REVIZEE (2006) - Relatório Executivo
REVIZEE (2006) - Relatório Executivo
REVIZEE (2006) - Relatório Executivo
Programa REVIZEE
Relatório Executivo
BRASIL
2006
Presidente da República
Luis Inácio Lula da Silva
Ficha Catalográfica
Ministério da Educação
(MEC)
INSERIR AS LOGOMARCAS
Subcomitês Regionais de Pesquisa (SCOREs)
SCORE – Norte
Coordenador Dr. Maâmar El-Robrini
SCORE – Nordeste
Coordenador Dr. Fábio Hissa Vieira Hazin
SCORE – Central
Coordenador Dr. Jean Louis Valentin
SCORE – Sul
Coordenadora Dra. Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski
9 APRESENTAÇÃO
11 RESUMO
13 ABSTRACT
15 INTRODUÇÃO
263 GLOSSÁRIO
271 SIGLAS
303 AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em vigor desde 1994, reformulou os
conceitos de ocupação dos espaços marítimos. De acordo com as determinações da Convenção, o
Brasil ampliou enormemente seus direitos exclusivos de soberania para fins de “explotação e
aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas
sobrejacentes ao leito do mar, do leito e seu subsolo”, incorporando, como “Zona Econômica
Exclusiva”, uma área de cerca de 3,5 milhões de km2.
A exploração e produção de petróleo e gás na plataforma continental são exemplos claros das
potencialidades daí decorrentes. Nesse caso, tratam-se, de recursos finitos que completarão seu
ciclo produtivo ao longo das próximas décadas. Ao contrário, os recursos vivos, com sua contribuição
para a alimentação humana e potencial biotecnológico, constituem um capital permanente, passível
de uso sustentável e legado às gerações futuras.
O Brasil não é uma exceção nesse quadro. A despeito do limitado potencial pesqueiro, determinado
pela prevalência de condições oceanográficas pouco propícias ao suporte de grandes biomassas, o
país já coleciona um histórico de sobrepesca, atividade predatória, e insuficiência na gestão e
fiscalização de seus principais estoques. A pesca extrativa marinha vem oscilando, nos últimos
anos, em torno de 500 mil toneladas, o que corresponde a cerca de 0,6% da produção mundial;
quando se consideram a pesca continental e a aqüicultura, tem-se um incremento de dois décimos
de percentual na participação do país (0,8%). Porém, uma análise mais focada mostra um setor
dinâmico, ao qual se integra um contingente em torno de 500 mil pescadores profissionais. Se, em
termos quantitativos, a produção de pescado parece pouco significativa, o valor de parte das espécies
explotadas e cultivadas denota um potencial econômico importante, tendo garantido, por exemplo,
um saldo na balança comercial, em 2003, superior a 220 milhões de dólares. A importância das
pescarias para a subsistência das comunidades artesanais é outra característica dominante na
atividade ao longo do litoral brasileiro.
Por outro lado, a utilização dos recursos vivos marinhos deve estar, também, em consonância com
as diretrizes da Convenção sobre Diversidade Biológica, que prevê as condições não apenas
para a conservação, como também para o uso sustentável e a repartição eqüitativa dos benefícios
da biodiversidade. Dessa forma, não se trata apenas de conservar estoques pesqueiros, mas
principalmente garantir a sustentabilidade das pescarias, o que implica em equilíbrio entre os
ecossistemas, as comunidades e a atividade econômica.
Mesmo não sendo viável gerenciar o “ambiente marinho” ou predizer os efeitos de cada atividade
humana sobre os ecossistemas, é possível, a partir do melhor conhecimento disponível, tomar atitudes
pragmáticas que protejam a biodiversidade e garantam sua explotação sustentável.
Programa REVIZEE 9
O Programa “Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva”
– REVIZEE pretendeu atingir esse objetivo. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, o
Programa teve início em 1995 e contou com a participação de Ministérios, Universidades e
Instituições de pesquisa; ao longo de pouco mais de dez anos, superando orçamentos limitados e
meios flutuantes nem sempre adequados, analisou as pescarias brasileiras, avaliou estoques, realizou
prospecções, e identificou e delimitou potenciais.
Marina Silva
Ministra do Meio Ambiente
10 Programa REVIZEE
RESUMO
O Brasil, ao assinar, em 1982, e ratificar, em 1988, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar, assumiu uma série de direitos e deveres frente à comunidade nacional e internacional.
Dentre tais compromissos, destacam-se aqueles relacionados à exploração, aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos vivos da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), na ótica de uso
sustentável do mar. O Programa REVIZEE, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, teve
início em 1995 e contou com a participação de Ministérios, Universidades e Instituições de pesquisa;
seu objetivo central foi o levantamento dos potenciais sustentáveis de captura dos recursos vivos na
ZEE. Visando à sua implementação operacional, a ZEE brasileira foi dividida em quatro grandes
regiões, de acordo com suas características oceanográficas, biológicas e tipo de substrato dominante
(Norte, Nordeste, Central e Sudeste-Sul). O Programa contou com a participação de mais de 300
pesquisadores diretamente engajados, representando cerca de 60 Universidades e instituições de
pesquisa. Foram empregadas mais de 10 embarcações, oceanográficas e de prospecção pesqueira,
incluindo aquelas alugadas da frota comercial. Durante os dez anos de execução do REVIZEE,
foram compartilhados recursos dos diversos órgãos e instituições envolvidos, perfazendo cerca de
R$ 32 milhões. Foi também significativo o aporte, pelo CNPq, na forma de bolsas de pesquisa,
totalizando R$ 8,7 milhões. As Universidades e instituições de pesquisa contribuíram com a cessão
de suas embarcações, instalações, equipamentos e remuneração dos pesquisadores. O IBAMA foi
responsável pela coordenação operacional do REVIZEE, tendo seus barcos de pesquisa e centros
especializados engajados nas campanhas de prospecção pesqueira.
Grande parte da ZEE brasileira é caracterizada pela baixa concentração de nutrientes em suas
águas e produtividade reduzida. A ZEE, a despeito da sua grande extensão, não oferece condições
para a existência de quantidades significativas de recursos pesqueiros. Alguns estoques foram
identificados como potenciais, tendo-se em conta, no entanto, diversos fatores condicionantes. Na
região Norte, destacaram-se o ariocó (Lutjanus synagris); cabeçudo (Ctenosciaena gracilicirrhus);
trilha (Upeneus parvus); e cambéua (Arius grandicassis). Entretanto, sua pesca pode acarretar
elevado percentual de captura incidental de outras espécies, cujos estoques já se encontram
comprometidos. Os camarões-de profundidade (Aristeopsis edwardsiana e Aristeus antillensis)
ocorreram em áreas restritas, em profundidades variando entre 700 e 800 m; são recursos
extremamente sensíveis à explotação, exigindo rígido controle do esforço de pesca, para evitar sua
rápida exaustão. O camurim-do-olho-verde (Parasudis truculenta) apresentou maior abundância no
litoral do Estado do Amapá, em profundidades variando entre 300 e 750 m, não sendo, ainda,
objeto de uma pesca específica. No Nordeste, a arabaiana (Seriola dumerili) foi abundante em
toda a região, mas os parâmetros populacionais, o status de seu estoque e os limites sustentáveis de
sua captura ainda não foram determinados. As prospecções com espinhel de fundo apontaram como
recursos potenciais, ainda que com rendimentos reduzidos, o batata (Lopholatilus villarii); cherne
(Epinephelus niveatus); tubarões do gênero Squalus e o caçonete (Mustelus canis), espécies presentes
em águas profundas, com baixas temperaturas, e que se caracterizam por reduzido potencial
reprodutivo. Os baixos rendimentos previstos sugerem que esses estoques, em função de seu valor
econômico unitário, só poderão vir a ser utilizados como alternativa para a pesca artesanal. A
pesca da albacorinha (Thunnus atlanticus) foi apontada como passível de expansão, devendo-se,
considerar, no entanto, o crescimento da pesca recreativa oceânica, que atua sobre o estoque de
forma concorrente. A agulha-preta (Hemiramphus brasiliensis) ainda se encontra subexplotada;
recomendou-se, entretanto, que qualquer incremento no esforço de pesca seja acompanhado de
medidas que promovam o aumento no comprimento de primeira captura. Na região Central, os
resultados evidenciaram a disponibilidade de recursos pelágicos de grande porte, com destaque
Programa REVIZEE 11
para o espadarte (Xiphias gladius), acessíveis às pequenas embarcações artesanais locais, providas
de espinhel de superfície. Dentre as espécies de pequenos pelágicos identificadas, apenas o chicharro-
oceânico (Decapterus tabl) pode ser considerado um recurso potencial na região dos bancos oceânicos.
No Sudeste-Sul, a sardinha-laje (Opisthonema oglinum) e o peixe-galo (Selene setapinnis) foram
apontados como recursos subexplotados. No entanto, a avaliação das séries históricas de desembarque
leva a crer que a biomassa desses estoques não é expressiva. A anchoíta (Engraulis anchoita) ocupa
a plataforma continental em abundância considerável, no extremo sul, e moderada, no sudeste. Sua
ampla distribuição e facilidade de captura tornam a espécie um recurso importante, mas ainda sem
aproveitamento no Brasil. O calamar-argentino (Illex argentinus) é um recurso potencial, porém
sua abundância apresenta variabilidade sazonal e interanual muito acentuada, o que pode inviabilizar
a economicidade de pescarias dirigidas ao estoque.
Em relação aos principais recursos já explotados, constatou-se que, na maior parte dos casos, não
há possibilidade de aumento da produção, a partir da intensificação do esforço de pesca. Os estoques
apontados como promissores demandam ainda a determinação mais precisa de seus potenciais. As
perspectivas de aumento da produção são limitadas e estarão, também, sujeitas a estratégias
conservativas de ordenamento. Para o conjunto dos estoques com algum potencial, avaliados no
escopo do REVIZEE, pode-se inferir uma contribuição bastante restrita para a produção extrativa
marinha nacional. Apenas a anchoíta, se solucionados os problemas de conservação a bordo e
mercado, apresenta potencial significativo de aproveitamento comercial, podendo-se supor produções
anuais em torno de 100 mil t, porém com prováveis variações sazonais e interanuais.
O Programa ampliou o conhecimento sobre a biodiversidade marinha. Até o momento, foram descritas
seis novas espécies de peixes e 55 novas espécies de organismos bentônicos. Também para o bentos,
foi registrada a ocorrência de cerca de 130 espécies e gêneros, e dez famílias, que ainda não
haviam sido observadas para o Brasil ou para o Atlântico Sul.
A formação de recursos humanos, identificada como uma das metas prioritárias do Programa,
permitiu a capacitação de equipes regionais, em especial no Norte e Nordeste, nas diversas áreas de
conhecimento pesqueiro e oceanográfico. O Programa contribuiu ainda de forma decisiva para a
modernização da infra-estrutura de pesquisa de laboratórios e navios das instituições participantes.
Alguns direcionamentos para o futuro da gestão pesqueira no país foram evidenciados pelo REVIZEE
– necessidade de investimento na qualidade do pescado; medidas de preservação dos estoques
pesqueiros, na forma de áreas de restrição e ações que evitem a captura acidental de espécies não
comercializáveis ou de tamanhos inferiores aos permitidos; medidas de controle do esforço de pesca;
e aperfeiçoamento da gestão das pescarias. Foram considerados essenciais a alteração do modelo
de ordenamento vigente, com o fim do livre acesso aos recursos pesqueiros e a reunificação, em um
único organismo, da competência e responsabilidade pela gestão da pesca no país, além do
comprometimento do setor produtivo com a perspectiva de longo prazo de sustentabilidade dos
recursos pesqueiros.
12 Programa REVIZEE
ABSTRACT
By signing the United Nations Convention on the Law of the Sea in 1982, and ratifying it in 1988,
Brazil accepted a series of rights and obligations to the national and international communities.
Among these obligations, those related to the exploitation, use, conservation, and management of
living resources in the Exclusive Economic Zone (EEZ) are the most notable, concerning the
sustainable use of the sea. Managed by the Ministry of the Environment, the REVIZEE Program
was initiated in 1995 with the participation of ministries, universities and research institutions. Its
central objective was to conduct an assessment of the sustainable yield of living resources in the
EEZ. For its operational implementation, the Brazilian EEZ was divided into four large regions,
according to their oceanographic and biological characteristics, and dominant seabed type (North,
Northeast, Central and Southeast-South). Over 300 researchers participated in the Program,
representing approximately 60 universities and research institutions. Over 10 oceanographic and
fishing vessels were used, including those rented from the commercial fleet. Along the ten years of
the REVIZEE, the several agencies and institutions involved in the Program have shared resources
of around R$ 32 millions as direct funds. CNPq also contributed, providing R$ 8.7 millions in
research grants. The universities and research institutions contributed by allowing the use of their
vessels, facilities, and equipment, and covering the researchers’ salaries. IBAMA was responsible
for program operational coordination and also made its research vessels and research centers available
for the exploratory fishing surveys.
A large portion of the Brazilian Exclusive Economic Zone is characterized by the low concentration
of nutrients in its waters, and by low productivity. Thus, despite its great extension, the EEZ does
not offer the necessary conditions for the existence of significant fisheries resources. Some fish
stocks were identified as potential resources although different limiting factors have to be considered.
In the North Region there is a potential for increasing capture of snapper (Lutjanus synagris),
barbel drum (Ctenosciaena gracilicirrhus), dwarf goatfish (Upeneus parvus) and sea catfish (Arius
grandicassis). However, fishing these species may lead to high incidental capture of other species,
whose stocks are already severely depleted. The deep-sea shrimps (Aristeopsis edwardsiana and
Aristeus antillensis) ocurred in specific areas at depths from 700 to 800 meters. These resources
are extremely sensitive to exploitation, requiring strong control of fishing activities to avoid their
rapid depletion. The longnose greeneye (Parasudis truculenta) presented its largest abundance on
the coast of Amapá state, at depths varying between 300 and 750 meters. This species is not
currently targeted by fisheries activities in this region. In the Northeast Region the greater amberjack
(Seriola dumerili) is an abundant species throughout the region, but the population parameters,
stock status, and sustainable limit for its capture have not yet been determined. Surveys with
bottom long-line indicated the following species as potential resources, though with low yields:
batata (Lopholatilus villarii); snowy grouper (Epinephelus niveatus); sharks of the genus Squalus;
and dusky smooth-hound (Mustelus canis), which are deep water, low temperatures species
characterized by reduced reproductive potential. The forecast of low yields suggest that these resources
may be exploited as an alternative to artisanal fisheries activities only, given their individual economic
value. The catch of blackfin tuna (Thunnus atlanticus) may be expanded throughout the region.
However, the recreational oceanic fishing of this species should also be taken into account, as this
activity adds to commercial fishing to affect the stocks. The stock of ballyhoo (Hemiramphus
brasiliensis) is still under-exploited. However, it is recommended that any increase in fishing activities
be accompanied by measures promoting the increase of length at first capture. In the Central
Region, the results clearly indicated the availability of large-size pelagic resources, with the swordfish
(Xiphias gladius) being the most notable, and accessible for small local artisanal vessels equipped
Programa REVIZEE 13
with surface long-lines. Among the small pelagic species identified, only the roughear scad (Decapterus
tabl) may be considered as a potential resource in the region of oceanic banks. In the Southeast-
South, the Atlantic thread herring (Opisthonema oglinum) and the Atlantic moonfish (Selene setapinnis)
were pointed as under-exploited species. However, the analysis of the historical landing data indicates
that the biomass of these stocks is not significant. The Argentine anchoita (Engraulis anchoita)
occupies the continental shelf in considerable abundance in the southern edge, and is moderately
abundant in the southeast. Its broad distribution and ease of capture make this species an important
resource, although still with no use in Brazil. The Argentine squid (Illex argentinus) is a potential
resource. However, its abundance varies sharply both seasonally and from one year to the next, which
means that fishing this species may not be economically viable.
Concerning the main resources already exploited, it was found that, in most cases, there is no possibility
of increasing production by intensifying fishing activities. The stocks identified as promising still
require a more precise definition of their production potential. The prospect of increased production
is limited, and will also be conditioned to conservation strategies of planning and regularization.
Thus, as a rough estimate, it may be concluded that the group of stocks presenting some production
potential, and which were evaluated by the REVIZEE Program, represent a minor contribution to
the national marine extractive production. Only the Argentine anchoita presents a significant potential
for commercial use, if the problems of on-board conservation and available markets are solved. On
average, an annual production approaching 100 thousand tons may be estimated, although with
probable significant seasonal and year-to-year variations.
The Program led to increased knowledge on biodiversity and species richness, both along and off the
coast. To-date, six new fish species and 55 new benthic species were described, and the occurrence of
approximately 130 species and genera, and ten families of benthic organisms was recorded, which
were still unknown to Brazil and/or to the South Atlantic Ocean.
The capacity building of human resources was identified as a priority goal by the Program. This
objective allowed the training of regional teams, especially in the North and Northeast Regions, on
fisheries and oceanography. The Program has also decisively contributed to the modernization of the
research infrastructure of laboratories and vessels of the participating institutions.
The Program recommends some lines of action for the future management of national fisheries –
investing in catch quality; preservation measures such as the establishment of restricted areas and
actions to avoid accidental capture of non-commercial species, or individuals under the legal capture
size; fishing effort control and improving fisheries management. The current planning and
regularization model should be modified to take into account the basic principles of stopping free
access to fisheries resources, and of unifying in a single agency the competency and the responsibility
for fisheries management in the country. It is essential to obtain the commitment of the productive
sector to the long-term sustainability of fisheries resources.
14 Programa REVIZEE
INTRODUÇÃO
O mar constitui uma das últimas fronteiras na busca de recursos naturais pelo homem; seus
ecossistemas contêm a maior parte da biodiversidade disponível no planeta. Não obstante, grande
parte desses sistemas vem passando por algum tipo de pressão de origem antrópica, levando
populações de importantes recursos pesqueiros, antes numerosas, a níveis reduzidos de abundância
e, em alguns casos, à ameaça de extinção. Observam-se, em conseqüência, situações de desequilíbrio,
com a dominância de espécies, de menor valor comercial, ocupando os nichos liberados pelas espécies
sobreexplotadas. A alteração da biodiversidade desses ecossistemas, resultante da ação humana,
vem representando uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável.
Tal situação levou a comunidade internacional a efetuar esforços e pactuar normas para a conservação
e exploração racional das regiões costeiras, mares e oceanos, plataformas continentais e grandes
fundos marinhos. A Convenção da Nações Unidas sobre o Direito do Mar e o capítulo 17 da “Agenda
21” constituem os documentos básicos que definem a moldura jurídica global e balizam as ações
que cada país deve implementar para que seja alcançada a meta comum de uso sustentável do mar.
O Brasil é signatário da Convenção, tendo participado ativamente da elaboração de ambos os
documentos, revelando seu grande interesse e preocupação na matéria.
A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) constitui um novo conceito de espaço marítimo introduzido
pela Convenção, sendo definida como uma área que se estende desde o limite exterior do Mar
Territorial, de 12 milhas de largura, a até 200 milhas náuticas da costa, no caso do nosso País. O
Brasil tem, na sua ZEE de cerca de 3,5 milhões de km2, direitos de soberania para fins de exploração
e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas
sobrejacentes ao leito do mar, do leito e seu subsolo, além de outras atividades com vistas à exploração
e aproveitamento da zona para fins econômicos, como a produção de energia a partir da água,
marés, correntes e ventos.
O Brasil, ao assinar, em 1982, e ratificar, em 1988, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar, assumiu uma série de direitos e deveres frente à comunidade nacional e internacional.
Dentre tais compromissos, destacam-se aqueles relacionados à exploração, aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos vivos na ZEE, dentro da ótica de uso sustentável do mar.
2. o Estado costeiro, tendo em conta os melhores dados científicos de que dispõe, assegurará, por
meio de medidas apropriadas de gestão e conservação, que a preservação dos recursos vivos na
ZEE não seja ameaçada por um excesso de captura.
3. tais medidas devem ter, também, a finalidade de restabelecer os estoques de espécies ameaçadas
por sobreexplotação e promover a otimização do esforço de captura, de modo que se produza o
máximo de rendimento sustentável dos recursos vivos marinhos na ZEE (determinado a partir
de fatores ecológicos e econômicos, incluindo as necessidades econômicas das comunidades
costeiras que vivem da pesca, assim como as necessidades específicas dos Estados em
desenvolvimento).
Programa REVIZEE 15
4. ademais, a Convenção determina que o país deve estabelecer sua capacidade máxima de captura
e, em não podendo realizar a totalidade da captura permissível na sua ZEE, deverá dar a
outras nações acesso ao excedente, mediante Acordos ou Tratados, tendo sempre o cuidado de
promover a conservação dos recursos vivos.
Concretizando a decisão de implementar as deliberações estabelecidas pela Convenção, o Brasil,
em 04 de janeiro de 1993, através da Lei n° 8.617, normatizou as diretrizes básicas para a ocupação
da ZEE (capítulo III – Art. 6° a 8°), assim descritas:
Art 6° – A Zona Econômica Exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende das 12 às
200 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do
mar territorial.
Art 7° – Na Zona Econômica Exclusiva, o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração
e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas
sobrejacentes ao leito do mar, do leito e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com
vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos.
Art 8° – Na Zona Econômica Exclusiva, o Brasil, no exercício de sua jurisdição, tem o direito
exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio
marinho, bem como a construção, operação e uso de todos os tipos de ilhas artificiais, instalações
e estruturas.
Parágrafo único – A investigação científica marinha na Zona Econômica Exclusiva só poderá ser
conduzida por outros Estados com o consentimento prévio do Governo brasileiro, nos termos da
legislação em vigor que regula a matéria.
O Programa “Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva”
– Programa REVIZEE resultou de um detalhamento da meta principal a ser alcançada dentro dos
objetivos definidos pelo IV Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM), em vigor no período
1994/1998, tendo sido concebido com base em programa similar, elaborado em 1990, no âmbito
da Comissão Interministerial Para os Recursos do Mar (CIRM).
O Programa originou-se a partir de duas linhas básicas de motivação – a primeira refletiu o
compromisso assumido pelo Brasil, quando da ratificação da Convenção das Nações Unidas sobre
o Direito do Mar, que atribuiu aos Países costeiros direitos e responsabilidades quanto à exploração,
conservação e gestão dos recursos vivos de suas ZEEs. Isso implica, antes de tudo, no conhecimento
dos recursos disponíveis e na avaliação de seus potenciais sustentáveis, informações fundamentais
para a definição de políticas racionais de gerenciamento.
A segunda linha de motivação teve origem na própria dinâmica interna e na evolução da atividade
pesqueira nacional. Enquanto as estimativas da potencialidade para os recursos pesqueiros marinhos
no Brasil indicavam valores próximos a 1,5 milhão de toneladas/ano, os desembarques efetivos da
pesca nacional têm ficado sistematicamente abaixo das 600 mil toneladas anuais. Tais estimativas,
obtidas, em geral, por extrapolação da potencialidade pesqueira em áreas conhecidas e avaliações
de caráter pontual, poderiam estar superdimensionadas; além do que, a atuação de novas embarcações
pesqueiras, com tecnologia para operar em águas profundas, determinou a urgência no
dimensionamento dos estoques ainda pouco conhecidos e dos níveis de esforço de pesca toleráveis,
de modo a evitar seu rápido esgotamento.
Objetivos
O objetivo central do Programa foi o levantamento dos potenciais sustentáveis de captura dos
recursos vivos na ZEE, a partir das seguintes etapas e desdobramentos:
16 Programa REVIZEE
– Determinação das distribuições, sazonalidades, abundâncias e potenciais dos recursos vivos da
ZEE, utilizando técnicas de prospecção pesqueira e avaliação de estoques;
Estruturação
O Programa, por suas características de amplitude espacial e abrangência em termos de áreas de
conhecimento, teve como estratégia básica o envolvimento da comunidade científica nacional,
especializada em pesquisa oceanográfica e pesqueira, atuando de forma multidisciplinar e integrada.
Em razão dessas características, o REVIZEE pode ser visto como um dos programas mais amplos
e com objetivos mais complexos já desenvolvidos no País, entre aqueles voltados para as ciências do
mar, tendo determinado um esforço sem precedentes, em termos da provisão de recursos materiais
e da contribuição de pessoal especializado.
Visando à sua implementação operacional, a ZEE foi dividida em quatro grandes regiões, de acordo
com suas características oceanográficas, biológicas e tipo de substrato dominante:
2. Região Nordeste – da foz do rio Parnaíba até Salvador, incluindo o Arquipélago de Fernando de
Noronha, o Atol das Rocas e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo;
3. Região Central – de Salvador ao cabo de São Tomé, incluindo as Ilhas da Trindade e Martin
Vaz; e
A unidade do Programa, em escala nacional, foi garantida pela existência de um Comitê Executivo,
formado por representantes dos Ministérios envolvidos – Ciência e Tecnologia (MCT), Educação
(MEC), Relações Exteriores (MRE) e Meio Ambiente (MMA), além da Marinha do Brasil (MB), do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Secretaria
da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM), do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca
da Presidência da República (SEAP/PR) e da Bahia-Pesca (Empresa vinculada à Secretaria de
Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, da Bahia).
