Deus Hórus, com cabeça de falcão e protetor dos Faraós e das famílias; o Deus Hathor, com
cabeça de vaca e protetora dos amantes e guardiã das mulheres; o Deus Anúbis, com cabeça de
chacal, era considerado o Deus da morte, da mumificação e do submundo, entre outros.
São também desse período os LIVROS DOS MORTOS encontrados junto com as pessoas
mumificadas. Esses escritos contavam toda a história de vida dos Faraós e membros importantes

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da sociedade egípcia, suas conquistas e títulos, propriedades e principais características. Eles


acreditavam que todos esses registros serviriam para contribuir em sua absolvição diante do Deus
e retorno para próxima vida. Eram desenhos, escritas e pinturas feitas sobre papiro.
Os Faraós também tinham suas histórias registradas nas paredes de suas tumbas. Esses
registros eram feitos por meio de pinturas, afrescos e HIERÓGLIFOS, que eram escritas sagradas
feitas pelos escribas. No detalhe do Papiro de Ani percebemos pinturas, hieróglifos, representação
de Deuses e um dos rituais feito pelo Deus Anúbis no julgamento da alma dos mortos: o coração
de um Faraó deveria ser leve e, ao ser aferido em uma balança, pesar menos que uma pena de
falcão. Caso contrário, não seria considerado digno e seu coração era dado à uma criatura para ser
devorado.

Detalhe do Papiro de Ani - Livro Egípcio dos Mortos. Disponível em: http://bit.ly/2JmKY6t

Mesmo com o vasto conhecimento que temos hoje da cultura egípcia, muitos dados perderam-
se na história principalmente pelos saques e roubos aos túmulos de grandes Faraós, pois suas
fortunas eram alojadas junto com seu corpo. Ainda podemos encontrar múmias, objetos, pinturas
e esculturas egípcias em diversos museus pelo mundo, além de partes de mastabas, pirâmides,
templos e palácios ao longo do rio Nilo.

3. ARTE GREGA

Embora tenha sofrido influência dos egípcios em seu período inicial, a arte grega mudou a
perspectiva artística retirando o foco da religião e de Deuses antropomórficos e centrando seus
estudos no homem e nos Deuses mitológicos. Enquanto os Deuses egípcios tinham a força de
homens e animais, os Deuses mitológicos gregos tinham a forma e as características dos humanos,
inclusive seus “defeitos”.
A civilização grega tem o homem como o centro de todas as coisas. Podemos exemplificar
isso pela busca das proporções “perfeitas” da anatomia humana e sua busca pela verdade. Embora
os gregos também se dediquem ao culto aos Deuses, o tamanho dos templos gregos segue as
proporções dos homens, diferentes dos egípcios, que construíram túmulos gigantescos.
É neste período que colocam o homem acima dos mitos religiosos e da crença sobre a
vida após a morte. Quando as pesquisas passam a centrar-se no homem é que nasce a ideia de

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ciência tal qual a concebemos atualmente, onde a razão – e não a fé – é usada para explicar os
acontecimentos.
A cultura grega teve como alicerce a tríade Verdade, Beleza e Justiça. Algo somente seria
verdadeiro se fosse belo e justo. Algo seria justo se fosse verdadeiro e belo. E seria belo se fosse
justo e verdadeiro. A investigação destes elementos aplica-se à arte, refletindo na busca dos artistas
pela figuração mais próxima possível do real.
Toda vida artística, cultural e social dos gregos desenvolveu-se a partir de um pensamento
linear. Embora as datas possam variar de acordo com diferentes historiadores, a produção dividiu-
se em três momentos: Período Arcaico (800 a.C. até 500 a.C.), Período Clássico (500 a.C. até 338
a.C.) e Período Helenístico (338 a.C. até 146 a.C.), que durou até 146 a.C. quando a Grécia foi
dominada pelos romanos.
Embora os registros escritos tragam dados sobre diversas pinturas em todos os períodos
gregos, poucos exemplares foram encontrados. A maioria das pinturas descobertas estavam
fora das grandes cidades, o que não deixa um registro fiel das produções bidimensionais que
provavelmente desenvolveram-se de modo mais efetivo nos grandes centros. O que sabemos,
através dos escritos, é que se tratavam de obras bastante coloridas e que seguiram a evolução
figurativa da escultura na busca pelo movimento e realismo das formas.

PERÍODO ARCAICO
A característica mais marcante da ARQUITETURA grega são as construções de templos
para adoração aos Deuses. Podemos diferenciar os períodos em que eles foram construídos pelo
modelo de capitel em suas colunas. O período arcaico é marcado pela construção de templos cujas
colunas eram com capitel dórico. Este apresenta formas simples, lisa e maciças. O templo mais
conhecido com estas características é o Partenon, na Acrópole de Atenas.

Partenon, na Acrópole de Atenas, Atenas, 447-432 a.C. - Templo Dórico

Ordem dórica

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A ESCULTURA do período
arcaico é ainda muito influenciada
pela produção egípcia e suas
formas permanecem rígidas, feitas
de apenas um bloco de pedra.
As imagens mantêm os braços
junto ao corpo, cabelos marcados,
um pé em frente ao outro e
são simétricas. As principais
representações escultóricas desse
momento são os Kouros (“homem
jovem”) e as Korai (“mulher jovem”;
no singular, Koré). Ambas mantêm
diversas características egípcias;
o que as diferencia é que o Kouros
representa um jovem nu e a figura Estátua grega no padrão Kouros. Estátua grega no padrão Koré,
Disponível em: http://bit.ly/2WJDrlj chamada de Dama de Auxerre,
feminina – Korai – é apresentada 635 a.C. Museu do Louvre, Paris.
vestida. Disponível em: http://bit.ly/2HDHSYP

Como a maioria das PINTURAS não resistiram ao decorrer dos tempos, perderam-se os
registros bidimensionais. São nas cerâmicas que podemos analisar como provavelmente o ser
humano era representado nas pinturas. A confecção de vasos era voltada para armazenamento de
vinhos, azeites e outros mantimentos; também eram usados como urnas funerárias.
Desenvolveram-se duas técnicas nesse período. Em uma delas a silhueta das figuras era
pintada de preto e seus detalhes internos gravados com um instrumento pontiagudo, revelando a
cor natural do barro. O principal pintor desta técnica foi Exéquias. Outro modo de pintar os vasos
foi introduzido por Eutímedes. Na sua técnica, ele inverteu o esquema de cores deixando as figuras
na tonalidade do barro e o fundo negro. São chamadas de figuras vermelhas.

Ânfora com figuras negras. Cerca de 540 a.C. Ânfora com figuras vermelhas, cerca de 350 a.C.

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PERÍODO CLÁSSICO
A ARQUITETURA clássica é marcada pela construção de templos com capitel jônico, o qual
tem volutas (ornamentos em espiral) em sua estrutura. Um exemplo de templo jônico é o Erecteion,
na Acrópole de Atenas. Além de capitéis jônicos ele possui cariátides, que são colunas formadas por
figuras femininas.

Erecteion, na Acrópole de Atenas, Atenas, 420-405 a.C. - Templo Jônico

Ordem Jônica

As ESCULTURAS desse período são


pautadas pela conquista do movimento, da
proporção e da maturidade das formas. Na busca
pelo movimento, os escultores evidenciaram os
músculos, delimitaram linhas de força que guiam a
composição e buscaram um equilíbrio matemático
para estruturar as figuras. Na busca pelas
proporções “perfeitas”, criaram algumas “regras”:
o corpo humano proporcional deveria ter a medida
de 7 cabeças, a distância entre os mamilos deveria
ter o tamanho de uma cabeça, a distância entre
um olho e outro é o tamanho do próprio olho,
entre outras convenções. A maturidade dessas
obras trata da conquista da beleza e leveza,
independentemente do material usado.

Cópia romana do Doríforo, de Policleto. O original grego data


de aproximadamente 44 a.C. Altura: 199 cm. Museu Nacional
de Nápoles.

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A maioria das esculturas dos períodos arcaico e clássico são representações de jovens
atletas. Isso deve-se ao fato dos atletas campeões nas olimpíadas gregas receberem uma escultura
sua como destaque. Essas estátuas eram espalhadas pela cidade, nos templos e locais dos jogos.
O principal escultor deste período é Praxíteles.
Percebemos que nas esculturas do período clássico inicia-se a ideia de movimento
desprendendo-se das regras egípcias, tornando as figuras mais realistas, com músculos mais
destacados e formas mais definidas. Mas ainda não se percebe diferenças individuais nem
expressões nos rostos das esculturas.

Cópia romana da Afrofite da Cápua. Cópia romana do século II d.C. Afrodite Vênus de Milo (Afrodite de Melos),
Original grego data do século IV a.C. de Cnidos. Mármore. Museu Nacional datada da segunda metade do século
altura 210 cm. Museu Nacional de Romano, Roma. Disponível em: http:// II a.C. Altura: 204 cm. Museu do
Nápoles. Disponível em: http://bit. bit.ly/2w1ksXG Louvre, Paris. Disponível em: http://bit.
ly/30m7FNt ly/2Hm3s4X

Para compreender a transição do período clássico para


o helenístico podemos observar a obra A filha de Níobe morrendo.
Nessa obra há a representação de uma de suas filhas recebendo
uma flechada. A história mitológica por trás da cena trata de
Níobe, Rainha de Tebas, uma mortal com 12 filhos – 6 meninas e
6 meninos-, e a imortal Latona, mulher de Zeus e mãe de Apolo e
Artêmis. Por considerar uma afronta uma mortal ter tantos filhos
enquanto ela tinha apenas dois, Latona demonstrou seu desprezo
e tristeza. Para vingar o ressentimento da mãe, Apolo matou com
dardos os seis filhos de Níobe pelas costas, e Artêmis matou as
seis filhas de Níobe, com flechadas, também pelas costas.
A escultura apresenta o momento em que uma das
filhas recebe a flechada. Percebemos a preocupação com o
movimento da figura, as linhas de força, músculos bem definidos,
entre outras características do período clássico. Nota-se, no
entanto, que ainda falta na obra a principal característica do
período helenístico: a expressividade. Mesmo à beira da morte
ela permanece com um olhar suave e delicado, sem nenhuma
expressão de dor ou sofrimento. A filha de Níobe morrendo, cerca de 440
a.C. Mármore. Disponível em: http://bit.
ly/2E758gC

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PERÍODO HELENÍSTICO
No final do período Clássico e início do Helenístico, o povo grego passou por diversos ataques
e vivenciou um momento muito instável. Esta emoção latente na população foi repassada para arte
que trouxe, além do belo já desenvolvido anteriormente, também a expressão e os sentimentos
expostos nas figuras.
Templos com colunas com capitel coríntio são característicos do período Helenístico, que
recebeu esta denominação por ter se desenvolvido na cidade de Hélade, na região central da
Grécia.

Ordem Coríntia Templo de Zeus Olímpico, Atenas.

As ESCULTURAS do período helenístico se esmeraram para apresentar o realismo das


figuras e das cenas. Nesse período, além de pessoas isoladas, também foram esculpidos grupos
de pessoas, sempre sugerindo mobilidade.
No conjunto escultórico Laocoonte e seus filhos são representadas toda a emoção, a intensidade,
o desespero e a dor do momento em que a serpente marinha – enviada pelos Deuses para matar
os filhos de Laocoonte – se enrosca neles. Segundo a mitologia isso ocorreu porque Laocoonte
resolveu alertar o povo para queimar o cavalo de Tróia. Por esse desacato Laocoonte foi cegado
pelos Deuses que enviaram a serpente para acabar com a vida de seus filhos; ao tentar defendê-
los, Laocoonte também foi morto pela cobra. Diferentemente da obra A filha de Níobe morrendo, no
rosto contorcido e enrugado de Laocoonte identificamos toda a emoção vivida por ele naquele
momento.
Surge nesse período um “elemento invisível” na arte que contribui para compor as cenas
escultóricas. Podemos perceber esse elemento na escultura da Vitória de Samotrácia, encontrada
na região de Samotrácia. Mesmo sem a cabeça percebemos o movimento e os detalhes da
figura. Essa escultura esteve ou foi feita para ficar na proa de um navio, pois as vitórias eram
consideradas seres protetores. O elemento invisível que compõe essa cena é o vento e, nesse
caso, o vento “molhado”. Identificamos por suas vestes que o ar corta a figura, deixando suas
roupas em movimento, em algumas partes o tecido parece “grudar” ao corpo, criando a sensação
de transparência, como se fosse um tecido fino e que estivesse molhado. A Vitória de Samotrácia

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reflete emocionalmente o movimento e a intensidade de estar frente a uma embarcação, encarando


seus inimigos e apontando para novas descobertas.

Hagesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes. Laocoonte e seus Vitória de Samotrácia, 190 a.C., 275 cm. Museu do Louvre,
filhos, 175-50 a.C. Mármore, 242 cm. Museo Pio Clementino, Paris. Disponível em: http://bit.ly/2JKW44y
Vaticano. Disponível em: http://bit.ly/2WP6e8l

Tanto as pinturas quanto as esculturas eram coloridas. Com o tempo, no entanto, as obras
tridimensionais perderam sua coloração, permanecendo somente a cor do material, geralmente
mármore.
Na busca pelo movimento, as obras tridimensionais gregas retiraram as figuras dos blocos
de pedra e afastaram seus membros (pernas e braços) do tronco, diferenciando-as das egípcias.
Enquanto o objetivo das esculturas egípcias era durar para sempre na vida eterna, os gregos
buscavam o belo, o verdadeiro e o justo sem preocupar-se com a eternidade, respeitando as
limitações humanas. Assim, usaram o mármore, material mais frágil quando comparado à pedra e
ao bronze, motivo pelo qual vários exemplares que observamos hoje em museus estão quebrados,
lascados ou com partes faltantes.

TEATRO GREGO

A história do teatro se inicia com as festas oferecidas ao Deus Dionísio, Deus do Vinho.
Toda dramaticidade buscada pelos escultores do período helenístico foi influenciada também pelas
cenas representadas no teatro. O foco, além do coro, agora também estava no desempenho dos
atores.
A arquitetura dos teatros gregos ainda serve como referência para construções atuais, pois
apresentava uma acústica perfeita. Inicialmente foram divididos em três partes: a orquestra, local
circular dedicado às apresentações; a arquibancada, construída aproveitando-se a geografia do local
e era reservada ao público; e o palco, local para preparação dos atores e depósito dos materiais –
atualmente denominado camarim.

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Em um segundo momento, a estrutura modificou sutilmente sua composição, deixando o


palco de ser um círculo completo, isolando-se mais e proporcionando maior destaque aos atores. A
nova formatação também concentrou o público mais próximo do centro.

Teatro de Epidauro, século IV a.C. - 55 degraus divididos em duas ordens e calculados de acordo com uma inclinação perfeita.
Disponível em: http://bit.ly/2HmEdzE

Teatro de Priene, século II a.C. disponível em: http://bit.ly/2YvngZg

De modo linear, percebemos a evolução das obras gregas, as quais foram referências para
outros momentos artísticos posteriores como o Renascimento ou o Neoclassicismo. Ainda hoje
as obras clássicas servem como referência para os artistas e como guia de padrões de beleza do
corpo humano. Muitas esculturas gregas foram perdidas ou danificadas nas batalhas e o acesso
que temos a maioria delas, atualmente, são as cópias romanas.

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Colégio Militar de Manaus

4. ARTE ROMANA

A história da cidade de Roma deriva da


lenda dos irmãos gêmeos Rômulo e Remo,
que foram jogados no rio Tigre após Amulios,
irmão do Rei Numitor, tomar o poder. Rhea
Silvia era filha de Numitor e foi condenada
ao celibato após a tomada do poder, mas
o Deus romano da guerra – Marte – gerou
nela os gêmeos. Ao saber do nascimento
das crianças, Amulios ordenou que as
jogassem no rio. Elas foram encontradas e
amamentadas por uma loba e depois criadas
por um dos pastores do antigo rei. Já adultos,
retomaram o trono e o devolveram a seu avô
que, como recompensa, os presenteou com
uma cidade. Na disputa para ver quem ficaria Estátua da Loba amamentando Rômulo e Remo. Disponível em:
com a cidade, Rômulo foi o vencedor, daí o http://bit.ly/2JDVR39
nome Roma.
O império Romano foi, talvez, o mais
grandioso domínio que deixou um imensurável legado de conceitos para a posteridade. Trata-se
de um povo inteligente e prático, que absorveu todo o conhecimento grego sobre padrões, beleza,
proporções do corpo humano, verdade e justiça acrescentando, ainda, a praticidade e a realidade
da vida.

ARQUITETURA ROMANA

Podemos identificar nas construções romanas diversos elementos da arquitetura grega.


No entanto, os romanos foram além e desenvolveram obras que contribuíram para facilitar o
desenvolvimento das cidades e oferecer maior conforto ao povo. Seu principal diferencial foi a
implantação de ARCOS nas estruturas. Diferentemente das colunas, que precisavam ser postas
próximas umas as outras para sustentar o peso sem que se partissem ao meio, os arcos permitiam
a criação de espaços mais amplos e sem colunas no centro.
Os arcos foram usados em diferentes estruturas, como os AQUEDUTOS construídos pelos
romanos para trazer água aos grandes centros. Ainda hoje identificamos ruínas desses aquedutos
com diferentes quantidades e tamanhos de arcos sobrepostos, dependendo da elevação do terreno.

Aqueduto romano de Segóvia, Século I d.C.


Ativo até o final do século 19, o aqueduto levava a água
da serra, distante cerca de 17 km, até a cidade. Sua
gigante estrutura é composta por 167 arcos formados
por pedras unidas sem nenhum tipo de argamassa entre
elas. Por isso, é considerado uma das mais importantes
obras da engenharia na Espanha. Disponível em: http://bit.
ly/2VEsvZD

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Unidade 1
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Os templos romanos seguiram inicialmente as estruturas gregas mas modificaram-se com


o tempo, de acordo com seus objetivos conceituais. Os gregos preocupavam-se em construir
estruturas grandiosas e externamente belas. Os romanos, também politeístas, preocupavam-se
com o interior das construções. O Panteão – ou Pantheon –, construído entre 118 e 125 d.C., reflete
esta mudança arquitetônica dos templos. Entendido como um local para abrigar um conjunto de
Deuses, o Panteão foi construído com arcos fechados. Embora traga características gregas em
seu frontão, é formado por uma estrutura cilíndrica gigantesca seguida de arcos terminando no
ósculo – estrutura aberta no centro superior. Essa abertura garante tanto a entrada de luz quanto
a ventilação pois, como as paredes eram muito grossas a fim de sustentarem os arcos superiores,
estes espaços praticamente não tinham janelas. Tal isolamento permite ampliar a preocupação
estética interna.

Panteão Romano, 126 d.C. Roma, Itália. Disponível em: https:// Vista interna do Panteão. Disponível em: https://bit.ly/2So6E3M
bit.ly/2So6E3M

As BASÍLICAS que hoje conhecemos, principalmente como igrejas, foram importantes


centros de comércio, fóruns, discussões e demonstrações de fé durante o período romano. Suas
estruturas foram adotadas pelas igrejas tais quais as conhecemos
hoje.
As COLUNAS romanas também foram espalhadas pelas cidades
contando, através de relevos detalhados, as batalhas e vitórias dos
imperadores. Eram estruturas cilíndricas altas e
imponentes.
Também os ARCOS DO TRIUNFO foram
construídos para “abrigar” a chegada triunfante
dos imperadores. A história da batalha era
contada com relevos e esculturas com cabeças
removíveis, o que permitia suas trocas conforme
o imperador que estava no poder em determinado
período.

Coluna de Marco Aurélio, Séc. V - VII d.C. em Piazza


Colonna, Roma, Itália. Disponível em: https://bit.ly/2YbmXGt

Arco triunfal de Constantino, 315 d.C. 21m, Roma, Itália

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TEATRO ROMANO

O espaço considerado teatral para os romanos está intimamente ligado à arquitetura pois a
sua principal obra trata-se, ainda hoje, de uma estrutura referencial para diversas construções: o
COLISEU. Na verdade, trata-se do Anfiteatro Flaviano, pois pertenceu à dinastia Flaviana, iniciando
sua construção no império de Vespasiano e terminando no império de Tito. O “apelido” Coliseu
deve-se ao fato de que, antes de ser um anfiteatro, ali ficava a casa gigantesca de Nero. Em seu
jardim interno havia uma estátua do imperador Nero de 30 metros de altura a qual todos chamavam
de Colosso de Nero. Após sua morte, a estátua foi transformada no Deus Sol, mas o nome Coliseu
- proveniente de Colosso de Nero – permanece ainda hoje.
Diferente de qualquer outra construção anterior, o uso de arcos permitiu aos romanos
elevar a estrutura e deixar o público muito mais perto do espetáculo. Em seu interior havia galerias
submersas, velários – estruturas cobertas e removíveis para proteger o público de chuvas e sol –,
elevadores e diversos outros projetos usados ainda hoje, com ajustes e tecnologias diferentes.
Mesmo sustentado por arcos, os romanos fazem referência à arquitetura grega na fachada
externa onde apresentam colunas dóricas no primeiro pavimento, colunas jônicas no segundo e
colunas coríntias no terceiro e quarto pavimentos.
Esta estrutura oval e mais alta – usada ainda hoje em nossos estádios de futebol – permitiram
a apresentação de lutas sangrentas orquestradas por gladiadores, tigres e leões, lutando até a
morte. Para os romanos essas atividades eram simples jogos ou espetáculos.

Anfiteatro Flaviano, Coliseu, 80 d.C. Vista interna Anfiteatro Flaviano, Coliseu, 80 d.C. Roma, Itália
Roma, Itália

ESCULTURA ROMANA

Assim como as esculturas gregas, as romanas também eram extremamente coloridas,


mas chegaram até nós somente no mármore ou bronze, claras e monocromáticas. Os romanos
aproveitaram todos os conceitos estudados e explorados pelos gregos em suas produções
tridimensionais, no entanto, suas esculturas trouxeram um elemento novo que transformou a arte:
o realismo.
As estátuas e bustos romanos possuem traços realistas, com características pessoais do
retratado, sem deixar de lado suas imperfeições ou qualquer outro elemento, mesmo que isso
diminua a harmonia estética do trabalho. A busca por esse realismo é tão forte que, nas esculturas

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em homenagem às pessoas mortas, eram produzidas máscaras mortuárias para captar todos os
detalhes que depois seriam aplicados no mármore ou bronze.
Devido a tantos detalhes de rostos e vestimentas, podemos identificar como os imperadores
romanos eram na realidade, além das minúcias de suas armaduras e roupas.

Augusto de Prima Porta (19 a.C.), 204cm. Busto Romano de Antônio Pio, 140 d.C. Líbia.
Museu Chiaramonti, Vaticano. Disponível Disponível em: http://bit.ly/2YvCU6V
em: http://bit.ly/2Vqoh2U

As esculturas equestres feitas pelos romanos


eram também significativas, ou seja, a representação dos
imperadores sobre os seus cavalos. Essas estátuas eram
cheias de significados: quando o imperador era retratado
sobre o seu cavalo com as quatro patas sobre o
chão, significava que ele havia falecido de morte
natural. Quando o cavalo estava com uma pata no
ar, o soberano havia morrido devido a ferimentos da
batalha, mas após o ocorrido. Se as duas patas do
cavalo estavam no ar, significava que o imperador
havia morrido heroicamente durante a batalha.

Estátua equestre do imperador Marco Aurélio, século II d.C.


Disponível em: http://bit.ly/2YrmTir

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PINTURA ROMANA

As cidades litorâneas de Pompeia e Herculano tiveram grande importância para a


compreensão dos AFRESCOS romanos pois, mesmo após essas cidades serem encobertas pelas
larvas do vulcão Vesúvio, muitas pinturas foram encontradas em bom estado de conservação nas
paredes das casas.
As moradias romanas não tinham janelas, de modo que a ventilação e a iluminação eram
possíveis por meio de aberturas retangulares em seu interior. Uma delas era o Compluvium. Abaixo
dele localizava-se o Impluvium, um tanque para armazenar a água da chuva. A segunda abertura, o
peristilo, era maior e abrigava colunatas gregas, um jardim, uma fonte e, em alguns casos, pequenas
plantações. Os demais cômodos ficavam ao redor deste jardim. Por não terem janelas ou qualquer
outra abertura para o exterior da propriedade, os romanos pintavam afrescos nas paredes para
criar a sensação da vista que seria observada se ali existissem janelas.

Planta - moradia romana Vista do peristilo de moradia romana.

Os temas das pinturas eram variados: batalhas, paisagens, objetos, seres mitológicos ou
imitação de mármore. Na busca por enganar os olhos, os romanos desenvolveram a técnica do
Tromp l’oeil (tromp=enganar, l’oeil=olhos). Com essa técnica traziam aos ambientes imagens realistas
que proporcionavam a sensação de profundidade e “entrada” na pintura. Mesmo passando por
diferentes estilos, as pinturas romanas mantiveram o foco em ampliar visualmente os ambientes
fechados e decorar as paredes com cores e formas.

Pintura mural no Segundo Estilo da Villa de Publius Fannius Sinistor, Boscoreale,


perto de Pompeia. Meados do séc. I a.C. Afresco sobre argamassa calcária.

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Detalhe da pintura Iniciação ao culto de Deméter, afresco da Villa dos Pintura mural no Quarto Estilo, Sala de Ixião,
Mistérios, Pompéia. Disponível em: http://bit.ly/2Hkyyd9 Casa dos Vetii, Pompeia, c. 63-79 d.C.

Os MOSAICOS romanos, formados por pequenos pedaços de pedras e vidros, cobriam as


paredes e o chão de diversos locais. Suas temáticas variavam de acordo com o lugar onde eram
instalados: cenas mitológicas nos templos, motivos marinhos nas termas e figuras eróticas nos
quartos.

Mosaico romano, final século III d.C. Casa dos


Golfinhos ou Terramar. Descoberto em 2017
em Cantillana, Sevilla. Disponível em: http://bit.
ly/2Jo8WOW

Vista parcial do mosaico romano na aldeia de Camino de Albalate, Calanda.


Museu Provincial de Teruel. Disponível em: http://bit.ly/2VE72jF

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Uma das principais referências que temos na arte atualmente são as


características greco-romanas como algo único. Contudo, tanto visual
quanto conceitualmente elas apresentam diferenças significativas:

Gregos
- Buscam a beleza com a verdade e a justiça
- Criaram a Filosofia buscando sua essência
- Divertiam-se no teatro buscando a dramaticidade
- Tinham atletas
- Queriam conhecer
“Conhece-te a ti mesmo” – Frase grega revelando a importância do
autoconhecimento grego

Romanos

- Buscam poder
- Criaram o Direito para defender os bens materiais
- Divertiam-se no anfiteatro buscando as lutas e demonstrações de
força até a morte
- Tinham gladiadores
- Queriam dominar
“A lei é dura, mas é lei” (do latim dura lex sed lex) – Frase romana
afirmando que mesmo que sejam duras as leis devem ser
cumpridas.

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A arte desse período sofre forte influência da arte romana e da religião cristã. Sua produção
explorou de modo mais simples a representação das figuras visando divulgar, projetar e reafirmar
o cristianismo em diferentes momentos. Destacam-se neste período as grandiosas construções
arquitetônicas dedicadas à religião.

5. ARTE BIZANTINA

Conforme já apontado anteriormente, o Império Romano foi gigantesco tanto na abrangência


de ideias, conceitos e técnicas quanto em território. A segunda questão foi em parte resolvida
quando em 330 d.C. o imperador Constantino funda a cidade de Constantinopla, na região de
Bizâncio, dividindo o Império Romano Ocidental, cuja capital era Roma, e Império Romano Oriental,
cuja capital era Constantinopla (cidade que hoje conhecemos como Istambul, na Turquia).
Diferentemente de Roma – que sofreu diversos ataques e invasões, caindo definitivamente
em 476 d.C. – o Império Romano Oriental (ou Império Bizantino, como ficou conhecido) cresceu
e prosperou, chegando a ser no Império de Justiniano, no século VI, uma cidade referencial em
conhecimento e saber, com universidades e bibliotecas destacadas.
Mesmo com a queda de Roma, o Império Bizantino continua a ter como objetivo a divulgação,
a propagação e a reafirmação das crenças cristãs. Diferentemente dos referenciais greco-romanos,
o foco não está mais no homem, mas em Deus. Nesse contexto, o imperador é a figura principal,
sendo a representação de Deus na Terra. Ou seja, o imperador bizantino tem os poderes do espírito
– de Deus – e os poderes terrenos – do governo.
As primeiras manifestações da arte cristã primitiva foram feitas em catacumbas por pessoas
do povo. Esses locais serviam como sepulturas de cristãos perseguidos por professarem a sua fé,
pois o início do cristianismo foi marcado por inúmeras caçadas aos seus seguidores. As pinturas
eram simples e rudes, representando símbolos do cristianismo e, mais tarde, partes do Antigo e do
Novo Testamento.

Catacumba San Gennaro, Nápoles, Itália. Retrata família


Catacumba San Gennaro, Nápoles, Itália. As catacumbas de bizantina sepultada ali. As camadas diferentes de tinta
Nápoles formavam verdadeiras cidades subterrâneas devido a permitiram identificar a sequência em que faleceram: primeiro a
sua grandiosidade. Disponível em: http://bit.ly/2W5GBmk filha, depois o pai e por último a mãe, que traja vestes de luto.
Disponível em: http://bit.ly/2W5GBmk

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Quando o imperador Constantino se converte ao cristianismo, em 313 d.C., os cultos são


autorizados e se expandem até que o imperador Teodósio, em 391 d.C., torna-o a religião oficial do
império. Assim a arte bizantina toma novos rumos e serve exclusivamente para divulgar, propagar
e afirmar a crença cristã.
Diferentemente das pinturas da arte primitiva, as construções arquitetônicas e os mosaicos
bizantinos são exemplos de riqueza e demonstração de poder dos imperadores, que agiam em
nome de Deus.
Para construir suas igrejas, a ARQUITETURA bizantina adotou inicialmente as mesmas
plantas dos prédios usadas pelos romanos para tratar de assuntos do governo. Mais tarde, sua
principal característica foi o uso de plantas de cruz grega, ou seja, com braços de mesmo tamanho.
Esse recurso foi usado para equilibrar e sustentar as imensas cúpulas construídas no centro da
cruz que formava a estrutura da igreja.
Um dos principais elementos da cultura cristã bizantina era o céu com toda sua riqueza e
esplendor. O céu era o local onde Deus estava e, portanto, considerado o único local sagrado que
deveria ser alcançado por todos. Geralmente o céu era representado no tom dourado, ressaltando
ainda mais a ideia de riqueza e poder. A criação de enormes cúpulas amplia a ideia de um céu
iluminado, gigantesco e difícil de ser alcançado.
As Basílicas eram grandiosas e simples por fora; em seu interior, no entanto, eram
extremamente ricas, detalhadas e suntuosas. Na concepção cristã, essa deveria ser a postura do
ser humano, simples por fora mas “ricos e poderosos” por dentro.

Basílica de Santa Sofia, em Istambul, Turquia. O edifício foi reconstruído


em sua forma atual em 532-537 d.C. sob a supervisão do imperador
Justiniano I. Disponível em: https://bit.ly/2XXbNW0

Interior da Basílica de Santa Sofia, em Istambul,


Turquia. Disponível em: https://bit.ly/2S7pTi4

Com todo o poder de Constantinopla nesse período, algumas regiões perdidas do Império
Romano Ocidental foram recuperadas, e Basílicas bizantinas foram erguidas como representação
de poder e riqueza. A Igreja de São Vital, em Ravena, na Itália, é um exemplo significativo de
simplicidade exterior e riqueza abundante no espaço interno.

