Carlos Lamarca - o Guerrilheiro Apaixonado
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O guerrilheiro apaixonado
As cartas escritas pelo capitão Carlos Lamarca à sua
amada Iara Lavelberg dias antes das trágicas mortes de
ambos, em 1971, revelam o lado passional de
revolucionário implacável.
Por Hugo Studart
Iara Iavelberg tinha o rosto lindo, a cabeça brilhante e o coração revolucionário. Era a musa da esquerda
brasileira em 1969, quando um capitão do Exército, Carlos Lamarca, desertou de armas em punho para se
tornar comandante da Vanguarda Popular Revolucionária, a VPR. Logo tombaria de encantos por Iara. A
paixão do capitão pela guerrilheira virou lenda entre a intelectualidade pátria, nossa melhor versão de
Tristão & Isolda ou de Garibaldi & Anita. Há 35 anos ambos, Lamarca & Iara, morreram nas mãos dos
militares. Caíram na Bahia, em locais e datas distintas. O que poucos sabem é que Lamarca deixou um
diário como legado, redigido durante seu exílio na caatinga baiana. São 39 trechos, redigidos entre 8 de
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julho e 16 de agosto de 1971 (um por dia), endereçados a Iara e obtidos por ISTOÉ através de um oficial
de alta patente. O diário é um documento singular. Os textos se parecem muito mais com uma longa lírica
romântica do que com registros racionais de um revolucionário. Guardam impressionante paralelo com as
cartas da revolucionária alemã Rosa Luxemburgo a Leo Jogiches, onde ela discute a revolução, mas
dedicase principalmente a falar do amor colossal que sente pelo amante. Nas cartas de Lamarca, como
nas de Rosa, há trechos marxistas, mas os pontos fortes desse documento são as declarações de amor que
revelam o imaginário do nosso mais conhecido guerrilheiro:
– Neguinha, a fôrça da coletivização é espantosa, fico a imaginar uma fazenda coletiva – e me babo só de
pensar! (A grafia original foi mantida)
Lamarca passou seus últimos dias escrevendo para a amada. Isso se tornara uma estranha obsessão.
Alguns trechos dessas cartas vazaram em 1980, mas eram relacionados às convicções ideológicas do
capitão; nada sobre Iara. Os originais do diário se encontram até hoje em poder dos militares. Ainda são
considerados documentos “reservados” das Forças Armadas. ISTOÉ teve acesso a uma cópia
datilografada pelos militares, totalizando 41 páginas. O diário começou a ser escrito em resposta a uma
carta enviada pela guerrilheira.
MUSA Filha de família abastada, Iara mergulhou
na militância política, mas destoava dos padrões
tradicionais da esquerda
– Sonhei com você. Acordei num misto de alegria e tristeza – compreendi que te desejava. (...) Sintome
ôco. Esse estado não posso superar, o que posso fazer? No fim, um cocô atolado.
Em sua carta a Lamarca, lara cobra mais firmeza do amado, diz que ele deveria fazerse respeitar mais
pelos companheiros. Em sua resposta, o capitão se esforça para mostrar à musa sua disposição
revolucionária e seu valor intelectual. Tece longas análises sobre a situação política na China, na Mongólia,
em Cuba, na Jordânia e no Paquistão. Em meio disso, desanda a escrever sobre o amor. Começa heróico,
em idílio marxista, para já na segunda frase revelar, de forma sutil, seu grande temor – o de que Iara
termine nos braços de outro homem:
SEGREDOS A atual ministra Dilma Rousseff ouviu confissões de Lamarca
– O nosso amôr é uma realidade que veio sendo transformada – hoje atinge um nível nunca por mim
sonhado, mas vamos continuar transformando. Sonho com êle numa fazenda coletiva – juro não ser
ciumento e lutar junto contigo pela tua liberdade – e vou te amar mais intensamente, isto é possível, sinto
que é. Nosso amôr não está isolado na realização de nós dois, nem nos milhares de filhos que teremos, êle
nasceu e estará umbilicalmente ligado à Revolução e construção do Socialismo.
Depois escorrega a falar de solidão.
– Quando estou longe de você, tudo muda. É outro mundo, falta aquele calor que só emana de você
mesma – fico imaginando e me delicio com tua lembrança, tôda viva, junto de mim.
– Continuo então aguardando ansiosamente a oportunidade de te encontrar, olhar dentro de teus olhos
lindos (perguntadores e atentos olhos), te abraçar, te beijar (queridinha) e amar. Já vi que não sei mais
passear, só após a guerra poderemos passear – qualquer pedaço de rua, ainda teremos, é visto por mim
taticamente como um campo de luta.