Programa REVIZEE 17
Neste contexto, no âmbito nacional, coube à CIRM a supervisão das atividades do Programa,
através da Subcomissão para o Plano Setorial para os Recursos do Mar; ao MMA, a coordenação
geral dos assuntos relativos à execução do Programa, subsidiando as diretrizes para a priorização
dos projetos em cada região e área temática; e ao IBAMA, a sua coordenação operacional.
O Programa contou com a participação de mais de 300 pesquisadores diretamente engajados, além
de um enorme contingente de bolsistas e estudantes, representando cerca de 60 Universidades e
Instituições de pesquisa, distribuídas ao longo da maioria dos estados litorâneos.
As seguintes embarcações foram disponibilizadas para os levantamentos oceanográficos e prospecções
pesqueiras do REVIZEE – N/Oc. “Antares”, da Marinha do Brasil; N/Oc. “Professor W. Besnard”,
do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo; N/Oc. “Atlântico Sul”, da Fundação
Universidade Federal do Rio Grande; N/Pq “Martins Filho”, da Universidade Federal do Ceará;
B/Pq. “Sinuelo”, da Universidade Federal Rural de Pernambuco; N/Oc. “Thalassa”, do “Institut
Français de Recherche pour L’exploitation de la Mer - IFREMER”, por intermédio de contrato
com a Bahia-Pesca; “Astro-Garoupa”, da PETROBRAS; além dos navios de pesquisa do IBAMA –
N/Pq. “Paulo Moreira”; N/Pq. “Soloncy Moura”; N/Pq. “Riobaldo”; N/Pq. “Natureza”; e N/Pq.
“Diadorim”, atualmente cedido ao IEAPM.
Custos
Os recursos para a condução do Programa originaram-se de diversas fontes. O MMA alocou, entre
1994 e 2003, um total de R$ 11,2 milhões; o IBAMA disponibilizou, no mesmo período R$ 1,6
milhão, não incluídos aí a participação de seus técnico, meios flutuantes e os laboratórios dos
Centros de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros (CEPNOR, CEPENE e CEPSUL); a SECIRM
repassou ao Programa, entre 1996 e 2003, cerca de R$ 6 milhões, além de ter contribuído
decisivamente nas articulações junto à Marinha do Brasil para cessão do N/Oc. “Antares”, que
realizou nove grandes operações oceanográficas no REVIZEE. A SECIRM realizou, ainda, gestões
junto ao Ministério das Minas e Energia (MME) para a cessão anual ao Programa, pela PETROBRAS,
de cerca 2.000.000 de litros de óleo diesel marítimo. A Bahia-Pesca aportou ao REVIZEE pouco
mais de R$ 3 milhões, para o financiamento de campanhas de ecointegração (em 1999) e de arrasto
de profundidade (em 2000); além do aluguel de embarcações da frota comercial para as campanhas
de prospecção com espinhel de superfície e espinhel de fundo na região Central da ZEE.
O CNPq contribuiu, entre 1997 e 2003, com recursos da ordem de R$ 9 milhões, na forma de
bolsas de pesquisa, nas modalidades ITI (398), DTI (294), BEV (9) e BSP (3), correspondendo a
um aporte médio mensal de cerca de R$ 1,25 milhão.
Dessa forma, o Programa recebeu recursos diretos, entre 1994 e 2004, de pouco mais de R$ 32
milhões, não computados aí os custos relativos à operação do N/Oc “Antares” e à contribuição da
PETROBRAS, pela cessão do navio de pesquisa “Astro Garoupa”, que realizou cinco cruzeiros para
levantamentos ambientais na região Central; o fornecimento de óleo combustível ao longo de todo
18 Programa REVIZEE
o Programa; e a concessão de recursos para a publicação dos resultados do Programa, nas regiões
Nordeste, Central e Sudeste-Sul. Também não incluídos nesse total, mas de importância fundamental,
foram os recursos viabilizados pela SEAP, para a publicação deste Relatório. É necessário consignar,
ainda, a contrapartida das Universidades e instituições de pesquisa, pela cessão de suas instalações,
equipamentos e remuneração dos pesquisadores.
Resultados e benefícios
A despeito desses aportes, as condições básicas para a realização dos levantamentos e prospecções
estiveram, ainda, longe das ideais. Em especial, os meios flutuantes disponíveis eram inadequados
para o trabalho em grandes profundidades, dificultando a avaliação dos potenciais de novos recursos.
Nesse caso, o advento dos arrendamentos de embarcações, tecnologicamente adaptadas para operação
em alto mar, permitiu a ampliação do conhecimento sobre os estoques em águas profundas. A
combinação das prospecções independentes, e as informações obtidas a partir de embarcações
comerciais brasileiras ou arrendadas, possibilitou uma avaliação conjunta dos dados provenientes
de ambas as fontes, sem prejuízos para os resultados do Programa (são exemplos, os estoques do
caranguejo de profundidade e do peixe-sapo na costa sul). Ainda, descontinuidades na liberação de
recursos dificultaram, em algumas ocasiões, o acompanhamento de sazonalidades na distribuição e
abundância de recursos pesqueiros.
A heterogeneidade entre as quatro regiões, tanto no que refere ao ambiente natural e aos recursos
pesqueiros disponíveis, quanto à capacidade instalada para pesquisa científica, levou a que, em
cada SCORE, fossem priorizadas prospecções diferenciadas, de acordo com a proposta de
identificação dos recursos e o seu potencial, e o estabelecimento de limites claros para o que se pode
esperar da pesca nas regiões da plataforma, em especial além da isóbata de 100 metros, e talude
continental.
O Programa REVIZEE, mais do que representar o necessário cumprimento das obrigações assumidas
pelo país frente à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, se constituiu em um divisor
de águas acerca do conhecimento das espécies e dos ecossistemas da ZEE brasileira. O Programa
determinou a integração e capacitação de pesquisadores e instituições de pesquisa do País, e permitiu
a geração de um considerável volume de informações sobre a biodiversidade e os potenciais pesqueiros
na ZEE brasileira; demonstrou, ainda, a importância da abordagem multidisciplinar e
interinstitucional; e o trabalho cooperativo, como elementos-chave para a pesquisa em uma área
tão ampla e heterogênea como a ZEE brasileira.
– Capítulos 3 a 6 – é feito o detalhamento da potencialidade pesqueira para cada uma das quatro
regiões;
– Finalmente, são apresentadas as conclusões e recomendações; as referências bibliográficas; e
uma descrição dos termos técnicos e siglas empregadas, na forma de um glossário, assim como
uma lista dos pesquisadores participantes.
Programa REVIZEE 19
Cabe lembrar que o Relatório Executivo corresponde a uma visão de síntese dos resultados do
Programa, que não pretende substituir as avaliações e discussões temáticas constantes nas publicações
das Séries REVIZEE Norte, Nordeste, Central e Sul. Em cada capítulo, se procurou, sempre que
pertinente, referenciar as publicações originais, as quais constituem leitura essencial para a
compreensão da dinâmica e avaliação dos potenciais dos recursos vivos da ZEE brasileira.
20 Programa REVIZEE
CAPÍTULO 1
O AMBIENTE MARINHO
Carmen L.D.B. Rossi-Wongtschowski
Jean L. Valentin
Silvio Jablonski
Antônia Cecília Z. Amaral
Fábio H.V. Hazin
Maâmar El-Robrini
A caracterização do ambiente marinho foi realizada tendo por base a divisão da Zona Econômica
Exclusiva do Brasil em quatro regiões geográficas distintas. As características climatológicas,
oceanográficas, biológicas e dos substratos dominantes, em cada uma delas, são explicitadas nas
diversas abordagens constantes deste Capítulo.
Região Norte
Arquipélago S. Pedro
e S. Paulo
I. Trindade
Região Sul
Chuí
Programa REVIZEE 21
Região Norte
A região Norte da Zona Econômica Exclusiva Brasileira tem como limites, a oeste, a foz do rio
Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa, e a leste, a foz do rio Parnaíba; estende-se por
1.400 km e apresenta área total de cerca de 488.000 km2. Suas profundidades variam de 10 m, na
foz do rio Amazonas, a pouco mais de 4.200 m, na bacia abissal do Ceará.
A linha de costa apresenta-se bastante diversa, em geral com uma topografia baixa, alcançando
alturas máximas de 30 m no nordeste do Pará e noroeste do Maranhão. O litoral do Amapá é
retilíneo; o do nordeste do Pará e noroeste do Maranhão, profundamente recortados, com estuários
bastante ativos (El-Robrini et al., 1992). A leste da Baía do Tubarão-MA, a linha de costa é
retilínea e ocupada por importantes campos de dunas eólicas (El-Robrini, 1992), representados
pelos Lençóis Maranhenses. Os Golfões Marajoara e Maranhense são complexos estuarinos bastante
dinâmicos. A costa adjacente à ZEE Norte é caracterizada, ainda, pela presença de manguezais.
Na Plataforma Continental externa do Maranhão, destaca-se o Parque Estadual Marinho do parcel
Manuel Luís, complexo recifal, com alta diversidade de peixes, algas e corais (Coura, 1994; Fundação
Bio-Rio et al., 2002).
Região Nordeste
A área de abrangência da ZEE Nordeste se estende da foz do rio Parnaíba a Salvador, com uma
linha de costa de cerca de 2.000 km de extensão e área equivalente a 1.450.000 km2. Esta última
inclui, também, a área de 200 milhas em torno do arquipélago de São Pedro e São Paulo.
A região apresenta um perfil regular, o qual é quebrado nos extremos norte e sul por estuários e
deltas de grandes rios, destacando-se o Parnaíba e o São Francisco. A barreira de recifes é uma
característica notável da costa, especialmente entre Natal e Aracajú. Adicionalmente, vários grupos
de ilhas e rochedos são aí encontrados – Atol das Rocas, o arquipélago de Fernando de Noronha, e
o arquipélago de São Pedro e São Paulo. Além das ilhas oceânicas, ao largo da plataforma continental,
observa-se uma série de bancos rasos, pertencentes às cadeias Norte-brasileira e de Fernando de
Noronha, notadamente em frente aos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. A maior parte do
domínio oceânico é formada por áreas de grande profundidade, entre 4.000 e 5.000 m, as quais
correspondem às Planícies abissais do Ceará e de Pernambuco.
Região Central
A região central tem como limites as latitudes de 12 e 22ºS e apresenta uma direção aproximada
norte-sul. A linha de costa tem cerca de 1.100 km de extensão e superfície total de 800.000 km2,
incluindo a área do entorno do conjunto das ilhas Trindade e Martin Vaz. Os limites costeiros para
a região são a cidade de Salvador, ao norte, e o cabo de São Tomé, ao sul.
22 Programa REVIZEE
Região Sudeste-Sul
A ZEE da região sudeste-sul, limitada ao norte pelo cabo de São Tomé-RJ (22ºS), e ao sul pelo
Arroio Chuí-RS (34º40’S), tem cerca de 2.000 km de extensão e área total de aproximadamente
700.000 km2.
O litoral sudeste é o setor mais diversificado e acidentado dessa região, abrigando o delta do rio
Paraíba do Sul. No Estado do Rio de Janeiro, na área entre Cabo Frio e Macaé, ocorrem restingas
e campos de dunas, lagos e lagoas de diferentes extensões. Ao sul, a baía da Ilha Grande se caracteriza
pela presença de um conjunto de pequenas ilhas.
No centro do litoral norte de São Paulo, encontra-se a ilha continental de São Sebastião/Ilha Bela,
separada do continente por um canal marinho mais aberto ao norte. Na região do sistema estuarino-
lagunar Cananéia-Iguape, a ilha Comprida é o acidente fisiográfico de maior expressão, com 72 km
de extensão e largura reduzida (2,5 a 4 km), constituindo um dos muitos cordões arenosos que
participam do sistema de restingas e lagunas da região Cananéia-Iguape.
A planície litorânea do Paraná é profundamente recortada por complexos estuários e baías, resultando
em numerosas ilhas, algumas de relativa extensão. Fazem parte desses sistemas estuarinos extensas
áreas cobertas principalmente por manguezais e marismas, situadas em planícies de marés.
Na costa sul, se destaca a ilha de Santa Catarina, separada do continente por um estreito canal. A
fachada atlântica rio-grandense apresenta as maiores lagunas de todo o litoral brasileiro. A maior
delas, a Lagoa dos Patos, estende-se pela grande restinga do leste gaúcho. Esta região recebe água
de uma ampla bacia de drenagem, sendo que a elevada precipitação pluviométrica e o complexo
padrão de fluxo de rios aí presentes, resultam em processos hidrológicos e sedimentares altamente
variáveis e dinâmicos na área marinha adjacente. Na barra do Rio Grande, onde o sistema lagunar
estuarino se conecta com o Atlântico, ocorrem outras duas lagunas: Mirim e Mangueira, de
importância fisiográfica e ecológica (Ab´Saber, 2001; Muehe, 2001).
A cordilheira dos Andes, assim como a presença da floresta tropical amazônica são importantes
para a análise da circulação atmosférica da América do Sul; a floresta confere à região um dos
climas mais úmidos do mundo. Apesar disso, o Atlântico Sul também se ressente do impacto de
regiões áridas, como o Nordeste brasileiro.
Programa REVIZEE 23
O quadro abaixo apresenta um resumo das principais características de cada região.
* Medidas retilíneas aproximadas que não levam em conta as indentações e recortes da linha de costa.
A costa brasileira apresenta ventos de intensidade relativamente baixa na média anual. Durante o
verão os ventos são predominantemente de leste-nordeste, na costa entre 15ºS e 35ºS. Durante o
inverno a banda de ventos provenientes de leste-nordeste fica confinada entre as latitudes de 20ºS
e 25ºS, e ao sul de 25ºS passam a dominar ventos de oeste-sudoeste (Castro, 1996).
24 Programa REVIZEE
10ºN -
NOAA – CIRES/Climate Diagnostics Center
5ºN - 25
EQ -
5ºS - 20
10ºS -
15ºS -
15
20ºS -
25ºS -
30ºS - 10
35ºS -
40ºS - 5
45ºS -
50ºS -
0
55ºS -
60ºS -
65ºS - -5
80ºW 70ºW 60ºW 50ºW 40ºW 30ºW 20ºW 10ºW 0 10ºE 20ºE
Sea Surface Temperature (C) Long-term Mean
Jan to Dec 68-96 LTM
NCEP/NGAR Reonolyaia
10ºN -
NOAA – CIRES/Climate Diagnostics Center
9
5ºN -
EQ -
8
5ºS -
10ºS -
7
15ºS -
20ºS -
25ºS - 6
30ºS -
35ºS - 5
40ºS -
45ºS - 4
50ºS -
55ºS - 3
60ºS -
65ºS - 2
80ºW 70ºW 60ºW 50ºW 40ºW 30ºW 20ºW 10ºW 0 10ºE 20ºE
100mb Winde (m/s) Long-term Mean
Jan to Dec 68-96 LTM
NCEP/NGAR Reonolyaia
Figura 3. Média climatológica dos ventos para a região do Atlântico Sul (vetores) e a magnitude
(contornos cheios) em m/s. Dados do NCAR/NCEP (Wainer e Taschetto, no prelo)
Programa REVIZEE 25
O Dipolo do Atlântico
Sobrepostos ao ciclo sazonal, existem dois modos de variabilidade oceano-atmosfera no Atlântico
tropical, com importantes conseqüências no clima regional da América e África. O primeiro modo
de variabilidade climática é similar ao El Niño/Oscilação Sul (ENSO) no Pacífico, com manifestações
focadas principalmente próximo ao equador (Zebiak, 1993; Chang et al., 1997). Esse modo equatorial
varia em escalas sazonais e interanuais. Durante a fase quente, os ventos alísios do oeste equatorial
Atlântico são fracos, contribuindo para uma elevação da TSM. Na fase oposta (fria), isso se inverte;
os ventos alísios aumentam e a temperatura da superfície diminui. Esses eventos quentes e frios
ocorrem em um curto período, numa escala de semana a meses, e provocam fortes impactos climáticos
na região (Wagner e da Silva, 1994; Crawford et al., 1990).
O dipolo de TSM é definido como a diferença entre as anomalias normalizadas de TSM da bacia norte e
da bacia sul do Atlântico.
A primeira etapa consiste em obter as séries mensais de TSM nessas bacias, cuja linha de separação é
definida em 5°N, local que oferece uma boa representação do equador meteorológico. Os limites norte, da
bacia norte, e sul, da bacia sul, são dados, respectivamente, pelas latitudes de 28°N e 20°S. Calculam-se
então a climatologia mensal e o desvio padrão da TSM em cada bacia, e as respectivas anomalias mensais,
normalizadas pelo desvio padrão.
O dipolo de TSM do Atlântico Tropical apresenta correlações fortemente negativas com as precipitações
na área norte do Nordeste (valores positivos do dipolo correspondem, portanto, a baixas precipitações). O
dipolo de TSM do Atlântico tropical constitui então um bom indicador da qualidade da estação chuvosa
nessa região, especialmente em anos de condições neutras sobre o Pacífico (http://www.funceme.br).
26 Programa REVIZEE
Uma visão geral da TSM e da salinidade, na superfície, é apresentada na figura 4, mostrando as
diferenças sazonais reinantes na ZEE brasileira, no verão e no inverno.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 4. TSM e salinidade na ZEE brasileira. (A) TSM – Verão (B) TSM – Inverno (C) Salinidade – Verão e (D) Salinidade –Inverno.
Valores médios do período 1995-2000. (Dados do COADS e do SAGE-SODA, analisados por Ilana Wainer, Laboratório de Climatologia
/IOUSP).
Aspectos regionais
Região Norte
A região norte é atravessada pela linha do Equador, possuindo clima quente e úmido, com
temperaturas elevadas e chuvas abundantes ao longo do ano. A TSM varia de 27oC, no verão, a
24oC no inverno. A época de chuvas concentra-se entre fevereiro e abril, com um máximo de 216
dias de insolação ao ano e um mínimo de 200 dias. Os ventos predominantes são os alísios de
sudeste, com velocidade entre 9m/s e 14 m/s. Na chegada da primavera e início do verão, a velocidade
do vento aumenta, em função da influência dos ventos alísios que passam a soprar mais sobre a
região tropical. A predominância da direção do vento na região norte é de leste, mas essa direção
varia de E-NE para E-SE (Freitas & Martins, 2004).
Programa REVIZEE 27
A região Norte não apresenta as quatro estações do ano definidas, registrando-se apenas uma
estação chuvosa, de dezembro a maio (Inverno); e uma estação menos chuvosa, de junho a novembro
(Verão). Porém, no Hemisfério Norte (Oiapoque), o máximo de chuvas acontece durante o inverno
austral (junho a agosto) e o mínimo durante o verão austral (dezembro a fevereiro) (Rao e Hada,
1990).
Durante o período do REVIZEE, vários eventos foram registrados pelo Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC), para a região
Norte – 1994-1995, El Niño com intensidade moderada; 1995-1996, La Niña com itensidade
fraca; 1997-1998, El Niño com itensidade forte; e 1998-2001, eventos moderados do La Niña,
durante o verão do hemisfério Sul.
Região Nordeste
As causas da grande variabilidade interanual do clima do Nordeste ainda não são completamente
entendidas, embora vários autores tenham gerado evidências de que o clima e a precipitação são
modulados por mecanismos de circulação geral da atmosfera e oceânicos externos à região. Em
decorrência do padrão de distribuição da pressão atmosférica no Oceano Atlântico Sul, com um
centro de alta pressão localizado em torno de 30ºS, os ventos alísios de Sudeste predominam
durante quase todo o ano. Contudo, a posição e a intensidade do centro de alta pressão atmosférica,
modificam-se sazonalmente, alterando conseqüentemente também o padrão dos ventos. Durante o
verão, a velocidade média do vento situa-se em torno de 6,5m/s, com direção predominante de
sudeste, variando de nordeste a sudoeste, nos meses de janeiro e fevereiro. No inverno, a velocidade
média do vento situa-se próxima a 7,5m/s, também com direção predominante de sudeste, variando
um pouco entre nordeste e sudoeste no mês de agosto.
Este avanço gradativo de águas frias provenientes do Atlântico Sul é observado até o mês de
setembro, pela presença de águas com temperaturas entre 22°C e 23°C. Nessa época (agosto/
setembro), a costa Nordeste pode ser dividida em dois setores, tendo como referência central a
latitude de 5°S: o norte, envolvido por águas com temperaturas entre 27° e 28°C, e o sul, onde a
temperatura da água é apenas 1°C menor, situando-se entre 26°C e 27°C. Esta divisão também está
presente em uma vasta zona oceânica adjacente a esses dois setores.
A partir do mês de outubro, as águas mais frias, com temperaturas inferiores a 25°C, começam a
regredir, dando espaço à penetração de águas com temperaturas mais elevadas, superiores a 28°C,
que vão, novamente, no ápice do verão austral, envolver toda a costa nordeste do Brasil, e estender-
se por toda a ZEE adjacente.
28 Programa REVIZEE
Região Central
O clima da região central é definido como tropical úmido, tendo como determinantes o anticiclone
tropical centrado no Atlântico Sul, e o anticiclone polar, massa de ar fria oriunda do sul da Argentina.
Sob efeito do anticiclone tropical, dominam os ventos do quadrante leste que proporcionam tempo
bom, com céu claro e temperatura elevada (>30oC), principalmente na primavera – verão. A passagem
de frentes frias (freqüência de 8 a 10 dias) é responsável por ventos SW fortes (6-10 m/s), queda de
temperatura (<25oC, 18-22 oC no inverno) e precipitações (média anual entre 1.000 e 1.500 mm,
até 2.400 mm na Bahia) (Barbiere, 1975, Valentin, 1983). Durante as campanhas oceanográficas
de novembro-dezembro de 1998 e abril-maio de 2000 do Programa REVIZEE, as condições
meteorológicas revelaram um padrão idêntico, típico da região, com dominância de ventos E-NE
(40-70%) e S-SE (30%). Durante a campanha de novembro-dezembro ocorreu maior freqüência de
passagem de frentes (37% de ventos SW-NW, contra somente 7% em abril-maio), indicando o
inicio da época de chuvas da região central, conforme o padrão climático dessa região.
Região Sudeste-Sul
Tanto o litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, quanto o do Estado de São Paulo apresentam clima
tropical úmido. De abril a setembro, os fortes ventos do quadrante sul são dominantes, acompanhando
as invasões de massas de ar polar. A temperatura média é de 22ºS, sendo fevereiro o mês mais
quente (25,3ºC) e julho, o mais frio (18,2ºC).
A região litorânea do Paraná é uma zona tropical de transição, sempre úmida. A temperatura
média anual é de 21,1ºC, sendo janeiro o mês mais quente (24,9ºC), e julho, o mais frio (17ºC).
Além da alternância diária entre brisas marítimas e continentais, os ventos de sudeste dominam
sobre os de leste.
Pela sua posição entre as latitudes médias da zona temperada, Santa Catarina possui clima temperado
super-úmido; nenhum mês apresenta temperatura média inferior a 15ºC, oscilando no mês mais frio
entre 15 e 18ºC. A temperatura média anual é de 19,6ºC. É pequena a diferença entre as condições
térmicas de verão e inverno, em virtude da forte ação moderadora do mar.
A faixa litorânea do Rio Grande do Sul se caracteriza por elevada umidade e a temperatura é
amenizada pela proximidade do oceano. A velocidade média dos ventos vai de 3m/s até 5m/s, com
predominância dos ventos de nordeste. Dois ventos locais típicos representam fatores climáticos
importantes nessa região – “Sudestadas”, decorrentes do posicionamento da frente polar sobre as
regiões costeiras, podendo se desenvolver até formar ciclones frontais. Este processo ocorre em
virtude do contraste entre as altas pressões na região do rio da Prata e as baixas pressões na faixa
marítima dos estados do sul do Brasil; e “Minuano” – vento frio e seco do quadrante oeste, com
rajadas fortes, característico dos meses de inverno, com origem na massa de ar polar oriunda do
Oceano Pacífico, varrendo todo o Estado e atingindo o litoral.
Programa REVIZEE 29
Detalhamento da climatologia durante os períodos de levantamentos pesqueiros
Até que ponto se pode afirmar que o período coberto pelo Programa REVIZEE foi climatologicamente
coerente com as médias históricas?
A título de exemplo, apresenta-se os resultados das análises dos ciclos sazonais observados na região
sudeste-sul, para os anos de 1996, 1997, 1998 e 2000, a partir de um ponto representativo da região
de estudo localizado em 45ºW-30ºS( Wainer e Taschetto, no prelo).
Constatou-se que, nos anos considerados, houve predominância dos ventos de leste em toda a bacia ao
norte de 20ºS e que ao sul daquela latitude, ao longo da costa, predominou o vento de nordeste, que se
enfraquece à medida que se afasta da costa, revertendo para oeste em torno de 32ºS-35ºS.
As séries para cada ano de coleta das variáveis de interesse são mostradas na figura 5. Verifica-se que
para a TSM, houve pouca variação na amplitude e, praticamente, nenhuma variação relativa à fase do
ciclo sazonal – a variação em torno da média para essas variáveis foi bem pequena. O ano de 1997 foi
aquele que mais se diferenciou da média, particularmente nos meses de verão (há diferença de quase
1ºC em março). Em agosto houve um desvio da climatologia de 0,5ºC em 1997, que aparece também em
1998.