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Igreja de São Vital, em Ravena, Itália. Disponível em: https://bit. Interior da Igreja de São Vital, em Ravena, Itália.
ly/2HtWMR2 Disponível em: https://bit.ly/2LIGXLW

Os bizantinos não adornaram suas basílicas com ESCULTURAS porque acreditavam que
a representação das figuras tridimensionais, tal qual eram na realidade, significaria o culto a uma
figura pagã. Desse modo, os imperadores não foram esculpidos e sim representados em MOSAICOS
bidimensionais.
Como suas igrejas eram construídas com grossas paredes, de modo a sustentar a grande
cúpula, praticamente não tinham janelas ou aberturas para entrada de luz. Assim, adornar com
mosaicos – compostos de vidros, ouro e pedras – tornou-se um recurso para refletir a luz e tornar
a “casa de Deus” um local iluminado e rico.
A representação das figuras nos mosaicos não faz distinções de características pessoais
do retratado, afinal, “todos são iguais perante Deus”. Podemos identificar as diferentes figuras
através de seus acessórios, roupas e o contexto da imagem. As imagens não tinham ligação com
o real, o foco estava na cena, que deveria ser simples e direta. Com isso, o fundo foi eliminado das
paisagens e as pessoas em alguns casos parecem flutuar de modo divino na cena. O imperador e
a imperatriz são representados com “alos” sobre suas cabeças como se fossem Deus.
Como o foco não estava centrado na figura humana e sim em representar a história do
cristianismo, algumas “regras” foram adotadas como, por exemplo, a frontalidade. Nesse caso, as
figuras deveriam ser representadas de frente, sem distinções particulares, mas impondo respeito e
simbolizando autoridade. Quando se tratavam de imperadores, eles deveriam ocupar um local de
destaque no ambiente ou na cena.

Mosaico da Igreja de São Vital, em Ravena, Itália. Retrata Mosaico da Igreja de São Vital, em Ravena, Itália.
a imperatriz Teodora, suas aias e eunucos, Século VI. Retrata o imperador Justiniano e sua Corte composta por
Disponível em: https://bit.ly/2W2yK93 funcionários, generais, eclesiásticos e guarda-costas.
Disponível em: https://bit.ly/2Hjg9h0

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A arte cristã ao longo dos anos contou a história de Cristo e exaltou o poder e riqueza dos
imperadores, através do uso abundante de mármore, joias, ouro e mosaicos no interior de suas
basílicas. Embora suas representações apresentem figuras simples, os artistas bizantinos tinham
o domínio da técnica tanto quanto os gregos. O foco e propósito de sua arte, porém, eram outros:
tratava de servir a Deus e não se destacar com suas habilidades técnicas, nem salientar as virtudes
do homem.
Mesmo com dificuldades e o declínio cultural e político, Constantinopla resistiu até o final da
Idade Média, mantendo-se até 1453, quando foi invadida pelos turcos.

6. ARTE ROMÂNICA

A arte cristã medieval, da qual a arte românica faz parte, desenvolveu-se no período em que
a produção artística destinada ao cristianismo espalhou a fé cristã pela Europa. Nesse momento
eram consideradas românicas todas as construções, as esculturas, os relevos ou as pinturas que
remetiam ao período romano, ou seja, essas obras não necessariamente estão na cidade de Roma
mas têm características da arte romana.
Chamamos esses tempos de “Idade das Trevas”, por ser um período de longas batalhas e
ataques dos bárbaros, mas também por sabermos muito pouco a respeito do que ocorreu naqueles
anos. O estudo sobre a produção artística centra-se principalmente na área da religião, não por
inexistir arte nos castelos, mas porque muitas igrejas foram poupadas durante as guerras enquanto
que a maioria dos castelos foram destruídos.
Neste momento, a vida desloca-se das cidades para o campo e a produção artística fica principalmente
concentrada nos mosteiros, local de estudos e produção de ilustração de livros religiosos.
Em 799, em troca de proteção e da disseminação do cristianismo na Europa, o papa Leão
III torna o Rei Carlos Magno imperador do antigo Império Romano do Ocidente. Na busca pela fé
e por relíquias sagradas, diversos peregrinos percorreram diferentes rotas em busca da salvação.
Nessas caminhadas paravam em igrejas ao longo da viagem o que, muitas vezes, atrapalhava a
missa. Desse fato resultou uma das principais diferenças arquitetônicas das basílicas romanas
para as igrejas românicas: o deambulatório.
Tanto as igrejas românicas quanto os castelos medievais foram construídos visando a proteção;
eram verdadeiras fortificações. Nesse período ocorriam diversas batalhas, invasões e lutas por
terras e riqueza. Nesse contexto, a igreja se apresentava como um local “seguro” tanto por sua
estrutura quanto pelos ensinamentos de fé que disseminava aos fiéis. Ao longo dos anos até mesmo
os reis bárbaros converteram-se ao cristianismo.
A ARQUITETURA românica
tinha como base a estrutura das
basílicas romanas com planta
em cruz latina (planta da igreja
em forma de cruz com tamanhos
diferentes). A essa composição
é acrescentada o deambulatório.
Esse é um lugar de passagem que
permite aos peregrinos contornar
os passos da paixão de Cristo
passando atrás da abside – local
onde fica o altar –, de modo que
não interrompam a cerimônia.
Ainda hoje encontramos os passos
da paixão de Cristo circundando
as paredes das igrejas católicas. Planta Igreja Românica

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Algumas das rotas de peregrinação mais conhecidas e que ainda hoje é feita por peregrinos
de diferentes partes do mundo e por diversos motivos pessoais, mas sempre centrados na fé,
são os caminhos que levam a Santiago de Compostela, na Espanha, provável local do túmulo
do apóstolo Tiago. Seguindo as setas amarelas existem várias rotas, como o caminho saindo de
Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, com 800 Km até Santiago; a rota portuguesa, saindo do Porto,
com 230 km ou saindo de Lisboa, com 600 km; e a rota do caminho do Norte, saindo de Irún,
na Espanha, com 850 km. Ainda existem alguns peregrinos que, após chegarem a Santiago de
Compostela, continuam sua viagem até Finisterra (em latim ‘fim da terra’ ou ‘fim do mundo’), o ponto
mais a leste da Europa, por algum tempo considerado o fim do mundo. Essas peregrinações, que
são realizadas caminhando ou de bicicletas, demonstram ainda hoje o poder da fé cristã sobre as
pessoas.

Trechos do caminho de Santiago de Compostela. Disponível em: https://bit.ly/2HkBJli

Outra modificação importante nas construções de igrejas foi o uso de abóbadas para sua
sustentação. Diferentemente das igrejas romanas, as quais usam madeira em seus tetos e que
facilmente sucumbiam ao fogo, as igrejas românicas usaram as abóbadas de pedras também nos
tetos. Essa estrutura pesada forçou a construção de paredes ainda mais grossas e robustas para
suportar o peso, tornando as igrejas românicas verdadeiros fortes. Com paredes extremamente
largas, as aberturas foram eliminadas ou muito reduzidas sendo necessário adaptar o óculo na
fachada frontal da igreja, para entrada de luz e ventilação.
Por adaptarem características da arquitetura romana, as fachadas das igrejas românicas
lembram muito os frontões clássicos e, em alguns casos, os arcos triunfais.
Como o Império Romano dividiu-se em ocidental e oriental, suas características divergem
em alguns pontos. As influências ocidentais nas igrejas românicas podem ser percebidas, por
exemplo, na Catedral de Saint-Sernin
de Toulouse, na França, adotando
as construções das torres sobre o
cruzeiro (ponto de encontro entre
o transepto e a nave central –
como mostra a imagem da planta
de uma igreja Românica). Por
outro lado, as influências orientais
são percebidas na Catedral de Pisa,
na Itália (que por alguns anos
ficou sob domínio do império
bizantino após a queda de Roma)
onde foi adotada a cúpula sobre o
cruzeiro.
Catedral de Saint-Sernin de Toulouse, na França. Disponível em: https://bit.
ly/2vYQuDF

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Catedral de Pisa, Toscana, Itália. Disponível em: https://bit.ly/2VrZ3kO

Tanto os RELEVOS quanto as PINTURAS românicas destinam-se a contar a história do


cristianismo. Não devemos buscar nessas imagens representações do real ou paisagens detalhadas,
o foco está na cena bíblica representada. Em alguns casos as figuras humanas são representadas
como se não fossem de carne e osso, mas podiam ser identificadas como humanas pela marcação
de seus membros e articulações.
Muitos relevos eram feitos nos tímpanos das igrejas, ou seja, nas superfícies circulares
geralmente sobre as portas frontais das igrejas. As mensagens nesses locais, retiradas de partes
da bíblia, eram diretas. Um exemplo é O Juízo Final, na Catedral de São Lázaro, onde Cristo localiza-
se no centro e pode ser identificado pelas chagas em suas mãos. A sua direita está o céu com
anjos, crianças e cristãos orando; a sua esquerda, o inferno com seres monstruosos e sofredores e
um santo pesando quem pode ou não entrar no céu. Abaixo está o purgatório, local onde ficam as
almas pecadoras.

O Juízo Final, Tímpano do portal da Catedral de São Lázaro,


Autun, França. Disponível em: https://bit.ly/2QdPLYR

Pintura na Igreja de Sant Climent de Taüll, Espanha, construída


entre os séculos XI e XII. Disponível em: https://bit.ly/2HukvTZ

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Os artistas desse período tinham o domínio do desenho, mas seu foco não estava na
originalidade ou na criatividade; a meta era ser objetivo na mensagem cristã. As imagens tinham o
poder de ensinar e trazer mais fiéis para igreja, o que não significa que alguns não se destacavam
em relação a outros. Vamos explicar com um exemplo mais atual: você contrata músicos para o seu
casamento, solicita a tradicional marcha nupcial e pede que ela seja executada por três violinistas.
A música da entrada de seu casamento pode ser harmônica, agradável e no tom certo, mas a sua
execução também pode ser um desastre. Assim eram os artistas medievais. Eles recebiam algumas
coordenadas ou partes da bíblia para representar e poderiam fazer isto de modo harmônico ou criar
composições que fugiam do objetivo e sem expressão visual.
As imagens medievais eram, principalmente, a imposição de determinados paradigmas,
centrados na religião. Através delas aprendia-se sobre a fé cristã, distinguia-se o bem do mal e o
céu do inferno. As imagens determinavam quais atitudes deveríamos ter para alcançar um ou o
outro. A imagens românicas são um ótimo exemplo do poder que as imagens têm sobre algumas
culturas, inclusive a atual.

7. ARTE GÓTICA

Enquanto a arte românica concentrou-se no campo, no entorno dos mosteiros, a arte


medieval gótica do século XI desenvolveu-se quando as pessoas regressaram para as cidades.
Essa volta, e consequente crescimento dos centros urbanos, fez surgir uma nova classe social, a
burguesia urbana.
A produção artística permaneceu ainda por muitos anos ligada ao cristianismo mas teve
de adaptar-se às condições impostas pela urbanização e pela burguesia. O poder do cristianismo
diminuía à medida que os valores comerciais e sociais se ampliavam. Assim, para reforçar a fé e
ao mesmo tempo o poder da igreja, o papa e os governantes aliados à igreja construíram catedrais
monumentais, as quais elevaram mais uma vez o poder de Deus.
O estilo gótico que conhecemos hoje deve-se
às características desenvolvidas pela ARQUITETURA
desse período. As igrejas góticas elevaram o patamar
de construções a um nível diferenciado, literalmente
mais alto, leve e ‘iluminado’. Esses fatores foram
possíveis principalmente pelo uso de arcos
ogivais, sustentados por colunas que permitiram
aumentar a altura das catedrais ao mesmo tempo
em que deslocou o peso, retirando das paredes o
ponto de sustentação. Também na área externa
foram construídos arcobotantes que ajudaram na
sustentação sem modificar a ideia de leveza da
catedral. Diferentemente das basílicas romanas,
que eram simples por fora e ricamente adornadas
em seu interior – assim como deveria ser o homem
–, as catedrais góticas eram ricas em detalhes e
ornamentos na área externa e interna. Os valores do
homem estavam, naquele momento, mais ligados
aos valores materiais e à lógica estabelecida pelas
cidades e não somente aos valores espirituais.

Arco ogival. Disponível em: https://bit.ly/2JFvnOL

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Arcobotante. Disponível em: https://bit.ly/2Ebt16I

Catedral de Saint Denis, França. A planta


inicial desta catedral tinha duas torres, mas
após uma tormenta em 1846 sua estrutura
foi afetada e por segurança foi retirada.
Disponível em: https://bit.ly/2JII4bF

Catedral de Notre-Dame, França. Disponível em: https://bit.ly/2vfz7hB

Outros elementos que são agregados às catedrais góticas são as Gárgulas, figuras
monstruosas (humanas ou animais) que são ajustadas a uma certa distância da parede servindo
como desaguadouros, escoando as águas das chuvas. Para cumprir sua função, geralmente
são posicionadas com a cabeça inclinada para baixo de modo que a água escorra por sua boca.
Também temos as Quimeras, que foram adicionadas à catedral de Notre-Dame no século XIX,
embora se integrem tanto à estrutura que parecem que sempre estiveram ali. As quimeras são
estátuas de animais e seres fantásticos instaladas no alto da construção.

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Unidade 1
Seção de Educação a Distância/SEAD

Gárgulas na Catedral de Notre- Quimeras na Catedral de Notre-Dame, França.


Dame, França. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/2vXSdsZ
https://bit.ly/2HpF29E

A construção de paredes mais finas e o fato de elas não serem mais as responsáveis pela
sustentação da estrutura permitiu a colocação de grandes VITRAIS em praticamente todas as
paredes das catedrais góticas. Os vitrais eram formados por vários pequenos pedaços de vidros
coloridos que permitiam a passagem de luz, além da reprodução de cenas bíblicas, criando um
ambiente interno iluminado e rico em cores e formas.
Outra característica que encontramos em todas as catedrais góticas são as ROSÁCEAS,
grandes aberturas circulares na fachada frontal da catedral adornada com vitrais. As rosáceas
tornaram-se cada vez mais trabalhadas e rendilhadas a cada construção de uma nova catedral.

Detalhe do vitral Profetas do Antigo Testamento, na Vista externa e interna da rosácea na Catedral de Notre-Dame,
Catedral de Notre-Dame, França. Disponível em: https:// França. Disponível em: https://bit.ly/2vfz7hB
bit.ly/2Wb2u3W

O alto nível de detalhamento nos relevos e o uso de vitrais muito trabalhados nas paredes
proporcionavam aos cristãos que ingressavam naquele espaço a sensação de estarem entrando no
“Reino do Céu”. E essa era realmente a ideia inicial, ou seja, construir espaços que impressionassem
e chamassem mais uma vez os fiéis para a “Casa de Deus”. Tratavam-se de concepções tão
grandiosas e detalhadas que em sua maioria não foram executadas tal qual o projeto inicial, mas
mesmo assim mantiveram a imponência desejada pelos cristãos.
Diferentemente das construções góticas que se desenvolveram em toda a Europa, na Itália

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

essas edificações mantiveram as características


principais, mas eram muito mais simplificadas,
ainda com forte influência das basílicas
bizantinas. Isso deve-se em parte à Ordem de
São Francisco de Assis, reconhecido por seu
desprendimento dos bens materiais e por sua
simplicidade. As catedrais góticas italianas são
constituídas por arcos ogivais, colunas e alguns
vitrais, mas na maioria das vezes essas igrejas
eram ornadas com afrescos ao invés de vitrais
por ser uma técnica mais barata.

Catedral de Florença, Basílica Nossa Senhora de La Fiore


(1296-1436). Disponível em: https://bit.ly/2W2NTra

As PINTURAS góticas – chamadas iluminuras – partem de todos os estudos realizados pelos


ilustradores de livros bíblicos e vão além, na busca por detalhes e naturalidade das figuras. Cada
vez mais os artistas góticos buscam representar as características do homem, em uma retomada
dos aspectos clássicos que resultará no Renascimento.
Um dos temas recorrentes, tanto na pintura quanto nas demais linguagens, foi a figura da
Virgem. Cabe lembrar que nesse momento a igreja buscava disseminar e reforçar o cristianismo
entre os povos bárbaros que agora ocupavam cargos de
banqueiros, mercadores, artesãos, entre outros, e faziam parte
da burguesia urbana. A igreja cristã até então centrava sua fé no
paternalismo (“Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”), mas
os bárbaros tinham sua fé centrada na figura feminina. Assim,
a representação da Virgem em diversas imagens e esculturas
cristãs mostrava-se como estratégia para agregar mais fiéis à
igreja.
Foi na Itália que os pintores se dedicaram a explorar
características inovadoras no modo de representar no plano
bidimensional – com desenhos e pinturas. Um dos primeiros
pintores que se destacou nesse período e representou a
Virgem em diversos momentos foi Cenni di Pepo (1240-1302),
conhecido como Cimabue. Esse artista ainda tinha influência da
arte bizantina como a cor dourada e o uso de tons azuis, além de
formas pontiagudas. No entanto, sutis modificações podem ser
percebidas em suas figuras, como a ideia de movimento ao retirar
a Virgem da postura estática e frontal imposta pelos bizantinos
e girando-a levemente. Mas a ideia de profundidade ainda não é
alcançada em suas representações.
Iluminura gótica. Disponível em: http://bit.
ly/30l89Ds

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Unidade 1
Seção de Educação a Distância/SEAD

Cimabue, A Virgem e o menino rodeados por seis


anjos (1295-1300), têmpera sobre madeira. Museu
do Louvre. Disponível em: http://bit.ly/2HpDCfl

As ESCULTURAS, que por muitos anos apareceram timidamente como relevos ou pequenas
figuras acopladas à arquitetura, ganham novamente destaque. Suas formas parecem buscar cenas
naturais assim como os gregos, embora suas figuras ainda permaneçam com ar mais divino do que
humano.

Anunciação e visitação, catedral de Reims, Paris. Disponível Esculturas do coro, O Massacre dos Inocentes Catedral de
em: https://bit.ly/2W2OU2s Chartres, França. Disponível em: https://bit.ly/2YC3k7p

A Idade Média também ficou conhecida como Idade das Trevas, mas não podemos tratar como
um período improdutivo ou sem manifestações artísticas. Foram tempos de guerras, invasões,
doenças e inúmeras mortes. Todas essas destruições resultaram na perda de obras, registros
históricos, artísticos e culturais, por isso entendemos esse período como ‘nebuloso’ pois não temos
clareza dos fatos que ocorreram.
Em meio a tantas tragédias, a igreja era o pilar de segurança do povo. A arte não estava
preocupada em ser criativa, inovadora ou representar os traços de cada artista. Os artistas eram
os responsáveis por disseminar, através das representações bíblicas, o caminho para o céu e isso

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

deveria ser feito respeitando fielmente a história. Desse modo, somente no final da Idade Média
começamos a identificar o nome de alguns artistas pois até então todos trabalhavam “em nome de
Deus”.
Assim que as cidades cresceram e as prioridades dos homens modificaram-se, a igreja
teve de se ajustar para continuar a ter seu espaço na sociedade. Então as representações cristãs
também foram se modificando. Enquanto que na arte bizantina os santos e as figuras cristãs foram
representados como reis e nobres, na arte gótica essas figuras tinham as feições de homens do
povo. Assim, com o passar dos anos, o homem voltou a ser o foco da arte resultando no período
artístico que denominamos Renascimento, ou seja, o ressurgimento da arte clássica, do homem
como centro de tudo.

Anotações

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Unidade 2 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

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Momento histórico em que ocorre uma grande expansão cultural na Europa. O foco sobre
as questões religiosas impostas pelo cristianismo é contraposto com o humanismo, a ciência e a
razão. A cultura clássica greco-romana é revisitada. Em um segundo momento a religião católica é
contestada e as formas de representação ficam mais expressivas. O Renascimento, o Maneirismo,
o Barroco e o Rococó são períodos de destaque.

8. RENASCIMENTO

Embora a história delimite a Idade média do século V até o século XIV, na arte podemos apontar
o início das produções artísticas já no século XIV, período conhecido como pré-renascimento ou
Trecento, ainda com muitas características góticas, porém com estudos anatômicos das formas (dos
objetos, dos animais e dos homens) a partir de regras matemáticas e conhecimentos científicos.
Desenvolveu-se principalmente na Itália migrando mais tarde para outros países da Europa.
Quando tratamos da Idade Moderna estamos apontando inicialmente o renascimento do
homem como centro de todas as coisas. Há uma retomada das características greco-romanas
(conhecido como período clássico) com o foco na anatomia humana e no naturalismo. Mas podemos
afirmar que os artistas renascentistas foram além, estudaram o corpo humano a sua exaustão a
partir da dissecação de corpos humanos, observaram incansavelmente os animais e as plantas e
incluíram a noção de espaço em suas obras.
Nesse período também passamos a reconhecer características individuais de cada artista
nas produções de desenhos, pinturas, esculturas e gravuras. Os artistas passam a assinar seus
trabalhos e realizam esboços e anotações documentando seus estudos para cada obra, geralmente
para cada objeto que fará parte da composição. Muitos artistas atuam em diversas áreas: são
pintores, escultores, gravuristas, cientistas, matemáticos, arquitetos, entre outras, ou seja, são
homens na busca do conhecimento. Eles tentam entender o funcionamento de tudo e representam
estas descobertas de diferentes maneiras.
Na ARQUITETURA destaca-se
Filippo Brunelleschi (1377-1446), um dos
líderes dos jovens artistas florentinos que
revolucionou as construções do período
retomando as características greco-
romanas, mas aplicando-as nas obras
de modo inovador. Na busca por novos
modos de beleza e harmonia Brunelleschi
utilizou-se das colunas gregas, dos arcos
e pilastras romanas, mas sem seguir as
regras estabelecidas pelos arquitetos de
cada período. Em seus interiores nada
tinham das elevações, colunas alongadas
ou vitrais góticos, e sim estruturas Catedral de Santa Maria Del Fiore, 1404 a 1420, Florença, Itália.
organizadas e proporcionais. Disponível em: https://bit.ly/2Q4Cy4u

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A construção da Catedral de Santa Maria Del Fiore proporcionou a Brunelleschi os estudos


necessários para descobrir uma nova ‘regra’ geométrica que seria amplamente usada na arte e em
outras áreas do conhecimento pelos próximos anos: a perspectiva cônica. Ele foi o responsável
por desenvolver os meios técnicos para solucionar como deveriam ser os cálculos para que os
objetos mais distantes ficassem menores que os mais próximos, criando a ilusão de profundidade
na imagem a partir do ponto de fuga.


Para comprovar sua teoria sobre a
perspectiva, Brunelleschi pintou o Batistério
de São Giovanni, em Florença, deixando nele
um orifício por onde o espectador deveria
olhar para observar a pintura pelo espelho.
Os espectadores ficaram impressionados
com o realismo da imagem. De modo que
o arquiteto pode comprovar as medidas
semelhantes a construção real.

A referência desse orifício seria


posteriormente denominado ponto de fuga.

Outra técnica para tentar iludir a profundidade tridimensional no bidimensional foi a


perspectiva atmosférica. Esse recurso foi usado por diversos artistas do renascimento e consiste
em diluir o contorno das formas proporcionando sutis gradações de cor, fazendo parecer que os
objetos mais distantes na pintura estão desfocados. Assemelha-se ao nosso modo de ver o mundo.
Para executar a perspectiva atmosférica usa-se a técnica do Sfumato (do italiano "sfumare", que
significa "de tom baixo" ou "evaporar como fumaça") que proporciona o volume “real” da figura sem
a linha de contorno e permite uma forma fundir-se com a outra.
Estudos de perspectiva, claro-escuro e espaço são realizados no período renascentista
ampliando a sensação de profundidade e realismo em cada cena. Os temas religiosos continuam
presentes, mas aliados a realidade dos fatos, cenários ou percepção do artista. As lendas mitológicas
misturam-se às passagens bíblicas e a ciência é representada em suas variadas áreas.
A ESCULTURA renascentista volta a ter significativa importância e independência em relação
à arquitetura. As estátuas são pensadas de modo individual levando-se em conta a anatomia real
e a verdade do corpo e da expressão das figuras.
Mas é na PINTURA que o renascimento atinge seu ápice por ser a linguagem que se
espalhou além das fronteiras da península itálica, desenvolvendo-se com características um pouco
diferenciadas em cada região. É também nesse período que os artistas iniciam o uso da tinta óleo,
cuja descoberta é creditada aos irmãos Hubert Van Eyck e Jan Van Eyck, que trabalharam nos
Países Baixos, onde hoje é a Bélgica.
Além dos tradicionais afrescos, nesse período inicia-se na pintura a produção de retábulos
para ornar as igrejas. Os retábulos são painéis articulados pintados divididos em dois, três ou mais
partes, e que podem ser fechados, sendo abertos durante as celebrações religiosas. Recebem
diferentes nomenclaturas dependendo de como se dividem: dois painéis chamam-se díptico, três
painéis chamam-se tríptico e quatro ou mais painéis denomina-se políptico.
A ampla divulgação e disseminação por toda Europa das características renascentistas,

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dos estudos sobre a perspectiva e o claro-escuro deve-se principalmente pela invenção da imprensa
em meados do século XV. A arte teve importância fundamental neste campo, pois neste momento
desenvolveu-se a GRAVURA. Tendo como princípio a ideia de carimbo, a linguagem artística da
gravura divide-se em diferentes técnicas surgindo inicialmente a xilogravura, na qual o suporte é
a madeira, e depois a gravura em metal, que usa como suporte a placa de cobre. Essas técnicas
permitiram a reprodução em série das imagens e textos.
Podemos dividir o renascimento italiano em três fases lineares, o Trecento (1300), o Quatrocento
(1400) e o Cinquetento (1500). Cabe ressaltar que essas datas não são fechadas e variam de acordo
com diferentes historiadores, assim como as características de obras de diferentes períodos
misturam-se e complementam-se. Estudaremos aqui as três fases distintas na Itália e suas diferentes
manifestações na região de Flandres e na Alemanha, onde despontam artistas importantes para
história da arte com produções com algumas características distintas das obras italianas.

TRECENTO ITALIANO
A temática religiosa continua presente nessa fase assim como algumas características
das iluminuras da arte gótica misturam-se nas obras. Um dos primeiros artistas de que temos
conhecimento neste período é Giotto di Bondone que resgata algumas características da cultura
clássica greco-romana e mistura as concepções estabelecidas pelos artistas góticos.
Giotto volta a valorizar o homem em suas representações e, em alguns casos até mesmo os
santos têm feições humanas. Em algumas pinturas, ressalta-se a característica gótica de reprodução
das figuras de acordo com a sua importância,
por exemplo, as figuras centrais estruturadas
em tamanhos maiores que os demais indivíduos
ou elementos da natureza. Suas obras buscam
a naturalidade das figuras e a tentativa de iludir
profundidade nas cenas através da justaposição
de planos.
Podemos compreender as modificações
que as obras de Giotto apresentam em relação ao
período gótico se comprarmos as representações
da Virgem com o menino que ele pintou e a de seu
mestre Cimabue (A Virgem e o menino rodeados por
seis anjos). Enquanto os anjos de Cimabue parecem
estar flutuando, suas figuras permanecem estáticas
e a Virgem parece deslizar no trono, a pintura do
discípulo retrata um ambiente com gravidade,
no qual os anjos estão no chão e organizados
em planos sobrepostos. A Virgem parece estar
realmente sentada no trono, e suas vestes seguem
de modo um pouco mais natural suas curvas. Com
isso percebemos uma das principais mudanças no
renascimento mesmo em obras que ainda tenham
influência gótica: a preocupação com o espaço
real.

Giotto do Bondone, Virgem e o menino entre anjos e santos,


1306-1310. Disponível em: https://bit.ly/2WHxNQO

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Unidade 2 | Capítulo
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QUATROCENTO ITALIANO
A produção desse período teve forte influência da cultura greco-romana, incluindo
personagens mitológicos e religiosos. Muitos artistas resolveram tecnicamente através da
perspectiva a representação de cenas mais próximas ao real.

Massaccio (1401-1428)
Massacio trazia para suas pinturas as
coisas tal como são, a realidade. Em sua obra A
expulsão de Adão e Eva do paraíso apresenta uma
verdade expressiva do acontecimento. Em sua
pintura percebemos o sofrimento e angústia de
Adão e Eva no momento em que eles deixam
o paraíso contra suas vontades escoltados por
um anjo com uma espada. Ambos têm os rostos
contorcidos e o posicionamento das mãos
mostram sua vergonha e consciência do pecado
que cometeram, Adão cobre o rosto e Eva tenta
esconder suas intimidades. Durante o período
da contrarreforma (reação da igreja católica à
Reforma Protestante) a pintura de Massacio foi
modificada e ramos foram acrescentados para
cobrir suas partes íntimas, anos mais tarde
novamente a pintura foi restaurada e mantida
como na versão original.

Massacio, A expulsão e Adão e Eva do Paraíso, 1426-1428,


afresco, 208 x 88 cm. Disponível em: https://bit.ly/2Heq3is

Paolo Ucello (1397-1475)


Ucello foi um estudioso da perspectiva e exercitou muito as possibilidades suscitadas a partir
do ponto de fuga. Na obra A Batalha de São Romano, Ucello apresenta alguns desses estudos, um
exemplo é a figura deitada na base a direita da cena. Embora técnicas de escorço (representação
encurtada dos objetos quando posicionados em ângulos diferentes) já tenham sido usadas no
período clássico, eles não seguiam as medidas ou proporções dos objetos real. Na figura desse
soldado caído percebemos o esforço do artista para representá-lo do modo mais próximo a realidade
de um homem deitado nesta posição.
Suas cenas de batalhas relembram cenas da imaginação de fantasias medievais, mas
seguem as características técnicas do Renascimento. Embora represente uma cena de batalha seus
homens não expressam dor, raiva ou qualquer outro sentimento e, mesmo em meio à luta, as figuras
parecem coladas e estática na cena, pois ele organiza minuciosamente segundo a perspectiva e o
direcionamento do ponto de fuga a cena caótica de uma batalha. Posiciona o principal personagem
do combate no centro da pintura e retrata-o com uma vestimenta que os distingue dos demais.
Ucello resolve todos os pontos requeridos pela perspectiva, mas não aplica ainda os estudos de luz
e sombra de modo que cada figura parece ter sido colada na cena.

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Paolo Ucello, A Batalha de São Romano, 1450, óleo sobre madeira, 181,6 x 320cm. National
Gallery, Londres. Disponível em: https://bit.ly/2JHVJzA
Paolo Ucello, A Batalha de São
Romano (detalhe), 1450, óleo
sobre madeira, 181,6 x 320cm.
National Gallery, Londres.
Disponível em: https://bit.
ly/2JHVJzA

Fra Angelico (1395-1455)


Fra Angelico costumava ornamentar os manuscritos religiosos, assim sua produção
concentra-se em temas, clássicos da história cristã. Na obra Anunciação podemos perceber que
ainda temos nas figuras as características divinas e sem expressão do estilo gótico, assim como um
detalhamento geometrizado nas asas do anjo. Mas contrapondo-se a isso as figuras encontram-se
inseridas dentro da estrutura arquitetônica, que remete tanto as colunas gregas quanto aos arcos
romanos, criando a sensação de profundidade na cena, embora ainda não bem resolvida.