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ROMANCE José Dirceu, então líder estudantil, foi namorado de Iara
Ele chegou a cometer dois poemas socialistas. O suor e as lágrimas e Isolado. Este último começa assim:
– Ouço ao longe/ um campona cantar/ triste, lamentos/ risos de crianças/ no rio se banhando/ fim de tarde,
de/ trabalho/ Gritos de mãe,/ filho chamando.
Depois de 30 dias no sertão, longe de lara, Lamarca está enlouquecido de solidão. De dia, discute com os
companheiros sua necessidade psicológica de reencontrar lara. E registra tudo no diário:
– Sonhando com você, acordo no meio da noite e volto a sonhar. Sonhei com você até nas vias de fato,
pode? Ora, porque o sonho? Necessidade sexual não pode ser só, já sonhei inclusive nêsse nível com
você. Como, até mesmo dormindo contigo sonhei, só posso concluir que a minha cuca é mais complicada
do que eu pensava.
PORTADOR César Benjamim deveria entregar
as cartas a Iara. Foi preso sem cumprir a missão
Lamarca e Iara se conheceram em abril de 1969, dois meses depois de ele desertar do Exército. Foi
paixão fulminante. Ele era casado e tinha dois filhos. Nascido em 1937 no morro do Estácio, no Rio de
Janeiro, era filho de um sapateiro e de uma donadecasa. Adolescente, já se mostrava disciplinado nos
hábitos, do tipo que mantém o sapato engraxado e o uniforme engomado. Casouse com a própria irmã de
criação, Maria Pavan. Foi criado na moral proletária; depois adestrado no moralismo da caserna; por fim,
na ortodoxia stalinista. Jamais gostou da dialética socialista – era, como se diz, um “homem de ação”.
Ela nasceu em 1944, em uma abastada família de judeus paulistanos. Casouse em 1960, aos 16 anos,
com Samuel Halberkon, um médico da comunidade. Separouse três anos depois e aderiu à militância
política. Estudou psicologia na Universidade de São Paulo e virou professora. Era alta, loira, tinha os olhos
claros, grandes, e um rosto com sardas. Vaidosa, cuidava muito bem do corpo, dos cabelos e das roupas,
hábitos inusitados para a esquerda da época. Separada, passou a exercitar o amor livre e as relações
fugazes – entre seus namorados, o então líder estudantil José Dirceu. Era o comportamento comum entre
as elites em Paris, Ipanema e Jardins. Chamavase revolução sexual e fazia parte do contexto de libertação
da mulher.
Tornouse público na VPR que a relação extraconjugal incomodava o capitão. Confessava aos
companheiros uma enorme culpa por ter arrumado outra depois de submeter a família ao exílio em Cuba.
Mas logo começaram a viver juntos. Passaram dez meses trancados em aparelhos clandestinos. O
romance foi testemunhado pela guerrilheira Vanda, codinome de Dilma Rousseff, hoje ministra da Casa
Civil. “Eu e Lamarca lavamos muitos pratos juntos”, revela Dilma a ISTOÉ. “Era nessas horas que ele me
fazia inconfidências sobre sua paixão por Iara.”
O diário revela o conflito entre esses dois mundos tão distantes, mas ligados pela fé na revolução. O
encontro entre Lamarca e Iara foi um choque social, cultural e político. A relação enfrentou pressões
dentro da VPR e das demais organizações marxistas, quase todos condenando aquele amor. No início de
1970 os dois começaram o treinamento militar. Caçados pelo Exército, espalharamse pelas ruas do País
cartazes com fotografias dos dois e os seguintes dizeres: “Bandidos terroristas procurados pelos órgãos de
Segurança Nacional.” Lamarca escreveu no diário:
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PRECOCE Aos 16 anos, Iara se casou com Samuel Halberkon
– Sem você tudo teria desabado, e não sei como me encontraria perante a mim mesmo. Aprendi a lutar
com você, e posso estar todo errado e estar fraquejando nessa luta. Mas quero que você compreenda que
quero lutar, vou lutar pelo relacionamento.
No início de 1971, a VPR já estava completamente destruída, com seus militantes mortos, presos ou
exilados. Os farrapos da organização foram incorporados a uma outra, o MR8, Movimento
Revolucionário Oito de Outubro. Lamarca foi rebaixado a militante de base e enviado para se esconder no
interior da Bahia. Iara foi alçada à cúpula da nova organização e alocada em Salvador. O capitão tinha
fama de ser intelectualmente despreparado. A imagem de Iara, ao contrário, era a de ser o cérebro do
casal. Talvez por essa razão ele tenha tentado exibir dotes intelectuais ao redigir em seu diário análises
sobre a conjuntura econômica e a política internacional.