Para a pressão ao nível do mar (PNM), 1996, 1998 e 2000 apresentaram um ciclo sazonal suave com
máximo de pressão no início da primavera austral e mínimo no inverno. Já em 1997, constatou-se dois
períodos de máximo, um em maio, anômalo, e outro em agosto-setembro. Este segundo máximo é
coerente com os de 1996 e 2000. Esse comportamento errático da atmosfera em 1997 é observado
também na curva do vento zonal, que apresenta quatro períodos de intensificação dos alíseos (abril,
junho, setembro e dezembro) e outros quatro períodos quando os ventos enfraquecem chegando a mudar
de direção (janeiro, maio, agosto e outubro). É importante notar que em 1997-1998 houve a ocorrência
de um episódio do fenômeno El-Niño de grande amplitude, embora tenha sido de duração mais curta se
comparado ao grande episódio de 1982-1983.
Desta forma, ficou evidente que, embora tenham ocorrido diferenças entre a média climatológica e os
valores de pressão ao nível do mar e vento para 1996, 1998 e 2000, apenas 1997 foi um ano, pelo
menos em termos meteorológicos, bem diferente dos demais.
30 Programa REVIZEE
Figura 5. Variação em 45ºW-30ºS (ponto representativo da região de estudo) ao longo dos anos de 1996, 1997, 1998, 2000 e a média
climatológica da TSM (ºC, painel superior à esquerda), PNM (milibar, painel superior à direita), vento zonal (m/s, painel inferior à
esquerda) e vento meridional (painel inferior à direita). Wainer e Taschetto, no prelo). As médias climatológicas foram calculadas para
o período de 1981 a 2000.
MORFOLOGIA
Região Norte
A Plataforma Continental Norte brasileira possui larguras variadas – atinge sua maior extensão
em frente ao canal norte do rio Amazonas (330 km), diminui para 125 km, próximo ao cabo
Orange, aumenta novamente para 220 km, próximo à foz do rio Gurupí, alcança 72 km na porção
sudeste, e diminui gradativamente até 69 km, na frente da baía do Tubarão. Em função das suas
particularidades regionais, pode-se considerar as seguintes subdivisões: Plataforma Continental do
Amazonas (foz do rio Pará-cabo Orange) e Plataforma Continental do Pará-Maranhão.
A Plataforma Continental do Amazonas apresenta sua quebra externa entre 90 e 100 m de
profundidade. Pode ser subdividida em: (i) interna – a isóbata de 20m marca uma série de
Programa REVIZEE 31
reentrâncias, ao largo de quase todos os sistemas estuarinos, incluindo os rios Amazonas e Pará;
(ii) média – com um gradiente de 1:3.000, representa sua porção mais inclinada, estando marcada
por feições erosivas, ao longo da isóbata de 40 m; o comprimento dessas feições atinge 130 km e
largura máxima de 20 km; (iii) externa – com gradiente de 1:2.000 onde a isóbata de 80 m se
comporta como uma linha sinuosa, marcando importantes indentações longitudinais e paralelas
(Nittrouer et al., 1986).
A distribuição horizontal dos sedimentos da Plataforma Continental Norte é constituída por vários
domínios:
Dominío costeiro – constituído por lamas, originadas principalmente pelos aportes de suspensão
fluvial do rio Amazonas e acessoriamente, pela descarga dos rios da costa do Amapá. A descarga de
sedimentos do rio Amazonas gera importantes depósitos de sedimentos finos na plataforma continental
interna adjacente (Kuehl et al., 1986; Nittrouer et al., 1986). A ressuspensão de lamas, próximo ao
fundo, observada na plataforma continental interna (Faas, 1986), representa um importante agente
de transporte desse material no fundo (Kineke & Sternberg, 1995). Esse domínio, caracterizado
por ser um Delta submarino, encontra-se na Plataforma Continental do Amazonas, estendendo-se
para noroeste e paralelo à costa, até a profundidade de 50m (Costa & Figueiredo, 1998). Na foz
dos maiores estuários da costa norte (Mearim, Parnaíba, Gurupí, Pará, etc.), ocorrem, também,
depósitos lamosos continentais.
Dominío da Quebra do Talude – a barreira recifal apresenta-se sob forma de restos de algas, areias
e/ ou cascalhos de algas recifais, e de algas coralíneas ramificantes. O Cone do Amazonas se estende
até a profundidade de 4.800 m e é recoberto por turbiditos. Nas demais partes, o talude continental
é rochoso e recoberto por camadas finas e desmoronamentos (REMAC, 1979), sendo ainda talhado
por canyons submarinos. No mar profundo, as Cadeias do Ceará e de Belém compartimentam as
bacias Abissais do Ceará e de Demerara.
Região Nordeste
Do ponto de vista morfológico, a plataforma continental do Nordeste pode ser dividida em dois
trechos – do Delta do Parnaíba até a Ponta do Calcanhar; e da Ponta do Calcanhar até Salvador-
BA.
32 Programa REVIZEE
O primeiro trecho apresenta largura máxima de 112 km, na altura do Delta do Parnaíba e no limite
leste da área, na região próxima da Ponta dos Três Irmãos-RN; e largura mínima, de 41 km em
Tremembé, a leste de Fortaleza. Na plataforma interna, em quase toda a sua extensão, observa-se
um primeiro e pequeno declive, entre 0 e 15 m, com uma maior freqüência na isóbata de 10 m e
declividade variando em torno de 1:670. Esse declive é característico e constante, sendo considerado
como o gradiente de passagem da parte emersa para a plataforma continental. Na plataforma
externa evidenciam-se vários patamares, os quais correspondem a terraços de borda de plataforma,
sendo bem individualizados aqueles entre 23 e 30 m, 40 e 50 m e 60 e 70 m. Os bancos algálicos,
no primeiro patamar são menos espessos que os do segundo, visto que as espessuras diminuem em
direção à costa.
A passagem do primeiro para o segundo patamar é variável, podendo tanto ser abrupta quanto
apresentar um suave gradiente. O segundo patamar caracteriza-se por irregularidades remanescentes
de processos erosivos e/ou bioconstruções recifais, alternadas com áreas de depressão bem suaves.
Esse patamar é perfeitamente individualizado do terraço de borda da plataforma, por um
escarpamento ou gradiente topográfico mais abrupto. O terraço de borda da plataforma é
caracterizado por um escarpamento associado a uma pequena elevação do fundo submarino e à
quebra da plataforma continental.
Programa REVIZEE 33
Figura 6. mapa do relevo marinho da região Nordeste.
Região Central
A morfologia do fundo da ZEE da região central do Brasil é bastante diversificada. Na parte norte,
entre Salvador e Belmonte, a plataforma é estreita (10 a 30 km de largura, tendo o valor mínimo
de 8 km na altura de Salvador). A partir de Belmonte, a plataforma continental alarga-se, até
atingir o máximo de 246 km em frente a Caravelas. Ao sul de Regência, ela decresce para um
mínimo de 48 km devido à presença de intrusões vulcânicas, e volta a se alargar em direção ao cabo
São Tomé. A profundidade raramente ultrapassa 60 m. As declividades da plataforma alcançam o
máximo de 10 m/km no trecho entre Salvador e Canavieiras, diminuíndo para 0,3 m/km entre o sul
da Bahia e o Espírito Santo. A quebra da plataforma continental ocorre, de um modo geral, entre
as isóbatas de 60 e 80 m. Na porção norte da região central ocorrem três canyons submarinos
expressivos: Salvador, Itaparica e Camamu, sendo o de Salvador o mais desenvolvido, com 10 km
de largura na isóbata de 200 m. A região central se caracteriza também pela presença de bancos e
ilhas. O banco Royal Charlotte, de conformação quase retangular (115 x 50 km), tem uma superfície
extremamente plana, com vários canais de 30-40 m de profundidade, na parte interna da feição. O
Banco dos Abrolhos estende-se ao longo de 260 km da costa, abrangendo uma área de 48 mil km2
entre Alcobaça e Regência. Sua faixa interna mostra uma topografia suave, enquanto que a superfície
das porções central e externa contém numerosos pequenos bancos, entrecortados por estreitos canais
de paredes escarpadas, bem como construções biogênicas, com predominância de algas calcárias e
coralinas. Entre os bancos Royal Charlotte e Abrolhos, elevam-se diversos montes submarinos
perpendiculares à costa e posicionados no talude e sopé continentais, no topo dos quais ocorrem os
bancos Sulphur (9 m de profundidade), Minerva (34 m), Lothrop (48 m), Rodger (44 m) e Morgan
(48 m), nesta ordem, de oeste para leste. Ao sul dos Abrolhos, a plataforma se estreita
consideravelmente. Nesse trecho, ela é rasgada por várias depressões, mergulhando algumas no
talude até 800 m de profundidade. Os canais de Vitória e Guarapari, com largura de 8 e 1 km nas
34 Programa REVIZEE
profundidades médias de 40 e 20 m, respectivamente, completam as características topográficas
da plataforma continental sul da região central.
O talude continental apresenta largura média de 80 km, com mínimo de 14 km nos Abrolhos,
alcançando 100 km entre Salvador e o Banco Royal Charlotte. Os canyons localizados próximos a
Salvador e os bancos da área dos Abrolhos constituem feições morfológicas de maior relevância do
talude continental. O sopé continental alcança as maiores larguras médias ao largo do Banco dos
Abrolhos, com cerca de 850 km, e mínimo de 150 km ao sul da cadeia Vitória – Trindade. Os seus
limites superiores aprofundam-se desde 2.000 m ao sul da cadeia, até 4.000 m, ao largo do Banco
Royal Charlotte.
Nas plataformas média e externa, a maior parte dos depósitos recifais, bem como nos bancos,
consiste em carbonatos biogênicos, principalmente em profundidades superiores a 30 m, ao norte
dos Abrolhos. Os sedimentos biogênicos podem se estender até a plataforma interna, dominada por
areias terrígenas, e associados aos recifes costeiros. Os recifes ao norte de Vitória são dominados
por algas coralinas incrustantes (recifes algálicos), e por briozoários ao largo e ao sul de Vitória.
Algas coralinas e briozoários são, também, os organismos dominantes dos sedimentos grossos do
entorno desses recifes.
A ilha de Trindade, localizada a cerca de 1.140 km da costa, ao largo de Vitória, eleva-se a cerca
de 5.500 m sobre o assoalho oceânico, representando o cume de uma montanha vulcânica. A largura
média da sua plataforma é de 1.600 m, oscilando entre 800 e 3.000 m, e sua área total de 32 km2.
A ilha tem aproximadamente 8 km2. A borda da plataforma situa-se a cerca de 110 m de profundidade
e as declividades oscilam entre 4 e 13%. Na plataforma adjacente, são encontrados carbonatos
com presença de estruturas algálicas do gênero Lithothamnium. As ilhas de Martin Vaz estão
situados a cerca de 48 km a leste de Trindade, constituindo o topo de um edifício vulcânico semelhante
e contíguo à ilha vizinha.
Região Sudeste-Sul
A descrição fisiográfica da região Sudeste-Sul foi feita em estudo no âmbito do Programa REVIZEE
(Figueiredo e Madureira, 1999). A plataforma continental entre o Chuí-RS e o cabo de São Tomé-
RJ apresenta-se com largura média variável, com máximo de 250 km no embaiamento de São
Paulo (Ilha de São Sebastião ao cabo de Santa Marta) e no cone do Rio Grande, e mínimo de 60 km
ao largo do cabo de São Tomé. A quebra de plataforma localiza-se, em média, em torno de 200 m
de profundidade, com mínimo de 100 m no cabo de São Tomé e máximo de 400 m, mais ao sul, em
frente a Santos O talude destaca-se por uma série de sete protuberâncias (cones e platôs) entre 100
e 1.000 m de profundidade. O mais ao sul e de maior tamanho refere-se ao cone do Rio Grande,
Programa REVIZEE 35
seguido pelo platô de mesmo nome ao largo de Torres-RS. Mais ao norte, outro platô se destaca ao
largo de Florianópolis, com dimensões semelhantes aos do Rio Grande. Com menor expressão
topográfica, encontra-se o platô ao largo de Paranaguá (PR), e outro ainda menor, pouco mais ao
norte. Na região de Cabo Frio existe um platô relacionado ao leque submarino de São Tomé.
A irregularidade do talude em alguns pontos da costa indica a presença de canyons bem como de
cicatrizes de deslizamentos. A área com maior irregularidade está localizada ao sul do cone do Rio
Grande e na margem uruguaia. Outra está entre o platô e a face norte do cone do Rio Grande. A
terceira área de talude irregular refere-se à face norte da protuberância ao norte de Paranaguá.
Com relação à distribuição de sedimentos, a plataforma continental, tanto ao sul de Rio Grande,
como ao norte de Santos, apresenta, em toda sua extensão, ampla distribuição de areias, com
predomínio de sedimentos de maior granulometria, ao norte de Cabo Frio (cascalho e areia
cascalhosa). Bolsões de areia lamosa e de lama arenosa ocorrem na plataforma média na porção
sul e nas proximidades da baía da Ilha Grande. Ao norte de Cabo Frio, uma reentrância da linha de
costa favorece o acúmulo de sedimentos lamosos na plataforma interna, próximo ao continente.
A parte norte da área de estudo é a que apresenta a maior variabilidade granulométrica dos
sedimentos. A extensa faixa de areia que recobre toda a plataforma mostra-se pontilhada por
províncias isoladas de sedimentos de diversas granulometrias. As lamas predominam em toda a
extensão da plataforma interna e média da porção central da área, desde a ilha de São Sebastião
até Rio Grande. Exceção ocorre na plataforma média ao largo de Paranaguá, onde existe ampla
faixa de areia lamosa e em frente à Lagoa dos Patos, onde predomina lama arenosa. Toda a plataforma
interna, nesta parte central, é recoberta predominantemente por areia. O talude apresenta-se, de
modo geral, com predomínio de lama, com possibilidade de ocorrência de lama arenosa em regiões
próximas à quebra da plataforma, também observada na porção central.
Com relação à composição dos sedimentos, a plataforma ao sul da ilha de São Sebastião é
caracterizada por percentual de carbonatos inferior a 30% (litoclásticos), passando a biolitoclásticos
(maior do que 50% e menor do que 70%), nas partes mais profundas. Sedimentos bioclásticos
(percentual de carbonatos maior do que 70%) apresentam-se distribuídos em faixas maiores e mais
contínuas ao norte da ilha de São Sebastião, recobrindo não só a plataforma externa, mas estendendo-
se em direção à plataforma média e interna. Entre Cabo Frio e a ilha de São Sebastião ocorrem
associados a sedimentos litobioclásticos (entre 30 e 50%) e manchas de sedimentos biolitoclásticos.
Ao norte do cabo de São Tomé, os sedimentos bioclásticos aparecem como extensas províncias
isoladas. Ao sul da Lagoa dos Patos, a plataforma é recoberta por sedimentos litoclásticos e pontilhada
por pequenas províncias com percentual variável de carbonato de cálcio.
Na região sudeste, está o banco submarino Almirante Saldanha, localizado a cerca de 100 milhas
náuticas do cabo e São Tomé, com substrato coralíneo. É um banco isolado, que se estende de uma
profundidade de 3.000 m até 60 m da superficie do mar e corresponde a uma formação vulcânica
arrasada pela erosão marinha, de natureza litológica ainda desconhecida.
36 Programa REVIZEE
Figura 7. Mapa do relevo do fundo marinho das regiões Central e Sudeste-Sul.
HIDROLOGIA
Sistemas de Correntes Oceânicas
A região da margem continental brasileira, compreendida entre a plataforma continental externa e
o talude intermediário, é fortemente influenciada pelo sistema de correntes oceânicas de contorno
oeste.
Em nível de superfície, são duas as correntes de contorno que margeiam nossa costa: a Corrente do
Brasil (CB) e a Corrente Norte do Brasil (CNB).
O ramo mais austral da Corrente Sul Equatorial (CSE), bifurca-se entre 5 e 10oS, originando a
Corrente Norte do Brasil (CNB), que segue rumo ao equador (Silveira et al., 1994), e a Corrente do
Brasil (CB), que se dirige ao sul (Stramma, 1991; Silveira et al., 2000). A Corrente Norte do
Brasil é a maior corrente de contorno oeste nas latitudes tropicais do Oceano Atlântico (Fonseca et
al., 2000). Isto se deve ao fato, de como ilustra a figura 8, a corrente receber aporte de outros
ramos mais equatoriais da Corrente Sul Equatorial.
Programa REVIZEE 37
Figura 8. Esquema das correntes que margeiam a costa brasileira. Adaptado de Stramma (1991).
A Corrente do Brasil flui para sul, bordejando o continente sul-americano até a região da Convergência
Subtropical (33-38oS), onde conflui com a Corrente das Malvinas e se separa da costa. A Corrente
do Brasil nasce e se desenvolve ao largo da costa brasileira e se constitui na feição oceânica mais
importante da borda oeste do Oceano Atlântico Sul subtropical. Entre 15o – 20oS, a CB é uma
corrente rasa, limitando-se a transportar a salgada e oligotrófica Água Tropical (AT) em direção ao
sul. Após atravessar a cadeia Vitória-Trindade, recebe contribuição adicional de volume em nível de
picnoclina constituído dominantemente por Água Central do Atlântico Sul (ACAS), passando a ter
uma extensão vertical de cerca de 500 m (Stramma e England, 1999). Ao sul do cabo de Santa
Marta Grande (28oS), a Corrente do Brasil recebe mais adição de volume, desta vez devido à
porção intermediária (500-1.200 m) da circulação do Giro Subtropical. A massa de água
transportada nessas profundidades é a Água Intermediária Antártica (AIA) e confere à Corrente do
Brasil uma espessura de mais de 1.000 m, enquanto flui ao largo da margem continental sul.
38 Programa REVIZEE
A figura 9 ilustra a circulação das principais massas de água, ao longo da margem continental
brasilleira.
6ºS
12ºS
18ºS
24ºS
30ºS
O sistema de correntes é mais complexo do que sugere esta descrição sumária. O “box” detalha um
pouco mais a circulação entre 150 e 1.200 m.
Programa REVIZEE 39
A circulação em níveis intermediários
A distinção entre Corrente Norte do Brasil e Subcorrente Norte do Brasil é sutil entre 5oS e 15oS. Ao
norte do cabo Branco, na Paraíba, a CNB revigorada, resultado da fusão entre a corrente original, a
Subcorrente Norte do Brasil e o aporte de volume dos ramos mais equatoriais da Corrente Sul Equatorial,
apresenta máximos de velocidade em superfície e se estende até cerca de 1.200 m. Esta fusão permite que
a Corrente Norte do Brasil atravesse o equador e se separe da costa sul-americana em torno de 10o N,
durante nove meses por ano. No período de primavera boreal, é consenso na literatura, que a CNB flui em
direção ao norte e atinge Trinidad-Tobago.
Região Norte
O rio Amazonas tem uma descarga de 1,0-2,8 x 105 m3/s, a qual contribui para a fertilização das
águas oceânicas (Kineke & Sternberg, 1995). A descarga sólida é avaliada entre 1,1-1,3 x 106 t/
ano (Meade et al., 1985). A pluma estuarina do Amazonas é transportada a noroeste, ao longo da
costa, por cerca de 20 a 40 km, com uma velocidade na superfície variando de 40 a 80 cm/s. Na
Plataforma Continental do Amazonas, a água doce estende-se até 100-120 km, caracterizada por
salinidade próxima de zero e temperatura entre 27,5° e 29,5°C (Geyer et al., 1996).
A região norte é altamente influenciada pela Corrente Norte do Brasil, que transporta as águas da
plataforma continental externa e do talude na direção noroeste (Richardson et al., 1994). Sua
velocidade varia entre 25 e 200 cm/s. O limite mais interno da Corrente Norte do Brasil situa-se
numa faixa distante de 20 a 40 km da linha da costa, enquanto que as velocidades máximas
desenvolvem-se numa faixa, que dista entre 150 a 200 km da costa. Sua velocidade média combinada
é de cerca de 110 cm/s entre março e abril (Luedemann, 1967). A corrente forma dois ou três
vórtices por ano (Johns et al.,1990; Didden & Schott, 1993; Richardson et al.,1994) e transporta
cerca de 3 a 4 milhões de m3/s para o Atlântico Norte. O diâmetro típico dos vórtices oscila em
torno de 400 a 600 km e sua profundidade atinge até 1.500 m, migrando a uma taxa de 10 a 15
cm/s ao longo da costa.
Na região norte, o comportamento da maré registra médias das preamares e das baixamares de
sizígia variando entre 563 cm, em Alcântara e 202 cm, no Parcel de Manuel Luís; e 53 cm e 17cm
em Santo Antônio do Oiapoque (Femar, 1997). As correntes de maré atingem 2 m/s, durante as
marés de sizígia, e menos de 80 cm/s, nas marés de quadratura (Beardsley et al., 1995).
Em geral, o litoral norte sofre influência das ondas formadas a partir dos ventos alísios, que
apresentam alturas abaixo de 1-1,5 m em mar aberto, porém podem alcançar, em fevereiro,
amplitudes de 3 m e velocidades próximas a 30 cm/s (Cachione et al., 1995), e em algumas ocasiões
de ciclones extratropicais no Hemisfério Norte (Innocentini et al., 2000).
A região Norte é caracterizada por alta energia e sujeita à forte variabilidade sazonal, estando sob
influência constante da descarga do rio Amazonas, da Corrente Norte do Brasil e dos ventos alísios.
Foram identificadas cinco massas d’água na região (Santos, 2000; Silva & El-Robrini, 2005):
40 Programa REVIZEE
− Água Costeira – uma massa d’água de baixa salinidade e alta temperatura registrada na
Plataforma Continental do Amazonas, influenciada pela grande descarga do rio Amazonas;
forma uma pluma paralelamente à costa e ocupa uma grande extensão de área a noroeste da
foz do rio Amazonas. A Água Costeira foi registrada até a profundidade de 20 m, atingindo
mais de 250 km da costa, durante o período de descarga máxima do rio Amazonas e cerca de
150 km, durante o período de mínima descarga;
− abaixo da Água Costeira ocorre uma massa d’água de mistura com características entre a
Água Tropical e a Água Costeira, presente somente na Plataforma Continental do Amazonas;
− Água Tropical – esteve presente abaixo dessa água de mistura, sendo registrada a partir da
superfície em regiões onde não há influência do rio Amazonas;
− abaixo dessa zona, até a profundidade de 650 m, foi identificada a presença da Água Central
do Atlântico Sul e;
− em níveis inferiores, a Água Intermediária Antártica .
A distribuição do fosfato, silicato, e nitrato na superfície evidenciou a presença das águas oriundas
do rio Amazonas, modificando a dinâmica na Plataforma Continental do Amazonas, mesmo durante
o outono (período de descarga mínima do rio) (Santos, 2000). As águas oriundas do rio Amazonas
favorecem um aumento da concentração dos nutrientes, destacando-se o silicato, essencial para o
desenvolvimento dos organismos que possuem carapaças silicosas, como as diatomáceas. Porém, as
águas do Amazonas possuem, também, material em suspensão, diminuindo a penetração de luz e o
teor de oxigênio dissolvido, devido ao consumo pela oxidação da matéria orgânica.
Excluindo-se a Plataforma Continental do Amazonas, com suas características de mistura, a ZEE
pode ser comparada com regiões de menores latitudes, com pequenas concentrações de nutrientes
na superfície, e aumento abaixo da termoclina. O inverso é verificado para o oxigênio dissolvido e
pH, os quais apresentaram maiores valores em profundidades menores que 100 m, e decréscimo,
com o aumento da profundidade. As águas apresentaram-se alcalinas, com valores dentro dos limites
considerados favoráveis à vida aquática (6,50<pH<8,50) (Angeli, 1979). Essas águas, em geral,
são consideradas oligotróficas por apresentarem baixos teores de nutrientes, destacando-se o
nitrogênio, o fósforo e o silício. Os nutrientes apresentaram baixas concentrações na superfície,
seguidas de um aumento com a profundidade, com um máximo intermediário coincidindo com o
mínimo de oxigênio dissolvido e pH, demonstrando, deste modo, os processos conjuntos do decréscimo
da fotossíntese e degradação da matéria orgânica.
Na Plataforma Continental do Amazonas, a entrada de água doce favorece um aumento na
concentração dos nutrientes, especialmente o silicato, modificando o ambiente e tornando-o
eutrofizado, em locais onde a penetração da luz é favorecida. Foram encontradas baixas concentrações
de biomassa fitoplanctônica em duas situações distintas (Santos, 2000; Smith & DeMaster, 1996):
águas fluviais com baixas salinidades e elevada concentração de material em suspensão; e águas
sem influência da pluma, com baixas concentrações de nutrientes. Verificou-se, ainda, que o
crescimento da biomassa fitoplanctônica foi máximo entre essas duas zonas, onde houve penetração
da radiação solar, observando-se grandes quantidades de nutrientes e estratificação da coluna d’água.
Região Nordeste
A ZEE nordestina é dominada pelas correntes resultantes da bifurcação da Corrente Sul Equatorial
– a Corrente Norte do Brasil, que segue rumo às Guianas, e a Corrente do Brasil. A maior intensidade
dos ventos alísios de Sudeste, no segundo semestre do ano, resulta na intensificação do sistema
equatorial de correntes, notadamente da Contracorrente Norte Equatorial e da Corrente Equatorial
Submersa, as quais praticamente inexistem a oeste de 20°S, durante o primeiro semestre do ano
(Vink et al., 2000).