Fran Angelico, Anunciação, 1437, Museu São Marcos, Florença. Disponível em: https://bit.ly/2YmgEMQ

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Piero Della Francesca (1416-1492)


Piero Della Francesca foi um artista preocupado com questões que iam além da representação
da cena, ele buscava através de cálculos matemáticos organizar de modo equilibrado e harmônico
as figuras no enquadramento da tela. Na pintura O Batismo de Cristo ele centraliza a figura principal da
cena deixando-o em destaque. Em relação as obras de mesma temática produzidas anteriormente,
as posturas dos anjos modificam-se tornando-se mais descontraídas embora ainda sem expressão
no rosto. A naturalidade da cena também é verificada nas pessoas ao fundo que parecem preparar-
se para serem batizadas. Ainda sobrepondo planos cria profundidade na cena ao mesmo tempo em
que organiza a composição horizontalmente.
Piero Della Francesca é um dos artistas responsáveis por trazer para suas pinturas um modo
diferenciado de tratamento da luz fazendo-o contribuir para a ilusão de profundidade.
Como os temas religiosos não era mais a única temática solicitada aos artistas, diversos
retratos de nobres e burgueses são realizados a partir do renascimento. Um dos retratos mais
conhecidos de Piero Della Francesca trata do díptico com o casal Battista Sforza e Federico de
Montefeltro. Embora estejam separados em painéis diferentes a paisagem ao fundo segue a mesma
linha do horizonte, tonalidades e relevo. Ambos são representados sem nenhuma expressividade
no rosto, reduzindo seus traços a formas geométricas. Em contraponto à figura humana estática,
o artista detalha de modo minucioso os tecidos, os adornos de cabelo, as joias e a paisagem.
Consegue a ilusão da profundidade pelo uso do claro-escuro e do sfumato ao fundo.

Piero Della Francesca, O Batismo de Cristo, Piero Della Francesca, Retratos de Battista Sforza e de Federico de Montefeltro,
1448-1450, têmpera sobre madeira, 167 x 1472. Disponível em: https://bit.ly/2VxlCcF
116 cm. National Gallery, Londres, Inglaterra.
Disponível em: https://bit.ly/2vX48au

Sandro Botticelli (1945-1510)


Botticelli distingue-se da maioria dos artistas desse período por carregar em suas obras
diversas características de diferentes períodos e misturá-las em obras que apresentam cenas
mitológicas, formas graciosas e belas, linearidade, ausência de volume e grande senso decorativo.
Por abordar temas mitológicos, nem sempre seguia as características renascentistas, mas as
usava junto de outros elementos e técnicas. Mas talvez a mudança mais significativa proveniente

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das obras de Botticelli seja a integração entre a cena principal e sua harmonização com o restante
da pintura. Até então a cena principal ficava separada do fundo, organizada quanto a composição,
mas dividida se tratarmos a representação como um todo.
Uma das obras mais conhecidas de Botticelli é a cena mitológica que retoma o tema da
Antiguidade, O nascimento de Vênus. Nessa pintura ele resgata o ideal de beleza greco-romano, a
ornamentação gótica, e a simetria e o equilíbrio renascentista. Ele apresenta a Vênus em destaque
no centro da imagem que após emergir da água é recebida pelos alados deuses eólicos, uma
Ninfa com um manto para cobri-la e uma chuva de rosas, símbolo do amor. A Vênus apresenta-se
com contornos bem definidos, membros alongados, ombros caídos e sem um apoio real. Botticelli
mistura estilos em formas delicadas, cores suaves e uma ornamentação detalhada.

Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus, 1485, têmpera, 278,5 x 172,5cm. Disponível em: https://bit.ly/2Hh6Q0U

Os escultores renascentistas voltam-


se para as características das estátuas greco-
romanas, mas lhes dão realidade, tanto de
acordo com a cena quanto mais tarde a
expressividade. Os escultores italianos que
se destacam neste período são Andrea del
Verrocchio (1435-1488) e Donato di Niccoló
di Betto Bardi (1386-1466), conhecido como
Donatello. Eles dominam as técnicas do período
clássico mas esculpem de modo mais real, não
se tratam das imagens de homens atléticos e
musculosos como as estátuas gregas nem
expressivas como as romanas, mas figuras que
transmitem a realidade do modelo, a verdade da
figura.
Tanto Verrocchio quanto Donatello
representaram a vitória do jovem Davi sobre
o grande Golias, mas fizeram isto de maneira Andrea del Verrocchio, David, 1473-
diferenciada. O primeiro demonstra seu 1475, bronze. Disponível em: http://bit.
ly/2JKozzJ

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domínio na técnica da ourivesaria ao trabalhar


detalhadamente a vestimenta de Davi, que
sustenta a pose de vencedor ainda com a arma
em punho e a cabeça de Golias no chão. Já
Dontello esculpiu um Davi nu com capacete
do jovem exército florentino e ele está pisando
sobre a cabeça de Golias que usa o capacete do
exército da velha nação de Milão, relacionando
a vitória de Davi sobre Golias com a vitória dos
exércitos de Florença sobre os de Milão, ocorrido
nesse período. As duas esculturas mostram
figuras que parecem ser frágeis e jovens, e
embora tenham nos gestos muita atitude, eles
mantêm no rosto a falta de expressão que o
momento suscita.

Donatello, David, 1430-1440, bronze.


Disponível em: http://bit.ly/2Hj3pWq

CINQUECENTO ITALIANO
O final do Quatrocento e início do Cinquecento foi o auge do período renascentista e foi chamado
de a Alta Renascença. Neste período, com a valorização e mudanças nas cidades, amplia-se por
parte dos mecenas o incentivo e financiamento aos artistas. Os mecenas eram príncipes, condes,
ricos comerciantes, bispos e banqueiros que financiavam e investiam na produção dos artistas para
obter reconhecimento e prestígio na sociedade. Assim, solicitavam aos artistas que produzissem
obras para ornamentar suas residências, túmulos, ciclos de afrescos ou altares de pequenas
igrejas, de modo que em troca os artistas podiam solicitar pequenos valores ou favores, bem como
em alguns casos, escolher as temáticas das obras. Essa mudança modifica significativamente a
produção de arte, pois proporciona certo grau de liberdade aos artistas.
Nesse período, os artistas já haviam dominado as técnicas de representação nos mais
diversos níveis o que permitiu liberdade para estudarem a ciência e o mundo a sua volta e reproduzi-
lo na arte, sem ficar obrigatoriamente ligados as questões religiosas. Com isso, os artistas eram
valorizados e prestigiados pela sociedade, incentivando-os a produzir mais, com mais qualidade
e mais liberdade temática. Talvez esses fatos tenham os incentivados, pois são desse período os
artistas mais conhecidos da história da arte, como Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Rafael.

Leonardo Da Vinci (1452-1519)


Talvez Leonardo Da Vinci, discípulo de Verrocchio, seja o artista com maior reconhecimento
na história da arte, deve-se não só a sua produção artística, mas principalmente a sua curiosidade
e busca pelo conhecimento em diversas áreas. Leonardo realizou estudos sobre a anatomia
humana e animal através da observação e dissecação de corpos. Desenvolveu diferentes projetos
de arquitetura e de objetos que estavam muito à frente de seu tempo e que foram colocados
em práticas somente anos mais tarde. Como exemplo, podemos citar o escafandro – vestimenta
impermeável para mergulho – usado no período das grandes navegações, o tanque de guerra,
projetado a partir da observação de tartarugas, o “parafuso voador”, a asa delta planadora projetada a
partir da observação das asas dos pássaros, projetou o paraquedas, projetos de armamentos mais
potentes e ágeis, entre outras invenções.

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Leonardo Da Vinci, estudos sobre anatomia humana. Leonardo Da Vinci, estudos Leonardo Da Vinci, estudos
para construção de tanque de para construção de canhão
guerra. de trinta e três canos.

Leonardo Da Vinci deixou inúmeras páginas com


suas ideias registradas em textos e desenhos.
Talvez com o objetivo de não divulgar seus
estudos para aqueles que conviviam com ele,
inventou a escrita reversa, que era feita da direita
para esquerda e poderia ser lida somente com o
uso de um espelho.

Leonardo Da Vinci, estudos para construção de asa delta


planadora.

A pintura mais comentada e conhecida desse artista
é a Mona Lisa, que trata provavelmente do retrato de Lisa
Gherardini, esposa do mercador florentino Francesco di
Zanobi del Giocondo, por isto a pintura é também conhecida
como La Gioconda. Existem muitas interpretações desse
retrato, nem todos fundamentados. Por realizar muitos
projetos simultaneamente, Da Vinci demorava muito para
entregar seus trabalhos, e este parece ter sido o caso desta
pintura, na qual o artista explorou a técnica ao extremo na
busca pela representação “viva” da figura feminina. Ele
resolve a profundida da paisagem através da técnica do
sfumato, diluindo as linhas, chegando a cores frias no fundo
da pintura, criando a sensação de figuras muito distantes.
Mantém uma preocupação em detalhar as roupas e os
cabelos da modelo e cria através do sfumato o olhar mais
emblemático da história da arte. Consegue este efeito
através da diluição das linhas no canto da boca e dos
olhos. Características como a ausência das sobrancelhas
e o olhar que persegue o observador era recorrente nas
Leonardo Da Vinci, Mona Lisa, 1502, óleo sobre
pinturas do período. madeira, 77 x 53cm. Museu do Louvre, Paris.
Disponível em: http://bit.ly/2W4fTdG

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Outra pintura importante de Da Vinci é a A Última Ceia pintada no refeitório do Mosteiro de


Santa Maria delle Grazie, em Milão, na Itália. Nesse mural o artista retrata o momento em que Jesus
conta aos seus discípulos que será traído, captando a agitação e reação de cada apóstolo. A pintura
segue fielmente as regras da perspectiva, de modo
que o cenário da pintura parece ser continuação do
ambiente do refeitório. Ele centraliza a figura principal
e divide horizontalmente os demais personagens em
grupos de três, ressaltando os gestos e expressões
da cada um. O mosteiro foi bombardeado durante a
Segunda Grande Guerra, em 1943, de modo que a
parede do refeitório onde está localizada a pintura
de Da Vinci permaneceu inteira. A pintura já passou
por diversas restaurações pois devido aos materiais
e técnica usada para sua execução não tem grande
durabilidade. Leonardo Da Vinci, estudos para pintura A Última Ceia.
Disponível em: http://bit.ly/2HiC5HF

Leonardo Da Vinci, A Última Ceia, 1495-8, têmpera e óleo sobre duas camadas de gesso e reboco da
parede, 460 x 880 cm. Refeitório do mosteiro de Santa Maria delle Grazie, Milão. Disponível em: http://
bit.ly/2JgLeEj

Mosteiro de Santa Maria delle Grazie, Imagem da A Última Ceia, no refeitório do mosteiro de Santa Maria
em Milão após o bombardeio de 1943. delle Grazie, Milão. Disponível em: http://bit.ly/2JDI4Ke
Disponível em: http://bit.ly/2YsAgyL

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Miguelangelo Buonaroti (1475-1564)


Discípulo de Domenico Ghirlandaio (1449-1494) Miguelangelo foi um artista cujas obras
ainda hoje impressionam e adornam diversos ambientes religiosos na Itália, pois ficou reconhecido
como o artista dos Papas, tendo trabalhado para sete deles.
Desde muito cedo aproximou-se das técnicas de escultura e do uso de mármores. Entre
suas principais obras tridimensionais está Pietà, na Basílica de São Pedro, no Vaticano e David, na
Galeria de Artes de Florença, ambos na Itália. A primeira apresenta a Virgem com Cristo retirado
da Cruz após sua crucificação, mas não mostra dor ou sofrimento, pelo contrário, percebemos no
rosto da Virgem tranquilidade e suavidade. Parece que o artista retrata a certeza da ressurreição e
não um momento de tragédia. Já o David de Miguelangelo foi inicialmente encomendado para ser
colocado na parte superior da catedral de Florença, mas por sua beleza e perfeição foi exposto
no chão de modo a ficar mais próximo das pessoas. Essa mudança de ângulo deixou aparente a
desproporção da cabeça e mão direita, maiores do que realmente deveriam ser, mas que ficariam
proporcionais quando estivesse no alto. Esse David, diferente do de Donatello ou o de Verrocchio
aparenta maturidade, serenidade e concentração, como se fosse retratado antes de matar Golias
e carrega consigo apenas um estilingue.

Miguelangelo, Pietà, 1498-1499, escultura de mármore de


Carrara, 174 x 195 cm. Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Disponível em: http://bit.ly/30i9ew0
Miguelangelo, David, 1501-1504,
escultura de mármore, 4,10m. Galeria
de Artes de Florença, Itália. Disponível
em: http://bit.ly/2Ji6l9g

Miguelangelo intitulava-se escultor embora sua mais significativa obra seja pintura, A criação
do mundo, no teto da Capela Sistina, no Vaticano. Trata de um conjunto de pinturas que retratam
nove cenas do antigo testamento: Deus dividindo a luz e a escuridão, a criação do sol e dos
planetas, a divisão da água e da terra, a criação de Adão, a criação de Eva, a tentação de Adão
e Eva e a expulsão do Éden, Noé e sua família fazendo sacrifício após a inundação, a grande
inundação e Noé desonrado. Nas laterais são pintadas as sibilas e os profetas.

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Unidade 2 | Capítulo
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Capela Sistina, no Vaticano, Itália. Disponível em: http://bit.


ly/2JhAF3D

Miguelangelo, A criação do mundo, executada entre 1508-


1512, afresco, teto da Capela Sistina, no Vaticano, Itália.
Disponível em: http://bit.ly/2JhzLnL

Mesmo nas figuras bidimensionais Miguelangelo estrutura seus personagens no afresco


como se fosse um conjunto escultórico, suas representações são anatomicamente bem resolvidas
e criam a sensação de serem pesadas e fortes, independentemente de serem masculinas ou
femininas. Ele é considerado por muitos historiadores como o artista que conseguiu dominar as
técnicas de representação (nos desenhos e pinturas) e construção (nas esculturas) do corpo
humano.

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Raffaello Sanzio - Rafael (1483-1520)


No mesmo período em que Da Vinci e Miguelangelo destacavam-se na Itália, entra em cena
o jovem Rafael, discípulo de Perugino (1446-1523). Embora fosse mais novo que os dois primeiros
que já tinham seus talentos reconhecidos e apreciados, ele era dedicado e tinha uma vantagem
sobre eles: relacionava-se muito bem com as pessoas. Contrapondo essa característica com o
temperamento difícil de Miguelangelo e com a dedicação extrema que Da Vinci votava as suas
invenções deixando de lado os prazos para as entregas de trabalhos, Rafael logo caiu nas graças
dos mecenas.
Rafael ficou conhecido com o pintor das Madonas, pois retratou diversas Virgens em
diferentes situações ao longo de sua vida. Todas foram representadas de modo simplificado,
equilibrado e belo. Mas a principal contribuição de Rafael foi harmonizar a composição das figuras
criando a sensação de movimento.
Rafael, assim como Miguelangelo, foi convidado pelo Papa Júlio II para pintar no Vaticano,
onde seus afrescos podem ser apreciados em diversas salas – as Stanzas. Em uma delas Rafael
representou em cada parede a sua ideia sobre a filosofia, a teologia, a poesia e o direito. Talvez
a mais famosa seja A Escola de Atenas, representando a filosofia. Neste afresco o artista retrata no
centro Platão – que aponta para cima e representa a filosofia abstrata e teórica–, e Aristóteles –
indicando o que está a sua volta, representando a filosofia natural e empírica. Diversos personagens
representativos da história compõe a imagem, como Apolo – Deus do Sol –, Minerva - encarnação
da sabedoria–, Alexandre – O Grande rei da Macedônia e discípulo de Aristóteles, o matemático
grego Pitágoras, o filósofo melancólico Heráclito – vestido com roupas de pedreiro e retratado como
Miguelangelo –, o pesador Diógenes que renunciou os bens materiais, o matemático do século 3
a.C. Euclides que era discípulo de Sócrates, o astrônomo e geógrafo do século 2 Ptolomeu, entre
outros. Rafael também se autorretratou nessa pintura, é o jovem que aparece na direita da cena
olhando diretamente para o espectador.

Rafael Sanzio, A Escola de Atenas, 1509-11, afresco, base 772 cm, Stanza Vista parcial da Stanza della Segnatura, Vaticano.
della Segnatura, Vaticano. Disponível em: http://bit.ly/2vVDuyF Disponível em: http://bit.ly/2YrwRQV

O cinquetento foi o ápice da produção renascentista, de modo que os artistas, ao longo dos
anos, resolveram as questões técnicas de representação e exploraram as diversas possibilidades
de acordo com a característica pessoal de cada artista e inspirados pelas temáticas religiosas
e sociais a partir das descobertas científicas e das novas invenções do período. O homem foi o
centro das pesquisas, e a busca pela representação da verdade foi o foco dos artistas.

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Unidade 2 | Capítulo
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RENASCIMENTO FLAMENGO
Flandres foi o nome dado ao “país” que hoje compreende o norte da França e grande parte
da Bélgica. Os artistas desses locais continuaram com grande influência gótica, mas adaptaram as
técnicas renascentistas e a pesquisa científica em suas obras. Assim, sua produção tem influência
da produção italiana mas têm também suas características próprias.
Uma das principais mudanças no renascimento flamengo é o uso do simbolismo dissimulado,
ou seja, os artistas continuam retratando cenas religiosas, mas deslocadas espacialmente para
locais ‘pagãos’, geralmente são pintadas em ambientes domésticos. O simbolismo dá-se pela
representação de objetos, de personagens e de situações já carregados de significados nas cenas
religiosas, como por exemplo, a pomba branca representando a paz ou os lírios simbolizando a
castidade.
Enquanto os artistas renascentistas italianos foram mestres em organizar as cenas pensando
a composição como um todo, com contornos, a perspectiva clara e a preocupação com a anatomia
humana, os artistas do Norte pensaram objeto por objeto, cada detalhe de roupas, plantas e
cenários foram projetados separadamente e com grande cuidado para então formar a composição.

Jan Van Eyck (1390-1441)


Durante a transição de estilos – do gótico para o renascimento – podemos destacar na
região de Flandres a produção de Jan Van Eyck que explorou além da naturalidade e riqueza de
detalhes, a ideia de espaço. Cada figura representada tinha o seu espaço na cena e cada objeto
seus detalhes explorados ao extremo.
Nas obras de Van Eyck ainda podemos perceber características das iluminuras góticas, como
na pintura do Retábulo do Cordeiro Místico. Nele percebemos a riqueza de detalhes na representação
humana, nas vestimentas e nos objetos, além da preocupação em pintar também a paisagem
detalhada e não somente os itens principais da cena como ocorre nas ilustrações bíblicas. Esse
retábulo permanecia geralmente fechado, sendo
aberto somente em dias de festa.


Na pintura O Casal Arnolfini, Van Eyck
além de demonstrar domínio da representação e
preocupação com todos os detalhes reafirma uma
das principais diferenças da arte renascentista
flamenga que é o deslocamento de atos religiosos
para o ambiente doméstico. A representação, que
parece ser de um casamento se considerarmos as
simbologias do ambiente, trata de uma cena cristã
em um ambiente pagão – o dormitório. O cuidado e
detalhamento na imagem é constatado pelo reflexo
no espelho ao fundo da imagem. Nesse reflexo
percebemos a presença de mais duas pessoas que
estavam no quarto, provavelmente o próprio pintor e
uma testemunha do matrimônio.

Jan Van Eyck, O casal Arnolfini, óleo sobre tela.


Disponível em: http://bit.ly/2LCoxwd

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Jan Van Eyck, Retábulo Políptico do Cordeiro místico - aberto (1426-1432),


quadro central do políptico existente na catedral de São Bavão, na Bélgica.
Disponível em: http://bit.ly/2WE0tdi

Hieronymus Bosch (-1516)


Não podemos classificar Hieronymus (Jerônimo) Bosch, nascido na cidade holandesa de
Hertegenbosch, como um artista renascentista embora tenha vivido e produzido neste período.
Bosch não costumava datar suas obras e temos poucas informações sobre sua vida. Bosch
apresenta como temática de suas pinturas um dos piores temores das pessoas que viviam no final
da Idade Média: o pecado, o inferno e os seus horrores. De um modo totalmente exclusivo, ele
mistura seres humanos, animais e figuras de sua imaginação em cenas religiosas ou do cotidiano.
Um dos principais trabalhos de Bosch é o tríptico O Jardim das Delícias onde representa o
Jardim do Éden no primeiro painel, os prazeres do homem no centro e o inferno a direita. Quando
fechado seus tons cinzentos retratam o terceiro dia da construção do mundo quando as águas foram
separadas da Terra e o paraíso foi criado, sob o olhar atento de Deus no canto superior. Nessa
pintura imagens bíblicas misturam-se aos pecados da luxuria e a seres mitológicos e monstruosos
criados a partir da imaginação do artista.

Tríptico fechado: A criação do


mundo, óleo sobre madeira, 220
Hieronymus Bosch, tríptico O jardim das delícias, aproximadamente 1500, óleo sobre x 195cm. Disponível em: http://bit.
madeira, 220 x 389 cm. Museu do Prado, Madri. Disponível em: http://bit.ly/2VzcbcF ly/2VzcbcF

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Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569)


Dominou as técnicas renascentistas dos mestres italianos mas representou a realidade,
cenas e costumes da vida medieval, como os jogos, as danças, os trabalhos e as cidades. A
característica mais marcante de Bruegel foi a melancolia no rosto de suas figuras. Se observarmos
a obra Jogos infantis, perceberemos uma grande quantidade de pessoas representadas, adultos e
crianças brincando de diversas maneiras utilizando objetos próprios ou improvisando com o que o
ambiente oferece. Mas embora o título da obra nos leve a acreditar que seja uma cena alegre, com
as pessoas divertindo-se, todas parecem fazer as atividades automaticamente, com expressões de
tristeza em seus rostos e com gestos robotizados.

Pieter Bruegel, Jogos infantis, 1560, óleo sobre tela. Disponível em: http://bit.ly/2HgWgpy

RENASCIMENTO NA ALEMANHA
O renascimento alemão sofreu influência da Reforma Protestante liderada por Martinho
Lutero no século XVI na Alemanha, principalmente na temática de suas obras. Devido ao fato de
muitos artistas e membros da sociedade não seguirem mais os princípios da igreja católica o tema
cristão é deixado em segundo plano e as descobertas científicas, fatos sociais da realeza e da
burguesia, paisagens e retratos tomam o seu lugar.

Albrecht Dürer (1471-1528)


Artista que se dedicou à arte de observar a natureza. Dominou as técnicas de perspectiva,
claro-escuro e sfumato, mas como a maioria dos artistas notáveis da Alemanha, priorizou o
detalhamento de cada figura ou objeto. Sua aquarela Lebre nos esclarece a preocupação do artista
em demonstrar a realidade tal qual ela era.
A principal linguagem artística a qual dedicou-se foi a gravura – xilogravura e gravura em
metal. Um exemplo de detalhamento e domínio da técnica da gravura em metal é Melancolia I, na
qual retrata os elementos com exatidão e perfeição, demonstrando sua capacidade de apresentar
um tema da filosofia medieval, que afirmava que cada indivíduo era dominado por um dos humores:
otimista, paciente, colérico ou melancólico e, ao mesmo tempo apresenta elementos da ciência,
tão explorados pelos renascentistas. A figura alada da melancolia segura um compasso – controle

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de medida–, e é rodeada por outros elementos como a balança – controle do peso–, a ampulheta
– controle do tempo–, a esfera - representação da perfeição em um sólido completo, entre outros
elementos que remetem a ciência. Outra influência da racionalidade que pode ser vista na cena é
o quadrado mágico à direita, onde a soma das linhas, das colunas, dos cantos e tantas outras somas
possíveis sempre terão como resultado 34.
Assim como Rafael buscou um ideal imaginário para suas figuras, também Dürer tentou
alcançar a harmonia entre os estudos da forma e da perspectiva com a representação perfeita da
realidade.

Albrecht Dürer, Lebre, 1502, aquarela a guache sobre papel, 25 x Albrecht Dürer, Melancolia I, 1504. Disponível em: http://bit.
22,5cm. Disponível em: http://bit.ly/30kqC3l ly/30kqC3l

Hans Holbein (1498-1543)


Hans Holbein é um dos artistas que melhor exemplifica a crise na Alemanha quanto as
representações e o uso da imagem após a Reforma Protestante, que era contra o culto as imagens.
Essa exemplificação ocorre pelo primor de seus retratos que foi a linguagem mais significativa do
Norte depois de deixar de lado as representações religiosas.
No retrato Os Embaixadores Holbein mistura realismo com idealismo, apresentando tanto
os embaixadores franceses quanto o cenário com riqueza material e de conhecimento. Além
do detalhamento de cada objeto ser importante para agradar os compradores, também tinham
importância no contexto da época onde os embaixadores da França estavam na Inglaterra tentando
impedir que os governantes abandonassem a igreja católica, o que não ocorreu.
Um detalhe importante dessa pintura trata da vânita – representação do crânio humano –
distorcido na parte inferior da cena. Essa representação refere-se à vaidade humana, sendo o
crânio o principal símbolo para o lembrete da morte – independentemente do que todos realizarem
em vida, todos irão morrer. Holben através da técnica de anamorfose consegue colocar esse símbolo
em um local de destaque na pintura, mas poderia ser visto somente de determinado ângulo.

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Hans Holbein, Os Embaixadores, 1533, têmpera e óleo sobre madeira, 207 x 209,5cm. Disponível em: http://bit.ly/2E4lZRc

Esses são apenas alguns exemplos de artistas que viveram e produziram artisticamente
durante o período renascentista, pois trata-se de um dos momentos mais produtivos e revolucionários
na história da arte. Talvez impulsionados por suas curiosidades sobre como os objetos, conceitos
e realidades ocorriam no mundo, os artistas exploraram a arte de modo diferente tanto no
que diz respeito a materialidade quanto aos temas e problemáticas abordadas. Além disso, o
reconhecimento e incentivo dos mecenas contribuiu para conhecermos nominalmente os artistas
e assim identificar suas características pessoais.

9. MANEIRISMO

Identificado por muitos como um período de transição, o Maneirismo tem grande importância
para compreendermos como ocorreu a passagem do renascimento para o Barroco, e também
para desvendar como muitos artistas da época pensavam ou mudaram o seu modo de pensar
e produzir. Até mais ou menos os anos 1520-1525 artistas e estudiosos da arte acreditaram que
as produções artísticas tinham atingido seu ápice, conquistando a perfeição, equilíbrio e todas as
descobertas possíveis para a área. Depois desse período, alguns artistas copiaram as figuras dos
grandes mestres apresentando-as em cenários e contextos diferentes, assim ficaram conhecidos
como aqueles que pintavam a maneira de “alguém” – eram os maneiristas.
Dentro desse contexto, alguns artistas destacaram-se e reinventaram o modo de representar,
colocando sua percepção pessoal em temáticas já consagradas. O Maneirismo caracteriza-se por
partir das descobertas técnicas do renascimento e acrescentar a esta produção individualidades
dos artistas que não focam somente na representação da realidade, mas sim no “clima” daquela
cena, nos sentimentos ou emoções envolvidas no tema. Para isso utilizaram-se de modificações
da forma, das distorções, de figuras estruturadas a partir de linhas em ziguezague ou curvas, de
cores que fogem à realidade e de composições na diagonal para criar a sensação de movimento. A
leitura das obras maneiristas torna-se mais complexa e exige um olhar mais atento aos detalhes e

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contexto isolado de cada figura para compor a cena


inteira.

Parmigianino (1503-1540) - Girolamo Francesco


Maria Mazzola

Parmigianino em sua obra Madona com o


pescoço longo, como o nome já diz, apresenta figuras
alongadas, propositalmente desproporcionais.
Cria para cena uma ambientação fantasiosa, com
cortinas como se fosse um ambiente interno, mas
colunas - que nada sustentam - como se fosse um
ambiente externo. No canto à direita representa um
profeta minúsculo em relação às demais figuras. Cria
assim um ambiente ilusório com figuras distorcidas,
não porque não domina as técnicas, mas por desejar
criar um cenário diferente para uma cena de madona,
tema recorrente na história da arte renascentista.

Parmigianino, Madona com o pescoço longo,


1535. Disponível em: http://bit.ly/2HfEPXI

Tintoretto (1518-1594) - Jacopo Robusti Tintoretto


Tintoretto ultrapassou as barreiras estabelecidas pelas regras clássicas e fez de suas
pinturas cenas dramáticas sem um acabamento detalhado, deixando ao espectador a imaginação
para finalizá-los. Ele trouxe emoção a cenas que haviam sido representadas anteriormente de
modo formal, equilibrado e harmônico. Seus personagens, embora demonstrem inexpressividade
no rosto, esbanjam expressão em seus corpos.
Sempre que
falamos da última ceia,
logo lembramos da
pintura de Leonardo
Da Vinci, com Cristo
centralizado e os
apóstolos organizados
horizontalmente,
seguindo fielmente as
regras de perspectiva,
de claro-escuro,
de equilíbrio e as
proporções da anatomia
humana. Tintoretto
nos apresenta
uma composição
completamente distinta.
Para localizarmos
Tintoretto, A última ceia, 1594, óleo sobre tela, 365 x 568cm. Disponível em: http://bit.
ly/2JhK7UL

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Cristo em sua pintura precisamos de certo esforço pois ele mistura-se aos demais personagens
desta cena. Personagens que por sinal não se resumem somente aos apóstolos, podemos observar
pessoas servindo, trabalhando ou desempenhando outras funções, como se a última ceia tivesse
sido realizada em uma taverna. A santidade da cena ocorre pela luminosidade ao entorno de Cristo
e pelo modo divino como o céu é composto, com nuvens contorcidas formando a silhueta de anjos.
Pelas formas e cores distorcidas, a composição diagonal da mesa e a alteração do céu toda cena
parece movimentar-se.

El Greco (1541-1614) - Doménikos Theotokópoulos


El Greco nasceu de ilha de Creta e mais tarde fixou-se em Toledo, na Espanha. Sua vivência
nesses locais nos dizem um pouco a respeito de suas obras que não tiveram influência direta dos
grandes mestres italianos deixando-o assim mais livre para apreciar os pintores maneiristas e em
parte superá-los no descaso com a representação das formas e das cores, focando na dramaticidade
das cenas. El Greco pinta figuras alongadas e distorcidas tal qual Parmigianino e acrescenta as
suas cenas a dramaticidade das pinturas de Tintoretto.
Na pintura O enterro do Conde de Orgaz, El Greco cria dois ambientes completamente distintos
usando para executá-los também
regras diferentes. Na parte inferior
representa a cena do enterro de
modo realista, seguindo uma
regra clara de perspectiva com
um ponto de fuga bem definido.
As roupas são extremamente
detalhadas e as figuras seguem
uma ordem horizontal de
organização. São as figuras
verticalizadas dos homens com
roupas pretas que formam com a
representação de suas cabeças
a linha horizontal que divide as
cenas. Na parte superior El Greco
representa figuras distorcidas,
em desordem, misturadas a
anjos e nuvens. Há também uma
diferença cromática entre a parte
superior e a inferior. Esse trabalho
demonstra que o artista dominava
as técnicas renascentistas e
conhecia as proporções do corpo
humano reforçando a ideia de
que as distorções, alongamentos
e uso arbitrário das cores era
proposital, pois não estava preso
a representação fiel da realidade.