Em Salvador, Iara morava num apartamento com o militante Félix Escobar Sobrinho, 20 anos mais velho.
A idéia era um disfarce de pai e filha. Lamarca começou a escrever seu diário logo depois que soube,
através daquela carta da amada, que ela morava com outro. Demonstra no diário que, desde o início, ficou
com ciúmes. Primeiro tenta se mostrar compreensivo. Depois escreve sobre a distância e as necessidades
físicas de ambos; chega a liberar Iara para novos relacionamentos.
– A tua situação é terrível, e a sua necessidade afetiva muito grande, e se não houver possibilidade de nos
encontrarmos mais, tenho de abrir mão do nosso relacionamento no que se refere a você – dar a você a
liberdade de relacionar com outro companheiro. No nível que atingiu o meu amôr, não posso admitir a
possibilidade de me relacionar com outra pessoa, nunca mais, mas a minha estrutura é diferente da tua,
posso viver só com você na cuca.
– Tenho que admitir as suas necessidades efetivas e comparar com o que a realidade está aos poucos
mostrando para nós o que mais tarde será inexorável o aumento de suas necessidades. Não quero estar
sendo um puto com você – entenda neguinha, por favor. Sintome um cocô sem poder te ajudar.
Mas Lamarca promete, de sua parte, manter a fidelidade para todo o sempre. Era, em verdade, somente
sua tática inicial para não parecer um porco chauvinista:
– Não te preocupes que não existirá nunca uma cabrita. Te respeito muito e sou feliz por ser o teu amor;
sinto saudade de tudo e me alimento das lembranças, penso adoidadamente em ti – é impressionante –
nunca pensei amar tanto.
Shakespeare já afirmava que o curso do verdadeiro amor nunca foi sereno. Rosa Luxemburgo, por
exemplo, passou 15 anos cobrando de Leo Jogiches casamento burguês e filhos. Quando, por fim, Rosa
se cansou da espera e iniciou um relacionamento com outra pessoa, o amante enlouqueceu de ciúmes e
ameaçou matála. Por muito menos, Lamarca também perdeu o controle emocional. Em suas anotações,
de dia, é compreensivo.
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– Não sei explicar toda essa imensa necessidade – o importante é que existe. Sei que a presença é
necessária, que lutaremos pelas oportunidades de estarmos juntos, mas, enquanto separados PELO
TEMPO QUE FOR, EM QUALQUER SITUAÇÃO – VOCÊ É MINHA MULHER – só você, sempre.
De noite, torturase de ciúmes:
– Falei em abertura pelo seu lado (do meu não admito, nem existirá nunca condições) do nosso
relacionamento – que é observado – e como última hipótese; pode ser um puta ciúme meu de existir
alguém cumprindo a minha função.
Na anotação de 13 de agosto, o guerrilheiro faz “autocrítica” e admite estar sofrendo de “machismo” e
“autoflagelação”. Revela que decidira discutir politicamente com os companheiros uma forma de burlar a
segurança para se encontrar com Iara (“Preciso de você, eis a realidade”). Por fim, em 16 de agosto de
1971, em sua última anotação, ele decide acabar com a tormenta, pelo menos na sua imaginação, da forma
mais conservadora possível:
– Peço a você que não se abra diante de conversa mole de ninguém – o relacionamento com todos os
companheiros deve ser político e não sentimento e outros bichos. Tome cuidado.
O diário jamais chegou à destinatária. Foi entregue pelo capitão ao militante João Lopes Salgado,
codinome “Fio”, e depois foi repassado ao militante César Queiroz Benjamim, o “Menininho”, na época
com 17 anos. Em 21 de agosto, escondido no Rio de Janeiro, Benjamim passou um telegrama para Iara,
sem saber que já estava morta. Minutos depois, foi abordado por uma blitz da PM, entre as praias de
Ipanema e Leblon. Estava num Fusca, com três outros militantes. Benjamim escapou durante a revista. No
Fusca, ficaram os companheiros e uma maleta com roupas, uma arma e um envelope lacrado. “Eu não
sabia que o diário estava no envelope”, relata Benjamim, que foi candidato a vicepresidente da República
na chapa de Heloísa Helena. “Só sabia que deveria entregar um envelope para a Iara.” O Exército já
descobrira que o capitão da guerrilha se escondia na Bahia, mas não tinha idéia do local exato. Ao receber
o diário, os militares concluíram, pelas anotações, as coordenadas prováveis do esconderijo. Eis as últimas
linhas de Lamarca, uma promessa que não poderia cumprir.