Programa REVIZEE 41
Predominam cinco massas de água na região. Nos primeiros mil metros de profundidade foram
detectadas a Água Tropical, a Água Central do Atlântico Sul e a Água Intermediária Atlântica, sem
que tenham sido observadas influências significativas dos aportes continentais, nem a presença de
águas com características costeiras. A Água Tropical ocupa a camada superficial, até pouco mais
de 200 m, apresentando maior espessura na região sul e menor no Arquipélago de São Pedro e São
Paulo. Logo abaixo, até os 660 m, encontra-se a Água Central do Atlântico Sul, apresentando-se
mais espessa durante o outono na região oceânica leste e mais delgada próximo ao Arquipélago de
São Pedro e São Paulo. A massa d’água mais profunda corresponde a Água Intermediária Antártica,
caracterizada por um mínimo de salinidade de 34,5 e temperaturas entre 2º e 4ºC (Travassos et al.,
1999; Becker, 2001). Nas camadas mais profundas, encontram-se ainda a Água Profunda do Atlântico
Norte (APAN) e a Água Antártica de Fundo (AAF).
Na área oceânica, uma termoclina bastante marcada está presente durante todo o ano, com seu
topo entre 50 e 100 m. Sua profundidade varia com a latitude e com a estação do ano, sendo mais
profunda no inverno e nas maiores latitudes. Na área de bancos oceânicos rasos, devido à turbulência
provocada pelo relevo submarino, a termoclina apresenta-se comumente erodida, sendo freqüente a
ocorrência de ressurgências localizadas (Zagaglia, 1998). Os resultados obtidos pelo Programa
REVIZEE indicam que a presença do banco Aracati, por exemplo, contribui significativamente
para a existência de mecanismos de enriquecimento das águas superficiais, em especial, no outono/
inverno austral. Registros obtidos com sonda perfiladora (SCAMP), por sua vez, permitiram detectar
a existência de locais de mistura mais eficaz, associados principalmente às proximidades de alguns
bancos pertencentes à Cadeia Norte do Brasil, e às regiões de talude da Plataforma Continental
entre 10º-13ºS.
Do ponto de vista químico, a região oceânica apresenta uma camada superficial bem misturada,
influenciada pela ação dos ventos, registrando um teor elevado de oxigênio dissolvido, em equilíbrio
com a atmosfera, estendendo-se desde a superfície até o início da termoclina, com valores, em
alguns casos, superiores ao percentual de saturação. Nesta região, onde não há ressurgências, o
fluxo vertical é mínimo, devido a uma termoclina permanente. Há, em conseqüência, um déficit de
nutrientes na camada eufótica, que se configura fator limitante para a produtividade primária,
caracterizando a área como oligotrófica.
As características da região oceânica são típicas de regiões tropicais, com temperaturas e salinidade
elevadas e pequena oscilação térmica. O pH mantém-se sempre alcalino, os valores mais elevados
coincidindo com as maiores concentrações de oxigênio dissolvido. Foi registrada uma variação
temporal bastante significativa dos nutrientes dissolvidos na camada eufótica, apesar da aparente
estabilidade térmica e salina, o que indica uma forte relação com os processos dinâmicos existentes
na área. A relação nitrogênio/fosforo (N:P) na camada eufótica foi muito baixa, caracterizando o
nitrogênio como o nutriente limitante para a produção oceânica. As concentrações de silicato foram,
em contrapartida, elevadas, não se mostrando como fator limitante para a produção primária
(Flores Montes, 2003).
Na proximidade de bancos e ilhas oceânicas, da mesma forma que na área oceânica aberta, a
concentração do oxigênio dissolvido esteve próxima da saturação nas camadas superficial e sub-
superficial. Na camada superficial, o pH ficou sempre na faixa alcalina, com valores mais elevados
na região do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. Baixos valores superficiais foram obtidos na
Cadeia Norte do Brasil, sugerindo influência da descarga do rio Amazonas. A forma mais abundante
do nitrogênio foi o nitrato, principalmente na primavera, onde os valores obtidos na camada eufótica
foram maiores do que no verão e outono. Da mesma forma que na região oceânica, a distribuição da
salinidade e dos nutrientes, principalmente o silício, variaram, sendo que a maior variabilidade foi
observada na Cadeia Norte do Brasil. Pelos resultados obtidos verificou-se que três regiões distintas
podem ser consideradas dos ponto de vista físico e químico: (a) região dos bancos da Cadeia Norte
do Brasil, (b) região da cadeia de Fernando de Noronha e (c) região Leste de São Pedro e São
Paulo, que engloba a área de domínio oceânico leste do Arquipélago de São Pedro e São Paulo e o
próprio Arquipélago (Becker, 2001; Vidal, 2004).
42 Programa REVIZEE
Região Central
A Zona Econômica Exclusiva da região Central corresponde a um sistema tipicamente oligotrófico,
dominado pelas águas tropicais da Corrente do Brasil e por uma teia alimentar complexa, altamente
diversificada e de baixa produção.
Essas feições formam uma barreira topográfica que altera a direção e a velocidade dessa corrente
(0,13 – 0,50 cm/s) e gera uma variedade de fenômenos físicos, tais como vórtices (de Vitória e de
São Tomé), ressurgência costeira (Cabo Frio) e mistura, que tornam complexa a hidrografia da
região (Castro & Miranda, 1998) e proporcionam o enriquecimento das camadas superficiais e o
aumento da produção pelágica. Além disso, a proximidade de ilhas e bancos oceânicos proporciona
uma maior produção orgânica, em comparação com as áreas oceânicas adjacentes, provocando o
chamado “efeito ilha”, quando águas ricas de profundidade moderada atingem a zona eufótica.
Próximo ao cabo de São Tomé, os ventos predominantes do quadrante nordeste afastam a Corrente
do Brasil da costa e induzem a ascensão da Água Central do Atlântico Sul (ACAS), massa d’água
profunda, mais fria e densa (temperatura e salinidade variando entre 6 e 18,5oC, e 34,5 e 36,0,
respectivamente), rica em nutrientes (Nitrato > 10 µM). Esse fenômeno de ressurgência fertiliza a
zona eufótica, proporcionando o desenvolvimento de todos os níveis tróficos (Valentin, 2001),
principalmente na primavera e verão, quando a ACAS invade a plataforma continental e pode ser
encontrada a 50 km da costa (Campos et al. 2000). No inverno, essa massa d‘água se retrai até a
quebra da plataforma, sendo encontrada em profundidades superiores a 100 m. Esse comportamento
sazonal é controlado pelo regime de ventos (Castro & Miranda, 1998). Dessa forma, observam-se
núcleos localizados de concentração de nutrientes, causados pela ressuspensão de águas mais
profundas, que promovem um incremento nas taxas de produção primária e bacteriana.
Região Sudeste-Sul
Os movimentos, na maior parte da plataforma continental dessa região, são forçados, principalmente
pelos ventos, pela ação da Corrente do Brasil e pelas marés, em diferentes escalas de tempo (Castro,
1996).
Programa REVIZEE 43
Na Plataforma Continental Sudeste, situada entre Cabo Frio e cabo de Santa Marta Grande, ocorrem
águas com baixa salinidade, originárias da mistura da Água Tropical da Corrente do Brasil ou da
Água Central do Atlântico Sul, com águas de origem costeira, com influência continental. Há
notável variação sazonal – estratificação em duas camadas com formação de forte termoclina
durante o verão, devido à penetração da Água Central do Atlântico Sul sobre a plataforma continental
em direção à costa e, por outro lado, homogeneidade durante o inverno, devido ao seu recuo em
direção ao talude.
A ressurgência costeira da Água Central do Atlântico Sul ocorre freqüentemente entre o cabo de
São Tomé e Cabo Frio, sendo que a água ressurgida em Cabo Frio desloca-se na direção sudoeste,
podendo atingir as proximidades da ilha de São Sebastião (Lorenzzetti & Gaeta, 1996). A
ressurgência em Cabo Frio não é constante, sendo marcadamente sazonal e ocorrendo com maior
freqüência no verão (Miranda, 1982).
Foram localizados em vários pontos da plataforma, com maior destaque no Cabo Frio, cabo de São
Tomé e cabo de Santa Marta, núcleos de águas ressurgidas, enriquecidas em nutrientes, muitas
vezes em quantidade maior que na água de origem, o que propicia melhores condições tróficas em
superfície, subsuperfície e, em alguns casos, até 100 e 200 m. Núcleos mais isolados ou esporádicos
avançam sobre a plataforma em frente à baía de Guanabara, Ubatuba, São Sebastião, de modo
bastante freqüente, e mesmo, mais ao largo, na região de Santos. No cabo de Santa Marta, o
enriquecimento é também marcante. Esse fenômeno é mais evidente no verão e na primavera.
O movimento de ascensão de águas e dispersão dos nutrientes também pode ocorrer pela ação de
outros fatores, como vórtices e meandros da Corrente do Brasil sobre a plataforma continental, que
induzem o transporte vertical de águas profundas (Signorini, 1976; Campos et al.,1995). Assim,
próximo a Cabo Frio, a Corrente do Brasil, que flui ao longo do talude de norte para sul, sofre
mudança de direção para sudoeste, causando meandramentos que formam vórtices ciclônicos ao
longo de todo o ano. Estes vórtices promovem a ascensão de águas mais frias e ricas em nutrientes
até as águas superficiais, fenômeno denominado de ressurgência de quebra de plataforma (Campos,
1995). A ação destes vórtices permite que a Água Central do Atlântico Sul, penetre e permaneça
sobre a borda da plataforma continental durante o ano, e que a ressurgência costeira ocorra devido
à combinação deles com a predominância de ventos Nordeste, que bombeiam a água para a região
costeira (Campos et al., 2000).
Por outro lado, a Corrente do Brasil, quente e salina, flui para o sul margeando o talude continental
até encontrar, na altura de 36ºS, a Corrente das Malvinas, de águas mais frias. Ambas as correntes
são, então, defletidas para fora da costa (Gordon, 1981). Essa região, onde ocorre a confluência
Brasil-Malvinas se caracteriza por fortes gradientes termo-halinos e intensa atividade de mesoescala
(Cheney et al., 1983). A circulação na plataforma regional mostra propriedades intrínsecas
relacionadas, em particular, com a saída de água doce do complexo lagoa dos Patos-lagoa Mirim e
rio da Prata (Hubold, 1980; Ciotti et al., 1995). As águas costeiras provenientes do estuário tendem
a se propagar para o norte sobre a plataforma (Zavialov et al., 1998). Devido a essas descargas, e
ainda à invasão da água subantártica no inverno, o ciclo sazonal da temperatura da superfície do
mar apresenta grande amplitude, podendo ultrapassar 10ºC.
44 Programa REVIZEE
Os aportes continentais são muito fortes na região da desembocadura da Lagoa dos Patos e também,
de um modo geral, na porção sul do litoral do Estado do Rio Grande do Sul, devido à influência da
descarga do rio da Prata. O mesmo ocorre próximo à baía de Paranaguá e ao sistema Cananéia-
Iguape, sobretudo no período de verão, que corresponde à época de chuvas. Próximo à baía de
Guanabara, os sinais de aportes continentais são menos evidentes que nos demais locais citados.
Em todos os casos, a influência continental está limitada à porção interna da plataforma.
Além desses eventos pode ocorrer penetração superficial, ao longo da Plataforma Continental Sudeste,
de águas frias provenientes do sul, relacionada com os eventos El Niño/Oscilação Sul (ENSO)
(Campos et al.,1999).
A sazonalidade da penetração da Água Central do Atlântico Sul e a formação dos vórtices frontais
na região oceânica, influenciam diretamente o aumento da produção primária do fitoplâncton no
verão que, associado a uma maior estabilidade da coluna d’água, favorece a sobrevivência de larvas
meroplanctônicas. Devido à influência daquela água na plataforma continental, a região Sudeste-
Sul possui uma alta produtividade primária, a qual sustenta um grande estoque de peixes pelágicos
e demersais (Matsuura, 1986).
A estrutura da comunidade fitoplanctônica da zona eufótica das áreas afastadas da costa altera-se
na região do talude continental devido à ascensão vertical de águas frias e ricas em nutrientes
(Spach,1994). Essa ressurgência de borda de plataforma pode ocorrer em qualquer ponto na região
Sudeste-Sul do Brasil, mas foi detectada com mais intensidade em frente à costa do Paraná (Brandini
et al., 1989). Estas ressurgências no talude têm implicações importantes na produção primária de
áreas oceânicas, onde a contribuição de nutrientes para a camada eufótica, a partir de camadas
mais profundas é limitada pela existência da termoclina permanente. Com a ressurgência, a camada
eufótica é fertilizada em grande extensão, possibilitando o aumento na produção fitoplanctônica, e
dos demais níveis da cadeia trófica.
PLÂNCTON
Biomassa e produção primárias
A produtividade primária representa a capacidade de um ecossistema de sintetizar compostos
orgânicos de alto potencial energético a partir de energia radiante ou química. Através dela pode-
se estimar a disponibilidade de alimento para organismos herbívoros e seus consumidores e,
conseqüentemente, identificar a existência de potencial pesqueiro.
Região Norte
O ambiente pelágico na ZEE da região Norte é, em sua maior parte, do tipo oligotrófico, e fisicamente
estratificado, sem ressurgências costeiras. As únicas fontes de nutrientes para a zona eufótica são
a regeneração bêntica dos setores rasos costeiros da plataforma e a drenagem continental do rio
Amazonas, do Golfão Maranhense e do rio Parnaíba (Brandini et al., 1997). Nesse cenário, a
Plataforma Continental do Amazonas se diferencia por suas características de mistura e concentração
de nutrientes. Os maiores valores de clorofila-a (figura 10) foram registrados em frente à ilha do
Programa REVIZEE 45
Marajó (2,25 µg/litro), enquanto que teores inferiores a 0,1 µg/litro caracterizam as regiões sob
influência oceânica em frente ao Estado do Amapá. Embora haja uma nítida elevação da biomassa
primária e da eficiência fotossintética (de 0,3 para 13,0 mg Carbono/mg Clorofila-a/hora) em
frente à região de descarga dos rios Amazonas e Pará, em função da elevada carga em silicatos,
esses valores não são tão altos quanto o esperado, provavelmente em razão dos reduzidos teores em
nitrato e fosfato das águas continentais (Ryther et al.; 1967).
6ºN Oc 2.1
ea 2
no 1.9
At 1.8
lâ
nt 1.7
4ºN ico
1.6
1.5
1.4
1.3
1.2
2ºN
1.1
1
Amapá 0.9
0.8
s
na
0 0.7
ô
az
0.6
m
A
Ilha do 0.5
io
rá
R
Marajó Pa 0.4
io 0.3
R
2ºS Pará 0.2
0.1
0
Maranhão
52ºW 50ºW 48ºW 46ºW 44ºW 42ºW
Figura 10. Concentração de Clorofila a (µg/L) na superfície do mar da região Norte.
Região Nordeste
A Zona Econômica Exclusiva da região Nordeste tem características oligotróficas, com teores de
nitrato inferiores a 1,0 µM na camada eufótica, e valores de biomassa primária geralmente baixos
(< 0,2 µg/litro de clorofila a), principalmente no inverno e verão (média 0,06 µg/litro). Os valores
aumentam significativamente no período de outono e primavera, com valores médio de 1,23 µg/
litro. Nesse período, alguns máximos (até 4,8 µg/litro) são episodicamente observados próximo às
ilhas e montes submarinos. Essas feições provocam ascensão de águas profundas, ricas em nutrientes
e conduzem a uma elevação nos valores de biomassa primária (Becker, 2001; Travassos et al.,1999).
Esses máximos são observados nas áreas adjacentes à cadeia Norte do Brasil, cadeia de Fernando
de Noronha e Arquipélago de São Pedro e São Paulo, bem como nas adjacências do delta do
Parnaíba, entre Natal e Recife e entre Aracajú e Salvador (figura 11).
46 Programa REVIZEE
0 Arq. S. Pedro
S. Paulo
Cadeia Norte
2ºS
5.5
R. Parnaíba 5
Arq. F. Noronha
4ºS Fortaleza
4.5
4
Natal 3.5
6ºS
3
2.5
8ºS REVIZEE NE III Recife
2
1998
1.5
BRASIL Maceió 1
10ºS
0.5
0.1
Aracajú
12ºS 0.01
Salvador
14ºS
42ºW 40ºW 38ºW 36ºW 34ºW 32ºW 30ºW 28ºW
Figura 11. Concentração de Clorofila a (µg/L) na superfície do mar da região Nordeste – abril a junho de 1998.
Região Central
Na maior parte da plataforma continental, incluindo o parcel dos Abrolhos, a camada de mistura se
estende até 25 m. Nessa água superficial os nutrientes são esgotados (concentrações de nitrato
inferiores a 0,20 µM, Rezende et al., no prelo). A clorofila não ultrapassa, em média, 0,10 µg/litro
na parte norte; e 0,25 µg/litro nos Abrolhos e ao sul. Máximos de 2,8 µg/litro na primavera, na
superfície, e 1,09 µg/litro no outono, a 20 m de profundidade, ocorrem entre o cabo São Tomé e o
rio Mucuri, e ao longo da cadeia Vitória-Trindade, diminuindo até 0,02 µg/litro nas águas oceânicas.
(Ciotti et al., no prelo). A produtividade primária média integrada segue um padrão de distribuição
idêntico ao da clorofila, com valores baixos (0,02-0,2 g Carbono/m2/dia) nas águas oceânicas (Panouse
& Susini, 1987; Knoppers & Pollehne, 1991) e alguns máximos observados nos bancos submersos
(0,5 g C/m2/dia, no banco Royal Charlotte), sobre o parcel dos Abrolhos (0,8 g C/m2/dia), e no sul
desse parcel (1,1 g C/m2/dia), conseqüência de processos de eutrofização provocados por ressurgência
costeira, “efeito ilha” e vórtices (Ciotti et al, no prelo; Gaeta et al., 1999).
Programa REVIZEE 47
12ºS
Salvador
2
16ºS
1.8
1.6
1.4
18ºS C. Abrolhos
1.2
20ºS Vitória
0.8
0.4
22ºS 0.2
Cabo S. Tomé
24ºS
42ºW 40ºW 38ºW 36ºW 34ºW 32ºW 30ºW 28ºW
12ºS
Salvador
REVIZEE C IV
14ºS 1998
BRASIL
0.6
16ºS
0.5
18ºS C. Abrolhos
0.4
0.3
20ºS Vitória
Cadeia Vitória-Trindade
0.2
22ºS 0.1
Cabo S. Tomé
0.0
24ºS
Figura 12. Concentração de Clorofila a (µg/L) na superfície do mar da região Central. (A) outubro a dezembro de 1998;
(B) março a maio de 2000.
48 Programa REVIZEE
Região Sudeste-Sul
A intrusão da Água Central do Atlânctico Sul-ACAS durante o verão, os vórtices ciclônicos de
mesoescala, as ressurgências de quebra de plataforma e as ondas internas são os principais fatores
responsáveis pelos máximos de produção primária e o acúmulo de biomassa fitoplanctônica nos
níveis inferiores da zona eufótica. Esses máximos subsuperficiais de clorofila podem se estender
desde a superfície até 50 m de profundidade. No extremo Sul, em alguns casos, a drenagem da
pluma de água doce oriunda da descarga do rio da Prata e, em menor escala, da Lagoa dos Patos,
fertiliza uma grande área da plataforma com nutrientes novos, provocando uma elevada
produtividade, tanto no inverno, quanto no verão.
Os máximos de clorofila-a variam de acordo com a massa d´água, de 0,21 µg/litro na Água Tropical,
até 1,7 µg/litro na ACAS, na profundidade do máximo subsuperficial de clorofila. A eficiência
fotossintética é, em média, relativamente constante nas águas de plataforma e água tropical, em
torno de 4 mg Carbono/mg Clorofila-a/hora. Variações de maior amplitude são características de
áreas sujeitas à eutrofização por influência costeira ou de ressurgência. Verificam-se máximos
esporádicos de até 25,0 µg/litro de clorofila no litoral do Rio de Janeiro, no verão; de 6,0 µg/litro
na região de Cabo Frio; e superiores a 5 µg/litro em frente ao estuário da Lagoa dos Patos (Gaeta
et al., 1994; Gonzalez Rodriguez et al., 1992).
Figura 13. Imagem SeaWIFS de Concentração de Clorofila a na superfície do mar na região Sudeste-Sul, no verão
(A) e inverno (B) de 2001.
Na região central, entre Salvador e cabo São Tomé, a abundância de bactérias heterotróficas oscila
entre 0,4x105 e 8.0x105 cél/mL, e sua produção entre 3 e 170 ng Carbono/litro/hora. Esses dados
são típicos de regiões oceânicas oligotróficas. Máximos são observados na região próxima ao cabo
Programa REVIZEE 49
de São Tomé e sobre a cadeia de bancos submarinos Vitória-Trindade, bem como nas áreas de
influência dos rios Doce, Mucuri e Jequitinhonha (Andrade et al., no prelo).
Fitoplâncton
Região Norte
Valores máximos de densidade microfitoplanctônica ocorrem na costa do Amapá (12x106 cél/litro)
e na área nordeste da costa do Pará (4x106 cél/litro), nos períodos de menor vazão do rio Amazonas.
Na maior parte da extensa plataforma continental da região Norte, as densidades são relativamente
baixas (<103 cél/litro), exceto durante as maiores vazões quando alguns florescimentos (blooms)
localizados alcançam 0,5x106 – 3x106 cél/litro. De maneira geral, as populações do microfitoplâncton
da região norte são de baixa diversidade, dominadas por diatomáceas (Correia et al., 2005a).
Região Nordeste
As densidades de fitoplâncton da região Nordeste são geralmente baixas (5x104 a 150x104 cél/
litro). Os máximos (>50x104 cél/litro) são esporádicos, localizados em pontos isolados, em água
oceânica ao largo de Recife, João Pessoa, cabo Calcanhar e Macau, e correspondem a uma dominância
de cianofíceas. Os fitoflagelados constituem o grupo dominante em quase toda a região. Sua proporção
aumenta da costa (77% da densidade total) para o oceano (94%), indicando o caráter mais
oligotrófico das águas oceânicas. As diatomáceas, embora presentes em toda a região Nordeste,
dominam somente nas águas da plataforma interna, ao sul de Recife, onde ocorrem os máximos de
silicatos (Medeiros et al., 1999).
Região Central
Na camada da termoclina ocorrem os máximos de densidade desses organismos autotróficos e que
podem ser considerados representativos da riqueza local (Tenenbaum et al., no prelo). As diversas
categorias dimensionais: picoplâncton (0,2 – 2 µm), nanoplâncton (2 – 20 µm) e microplâncton (20
– 200 µm) foram estudadas em duas épocas do ano: outono (abril 1998) e primavera (novembro
2000).
De maneira geral, as medidas de densidade e biomassa do fitoplâncton confirmam o caráter
oligotrófico da região central. Os organismos autotróficos de menor porte (pico e nanofitoplanctontes)
dominam as populações com densidades variando de 3x105 a 5x107 cél/litro (equivalentes a uma
biomassa de 1 a 23 µg Carbono/litro). Tanto na primavera quanto no outono, os máximos (>5x106
cél/litro) se posicionam na plataforma interna, em especial no parcel dos Abrolhos e adjacências, e
nos montes e ilhas da cadeia Vitória-Trindade.
O microfitoplâncton é mais pobre, com máximos inferiores a 4x103 cél/litro, localizados nas águas
superficiais (até 50 m) da plataforma continental, mais ao sul da região central, e em alguns pontos
esporádicos dos montes e da cadeia Vitória-Trindade. Dinoflagelados (310 espécies) e diatomáceas
(215) são as classes mais expressivas, representando 36 e 52% do microfitoplâncton total,
respectivamente, seguidas de Cocolitoforídeos (44 espécies), cianofíceas (18) e silicoflagelados (8).
50 Programa REVIZEE
A variação sazonal é pouco expressiva, com os máximos de densidade apenas uma ordem de grandeza
superiores no outono; uma tendência decrescente das densidades e biomassas é evidenciada em
direção ao oceano.
Região Sudeste-Sul
As densidades de picoplâncton, formado por cianobactérias e algas eucariontes variam de 0,4 a
4,1x104 cél/litro na plataforma interna ao largo de Ubatuba (SP), e de 1,5x102 a 5,0x105 na
plataforma externa. No extremo sul, o picoplancton autotrófico representa mais do que 50% da
clorofila-a nas águas oceânicas, com máximos de 108 cél/litro em superfície (Odebrecht e Castello,
2000).
O nanoplâncton, essencialmente fitoflagelados, é sempre dominante (94% do total de organismos),
seguido pelo microfitoplâncton. Diatomáceas e dinoflagelados autotróficos, nas áreas costeiras e de
plataforma da região, principalmente no verão e na primavera (>106 cél/litro), seguidos de
dinoflagelados e cocolitoforídeos, compõem a maior parte dos organismos (Odebrecht e Castello,
2000).
A ocorrência de máximos subsuperficiais de clorofila na plataforma intermediária (100 metros) é
essencial para a manutenção de recursos pesqueiros pelágicos e demersais. A maior parte dos
peixes na plataforma de São Paulo desova no verão, no período de intrusão da ACAS, e acúmulos
de larvas de anchoíta (Engraulis anchoita) foram observados no nivel desses máximos de clorofila
(Katsuragawa et al., 1993). No inverno, o transporte das águas frias da plataforma argentina e
uruguaia na direção norte, invadindo grande parte da plataforma interna do extremo sul do Brasil,
proporciona uma elevada biomassa e produção, com domínio de diatomáceas (Brandini, 1990).