El Greco, O enterro do Conde de Orgaz, 1586-1588, óleo sobre tela, 480 x


360cm. Igreja de Santo Tomé, Toledo. Disponível em: http://bit.ly/30dzOGF

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Giuseppe Arcimboldo (-1593)


Arcimboldo foi um artista italiano que ficou conhecido por seus trabalhos na corte em Viena,
por suas obras com características muito pessoais. Fugindo das regras clássicas em sua Série As
Quatro Estações o artista explora novos modos de compor seus retratos, montando-os a partir de
figuras da fauna e da flora. Arcimboldo divide a temática destas pinturas nas quatro estações do
ano. Ele pinta a partir do estudo de frutas para compor o verão, de flores para a primavera, de frutos
e do vinho para o outono e de poucas frutas e flores para exemplificar a escassez do inverno.

Giuseppe Arcimboldo, Série As Quatro Estações - Primavera, Giuseppe Arcimboldo, Série As Quatro Estações - Outono,
1563. Disponível em: http://bit.ly/2vUyLgD 1572. Disponível em: http://bit.ly/2vUyLgD

Giuseppe Arcimboldo, Série As Quatro Estações - Inverno, Giuseppe Arcimboldo, Série As Quatro Estações - Verão, 1973.
1573. Disponível em: http://bit.ly/2vUyLgD Disponível em: http://bit.ly/2vUyLgD

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10. BARROCO

As primeiras características das obras barrocas já eram apreciadas nas produções artísticas
maneiristas, como a dramaticidade, a assimetria, a distorção das figuras nas representações e,
principalmente na emoção transmitida nas cenas. Neste momento a iluminação ganha destaque e
diferencia as obras. O contexto histórico aponta um retorno aos temas religiosos, pois a igreja está
novamente reforçando sua importância (contrarreforma), e enfatiza temas da realeza (absolutismo)
pois em alguns lugares os governantes usam-se da arte para impor sua figura.
A origem do nome Barroco provém do grego baros – pesado – e também a designação dada
pelos portugueses e espanhóis para nomear uma pérola imperfeita, ou seja, o barroco refere-
se a algo pesado e imperfeito, exagerado e confuso, características estabelecidas sempre que
comparadas com as particularidades clássicas.
Aponta-se o artista Miguelangelo como um dos pioneiros de representações com estas
características, como na pintura O Juízo Final na parede do altar da Capela Sistina, executado mais
de vinte anos após a conclusão do teto. Diferente da obra organizada e equilibrada que foi pintada
no teto, aqui o artista cria um conjunto de figuras com proporções escultóricas e exageradas, onde
cada figura “vive” o seu drama de modo pessoal.

Miguelangelo, O Juízo Final, 1536-1541, 13,7 x 12,2m. Afresco na parede do altar


da Capela Sistina, no Vaticano, Itália. Disponível em: http://bit.ly/2HqCCay

A ARQUITETURA barroca concentrou-se nas igrejas e nos palácios. Nos dois casos a ideia
era demonstrar o poder da religião católica – período da contrarreforma – e dos reis – período do
absolutismo. Para evidenciar esse poder foram feitas construções grandiosas, ricamente decoradas
e imponentes. Os interiores das construções barrocas são extremamente decorados, deixando-se
poucos espaços – ou nenhum – sem ornamentação. É nesse período que o entorno das edificações
recebe a atenção dos arquitetos que projetam jardins, pátios e áreas estruturadas e decoradas com
o mesmo cuidado dado aos prédios.
Um exemplo de igreja com características barrocas é a Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Embora sua construção inicial tenha características clássicas, sua finalização seguiu padrões
barrocos ao adornar excessivamente sua fachada misturando colunas – simples e duplas, quadradas
e redondas–, estátuas, frontões, relógios, entre outros elementos do período clássico e do barroco.
Também ao alongar a sua nave (deixando sua planta com cruz latina) ressalta a importância do
altar mor ampliando o espaço cênico para as cerimônias religiosas.

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Fachada da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Disponível Praça de São Pedro, no Vaticano. Disponível em: http://bit.
em: http://bit.ly/2Q3yalY ly/2VxsCpX

Na França o Palácio de Versalhes projetado pelos arquitetos Jules Hardouin Mansart,


Louis Le Vau e François d’Orbay é um representante do barroco, mais por sua imensidão do que
propriamente por sua decoração. Embora sua estrutura seja clássica, seguido a exigência do Rei
Luís XIV, os acabamentos exagerados de adornos remetem ao barroco. A decoração excessiva
com objetos variados, pinturas e estatuas em seu interior não deixam dúvidas quanto a influência
do período.

Jardins Palácio de Versalhes, França. Disponível em: http://bit. Salão dos espelhos - Palácio de Versalhes, França. Disponível
ly/30dAHit em: http://bit.ly/2E7hB3S

A ESCULTURA barroca ganha vida através das formas curvas das figuras, além de ressaltar
a dramaticidade da cena representada, já apontando a importância do contraste de luminosidade
para ampliar a teatralidade do tema.

Gian Lorenzo Bernini (-1680)


Bernini é o principal escultor barroco. Ele é autor do Baldaquino que está localizado no altar
mor da Basílica de São Pedro. Na estrutura escultórica percebemos a mistura de estilos e o excesso
de ornamentação, resultando em uma cobertura completa da peça, compondo com colunas
salomônicas lineares e rebuscadas, estátuas, relevos, brasões e outros elementos. O dourado
do ouro destaca-se sobre o preto proporcionando um alto contraste e ressaltando a riqueza dos
objetos e detalhes.
Em sua escultura no túmulo da família Cornaro acompanhamos a cena em que Santa Teresa
é golpeada pelo cupido. Mesmo sendo uma representação de um momento de dor e sofrimento

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percebemos em suas feições a expressão de prazer. A escultura proporciona uma dramatização


teatral do momento, com a emoção e a sensação de movimento percebida nas vestes das figuras.
O artista ainda se aproveita da abertura natural que existe no ambiente e reforça a iluminação da
cena com a construção de raios dourados que ‘caem’ sobre a escultura.
O David de Bernini, diferente dos David de Miguelangelo ou de Donattello, apresenta-se em
movimento, como se pudéssemos acompanhar o momento da luta com Golias, não o antes ou
o depois, como nos casos anteriores. A ação está acontecendo diante de nosso olhar, o David
tenciona os músculos, aperta os lábios, e estica o estilingue para arremessar a pedra contra Golias.
Na escultura de Bernini nossa emoção de praticamente participar do momento completa a escultura.

Bernini, Baldaquino, Basílica de São Pedro, no Vaticano.


Disponível em: http://bit.ly/2Q12qxY

Bernini, David, 1623-1624, mármore. Disponível em:


http://bit.ly/2JgN485

Bernini, Êxtase de Santa Teresa, 1645-1652, 3,5 x 1,38m.


Capela Cornaro, Santa Maria dela Vittoria, Roma. Disponível
em: http://bit.ly/2PZJFLm

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A PINTURA barroca é marcada pela dramaticidade e teatralidade das representações. Esse


efeito é conseguido no plano bidimensional através da organização estrutural seguindo linhas
diagonais, altos contrastes de claro e escuro a partir da luz e uma iluminação criada artificialmente
pelos pintores. Distintamente das pinturas lineares do renascimento, as pinturas barrocas são
pictóricas, ou seja, percebemos nelas as pinceladas e camadas de tinta bem marcadas, os artistas
não pretendem esconder que realmente trata de uma pintura.
Neste período as pinturas murais tomam novas proporções ao adornar igrejas e palácios
utilizando-se da técnica de Trompe L’oeil, para enganar o olhar dos observadores, dando a ilusão de
profundidade e movimento. Um exemplo é a pintura de Andrea Pozzo (1642-1709) no teto da Igreja
de Santo Inácio, em Roma. A pintura, feita para ser olhada de baixo para cima, produz a sensação
de profundidade e entrada no céu, como se pudéssemos acompanhar as figuras elevando-se.

Andrea Pozzo, A glória de Santo Inácio (1961-1694) afresco no teto da igreja de Santo
Inácio, em Roma. Disponível em: http://bit.ly/2Q1bCT7

Analisaremos como se deu a pintura em diferentes locais da Europa, pois a arte barroca
espalhou-se e adotou características diferenciadas em cada lugar.

BARROCO ITALIANO

Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio (-1610)

É considerado um dos principais artistas barrocos e aquele que influenciou os demais por
muitos anos. Caravaggio foi um artista de temperamento difícil e que produziu muitas obras durante
sua vida. Embora na época muitos achassem suas pinturas ofensivas, e muitas delas tenham
sido depois de prontas recusadas por quem as encomendou, ele era protegido pelo clero. Essa
proteção se deve a principal característica de Caravaggio: usar como modelos pessoas comuns,
do povo, dando um ar realista para cena e fazendo os fiéis mais simples voltarem-se para igreja por
identificarem-se com os personagens. A repulsa por parte de algumas pessoas ocorria pelo fato
das figuras religiosas serem representadas sujas, com roupas resgadas e gastas em um cenário do
dia a dia delas.
A iluminação com alto contraste entre o claro e o escuro, as composições em diagonais, a
palheta de cores – usando predominantemente o preto, o vermelho e o branco – e o realismo das

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cenas influenciaram muitos artistas.


Na pintura A vocação de Mateus Caravaggio representa o momento em que Jesus chama
Mateus para segui-lo. A cena parece ocorrer em uma taverna onde alguns homens estão reunidos.
Mesmo com uma janela acima, o artista cria um foco de luz artificial entrando a direita e criando
uma linha diagonal que compõe com os personagens ao entorno da mesa. Identificamos a figura de
Cristo por ter um fino alo sobre sua cabeça e estar com os pés descalços, o restante da cena nos
remete a uma ação comum para os homens.
Na obra Davi com a cabeça de Golias Caravaggio apresenta o realismo no sofrimento da
expressão de Golias, que provavelmente era um autorretrato do próprio artista. O alto contraste
de claro e escuro faz com que em alguns momentos a imagem funda-se com o fundo. As figuras
não são formadas por linhas, sua forma dá-se pela luz. Como na maioria das representações de
Caravaggio o fundo não recebe detalhamentos e geralmente resume-se a escuridão.

Caravaggio, A vocação de Mateus, 1599-1600. Disponível em: Caravaggio, Davi com a cabeça de Golias, 1610.
http://bit.ly/2VoPnrr Disponível em: http://bit.ly/2VwwmrQ

BARROCO FLAMENGO

Peter Paul Rubens (1577-1640)


As obras de Rubens retratam com cuidado as questões da luz e o modo como a iluminação
dos personagens, dos objetos e da cena ajudam a compor a obra. Sua produção foi influenciada
por Caravaggio e nelas percebemos o contrates das cores e palheta semelhante, mas com um
diferencial sutil, Rubens resolvia com mais detalhes o fundo. Na obra O massacre dos inocentes o
artista cria um conjunto de figuras contorcidas e a leitura da imagem requer atenção para identificar
suas partes. A cena mostra o massacre das crianças a pedido de Erodes de modo que no futuro
seu trono não fosse ocupado por um rei judeu. Podemos perceber a dramaticidade do momento e
as diversas emoções que o artista consegue criar em apenas uma pintura: dor, sofrimento, fúria,
desespero, amor materno, entre outros.

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

Rubens, O massacre dos inocentes, 1611-1612. Disponível em: http://bit.ly/2VgOjpi

BARROCO HOLANDÊS
A situação artística holandesa difere das demais por rebelarem-se contra seus governantes
e adotarem a religião protestante, além da contribuição das grandes navegações que mudam o
cenário social e econômico local. Os artistas, nesse contexto, necessitaram uma mudança de
postura pois não tinham mais a igreja como patrocinadora para suas obras. O foco das produções
passa a ser os compradores particulares que preferiam assuntos mais próximos de sua realidade,
como paisagens, natureza-morta, pinturas de gênero e retratos individuais e de grupos.
Também nesse momento há um retorno do simbolismo dissimulado, principalmente nas
pinturas de gênero – que são representações de cenas cotidianas no interior das residências–,
onde em meio ao cenário doméstico o artista apresentava símbolos religiosos ou mitológicos.

Isaac Elias (1590-1630)


Em sua obra A festa ou Alegre Companhia
Isaac Elias apresenta uma pintura de gênero
onde várias pessoas reúnem-se ao entorno
de uma mesa. Na direita, um casal parece
alheio a festa que ocorre na sala. Algumas
leituras apontam que essa pintura representa
as tentações que um casal pode sofrer ao
longo da vida. Cada personagem a mesa
representa um dos sentidos: o tato, o paladar,
o olfato, a audição e a visão, de acordo com
os objetos com os quais interage. Embora a
cena seja casual, ao fundo há dois quadros
com cenas mitológicas e religiosas referentes
a batalhas e ao dilúvio.
Isaac Elias, A festa ou Alegre Companhia, 1629. Disponível em:
http://bit.ly/2HjbWsq

82
Unidade 2 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Franz Hals (1586-1666)


Franz Hals foi um grande estudioso da luminosidade na representação bidimensional. Sua
principal temática foram os retratos individuais e de grupos. Os retratos barrocos diferenciam-
se por ser o registro de um momento, de uma ação, e nos remetem as fotografias espontâneas
que realizamos atualmente, contrapondo-se aos retratos estáticos e formais do renascimento, que
remetem as nossas atuais fotografias 3x4. Podemos perceber estas características barrocas no
retrato do bebedor alegre, que sorri e gesticula na cena.
Hals retratou diversos retratos de soldados, mas geralmente em grupos descontraídos, sem
os cerimoniais, etiquetas e rigidez de uma fotografia formal. Transpondo para os dias atuais é como
se Franz Hals registrasse o momento do intervalo de uma partida de futebol, com os jogadores
descansando e bebendo água. A fotografia ‘renascentista’ referente seria a fotografia formal com
duas fileiras de jogadores, uma em pé e outros agachados. Ou seja, a pintura de retrato barroca
nos remete a um momento informal, enquanto a renascentista trata da foto posada.

Franz Hals, O bebedor alegre, 1628-1630, óleo


sobre tela, 81 x 66,5cm. Disponível em: http://bit.
ly/2LPenZ0

Franz Hals, Reunião dos oficiais e sargentos da guarda, 1633, óleo sobre tela,
207 x 337cm. Disponível em: http://bit.ly/30krVzh

Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669)


Rembrandt teve ainda em vida o reconhecimento de seu trabalho. Apesar de produzir muito
e ter muitos aprendizes trabalhando em seu atelier, depois de perdas na vida pessoal, Rembrandt
não conseguiu organizar-se e ao falir vendeu todos os seus trabalhos. Em mais ou menos 40 anos
produziu mais de cem autorretratos e produziu muitos de outras pessoas.
Talvez um dos mais conhecidos retratos de grupo do artista seja a pintura encomendada
pelo médico Nicolaes Tulp a qual registrou o momento de uma demonstração cirúrgica feita pelo
doutor. Rembrandt tinha o domínio da luz em seus trabalhos direcionando-a de modo a também
indicar o percurso do olhar do observador. Ele cria em suas obras grandes contrastes deixando o
fundo reduzido a formas manchadas, ressaltando com a luminosidade o foco principal de sua cena.
Mais uma vez é o registro de uma ação, sem poses ou formalidades.

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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Rembrandt, A Lição de anatomia do Doutor Tulp, 1632. Disponível em:


http://bit.ly/2LOz6wq

Johannes Vermeer (1632-1675)


Vermeer talvez tenha sido o principal
representante da pintura de gênero barroca,
sendo que a maioria de suas obras tratam
de assuntos relacionados aos afazeres
domésticos, representando cenas tranquilas,
geralmente de figuras femininas realizando
atividades do cotidiano. Suas pinturas não
tratam de acontecimentos ou imagens que
despertem emoções dramáticas no espectador,
Vermeer trabalha as questões de luminosidade.
As imagens que ele apresenta deixam claro o
estudo da luz sobre cada objeto, os quais são
formados pela luz e não por linhas definidas.
Observar um trabalho de Vermeer é como
parar no tempo. Suas cenas são calmas, leves
e detalham realisticamente cada elemento
da cena, criando a sensação de que mesmo
estática se retirarmos qualquer parte da cena, a
composição ficará instável.
Vermeer, A Leiteira, 1660, óleo sobre tela, 45,5 x 41cm.
Disponível em: http://bit.ly/2LD3F83

BARROCO ESPANHOL

Diego Rodríguez de Silva y Velázquez (1599-1660)


Foi o principal pintor da corte de Filipe IV e o responsável pelos retratos do rei e da família
real. De modo geral, apesar das roupas complicadas, rebuscadas e extravagantes, pintar retratos
nem sempre estimula os artistas, mas Velázquez provou ser um tema instigante e os fez com

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Unidade 2 | Capítulo
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primor e inovações.
Sua produção recebeu influência indireta das obras de Caravaggio ao observar as cópias
que outros artistas faziam destas produções. Dominava o claro-escuro e o modo pictórico de
representar a cena, mas logo seu trabalho foi revelando um caráter pessoal do artista. Um exemplo
é a sua principal obra A família de Filipe IV que ficou conhecido como As Meninas. Nessa obra o artista
apresenta seu ateliê na corte acompanhado da princesa Margarita e suas damas de companhia,
o camareiro da rainha aparece na porta ao fundo e o próprio artista autorretrata-se pintando uma
grande tela. As figuras do rei e da rainha aparecem no reflexo do espelho ao fundo. O modo como
compôs a cena e organizou os personagens conhecidos da corte é que geram os questionamentos
sobre essa imagem: estaria o artista pintando o casal real? Ou a ideia era realmente congelar a
cena com todos os personagens que estavam no ateliê? A resposta exata nunca teremos, mas
independentemente disto percebemos a riqueza desta pintura que usou a técnica apurada, o
realismo e o jogo de luz bem executado para envolver o espectador e levá-lo, com o olhar, a
também participar da cena.

Velázquez, As Meninas, 1656, óleo sobre tela. Museo del Prado.


Disponível em: http://bit.ly/2E6rqiC

BARROCO FRANCÊS
A França foi o local mais representativo quanto a produção artística a serviço do estado. A
corte de Luís XIV tinha tanto poder sobre a arte que as obras do período também ficaram conhecidas
como Estilo Luís XIV. Em 1648 foi fundada a Academia Francesa de Belas Artes que norteou o estilo
que os artistas deveriam seguir.
Foi Luís XIV o responsável pelo projeto da edificação do Palácio de Versalhes, que após
anos de construção é ainda hoje uma obra arquitetônica pomposa, ricamente detalhada e rodeada
de grandes Jardins. Luís XIV comparava-se aos imperadores romanos, assim tanto a base da

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construção do Palácio tem características clássicas, como as pinturas retomam os temas e


composições do período, seguindo as influências da arte barroca.

Nicolas Poussin (1594-1665)


Poussin é um exemplo de artista
francês que retoma a composição
organizada e equilibrada do período
clássico, bem como as temáticas
religiosas e mitológicas. Em Parnaso
Poussin retrata Apolo e suas Musas
celebrando as Artes, especialmente
a poesia. A composição é simétrica
e organizada triangularmente,
os gestos são congelados e os
rostos sem expressão, mas existe
principalmente na paisagem a marca
da pincelada, as formas definidas
pela luz e não pela linha e é essa a
sutil influência barroca na obra que
segue os padrões estabelecidos pela
academia. Nicolas Poussin, Parnaso, 1630-1631, óleo sobre tela. Museo del Prado.
Disponível em: http://bit.ly/2PY5f2I

11. ROCOCÓ

Assim como o Maneirismo, o Rococó é também apontado por muitos historiadores como
um estilo de transição, mas as produções deste período estão diretamente relacionadas aos
acontecimentos históricos do momento e por isso têm suas particularidades. Foi também chamado
na França de “rocaille”, referindo-se a conchas de desenho assimétrico e contornos livres, ou Estilo
Luís XV.
Luís XIV foi um governante absolutista e mantinha todos os membros da nobreza vivendo
sob seu olhar no Palácio de Versalhes. Após sua morte, em 1715, seu único herdeiro Luís XV tinha
apenas 5 anos e o estado ficou sob a regência de seu sobrinho, o Duque de Orleans, Filipe II. Sob
sua regência a aristocracia mudou-se para Paris.
Esses fatos influenciaram diretamente a arte. Diferente dos jardins enormes no Palácio,
em Paris as casas não tinham uma área externa tão grande e assim a decoração interior recebeu
muita atenção. Ao invés de espaços carregados de informações e decoração exagerada, o Rococó
utilizou cores claras na arquitetura, linhas sinuosas nas plantas, o uso de dourados e florais, entre
outros motivos decorativos, mas sempre deixando espaços somente com a cor. Esse fato tornou a
arquitetura Rococó visualmente mais leve.
A arte refletiu a leveza e o momento despreocupado no qual os nobres viviam, aproveitando
seu momento passageiro sem um governante dando-lhes ordens. Os temas eram os prazeres
simples da vida suscitados pelos sentidos: a visão – através das cores claras, tons pastéis e
dourados sobre fundos brancos-, a audição – pela apreciação da música, sendo Mozart um dos
músicos destacados do período –, o olfato – pela produção dos perfumes–, o paladar – pela delicada
e requintada culinária francesa–, e o tato - pelo toque e uso de tecidos nobres em vestuários e
mobiliários. Assim, percebemos que algumas características da cultura francesa tão apreciadas

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Unidade 2 | Capítulo
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nos dias de hoje surgiram ou foram reforçadas neste período.


A temática Rococó apresenta motivos superficiais, sem muita importância ou questionamentos
religiosos. Suas cenas centram-se em figuras florais, jarros, pássaros, figuras mitológicas –
principalmente representando o amor–, putti e outros elementos decorativos para com a composição
representar o estilo de vida da aristocracia. A natureza tem grande importância nas pinturas, sendo
a representação das árvores e arbustos figuras que trazem movimento e força a cena.

Jean-Antoine Watteau (1684-1721)


Watteau teve seu trabalho influenciado por Rubens, tanto no estudo da luz quanto na opção
pelo pictórico. Na obra o Embarque para Cythera ele retrata um grupo de aristocráticos com belas
vestes celebrando o amor. Cythera foi a ilha grega onde nasceu Atenas, a Deusa do amor, que na
pintura está representada em
uma estátua na direita. Abaixo
dela o cupido parece incitar
uma mulher a entregar-se
ao amor. Olhando da direita
para esquerda sutilmente os
casais vão aproximando-se
cada vez mais e à esquerda
sobre eles vários putti se
elevam parecendo uma
dança.
Não se trata de
um tema questionador ou
impositivo, pelo contrário, é
leve, trivial e agradável aos
olhos. Era a representação
de uma vida que poucos
Watteau, Embarque para Cythera, 1717. Disponível em: http://bit.ly/30jZiSq
tinham o privilégio de desfrutar.

Jean-Honoré Fragonard (1732-1802)


Talvez a principal obra de Fragonard seja O balanço, obra
encomendada pelo Barão de Saint-Fulien. O próprio Barão
encontra-se retratado sentado sobre os arbustos à esquerda
da pintura em uma visão privilegiada para a moça que está
no balanço. A figura feminina representa a amante do Barão,
que está sendo empurrada por um senhor quase escondido
na escuridão – provavelmente a representação de seu marido.
O sapato voa do pé da moça em direção ao cupido que pelo
gesticular da mão pede silêncio. Não se sabe se o pedido dirige-
se ao casal para não serem descobertos pelo marido ou ao cão
que late em direção ao balanço – ele está abaixo na direita
também escondido na parte mais escura da pintura. Toda cena
é emoldurada pelo verde da natureza. Trata-se mais uma vez
de cenas do estilo de vida da aristocracia francesa.
Fragonard, O Balanço, 1766, óleo dobre
tela, 81 x 64,2cm. Disponível em: http://bit.
ly/2E5vmjv

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12. BARROCO E ROCOCÓ NO BRASIL

Tanto o Barroco quanto o Rococó chegam tardiamente ao Brasil pelos colonizadores


portugueses. Esse atraso temporal deve-se a situação periférica de Portugal em relação aos centros
europeus que produziram esses estilos. Uma das consequências dessa diferença temporal foi a
mistura de características barrocas e rococós nas construções brasileiras.
No Brasil podemos dividir as obras de arquitetura, escultura e pintura barrocas e rococós em
duas vertentes: a primeira desenvolvida nas cidades enriquecidas pelo comércio do açúcar e
pela mineração (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Paraíba) e a segunda sem
patrocínios financeiros e, consequentemente com uma produção mais modesta (São Paulo e
Missões Jesuíticas no Brasil).

Barroco e Rococó em Pernambuco e na Paraíba


Os engenhos da cana-de-açúcar são os responsáveis pela geração do poderio econômico
de Pernambuco e da Paraíba neste período e pelo financiamento de ricas igrejas.
A partir de plantas retangulares a composição arquitetônica das igrejas seguiram as artes
ornamentais, com fachadas graciosas e interiores ricamente decorados. Em Recife, o conjunto
histórico do Convento de Santo Antônio é composto atualmente pelo convento de Santo Antônio,
a Igreja de São Francisco das Chagas e a Capela Dourada da Terceira Ordem, talvez o maior
exemplar barroco de Pernambuco.
Nascida da necessidade de pessoas que desejam seguir determinada regra religiosa, a
Ordem Terceira em Recife iniciou sua construção em 1696 sendo que seu detalhamento interno
foi finalizado apenas em 1724. Financiada pelos poderosos senhores de engenho, no apogeu do
ciclo da cana de açúcar, a capela foi projetada pelo arquiteto Antônio Fernandes de Matos, a
talha foi realizada por Antônio Martins Santiago e o douramento dos altares e paredes executados
por Manuel de Jesus Pinto. As pinturas, executadas entre 1699 e 1702, de autoria desconhecida
retratam os santos franciscanos e a vida de São Francisco. Completam a riqueza e os ornamentos
internos da capela os painéis de azulejos portugueses.

Capela Dourada da Ordem Terceira em Recife. Disponível em: http://bit.ly/2Q3SNPi

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A Igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife, foi projetada por Manuel Ferreira Jácome.
Sua construção iniciou-se em 1728, em 1759 foram concluídos o corpo da igreja e a parte central da
fachada, mas somente em 1782 ela foi consagrada. Em 1858 foi realizada uma reforma completa,
embora o conjunto arquitetônico tenha sido preservado, todas as obras originais de talhas foram
retiradas.
A Igreja de São Pedro destaca-se pela verticalidade em meio aos casarios que a circundam.
Na fachada principal sobressai a portada barroca com rico trabalho em pedra que compõe
verticalmente com a janela acima. As aberturas da fachada são adornadas por balaústres, detalhes
em pedra, frontões, colunas e volutas.
A pintura do forro, feita por João de Deus Sepúlveda, é feita em perspectiva alongando
os balcões e arcadas do ambiente. No centro da cena está São Pedro abençoando os clérigos e
religiosos.

Fachada da Igreja de São Pedro dos João de Deus Sepúlveda, pintura no teto da Igreja
Clérigos, no Pátio de São Pedro, em Recife, de São Pedro dos Clérigos, 1764-1768, no Pátio de
Pernambuco. Disponível em: http://bit. São Pedro, em Recife, Pernambuco. Disponível em:
ly/2WFbvir http://bit.ly/2WFbvir

O conjunto arquitetônico da Igreja de


São Francisco e Convento de Santo Antônio é
formado pelo Adro, pela Igreja, pelo Convento
e pelo Cruzeiro e foi tombado pelo Patrimônio
Histórico desde 1952. Sua construção iniciou-
se em 1589, sendo finalizada somente em
1788. Em sua entrada localiza-se o único
Cruzeiro remanescente atualmente em João
Pessoa, o Cruzeiro de São Francisco. O
grande Adro em frente à Igreja é ladeado por
duas muralhas antigas trabalhadas com pedra
e seis painéis representando as estações da
Paixão de Cristo. A pintura no teto da Igreja
Fachada Convento Franciscano de Santo Antônio, em João é feita em perspectiva e cria a sensação de
Pessoa. Imagem de acervo particular.
ampliação do espaço.

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Vista interna do Convento Franciscano Detalhe pintura no teto do Convento Franciscano de Santo Antônio, em João Pessoa.
de Santo Antônio, em João Pessoa. Imagem de acervo particular.
Disponível em: http://bit.ly/2Q0taPb

Barroco e Rococó em Salvador


A riqueza do país na segunda metade do século XVII concentrava-se no Nordeste devido a
produção de cana-de-açúcar e a mineração, assim, são também nestas cidades que encontramos
as mais ricas, elaboradas e detalhadas construções barrocas. Salvador, nesse período, era a capital
do país e por isso sua arquitetura destaca-se pela riqueza e influência direta da cultura portuguesa.
O conjunto arquitetônico mais conhecido
da capital Baiana é a Igreja de São Francisco
de Assis, o Convento de São Francisco e a
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco,
localizadas no centro da cidade. A Igreja de São
Francisco de Assis recebeu o título de “igreja
mais rica do Brasil” devido a ornamentação de
seu interior, praticamente todo revestido em
dourado. Característica marcante do barroco a
igreja segue o exagero decorativo nas curvas e
contracurvas, no uso de tonalidades douradas,
nas pinturas, nas talhas, nas colunas, entre
outros detalhes.
Assim como a maioria das igrejas
barrocas/rococós no Brasil, a fachada apresenta
detalhamentos nas portadas e janelas, detalhes
em pedras e espaços brancos, frontões e volutas,
além de seguir a verticalidade e grandiosidade
de uma construção robusta e com aparência
“pesada”.
Na fachada da Igreja da Ordem Terceira
de São Francisco, concluída em 1703 e
atribuída ao carpinteiro português Gabriel
Fachada da Igreja São Francisco, em Salvador, Bahia.
Ribeiro, percebemos acantos, estátuas, volutas, Imagem de acervo particular.

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relevos florais e curvos, colunas, brasões, ou seja, todos os exageros característicos do barroco
esculpidos sobre a estrutura de pedra calcárea.
O destaque no claustro do Convento de São Francisco são os azulejos portugueses em
tons de azul e branco finalizados em 1752. São 37 painéis que apresentam diversas cenas pagãs
e mitológicas greco-romanas. A maioria destas representações são adaptações de gravuras do
artista holandês Otto Van Veen e provavelmente foram executadas por Bartolomeu Antunes de
Jesus, que também assinou os painéis do altar da capela.

Vista interior Igreja São Francisco, em Salvador, Bahia. Imagem de acervo particular.

Fachada Igreja da Ordem Terceira de São Francisco,


Salvador, Bahia. Imagem de acervo particular.

Painel de azulejos no claustro


no Convento de São Francisco,
Vista azulejos claustro no Convento de São Francisco, em Salvador, Bahia. Imagem de acervo em Salvador, Bahia. Imagem
particular. de acervo particular.

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Barroco e Rococó no Rio de Janeiro


Devido à localização privilegiada com acesso ao mar e fácil escoamento da mineração de
Minas Gerais para Portugal, o Rio de Janeiro tornou-se em 1763 a sede do governo que anteriormente
localizava-se em Salvador.
Localizada no alto do morro da Glória, a Igreja Nossa Senhora da Glória do Outeiro é um
dos principais exemplos cariocas de construção barroca/rococó. Projetada pelo engenheiro militar
José Cardoso Ramalho e construída entre 1714 e 1739, a Igreja possui planta poligonal e azulejaria
portuguesa. Foi a Igreja preferida da Família Real, que em 1819 batizou ali a princesa Maria da
Glória, filha de D. Pedro I e D. Leopoldina. A partir de então todos os membros da Família Real
passaram a ser batizados na Igreja Nossa Senhora da Glória do Outeiro.