– Te amo, te adoro. Segue esta carta impregnada de amor – vou te ver nem que seja a última coisa da
minha vida e mil beijos do teu amor.
Jamais se veriam novamente. Iara Iavelberg foi encontrada a 20 de agosto, em um apartamento da Pituba,
Salvador. Segundo os militares, quando se viu cercada, conseguiu escapar para o apartamento vizinho e
trancouse no banheiro de empregada. O Exército estava esvaziando todo o prédio para iniciar a caçada.
Então, uma criança do edifício voltou para pegar um brinquedo e viu Iara se escondendo. Assustada,
avisou os militares. A versão oficial é a de que Iara teria dado um tiro no próprio peito, aos 27 anos,
enquanto um soldado tentava arrombar a porta do banheiro. Sua família, contudo, levanta a hipótese de ela
ter sido executada. “Há fotos, laudos e depoimentos de que ela não se matou”, afirma Mariana Pamplona,
sobrinha de Iara e roteirista de um documentário em produção, Suicídio?, sobre a tia.
Os militares a mantiveram por um mês na geladeira do IML de Salvador. Só depois que o capitão foi
morto os pais de Iara foram avisados. O Exército não deixou que um rabino fizesse a lavagem ritual do
corpo, a tahara. Entregoua em caixão lacrado. Somente a família foi autorizada a comparecer ao enterro.
Havia o temor de que a esquerda roubasse o corpo para transformálo em estandarte. É possível, também,
que se tentasse evitar uma contestação à versão oficial de suicídio. lara passou 32 anos enterrada na ala
dos suicidas do cemitério judaico do Butantã, em São Paulo. Samuel Iavelberg, irmão de Iara, tentou
removêla para outro local em 1997, mas os rabinos impediram. “Isso incomodava muito meus pais, eles
eram muito religiosos”, relata Samuel. “Mas para mim o essencial é que não prevalecesse a vontade da
ditadura.” Em setembro de 2003, por ordem da Justiça, Iara foi exumada. Os rabinos tentaram protelar
alegando que seria profanação. Foi preciso ameaçálos de prisão. Em junho de 2005, o corpo de Iara foi
finalmente enterrado na ala sagrada do cemitério, ao lado dos pais.
Lamarca soube da morte da amada dias depois. Perdeu a vontade de prosseguir na luta. Já havia
caminhado em fuga cerca de 300 quilômetros pelo sertão baiano, ao lado do companheiro José Campos
Barreto, o Zequinha. Foi encontrado em 17 de setembro por uma patrulha comandada pelo major Nilton
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Cerqueira, depois deputado federal e secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Os comandantes torciam
para que resistisse à prisão e não voltasse vivo. Contudo, de acordo com um militar que participou do
episódio, as ordens do Centro de Informações do Exército eram para prendêlo vivo. A idéia era mais
tarde desaparecer com o corpo de Lamarca e vazar o boato na esquerda de que ele seria um agente
infiltrado. Contudo, Cerqueira decidiu atender ao desejo da tropa.
O capitão da guerrilha estava desanimado, fraco, desnutrido e doente. Foi encontrado dormindo debaixo
de uma árvore. Zequinha ainda tentou reagir; morreu na fuga. Lamarca ficou no chão. O major e o capitão
mantiveram então um rápido diálogo. Cerqueira indagou pelo nome: “Capitão Carlos Lamarca!”,
identificouse. A seguir perguntou onde estariam sua mulher e filhos: “Em Cuba”, respondeu. A última das
perguntas: “Você sabe que é um traidor do Exército brasileiro?” Lamarca não respondeu, segundo
Cerqueira. De acordo com um militar que acompanhou os acontecimentos, a desfeita de Lamarca teria
sido pior. Balançou os ombros e braços, no gesto de quem quer dizer “e daí?”, e tentou se levantar dando
as costas à patrulha. Terminou fuzilado no chão, aos 33 anos, pelo major Cerqueira. Segundo a autópsia,
no estômago e nos intestinos do capitão Lamarca só havia capim. Da aventura, só restaram as mensagens
jamais entregues à musa inspiradora.
– Uma coisa é absoluta, inexorável – você é minha mulher – e isso é o que de mais lindo me aconteceu na
vida. Se é antidialético crêr no absoluto, no eterno, eisme, nesse caso um antidialético ferrenho. Saudade
imensa, muito amor; seu só teu.
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PUBLICADO NA EDIÇÃO
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"Se eu criar tumulto, o senhor
chama a Polícia Federal para
me tirar do voo, certo? Pois
finja que eu criei confusão e
peça que me prendam"
Osmar Terra, deputado federal, em conversa
com o comandante do avião ao descobrir que
embarcara em um voo errado
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