Zooplâncton
O zooplâncton inclui os organismos animais, isto é, heterotróficos, do plâncton. São subdivididos
em classes dimensionais, como para o fitoplâncton: picozooplâncton (= bacterioplâncton
heterotrófico, 0,2–2 µm), nanozooplâncton (flagelados, 2–20 µm), microzooplâncton (ciliados,
20–200 µm) e mesozooplâncton (acima de 200 µm), incluindo grande diversidade de grupos, tais
como copépodes, cladóceros, quetognatos, apendiculárias, larvas (exceto larvas de peixes,
constituintes do ictioplâncton e analisadas à parte).
Região Norte
No período de menores vazões dos rios (novembro-dezembro), a densidade total de mesozooplâncton
é inferior a 20 organismos/m3, em 80% da plataforma continental. Máximos superiores a 30 org/
m3 (até 85 org/m3) ocorrem nas áreas mais costeiras, ao noroeste da baía de São Marcos e, em
menor escala, próximo à foz do rio Parnaíba. Durante o período de maior vazão (junho), o padrão
de distribuição espacial do mesozooplâncton permanece, porém com ocorrência de máximos de 30
org/m3 do rio Parnaíba até a baía de São Marcos, resultante da maior influência da descarga do rio.
1
Unidade utilizada para expressar a diversidade especifica de uma comunidade. A fórmula, baseada na proporção de
cada espécie na amostra, é oriunda na “teoria da informação”; indica a quantidade de informação necessária para
identificar um indivíduo dentro da amostra. No caso de uma forte dominância de uma determinada espécie, a diversidade
é baixa, e um indivíduo retirado ao acaso na amostra tem grande chance de pertencer essa espécie, ou seja, é necessária
“pouca informação (bit)” para definir esse indivíduo. O índice de diversidade tem grande importância em ecologia para
definir o grau de evolução e amadurecimento de um ecossistema, além de detectar eventuais impactos, naturais ou
antrópicos, que determinem a queda da diversidade.
Programa REVIZEE 51
A diversidade de espécies é, em média, relativamente baixa e constante (em torno de 2,0 bits/
indivíduo1), diminuindo durante o período de cheia. Copépodes dominam em toda a área (30 a 70%
dos táxons encontrados, 60% da abundância relativa), totalizando 96 espécies. Apendiculárias e
quetognatos ocorrem também em toda região com abundâncias expressivas (até 23% da densidade
total do mesozooplâncton).
Região Nordeste
A biomassa do mesozooplâncton tende a aumentar nas áreas adjacentes às cadeias Norte do Brasil
e Fernando de Noronha e Arquipélago de São Pedro e São Paulo (de 1 até 200 mg/m3). Valores
mais elevados (>100 mg/m3) também ocorrem em certas zonas do talude norte, como nas adjacências
do delta do Parnaíba, entre Natal e Recife e no talude sul, entre Aracajú e Salvador (Neumann-
Leitão et al., 1999; Mafalda Jr., 2004a).
A diversidade de espécies é, em média, relativamente elevada (> 3,5 bits/ind), com máximo
alcançando 4,2 bits/ind, na plataforma externa onde há mistura de espécies neríticas e oceânicas,
diminuindo nas proximidades da costa (2,6 bits/ind). Os copépodes dominam em toda a área (40-
60% dos táxons encontrados, 60% da abundância relativa).
Observa-se forte interação entre as espécies neríticas e oceânicas, mistura devida ao estreitamento
da plataforma continental, que facilita a incursão das populações oceânicas para a costa. Essa alta
diversidade, aliada à densidade relativamente baixa de mesozooplâncton, faz com que a região
Nordeste seja considerada como uma das mais oligotróficas do Brasil.
Região Central
A densidade do picoplâncton heterotrófico varia de 2,9x108 a 4,1x109 cél/litro, correspondendo a
uma biomassa de 4 a 380 µg/litro. Os máximos (> 1,5x109 cél/litro) ocorrem ao norte da parcel
dos Abrolhos, no outono, e ao sul desse parcel, na primavera. Esses organismos, de tamanho inferior
a 20 µm, contribuem com mais de 90% da abundância total de plâncton heterotrófico (Bonecker et
al., no prelo, a).
Em ambas as épocas, os copépodes constituem o grupo mais abundante (85% do total de indivíduos
coletados). Outros organismos que ocorrem com abundância relevante são: apendiculárias (3,2%),
ostracodos (2,5%) e larvas de moluscos (1,8%). As larvas de decápodes, indicativas da presença de
adultos de espécies de interesse pesqueiro, apresentam densidades relativamente altas (até 500 ind/
m3), nas áreas mais costeiras, com menos de 200 m de profundidade.
52 Programa REVIZEE
Região Sudeste-Sul
Dados sobre o picoplâncton heterotrófico da região de Ubatuba mostram densidades variando de
1,0 a 2,7x106 cél/litro, tanto no verão, quanto no inverno. Esses valores alcançam 5,1x105 a
3,6x106 cél/litro na área oceânica. O nanoplâncton apresenta densidades de três ordens de grandeza
menores (0,5 a 3,2x103 cél/litro) (Mesquita & Fernandes, 1991; Susini-Ribeiro, 1996).
No extremo sul do Brasil, águas costeiras frias originadas ao largo do rio da Prata e águas
subantárticas da Convergência Subtropical são determinantes na composição e na variabilidade
espaço-temporal do zooplâncton (Hubold, 1980). Com base nos dados disponíveis sobre biomassa,
especula-se que a produção secundária do zooplâncton nas áreas costeiras mesotróficas a eutróficas
da região Sudeste-Sul pode ser tão alta quanto em outros ecossistemas produtivos de latitudes
similares. Foi estimada, para os copépodes, uma produção de 2,08 a 44,76 mg Carbono/m3/dia, em
áreas costeiras (De La Rocha, 1994).
Ictioplâncton
Região Norte
Do cabo Orange à foz do rio Pará, região sob influência da descarga do rio Amazonas, 15 famílias
com ampla distribuição em toda a ZEE, já foram identificadas, sendo as mais abundante Carangidae
(33,3% dos indivíduos), Gobiidae (25%) e Bramidae (16,6%). A maior parte das larvas se encontra
na região nerítica, principalmente no extremo norte do Amapá. Myctophidae e Clupeidae (16,6%)
são exclusivamente neríticas e Gonostomatidae, Exocoetidae, Bothidae e Congridae são famílias
mais oceânicas (8,3%).
As densidades de larvas de peixes são relativamente baixas (< 80 ind/m3), na região entre as
Reentrâncias Maranhenses e a foz do rio Parnaíba, com os máximos sendo observados na região
nerítica. Da mesma maneira, as maiores densidades de ovos se concentram nas águas mais costeiras
(máx. de 6.442 ind/m3). As famílias Carangidae, Myctophidae e Gobiidae são os representantes
mais freqüentes encontrados na maioria das amostras (Correia & Castro, 2005).
Região Nordeste
Sítios de desova e de crescimento de larvas de peixes, com elevadas concentrações de ictioplâncton,
se localizam principalmente na cadeia Norte do Brasil, no Arquipélago de Fernando de Noronha, e
na área oceânica próxima ao Arquipelago de São Pedro e São Paulo. Destacam-se também as áreas
costeiras, em frente aos estuários, entre o Rio Grande do Norte e o Piauí e, entre Pernambuco e o
norte da Bahia. As maiores densidades de ovos e larvas ocorrem no outono (700 ovos/100m3) e na
primavera (716 larvas/100m3) (Mafalda Jr., 2004b).
Programa REVIZEE 53
Região Central
A distribuição dos ovos e larvas de peixes segue o mesmo padrão da biomassa de plâncton. Em
todas as épocas do ano, as densidades de ovos são muito baixas (70% < 50 ovos/100m3, média de
40 ovos /100m3). Os máximos ocorrem no inverno (máx. 632 ovos/100m3,) na plataforma, próximo
ao cabo de São Tomé, sul do Estado do Espírito Santo e sul da costa do Estado da Bahia (Bonecker
et al., no prelo, b).
As densidades de larvas são também muito baixas (<50 larvas/100m3). Os máximos (405 larvas/
100m3) são observados no inverno sobre a plataforma continental, com alguns picos na região
oceânica próximo aos bancos Hotspur, Royal Charlotte e da cadeia Vitória-Trindade. O ictioplâncton
é dominado por larvas de peixes pelágicos e meso-batipelágicos, principalmente Myctophidae (16-
30% das larvas), Engraulidae (11%) e Scaridae (9-18%). As larvas da família Gobiidae, com
hábitos demersais, são também abundantes nessa região durante o outono (>10% na região de
Belmonte e cabo de São Tomé) (Nonaka et al., 2000).
Região Sudeste-Sul
A composição taxonômica, abundância e freqüência do ictioplâncton da região Sudeste-Sul
apresentam grandes variações espaciais e sazonais. De maneira geral, o ictioplâncton tende a ser
mais rico na região costeira e no período do verão (Katsuragawa et al., no prelo).
As larvas de Trichiurus lepturus (peixe espada) têm ampla distribuição sobre toda a plataforma
continental, preferencialmente em águas mais profundas (> 50 m). O outono é a época de maior
abundância de ovos e larvas e a região de São Sebastião é considerada como a principal área de
desova da espécie (Nakatani et al. 1980).
À exceção da plataforma continental do Rio Grande do Sul, onde são pouco abundantes, as larvas
de Serranidae (garoupas, badejos, chernes) e de Ophidiidae (congro-rosa) são relativamente comuns
em toda a plataforma continental da região Sudeste, sendo abundantes entre Cabo Frio e Santos ao
longo do ano (Itagaki, 1999; Katsuragawa e Matsuura, 1998).
Na área mais costeira, predominam larvas de espécies relacionadas ao estuário, como Lycengraulis
grossidens, Brevoortia pectinata e vários Sciaenidae. Conforme a profundidade aumenta (35 m),
são observadas espécies associadas à zona interna da plataforma continental, como Trichiurus
lepturus e Prionotus punctatus, bem como espécies costeiras – Epinephelus sp., Bregmacerotidae e
Bleniidae. Nas proximidades da isóbata de 100 m, as larvas mais abundantes são as de
Bregmacerotidae, Engraulis anchoita, Urophycis mystaceus e Scombridae. Finalmente, nas águas
mais oceânicas, predominam ovos de Maurolicus muelleri e larvas de Myctophidae (Katsuragawa
et al., no prelo).
54 Programa REVIZEE
BENTOS
Várias razões justificam o marcado interesse pelo conhecimento do bentos costeiro e de plataforma
no contexto do Programa REVIZEE. Muitas espécies bênticas ou associadas de alguma forma aos
fundos marinhos têm importância econômica direta, como é o caso dos crustáceos, moluscos e
muitas algas produtoras de carrageninas ou alginatos. Outras constituem o principal item alimentar
de peixes demersais, que vivem sobre a superfície dos sedimentos. Por outro lado, não se deve
subestimar o papel desempenhado por organismos bentônicos na aeração e remobilização dos fundos
marinhos, acelerando os processos de remineralização de nutrientes e conseqüentemente os próprios
processos de produção primária e secundária (Lana et al., 1996).
No Brasil, com exceção dos crustáceos decápodes (camarão, siris e caranguejos) e cefalópodes
(polvos e lulas), os organismos bentônicos não são comumente vistos como recursos vivos em potencial
e de valor econômico. Entretanto, diversos grupos presentes na nossa costa possuem representantes
com reconhecida importância em outros países do mundo, tanto em termos de uso na alimentação
humana como na indústria farmacêutica. Muitos gêneros de algas apresentam grande importância
econômica, em função da aplicação industrial de diversos extratos, como os polissacarídeos presentes
na parede celular das algas (ficocolóides) ou para consumo humano. A alga parda Laminaria abyssalis,
presente na região Central, aparece como um recurso vivo de importância econômica, para a extração
do ácido algínico, usado em vários segmentos da indústria têxtil e farmacêutica.
Dentre as esponjas (Porifera), grupo com maior biomassa na região Central, o gênero Aplysina
merece especial atenção. Trata-se de um dos poucos táxons de poríferos mais diverso no Oceano
Atlântico do que no Indo-Pacífico, e ainda com a peculiaridade de ser, aparentemente, tão rico na
costa brasileira, quanto na região do Caribe e Antilhas (Eduardo Hajdu, comunicação pessoal).
Além da importância estrutural nas comunidades bentônicas em que ocorre, este gênero possui
substâncias com notória atividade antitumoral. Além dela, mais 14 gêneros com propriedades
biológicas foram encontrados nessa região da costa brasileira, entre os quais, aqueles que apresentam
atividades antibióticas, antifúngicas, antitumorais, citotóxicas e hemolíticas.
Região Norte
Dados do Programa REVIZEE, obtidos com auxílio de dragas retangulares e pegador (van Veen),
indicaram a predominância de protozoários, especialmente foraminíferos (ordem Foraminiferida).
Os foraminíferos, moluscos (Mollusca) e poliquetas (Polychaeta) foram os grupos que estiveram
presentes em maior quantidades de estações, enquanto os equinodermos (Echinodermata) foram
pouco representativos. Na área do Parcel de Manuel Luís, foi encontrada quantidade significativa
de organismos, tanto em termos de diversidade quanto em número, na profundidade entre 30 e 45
m (Correia & Castro, 2005).
Programa REVIZEE 55
Nessa região, os foraminíferos são importantes como fósseis guias, devido à sua abundância nos
sedimentos marinhos, proporcionando o estudo de datação de alguns ambientes, além de incluir
espécies bioindicadoras de poluição (Tinoco, 1971).
De maneira geral, a macrofauna regional caracteriza-se pelo pequeno tamanho, pela elevada
mobilidade e pela baixa diversidade, com uma nítida predominância de formas carnívoras ou
detritívoras (Lana et al.,1996). Formas epifaunais (animais que vivem na superfície do substrato)
só se revelaram importantes em fundos mais estabilizados, com lamas misturadas com areia; tais
padrões foram atribuídos à perturbação física dos fundos da plataforma interna (Aller & Aller,
1986; Kempf, 1970).
Há fortes evidências de que a fauna dessa região possui características não encontradas, pelo
menos em grande escala, em outros setores da plataforma continental da costa brasileira. A principal
particularidade é a adaptação a um ambiente com um alto grau de perturbações físicas, expressas
por elevadas cargas em suspensão, que podem limitar a produção primária e a ocorrência de formas
filtradoras, e por elevadas taxas de deposição, responsáveis pela escassez de formas macrobênticas,
em geral, e pelo predomínio de formas endofaunais (animais que vivem enterrados na areia ou
lama) pequenas e detritívoras, em detrimentos de formas epifaunais (animais que vivem na superfície
do substrato) maiores e mais móveis.
Cruzeiros de prospecção pesqueira com arrasto de fundo, realizados pelo REVIZEE, possibilitaram
40 novos registros de crustáceos para a região, sendo seis deles novas ocorrências para o Brasil
(Silva el at. 2002).
Região Nordeste
Antes do Programa REVIZEE, a maioria dos dados disponíveis, para a plataforma continental e os
bancos oceânicos do Nordeste do Brasil, versava sobre aspectos sistemáticos e distribucionais, não
havendo informações acerca da relação da composição, diversidade, abundância e da biomassa
bentônica com os parâmetros ambientais.
Entre as macroalgas, foram identificadas 66 espécies, com o predomínio das clorófitas (algas
verdes – Chlorophyta) e rodófitas (algas vermelhas – Rhodophyta), seguida das feófitas (algas
pardas – Phaeophyta). No total foram identificadas 441 espécies, entre o macrozoobentos,
pertencentes aos cnidários (Cnidaria), crustáceos, equinodermos, moluscos e esponjas. Além desses,
estiveram presentes exemplares de ascídias (Ascidiacea), briozoários, cefalocordados
(Cephalochordata), poliquetas e sipunculídeos (Sipuncula).
A abundância foi maior nas estações com sedimentos cascalhosos do que nos arenosos e lamosos.
Nas estações com sedimentos cascalhosos, a abundância média foi de 11,85 indivíduos/litro,
56 Programa REVIZEE
constituída principalmente por poliquetas e crustáceos. Quanto às estações com sedimentos arenosos,
a abundância média foi de 4,64 ind/litro, sendo composta principalmente por poliquetas, crustáceos
e moluscos. Apesar de pouco representativos, os cefalocordados, equinodermos (Echinodermata) e
sipunculídeos também ocorreram nesse tipo de fundo. A fauna dos sedimentos lamosos foi a mais
pobre entre todas, com média de 1,02 ind/litro, sendo constituída principalmente por moluscos,
poliquetas e crustáceos. Os moluscos foram responsáveis por pouco mais de 56% da biomassa,
seguidos pelos crustáceos, com 16%. A biomassa foi significantemente maior nas estações com
sedimentos cascalhosos do que nos arenosos e lamosos.
Pôde-se constatar que, em certas áreas da plataforma continental nordestina, como por exemplo,
de Pernambuco e da Paraíba, em sua porção sul, e em frente às desembocaduras dos rios Parnaíba
(PI) e Acaraú (CE), os níveis de abundância e/ou biomassa encontrados foram bem maiores,
comparáveis até aos da cadeia de Fernando de Noronha. Essas regiões são caracterizadas pela
presença de áreas estuarinas importantes que liberam grande quantidade de matéria orgânica para
o ambiente marinho podendo chegar, até, a influenciar a plataforma externa adjacente.
Nos bancos oceânicos da cadeia Norte do Brasil, foram encontrados valores de abundância e biomassa
menores do que nos da cadeia de Fernando de Noronha. Os primeiros são semelhantes à parte
externa da plataforma continental quanto à natureza de fundo e topografia, formando verdadeiras
“ilhas”, ainda que apresentando particularidades com relação à macrofauna bêntica; além disso,
eles possuem características que, em conjunto, diferem da plataforma continental, tais como, a
grande quantidade de esponjas e cnidários, presença de sedimentos grosseiros com altas porcentagens
de carbonato de cálcio, grande quantidade de nutrientes e de matéria orgânica no sedimento (Kempf,
1970; Tinoco, 1972).
Além das ressurgências e do aporte de larvas, a distribuição espacial do sedimento é outro componente
importante, se não, o de maior destaque, responsável pela riqueza, abundância e biomassa da fauna
estudada. O maior espaço intersticial existente em sedimentos mais grosseiros permite a diversidade
de microhábitats para o estabelecimento de toda uma macrofauna característica, além da meiofauna
e microflora que dão suporte a essa comunidade. A estrutura do substrato é de fundamental
importância para a colonização do fundo do mar. A diversidade no tamanho e classificação do grão
proporciona diferentes características, tais como porosidade, umidade, capilaridade, espaços
intersticiais, entre outros (Friedrich, 1964). Com efeito, os valores de abundância e biomassa foram
significantemente maiores nas estações com sedimentos cascalhosos do que nos arenosos.
Um fator importante que explica a maior riqueza em algumas estações é a presença, em grande
quantidade, de macroalgas, esponjas e cnidários, principalmente naquelas localizadas nos bancos
oceânicos, com sedimentos cascalhosos. Esses organismos servem de substrato e alimento para o
assentamento e desenvolvimento de espécies do macrobentos em geral.
É bastante provável que a união desses dois aspectos, a distribuição do sedimento e a disponibilidade
de substrato biogênico (esponja, macroalgas, etc.) sejam os responsáveis pela distribuição da
comunidade estudada, o que determina maior abundância e biomassa dos organismos na plataforma
continental externa e bancos oceânicos no Nordeste do Brasil.
Programa REVIZEE 57
0
Crustacea
Polychaeta
357 Mollusca
469 1631
Echinodermata
2ºS 349 Cephalochordata
116 315
Sipuncula
Outros
474
97 131594
4ºS
805
74
Abundância total 52 Bancos oceânicos - Abundância total
2% 2% 3% 1%
72
25%
6ºS 233
29%
5%
8ºS 11% 604 59% 3%
58%
93
2%
57
10ºS Plataforma continental - Abundância total
112
111 2% 1% 3%
21%
1342
12ºS 888
52%
21%
14ºS
42ºW 40ºW 38ºW 36ºW 34ºW 32ºW 30ºW
Figura 13. Abundância dos grupos de organismos da fauna bentônica na região Nordeste.
Região Central
O material biológico, na região Central, foi coletado em 219 estações, durante quatro cruzeiros
oceanográficos realizados entre os anos de 1996 e 2002. As coletas foram feitas por meio de
dragas retangulares e pegadores do tipo van Veen e Box-corer (Lavrado et al., 2003).
Os resultados revelam que essa região possui fauna e flora bentônicas muito ricas (figura 15),
principalmente nas áreas compreendidas pelo banco dos Abrolhos, cadeia Vitória-Trindade, banco
Almirante Saldanha e nas regiões próximas a Salvador (BA) e ao cabo de São Tomé (RJ). Há uma
grande diversidade de macroalgas, que ocorrem principalmente na plataforma interna e externa,
com predomínio de clorófitas (algas verdes), em termos de riqueza e abundância, e de feófitas
(algas pardas), em termos de biomassa, em alguns pontos. Até o presente momento foram
diagnosticadas cerca de 230 espécies, muitas consideradas novas ocorrências para o Atlântico Sul,
refletindo assim o relativo desconhecimento da flora ficológica da costa brasileira.
Em relação à macrofauna bentônica, foram encontrados 31 grupos de organismos (de filos a ordem),
com cerca de 1/3 ocorrendo em mais de 70% das estações. A maioria dos indivíduos pertence à
58 Programa REVIZEE
epifauna, em parte devido ao tipo de amostragem realizada (dragagem) e, em parte, devido ao tipo
de fundo marinho predominante na região, composto por substratos biodetríticos, calcários e rodolitos.
Esse tipo de fundo é mais favorável à epifauna, por vezes composta por animais sésseis, como
poríferos e corais, os mais abundantes em termos de biomassa (cerca de 85% do total). A endofauna
também esteve bem representada por vários táxons de poliquetas, sipunculídeos, equinodermos,
pequenos crustáceos e moluscos, sendo os dois últimos os mais abundantes em termos de densidade.
Na plataforma interna, encontram-se grandes extensões de áreas recifais, nas quais se inclui o
Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, além de bancos de algas calcárias, e rodolitos. As áreas
recifais são conhecidas por abrigar inúmeras espécies de peixes e invertebrados marinhos. São
sistemas altamente produtivos e diversificados, funcionando como um “oásis”, nesse ambiente tropical
geralmente oligotrófico. A comunidade de peixes desses sistemas possui hábitos alimentares variados,
sendo que muitos deles se alimentam de organismos bentônicos, como é o caso dos serranídeos
(garoupas, badejo, mero) e lutjanídeos (cioba, vermelho), duas importantes famílias encontradas
ao sul da Bahia e com representantes de interesse comercial.
Cerca de 70% das estações apresentaram biomassa bentônica inferior a 100 g de peso úmido por
100 litros de sedimento. Esses valores são baixos quando comparados à biomassa de recursos
pesqueiros demersais, como peixes e decápodes, obtidos em arrastos de fundo (Costa et al., 2000),
e inviáveis, em curto prazo, a qualquer explotação econômica. Entretanto, ainda não foi possível
estimar o real potencial bentônico da área, as variações sazonais na estrutura da comunidade e
esclarecer as relações entre o bentos e os recursos pesqueiros da região. Os arrastos de fundo,
voltados à prospecção pesqueira no talude, foram fonte importante para a identificação de novas
ocorrências na região e no país. Foram identificadas 147 espécies de crustáceos, sendo 18 sésseis
ou parasitas e 129 de vida livre. Dos sésseis, nove são da infraordem Cirripedia (dois Lepadomorpha,
dois Scalpellomorpha e cinco Verricimorpha). Entre os parasitas, cinco são Amphipoda e três,
Isopoda.
Programa REVIZEE 59
12°S
Baía de Todos os Santos N
Salvador
BA Bahia - <100m Bahia -100 -200m Bahia -200 -300m Bahia > 500m
14°S
Ilhéus
R. Jequitinhonha
16°S B.Royal Charlotte
B.Minerva B.Morgan
B.Rodger
MG
B.Abrolhos B.Hotspur
18°S R. Mucuri
Espirito Santo Espirito Santo Espirito Santo
Espirito Santo < 100m 100-200m 200 - 300m 300 - 500m
ES
R. Doce
24°S
Figura 15. Abundância dos grupos de organismos da fauna bentônica na região Central.
60 Programa REVIZEE
Região Sudeste-sul
Com o propósito de investigar a biodiversidade e ter uma avaliação do potencial sustentável dos
recursos do macrozoobentos da região Sudeste-Sul da ZEE, foram analisadas 322 amostras, obtidas
com dragas e pegadores do tipo van Veen e Box-corer, entre dezembro de 1997 a abril de 1998, na
plataforma externa e talude superior (60-808 m de profundidade). Do total de 131.369 indivíduos
amostrados, foram identificadas 1.035 espécies. Entre estas foram registradas, até o momento, 55
novas espécies, além da ocorrência de 124 espécies e gêneros, e dez famílias, que ainda não haviam
sido observadas para o Brasil ou para o Atlântico Sul. Além desses novos registros, tem-se também
a ampliação dos limites de profundidade para um grande número de táxons. Trata-se ainda de uma
primeira análise da coleção de invertebrados bentônicos, o que garante uma contribuição futura de
inestimável valor ao conhecimento da biodiversidade marinha brasileira.