Igreja Nossa Senhora da Glória do Outeiro, 1714- Vista interna da Igreja Nossa Senhora
1730, no Rio de Janeiro. Disponível em: http://bit. da Glória do Outeiro, no Rio de Janeiro.
ly/30ieO1q Disponível em: http://bit.ly/2HgX2Ef

Devido à riqueza e importância política do Rio de Janeiro nesse período a arquitetura


desenvolveu-se rapidamente e novas estruturas foram construídas, como o Aqueduto da Carioca
(Arcos da Lapa), finalizado em 1723. Destinado a sanar o problema de falta de água trazendo-a do
rio Carioca até o largo da Carioca, os aquedutos do Bairro da Lapa, hoje são usados como via para
os bondinhos. Sua estrutura segue os aquedutos romanos formados a partir dos arcos.

Aqueduto da Carioca (Arcos da Lapa), 1723, Rio de Janeiro. Disponível em: http://bit.ly/2Q0tAFf

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Destaca-se também no Rio de Janeiro o escultor Valentim da Fonseca e Silva, conhecido


como Mestre Valentim (1750-1813). As esculturas do artista de santos em madeira com
características barrocas se espalham pelas igrejas cariocas revelando a intenção de movimento
através das curvas das vestes.
Posteriormente ao período barroco, Mestre Valentim produziu obras com características
Neoclássicas. Estas obras destacaram-se principalmente pela ocupações e exposição em locais
públicos, sendo ele responsável pelo projeto do Passeio Público (1779-1783), do Chafariz das Marrecas
(1789), do Chafariz das Saracuras (1795) e as esculturas fundidas em ferro Ninfa Eco (1783) e Caçador
Narciso (1785), que possuem originais no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e na Pinacoteca do
Estado de São Paulo.

Mestre Valentim, São Mateus, séc. Mestre Valentim, Ninfa Eco do Chafariz das
XVIII, madeira, 193 x 81 x 36cm, Acervo Marrecas, 1785, Jardim Botânico do Rio de
Museus Nacional. Disponível em: http:// Janeiro, Escultura em bronze. c. 1783. 178 x 81
bit.ly/2JCPiOr x 80 cm. Disponível em: http://bit.ly/2VzgOU5

Barroco e Rococó em Minas Gerais


É no estado de Minas Gerais que podemos afirmar que nasceu uma arquitetura brasileira
que foi financiada pelo ciclo do ouro que iniciou no final de século XVII. Já no século XVIII, por
volta de 1710, a população da região havia crescido consideravelmente e as primeiras vilas foram
fundadas, sendo que as sedes do poder político e religioso se concentrou em Ouro Preto, antiga
Vila Rica, e em Mariana. As cidades históricas mineiras ainda hoje proporcionam uma visita ao
passado ao entrarmos no interior de igrejas, cadeias, casarios e Museus.
O diferencial das construções barrocas desta região deve-se principalmente pelo afastamento
geográfico do litoral, o que favoreceu a experimentação e uso de materiais que substituíssem
aqueles que não poderiam ser importados de Portugal. Assim utilizaram-se da pedra sabão para
esculpir e pinturas para simular os azulejos portugueses.
Um dos diferenciais das Igrejas mineiras foi a utilização de plantas curvilíneas. A Igreja
Rosário dos Pretos, projetada pelo português Antônio Pereira de Souza Calheiros e executada por
outro português, José Pereira dos Santos, segue a planta circular, nesse caso, justapondo duas
elipses facilmente identificadas na fachada externa.

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Igreja do Rosário dos Pretos, Ouro Preto,


Minas Gerais. Imagem de acervo particular.

Um dos artistas mais conhecido desse período é Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho
(1730-1814). Excelente escultor, ele também projetou diversas igrejas mineiras, sendo estas
construídas por outras pessoas e adornadas por ele. O principal conjunto escultórico do artista
encontra-se em Congonhas do Campo, no Santuário Bom Jesus de Matosinhos. No Adro em frente
ao Santuário estão as Capelas com esculturas de madeira de Aleijadinho compondo os Passos da
Paixão de Cristo. No interior de cada capela há uma cena tridimensional dos passos de Cristo.
Em frente à fachada do Santuário estão doze profetas esculpidos por Aleijadinho em pedra
sabão: Isaías, Jeremias, Baruque, Ezequiel, Daniel, Oseias, Jonas, Joel, Abdias, Habacuque, Amós
e Naum.

Fachada do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, esculturas
Campo, MG. Imagem de acervo particular. no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos - Profeta
Abdias, em Congonhas do Campo, MG. Esculturas
em pedra sabão. Imagem de acervo particular.

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Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho,


esculturas na capela Passos da Paixão -
Adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos/vista geral das Capelas dos Crucificação de Cristo, no Santuário de Bom
Passos da Paixão de Cristo, em Congonhas do Campo, MG. Imagem de Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo,
acervo particular. MG. Esculturas em madeira. Imagem de acervo
particular.

Uma das Igrejas projetadas por Aleijadinho em Ouro Preto é a Igreja de São Francisco de
Assis. A pequena Igreja de planta circular encanta por seus entalhes e pintura no teto da nave. Na
fachada apresenta uma característica barroca desenvolvida em Minas Gerais, o uso do entalhe
ornamental em pedra-sabão nas portadas frontais, trazendo o detalhamento interior para o exterior
das construções religiosas.
A pintura do teto da nave da Igreja de São Francisco de Assis foi realizada por Manuel da
Costa Ataíde (1762-1830). Com um pleno domínio sobre a técnica da perspectiva esse artista pintou
diversos forros de igrejas e painéis para sacristias e paredes. Nessa pintura ele sugere a continuação
das colunas até o céu. No centro representa nossa Senhora com traços afrodescendentes marcados
em seu rosto, impondo de certa maneira a sua descendência diante das encomendas da burguesia
e da corte portuguesa.

Fachada da Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Interior da Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas
Gerais. Disponível em: http://bit.ly/2Vl2BVX Gerais. Pintura no teto de Manuel da Costa Ataíde, Assunção
de Nossa Senhora. Disponível em: http://bit.ly/2Q4iwH5

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Barroco e Rococó em São Paulo


Diferente dos locais que analisamos
até agora, São Paulo estava fora da rota do
ouro ou da cana-de-açúcar, assim, as igrejas
e construções barrocas que foram realizadas
são muito modestas e simples. Entre elas
destacamos a Igreja e Convento da Ordem
Terceira de São Francisco da Penitência e a
Igreja e Convento de Nossa Senhora da Luz,
que atualmente abriga o Museu de Arte Sacra
de São Paulo.
As esculturas barrocas paulistas são
muito simples, geralmente confeccionadas
com barro cozido. As pinturas também
demonstram a simplicidade e até mesmo falta
do domínio de técnica como a perspectiva tão
usada no período. Por falta ou pouco recurso
para patrocinar os artistas, as pinturas
geralmente eram realizadas por autodidatas
como a pintura do Frei Jesuíno do Monte
Carmelo (1764-1818) no teto da Igreja Nossa Frei Jesuíno do Monte Carmelo, pintura no teto da capela-mor
Senhora do Carmo, na cidade de Itú. da Igreja do Carmo, em Itú, São Paulo. Disponível em: http://bit.
ly/2YqoeGs

Construções Jesuíticas – Sul do Brasil


Com o objetivo de catequizar os indígenas no Sul do Brasil desenvolveram-se no século
XVIII as construções jesuíticas. As reduções ou missões jesuíticas eram coordenadas pelos padres
e formavam pequenas comunidades com igreja, colégio, cemitério, oficinas, enfermarias, moradias
para os padres e para população indígena Guarani.
Devido ao local e modo como desenvolveram-se as esculturas e a arquitetura missioneira
apresentaram caráter religioso, com influência barroca, mas acima de tudo retrataram as
características de quem as produziu: os índios Guaranis.
Embora em
ruínas a construção
mais preservada desse
período pertence à
Missão de São Miguel,
no Rio Grande do Sul,
sendo a edificação mais
conservada a da Igreja
de São Miguel. A maioria
das Igrejas missioneiras
era estruturada com
madeira para suportar
o teto, mas essa Igreja
diferencia-se sendo
construída com pedra
Ruínas da Igreja de São Miguel das Missões, vista das ruínas do antigo templo da redução,
arenito. Demorou dez Rio Grande do Sul. Imagem de acervo particular.
anos para ficar pronta e

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Unidade 2 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

foi projetada pelo jesuíta italiano Gian Batista Primoli, em 1735. Mesmo sem estar completamente
inteira, percebemos as características barrocas nas curvas da fachada, nos frontões, nos arcos,
nas volutas e nos relevos nas pedras.
As inúmeras esculturas em madeira que adornavam a Igreja, os sinos e outras obras
encontradas na região estão hoje no Museu das Missões, projetado em 1940 pelo arquiteto Lúcio
Costa no pátio das reduções jesuíticas.

Vista lateral Ruínas da Igreja de São Miguel das Missões, Rio Grande do
Sul. Imagem de acervo particular.

Santo Antônio de Pádua e São Benedito.


Escultura missioneira, madeira policromada, séc.
XVII e XVIII. Museu das Missões, São Miguel das
Missões, Rio Grande do Sul. Imagem de acervo
particular.

Museu das Missões, projeto de Lúcio Costa. São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul. Imagem de acervo particular.

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

Anotações

98
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

A Idade Contemporânea é marcada por importantes fatos políticos e consequentemente


importantes mudança na arte, iniciando-se com o fim do absolutismo e a implantação de governos
democráticos. É um período marcado pela Revolução Industrial, a consolidação do capitalismo e a
luta de classes. Nesse período, diversos momentos distintos e com características particulares são
identificados na arte.

13. NEOCLASSICISMO

Embora nenhuma data na história da arte seja exata, o período do neoclassicismo ocorreu
aproximadamente entre 1750 e 1850, sendo um estilo de transição entre o século XVIII e XIX.
Após as descobertas científicas já realizadas até então e o consequente esclarecimento cultural de
algumas pessoas, manter o pensamento e condição submissa à igreja e à coroa tornava-se cada
vez mais difícil. Assim, o período Neoclássico é marcado pelo Iluminismo, onde acreditava-se que
tudo funcionava de modo regular e ordenado na natureza considerando-se a observação e a razão,
e também pelas mudanças advindas da Revolução Francesa.
A partir da observação e uso da razão para compreender os fenômenos iniciam-se também
os questionamentos sobre o sistema social e político no qual a França estava alicerçada até então.
Esses desacordos em relação à religião católica e ao poder destinado ao rei os levam aos princípios
fundadores da democracia.
Contrariando a frivolidade e representações da vida da aristocracia detalhadas nas obras
do estilo Rococó, a arquitetura, as esculturas e pinturas Neoclassicistas retomam a racionalidade,
o equilíbrio e os temas da arte greco-romana e renascentista. Por considerarem que a arte do
período clássico retratava com primorosa técnica principalmente a verdade, as obras arquitetônicas
e as esculturas deste período serão imitações de estruturas, poses, técnicas, luminosidade, cores
e temáticas das obras anteriores, em alguns casos podendo ser identificadas apenas pela data de
sua produção e, em outros por poucos elementos que remetem ao tempo atual.
A retomada dos temas e técnicas clássicas se deve ao modo extraordinário como estas obras
foram realizadas muitos séculos antes, mas também a alguns fatos históricos do período, como as
escavações em Herculano, em 1738, e em Pompéia, em 1748, fato que revelou inúmeros detalhes
de obras e da vida segundo os padrões clássicos. Também foi a partir destes descobrimentos que
o historiador e arqueólogo alemão Johann Joachim Winckelmann (1717-1768), considerado o
“pai da história da arte” estabeleceu distinções sistemáticas entre os diferentes estilos artísticos
executados até então.

ARQUITETURA NEOCLÁSSICA

As edificações neoclássicas não deveriam servir apenas aos caprichos da corte e da


aristocracia, mas responder as necessidades sociais e econômicas do povo. Assim não se destinam
apenas a burguesia e suas principais características podem ser percebidas em casas particulares,
hospitais, manicômios, cemitérios, pontes etc. As construções arquitetônicas deveriam estar a
serviço da coletividade, deste modo, necessitariam ser racionais e práticas.

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

A Igreja de Santa Genoveva em Paris, conhecida como Panthéon de Paris, projetada pelo
arquiteto francês Jacques Germain Soufflot (1713-1780), é um exemplo de edificação Neoclássica
que retoma os padrões greco-romanos. Foi construída entre 1764 e 1790, sendo finalizada por
Jean Baptiste Rondelet. Embora sua destinação inicial seja ser uma igreja durante quase 100 anos
mudou diversas vezes de função, servindo tanto para fins religiosos quanto patrióticos. Desde
1885 ficou definitivamente sendo o lugar onde encontram-se os túmulos de importantes figuras
históricas, grandes nomes das ciências, das artes, da política e de militares franceses.
A fachada de edificação foi
claramente inspirada no Panthéon
Romano, com 22 colunas e o
frontão adornados com relevos
de autoria de David d’Angers.
No frontão está a inscrição:
“Aux grands hommes, la patrie
reconnaissante” (“Aos grandes
homens, a pátria é grata”) em
homenagem aos que ali estão
enterrados. A grande cúpula do
Panthéon foi inspirada na Catedral
de Saint Paul, em Londres
e é completamente rodeada
de janelas. Mesmo distante
temporalmente os arquitetos
retomaram as características,
as técnicas, o equilíbrio e a
organização das edificações
clássicas.
Igreja de Santa Genoveva, Panthéon de Paris, 1758-1790. Paris, França.
Disponível em: https://bit.ly/2LGhmmN

Em Berlim, na Alemanha o Altes Museum (Museu Antigo), construído entre 1824 e 1828
e projetado pelo arquiteto Karl Friedrich Schinkel, também retoma em sua fachada a simetria, o
uso de colunas e o equilíbrio de uma construção clássica. Embora seja imperceptível a forma
arredondada em seu exterior, o centro da edificação apresenta uma grande cúpula com efeitos
decorativos de pintura e relevos convergindo para o óculo no centro.

Altes Museum, 1824-1828, em Berlim, Alemanha. Disponível Vista interna da cúpula, Altes Museum, 1824-1828, em Berlim,
em: https://bit.ly/2Jic3YI Alemanha. Disponível em: https://bit.ly/2WOuvek

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

Fundado em 1753 em Londres, o Museu Britânico impressiona por sua grandiosidade.


Elementos clássicos como a coluna e o frontão compõe sua fachada. Assim como o museu na
Alemanha seu centro abriga uma cúpula que no interior dialoga com elementos arquitetônicos
clássicos e modernos. Iniciado a partir da coleção do médico e cientista irlandês Sir Hans Sloane,
o Museu Britânico é considerado o primeiro museu nacional público do mundo e é dedicado a
história, as artes e a cultura.

Museu Britânico, em Londres. Disponível em: https://bit. Vista aérea do Museu Britânico, em Londres. Disponível em:
ly/2JCizJ9 https://bit.ly/2vRLLDU

ESCULTURA NEOCLÁSSICA

Nas obras do escultor Antonio Canova (1757-1822) compreendemos a retomada não só


das técnicas clássicas para construção tridimensional, mas também a reprodução de temas,
poses ou referenciais para suas obras. Na escultura Napoleão como Marte, o Pacificador
percebemos a inspiração na obra escultórica do imperador Romano Augusto
de Prima Porta, tanto pelos gestos quanto pelo uso de tecido apoiado sobre o
braço esquerdo. A idealização do corpo humano tal qual os gregos e romanos
faziam não correspondia ao corpo natural de Napoleão.
Na obra Paolina Borghese como Vênus da Victrix, a figura feminina
é retratada segundo a pose das representações das Vênus e
Deusas mitológicas, embora se trate de uma representação
humana. Pela maçã que segura em sua mão deve referir-se
à Afrodite, embora o tecido cobrindo-a parcialmente lembre
a representação da Vênus de Milo. Assim, as
esculturas Neoclássicas imitam as obras
gregas e romanas, nas temáticas e atitudes,
para a retratação de pessoas importante
da época.

Antonio Canova, Napoleão como Marte,


Antonio Canova, Paolina Borghese como Vênus da
o Pacificador, 1803-1809. Disponível em:
Victrix, 1804-1808. Disponível em: https://bit.ly/2PY2Hlp
https://bit.ly/2PY2Hlp

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

PINTURA NEOCLÁSSICA

A pintura Neoclassicista foi a linguagem artística que apresentou diferenças em relação


ao período clássico embora ainda retome os temas religiosos e mitológicos representados pelos
gregos e romanos. Diferentemente das obras triviais, abordando assuntos superficiais e até imorais
da aristocracia francesa no período Rococó, as pinturas Neoclássicas buscam a moral e os valores
que se perderam durante o período anterior. A pintura neoclássica defendeu os interesses dos
revolucionários franceses, chegando em alguns momentos a ser até mesmo panfletária.

Jacques-Louis David (1748-1825)
Revolucionário jacobino francês, David foi um dos principais representantes da pintura
Neoclássica. Buscava nos temas clássicos da religião e mitologia e na história romana exemplos
de bravura, valores, virtudes e moral para exaltar o patriotismo e opor-se ao estado. Usava sua arte
para repassar mensagens de encorajamento aos revolucionários, como na pintura O Juramento dos
Horácios e Os Liteiros trazem a Brutus os cadáveres de seus filhos. A primeira representação mostra os
trigêmios romanos Horácios fazendo um juramento ao pai antes de partirem para luta. Refere-se
as guerras entre as cidades de Roma e Alba. Embora tenham relações familiares entre eles e a
família Curiacis, de Alba, eles partem para luta com os trigêmeos Curiacis colocando os deveres e
propósitos de todos acima dos seus.
A segunda pintura retrata um fragmento da história romana sobre a chegada dos corpos
dos filhos de Brutus a sua casa. Brutus foi um revolucionário que incitou o povo contra a família
real dos Tarquínios e instaurou a república, na forma de consulado. Quando uma conspiração por
parte dos Tarquínios foi descoberta, ele constatou que seus filhos tinham o traído e ordenou suas
mortes. A chegada dos corpos ao lar mostra o sofrimento das mulheres e a seriedade de Brutus no
cumprimento de seu dever político e social acima dos laços familiares.
Nas duas pinturas David usa com rigor as técnicas de perspectiva, o equilíbrio, a simetria, a
linearidade, a arquitetura com colunas gregas e arcos romanos, entre outros recursos clássicos de
representação, mas seleciona da história romana cenas que trazem mensagens de patriotismo e
colocação das causas políticas e sociais, inclusive acima de interesses pessoais e familiares.

Jacques-Louis David, O Juramento dos Horácios, 1784-1785, Jacques-Louis David, Os Liteiros trazem a Brutus os cadáveres
329,8 x 424,8cm, óleo sobre tela. Museu do Louvre. Disponível de seus filhos, 1789, óleo sobre tela, 323cm x 422cm. Museu
em: https://bit.ly/2XUbpE0 do Louvre. Disponível em: https://bit.ly/2vXW893

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

A principal pintura de David é A morte


de Marat. A obra trata-se de um memorial a um
dos principais líderes da Revolução Francesa,
Jean-Paul Marat, morto em sua banheira por
uma monarquista que usou como pretexto
entregar-lhe uma carta. Na pintura ele ainda
segura em uma das mãos a carta, e seu
outro braço cai de modo semelhante ao braço
largado de Cristo na Pietá de Miguelangelo. O
ferimento que causou a sua morte destaca-se
em seu corpo idealizado e diferente de como
Marat realmente era, pois ele sofria de uma
doença na pele que o havia deformado - por
isso o lençol sobre a banheira e as longas horas
que passava imerso. Abaixo de sua assinatura
percebemos a inscrição Ano II, referindo-se
ao segundo ano da Revolução. David retrata
o Marat logo após sua morte, utilizando-se de
recursos técnicos clássicos, mas com uma
temática atual.

David foi preso em 1794 devido ao seu


envolvimento com as causas da Revolução
Francesa. Após ser solto, contrariando seus
ideais durante a Revolução, tornou-se um dos
principais pintores de Napoleão Bonaparte, o Jacques-Louis David, A morte de Marat, 1793, 165 x 128cm, óleo
sobre tela. Disponível em: https://bit.ly/2E0qw7l
novo imperador Francês.

Jean Auguste-Dominique Ingres (1780-1867)


Ingres possui obras com características Neoclássicas,
mas que depois de determinado momento suas obras
ultrapassam esses limites, sendo talvez um dos artistas de
transição do Neoclassicismo para o Romantismo. Ele foi
um dos discípulos de David. Valorizava primeiramente o
desenho e suas pinturas refletem a preocupação que ele
tinha com essa linguagem artística. Pintou diversos retratos
de Napoleão, entre eles o Retrato de Napoleão Bonaparte I em
seu trono imperial no qual retrata o imperador com toda pompa
e detalhamento de riqueza e poder que um governante deve
ter, transmitindo a ideia de que Napoleão era muito poderoso,
tanto quanto o imperador Carlos Magno representado em
seu cetro esquerdo. O bastão da justiça, a coroa de louros, a
medalha da Legião de Honra, a capa de pelo de arminho e as
simbologias desenhadas no tapete ampliam a magnitude do
retrato. Nessa obra percebemos a continuidade das regras
clássicas, com a composição equilibrada, o tema principal
centralizado, a linearidade e simetria da cena.
Jean Auguste-Dominique Ingres,
Retrato de Napoleão Bonaparte I em
seu trono imperial, 1806. Disponível
em: https://bit.ly/30fb94n

104
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Já na obra A grande Odalisca, Ingres foge de uma das principais regras clássicas: a precisão
e cuidado com a anatomia humana. Esse retrato foi uma encomenda de Caroline Murat, irmã de
Napoleão. Resgatando um tema mitológico de Deusas ele cria um cenário sensual imaginário do
oriente – representado pelo broche de rubi, o turbante, a pulseira de ouro, o leque de penas de
pavão e o espelho com pedrarias virado para baixo – e retrata a figura feminina como uma das
odaliscas de um harém. Embora trabalhe detalhadamente os tecidos e objetos da cena, Ingres
apresenta uma mulher anatomicamente alongada e com as pernas deformadas – sem um encaixe
real. Estas distorções propositais do artista em vários nus femininos que pintou nesse período são
inspirados pela busca de uma sensualidade exagerada, mais expressiva, sem perder, no entanto,
a harmonia geral da cena.

Jean Auguste-Dominique Ingres, A grande Odalisca, 1814. Museu do Louvre. Disponível


em: https://bit.ly/2Vl3PQQ

14. ROMANTISMO
As características das obras Românticas opõem-se às Neoclássicas, mas não podemos
afirmar que foi apenas a reação de um movimento ao outro. O Romantismo não apenas desvinculou-
se da formalidade, do equilíbrio e dos regramentos do estilo clássico, mas foi além disso. Um dos
principais influenciadores deste momento emotivo tão forte por parte dos artistas foi o contexto
histórico do período e a literatura.
Ao mesmo tempo em que a Revolução Industrial mudou significativamente a vida das
pessoas com a descoberta da luz elétrica e da construção de estradas férreas, por exemplo, ela
trouxe insegurança, angústia e o medo do desconhecido. O sentimentalismo exagerado dos artistas
românticos demostrava essa insegurança em relação ao novo, ao mesmo tempo em que buscaram
a valorização dos elementos da natureza para contestar as novidades tecnológicas do período.
Em 1774 o escritor alemão Johan Wolfgang Von Goette lança o livro O sofrimento do Jovem
Werther (1774) que apresenta as aflições, angústias, decepções e anseios de um jovem artista. Esse
romance influencia o modo de vestir e agir de uma geração que dramatizou de modo exagerado
cada sentimento, chegando em alguns casos ao suicídio assim como o personagem principal da
história. Essa narrativa exemplifica o modo de agir, pensar e produzir dos artistas do romantismo,
expressando de modo excessivo suas emoções.
A arte do romantismo abordou temáticas como o herói real, a individualidade e subjetividade
de cada artista, a influência oriental e a representação da natureza. As cenas e os personagens
pintados pelos românticos são heróis de seu tempo, pessoas do povo ou figuras representativas de

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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suas causas. Diferentemente dos Neoclássicos não buscavam seus heróis nas histórias mitológicas
ou romanas. Cada artista romântico tem seu modo próprio de representar as cenas, mesmo que
elas já tenham um padrão representacional na história. A subjetividade de cada artista é levada em
conta pois trata da visão particular dele sobre o tema.
Alguns artistas do romantismo recorrem aos temas, objetos e características orientais para pintar,
isto deve-se também a uma fuga de sua própria realidade, segundo eles, incerta pelas inovações
da Revolução Industrial. A temática de paisagens e demonstrações da força da natureza aparece
como um dos principais focos do romantismo pois lhes garantem a exaltação de algo conhecido,
respeitado e admirado por eles: a natureza. As descobertas e inovações industriais ainda eram
incertas e assustadoras para a maioria das pessoas neste momento.

Theodore Géricault (1791-1824)


Géricault apresenta heróis reais em suas pinturas. Na obra A balsa da Medusa ele representa
os sobreviventes da Embarcação Medusa, que a mando do rei partiu da França rumo ao Senegal
(então colônia francesa) com aproximadamente 400 pessoas a bordo. O navio encalhou em alto
mar e o capitão ordenou que com a madeira da embarcação fosse feita uma jangada que seria
rebocada pelos poucos botes salva-vidas que haviam - onde estavam o capitão e a burguesia. Com
o passar do tempo, por ordem do capitão, as jangadas foram deixadas a deriva com 150 homens.
Eles sentiram fome e sede e ocorreram mortes, assassinatos e até mesmo relato de canibalismo
sobre as balsas. O navio Argus encontrou a jangada com apenas 15 sobreviventes.
Essa é uma pintura anti-heroica para o capitão do navio Medusa que abandonou passageiros
e tripulantes em alto mar. Mas é uma representação de heróis comuns, que lutaram para sobreviver.
Para realizar esta pintura Géricault entrevistou sobreviventes e construiu uma jangada em
tamanho real em seu ateliê. Ele buscava a emoção e a verdade do momento de alegria e ao mesmo
tempo desespero quando os homens a bordo da jangada avistam uma embarcação no horizonte.

Jacques-Louis David, A morte de Marat, 1793, 165 x 128cm, óleo sobre tela.
Disponível em: https://bit.ly/2E0qw7l

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Eugène Delacroix (1798-1863)


A emoção representada nas obras de Delacroix nos leva a crer que ele estava presente
quando o fato ocorreu, tamanha a genialidade e paixão suscitadas por suas pinturas. É de Delacroix
o primeiro quadro político realizado na história da pintura: A Liberdade Guiando do Povo. A cena
representa um momento do conflito francês em que a figura alegórica personificada da Liberdade
transpõe as barricadas de paralelepípedos construídas nas ruas de Paris. A cidade pode ser
identificada pela Catedral de Notre-Dame ao fundo. A inserção de diferentes pessoas, de diversas
classes sociais – identificadas pelas vestimentas ou armamentos que carregam–, indicam a união
de distintos grupos sociais para lutar contra a monarquia e a burguesia francesa.
Tanto para Delacroix quanto para outros artistas deste período a liberdade refere-se à
independência nacional. O artista apresenta o povo como herói, lutando para alcançar aquilo que
eles acreditavam ser a liberdade.

Eugène Delacroix, A Liberdade Guiando o Povo, 1830, 2,60 x 3,25m. Museu do Louvre.
Disponível em: https://bit.ly/2VA0jr4

Tanto Géricault quando Delacroix não abandonaram completamente as técnicas do passado.


Eles se aproveitam delas, como organizar em triângulo as composições ou utilizar-se da luz para
criar maior dramaticidade na cena. E ainda que ambos utilizem a mesma técnica de composição
o primeiro direciona nosso olhar para dentro da pintura, focando no horizonte, enquanto a obra de
Delacroix traz as figuras para frente. Nesta pintura a “Liberdade” as convida a marcharem para
além das barricadas, dando a impressão de que estão prestes a saírem da pintura.

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Francisco José de Goya y Luciente (1746-1828)


Ao mesmo tempo em que Goya foi o pintor oficial da corte de Carlos IV, no século XVIII, ele
retratou cenas do terror do povo espanhol e principalmente seus próprios fantasmas e horrores.
Goya foi privado de audição em 1973 e talvez este seja um dos motivos pelo qual rompe com
qualquer barreira do pitoresco, do grotesco e das excentricidades em seu trabalho.
As ideias iluministas e revolucionárias demoraram um tempo para chegar na Espanha
e, quando chegam, Goya posiciona-se ao lado da nação espanhola contra os franceses. Goya
retrata diversos momentos desta revolução, como a pintura Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808.
Esta obra é uma representação expressiva de revolucionários espanhóis sendo fuzilados pelos
soldados franceses. Os soldados são retratados sem rostos, agindo como se fossem marionetes
uniformizados em nome da violência imposta por Napoleão. Os espanhóis que estão prestes a
morrer apresentam o medo no olhar e neste momento não parecem lembrar-se da causa pela qual
estavam lutando. A cena é o momento da execução, da morte e carnificina de homens enquanto a
cidade “dorme” ao fundo.

Francisco de Goya, Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808, 1814-1815, 2,63


x 10m. Museu do Prado, Madri. Disponível em: https://bit.ly/2JCGWGz

Seus últimos anos de vida foram na Quinta del Sordo


onde entre 1820 e 1824 realiza as “pinturas negras” nas
paredes de sua casa. Entre elas está Saturno devorando
um filho, onde retrata de modo expressivo a cena de
canibalismo pertencente a mitologia. Ao devorar os filhos
Saturno acreditava que estaria evitando a profecia que
afirmava que um de seus filhos o destronaria. Esta é a fase
das obras mais grotescas e sombrias do artista que vivia no Francisco de Goya, Saturno devorando um filho,
1819-1823, 1,43 x 81 cm. Disponível em: https://
silêncio. bit.ly/2LAUtRp

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Caspar David Friedrich (1774-1840)


Friedrich busca representar o sublime
da natureza, sua intempestividade e soberania,
contrapondo-a a condição humana. Na obra O
viajante sobre o mar de névoa ou Andarilho acima do
mar de neblina, Friedrich retrata um aristocrata
– identificado assim por seus trajes – sobre as
rochas observando o horizonte. O artista aponta
contradições e suposições nessa pintura:
Seria o domínio do homem, imponente sobre
a natureza? Ou o domínio da natureza com
sua grandiosidade e poder sobre o homem?
Diversas obras de Friedrich nos trazem essas
mesmas reflexões.
Caspar David Friedrich, O viajante sobre o mar de névoa, 1818.
Disponível em: https://bit.ly/1p2dhZX

Joseph Mallord Willian Turner (1775-1851)


Turner trabalha
principalmente a mancha para
representar a natureza. Ele foge
do controle ou da razão para
representar suas paisagens e
apresenta o espaço como algo
infinito, que podemos observar
por uma agitação de forças. Na
pintura Chuva, Vapor e Velocidade
ele contrapõe a natureza ao seu
principal “inimigo” no momento:
a industrialização. Os trens a
vapor revolucionaram questões
de tempo e espaço e o modo de
vida das pessoas. Turner mostra
parcialmente a locomotiva cortando
a chuva rapidamente. Mesmo
com manchas percebemos tanto
Willian Turner, Chuva, Vapor e Velocidade, 1844, 91 x 1,22m, óleo sobre tela.
a chuva quanto a velocidade do Galeria Nacional, Londres. Disponível em: https://bit.ly/2Q3L3N1
trem, que contrasta com o pequeno
barco à esquerda. O artista traz
para a arte o contraste das forças naturais com a força das máquinas, a forma desintegra-se com
a pincelada e a natureza é apontada como algo sublime - ao mesmo tempo temida e admirada.