A maioria dos grupos registrados para o Rio de Janeiro ocorreu principalmente entre 100 e 200 m
de profundidade, enquanto que, para os demais setores, houve equilíbrio entre as faixas de
profundidade, com uma maior freqüência de registros acima dos 200 m. Com relação à abundância,
os moluscos gastrópodes e bivalves, poliquetas e crustáceos não apresentaram um padrão evidente
de distribuição batimétrica; os sipunculídeos ocorreram predominantemente em áreas mais rasas
(até 200 m), em Santa Catarina e Rio Grande do Sul; os moluscos escafópodes e os ofiuróides
foram relativamente mais abundantes em profundidades inferiores a 200 m, nos setores do Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul, mas predominaram em águas mais profundas (superiores a 200 m)
nas demais áreas; os briozoários concentraram-se entre 100 e 300 m em Santa Catarina e São
Paulo e em profundidades maiores que 300 m, nas outras áreas. Os braquiópodes foram predominantes
abaixo de 200 m. Os valores de biomassa mais expressivos foram obtidos para equinodermos,
crustáceos, esponjas, moluscos bivalves e poliquetas.
As diferenças fisiográficas e hidrográficas das regiões estudadas estão refletidas nas características
sedimentares e, conseqüentemente, na estrutura da fauna bentônica. Os resultados obtidos com a
análise de agrupamento, mostram que ela está fortemente relacionada ao tipo de sedimento e não
às variações latitudinais. Os resultados indicam a tendência das estações com maiores riquezas
taxonômicas (número de táxons) ocorrerem em sedimento com granulometria intermediária.
Nas diferentes profundidades, principalmente na área mais costeira, entre o Rio de Janeiro e São
Paulo, foram registradas famílias, gêneros e/ou espécies oportunistas, em sua maioria poliquetas de
ciclo de vida curto, como os Capitellidae, Orbiniidae (Haploscoplos), Nereididae, Goniadidae (Glycinde
picta), Nephtyidae, Dorvilleidae, Lumbrineridae, Cirratulidae e Spionidae (Prionospio cirrifera).
Programa REVIZEE 61
Os resultados obtidos, indicam que novos recursos vivos, entre os poríferos, moluscos, crustáceos,
equinodermos, podem apresentar potencial econômico, na alimentação humana, ou como fonte de
substâncias com atividade antibiótica e antitumoral, como é o caso dos poríferos.
Figura 16. Abundância dos grupos de organismos da fauna bentônica da região Sudeste-Sul.
NÉCTON
A ZEE brasileira se caracteriza pela predominância de ambientes tropicais e subtropicais e a
prevalência de condições oligotróficas. Isso ocorre a despeito da sua grande extensão, da relativa
diversidade da sua morfologia de fundo e cobertura sedimentar, assim como dos diferentes sistemas
de correntes e processos de enriquecimento. (Ver “box” na página 64, para uma síntese descritiva).
A complexidade da cadeia alimentar, que inclui uma quantidade de elos comparativamente maior
que o observado nos sistemas de altas latitudes, exige um número maior de níveis para que a
energia resultante da produção primária chegue ao topo da cadeia. Dessa forma, as águas brasileiras,
ainda que ricas em biodiversidade, não exibem condições que permitam a ocorrência de grandes
biomassas.
Por outro lado, as características ambientais regionais fazem com que diferentes espécies nectônicas
se distribuam diferencialmente ao longo e ao largo da costa e em relação às estações do ano. Pelo
mesmo motivo as biomassas são distintas, em termos regionais e sazonais.
62 Programa REVIZEE
Valores mais detalhados, ainda que pouco precisos, foram apresentados em trabalhos posteriores –
1.724 x 103 t/ano (Hempel, 1971) e totais variando entre 1.400 x 103 e 1.700 x 103 t/ano, neste
último caso, tendo em conta apenas os recursos encontrados até 200 m de profundidade (Neiva &
Moura, 1977). No entanto, esses números, baseados na extrapolação de abundâncias de áreas
conhecidas e prospecções de caráter pontual, não se confirmaram ao longo das décadas de explotação
pesqueira comercial nas diversas regiões do país.
Neste capítulo é apresentada, apenas, uma visão da biodiversidade dos organismos componentes do
nécton e a contribuição do Programa REVIZEE para a mesma. A avaliação quanto ao estado dos
estoques pesqueiros é detalhada nos capítulos 3, 4, 5 e 6.
Peixes
A maioria dos levantamentos sobre a ictiofauna brasileira, anteriores ao REVIZEE, por questões
de dificuldades logísticas, se restringiu à plataforma interna e áreas costeiras. Ao nível regional,
trabalhos pioneiros enfocaram as espécies presentes na região Sudeste (Figueiredo e Menezes,
1978,1980 e 2000; Menezes e Figueiredo, 1980, 1985 e 1998). Para a região Sul, foram publicadas
informações, respectivamente sobre a ictiofauna do estúario e da lagoa dos Patos; os teleósteos
pelágicos dos ambientes costeiro e marinho; os telósteos demersais e bentônicos; e os elasmobrânquios
demersais (Vieira et al., 1998; Castello, 1998; Haimovici, 1998; Vooren, 1998). Prospecções
realizadas nos anos 90, na plataforma externa da região Sul, indicaram uma redução nas densidades
observadas, à medida em que os lances atingiam áreas mais profundas (Haimovici et al. 1994).
Os teleósteos (peixes ósseos) demersais marinhos e estuarinos no Brasil perfazem 617 espécies,
distribuídas em 26 ordens e 118 famílias, sendo que pouco mais da metade das espécies (337)
pertence à ordem dos Perciformes. Quando se consideram também os Pleuronectiformes,
Anguilliformes e Tetraodontiformes, tem-se cerca de 70% das espécies (446) (Haimovici & Klippel,
2002).
Em relação aos seus hábitats preferenciais, 347 espécies são demersais, 178 recifais, 49 bento-
pelágicas e 43 bati-demersais. Vinte e duas espécies de teleósteos demersais são endêmicas da
costa brasileira, sendo quatro do Arquipélago de São Pedro e São Paulo e uma do Atol das Rocas
(Haimovici & Klippel, 2002).
Programa REVIZEE 63
A produtividade na ZEE brasileira
A baixa concentração de sais nutrientes nas águas superficiais das regiões Nordeste e Central determina
uma produtividade reduzida. As massas d’água, de alta temperatura e salinidade, transportadas pela
corrente do Brasil, para o sul, e pela corrente Norte do Brasil, para a região Nordeste Ocidental, levam
a um posicionamento mais profundo da termoclina e ao estabelecimento de uma barreira para a subida
de nutrientes para a zona eufótica. Apenas nas regiões das cadeias e bancos oceânicos, fenômenos de
ressurgência alteram esse padrão, e contribuem para a formação de áreas produtivas localizadas. Na
maior parte das regiões Nordeste e Central, a plataforma continental é estreita com o predomínio de
fundos calcários, que limitam a atividade pesqueira àquelas baseadas em linhas e anzóis e armadilhas.
As regiões Norte e Sudeste-Sul constrastam com o quadro acima, em função de algumas características
notáveis. No Norte, o material em suspensão aportado pelo rio Amazonas contribui para a elevada
produtividade primária nas costas do Pará e do Amapá. No Sudeste-Sul, a Convergência Subtropical,
formada pelo encontro das águas das correntes do Brasil e das Malvinas, na altura dos paralelos 34-
36ºS, contribui para a produtividade na área. A Água Central do Atlântico Sul, rica em nutrientes,
ocupa a camada inferior da corrente do Brasil ao longo do talude continental. Durante o verão,
impulsionada pelo vento e fenômenos relacionados aos vórtices da corrente do Brasil, invade a camada
de fundo da plataforma continental, determinando uma alta produção primária e a estabilidade da
coluna d’água, essenciais para a sustentação de grandes populações de pequenos pelágicos que desovam
na região, nessa época do ano. Nas duas regiões, a plataforma é larga, constituída de fundos de areia,
lama e argila, mais adequados à pesca de arrasto (Matsuura, 1995).
Além dessas, as seguintes espécies são, também, consideradas em condição de risco: tubarão-baleia
(Rhincodon typus), tubarão-branco (Carcharodon carcharias), tubarão-gigante (Cetorhinus maximus),
cação sebastião (Mustelus schmitti), tubarão-martelo (Sphyrna lewini), manta-anã (Mobula
hypostoma, M. rochebrunei) e raia-manta (Manta birostris) (Lessa et al., 2002).
1
“The International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources”, atualmente conhecida como “World
Conservation Union”, é responsável pela publicação da “Lista Vermelha das espécies ameaçadas” (The IUCN Red List
of Threatened Species).
64 Programa REVIZEE
Ainda para a região Central, em arrastos de meia-água, foram registradas novas ocorrências de
três espécies da família Sternoptychidae (Argyripnus atlanticus, Polypnus laternatus e Sternoptyx
diaphana) e uma espécie da família Myctophidae (Diaphus adenomus).
Para a região Sudeste-Sul foram descritas duas novas espécies de peixe-bruxa Eptatretus menezesi
(Micaroni, 2000) e Myxine sotoi (Micaroni, 2001) uma quimera, Hydrolagus matallanasi (Soto e
Vooren, 2004), e dois cações: Galeus micaronei (Soto, 2001) e Schroederichthys saurisqualus
(Soto, 2001). Aguardam identificação exemplares dos gêneros: Peristedion, Dipturus,
Histiobranchus, Astronesthes, e das famílias: Rajidae (uma espécie) e Zoarcidae (três espécies).
Cefalópodes
Em relação aos cefalópodes, a fauna registrada em publicações e coleções de museus era de 35
espécies para a região Sul (Haimovici & Perez,1991), e de 43 espécies para o conjunto do país
(Haimovici et al., 1994).
As lulas da família Loliginidae, que no sul inclui duas espécies de interesse comercial – Loligo
sanpaulensis e L. plei, são as espécies dominantes no nécton da plataforma continental. No bentos,
predominam os polvos da família Octopodidae, da qual Octopus cf vulgaris é a espécie mais explotada
ao longo de toda a costa brasileira. No talude e águas oceânicas adjacentes, predominam as
famílias Ommastrephidae e Enoploteuthidae. A primeira representada, ao sul do cabo de São
Tomé, por Illex argentinus, espécie abundante em águas patagônicas e ocasionalmente explotada
no Brasil, e também por Ornithoteuthis antillarum e Ommastrephes bartrami, importantes nas
relações tróficas dos grandes peixes migratórios. Entre as lulas da família Enoploteuthidae, a
espécie mais importante é Abralia redfieldi.
Mamíferos marinhos
No Brasil, há registros de 43 espécies de cetáceos, sendo que quatro inspiram preocupação no que
se refere à conservação – a baleia-franca (Eubalaena australis); a jubarte (Megaptera novaeangliae);
a franciscana ou toninha (Pontoporia blainvillei) e o boto cinza (Sotalia fluviatilis) (Fundação
Bio-Rio et al., 2002; Zerbini et al., 2004).
Há no mundo apenas quatro espécies da ordem Sirenia, das quais duas no Brasil, sendo apenas
uma marinha: o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus). É o mamífero aquático mais ameaçado
do Brasil, com populações residuais não contínuas, de Alagoas ao Amapá, totalizando, no máximo,
poucas centenas de indivíduos.
Para os pinípedes, são conhecidas em águas brasileiras sete espécies, das quais apenas duas
relativamente comuns: o leão-marinho (Otaria flavescens) e o lobo-marinho-do-sul (Arctocephalus
australis). O extremo norte, no qual se registra a existência de pinípedes, é o arquipélago de
Programa REVIZEE 65
Fernando de Noronha, onde foi constatada a presença de um elefante-marinho-do-sul (Mirounga
leonina) (Fundação Bio-Rio et al., 2002).
Um primeiro esforço sistemático de avistagens de cetáceos na região Sudeste-Sul foi realizado por
ocasião de três cruzeiros de Prospecção Pelágica do Programa REVIZEE, entre julho de 1996 e
dezembro de 1997. Foram obtidos 83 registros, sendo 19 em águas costeiras e 64 em água oceânicas.
Nove espécies foram confirmadas, três da subordem Mysticeti (Balaenoptera bonaerensis, B.
acutorostrata e Megaptera novaeangliae) e seis da subordem Odontoceti (Orcinus orca, Physeter
macrocephalus, Stenella clymene, S. frontalis, S. longirostris e Tursiops truncatus). Exemplares
dos gêneros Globicephala e Delphinus foram registrados, mas não puderam ser identificados ao
nível específico. As espécies avistadas apresentaram distintos padrões de distribuição em relação à
profundidade. Globicephala spp., P. macrocephalus e S. clymene foram observadas sobre o talude
continental, enquanto Delphinus spp., O. orca, S. frontalis, S. longirostris e T. truncatus foram
encontradas tanto sobre a platafoma continental, quanto sobre o talude. Dentre as espécies
identificadas, Stenella frontalis, Tursiops truncatus e Megaptera novaeangliae foram as mais comuns,
a primeira com 19 observações, e as duas últimas com oito; contudo os dados obtidos não foram
suficientes para demonstrar diferenças interespecíficas na abundância ou intra-específicas na
sazonalidade (Zerbini et al., 2004)
Das espécies de aves marinhas comumente encontradas no Brasil, algumas são residentes, outras
são migrantes do hemisfério norte e outras de regiões mais ao sul. A região sudeste-sul caracteriza-
se como local de alimentação para populações que nidificam em locais distantes e ainda para aves
que se reproduzem na costa brasileira. Atribui-se a importância da costa dessa região às suas
características oceanográficas (Neves et al., em preparação).
Segundo sua origem, as espécies provenientes do sul podem ser divididas em diversos grupos. São
consideradas migrantes do sul aquelas da Patagônia, Ilhas Malvinas/Faklands, região antártica e
subantártica, Nova Zelândia, além do Arquipélago de Tristão da Cunha e Ilha Gough. As aves que
se reproduzem em Tristão da Cunha representam cerca da metade das espécies de Procellariiformes
encontradas na região, incluindo espécies endêmicas como Procellaria conspicilla, Pterodorma
incerta e Diomedea dabbenena. Procellaria conspicillata, espécie endêmica da Ilha Inacessível, do
grupo de Tristão da Cunha (Ryan, 1998) é considerada criticamente ameaçada de extinção (MMA,
2003; Birdlife International, 2004).
66 Programa REVIZEE
As modalidades de pesca com espinhel pelágico e de fundo implicam em capturas incidentais de
aves marinhas, atraídas pelos anzóis iscados. Em levantamentos com espinhel de fundo na região
da ZEE, entre o cabo São Tomé e Chuí, foi registrada a captura de 19 exemplares de aves marinhas
(Vooren e Coelho, 2004). Estima-se uma captura anual de cerca de 3.800 aves, pelo espinhel de
fundo, e 3.000, pelo espinhel pelágico, na mesma região (Olmos et al., no prelo, apud Vooren e
Coelho, 2004), o que tem levado à sugestão da implantação de métodos que evitem a captura
incidental de aves, nas frotas de espinheleiros, sediadas em Santos (SP), Itajaí (SC) e Rio Grande
(RS) (Vooren e Coelho, 2004).
O “Plano de Ação Nacional para Redução da Captura Acidental de Aves Marinhas na Pesca com
Espinhel no Brasil” está em elaboração por técnicos do Instituto Albatroz e “BirdLife International”,
com recursos da FAO e apoio do IBAMA. O plano atende os compromissos assumidos pelo Brasil
frente às Nações Unidas, por intermédio da FAO, que monitora e regula questões internacionais
ligadas à pesca e vem promovendo um acordo internacional pela conservação dos albatrozes e
petréis. (www.projetoalbatroz.com.br).
Quelônios marinhos
Cinco das sete espécies de tartarugas marinhas vivem nas águas brasileiras – cabeçuda ou amarela
(Caretta caretta), verde (Chelonia mydas), gigante, negra ou de couro (Dermochelys coriacea),
tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata) e tartaruga pequena (Lepidochelys olivacea). Essas
espécies buscam as praias do litoral e as ilhas oceânicas para a desova e também para abrigo,
alimentação e crescimento (Fundação Bio-Rio et al., 2002).
As rotas de migração das tartarugas marinhas que desovam no Brasil e em outros países da América
do Sul, do Caribe, da África e ilhas do Atlântico, atravessam a ZEE, com significativo índice de
captura acidental, principalmente das espécies Caretta caretta e Dermochelys coriacea, nas pescarias
com espinhel para atuns. Foram registradas capturas acidentais de tartarugas Caretta caretta em
águas da ZEE brasileira e internacionais em viagem comercial em espinheleiro de Santa Catarina.
A pesca, com espinhel de superfície, ocorreu entre 29º30’S e 34º00’S e 36º00’W e 51º30’W, em
águas com profundidades variando entre 600 e 4.000 metros. Foram capturadas 108 tartarugas,
em nove lances, para um esforço total 9.300 anzóis (Barata et al.,1998).
Durante o Programa REVIZEE, na pesca com espinhel pelágico, foram registrados na costa Norte
grandes exemplares da tartaruga verde, Chelonia mydas, e da tartaruga-de-couro, Dermochelys
coriacea (Asano-Filho et al., 2004).
REFERÊNCIAS
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continental shelf with comparison to the shelf off the Changjiang River, East China Sea. Continent.
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Programa REVIZEE 77
CAPÍTULO 2
PANORAMA NACIONAL
Manuel Haimovici
Maria Cristina Cergole
Rosângela Paula Lessa
Lauro Saint-Pastous Madureira
Silvio Jablonski
Carmen L.D.B. Rossi-Wongtschowski
INTRODUÇÃO
Neste capítulo é apresentada uma síntese das pescarias nacionais e o estado de explotação dos
principais estoques. Para tanto, foram considerados dados históricos e aqueles derivados das pesquisas
do REVIZEE. São abordadas, para cada região, a produção das frotas em operação e a situação
dos principais recursos, incluindo aqueles altamente migratórios e transfronteiros. Estratégias de
gestão são apresentadas visando estabelecer padrões sustentáveis e socialmente justos para as
pescarias brasileiras. São também descritas as diversas modalidades de prospecção pesqueira
realizadas pelo Programa para cada uma das regiões.
A lista oficial de recursos explotados pela pesca extrativa marinha inclui 96 categorias de peixes,
13 de crustáceos e 10 de moluscos, sendo que cada categoria pode incluir mais de uma espécie
(IBAMA, 2004).
Programa REVIZEE 79
Frota pesqueira
A frota pesqueira nacional é composta por um conjunto de embarcações com características bastante
variadas, em função da área de operação, da modalidade de pesca empregada e da espécie-alvo.
A frota pesqueira marinha e estuarina que opera no litoral brasileiro, tanto na pesca costeira
quanto na oceânica, é estimada em 30.000 embarcações, 10% das quais, consideradas de médio e
grande porte, constituem a frota “industrial”. A frota “artesanal”, composta por 27.000 embarcações
de pequeno porte (jangadas, canoas, botes), por suas características, tem pequeno raio de ação e,
conseqüentemente, limitada autonomia (IBAMA, 2004).
A frota artesanal inclui embarcações não motorizadas e motorizadas, desde canoas a remo e barcos
à vela, até barcos com 10-12 m de comprimento, que dispõem de câmaras frigoríficas para
conservação do pescado. Os petrechos de pesca variam conforme as características do ambiente e
das espécies-alvo, podendo ser redes de emalhar, de arrasto ou cerco, linhas diversas e armadilhas.
A composição da frota industrial, por modalidade e espécies capturadas, pode ser discriminada
conforme o quadro abaixo:
As áreas de pesca mais profundas, onde ocorrem os recursos pesqueiros denominados “emergentes”
ou novos, são explotadas por uma frota pesqueira composta por embarcações nacionais e arrendadas,
nas modalidades de emalhe de fundo, armadilhas, arrasteiros, espinhéis de fundo e superfície
(Valentini e Pezzuto, prelo).
A frota estrangeira é formada por embarcações com características físicas e tecnológicas bastante
superiores às da frota brasileira, tanto para a captura, quanto para o acondicionamento do pescado
a bordo (www.presidencia.gov.br/seap).
80 Programa REVIZEE
AS PESCARIAS DA COSTA BRASILEIRA
A pesca artesanal desempenha um papel importante no cenário da pesca nacional, correspondendo
a 53% da produção marinha e estuarina, registrada entre 2000 e 2003 (Tabela 1). Em termos
regionais, apresenta maior importância nas regiões Norte (89%), Nordeste (76%) e Central (95%),
contribuindo com um menor percentual na região Sudeste-Sul (15%). Nesta última região, onde a
concentração de biomassa de recursos pesqueiros é maior, a pesca industrial assume papel mais
significativo.
No âmbito do Programa REVIZEE, a dinâmica das frotas artesanais e industriais de diferentes
regiões foi analisada com base em dados disponíveis na literatura científica; dados constantes de
registros estatístico-pesqueiros oficiais, coletados por diversas instituições; e dados obtidos pelas
próprias equipes de pesquisadores participantes do Programa, diretamente nos portos de
desembarques pesqueiros e empresas de pesca.
Tabela 1. Desembarques médios anuais, para o período 2000-2003, dos grandes grupos de recursos marinhos, por
região e para o total nacional (Fonte: IBAMA, 2004).
Obs.: Para a simplificação da tabela, as categorias “outros”, para cada subgrupo foram eliminadas. Dessa forma, os
totais de “crustáceos”, “peixes” e “moluscos” nem sempre correspondem aos respectivos somatórios para cada região.
Programa REVIZEE 81
No Maranhão, as embarcações não motorizadas dominam, e variam desde canoas a remo, de pequeno
porte (comprimento médio de 6,25 m), até “bianas” ou canoas à vela (comprimento de 5,5 a 9 m).
As canoas de pequeno porte navegam em estuários, baías e águas costeiras pouco profundas, enquanto
as “bianas” possuem características que as tornam aptas a operar em mar aberto. As embarcações
motorizadas englobam bianas fechadas, bianas abertas e baleeiras. Registram-se ainda as “geleiras”,
embarcações providas de câmaras frigoríficas e que recolhem a produção de outras embarcações
(Torres et al., 2003).
No Amapá, a pesca artesanal emprega embarcações de madeira de pequeno e médio porte (até 20
m) e tripulação de até 8 pescadores. Na região da planície marítima, os municípios de Oiapoque,
Calçoene e Amapá destacam-se pela presença de importantes portos de desembarque de pescado
(Isaac et al., 1998).
Os grupos de espécie de maior importância para a pesca artesanal são os bagres (principalmente da
família Ariidae); pescada-amarela (Cynoscion acoupa) e pescada-gó (Macrodon ancylodon); corvina
(Micropogonias furnieri); serra (Scomberomorus brasiliensis); e o pargo (Lutjanus purpureus).
Destaca-se ainda a lagosta (Panulirus spp.), no Pará (www.ibama.gov.br).
Em toda a costa Norte, a pesca é executada com uma grande diversidade de artes, desde petrechos
primitivos, como o arpão, até grandes redes de arrasto, empregadas pela pesca industrial (Torres et
al., 2003; Brito et al., 2003; Isaac et.al 2005). Nas pescarias artesanais, são utilizadas cerca de
vinte diferentes artes de pesca, grupadas em armadilhas móveis (covos); armadilhas fixas (currais);
redes móveis (de emalhar e redes caçoeira para a lagosta, etc); além de linhas e espinhéis (Isaac et
al., 1998; Torres et al., 2003; Isaac et al., 2005).
O espinhel também é uma arte de pesca bastante relevante atuando principalmente na captura da
gurijuba e pescada-amarela (Isaac et al., 1998; Torres et al., 2003; Mourão, 2004; Pinheiro,
2004; Isaac et al., 2005). A linha pargueira com auxílio da “bicicleta” (roldana manual fixada à
borda da embarcação) é freqüentemente utilizada pela pesca artesanal do pargo (Souza, 2002) e a
rede caçoeira na captura da lagosta (Isaac et al., 2005). Esta última, além das lagostas, captura
uma elevada diversidade de espécies de peixes, como a cioba (Lutjanus analis), o pargo e cações
(Isaac et al., 2005). Esta pescaria vêm crescendo na costa Norte em virtude da dos rendimentos
decrescentes da pesca na região Nordeste, devido à exaustão dos estoques por sobrepesca.
A frota industrial é composta por embarcações de 15 m ou mais e casco de metal (Brito et al.,
2003), e atua sobre o camarão-rosa (em especial, Farfantepenaeus subtilis), piramutaba
(Brachyplatystoma vaillantii) e pargo.
82 Programa REVIZEE
Os camarões fazem parte de um dos mais importantes bancos camaroneiros do mundo, que se
estende desde Tutóia/MA, até o delta do Orinoco, na Guiana. São explotados principalmente por
uma frota de arrasto-duplo, composta por 250 unidades, que obteve produção máxima de 10 mil
toneladas, no final da década de 80, declinando para 4-5 mil toneladas, nos anos mais recentes. As
últimas recomendações técnicas são de redução da frota para 140 barcos, dado o diagnóstico de
sobrepesca. Soma-se à explotação industrial desse recurso, a pesca artesanal no Pará e Maranhão,
através de puçá-de-arrasto, tarrafa e arrastão de praia (www.ibama.gov.br).
A piramutaba é um bagre, capturado principalmente na foz, mas também na calha principal do rio
Amazonas, por arrasto de parelhas e pela frota artesanal, com rede de emalhe e espinhel. A produção
máxima atingiu aproximadamente 30 mil t em 1977, encontrando-se estável nos últimos anos, em
torno de 20 mil t. A frota industrial é considerada obsoleta e encontra-se limitada a 48 embarcações,
com recomendação de redução para 30 unidades, em caso de sua modernização. Nas estatísticas
oficiais do IBAMA, a espécie está incluída na produção da pesca extrativa continental, com
desembarques mais expressivos nos Estados do Amazonas e Pará (www.ibama.gov.br).
A captura do pargo com armadilha, assim como para a lagosta, vem crescendo enormemente no
estado do Pará principalmente devido à sobreexplotação desses recursos na costa Nordeste do
Brasil.
Embora a maior parte das atividades pesqueiras se enquadre na definição do IBAMA como pesca
artesanal, devido ao tamanho das embarcações, a pesca pode ser subdividida em dois tipos: a pesca
industrial, que utiliza embarcações motorizadas maiores, com maior autonomia, e que atuam em
toda a plataforma continental e talude, e a pesca artesanal ou pesca costeira de pequeno alcance,
que também pode apresentar produtividade elevada, muitas vezes equivalente à pesca industrial
(Lessa et al., 2004).
As embarcações que compõem as pescarias artesanais são, em sua maioria, de pequeno porte com
propulsão a remo, vela ou motor. Predominam embarcações à vela (74,1%), seguidas de embarcações
a motor (23,1%) e a remo (2,8%). A predominância de embarcações à vela reflete os baixos custos
de construção e manutenção, aliados às condições climáticas favoráveis, que propiciam ventos
fortes ao longo de todo o ano. Dentre elas, os botes e as jangadas apresentam os maiores
desembarques, sendo os botes mais freqüentes no Rio Grande do Norte e as jangadas no Ceará.
Nesse último estado, ainda que as embarcações à vela predominem e tenham produção expressiva,
os barcos motorizados são responsáveis por 53,4% dos desembarques e 60,4% da produção em
peso, explotando os pesqueiros da costa Norte, até o Amapá. Entre as embarcações a motor, o bote
é a embarcação motorizada mais freqüente (33%) e mais produtiva (36,6%). O saveiro a motor, que
está restrito à Bahia, onde é construído, representa 22,6% da produção de todo o Nordeste (Lessa
et al., 2004).
As profundidades de atuação da frota artesanal não ultrapassam, em média, 250 metros, capturando
espécies demersais como cioba (Lutjanus analis), dentão (L. jocu), ariocó (L. synagris), pargo-olho-
de-vidro (L. vivanus) e guaiúba (L. chrysurus), além daqueles de hábitos pelágicos, como o dourado
(Coryphaena hippurus), peixe voador (Hirundichthys affinis), serra (Scomberomorus brasiliensis) e
cavala (S. cavalla). Essas espécies representam 40,6% dos desembarques, em peso. Quando se
Programa REVIZEE 83
somam as produções relativas a arabaiana (Seriola dumerili), sirigado (Mycteroperca bonaci) e
guaracimbora (Caranx latus), esse percentual atinge 65,25% (Lessa et al., 2004).
A arte de pesca responsável pelos maiores desembarques é a linha de mão, que responde por cerca
de 34% do total; segue-se o emalhe (27%), e a rede de arrasto (10%). Muitos outros aparelhos são
utilizados, porém em menor proporção, como é o caso das armadilhas e da rede de cerco.
A linha de mão, cujo emprego está associado à possibilidade de captura de espécies de grande
porte, de elevado valor comercial, possui uma série de modalidades, dependendo do local de atuação
(superfície ou fundo), direcionadas a espécies demersais, pelágicas ou de superfície. As espécies
com capturas mais expressivas são o dourado, a cioba, o dentão, o sirigado e a cavala, ainda que
não ocorram em toda a costa Nordeste. São importantes, também, a cavala empinge (Acanthocybium
solandri) e a albacora-laje (Thunnus albacares), de Alagoas ao Rio Grande do Norte; a arabaiana,
da Bahia ao Rio Grande do Norte; a guaiúba, na Bahia e no Ceará; e a guaracimbora, na Bahia.
Em relação à rede de emalhar, a serra é a espécie que ocorre com grande freqüência, em toda a
costa Nordeste. Ocorrem, também, o ariocó, na Bahia, Pernambuco e Alagoas, a guaiúba, nesses
mesmos estados e no Ceará, e a cioba, no Rio Grande do Norte. Outras espécies de importância
comercial são o chicharro (Carangoides crysos), na Bahia, Alagoas e Pernambuco; o tubarão-de-
rabo-seco (Rhizoprionodon porosus), na Bahia; a guarajuba (Carangoides bartholomaei), a biquara
(Haemulon plumieri) e o camurim (Centropomus undecimalis), em Alagoas e Pernambuco; o espada
(Trichiurus lepturus) e o bonito (Euthynnus alletteratus), no Rio Grande do Norte e Ceará; e a
sardinha-laje (Opisthonema oglinum), no Ceará. No Rio Grande do Norte destaca-se a frota que
opera com rede de emalhar para o voador-de-quatro-asas (Hirundichthys affinis).
A frota de arrasto atua sobre os camarões, principalmente espécies da família Penaeidae, com
capturas acima da capacidade máxima dos estoques.
A pesca industrial divide-se em dois segmentos: (i) pesca industrial costeira, que concentra suas
capturas sobre a plataforma continental, ilhas e bancos oceânicos, tendo como espécies-alvo as
lagostas; e (ii) pesca industrial oceânica, tendo os atuns e afins como os principais recursos pesqueiros
explotados.
O Brasil é o sétimo produtor mundial de lagosta, com uma produção média anual de aproximadamente
5 mil t e uma receita média de aproximadamente US$ 50 milhões. As lagostas vermelha (Panulirus
argus) (75%) e verde (P. laevicauda) (20%) são as principais espécies explotadas. O estado do
Ceará é o principal produtor (80%), seguido pelo Rio Grande do Norte (10%) e Pernambuco (10%).
A pesca é realizada na região costeira que vai do Pará até o Espírito Santo, em fundos de algas
calcárias, distribuídos sobre a plataforma continental até o início do talude, em profundidades que
variam de 20 a 70 m. Nos últimos anos, a atividade pesqueira se estendeu às ilhas (Atol das Rocas,
Arquipélagos de Fernando de Noronha e de São Pedro e São Paulo). A pesca é realizada com três
métodos: armadilhas, pesca com mergulho e redes-de-emalhar. Também o mergulho livre, utilizado
para a captura de lagostas em profundidades inferiores a 10 m, e o mergulho com compressor,
84 Programa REVIZEE
apesar de proibidos por lei (Instrução Normativa MMA nº 8, de 29 de abril de 2005), são bastante
difundidos. Nos últimos três anos, devido à diminuição das capturas de lagosta, os mergulhadores
passaram a capturar algumas espécies de peixes de importância comercial (serranídeos e lutjanídeos).
As capturas com redes-de-emalhar foram liberadas para a frota lagosteira a partir de 1995 (IBAMA,
Portaria nº 043 de 21/06/1995)1, sendo realizadas entre 20 e 70 m de profundidade (Hazin et al.,
2004).
A frota atuneira do Rio Grande do Norte opera ao longo do ano, em toda a costa brasileira e águas
oceânicas adjacentes, não havendo áreas de pesca bem definidas devido às características de grandes
migradores dos atuns e espécies afins. Atualmente, todas as embarcações que operam na costa
nordestina, sejam nacionais ou arrendadas, empregam o espinhel de monofilamento, alterando as
suas características de acordo com a espécie-alvo. O interesse por determinadas espécies tem se
modificado com o passar do tempo. No período 1999-2002, houve aumento de 95% no número de
embarcações baseadas nos portos de Natal e Cabedelo, tanto para as nacionais (de 39 para 55
embarcações) quanto para as arrendadas (de 27 para 74 embarcações). As capturas aumentaram
de 11 mil t, em 1999, para 20,8 mil t, em 2001. O espadarte (Xiphias gladius), que era a principal
espécie capturada em 1999 (30,3% do total), passou a ser a terceira em ordem de importância
(15,7%), em 2001, precedido pela albacora-laje (21,6%) e pela albacora-branca (Thunnus alalunga)
(29,7%). Essas modificações estiveram associadas ao crescente arrendamento de embarcações de
origem chinesa, cujo objetivo é a captura da albacora-branca (Hazin et al., 2004).
Entre 1995 e 1997, paralelamente à pesca de atuns com espinhel, também ocorreu a pesca de
tubarões com redes-de-emalhar-de-deriva, a partir do porto de Natal, por quatro embarcações
oriundas da região Sudeste-Sul. O curto período de atuação desta atividade deveu-se aos baixos
índices de captura, com participação muito pequena do tubarão-martelo (Sphyrna lewini, com
menos de 3% do total de exemplares capturados), alvo principal dessa modalidade de pesca na
região Sudeste-Sul.
Além destas espécies, a pesca industrial explota também os pargos, com espinhel vertical (linha
pargueira). A principal espécie capturada é o pargo verdadeiro (Lutjanus purpureus) (80%), embora
outras espécies também sejam capturadas (L. vivanus, L. bucanella, L. chrysurus). A atividade
começou nos estados de Pernambuco e Ceará, em meados da década de 60, como alternativa à
pesca da lagosta. A linha pargueira era usada manualmente e, posteriormente, passou a ser operada
com auxílio da “bicicleta” (roldana manual). Até o ano de 1973, essa pesca se concentrou nos
bancos oceânicos e plataforma continental do Nordeste e, posteriormente, em função do esgotamento
dos estoques e declínio da produtividade, a frota migrou para o Norte, sobre a plataforma continental
dos estados do Pará e do Amapá, desenvolvendo-se ali uma pescaria com armadilhas (manzuá)
(Hazin et al., 2004).
1
A captura da lagosta com redes-de-emalhar (caçoeiras) havia sido proibida pela INMMA nº 28, de 30 de abril de
2004, porém voltou a ser autorizada pela IN MMA nº 8, de 29 de abril de 2005, com algumas restrições, quanto ao
tamanho de malha e material para sua confecção.
Programa REVIZEE 85
Sob a denominação de “pesca-de-linha” pode-se encontrar linhas verticais e linhas horizontais
(espinhéis); demersais ou pelágicas; estáticas ou dinâmicas (deriva ou corrico); seus anzóis podem
ser de diferentes tamanhos e as iscas utilizadas, as mais variadas. As espécies-alvo apresentam
elevado valor comercial, o custo operacional é proporcionalmente baixo e os desembarques são
realizados pela própria tripulação em muitos locais, e em curto espaço de tempo. O número de
barcos e o de espécies-alvo são fortemente dependentes das demandas de mercado; a frota passa
por grandes oscilações no tempo, tornando os desembarques difíceis de serem acompanhados (Costa
et al., 2005).
A pesca costeira com linha de fundo é uma atividade tradicional no litoral sul da Bahia e no
Espírito Santo. Embora dirigida para a captura de recursos demersais (recifais) como badejos,
garoupas e vermelhos, têm sido desembarcadas quantidades crescentes de espécies pelágicas como
o dourado, olho de boi, cavalas e atuns. A frota é composta por cerca de 4.000 embarcações,
principalmente botes e saveiros, com comprimento variando de 4 a 18 m, além de uma pequena
frota de “caiqueiros”2 sediada em Vitória (ES) (Costa et al., 2005).
Na Bahia, pequenas frotas locais exercem elevada pressão de pesca por unidade de área, operando
sobre uma plataforma estreita e a borda do talude, entre 30-80 m de profundidade, refletindo a
maior abundância relativa de diferentes espécies pelágicas e demersais associadas aos ambientes
recifais. Verifica-se forte sazonalidade na alocação das viagens dirigidas à captura de espécies
pelágicas no período de primavera-verão, entre dezembro e março, com pico bem definido em
novembro e janeiro. Pescarias de espécies demersais se desenvolvem durante todo o ano, mas o
esforço é reduzido durante o período de safra dos peixes pelágicos. Os principais recursos, atualmente
em explotação, são os lutjanídeos (guaiúba, dentão e cioba), os serranídeos (badejos, Mycteroperca
spp., e chernes, Epinephelus spp.), os escombrídeos (atuns e cavalas) e os carangídeos (olho-de-boi,
Seriola dumerili, guaricemas, Caranx crysos, guarajubas e graçains, C. latus), além do dourado
(Costa et al., 2005; Olavo et al., 2005).
A frota pesqueira de linha de alto mar do Espírito Santo é considerada de transição entre as
pescarias de maior escala e complexidade tecnológica do Sudeste-Sul e pescarias de pequena escala
do Nordeste. É composta por embarcações semi-industriais, dividindo-se em duas categorias: (i)
frota de linha recifal, baseada em Vitória, que utiliza a linha de mão como principal petrecho;
dirige-se a pequenos peixes serranídeos e lutjanídeos e pesca na região do Banco de Abrolhos; e (ii)
frota de pesca de atum, localizada em sua quase totalidade, em Itaipava (ES); utiliza corrico como
arte principal e pesca na região oceânica da Bacia de Campos, tendo os atuns e afins como espécies-
alvo (Costa et al., 2005; Martins et al., 2005).
O peroá branco (Balistes capriscus) foi alvo de intensas pescarias de linha no sul do Espírito Santo
e norte do Estado do Rio de Janeiro, até o final dos anos 90, representando nessa época mais de
50% do pescado desembarcado no Espírito Santo. Após esse período, as capturas apresentaram
uma marcante redução e as frotas que atuavam sobre o estoque redirecionaram o esforço para a
pesca de linhas-de-fundo de alto mar (Martins e Doxey, 2005).
86 Programa REVIZEE
A pesca artesanal
A pesca artesanal, na região Sudeste-Sul, é relativamente pouco importante em termos percentuais,
contribuindo com apenas 15% da produção regional. Não obstante, envolve um grande contingente
de pescadores, e uma variedade de petrechos e espécies-alvo.
Em São Paulo, Paraná e Santa Catarina predomina, na pesca artesanal, o arrasto de fundo que tem
como espécies-alvo os camarões, principalmente o camarão-sete-barbas, e juvenis e pré-adultos do
camarão-rosa. São importantes, também, as pescarias com redes-de-espera para a captura de
pescadas, corvina e linguados; as pescarias com redes de emalhar (“fundeio” e “feiticeira”); e de
emalhe de cerco (“lanceio”), cuja espécie-alvo é a tainha; e uma pescaria dirigida à manjuba
(Anchoviella lepidentostole), durante a piracema, na região do rio Ribeira de Iguape, com redes
“manjubeiras” e corrico (Lima & Chaves, 2005; Miranda et al, em preparação; Valentini & Pezzuto,
em preparação).
A pesca artesanal estuarina na Lagoa dos Patos se concentra sobre o camarão rosa (F. paulensis),
cujas capturas apresentam fortes oscilações anuais. Na região costeira atua uma frota costeira
semi-industrial constituída por mais de 100 embarcações, com 12 a 18 m de comprimento, que
operam principalmente com redes de emalhe (Reis et al., 1994) e cujo principal alvo é a corvina;
capturam também pescada-olhuda (Cynoscion guatucupa), castanha (Umbrina canosai), anchova
(Pomatomus saltatrix) e cações (Haimovici et al., no prelo)
No Rio Grande do Sul, a pesca é realizada com redes de cerco por traineiras e emalhe, pela frota
semi-industrial costeira, e os desembarques de pequenos pelágicos são virtualmente nulos. Os de
médios pelágicos como a anchova (Pomatomus saltatrix), e a tainha (Mugil platanus), vem
apresentando tendência decrescente. A tainha é pescada principalmente no outono, nas proximidades
Programa REVIZEE 87
da barra de Rio Grande na “corrida” para o mar; a anchova tem suas maiores capturas no inverno,
na plataforma continental, durante sua migração para o norte (Krug e Haimovici, 1991; Lucena e
Reis, 1998; Reis et al. 1994; Boffo e Reis, 2003).
As principais espécies capturadas, através do arrasto simples de portas e das parelhas e pelo emalhe
de fundo, são corvina, castanha (Umbrina canosai), pescada olhuda (Cynoscion guatucupa) e em
menor grau pescadinha (Macrodon ancylodon). O arrasto duplo de tangones tem como alvos os
camarões marinhos barba-ruça ou ferrinho (Artemesia longinaris) e santana vermelho (Pleoticus
muelleri), nos meses quentes, e o linguado (Paralichthys patagonicus), a abrótea (Urophycis
brasiliensis) e a cabrinha (Prionotus punctatus), nos meses frios. A composição da frota foi se
alterando ao longo do tempo; a atuação de arrasteiros de portas e de parelhas diminuiu e a atuação
de arrasteiros duplos de tangones se intensificou, diversificando as capturas. A pesca de emalhe de
fundo se popularizou na década de 90, dirigida inicialmente a elasmobrânquios e depois a peixes
ósseos. A partir de 2000 alguns arrasteiros de portas e tangones têm operado na plataforma externa
e talude superior (Haimovici et al., no prelo; Valentini e Pezzuto, no prelo).
Em Santa Catarina, parte da frota de arrasteiros de tangones atua sobre peixes demersais na
plataforma do Rio Grande do Sul, concentrando-se na captura de pescadinha, linguados, abrótea e
cabrinha; a outra parte pesca camarões ferrinho e vermelho, durante a primavera e verão, na
plataforma norte do Rio Grande do Sul e camarão-rosa entre Itajaí/SC e Santos/SP, durante os
meses de outono e inverno. Foram também registradas pescarias dirigidas à lula (Loligo plei) e ao
peixe-porco nos meses de verão, entre o norte do Estado de Santa Catarina e sul de São Paulo, e
operações ocasionais nas áreas de talude para a captura do lagostim (Metanephrops rubellus),
peixe-sapo (Lophius gastrophysus), congro-rosa (Genypterus brasiliensis) e merluza (Merluccius
hubbsi). A atividade dos arrasteiros de parelha foi sustentada pela captura de peixes cienídeos
(pescadas) na plataforma do Rio Grande do Sul, principalmente durante o inverno, e pela captura
da corvina, goete (Cynoscion jamaicensis), peixe-porco e lula que são alvos típicos da área
compreendida entre Itajaí e Cananéia (SP). Comparando as estratégias de ambas as frotas, constata-
se que na última década os arrasteiros de tangones, mais versáteis, conseguiram explotar
concentrações rentáveis de diversos recursos abundantes e/ou valiosos, disponíveis em locais e áreas
específicas, e assim maximizar ou ao menos manter os rendimentos econômicos em níveis
compensatórios. Já as parelhas atuaram de forma mais conservativa, mantendo o esforço sobre os
mesmos recursos e sobre as mesmas áreas, com rendimentos decrescentes. Como conseqüência,
enquanto a frota de arrasteiros de tangones tem se mantido relativamente estável ao longo do
tempo, a frota de parelhas vem diminuindo (Perez et al., 2003; Velentini e Pezzuto, no prelo).
Em São Paulo, a frota de arrasto de parelhas, que na década de 60 operava desde o sul da Bahia
até o sul da Argentina, foi perdento importância e em anos recentes, concentrou esforços nas costas
88 Programa REVIZEE
dos Estados de São Paulo, Paraná e norte de Santa Catarina. As principais espécies capturadas, no
período 1995-2000, por cerca de 35 barcos, foram corvina, pescada-foguete (Macrodon ancylodon),
goete e peixe porco (Castro et al., 2003). A frota de arrasto de portas, composta por aproximadamente
100 barcos, reduziu sua atuação sobre os camarões como espécies-alvo e diversificou suas capturas,
incluindo recursos que anteriormente eram considerados como fauna acompanhante, tais como
trilhas (Mullus argentinae), lulas (Loligo plei e L. sanpaulensis) e polvos (Octopus vulgaris) (Tomás
et al., 2003). Na pesca de emalhe, a corvina e a pescada foguete foram as espécies mais capturadas
no final da década de 90 e a participação de elasmobrânquios vem decrescendo. A tendência observada
foi de redução no tamanho das malhas e operações mais próximas à costa (Tomás, 2003).
Programa REVIZEE 89
A implementação da política de arrendamento de barcos estrangeiros para diversas modalidades de
pesca, pelo DPA/MAPA, levou ao aumento do esforço de pesca sobre recursos demersais presentes
na plataforma externa e no talude, que já vinham sendo plenamente explotados pela frota nacional.
Como conseqüência, diversas pescarias tornaram-se antieconômicas, comprometendo a
sustentabilidade das capturas e a oferta de empregos (Perez et al., 2003). Dentre esses recursos e
respectivas pescarias podem ser citados o próprio peixe-sapo, explotado pela pesca-de-arrasto-
duplo; e o cherne-poveiro e o peixe-batata, explotados pela pesca de espinhel-de-fundo (Haimovici
e Peres, 2005; Ávila-da-Silva e Haimovici, 2005; Perez et al., 2002, 2003).
Ao longo do tempo, as espécies alvo foram diversificadas à medida que outros recursos ganharam
importância econômica, como o espadarte, agulhões, dourado e cações. A categoria “albacoras”
agrega principalmente três espécies, albacora-bandolim (Thunnus obesus), branca (T. alalunga) e
laje (T. albacares). Nos últimos anos a produção tem flutuado em níveis sempre superiores a 3.000
t. Comparando-se as médias anuais dos períodos 1986-1995 e 1996-2004, constata-se-se uma
pequena redução (9,2%) na produção total, porém grandes mudanças a nível de espécies: redução
de 91,2% para o agulhão-vela (Istiophorus albicans), 52,6% para as albacoras, 16,8% para o
espadarte, e um incremento da ordem de 54,2% para o dourado (Valentini e Pezzuto, no prelo). Os
cações pelágicos, anequim (Isurus oxyrinchus) e azul (Prionace glauca) são os mais comuns nas
capturas efetuadas pela frota de espinhel-de-superfície. Apenas as barbatanas são integralmente
aproveitadas a bordo, havendo grande descarte das carcaças (Azevedo et al., 2003; Azevedo, 2005;
Kotas 2004; Kotas et al, 2005).
ESTADO DE EXPLOTAÇÃO
Produção Pesqueira
A produção marinha se dá de maneira diferenciada na costa brasileira, variando por estado da
Federação e regionalmente. Em 2003, os Estados com maior produção registrada foram Santa
90 Programa REVIZEE
Catarina (116 mil toneladas) e Pará (93 mil toneladas). Em termos regionais, os dados oficiais de
2003 mostram maiores produções da pesca extrativa marinha no Sudeste-Sul e no Nordeste (IBAMA,
2004).
A tabela 1 apresenta as médias dos desembarques por grandes grupos de recursos marinhos explotados
pela pesca extrativa nacional, para o período 2000-2003, registrados na série “Estatística de
Pesca – Brasil – Grandes Regiões e Unidades da Federação “ (IBAMA, 2004). Na Figura 1, são
representadas as tendências entre 1996 e 2003, a partir dos registros citados. Cabe ressaltar que
esses dados apresentam abrangências variadas entre Estados e tipos de recursos e que, de modo
geral, aqueles provenientes da pesca industrial são mais completos que os da pesca artesanal (Isaac
et al, no prelo).
A região Sudeste-Sul responde por quase metade das capturas totais do Brasil e não apresentou
grandes mudanças nos desembarques no período. No entanto, ao longo dos anos considerados,
houve uma queda de 137.000 t para 60.800 t, para os pequenos teleósteos pelágicos, volume
compensado por um aumento de 60.000 t para 108.000 t dos teleósteos demersais. As capturas de
grandes teleósteos pelágicos se mantiveram no patamar de 30 a 37 mil t e as de elasmobrânquios
entre 6,1 e 9,6 mil t.
Cabe ressaltar que as tendências nos desembarques por grandes grupos podem refletir mudanças
importantes de uma única espécie, como o declínio dos pequenos pelágicos na região Sudeste-Sul,
devido à sardinha-verdadeira, ou o aumento nas capturas de teleósteos demersais, devido aos
desembarques de corvina que, além de ser explotada pela frota de arrasteiros e de emalhe-de-
fundo, passou a ser capturada, também, pela pesca de cerco (Valentini e Pezzuto, no prelo).
Estas tendências envolvem diversos fatores, tais como, variações na distribuição e abundância
associa-das a fatores climáticos; dinâmica populacional das espécies; dinâmica temporal e espacial
das frotas pesqueiras; e variações de mercado e renda. Observa-se também tendência ao
aperfeiçoamento do sistema de coleta de dados que pode mascarar a estagnação ou queda na
produção ou mostrar aumentos inexistentes. Por exemplo, a tendência de crescimento nos
desembarques de teleósteos demersais na região Norte, deve-se a uma melhoria no registro de
dados estatístico-pesqueiros.
Programa REVIZEE 91
Estado de explotação por espécies, grupos e regiões
Com a finalidade de ter um panorama do estado de explotação dos recursos marinhos e estuarinos
do Brasil, foi elaborada uma lista dos estoques para os quais se conta com informações, derivadas
do REVIZEE e de outros estudos divulgados em forma de relatórios ou publicações. Esta lista
inclui os principais estoques das diferentes regiões e os grandes peixes migratórios que ocorrem na
ZEE brasileira (Tabela 2). Dos 152 estoques incluídos nessa tabela, 11% não eram explotados, 5%
eram subexplotados, 23% plenamente explotados, 33% sobreexplotados e 28% não foram avaliados
conclusivamente.