Tanto o Classicismo quanto o Romantismo são modos de idealizar as figuras, as cenas e


representações, seja de fatos históricos ou fatos mitológicos. O primeiro nos leva à representação
formal, equilibrada e racional das formas. São cenas com poses forçadas e figuras linearmente
traçadas. Já o Romantismo é a idealização da emoção, dos sentimentos exagerados sob a ótica
de cada artista.

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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15. REALISMO

Depois de distintos modos de idealizar a realidade, independentemente do tema, na metade


do século XIX os artistas sentem a necessidade de pintar e esculpir assuntos do seu tempo.
Influenciados pelo advento da fotografia ampliam o modo de observar a vida ao seu entorno. A
cidade de Paris, nesse momento, está estruturada de modo novo, seguindo o ritmo acelerado
imposto pela industrialização. Grandes palácios e templos religiosos não são mais o foco das
construções. As cidades necessitam de fábricas, centros comerciais, redes de esgoto e iluminação,
estações ferroviárias, hospitais, entre outras edificações que atendam todas as classes sociais.
Com todas as mudanças no ritmo e organização das cidades, a divisão de classes, os abusos
de autoridade, o trabalho infantil, a posição fragilizada da mulher na sociedade, as injustiças e
desigualdades entre as classes trabalhadoras e a burguesia, geram as primeiras lutas sociais.
Dentro deste contexto, o artista do realismo torna-se um ator político, que denuncia através de
imagens estas disparidades de grupo.
O período do Realismo não trata de representar fielmente a imagem como se fosse uma
fotografia, mas registrar a realidade social, econômica e cultural do povo, principalmente das
classes menos favorecidas.
Nesse período os grandes artistas tinham como objetivo ser aceitos no Salão Oficial de Paris
– Salão da Real Academia Francesa de Pintura e Escultura–, onde obteriam o reconhecimento por
suas obras. Os juris do Salão, responsáveis por selecionar quem apresentaria seus trabalhos na
exposição anual, seguiam os padrões acadêmicos clássicos. Devido a premiações anteriores – o
que por alguns anos garantiu a participação sem a seleção do júri – os artistas realistas como Millet
ou Coubert chocaram os espectadores expondo obras que contrariavam as normas clássicas.

PINTURA NO PERÍODO REALISTA - Jean-François Millet (1814-1875)


Millet pinta utilizando-se das características de períodos anteriores, como o clássico – por
sua linearidade – ou o romântico - pelo modo como suaviza a cena com cores ou movimentos
leves. Seu diferencial está nas temáticas que aborda: o cotidiano de camponeses, o dia a dia de
pessoas comuns. Essas pinturas, quando expostas no Salão, agradavam a burguesia, pois eram
pinturas pequenas, e embora o tema fosse rude segundo a avaliação acadêmica, ele suaviza pela
cor, pela aparência modesta, mas bem vestida dos personagens. Essa simpatia devia-se ao fato
de que as cenas, figuras ou temas não afrontavam a burguesia, considerando os questionamentos
que eram feitos pelas classes trabalhadoras neste
momento.
Na pintura As respigadeiras Millet apresenta
trabalhadoras do campo, retratadas de modo
suave. A imagem traz a sensação de silêncio
e tranquilidade, dado em parte pelo uso da
perspectiva aérea, diluindo as formas no horizonte.
Mas a obra denuncia o modo como eram tratadas
as mulheres que trabalhavam no campo. Ao fundo
percebe-se a colheita que acabou de ser realizada
no local, e no primeiro plano três mulheres juntam
os restos de trigo que sobrou. Embora o tema seja
forte e de denúncia, Millet representa como se as
mulheres estivessem posando delicadamente para
ele, estão bem vestidas e parecem bem nutridas. Jean-François Millet, As respigadeiras, 83 x 110cm, óleo
sobre tela. Disponível em: https://bit.ly/2cWqZXI

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Unidade 3 | Capítulo
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Gustave Courbet (1819-1877)


Courbet é o principal artista do período
Realista. Ele não suaviza e nem esconde a dura
realidade dos trabalhadores, tanto da cidade
quanto do campo. Posiciona-se politicamente,
sendo inclusive preso por sua participação ativa
na Comuna de Paris, em 1871. Reconhecido
por sua personalidade e ego inflamados ele
produziu diversos autorretratos ao longo dos
anos e foi o personagem principal de muitos
panfletos, tirinhas e materiais de divulgação ou
repúdio das classes.

Coubert afirmava pintar a vida real, a Gustave Courbet, O homem desesperado, autorretrato, 1845.
Disponível em: https://bit.ly/2HhiJE6
realidade dos trabalhadores, com suas roupas
esfarrapadas em lugares comuns como fábricas,
casas ou no campo. Denunciava através das
imagens o trabalho infantil e de idosos em lugares
e atividades insalubres e até perigosas. Na obra
Moças peneirando o trigo mostra a atividade de
mulheres, geralmente renegadas a um segundo
plano, atuando a mercê do mercado de trabalho.
Elas peneiram o trigo em uma sala suja, sentadas
no chão, com paredes marcadas e um olhar
cansado, entediado. Esta pintura foi exibida pela
primeira vez em 1855 no Salão de Paris.

Na enorme pintura O enterro em Orleans
(cidade natal do artista), Courbet atribui a uma Gustave Courbet, Moças peneirando o trigo, 1853-1854,
cena comum, composta por pessoas comuns, a 131 x 167cm. Disponível em: https://bit.ly/1pGV57W
grandiosidade de uma pintura histórica. Até então
somente as pinturas com importância histórica elevada ou personagens representativos, assim como
religiosas ou mitológicas tinham medidas maiores. Os temas “menores” eram apresentados em telas
menores. Na cena do enterro de seu tio-avô Courbet retrata seus familiares, amigos, alguns membros
da igreja e, inclusive um cachorro de caça. O foco da pintura concentra-se na cova no primeiro
plano e na figura do
coveiro centralizada.
Contrariando o
que esperavam os
acadêmicos e a
burguesia da época,
Courbet retrata
um acontecimento
corriqueiro, com
pessoas comuns e
em um local sem
grande importância.

Gustave Courbet, O enterro em Orleans, 1849-1850, 315 x 668cm. Museu d’Orsay. Disponível em:
https://bit.ly/1I5ECTl

111
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

ESCULTURA NO PERÍODO REALISTA


Auguste Rodin (1840-1917)
As esculturas de Rodin circulam facilmente por diferentes períodos artísticos. Ele foi estudioso
das estátuas clássicas e das obras de Miguelangelo dominando a anatomia do corpo humano,
as formas e materiais tal qual os artistas clássicos haviam feito, conquistando em seu tempo o
mesmo reconhecimento que seus antepassados. O fato de nem sempre finalizar totalmente a obra
deixando aparente parte dos blocos de mármore ou pedras caracterizou alguns de seus trabalhos
como impressionista. Sobre este fato, o artista afirmava que era preciso deixar um espaço para a
imaginação dos espectadores.
Mas algumas de suas esculturas tratam de temas do realismo, como no conjunto escultórico
Os burgueses de Calais. Nessa obra retrata seis
cidadãos importantes da cidade de Calais que
voluntariamente se ofereceram como reféns ao
rei Eduardo III, da Inglaterra, para que fossem
executados no lugar de toda população. A
cidade francesa ficou sitiada por 11 meses e
ao renderem-se devido a fome o rei ordenou
que todos fossem mortos, mudando de ideia
depois que os burgueses se ofereceram para
morrer no lugar do povo. Na escultura os
burgueses são retratados no momento em
que estão sendo levados para execução. O
conjunto é dramático, eles são apresentados
descalços, com roupas esfarrapadas e cordas
nos pescoços. Andam lado a lado, mas não
encostam uns nos outros, parecem participar
de um sacrifício coletivo, mas cada um
vivencia esta experiência individualmente.
Auguste Rodin, Os burgueses de Calais, 1884-1895, bronze.
Disponível em: https://bit.ly/2vTF4B8

ÉDOUARD MANET (1832-1883)

Reconhecidos por alguns críticos e historiadores como o “pai da Arte Moderna e/ou do
Impressionismo” Manet é apresentado separadamente considerando suas particularidades. Filho de
família burguesa ele recusa-se a seguir a carreira do pai, a advocacia. Fica embarcado por algum
tempo como aprendiz de marinheiro e depois de duas tentativas frustradas de aprovação na Escola
Naval segue seu desejo e começa a frequentar o ateliê de Thomas Couture (1815-1879).
A vida de Manet pautou-se pela busca por aprovação de seus trabalhos e principalmente
dos juris do Salão Oficial de Paris, no qual foi tanto recusado quanto aceito. No início de sua
carreira seu trabalho teve influência da cultura e das produções de artistas espanhóis, como Goya
e Velazquéz. Manet incomodava-se com as representações idealizadas e principalmente com as
poses clássicas adotadas pelos modelos nos ateliês. A busca por poses naturais e modelos reais
fez algumas pinturas de Manet mudarem os rumos da história da arte.
Na obra Almoço na Relva, recusada no Salão de 1863 e exposta no mesmo ano no Salão
dos Recusados (Salon des Refusés), Manet chocou o público ao apresentar uma cena real, com
modelos reais em uma composição inspirada em obras clássicas, como o Concerto Campestre (1509),
de Ticiano ou Giogione e um detalhe da gravura O julgamento de Paris (1510-1520) de Marco Antonio
Raimondi. Na cena estão dois homens (provavelmente Ferdinand Lenhorff - cunhado de Manet – e

112
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Eugene ou Gustave Manet – irmãos do artista) trajados com roupas da época acompanhados de
uma mulher nua (Victorine Meurent) e uma seminua banhando-se ao fundo. A pintura chocou por
retratar pessoas conhecidas em uma cena real. A mulher nua não se trata de uma figura alegórica
mitológica e, além disto, olha diretamente para o espectador como se estivesse o afrontando.
A técnica usada também não segue os padrões clássicos. A mulher nua é representada sem
claro-escuro, sem sombras ou intenção de tridimensionalidade, sua forma é plana. As árvores e o
gramado recebem pinceladas soltas e sem cuidado, o pictórico é representado nestes elementos.

Ticiano ou Giorgione, Concerto campestre, 1509, 1,10 x 1,38m. Marco Antonio Raimondi, detalhe de O julgamento de Paris,
Museu do Louvre. Disponível em: https://bit.ly/2VkOKPt 1510-1520. Disponível em: https://bit.ly/30ds0Vn

Jean-François Millet, As respigadeiras, 83 x 110cm, óleo sobre tela. Disponível em: https://bit.ly/2cWqZXI

113
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

No Salão de 1865, Manet é aceito com a obra Olimpia. A crítica negativa tanto do público
quanto da imprensa é enorme e a pintura teve de ser colocada em um local alto para evitar ataques
das pessoas. Manet retrata sua principal modelo – Victorine Meurent – na mesma posição da
Vênus de Urbino (1538), de Ticiano, com uma mulher entregando-lhe um ramalhete de flores e
a seus pés um gato negro. O nome da obra, Olimpia, era frequentemente associado a mulheres
ligadas a prostituição neste período. Assim, Monet mais uma vez suscita polêmica ao apresentar
uma mulher – possivelmente uma prostituta – na mesma pose de uma Vênus. Não trata de um ser
mitológico, mas de uma mulher real. Seu corpo não é idealizado, sua forma é plana e seu rosto é
assimétrico. Em vários lugares da pintura as pinceladas são soltas e marcadas, diferentemente das
obras que seguiam as regras acadêmicas.

Édouard Manet, Olímpia, 1863, óleo sobre tela.


Disponível em: https://bit.ly/2YpbH5S

Tanto na obra Almoço na Relva quanto em Olimpia, Manet é realista na temática. Ambos são
denúncias morais das hipocrisias e vidas duplas levadas por muitos burgueses da época. Ele retrata
usando modelos reais, roupas e costumes do período, embora recorra ao passado para compor.
Mas seu modo de apresentar é inovador, ele deixa aparente que se trata de uma pintura, não de
uma tentativa de imitação do real – isto era feito pela fotografia. Ele desenvolve um novo sistema
de marcas da tinta na tela e modifica o modo de representar, mudando as percepções sobre a arte
nos próximos anos.

FOTOGRAFIA: novas percepções artísticas


Apontado como inventor da fotografia,
o francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-
1833) teve grande dificuldade para que as
imagens captadas não sumissem. Ele demorava
aproximadamente oito horas para produzir uma
imagem e batizou seu processo como heliografia.
O físico e inventor Louis-Jacques Daguerre
(1787-1851) foi o responsável pela disseminação
da fotografia através do aparelho que inventou: o
daguerreótipo. A daguerreotipia foi utilizada na
Europa até 1850 e no Brasil até cerca de 1870.
Joseph Nicéphore Niépce, fotografia a partir da técnica de
heliografia, 1826-1827. Disponível em: https://bit.ly/1NXGLAr

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

No final do século XIX, com a popularização da fotografia e “reprodução da realidade” de


modo mais rápido e fiel a arte assumiu novos caminhos. Os serviços sociais realizados pelos
“pintores de ofício”, como os retratos, as pinturas de paisagens ou as ilustrações, foram substituídos
pela fotografia. Os artistas iniciaram pesquisas que buscaram a essência da própria pintura, a
pincelada e a cor. Diversos movimentos artísticos distintos desenvolveram-se cada qual buscando
a “verdade da arte” com diferentes técnicas e temáticas.

16. IMPRESSIONISMO
Impulsionados pelas obras de Manet, a partir dos anos 1860, um grupo de jovens artistas
independentes reúne-se para produzir, debater e pensar a arte de modo diferente. Posteriormente
seus trabalhos foram expostos ao público em 1874 no estúdio do fotógrafo Félix Nadar. Resultante
desta primeira exposição a crítica escrita por Louis Leroy e publicada na revista Le Charivavi, deu
origem ao nome do grupo, impressionistas, adotados por eles a partir da segunda exposição em
1876. A pintura exposta Impressão: sol nascente, de Claude Monet foi o alvo da crítica de Leroy.


Mudanças do período que influenciaram os artistas:
- Reação contra os temas e técnicas clássicas adotados pelos salões, deixando de
lado as poses e iluminações produzidas artificialmente nos ateliês.
- Realização de pinturas ao ar livre.
- Uso de tintas industrializadas - vendidas em tubos portáteis.
- A invenção da fotografia colocando em xeque a pintura tradicional.
- O conhecimento e influência das coloridas gravuras japonesas.
- Diferentes experiências ópticas através do posicionamento de cores lado a lado.

Claude Monet (1840-1926)
Sem produzir esboços ou estudos prévios, Monet produz suas pinturas ao ar livre do início
ao fim. Em muitas pinturas escolhe temas fluviais que permitem a total fuga da estabilidade e
iluminação fixa das figuras. Mesmo produzindo em espaços abertos, ele afasta-se da representação
fiel da natureza e preocupa-se principalmente com a questão de sensação visual.
Na pintura Impressão: sol nascente, que originou o nome do grupo, Monet propõe a representação
do porto de Le Havre através de pinceladas rápidas, de cores sobrepostas e de manchas. Mesmo
sem a definição da linha e da cor, percebemos a sugestão das formas das embarcações, das
pessoas, do sol nascente, assim como a alusão a
neblina da manhã.
Na série de pinturas da Catedral de Rouen – cidade
a 116 quilômetros de Paris –, o artista demonstra
todo o seu esforço e preocupação em captar a luz
sobre o mesmo cenário em diferentes momentos
do dia. Embora Monet disforme e apresente através
de manchas um dos monumentos góticos mais
importantes da França, ainda é possível identificar
características da fachada – como arcos, frontões,
rosáceas–, bem como a grandiosidade da edificação.
Monet pintou mais de vinte telas registrando a
Catedral do mesmo ângulo em diferentes momentos
e com diferentes luminosidades. Claude Monet, Impressão: sol nascente, 1873, 48 x
63cm. Museu Marmottan Monet, Paris. Disponível em:
https://bit.ly/2Yvdo1T

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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Claude Monet, Catedral de Rouen Claude Monet, Catedral de Rouen Claude Monet, Catedral de Rouen
sob sol pleno, 1893, óleo sobre tela, ao meio dia, 1894, óleo sobre tela. sob efeito da luz da manhã,
107 x 73cm. Museu d’Orsey, Paris. Pushkin Museum. Disponível em: 1894, óleo sobre tela, 91 x 63cm.
Disponível em: https://bit.ly/1Hgzr2G https://bit.ly/2JgGy1d Disponível em: https://bit.ly/2LGglet

Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)


Embora tenha se dedicado, assim como Monet, a registrar cenas as margens do rio Sena,
Renoir expõe diferenças no modo de representar a figura humana. Preocupou-se com a reprodução
através das pinceladas rápidas e sem linearidade, marcando deste modo a forma como a luz incide
sobre a pele das pessoas. Registrou diversas cenas festivas, alegres e descontraídas da vida
parisiense.
Em sua obra Baile no Moulin de la Galette retrata um famoso café de Paris onde os frequentadores
dançavam ao ar livre. Ele capta
a luz em determinado momento
do dia sob as vestes e peles das
pessoas e da paisagem do local.
Não há na cena claros e escuros
obtidos através da mistura de
branco ou preto. As cores, como
o azul, o amarelo e o vermelho,
são usadas puras e ressaltadas
na pintura assim através de
pinceladas sobrepostas. Não
há linhas, limites ou formas
completamente definidas.
Após uma visita à Itália
em 1881 e estudar os mestres
clássicos, Renoir retoma
as características de obras
tradicionais deixando de lado os
interesses impressionistas.
Pierre-Auguste Renoir, Baile no Moulin de la Galette, 1876, óleo sobre tela, 131 x
175cm. Disponível em: https://bit.ly/2VxqtL9

116
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

La Grenouillièr
A partir do registro de cenas de um restaurante nos arredores de Paris, podemos perceber
que as preocupações e interesses dos artistas impressionistas, embora não houvesse um senso
comum político ou ideológico, eram próximos. Nas obras Le Grenouillièr, de 1869, os artistas Monet
e Renoir retratam o mesmo cenário de ângulos um pouco distintos. A obra de Renoir parece ter
sido produzida em um dia mais iluminado e quente, pois avistamos mais pessoas banhando-se e
um número maior de embarcações dentro do rio. Já Monet não faz tanta distinção de luminosidade
em planos diferentes e o fundo é composto praticamente só pela paisagem. Mas ambos buscam a
deformidade das formas na água, a incidência da luz de modo distinto em cada objeto, pessoa ou
forma da cena e a mistura de cores pela sobreposição das pinceladas e não pela mistura das tintas.
A forma humana é definida pictoriamente, fugindo da linearidade. Trata da busca da “realidade”
observada pelo olhar da pintura diferente do olhar fotográfico.

Pierre-Auguste Renoir, La Grenouillièr, 1869, óleo sobre tela, Claude Monet, La Grenouillièr, 1869, óleo sobre tela, 74,6 x
66 x 81cm. Disponível em: https://bit.ly/2vXB5n2 99,7cm. Disponível em: https://bit.ly/2W4lUai

Edgar Degas (1834-1917)


Embora integre o grupo de artistas impressionistas, as obras de Degas se diferencia dos
demais por suas temáticas e técnicas. Ele teve formação acadêmica e sua admiração pela obra
de Ingres exaltou sua constante preocupação com o desenho, que sobressaia a cor que era o foco
nas obras impressionistas. Ele evitava as pinturas ao ar livre e suas obras apresentam espaços
concretos de seu tempo. São imagens de interiores de teatros, camarins, bares, dormitórios,
lavabos, entre outros. Mas não são cenas posadas de ateliês, nem imagens históricas. Com o
auxílio da fotografia retrata em diversos trabalhos, tanto bidimensionais quanto tridimensionais, o
instante estático de um movimento, algo que escapa à vista humana.
Em sua obra O foyer da dança no Ópera, Degas retrata uma de suas principais temáticas: as
bailarinas. Na pintura as alunas estão ensaiando, alongando, observando e recebendo orientações
de seu professor em um espaço reservado para isto – o foyer–, no principal teatro de Paris – o
Ópera. Com efeitos e cores suaves e delicados a ênfase está no congelamento do instante, do
tempo e dos movimentos. Percebe-se em suas pinturas a influência clássica nas representações
arquitetônicas que se contrapõe com o pictórico dos vestidos das bailarinas. Não há um claro-
escuro definido e a luminosidade segue as características impressionistas através das pinceladas
rápidas e sobrepostas.
Os cenários pintados por Degas geralmente aparecem em uma angulação oblíqua e um
enquadramento da cena bem definido.

117
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Edgar Degas, O foyer da dança no Ópera, 1872, 32 x 46cm. Museu d’Orsey, Paris.
Disponível em: https://bit.ly/2VoHnqp

17. NEO-IMPRESSIONISMO

Em 1884 um grupo de artistas associam-se com o objetivo de ir além das inovações


impressionistas na tentativa de elevar o status da pintura que naquele período estava desgastado
pela disseminação da fotografia. Esses artistas buscaram para a pintura um caráter mais científico.
Na busca por estabelecer uma relação entre a pintura e a ciência, e a partir de estudos
baseados na óptica das cores, esses artistas desenvolveram a técnica do PONTILHISMO, que se
concentra principalmente nos contrastes simultâneos de cores. O pontilhismo consiste em organizar
lado a lado pequenas manchas ou pontos de cores puras reunidas entre si para formar o todo.

Georges Seurat (1859-1891)


Seurat apresenta cenas detalhadas a partir
de pequenos pontos de cor pura que somente
são percebidos quando observados a uma curta
distância. Na obra O Circo ele inova posicionando
uma figura incompleta no primeiro plano. É do ponto
de vista desta figura que observamos o que se passa
no picadeiro. É uma imagem que contrapõe figuras
em movimento e outras estáticas, cores claras e
escuras e até mesmo as sombras, somente pela
organização dos pequenos pontos na pintura. As
cores não são misturadas, mas organizadas lado a
lado, e deste modo “enganam” o olhar do espectador
formando figuras e criando a sensação de volume
e profundidade. Seu trabalho mais conhecido é a
pintura Tarde de domingo na Ilha de Grande Jatte.

Georges Seurat, O Circo, 1891, óleo sobre tela,73 x 59cm.


Museu d’Orsey, Paris. Disponível em: https://bit.ly/2VUSWdb

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Unidade 3 | Capítulo
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Georges Seurat, Tarde de domingo na Ilha de Grande Jatte, 1884-1886, óleo sobre tela,
2,60 x 3,50m. Instituto de Arte de Chicago. Disponível em: https://bit.ly/30gIb43

Paul Signac (1863-1935)


O artista Signac também segue os
princípios do Neoimpressionismo, mas seus
pontos de cor pura são maiores, chegando
a parecer em alguns casos uma mistura de
manchas, com texturas cromáticas mais
dispersas e largas. As imagens de suas
paisagens serão um referencial para os
Fauves anos mais tarde.

Paul Signac, A torre do sino de Saint-Tropez, óleo sobre tela, 82 x


64cm. Disponível em: https://bit.ly/2Jnfcqj

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18. MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA

Com a vinda para o Brasil em 1808 de Dom João VI e sua comitiva, composta por nobres e
trabalhadores, a cidade do Rio de Janeiro passa por modificações urbanas e sociais. São criadas
fábricas e instituições públicas. Nesse período a cultura brasileira é fortemente influenciada pela
cultura europeia.
Com o objetivo de criar uma iconografia do império, representando o governo de maneira
nobre e civilizada, a família real contrata o Marquês de Marialva (1775-1823) e o Conde da Barca
(1754-1817) para intelectualizar e importar a cultura europeia para o Brasil. O Conde da Barca
é o responsável por contratar os artistas franceses que foram indicados pelo renomado cientista
Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander Von Hunboldt (1769-1859). Assim, partem para o Brasil uma
comitiva de 16 artistas, liderados por Joachim Lebreton (1760-1820).
A arte colonial brasileira era marcada pelas características do barroco e do rococó e os
artistas franceses trouxeram as inovações do período neoclássico. Mesmo sendo reconhecidos por
seus talentos artísticos em seu país, os franceses não foram bem recebidos no Brasil, por questões
políticas – eles eram pintores de Napoleão antes de sua queda, e ele foi o responsável pela vinda
da família real para o Brasil –, e econômicas – eles recebiam pagamentos muito superiores aos
pintores portugueses e luso-portugueses que estava produzindo no país.
Esses artistas vieram sob a condição de abertura de uma escola e assim, em 1816 foi
fundada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios na tentativa de criar um ensino sistemático
de artes no país. Essa escola manteve-se até 1826 quando o imperador Dom Pedro I a eleva a
Academia Imperial de Belas Artes/Aiba. Nesse período a direção da instituição passa para o
português Henrique José da Silva, que aos poucos vai destituindo os artistas franceses das aulas.
A Aiba seguia os moldes das academias europeias, produzindo desenhos a partir de modelos
e cópia de moldes. Ainda organizavam exposições, concursos e prêmios, montavam coleções e
pinacotecas.
A Academia Imperial de Belas Artes permanece assim denominada até 1890, quando são
aprovados novos estatutos e o Conselho Superior de Belas Artes. Depois disto passa a denominar-
se Escola Nacional de Belas Artes/Enba.
Os franceses não foram os responsáveis por colonizar o Brasil, mas o fizeram em termos
culturais e intelectuais. Desse período destacamos o arquiteto Auguste-Henri-Victor Grandjean de
Montigny, o pintor de paisagens Nicolas Antoine Taunay e o principal deles, Jean-Baptiste Debret.

Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny (1776-1850)


Montigny é um dos arquitetos responsáveis por trazer ao país as características Neoclássicas
e deixar de lado as construções barrocas e rococós tão presentes no Brasil colonial. Muitos de
seus projetos não saíram do papel, mas ainda encontramos ruínas daquele que talvez tenha sido
seu projeto mais importante, tanto em termos de edificação quanto no conceito por trás de sua
finalidade: o prédio da Academia Imperial de Belas Artes. Localizada hoje no Jardim Botânico do

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Rio de Janeiro a ruina da fachada da Academia, que foi demolida em 1938, reflete as características
do estilo Neoclássico trazido pelos artistas franceses, com arcos, colunas e o frontão trabalhado
com relevos.

Fotografia de Marc Ferrez, fachada do prédio da Pórtico de entrada do prédio da Academia


Academia Imperial de Belas-Artes, projeto de Grandjean Imperial de Belas-Artes, no Jardim Botânico,
de Montigny, construída em 1826 e demolida em 1938, Rio de Janeiro. Disponível em: https://bit.
Rio de Janeiro. Disponível em: http://bit.ly/2Vw9NyM ly/2VssDXx

Nicolas Antoine Taunay (1755-1830)


Permaneceu no Brasil entre 1816 e 1821, período no qual foi professor de pintura e paisagem
na Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. No pouco tempo em que permaneceu no país produziu
importantes pinturas, principalmente das paisagens cariocas e arredores. Em suas obras podemos
perceber as primeiras construções do Rio de Janeiro, sua flora, geografia e características naturais.
Suas primeiras paisagens com temáticas brasileiras são o Largo da Carioca e Morro de Santo
Antônio em 1816. Nas cenas percebemos a iluminação diferenciada, própria de um país tropical,
construções, paisagens e pessoas do período. Embora os artistas franceses tenham trazido para o
Brasil as características Neoclássicas, percebemos nas representações de Taunay particularidades
das pinturas românticas de paisagem. Taunay utiliza a perspectiva aérea em suas imagens e mostra
o sublime da natureza misturado as construções urbanas.

Nicolas Antoine Taunay, Largo da Carioca, 1816, óleo sobre Nicolas Antoine Taunay, Morro de Santo Antônio em 1816,
tela, 46,5 x 57,4cm. Disponível em: http://bit.ly/2WLB4yk 1816, óleo sobre tela, 45 x 56,5cm. Museu Nacional de Belas-
Artes. Disponível em: http://bit.ly/2YyLEtk

121
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Jean-Baptiste Debret (1768-1848)


Permaneceu no Brasil de 1816 até 1831 e foi o principal artista desse período. Chegou ao
Brasil já com reconhecimento merecido e premiações por suas pinturas. Ele mostra através de
suas obras a realidade do Brasil principalmente nos anos 1920. Foi um pintor histórico que retratou
temas da corte portuguesa no Brasil, a escravidão, os indígenas e os costumes do povo brasileiro.
Escolhido para retratar cenas importante da família real no Brasil, Debret utilizou-se das
técnicas clássicas para garantir que a nobreza, a riqueza e o poder da família real perante o povo
brasileiro e europeu fosse mostrada através da pintura. Na obra Coroação de Dom Pedro I, retrata
através da arquitetura clássica, do alinhamento e perspectiva, do destaque da figura do rei e da
escolha de cores fortes em meio ao dourado nos objetos todo o magnetismo imponente do momento.
Mas representa o rei com botas de montaria – vestimenta que não era usual para o evento.
Debret representa a escravidão em suas pinturas de modo diferenciado. Por exemplo, na
obra O jantar. Passatempos depois do jantar retrata os escravos domésticos, tanto adultos quanto
crianças, servindo aos seus senhores. Já na obra Feitor castigando negros, ilustra a maldade e a
violência com que eram tratados os escravos. Nas duas pinturas percebemos elementos que
indicam características da sociedade carioca nos anos 1930, como as vestimentas, a paisagem,
objetos e móveis no ambiente doméstico, objetos e métodos usados para açoitar os escravos, bem
como costumes tanto de famílias nobres quanto de sistemas de trabalho.
Os povos indígenas são representados detalhando suas pinturas e adornos, destacando
a beleza e particularidades de suas plumas, pinturas corporais, colares, ornamentações e armas.
São observados como um povo exótico, de costumes distintos em relação a quase tudo a que o
povo europeu estava acostumado.
Quando Debret retorna para a Europa leva consigo mais de mil pinturas e gravuras sobre a
cultura afrodescendente no Brasil, a cultura indígena e o posicionamento e influência dos europeus
sobre a nova identidade que estava formando-se no país. Sua principal contribuição foi a obra
literária com suas ilustrações: Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, de 1834 a 1839 – formando três
volumes.

Jean-Baptiste Debret, Coroação de Dom Pedro I, 1828, óleo sobre


tela, 340 x 640cm. Disponível em: https://bit.ly/2Ed4nT8

Jean-Baptiste Debret, O jantar. Passatempos depois do


jantar, antes de 1830, 16 x 13cm. Disponível em: https://
bit.ly/2LNdnVw

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Jean-Baptiste Debret, Feitor castigando negros, 1834 Jean-Baptiste Debret, Família de um chefe se preparando para uma
Disponível em: https://bit.ly/2AEw1Wd festa, entre 1820 e 1830, aquarela, 18,6 x 29,3cm. Disponível em:
https://bit.ly/2w0ENfJ

Principais artistas oriundos da Academia Imperial de Belas Artes


Manuel de Araújo Porto Alegre (1806-1879)
Embora a produção de Porto Alegre em pintura não seja tão significativa, ele teve grande
importância e influência na história da arte
brasileira. Porto Alegre foi discípulo de Debret,
com quem viajou para Europa, passando pela
França, Itália, Inglaterra e Bélgica. Ao retornar
ao Brasil assume na Academia Imperial de Belas
Artes a cadeira de pintura histórica. Trabalha
na Escola Militar e posteriormente é nomeado
pintor da Câmara Imperial, além de executar
vários projetos arquitetônicos no Rio de Janeiro.
Durante o período em que foi diretor da
Aiba, realizou diversas modificações no currículo
e nos métodos de ensino da academia, além de
anexar a instituição o Conservatório de Música e
a Pinacoteca. É considerado um dos fundadores
da história e da crítica de arte no Brasil. Por suas Manuel de Araújo Porto-Alegre, Selva brasileira, s/d, aquarela
obras e realizações Dom Pedro II lhe conferiu sobre papel. Disponível em: https://bit.ly/30lhWtf
em 1874 o título de Barão de Santo Ângelo.

Victor Meireles (1832-1903)


Victor Meirelles foi pintor de cenas históricas, retratos e panoramas, além de professor de
pintura histórica na Aiba e professor do Liceu de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro. Viveu na
França e na Itália entre 1853 e 1861. Ele é o autor de uma das pinturas históricas brasileiras mais
conhecidas, A Primeira Missa no Brasil.
Meirelles retrata a primeira missa concretizada no Brasil anos após sua efetiva realização.
Ele não estava presente quando ela de fato ocorreu. Assim, a imagem retratada é uma idealização
do momento, realizada através dos registros escritos no relato de Pero Vaz de Caminha sobre a
viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Iluminada e elevada ao centro está a cruz de madeira.
As caravelas que indicam a chegada dos portugueses ao Brasil aparecerem ao fundo e no primeiro

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plano observamos os indígenas pacificamente assistindo a cerimônia religiosa. Victor Meirelles


utiliza-se de recursos de iluminação para destacar as figuras e símbolos cristãos, deixando os
nativos em uma área mais escura da pintura.
Na obra Moema ele representa a dor e sofrimento causado pelo amor da índia Moema por
Diogo Álvares, chamado pelos indígenas de Caramuru. O colonizador português ao retornar para
Portugal leva consigo a índia Paraguaçu, deixando Moema para trás. Em um momento de desespero
ele joga-se ao mar para ir atrás de seu amor, vindo a morrer. Meirelles retrata o momento em que o
mar devolve seu corpo a areia. Moema é retratada de modo arquitetado, demonstrado uma beleza
suave e idealizada.

Victor Meireles, A primeira missa no Brasil, 1860, óleo sobre Victor Meireles, Moema, 1866, óleo sobre tela, 129 x 190cm.
tela, 268 x 356cm. Museu Nacional de Belas-Artes. Disponível Museu de Arte de São Paulo. Disponível em: https://bit.
em: https://bit.ly/2OZKLp8 ly/2QbM99C

Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1843-1905)


Pedro Américo foi pintor de cenas históricas, religiosas e retratos. Permaneceu indo e vindo
da Europa o que talvez contribuiu diretamente para a influência acadêmica em seus trabalhos.
Nunca adquiriu uma identidade nacional em suas pinturas.
Mesmo em meio às batalhas que eram travadas em solo brasileiro o imperador Dom Pedro
II manteve a preocupação em desenvolver o país cultural e artisticamente. É nesse contexto que
Pedro Américo produz suas principais obras históricas: A Batalha do Avaí e Independência ou Morte!.
A Batalha do Avaí retrata um momento da luta ocorrida entre brasileiros e paraguaios no
século XIX. Pedro Américo consegue nessa pintura apresentar o movimento e tensão da cena
onde soldados do império, com uniformes azuis, são destacados. Ele retrata um grande número
de pessoas, bandeiras, cavalos, a bravura e ao mesmo tempo o sofrimento dos personagens,
destacando figuras importantes, provavelmente os comandantes da batalha.
Já na pintura Independência ou Morte! ele retrata um dos momentos históricos mais importantes
do país, quando Dom Pedro I proclama a independência do Brasil. Ele coloca a figura principal no
centro da cena e o rodeia tanto pelos soldados – tropa de Dragões da Independência – quando
por pessoas do povo. Alguns comemoram, outros agitam-se e outros apenas contemplam, mas
percebemos em sua representação a mesma preocupação da obra anterior, destacando o que lhe
era importante, mas dedicando-se com o mesmo esmero aos personagens secundários.

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Pedro Américo, A Batalha do Avaí, entre 1872 e 1879, óleo sobre tela, 600 x 1,100cm. Disponível em:
https://bit.ly/2kdNsov

Pedro Américo, Independência ou morte!, 1888, óleo sobre tela, 450 x 760cm. Museu Paulista da
Universidade de São Paulo (Museu do Ipiranga). Disponível em: https://bit.ly/2Ec5PFm

José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899)


Após concluir sua formação na Aiba, Almeida Júnior ganhou uma bolsa de estudos do
imperador e permaneceu na Europa entre 1876 e 1882. O dia do artista plástico, que no Brasil é
comemorado em 8 de maio, refere-se ao dia do nascimento do artista na cidade de Itu, em São
Paulo. Suas principais obras estão na Sala Almeida Júnior da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Almeida Júnior teve grande importância para o cenário artístico brasileiro por retratar,
principalmente no final de sua carreira, o cotidiano do homem do caipira, da vida no campo, dos
hábitos e vida das pessoas comuns no Brasil. Mesmo tendo grande influência da arte acadêmica,
tanto pelas aulas na Aiba quanto por sua temporada na França e na Itália onde teve contato com as
obras dos grandes mestres, Almeida Júnior acaba por rejeitar a arte puramente acadêmica e focar
no povo e em seus costumes.
Embora na pintura Leitura ainda seja perceptível a influência acadêmica, o cenário e a ação

125
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

retratados diferem de cenas históricas ou das pinturas de gênero realizadas pelo artista. Em Caipira
picando fumo e O violeiro, Almeida Júnior foge de qualquer modo de idealização, seja do cenário ou
dos personagens. Ele representa o homem do campo realizando atividades comuns em seu dia
a dia e em locais que fazem parte de sua realidade. O artista cria através de suas pinturas uma
identidade visual para o povo brasileiro residentes no interior, principalmente do Sudeste.

Almeida Júnior, Leitura, 1892, óleo sobre tela, 95 x 141cm.


Pinacoteca do Estado de São Paulo. Disponível em: https://bit.
ly/2WLAgcP

Almeida Júnior, Caipira picando fumo, 1893, óleo sobre tela,


202 x 141cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Disponível
Almeida Júnior, O violeiro, 1899, óleo sobre tela, 141 x 172cm. em: https://bit.ly/30twxTq
Pinacoteca do Estado de São Paulo. Disponível em: https://bit.
ly/2HqZs1U

Pedro Weingärtner (1853-1929)


Filho de imigrantes alemães Weingärtner viajou para Europa onde estudou no Liceu de Artes
e Ofícios e na Escola de Belas Artes de Baden, ambos na Alemanha, também estudou em Paris e
na Itália. Durante esse período viajou constantemente ao Brasil e participou de diversas exposições.
Retornou definitivamente ao país em 1891 e tornou-se professor de desenho na Escola Nacional de
Belas Artes, no Rio de Janeiro.

126
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Weingärtner realizou diversas viagens ao sul do país e retratou através de pinturas, desenhos
e gravuras o regionalismo sulino, influenciado pelos costumes do Uruguai, Paraguai e Argentina e
pela imigração italiana e alemã. Em muitas de suas obras percebemos as características do povo
do Sul através das vestimentas, costumes, paisagens, atividades e objetos que ele representa nas
cenas. Na obra Interior de empório podemos perceber como era o ambiente de um comércio e que
tipo de produtos eram vendidos. Também compreendemos os costumes de seus proprietários ou
frequentadores. A pintura Tecelãs retrata afazeres das mulheres na campanha: preparar, fiar e tecer
os tecidos que seriam utilizados para produzir vestimentas e cobertas. Isto ocorria em ambientes
iluminados pela luz natural. Pela expressão triste e apática nos rostos das mulheres parecia ser
uma atividade repetitiva e cansativa.

Pedro Weingärtner, Fios emaranhados ou Interior de empório, Pedro Weingärtner, Tecelãs, 1909, óleo sobre tela, 27,5 x
1982, óleo sobre tela, 75 x 100cm. Disponível em: https://bit. 35,5cm. Disponível em: https://bit.ly/2Vpz2mc
ly/2JnBJDa

Mesmo com indícios de uma produção que representava a realidade do povo brasileiro a
arte na primeira metade do século XIX manteve-se ligada à academia, com ênfase nas temáticas
históricas, de gênero ou mitológicas. Foram feitas adaptações à realidade do país, mas as
formalidades, preocupações e idealizações acadêmicas mantinham-se em destaque. Somente na
segunda metade do século é que alguns artistas deram indícios da influência da arte produzida na
Europa neste período, o impressionismo e o pontilhismo, dentre eles destaca-se Eliseu Visconti.

Eliseu D’Angelo Visconti (1866-1944)


O artista italiano veio muito jovem para o Brasil. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios e na
Academia de Belas Artes. Como prêmio por seus trabalhos ganhou uma viagem à Europa onde
estudou na Escola de Belas Artes de Paris e na Escola Guérin, onde estudou artes decorativas.
Durante esse período na Europa Visconti aproximou-se das obras e dos artistas impressionistas
e pontilistas, de modo que, ele ficou encantado com os estudos de luz e o modo diferenciado de
pintar destes artistas.
Nas obras Moça no trigal e Volta às trincheiras Visconti deixa clara a influência impressionista
em sua produção artística. Não conseguimos definir claramente as linhas ou formas das figuras
humanas ou das plantas. As pinturas foram realizadas ao ar livre e a luz natural foi privilegiada, a
pincelada é rápida e sobreposta.

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

Eliseu Visconti, Moça no trigal, 1916, óleo sobre tela, 65 x Eliseu Visconti, Volta às trincheiras, 1917, óleo sobre tela, 95 x
80cm. Disponível em: https://bit.ly/2QEQXmq 125cm. Disponível em: https://bit.ly/2WU7kzB

Eliseu Visconti foi um dos responsáveis por trazer ao Brasil o conceito diferenciado de arte
decorativa. Influenciado pelos conhecimentos adquiridos na Escola Guérin, Visconti presenciou em
sua passagem pela França o surgimento do art nouveau como vanguarda artística. Entusiasmado
pelas novas possibilidades e necessidades da sociedade industrial, Visconti elaborou projetos para
objetos utilitários e gráficos. A partir da inspiração nas figuras femininas seus projetos foram criados
com composições assimétricas, motivos florais e tons pastéis suaves, com o objetivo de integrar a
arquitetura, a decoração e o design de objetos utilitários.

Eliseu Visconti, 1896, estudo para tecido, guache sobre papel,


Eliseu Visconti, 1901, estudo para marchetaria, guache sobre
61 x 47cm. Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
papel, 50 x 65cm. Disponível em: https://bit.ly/2JOhr5j
Disponível em: https://bit.ly/2JOhr5j

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

19. ARTE NEGRA

Geralmente valorizamos a arte e a influência europeia em nossa produção artística e


cultural, mas nem sempre destinamos um olhar atento às influências africanas na produção artística
brasileira. A representação do negro e a produção de artistas negros modificou-se ao longo da
história.
O olhar europeu ou de artistas brancos e suas obras representando os negros no Brasil
por muitos anos contribuiu para formação dos estereótipos – principalmente os negativos – sobre
a figura do negro. Por muitos anos as figuras negras aparecem representadas em situação de
escravidão, submissão ou inferioridade em relação aos brancos. A figura feminina negra geralmente
é relacionada ao trabalho ou a sexualidade, sendo representada de modo erótico ou sensual nas
obras. A chegada do modernismo e a valorização da cultura nacional contribui para a representação
mais próxima da realidade e cultura afro-brasileira na arte.
A representação feita por artistas negros nos mostra inicialmente a submissão as regras
acadêmicas europeias, mas ao mesmo tempo a representação mais próxima da realidade e
da cultura africana com a qual conviviam. Os artistas negros contemporâneos modificam muito
a produção, crítica e difusão das obras que envolvem demandas culturais, sociais e religiosas
africanas. Somente na arte contemporânea questões raciais são tratadas de modo direto ou
subjetivo, sobretudo por artistas negros. Modifica-se o modo como posicionam-se buscando
manter viva características desta cultura “abafada” por muitos anos, tanto pela história quanto pela
sociedade.

REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA HISTÓRIA DA ARTE - Negro visto pelo “olhar


estrangeiro”

Tanto os artistas viajantes quanto os artistas que vieram ao Brasil compondo a Missão
Artística Francesa representaram o negro segundo o papel que ele desempenhava na sociedade
naquele período, como escravo. Entre eles destacamos Frans Post (1612-1680), Jean-Baptiste
Debret (1768-1848) e Johann Mortiz Rugendas (1802-1858).
A Vista da Ilha de Itamaracá, do holandês Frans Post, é considerada uma das primeiras pinturas
feitas por um pintor profissional no país. Post vem para o Brasil juntamente com a comitiva do
Conde Maurício de Nassau para pintar as paisagens e a arquitetura local. O artista representa as
paisagens com coloridos homogêneos que lembram muito mais a luminosidade da Holanda do que
de um país tropical. Suas cenas são serenas e tranquilas. Em meio a representação geográfica
ele apresenta personagens e informações sobre a fauna e a flora brasileira. Nessa pintura os
personagens são negros escravizados carregando a carga e cuidando dos animais enquanto seus
patrões parecem fazer o reconhecimento do local.
Como já mencionado, Debret retratou a realidade do provo afro-brasileiro de modo realista,
mas ao mesmo romantizada pelos tons e traços suaves. A pintura Uma senhora de posses em sua
casa retrata um ambiente doméstico com várias figuras negras servindo e trabalhando no ambiente.

129
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

As mulheres negras, assim como as crianças, sentam-se no chão enquanto a senhora e sua filha
estão nos bancos. Embora pareça uma cena tranquila, dentro do cesto que serve para guardar os
materiais de costura, ao lado da senhora, encontra-se bem a mostra o chicote feito de couro usado
para castigar os escravos. Mesmo em uma cena calma e pacata a lembrança da dor, do castigo, da
submissão e da obediência dos escravos a seus senhores se faz presente. Debret também retratou
os diversos castigos e açoitamentos sofridos pelos escravos.
O artista alemão Johann Mortiz Rugendas participa de expedições ao Brasil em dois momentos:
no primeiro leva daqui somente desenho e aquarelas, em um segundo momento pinturas. Ele
desvincula-se do grupo inicial e percorre sozinho parte do território brasileiro registrando a fauna
e flora e os costumes e cultura do povo. Registra em diversas obras a realidade do povo negro do
período, com em Navio Negreiro, obra que retrata o poema Navio Negreiro, de Castro Alves. Nessa
obra percebemos o descaso com que eram transportados os negros nas embarcações. Constatamos
a diferença de classes nas roupas e acessórios usados pelos brancos enquanto homens e mulheres
negros usam apenas pequenos tecidos que cobrem suas intimidades. Alguns sentam-se no chão,
alguns dormem, enquanto outros estão presos por ferros nas canelas. A expressão de cansaço,
tristeza e aceitação apresenta-se na maioria dos rostos. Um homem que aparenta estar morto é
retirado pelos funcionários do navio enquanto uma mulher chora e outra parece desespera-se com
a perda. A maioria dos escravos parece alheia e esta cena de morte. Rugendas apresenta nessa
obra detalhes de uma realidade triste, mas comum aos negros escravos do período.

Frans Post, Vista da Ilha de Itamaracá no Brasil, 1637, óleo Jean-Baptiste Debret, Uma senhora de posses em sua casa,
sobre tela, 63,5 x 88,5cm. Disponível em: https://bit.ly/2WX7vdc após 1923, 16 x 13cm. Disponível em: https://bit.ly/2JwFRRw

Johann Mortiz Rugendas, Navio Negreiro, por volta de 1830, gravura, 35,5 x
51,3cm. Disponível em: https://bit.ly/2Mi07bb

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Modesto Brocos y Gomes (1852-1936)


Modesto Brocos foi o autor de uma obra realista que ilustra as teorias raciais que estavam
em voga entre os intelectuais da elite brasileira no final do século XIX, pouco depois da abolição
da escravatura e da proclamação da
república. Nesse período acreditava-se, e
alguns defendiam, a purificação do sangue.
Na percepção da elite do período isto
significava “embranquecer” a população.
Na obra a Redenção de Cam,
Modesto Brocos retrata uma família que
ilustra a situação de “embranquecimento”
da raça brasileira. A senhora negra a
esquerda eleva as mãos aos céus como
se estivesse agradecendo por um feito.
Provavelmente ela foi uma escrava no
passado e compreende a importância
social que era o seu neto nascer com a
pele branca. A mãe com o filho no colo é
uma mulata, provavelmente filha da negra
com um homem branco. O pai a direita é
branco, ainda com traços indígenas ou
talvez portugueses - por estar com um
tamanco que lembra a cultura portuguesa.
Seu semblante é de alguém triunfante
e orgulhoso. A criança no colo da mãe
representa a vitória da teoria racial do
período, mostra uma criança branca, Modesto Brocos y Gomes, Redenção de Cam, 1895, óleo sobre
tela, 199 x 166cm. Disponível em: https://bit.ly/2Wiam3q
inclusive mais clara que o pai. Além disso,
ser menino em uma sociedade patriarcal,
era uma grande conquista para qualquer família.

ARTISTAS NEGROS NO PERÍODO COLONIAL


No período colonial artistas como Aleijadinho, Mestre Ataíde e Mestre Valentim (já
mencionados no Barroco e Rococó brasileiro) destacaram-se ao produzir esculturas e pinturas que
valorizaram direta ou indiretamente características da cultura africana.
Alguns artistas negros que frequentaram a Academia Imperial de Belas Artes ou a Escola
Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, buscaram compreender as técnicas e linguagens da
arte europeia e, em alguns casos representar algumas características afro-brasileiras em suas
obras.

Estêvão Roberto da Silva (1844-1891)


Embora tenha realizado muitos estudos de observação direta da natureza e pinturas ao ar
livre, nunca se desvinculou dos padrões acadêmicos. Mesmo com alguns retratos e pinturas de
temas históricos em seu currículo seu foco esteve prioritariamente voltado para a natureza-morta.

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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Estêvão Roberto da Silva, Retrato de Castagneto, Estêvão Roberto da Silva, Ainda viva, 1888, óleo sobre tela, 37 x 48,5cm.
1885, óleo sobre tela, 59,5 x 50cm. Pinacoteca do Disponível em: https://bit.ly/30xeBYl
Estado de São Paulo. Disponível em: https://bit.
ly/2YJYDIn

Artur Timóteo da Costa (1882-1922)


Produziu influenciado pelos artistas e pelas características impressionistas distanciando-se
um pouco das regras acadêmicas, mas percebemos em suas pinturas influências de luminosidade
do barroco misturada a pinceladas impressionistas. Ele miscigena manchas de cor a grafismos
precisos e bem delimitados. Embora sua obra não tenha sido amplamente estudada, a influência
que ela exerceu em artistas modernos pode ser identificada.

Artur Timóteo da Costa, Auto-Retrato, 1908, óleo Artur Timóteo da Costa, Oração, 1922, óleo sobre
sobre tela, 41 x 33cm. Disponível em: https://bit. madeira, 45,2 x 37cm. Disponível em: https://bit.
ly/2HFYSxr ly/2VSFdV4

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO MODERNISMO


Alguns artistas representativos do


período moderno retrataram a figura do negro,
mas ainda com um olhar desviado de sua cultura,
religiosidade ou identidade. Tarsila do Amaral
(1886-1973) em 1923 pinta A Negra. Essa obra
foi feita pela artista enquanto estava em Paris.
Ela resgata a imagem das amas-de-leite com
as quase teve contato durante a infância na
fazenda de café de seu pai. Esta é uma das
primeiras obras brasileiras com características
cubistas. A natureza tropical é representada
pela folha de bananeira ao fundo. A expressão
triste e resignada da negra remete a situação
social na qual elas viviam, tendo muitas vezes
de afastar-se de seus próprios filhos para
amamentar os filhos dos patrões.

Tarsila do Amaral, A Negra, 1923, óleo sobre tela, 100 x 80cm.


Disponível em: https://bit.ly/2JEWp9D

O artista Di Cavalcanti – Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo – (1897-


1976) busca em seus trabalhos a formação de uma identidade cultural brasileira. Para isto, em
muitas de suas obras as mulheres negras são retratadas como objetos de desejos, como mulheres
sensuais. Suas obras reforçam a ideia da
mulher negra submissa, subserviente aos
homens ou como um objeto de desejo.
Embora sua proposta de criação de uma
identidade cultural seja válida, no que se
refere a representação da mulher negra Di
Cavalcanti reforça o estereótipo de mulher
objeto. Podemos perceber isto na obra
Carnaval II onde as mulheres aparecem como
se estivessem ali para servir aos homens,
possivelmente da elite ou estrangeiros.
Embora seja a reprodução de uma cena
festiva – o carnaval – as mulheres aparecem
com expressões sérias e resignadas, como
se não quisessem estar ali.

Di Cavalcanti, Carnaval II, 1965, 114 x 146cm. Disponível em: https://


bit.ly/2VTyPwK

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Em diversas pinturas Cândido Portinari


(1903-1962) representa os operários brasileiros
em seus locais de trabalho. A obra O lavrador de
café retrata de modo distorcido e exagerado as
feições de um trabalhador do campo. A paisagem,
assim como o título do trabalho remetem a uma
plantação de café. O exagero nas proporções
de pés, braços e do cabo da inchada remetem
aquilo que a sociedade da época entendia como
sendo a serventia do homem negro: o trabalho
“pesado”. No período moderno, mesmo sendo
retratado anos após deixar de ser oficialmente
escravo, os homens negros continuam sendo
retratados em situações de submissão e ligados
ao trabalho braçal, além de geralmente serem
representados através do olhar dos artistas
brancos.
Cândido Portinari, O lavrador de café, 1934, óleo
sobre tela, 100 x 81cm. Disponível em: https://
bit.ly/2EpKqJ4

REPRESENTAÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA POR ARTISTAS NEGROS


NO MODERNISMO

Heitor dos Prazeres (1898-1966)


A maior parte da vida Heitor dos Prazeres dedicou-se a carreira de compositor, chegando
a participar das fundações de escolas de samba, como a Mangueira, a Portela e a Deixa Falar –
futura Estácio de Sá. Por volta de 1937 passa a dedicar-se também à pintura. Seus trabalhos são
coloridos, alegres e remetem a cenas de samba, festas e atividades, principalmente nos morros
cariocas. Diferente dos artistas que representaram a realidade afro-brasileira de modo distanciado,
Heitor dos Prazeres vive nos locais que pinta, conhece a realidade social e cultural das pessoas
retratadas, pois é também a sua realidade.

Heitor dos Prazeres. Disponível em: https://bit.ly/2X0VHGW Heitor dos Prazeres. Disponível em: https://bit.ly/30tC3FI

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Rubem Valentim (1922-1991)


Indicado por muitos historiadores como um dos principais artistas negros do final do
modernismo, Rubem Valentim ancorou seus referenciais na representação de símbolos afro-
brasileiros em pinturas e esculturas. Iniciando sua produção artística de modo autodidata, o
odontólogo e jornalista produziu pinturas, gravuras e esculturas e revolucionou a arte afro-brasileira
nos anos 40.
Rubem Valentim defendia a apropriação das novas linguagens europeias, mas com a defesa
de temáticas regionais e culturais brasileiras. Embora muitas de suas obras pareçam apenas formas
geométricas, Valentim representa símbolos ligados diretamente à religiosidade afro-brasileira.
Suas obras são composições a partir de signos litúrgicos do candomblé realizados utilizando-se de
geometrias rigorosas, da simetria e de cores fortes.

Rubem Valentim, Sem título 43/150, 1989, Serigrafia sobre papel, 100 x 70cm. Rubem Valentim, Sem título 94/140,
Disponível em: https://bit.ly/2VV4CNB 1989, Serigrafia sobre papel, 100
x 70cm. Disponível em: https://bit.
ly/2VGj2MT

REPRESENTATIVIDADE DO NEGRO NA HISTÓRIA DA ARTE - Artistas negros


contemporâneos

Emanoel Alves de Araújo (1940-)


Artista e pesquisador da arte afro-brasileira. Embora sua
arte seja extremamente significativa para firmar a identidade
afro-brasileira, foram suas pesquisas e atividades como
curador e museólogo que contribuíram de modo ímpar para
cumprir este objetivo. Emanoel Araújo foi diretor da Pinacoteca
do Estado de São Paulo, integrante da Comissão dos Museus
e do Conselho Federal de Política Cultural, instituídos pelo
Ministério da Cultura e um dos fundadores e diretores do
Museu Afro-Brasil, em São Paulo.
Emanoel Araújo, Rito Padê, 1986. Disponível
em: https://bit.ly/1SW8Vze

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Maria Auxiliadora da Silva (1935-1974)


Maria auxiliadora foi artista autodidata de família humilde e com uma história de vida recheada
de dificuldades e acompanhada pela doença. Sem recorrer as técnicas, regras e limitações
acadêmicas, ela retrata temas afro-brasileiros como a música, a religião e a dança. Ela representa
os temas religiosos através de simbologias da matriz africana, como o candomblé, a umbanda e
os orixás. Retrata manifestações e festas populares como o carnaval, o bumba meu boi, as festas
juninas, a capoeira, o samba, os botecos, os bailes de gafieira e as procissões. Faz inúmeros
autorretratos e apresenta cenas de casais, o trabalho e a vida no campo e cenas cotidianas da
cidade.

Maria Auxiliadora da Silva, Parque de diversões, 1973, técnica Maria Auxiliadora da Silva, sem título, 1972, técnica mista.
mista. Disponível em: https://bit.ly/2JxRiZ6 Disponível em: https://bit.ly/2JxRiZ6

Rosana Paulino (1967-)


Rosana Paulino é uma referência de artista negra contemporânea que luta compreender o
“local” do negro na sociedade brasileira, mas acima de tudo da mulher negra, suas problemáticas,
suas angústias, suas qualidades e suas particularidades. Ela mistura arte, ciência e a história da
escravidão no Brasil, considerando que esse período histórico foi retratado por artistas, mas não
artistas negros.
Na série Bastidores, Rosana Paulino utiliza-se do bordado e de bastidores – referenciais
de objetos e costumes usados pelas mulheres de sua família – para suscitar questionamentos
sobre violência feminina. Nas imagens Rosana trata de um tema forte sem utilizar-se de cenas
chocantes ou de cores fortes. Ele costura bocas, olhos e gargantas de figuras femininas negras que
estão gravadas nos bastidores. Bastidores é um manifesto, um grito silencioso para atentarmos as
agressões sofridas pelas mulheres dentro de suas casas.
Nas obras A geometria brasileira chega ao paraíso tropical, a ideia de racionalidade das formas
geométricas, trazidas principalmente no modernismo para a arte brasileira, contrasta com o
tropicalismo, diferenças culturais e sociais do país. Também ressalta subjetivamente o quanto
estas características da arte moderna europeia deixaram de lado as figuras e particularidades do
povo negro e do povo indígena.

136
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Rosana Paulino, Série Bastidores, imagem transferida sobre tecido, bastidor e


linha de costura, 30cm de diâmetro. Disponível em: http://www.rosanapaulino.
com.br/

Rosana Paulino, A geometria brasileira


chega ao paraíso tropical, 2018.
Disponível em: https://bit.ly/2HwiKEa

Moisés Patrício (1984-)


No projeto artístico Aceita? que integra a série
de fotoperformances que Moisés Patrício disponibiliza
na rede social – Instagram –, ele representa sua forma
de contestar, confrontar e impor suas questões sobre
racismo e intolerância religiosa. Em 2014 o artista se
propôs a publicar por dois anos, diariamente, a fotografia
de sua mão segurando algum objeto.
Patrício apresenta diversas simbologias por trás
de sua ação performática. Por muitos anos os negros
foram vistos como mão de obra, principalmente para
trabalhos pesados e facilmente descartados. Nessa
série, que pode ser tratada como um diário fotográfico,
Moisés fotografa a sua mão em posição de doação de
algo que ele segura. Trata-se de um gesto de oferenda
Maria Auxiliadora da Silva, Parque de diversões,
fundamental no candomblé. Os objetos que sua mão 1973, técnica mista. Disponível em: https://bit.
segura são itens descartados e encontrados nas ruas ly/2JxRiZ6
de São Paulo durante seu trânsito pela cidade. Ele os
incorpora em suas imagens e lhes dá um novo significado. Assim o artista resgata aquilo que foi
descartado para oferecer novamente a sociedade em forma de arte, fazendo uma analogia com a
história do povo afro-brasileiro.
Sua proposta é uma crítica a herança racial e escravocrata que por muitos anos compreendeu
a figura do negro simplesmente como mão de obra. Aqui, a mesma mão que serve para os serviços
pesados também serve para produzir arte.

137
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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Dalton Paula (1982-)


Dalton busca compreender a identidade do corpo negro, sua cultura e tradições a partir
da carga histórica que acompanha o povo afro-brasileiro. Busca pensar socialmente a figura do
negro através de alguns elementos simbólicos, como o ambiente do terreiro, dos quilombos, do
subúrbio e das festas populares. Ele vivencia estas diferentes realidades e estabelece relações de
afetividade com as pessoas nestes espaços para posteriormente produzir suas obras.
Na obra Santos Médicos ele pinta sobre capas de antigas enciclopédias que tratam de saúde,
imagens que simbolizam as crenças e tratamentos médicos utilizados a partir dos conhecimentos
e influências africanas. Essas “curas”, rituais e remédios oriundos da cultura afro não constam no
interior das enciclopédias, estes itens foram negligenciados ou renegados
pelos pesquisadores da época, assim como as danças, comidas, religiões
e vestimentas do povo afro-brasileiro. Esses resgates culturais foram ou
estão sendo feitos, seja através de pesquisas históricas, da moda ou
organizações interessadas em manter viva a cultura negra brasileira.

Dalton Paula, detalhe de


Santos Médicos, 2016, óleo
sobre livros, sete livros.
Dalton Paula, Santos Médicos, 2016, óleo sobre livros, sete livros. Disponível em: https://bit.
Disponível em: https://bit.
ly/2I16U4j
ly/2I16U4j

Renata Felinto (1978-)


Renata Felinto questiona a estética europeia que por muitos anos permeou a formação de
identidades e da cultura brasileira. Utiliza sua própria imagem para realizar pinturas, fotomontagens
e performances misturando tradições – sociais e artísticas –, e ressaltando a cultura de matriz
africana, suas particularidades e simbologias.
Na série Afro-Retratos, Renata Felinto usa sua imagem como base para questionar o “lugar”
da mulher afrodescendente. Ser negra não a limita aos estereótipos e barreiras – impostas pela
sociedade e reforçadas pela história da arte. Nem toda mulher negra sabe sambar, pratica capoeira,
usam turbantes ou sabem fazer feijoada e é isto que Felinto apresenta nesta série de pinturas.
Ela insere sua imagem a cenas com diferentes elementos de diversas culturas/etnias. Ao mudar
a terminologia auto estabelecida na história da arte para afro ao referir-se aos retratos, a artista
coloca a identidade cultural acima da personalidade ou individualidade do ser.
Na performance White Face, Renata Felinto transveste-se do fenótipo estabelecido por muitos
anos como padrão de beleza pela sociedade: a mulher branca, rica, loira, de cabelos compridos,
bem maquiada e bem vestida. Por diversos anos esta foi a imagem de mulher perfeita vendida
pela mídia brasileira e reforçada pelas imagens que permaneceram registradas na história da arte.
Ao “vestir” esta personagem e transitar na rua Oscar Freire – reconhecida em São Paulo por ser
a localização de lojas de marcas nacionais e internacionais com produtos de alto valor – Renata
questiona as construções sociais que foram pautadas em discriminações e preconceitos com a
mulher negra afetando sua autoestima e o modo como coloca-se no mundo.

138
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Renata Felinto, Afro-retratos, 2010. Performance. Disponível em: https://bit.ly/2WhhAop

Renata Felinto, White Face, 2012. Performance. Disponível em: https://bit.


ly/2WhhAop

Priscila Rezende (1985-)


Priscila Resende usa seu corpo para demonstrar como ainda hoje a mulher negra sofre
direta ou indiretamente humilhações ou imposições de como deve agir, vestir ou tratar seu cabelo.
Na performance Barganha, que tem como ponto de partida a música A carne, de Elza Soares, Priscila
choca ao mostrar que ainda hoje o corpo negro está sujeito à exploração e comercialização, só
mudou o modo como isto ocorre. Priscila percorre o Ceasa, na cidade de Contagem/MG, usando
apenas roupas íntimas e sendo arrastada por uma corda presa em seus pulsos, como se fosse um
produto a ser oferecido no mercado. Ao longo do percurso a performer que está puxando a corda
vai grudando etiquetas de preço em seu corpo. A cena choca as pessoas que estão no mercado.
A escravidão parece ser uma realidade distante dos dias atuais, mas sabemos que a venda do
corpo feminino, principalmente da mulher negra ainda ocorre, seja por trabalhos domésticos mal
remunerados ou pelo viés sexual.
Na performance Bombril, Priscila utiliza-se do nome de uma marca de produtos de limpeza
reconhecida no Brasil para fazer a associação com um dos apelidos pejorativos usados para referir-
se aos cabelos de pessoas negras. Por cerca de uma hora a artista permanece esfregando em
seus cabelos utensílios metálicos destinados ao uso na vida doméstica, como panelas, canecas,
bacias, tampas etc. Ela busca questionar os estereótipos de beleza estabelecidos pela mídia e ao
mesmo tempo o respeito entre as pessoas.

139
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

A Carne (2002)

- Canção de Elza Soares -

A carne mais barata do mercado


É a carne negra

A carne mais barata do mercado


É a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
E vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado


É a carne negra
Que fez e faz e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão
O cabra aqui, não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador eleito

Mas muito bem intencionado Priscila Resende, Barganha, 2014, performance.


E esse país vai deixando todo mundo preto Disponível em: https://bit.ly/2M4f80J
E o cabelo esticado
Mas mesmo assim, ainda guarda o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito (Pode
acreditar)
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado


É a carne negra, negra, negra, carne negra
(Pode acreditar)
A carne negra

Compositores: Seu Jorge/Marcelo Fontes do


Nascimento/Ulises Capelleti
Letra de A Carne © WB Music Corp. O/B/o
Warner/ Chappell Edições Musicais Ltda,
COPYRIGHT CONTROL (NON-HFA)

Priscila Resende, Bombril, 2010, performance.


Disponível em: https://bit.ly/2Huu57Y

140
Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

20. ARTE INDÍGENA

Segundo o Censo Demográfico realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística/IBGE a atual população indígena brasileira é de 817.963 indígenas, dos quais 502.783
vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. Este Censo também revelou
que há comunidades indígenas em todos os Estados da Federação, sendo que destas, 69 grupos
ainda não tiveram contato com o homem branco. Até 2010 foram registradas no país 274 línguas
indígenas, de modo que 17,5% da população indígena não fala a língua portuguesa.
Os números são significativos, mas é verdade que a população indígena diminuiu muito
ao longo dos anos e vem sofrendo muitas represálias em relação a sua cultura, demarcações,
invasões e degradações territoriais e ambientais, além de problemas sociais e culturais surgidos
após o contato com o branco, como exploração sexual, aliciamento e uso de drogas, exploração de
trabalho, mendicância, êxodo desordenado, entre outros. É uma luta constante em meio a tantas
mudanças sociais e ambientais manter sua língua, seus costumes e suas tradições.
Antes de tratarmos sobre a produção artística indígena, cabe ressaltar que são os brancos,
e não pertencentes a nenhuma etnia indígena, que denominam e classificam a produção dos
objetos indígenas como arte segundo os critérios estabelecidos por nossa civilização. Os indígenas
produzem utensílios e objetos que tem serventia funcional ou espiritual distinta para cada etnia, mas
cabe ressaltar que existe a preocupação estética em cada item que produzem.
Não existe na concepção indígena um objeto que sirva apenas para contemplação ou
apreciação crítica, seus objetos artísticos provêm de seu cotidiano, de suas atividades rotineiras. A
produção de um objeto somente para apreciação estética ou reflexão teórica é um conceito de arte
ocidental que adotamos para avaliar o que é ou não arte.
Então por que analisarmos a produção indígena como arte? Porque ela tem valor estético e
principalmente têm função social, permitindo a aproximação e entendimento mais concreto do
modo de vida, costumes e significados dos povos indígenas. Ainda poderíamos considerar nossa
necessidade de dominação ou afirmação sobre culturas que antecedem nossa existência incluindo-
as forçosamente em nossa história, mesmo que o façamos inconsciente e indiretamente.
Mas cabe ressaltar que compreender a produção artística de uma etnia não significa
compreender o todo. O Brasil é um país com grande diversidade cultural, sendo que existem cerca
de 220 comunidades indígenas distintas. Cada comunidade indígena tem suas características,
cultura e acesso a diferentes materiais para produzir seus objetos dependendo da região onde se
localizam. Mesmo os povos que parecem partilhar as mesmas tradições, costumes e memórias têm
particularidades.

Pintura Corporal e Arte Plumária


Utilizada para comemorações e outros rituais, a pintura corporal indígena possui um significado
diferente em cada comunidade. O material para pintar é extraído da natureza, em árvores e frutos, e
varia de região para região. As mais utilizadas e conhecidas são o suco do jenipapo (fruta que gera

141
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

uma tinta preta) e a semente de urucum (que produz tinta avermelhada).


Os adereços confeccionados com penas e plumas servem para
identificar as diferentes posições sociais que
cada indígena tem dentro da comunidade.
Dependendo da região onde vivem e
da diversidade das aves, as plumas são
utilizadas em seu
estado natural ou são
tingidas artificialmente
b u s c a n d o - s e
tonalidade fortes e
vibrantes. Os tipos de
adereços variam nas
diferentes regiões do
país, dependendo do
acesso a diferentes
espécies de aves e
também de acordo
com a etnia.

Indígena, Amazonas. Pintura corporal, Amazonas. Pintura corporal - Etnia


Imagem de acervo Imagem de acervo particular. Tapuia, Amazonas.
particular. Imagem de acervo
particular.

Cerâmica
A cerâmica indígena é um utilitário encontrado em diversas comunidades indígenas, de
maneira que o tipo de barro ou o modo de cozimento da cerâmica depende da região onde localiza-
se a aldeia. As mais representativas são a cerâmica marajoara (da Ilha de Marajó, PA) e a santarena
(de Santarém, PA).
Algumas cerâmicas são ornamentadas com desenhos com diferentes significados para os
indígenas.

Cerâmica Marajoara - tangas e partes de urnas funerárias. Cerâmica Marajoara ornamentada com desenhos, exemplo de
Cerâmica exposta no Museu do Forte do Presépio, Belém, PA. significado. Imagem de acervo particular.
Imagem de acervo particular.

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Trançado indígena
Mesmo em diferentes regiões do país encontram-se diversos materiais, como folhas, palmas,
cipós, talas e fibras, que podem ser utilizados para trançar, com o objetivo de produzir cestos,
peneiras, abanos, tipitis, entre outros, com caráter utilitário ou decorativo.

Urupema Uirupiá, Peneira quadrada, Veridiano Barreto Maia, Waturá, Cesto cargueiro, Mario Baltazar, baré. Comunidade de
baré. Comunidade de Aquaricara - Rio Jurubaxi. Arumã Cartucho - Rio Negro. Cipó ambé, envira verde, 2015. Imagem
vermelho, paxiúba, jacitara, 2015. Imagem de acervo particular. de acervo particular.

Outras manifestações artísticas


Como observamos nos exemplos de arte plumária, de pintura corporal, no trançado ou na
cerâmica, os indígenas aproveitam-se do material oferecido pela natureza ao seu entorno para
produzir utilitários ou manifestações para identificação na comunidade e rituais. Os não índios é
que denominam estas manifestações como arte, os indígenas tratam estes objetos como elementos
úteis do seu dia a dia. Como exemplo, produzem colares e adornos utilizando as sementes locais,
além de esculturas em madeira representando os animais que vivem em sua região.

Adornos com sementes, Etnia Mbyá-Guarani, RS. Arte dos povos Pataxó. Crédito: Memorial dos
Imagem de acervo particular. Povos Indígenas, Brasília, DF

Esculturas, Etnia Mbyá - Guarani, RS.


Imagem de acervo particular.

143
Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

Alguns índios vivem, ainda hoje, isolados em determinadas regiões do Norte do país, mas a
maioria das comunidades indígenas sofre grande influência da cultura do não-índio. Essas trocas
culturais são comuns, por exemplo, no sul do Brasil adota-se a cultura do chimarrão (bebida quente
preparada com erva mate) e esta tradição provém da cultura indígena. Já o uso de tecnologias
digitais como celulares ou internet são culturas do povo não-índio mas utilizadas pelos índios
para facilitar seu dia a dia e sobretudo sua relação com os povos brancos que ci-rcundam as
comunidades ou contribuem para manutenção de sua cultura. Apesar de positivas, pois inserem os
índios em nossa sociedade, essas trocas dificultam a manutenção de suas memórias e costumes
sem que elas sofram influências externas.

A VISÃO DO COLONIZADOR SOBRE OS INDÍGENAS

Albert Eckhout (1610-1666)


Eckhout permanece no Brasil entre 1637 e 1644, período em que acompanhou a comitiva
de Maurício de Nassau, documentando a fauna e a flora brasileira, além dos personagens que
aqui viviam. As principais obras de Eckhout é o conjunto de pinturas etnográficas dos habitantes
do Brasil no século XVII: o homem Tapuia (1643) e a mulher Tapuia (1641), o homem Tupi (1643)
e a mulher Tupi (1641), o homem mulato (s/d) e a mulher mameluca (1641) e o homem e mulher
negro(a) (1641). Por muitos anos, os retratos feitos pelo artista foram vistos como a realidade do
povo brasileiro daquele período, embora hoje tenhamos conhecimento de que se tratam muito mais
de idealizações do que propriamente da realidade.

Albert Eckhout, Índio Tapuia, Albert Eckhout, Índia Tapuia, Albert Eckhout, Índio Tupi, Albert Eckhout, Índia Tupi,
1641, óleo sobre tela, 272 x 1641, óleo sobre tela, 272 x 1643, óleo sobre tela, 274 x 1641, óleo sobre tela, 274 x
161cm. Disponível em: https:// 161cm. Disponível em: https:// 163cm. Disponível em: https:// 163cm. Disponível em: https://
bit.ly/2tEBE4r bit.ly/2JAifeM bit.ly/2JyHkXn bit.ly/2KlganN

Essas pinturas apresentam figuras em primeiro plano, remetendo aos retratos europeus
da época e idealizados para representar exatamente a imagem do indígena que pretendiam
apresentar na Europa. As pinturas referentes aos índios Tapuias e Tupis representam o contraste
entre os dois povos, um colonizado enquanto o outro mantinha seus costumes sem a influência dos
colonizadores.
O homem e a mulher Tupi viviam em comunidades que se encontravam mais nas margens
litorâneas e que tiveram um contato mais próximo com os colonizadores, são retratados com
vestimentas de tecidos, cestas para carregar frutos, tecidos e outros alimentos e moringas de

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

cerâmica para água. Na imagem que retrata a índia percebemos ao fundo uma plantação e a
casa grande, demonstração de civilização e contato próximo com os brancos. Já o homem Tupi é
representado próximo a um rio com um arco e flechas nas mãos e uma faca na cintura.
Os índios Tapuias são retratados em uma paisagem de mata, sem nenhum indício de
civilização por perto. Tanto o homem quanto a mulher estão sem roupas e usam apenas adornos,
penas ou plantas sobre algumas partes do corpo. O índio leva nas mãos armas rudimentares e aos
seus pés estão uma serpente e uma aranha. A índia carrega um cesto com frutos e partes humanas.
Também tem nas mãos parte de um braço humano. Estes membros simbolizam o canibalismo e a
falta de civilidade dos povos que inicialmente não sofreram influência direta dos colonizadores.
Civilizados ou não os indígenas eram vistos como figuras exóticas e exibidos na Europa como
conquista ou figuras excêntricas. Eckhout consegue nesta série de retratos nos mostrar as imagens
dos povos brasileiros que foram disseminadas na Europa no século XVII e que permaneceu sendo
a imagem da realidade por muitos anos.

CULTURA INDÍGENA NA ARTE CONTEMPORÂNEA


Atualmente muitos artistas têm tomado para si as causas indígenas, defendendo, partilhando
ou divulgando sua cultura. Alguns são indígenas, enquanto outros apenas simpatizantes das lutas
destes povos.

Sebastião Salgado (1944-)


Sebastião Salgado fotografa, a partir de temáticas que abordam a condição humana, imagens
de pessoas e paisagens de diversas partes do mundo. Ele organiza suas obras fotográficas em
livros temáticos, como a série Trabalhadores (entre 1986 e 1992) onde documentou as condições dos
trabalhadores e os trabalhos manuais em diferentes regiões, o projeto Êxodo (2000) onde percorreu
40 países registrando a emigração de diversas pessoas de sua terra natal por questões sociais e
políticas, entre outros.
Ao realizar as fotografias para a série Êxodos, Sebastião Salgado visitou as regiões mais remotas
do planeta, visualizou a fome, a pobreza e as características mais deprimentes do ser humano.
Parecendo querer “limpar” ou “restaurar” sua pureza, posteriormente, ele realiza a série Gênesis.
Para estas fotografias ele visita regiões praticamente intocadas pelo ser humano ou localidades
onde os habitantes raramente tiveram contato com outros seres humanos. Nesse contexto, visitou
diversas comunidades indígenas, entre elas
ou Korubos, que vivem a oeste do Amazonas,
na terra indígena Vale do Javari. Próximo à
fronteira com o Peru, os Korubos têm pouco
contato com os brancos e praticamente
nenhum com outros grupos indígenas.
Sebastião Salgado registra as cenas
indígenas com caráter de denúncia, mas
ao mesmo com exaltação e plenitude da
pureza, como se buscasse ao mesmo tempo
mostrar e homenagear os personagens
retratados. Transforma cenas do cotidiano
em composições clássicas destacando a
luminosidade e contrastes de claro e escuro
ressaltados pelas imagens impressas em
Sebastião Salgado, série Gênesis, 2013 - Kuluxtia e Pëxken, na
preto e branco. orla do rio Ituí, na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas
Disponível em: https://bit.ly/2Evxbqc

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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Sebastião Salgado, série Gênesis, 2013 - coleta de Sebastião Salgado, série Gênesis, 2013 - O indígena
frutos da macaranduba - uma árvore gigante de 50 Kulutxia no rio Ituí, dentro da Terra Indígena Vale do
metros de altura. Disponível em: https://bit.ly/2Evxbqc Javari, no Amazonas. Disponível em: https://bit.ly/2Evxbqc

Dione Martins/Xadalu (1985)


Dione Martins, conhecido por Xadalu – nome associado ao principal personagem de seus
stickers – é um artista que representa, interage e defende a cultura indígena no sul do Brasil,
principalmente a cultura Guarani. Suas intervenções urbanas são apresentadas a partir de diversas
técnicas e linguagens e mesclam-se as paisagens, as mídias e aos transeuntes das cidades.
Xadalu foi o nome que Dione Martins colocou na imagem do indiozinho que se espalhou
pelo mundo. A partir de uma referência de sua infância e sua experiência como gari nas ruas, ele
introduz na cidade – colando em placas, paredes, muros, etc. – a figura infantil e estilizada de um
índio – o Xadalu. Ele não fala em nome dos guaranis, mas busca através de sua arte dar visibilidade
aos povos indígenas e tenta assim devolver-lhes o seu lugar de modo subjetivo através da arte.
As onças – Jaguaretê em guarani – representadas por Xadalu são autorretratos, pois foi o
animal indicado pelos xamãs indígenas que corresponderia a ele. Partindo da estrutura dos entalhes
feitos pelos guaranis para esculpir os animais que fazem parte de sua cultura, Xadalu desenha
estes animais misturando as imagens referenciais gráficos e cores vibrantes. Ao colar estas
imagens nas cidades mais uma vez o artista tenda dar visibilidade a cultura e também aos guaranis
que permanecem nas ruas das cidades gaúchas vendendo sua arte – inclusive as jaguaretês de
madeira.
Uma das principais problemáticas do povo guarani é a demarcação de terras. Na intervenção
urbana ÁREA INDÍGENA, após alguns desentendimentos entre índios e comerciantes nas ruas de
Porto Alegre, Xadalu espalhou mais de mil adesivos que lembram placas de identificação verdes
com a escrita em amarelo: Área Indígena. Mais tarde pintou a mesma mensagem em dimensões
bem maiores no muro de uma das principais vias da capital gaúcha. A demarcação de terras é de
grande importância para as comunidades indígenas, mas trata-se de um espaço de resistência
também ter um local para comercializar seus trabalhos e divulgar sua cultura.

Dione Martins/Xadalu, Área Indígena - Muro da Mauá, Porto Alegre/RS, 2016. Disponível em: https://bit.ly/30GHBgi

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Dione Martins/Xadalu, Sticker Xadalu. Dione Martins/Xadalu, Fauna Guarani.


Disponível em: https://bit.ly/2I4lBUf Disponível em: https://bit.ly/2HzoKMq

Jaider Esbell (1979-)


Indígena do povo Makuxi, Jaider Esbell nasceu na terra indígena Raposa Serra do Sol,
em Roraima, e é um defensor da cultura, dos costumes e das características do povo rural da
Amazônia. Jaider resgata em seus trabalhos a imagem mitológica do boi na cultura amazônica,
bem como os seres da floresta, a ancestralidade, o conhecimento e suas memórias relacionadas a
Amazônia e ao povo indígena.

Jaider Esbell, obras da coleção It Was Amazon. Disponível em: https://bit.ly/2VMLqg3

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Anotações

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Glossário
Abóbada de aresta – elemento arquitetônico que consiste numa abóbada formada pela intersecção
de duas abóbadas de berço com a mesma flecha.
Abóbada de berço – construída com um contínuo arco de volta perfeita. Elemento arquitetônico
característico da arquitetura romana, retornando posteriormente na arquitetura do renascimento.
Abside – nicho ou recinto semicircular ou poligonal, de teto abobadado, geralmente situado nos
fundos ou na extremidade de uma construção ou de parte dela.
Acanto – Acanthus mollis é uma espécie de planta com flor pertencente à família Acanthaceae. A
folha de acanto, na arquitetura, é reproduzida como forma de ornamentação – não necessariamente
fiel à natureza – utilizadas na ornamentação de colunas.
Adro – terreno em frente ou em volta de uma igreja, podendo ser aberto ou murado. Por extensão,
o nome também pode designar, em arquitetura, aos terrenos margeantes duma construção.
Afresco – arte ou método de pintura mural que consiste em aplicar cores diluídas em água sobre um
revestimento de argamassa ainda fresco, de modo a facilitar o embebimento da tinta.
Altar mor – altar principal de uma igreja, localizado em ponto oposto à porta de entrada.
Anamorfose – representação de figura (objeto, cena etc.) de maneira que, quando observada
frontalmente, parece distorcida ou mesmo irreconhecível, tornando-se legível quando vista de um
determinado ângulo, a certa distância, ou ainda com o uso de lentes especiais ou de um espelho
curvo.
Arco ogival – arco que define um ângulo curvilíneo. A ogiva geométrica admite variações nas quais
os centros dos arcos podem estar dentro ou fora dos limites da forma.
Art nouveau – (ou Arte Nova) é um estilo internacional de arquitetura e de artes decorativas -
especialmente o início da arte aplicada à indústria - que foi muito apreciada de 1890 até os anos
1920.
Arte contemporânea – tendência artística que se construiu a partir do pós-modernismo, apresentando
expressões e técnicas artísticas inovadoras, que incentivam a reflexão subjetiva sobre a obra.
Autodidata – pessoa que tem a capacidade de aprender algo sem ter um professor ou mestre lhe
ensinando ou ministrando aulas. O próprio indivíduo, com seu esforço particular intui, busca e
pesquisa o material necessário para sua aprendizagem.
Baldaquino – tipo de dossel com cortinas, apoiado em colunas usados para embelezar tronos, leitos
etc. Na arquitetura trata de estrutura ou remate escultórico constituída por uma cúpula sustentada
por colunas e que resguarda um altar, um retábulo, uma escultura, um portal etc.
Clássico – ligado ao mundo antigo, Greco-Romano.
Claustro – uma parte da arquitetura religiosa de mosteiros, conventos, catedrais e abadias. Consiste
tipicamente em quatro corredores a formar um quadrilátero, por norma com um jardim no meio. Vida
de claustro ou de clausura é a designação comum dada para a vida dos monges, frades ou freiras.
Daguerreótipo – antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre que fixava as imagens obtidas
na câmara escura numa folha de prata sobre uma placa de cobre.
Deambulatório – originário do latim ambulatorium e significa local para andar, deambular. Em geral
define-se como uma passagem que circunda uma área central e que pode ser encontrada em
diversas aplicações, todas elas, no entanto, inerentes a edifícios religiosos.
Escribas (ou escrivão) – era aquele que na antiguidade dominava a escrita e a usava para, a mando
do regente, redigir as normas do povo daquela região ou de uma determinada religião. Como
poucas pessoas dominavam a arte da escrita, os escribas possuíam grande destaque social.
Espectador – indivíduo que observa atentamente, aprecia um ato ou objeto.
Gravura em metal – ou metalogravura é o processo de gravura feito numa matriz de metal, geralmente
o cobre. Pode também ser feita em alumínio, aço, ferro ou latão amarelo. As ferramentas mais

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
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comuns usadas para gravar uma imagem na matriz são a ponta seca e o buril. Existem ainda
técnicas nas quais são utilizados produtos químicos, como a água-forte e a água tinta.
Iluminura – um tipo de pintura decorativa aplicada às letras capitulares dos códices de pergaminho
medievais. O termo se aplica igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações
imagéticas executadas nos manuscritos produzidos principalmente nos conventos e abadias da
Idade Média.
Mosaico – consiste na colocação, lado a lado, de pequenos pedaços de pedras de cores diferentes
sobre uma superfície de gesso ou argamassa, de acordo com um desenho previamente determinado.
Mumificação – técnica desenvolvida para preservação do corpo humano após a morte. Etapas:
extração do cérebro do cadáver pelas narinas, com um gancho de metal. Imerso em salmoura,
permanecia lá por 2 meses. Enrugado, era envolto com ataduras e depois levado ao caixão e
finalmente ao sarcófago de pedra. O clima seco e a ausência de bactérias na areia e no ar ajudavam
a manter o corpo.
Óculo – elemento de arquitetura, sendo uma abertura na fachada ou no interior que pode ser redonda
ou de outras formas, localizada geralmente acima de uma abertura principal ou inclusa em frontões
e frontispícios.
Palheta – qualquer lâmina ou espátula para uso específico, no caso da arte, trata do suporte para
mistura de tintas. Também tratamos paleta de cores a combinação de tons que pode ser utilizada
em conjunto durante a criação das obras.
Papiro – erva aquática nativa da África central e do Vale do Nilo usada como suporte (após preparo
e secagem) pelos egípcios para escrita na Antiguidade.
Performance – linguagem artística que combina elementos do teatro, da música e das artes visuais.
Pintura rupestre – é o termo que denomina as representações artísticas pré-históricas realizadas em
paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos, ou mesmo sobre superfícies
rochosas ao ar livre.
Putti (plural) – Putto (do latim putus ou do italiano puttus, menino) é um termo que, no campo das
artes, se refere a pinturas ou esculturas de um menino nu, geralmente gordinho e representado
frequentemente com asas. Derivado da figura do Cupido jovem, simboliza o amor e a pureza.
Simetria – correspondência, em tamanho, forma e posição, entre partes localizadas em lados
opostos de uma linha ou plano central. Regularidade; proporção.
Talha – entalhe que se faz com buril na madeira ou no metal; corte, sulco.
Tímpano (arquitetura) – é um espaço geralmente triangular ou em arco, liso ou ornado com esculturas,
limitado pelos três lados do frontão, por um ou mais arcos ou por linhas retas que assenta sobre o
portal de entrada de uma igreja, catedral ou templo.
Trompe L’oeil – técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão ótica que faz com
que formas de duas dimensões aparentem possuir três dimensões. Provém de uma expressão em
língua francesa que significa "enganar o olho" e é usada principalmente em pintura ou arquitetura.
Tumbas egípcias – enormes construções geométricas de pesadas pedras, simbolizando profunda
solidez e força, eram construídas para abrigarem, em seu centro, a múmia do faraó. Possuíam,
além da própria câmara funerária (normalmente repleta de tesouros), várias câmaras “decoradas“
com imagens e fórmulas mágicas.
Vânita – em latim significa vacuidade, futilidade; na história da Arte é interpretada como vaidade,
e pode ser compreendida como uma alusão à insignificância da vida terrena e à efemeridade da
vaidade. Representada visualmente por uma caveira.
Xilogravura – arte e técnica de fazer gravuras em relevo sobre madeira.

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Unidade 3 | Capítulo
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Recomandações de Livros, Séries e Filmes

Filme e Série: As Brumas de Avalon (1979) – ficção período da Idade Média que demonstra as
relações estabelecidas entre novas e antigas culturas e a influência da igreja católica. “É ambientada
durante a vida do lendário Rei Arthur e seus cavaleiros e tem por escopo narrar a já conhecida
lenda arturiana a partir de uma outra perspectiva. Quem protagoniza a história, nesta versão, são
as personagens femininas, o que acabou resultando na reelaboração de todo o universo mítico da
trama”. (Autora Marion Zimmer Bradley)

Filme: A moça com o brinco de Pérola (2003) – história por trás da pintura de mesmo nome do artista
Johannes Vermeer. “Em pleno século XVII vive Griet, uma jovem camponesa holandesa. Devido a
dificuldades financeiras, Griet é obrigada a trabalhar na casa de Johannes Vermeer, um renomado
pintor de sua época. Aos poucos Johannes começa a prestar atenção na jovem de apenas 17 anos,
fazendo dela sua musa inspiradora para um de seus mais famosos trabalhos, a pintura A moça com
o brinco de pérolas”. (Direção de Peter Webber)

Filme: Agonia e êxtase (1965) – história da pintura do teto da Capela Sistina, feita por Miguelangelo.
“O papa Júlio II encomenda a Michelangelo a pintura do teto da Capela Sistina. Contrariado, o
artista abandona a obra num primeiro momento. Ao recomeçar, conflitos ideológicos e batalhas
temperamentais são fatores que permeiam o processo da pintura”. (Direção de Carol Reed)

Filme: Alexandre (2005) – ficção sobre a vida de Alexandre – o Grande. Entendimento do período
histórico, arquitetura e cultura da época. “Conquistando 90 por cento do mundo até os 25 anos
de idade, Alexandre, o Grande liderou seu exército por 35.000 km em ataques e conquistas em
apenas oito anos. Da minúscula Macedônia, Alexandre liderou seu exército contra o poderoso
Império Persa, rumou para o Egito e finalmente chegou à Índia”. (Direção de Oliver Stone)

Filme: Cruzadas (2005) – ficção. Entendimento do período histórico, arquitetura e cultura da época.
“Ainda em luto pela repentina morte de sua esposa, o ferreiro Balian junta-se ao seu distante pai,
Baron Godfrey, nas cruzadas a caminho de Jerusalém. Após uma jornada muito difícil até à cidade
santa, o jovem valente entra no séquito do rei leproso Balduíno IV, que deseja lutar contra os
muçulmanos para seu próprio ganho político e pessoal”. (Direção de Ridley Scott)

Filme: Lutero (2003) – ficção. Compreensão das mudanças e implicações que ocorrem na vida das
pessoas e na arte a partir da Reforma. “Baseado na vida do reformista alemão Martinho Lutero
desde que ele se tornou monge cristão até a Confissão de Augsburgo”. (Direção de Eric Till)

Filme: O Caminho (2010) – compreensão do Caminho de Compostela, da arquitetura, das paisagens


e das crenças por trás da caminhada. “A relação entre Tom e seu filho Daniel sempre foi difícil.
Durante uma jornada pelo Caminho de Santiago de Compostela, Daniel morre. Agora, Tom decide
fazer também a famosa travessia espiritual que pode mudar a sua vida”. (Direção de Emilio Estevez)

Filme: O Gladiador (2000) – ficção que retrata as lutas de gladiadores em Roma. Entendimento
sobre a estrutura do Coliseu e período histórico. “Commodus toma o poder e se livra de Maximus,
um dos generais favoritos de seu predecessor e pai, o grande filósofo, rei e imperador Marcus
Aurelius. O bravo guerreiro é forçado a se tornar gladiador nas arenas e precisa lutar pela vida”.
(Direção de Ridley Scott)

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

Filme: Tróia (2004) - ficção. Entendimento do período histórico, arquitetura e cultura da época. “O
filme conta a história da batalha entre os reinos antigos de Troia e Esparta. Durante uma visita ao
rei de Esparta, Menelau, o príncipe troiano Paris se apaixona pela esposa do rei, Helena, e a leva
de volta para Troia. O irmão de Menelau, o rei Agamenon, que já havia derrotado todos os exércitos
na Grécia, encontra o pretexto que faltava para declarar guerra contra Troia, o único reino que o
impede de controlar o Mar Egeu”. (Direção de Wolfgang Petersen)

Livro (Autor: Ken Follett, 1989) e Série (Direção de Sergio Mimica-Gezzan, 2010): Os Pilares da Terra
- romance britânico de ficção histórica aborda a construção de uma catedral no período medieval. A
história se passa na Inglaterra do Século XII em que dois possíveis sucessores vão lutar pelo trono
inglês. É neste cenário que Tom, um humilde pedreiro e mestre de obras, persegue o seu sonho de
erguer uma imponente catedral, na fictícia cidade de Kingsbridge.

Referências

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BELL, Julian. Uma Nova História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. Ed. Rio de Janeiro; LTC, 1999.
NUNES, Fabrício Vaz. As artes indígenas e a definição da arte. Anais do VII Fórum de Pesquisa
científica em Arte, Curitiba, Embap, 2011, pág. 143-153.
OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro da. Barroco e Rococó no Brasil. Belo Horizonte: C/Arte, 2014.
PERCIVAL, Tirapeli. Arte colonial: barroco e rococó, do século 16 ao 18. São Paulo: Cia Editora
Nacional, 2006.
PERCIVAL, Tirapeli. Arte imperial: do neoclassicismo ao ecletismo, século 19. São Paulo: Cia Editora
Nacional, 2006.
PERCIVAL, Tirapeli. Arte indígena: do pré-colonial à contemporaneidade. São Paulo: Cia Editora
Nacional, 2006.
PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Editora Ática, 2007.

Referências
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29/03/2019.
SILVA, C. P. O. 'Espalhando Arte'. 2017; Tema: História da Arte. (Rede social).

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Unidade 3 | Capítulo
Seção de Educação a Distância/SEAD

Artistas
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Acesso em: 02/04/2019.
As Imagens de acervo particular pertencem a Greice Antolini Silveira.

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Arte | Ensino Médio | 2º Ano
Colégio Militar de Manaus

Anotações

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