Figura 1. Tendências nos desembarques anuais registrados da pesca marinha e estuarina por regiões e grupos de recursos pesqueiros no
período 1996-2003 (Fonte: IBAMA).
A Tabela 3 resume o estado de explotação dos recursos, por região. A região Sudeste-Sul apresenta
mais de 55% dos estoques sobreexplotados. A região Norte aparece com a maior proporção de
estoques plenamente explotados e as regiões Central e Nordeste com a maior de não avaliados
conclusivamente.
Os estoques de peixes migratórios, para todas as regiões, encontram-se 20% plenamente explotados
e 47% sobreexplotados.
92 Programa REVIZEE
Tabela 2. Estado de explotação de estoques marinhos e estuarinos (estudos realizados entre 1996 e 2004)
(continua)
Programa REVIZEE 93
Tabela 2. (Continuação)
A Tabela 4 ilustra o estado de explotação das principais espécies agrupadas em quatro categorias
para a totalidade da costa brasileira: (GP) grandes pelágicos da plataforma externa e talude, que
incluem atuns e afins e cações pelágicos; (PMP) pequenos e médios pelágicos; (DP) demersais da
plataforma e recifais, que incluem a maior parte dos peixes demersais, camarões e lagostas; e (DT)
demersais da plataforma externa e talude, que incluem peixes e crustáceos. Observa-se que os
estoques sobreexplotados predominam entre demersais de plataforma e os grandes pelágicos.
Tabela 4. Percentagens de explotação das diferentes categorias de recursos (DP - demersais plataforma, DT – demersais
talude, GP – grandes pelágicos, PMP – pequenos e médios pelágicos)
A interpretação desses resultados deve levar em consideração algumas limitações – todos os estoques
analisados receberam o mesmo peso, independentemente da importância e valor dos recursos e as
avaliações se baseiam em estudos com diferentes graus de detalhamento. Ainda assim, os resultados
são consistentes com outros indicadores do estado da pesca no Brasil, como a tendência dos
desembarques totais registrados e a percepção dos diversos setores envolvidos na pesca. Os resultados
mostram, ainda, não ser viável a substituição dos recursos tradicionalmente explotados na plataforma
continental, por outros, disponíveis em águas profundas. Isso ocorre em função da sua a densidade,
de seu estado de explotação e das características biológicas da maioria das espécies (crescimento
lento, maturação sexual tardia e longevidade).
94 Programa REVIZEE
A captura incidental e o descarte
A maior parte das pescarias mundiais e nacionais, mas principalmente aquelas que utilizam técnicas
de arrasto, de baixa seletividade, são caracterizadas por altas taxas de descarte, os quais representam
perdas econômicas e provocam grandes impactos sobre as comunidades e os ecossistemas (Alverson
et al., 1994). As pescarias intensivas com baixa seletividade podem alterar o hábitat, afetando a
biodiversidade, a estrutura das comunidades, a composição específica e a abundância, tanto das
espécies-alvo, quanto das espécies sem valor comercial.
Outra fonte importante de descarte é a gerada por pescarias com artes não seletivas direcionadas a
um único ou poucos recursos. A captura incidental e os descartes na pesca da frota arrendada de
emalhe de fundo, dirigida ao peixe-sapo, são significativos; apenas 40,7% dos organismos capturados
pertencem à espécie alvo; enquanto para a captura incidental, apenas o cação-anjo e os caranguejos
de profundidade são aproveitados, sendo as restantes espécies descartadas a bordo (Perez e Wahrlich,
2005).
A prática do finning (aproveitamento apenas das nadadeiras) nas pescarias de emalhe e espinhel-
de-superfície contribui para a depleção de diversos estoques de tubarões e representa um grande
dano ecológico e desperdício econômico. (Kotas et al., 2005; Travassos & Hazin, 2005).
Programa REVIZEE 95
Ao longo desse período a pesca foi gerenciada por intermédio do número de licenças concedidas e
da regulamentação de diversos tipos de medidas de manejo. De modo geral a implementação das
medidas de gestão, no período considerado, foi pouco eficiente.
No Brasil, até 2004, apesar do período de 30 anos de gestão pesqueira, salvo os atuns e afins e
algumas poucas espécies, ditas “tradicionais” (camarão-rosa, sardinha, corvina, etc.), a maior
parte dos recursos pesqueiros era consideradas, pelo poder público, como “espécies não controladas”
que, como tal, não demandavam ações de manejo. Como conseqüência, a maioria desses estoques
esteve submetida a níveis de mortalidade superiores aos biologicamente aceitáveis, comprometendo
não só a efetiva sustentabilidade dos mesmos, como também a própria rentabilidade das pescarias.
No âmbito da gestão pesqueira, dentre as espécies explotadas pelas frotas nacional e arrendada,
aquelas consideradas sobreexplotadas e ameaçadas de sobreexplotação, definidas e listadas pela
Instrução Normativa do MMA nº 05/2004, são de responsabilidade do IBAMA, que “deverá
coordenar a elaboração de planos de gestão, no prazo máximo de 5 anos”, a contar da data de
publicação da mesma. A gestão das espécies inexplotadas, subexplotadas e altamente migratórias
compete ao Conselho Nacional de Aqüicultura e Pesca – presidido pela Secretaria Especial de
Aqüicultura e Pesca-SEAP/PR (Decreto 5.069/04). É consenso que, através das licenças de pesca,
o Estado deve promover o acesso limitado ou regulado, por meio da outorga, para um determinado
recurso ou para uma área de pesca delimitada. As licenças podem estar, ou não, associadas a outro
conjunto de regras, tais como: zonas de reserva, cotas de captura, períodos de proibição de pesca,
comprimento mínimo de captura das espécies explotadas. No conjunto, tais medidas buscam assegurar
o uso sustentável dos recursos pesqueiros.
As pescarias que ocorrem em áreas protegidas, tais como Unidades de Proteção Integral e Unidades
de Uso Sustentável, que integram o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –
SNUC (Lei Nº 9.985/2000) são regidas por legislações específicas.
Atualmente a maior parte das pescarias industriais tem seu esforço controlado e a concessão de
licenças para novas embarcações está vedada, a não ser em casos de substituição. As frotas
controladas são:
Por outro lado, está sendo gradativamente implementado na pesca nacional um modelo de gestão
compartilhada, no qual as responsabilidades são repartidas entre o governo e os usuários dos recursos
pesqueiros. Comitês de gestão estão sendo criados com o objetivo de propor ao Poder Executivo
macropolíticas para a gestão do uso sustentável desses recursos e apresentar pontos de referências
e medidas de gestão para cada um deles. Os comitês são compostos por representantes do Poder
Executivo, das entidades de classe e da sociedade civil organizada, e presididos pelo representante
do órgão responsável pela gestão do uso sustentável dos recursos. Os comitês estão sendo criados
por recurso pesqueiro ou região, assessorados por subcomitês científicos e de acompanhamento da
implementação das medidas de gestão.
96 Programa REVIZEE
Até o momento, no âmbito do MMA/IBAMA, foram criados dois Comitês de Gestão do Uso
Sustentável (CGS) – o da lagosta e o da sardinha. Na SEAP, foram criados dois Comitês Consultivos
de Gestão (CCG), o de Atuns e Afins e o de Demersais de Profundidade.
Espécies migratórias
A gestão dos atuns e espécies afins, no Atlântico e nos mares adjacentes é realizada de acordo com
as normas da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT – International
Commission for the Conservation of Atlantic Tunas). Esta é uma organização inter-governamental
que tem como objetivo compilar estatísticas pesqueiras, além de coordenar pesquisas, incluindo
avaliações de estoques; desenvolver informações sobre manejo, com base científica; e promover
mecanismos para a sua implementação pelos países membros. Cerca de trinta espécies, incluindo
atuns, bonitos, cavalas e agulhões, encontram-se no âmbito de avaliação e gestão da Comissão. A
ICCAT atua também na compilação de dados para outras espécies de peixes capturadas como
“bycatch”, nas pescarias de atuns, em especial os tubarões, desde que não sejam objetos de
gerenciamento por outra organização internacional.
Programa REVIZEE 97
Várias espécies de tubarões migratórios são visadas pelo mercado de exportação devido ao alto
valor de suas nadadeiras; são capturadas pela frota de emalhe artesanal, industrial e de espinhel
monofilamento, em diversas regiões do Brasil. Entre essas se destacam o tubarão estrangeiro
(Carcharhinus longimanus), o cação-toninha (Carcharhinus signatus), o cação-azul (Prionace glauca),
e o tubarão-martelo (Sphyrna lewini), incluídas na lista das espécies ameaçadas da IUCN –
International Union for Conservation of Nature, ou, ainda, com restrições à captura em outros
países (Hilton-Taylor, 2000; Musick et al., 2000; ICCAT, 2004). Até o momento, devido à crescente
preocupação em relação a diversos estoques, a ICCAT definiu como medida de manejo a proibição
da prática do finning no Atlântico, a partir de novembro de 2004 (Hazin e Travassos, 2004).
Também, no Brasil, a Portaria nº 121 do IBAMA de 24/08/1998, proíbe o desembarque de nadadeiras
desacompanhadas das carcaças em volume superior a 5% do peso total das carcaças. Ainda, a
Instrução Normativa nº 05, de 21/05/2004 (revisada pela Comissão Nacional de Biodiversidade –
CONABIO, em 19/08/2005) constitui-se em importante instrumento para a conservação de
elasmobrânquios, ao reconhecer diversas espécies como ameaçadas de extinção ou sobreexplotadas.
Para as espécies ameaçadas, a captura é proibida, devendo ser desenvolvidos planos de recuperação,
e para as sobreexplotadas, cuja captura é permitida, devem ser desenvolvidos planos de gestão, sob
a coordenação do IBAMA.
Para as albacoras bandolim (Thunnus obesus) e branca (T. alalunga), o espadarte (Xiphias gladius)
e os agulhões negro (Makaira nigricans) e branco (Tetrapturus albidus) vigoram cotas de capturas
atribuídas pela ICCAT. O Brasil está incluído no regime de cotas apenas para o espadarte, agulhão-
negro e branco.
As capturas da albacora-branca estão próximas ao nível aceito como rendimento máximo sustentável
(30.915 t). A ICCAT recomendou que as mesmas, para os próximos três a cinco anos, não ultrapassem
31.000 t, visando preservar os níveis atuais da biomassa desovante (SCRS, 2004). No Brasil, a
captura da albacora-branca é regulada pela IN SEAP nº 11, de 14 de julho de 2005, a qual fixa,
para a estação de pesca de 2005, o limite máximo permitido de captura para espécie no Atlântico
Norte (ao norte da latitude de 5oN) em 200 t de peso inteiro, ou o equivalente a 177 t de peso
eviscerado (sem cabeça).
98 Programa REVIZEE
1992, o que vem sendo registrado nos últimos anos. A Comissão adotou um peso mínimo de
desembarque de 3,2 kg, com uma tolerância de 15% em número de indivíduos por desembarque.
Em relação aos agulhões, o total capturado de agulhão-vela (Istiophorus albicans), em 2003, pela
frota espinheleira nacional foi de 346,7 t. Embora, as tentativas de se avaliar esse estoque no
Atlântico Oeste tenham sido insatisfatórias, há evidências de um recente decréscimo na biomassa
(SCRS, 2005).
O total capturado de agulhão-negro em 2003, pela frota espinheleira nacional foi de 577 t. O
rendimento máximo sustentável para a espécie no Atlântico é de 2.000 t. As capturas atuais superiores
a esse total indicam que o recurso está sobreexplotado (SCRS, 2004). A ICCAT recomenda a
redução dos desembarques de espinhel para cerca de 50% dos níveis obtidos em 1999 (2.359 t), o
que resulta para o Brasil, um limite de captura de 53 t.
Já para o agulhão-branco, a frota espinheleira nacional capturou, no mesmo ano, 262,6 t. A estimativa
para o rendimento máximo sustentável para a espécie no Atlântico não é precisa, tendo como
limites inferior e superior, respectivamente, 323 e 1.320 t (SCRS, 2004). A ICCAT recomenda a
redução dos desembarques a 33% dos níveis obtidos em 1999 (932 t), o que determina para o
Brasil, um limite de captura de 252 t.
A Comissão estabeleceu um plano de reconstrução das populações dos agulhões branco e negro do
Atlântico (Rec. 02-13 da ICCAT), no qual limita as capturas e encoraja os países participantes a
formular políticas públicas visando a conservação dessas espécies. Partindo desse princípio, o Brasil
por meio da IN nº11 proibiu a comercialização desses agulhões em suas águas jurisdicionais, até
dezembro de 2005. Esta medida, entretanto, para que se tornasse eficaz, deveria ter sido
acompanhada de fiscalização efetiva nos pontos de desembarque.
Estudos sobre o tubarão galha-branca (Carcharhinus longimanus) são ainda escassos, não havendo
informações sobre unidades populacionais. Há evidências sobre a intensa captura de jovens no
Brasil (Amorim et al., 1998; Lessa et al., 1999; Asano-Filho et al., 2004a) e sobre o declínio
populacional no Atlântico (EUA e Golfo do México) (Baum et al. 2003; Cortés, 2002). A presença
de indivíduos jovens a adultos sugere que a população ao largo do Brasil seja uma unidade operacional
para o manejo pesqueiro (Vooren, com. pess.). As análises demográficas indicaram redução da
população de 50% nos últimos dez anos, compatível com o padrão conhecido de populações explotadas
dessa espécie (Vooren, com. pess.). Recomenda-se ampliação das ações de fiscalização com relação
à Portaria nº121 do IBAMA e o estímulo à devolução ao mar de indivíduos capturados vivos.
Também, o monitoramento das capturas dessa espécie através do Programa de Observadores de
Bordo da SEAP deve ser priorizado.
No caso do cação azul (Prionace glauca), embora as análises demográficas não tenham ainda
demonstrado redução da população, um permanente monitoramento das capturas é aconselhado.
Não se recomenda, em nenhuma hipótese, o aumento do esforço de pesca sobre a espécie.
Programa REVIZEE 99
conta que o estoque na costa norte-nordeste do Brasil é, provavelmente, compartilhado com o leste
do Caribe, o que demandaria gestões junto aos demais países envolvidos, visando a explotação
sustentável do recurso.
Por fim, para a espécie costeira semi-oceânica Sphyrna lewini, a condição da população merece
atenção, devido aos altos niveis de explotação por diversas artes de pesca (Kotas, 2004). A pesca de
emalhe industrial, no momento do parto, atinge os adultos, enquanto os neonatos são capturados de
forma concomitante pela frota artesanal, causando sobrepesca de recrutamento. Além disso, a
captura ao longo do ano da frota de espinhel de monofilamento diminui a possibilidades de recuperação
do estoque. A moratória da pescaria de S. lewini, incluindo a proibição da comercialização da
carne e barbatanas, e o estabelecimento de uma zona de exclusão de pesca na área de berçário, até
20 m de profundidade, podem ser os instrumentos de manejo adequados para, em médio prazo,
permitir a recuperação do estoque desta espécie na região Sudeste-Sul (Kotas, 2004; Kotas et al,
2005).
Estoques Transfronteiriços
Entende-se por “estoques transfronteiros” aqueles que se distribuem dentro das ZEEs de dois ou
mais países costeiros. Dentre as espécies que se enquadram nessa categoria, constam como “espécies
ameaçadas” (IN MMA nº 05, de 21/05/2004) os cações e raias, Rhinobatos horkelii, Galeorhinus
galeus, Squatina guggenheim, Squatina occulta e Mustelus schmitii (capturadas por arrasto de
porta, parelha e emalhe artesanal e industrial), todas endêmicas da região Sudeste-Sul, com
distribuição do Rio de Janeiro à Argentina. Ainda, Isogomphodon oxyrhynchus, capturada por
emalhe, é espécie endêmica do norte da América do Sul, e região norte do Brasil, tendo a sua
explotação compartilhada com os países do Caribe (Venezuela, Guiana Francesa, Guiana, Suriname
e Trinidad-Tobago). As espécies do Sudeste-Sul têm explotação compartilhada com o Uruguai e
Argentina (Menni, 1986; Vooren, 1997; Chiaramonte, 2000a, 2000b).
Devido ao status de “espécies ameaçadas”, têm suas capturas proibidas no país. Dentre elas, R.
horkelii, e I. oxyrhynchus são listadas pela IUCN como “criticamente ameaçadas-CR”, tendo sofrido
reduções de biomassa de cerca de 90% nas últimas décadas. Por sua vez, S. occulta e Mustelus
schmitii constam da lista vermelha da IUCN de 2006 como “ameaçadas–EN”, o que corresponde
a reduções de biomassa de cerca de 70%. Mustelus fasciatus e Squatina argentina, também espécies
transfronteiras que ocorrem no sul do Brasil, Uruguai e Argentina, não constam da IN MMA nº 05;
são porém classificadas pela IUCN como “ameaçadas–EN”.
PROSPECÇÕES
Espinhel-de-superfície
O programa REVIZEE propiciou prospecções com espinhel de superfície em todas as regiões. No
total foram realizadas 425 operações de pesca com o lançamento de quase 300.000 anzóis (Tabela
5). A maioria das prospecções foi realizada com espinhéis de monofilamento, em sintonia com a
pesca comercial, que privilegia esse tipo de petrecho, motivada pelo interesse na captura do espadarte,
espécie de alto valor econômico e que pode ser eficientemente capturada por barcos relativamente
pequenos.
A região Sul foi prospectada entre novembro de 1996 e abril de 1998, em três cruzeiros do NOc.
“Atlântico Sul” (Projeto ARGO, Vooren et al., 1999). No total, foram efetuadas 35 operações de
pesca com um espinhel de monofilamento de 21 km, contendo entre 290 e 580 anzóis, iscados com
lulas e sem atratores luminosos, operando entre 25 e 125 m. Em 70 dias de mar foram lançados
11.070 anzóis, sendo capturados 911 exemplares, totalizando 17.293 kg. A CPUE média foi de
156,2 kg/100 anzóis. Foram capturadas 27 espécies de peixes, sendo 12 de tubarões, que
representaram 79,8% da captura total em peso; três espécies de atuns, com 12,8%; espadarte,
2,5%; quatro de peixes de bico, com 2,4%; e outras oito espécies de teleósteos. As cinco espécies
mais capturadas foram o tubarão-azul (Prionace glauca), o tubarão-noturno (Carcharhinus signatus),
o tubarão-martelo (Sphyrna zygaena), o dourado (Coryphaena hippurus), e a albacora-laje (Thunnus
albacares). Entre elas, o tubarão-azul foi comum ao longo de todo o ano; S. zygaena, Thunnus
albacares, T. alalunga, o anequim (Isurus oxyrinchus) e o espadarte (Xiphias gladius), no inverno;
C. signatus e o dourado, na primavera e verão, e a raia-violeta, (Dasyatis violacea), e o agulhão-
vela, (Istioporus albicans), no verão. O contraste entre a percentagem superior a 70% em peso dos
tubarões capturados no projeto ARGO, com os 15 a 20% nos desembarques da frota comercial,
operando na mesma região ilustra a intensidade do descarte na pesca comercial com espinhel
pelágico (Arfelli et al. 1997).
A região Central foi prospectada entre janeiro e março de 1999 e julho a agosto de 2001, utilizando-
se o barco pesqueiro “Yamaia III”, com espinhel pelágico de monofilamento, em condições
oceanográficas contrastantes de inverno e de verão (Olavo et al. 2005). Foram realizadas 65 estações
de amostragem totalizando 39.080 anzóis lançados, a metade provida de atratores luminosos (light-
stick e electralumen). A captura total foi de 1.355 peixes de 30 espécies, pesando 54.860 kg. Os
rendimentos foram maiores no verão (156,9 kg/100 anzóis) do que no inverno (109 kg/100 anzóis).
Os maiores rendimentos ocorreram sobre o talude continental superior. Durante o verão, os
rendimentos médios foram superiores a 150 kg/100 anzóis ao largo dos bancos Royal Charlotte e
Abrolhos e na zona dos montes submarinos ao norte de 15ºS. As maiores capturas foram de espadarte
(Xiphias gladius), no verão com 66,8 kg/100 anzóis (45% do total), caindo para 19,1 kg/100
anzóis) no inverno, e de Prionace glauca, com 47 e 49,6 kg/100 anzóis, no inverno e verão,
respectivamente. Os atuns (Thunnus albacares, T. atlanticus, T. obesus e T. alalunga), em conjunto,
participaram com 7,1% e 2,6% (7,7 e 4 kg/100 anzóis), nos cruzeiros de inverno e verão,
respectivamente. Os agulhões (Istiophorus albicans e Tetrapturus albidus e Makaira nigricans)
representaram apenas 1% das capturas totais; o dourado (Coryphaena hippurus) apresentou
rendimentos de 5,1 kg/100 anzóis, correspondendo a 4,7% das capturas totais do cruzeiro de
inverno; e o gempilídeo Lepidocybium flavobrunneum com 7,4 kg/100anzóis, totalizou 4,7% das
No Nordeste, entre 1992 e 2000, o N.Pq. “Riobaldo” realizou 30 cruzeiros de prospecção pesqueira
com espinhel pelágico de multifilamento, totalizando 173 estações de pesca entre a foz do Rio
Parnaíba e Salvador, incluindo os bancos oceânicos e os Arquipélagos de Fernando de Noronha e
São Pedro e São Paulo. Foram empregados 97.463 anzóis e capturados 1.866 exemplares, resultando
numa CPUE média de 1,91 ind/100 anzóis. A maior parte do esforço concentrou-se no quarto
trimestre (43,0%) e na região entre Natal a Salvador (40,7%). Embora mais de 20 espécies tenham
sido capturadas, cinco delas responderam por quase 60% do número total de indivíduos: agulhão
branco (Tetrapturus albidus), albacora-laje (Thunnus albacares), tubarão azul (Prionace glauca),
tubarão estrangeiro (Carcharhinus longimanus) e dourado (Coryphaena hippurus). Os anzóis
operaram entre 70 e 220 m, o que corresponde aproximadamente à profundidade da termoclina,
que na costa nordestina estende-se de 50 a 250 m. O dourado e o tubarão estrangeiro foram
capturados com maior freqüência nos anzóis mais superficiais, enquanto os agulhões Makaira
nigricans e Istiophorus albicans foram mais freqüentes nos anzóis mais profundos.
Ainda no Nordeste, o N/Pq. “Sinuelo” realizou 44 lances noturnos de pesca entre setembro 1999
e maio de 2001, utilizando espinhel pelágico de monofilamento entre 7º e 9º S de latitude, do início
do talude até 90 km da costa. Durante todas as operações de pesca foram empregadas lulas como
isca e na metade dos anzóis foram utilizados atratores luminosos. Foram capturados 392 exemplares
pertencentes a 24 espécies; o espadarte foi a espécie mais capturada, correspondendo a 38% do
total, perfazendo 0,95 ind/100 anzóis. Os atuns, com o predomínio da albacorinha (Thunnus
atlanticus), representaram 22,7% do total, enquanto os elasmobrânquios chegaram a 20,4%, sendo
o tubarão-azul a espécie mais expressiva (14,6% e 0,36 ind/100 anzóis). Os anzóis com atratores
mostraram-se eficientes, mais que duplicando as capturas de espadarte. Não foi possível analisar a
variação sazonal, já que a maior parte do esforço ocorreu nos meses de setembro e outubro. Os
anzóis próximos às bóias operaram entre 25,5 a 81,7 m, em média 45,9 m, e os mais afastados
entre 21,4 e 112,2 m, em média 62,4 m.
Na região Norte, o Projeto PROTUNA (Asano et al. 2004), totalizou 13 cruzeiros de pesca
exploratória de grandes pelágicos entre as latitudes 06º30’N e 03º30’S, ao largo dos estado do
Amapá, Pará e Maranhão. Nesses cruzeiros, foram utilizados espinhéis derivantes com linha principal
monofilamento com 92 km de extensão, sendo lançados em média 1.240 anzóis por lance. Nas
linhas secundárias foram utilizados atratores luminosos. No total foram capturados 4.795 indivíduos,
totalizando 115 toneladas de peixe, sendo 1.176 albacoras (branca, bandolim e laje), 1.889
espadartes, 340 agulhões, 671 tubarões e 719 indivíduos entre peixes e outras espécies. Em peso o
espadarte representou 40,65 % da captura total; os atuns 41,65%; os tubarões, 8,81%; e os agulhões
7,50%. A comparação de receitas e despesas indica que a pesca de espinhel pelágico é
economicamente viável na região Norte, embora não tenha sido estabelecido com clareza se existe
sazonalidade dos recursos.
Esses valores são bastante próximos aos rendimentos obtidos por embarcações da frota arrendada
que usam espinhel de monofilamento no nordeste do Brasil (161,3 kg/100 anzóis) (Hazin & Hazin,
1999; Hazin et al., 2001). Embora houvesse diferenças na armação dos espinhéis, tamanho dos
anzóis, sazonalidade, iscas utilizadas e uso de atratores luminosos, alguns padrões sobre as espécies
Na região Central foram lançadas 288 armadilhas circulares de 0,8 m de diâmetro máximo e 192
armadilhas retangulares de 1,6 x 0,8 m, para crustáceos, nas pesquisas realizadas com o N/Pq.
“Diadorim” entre outubro de 2000 e novembro de 2001 (Fagundes Netto et al. 2005). Em ambos
os aparelhos, mais da metade das capturas foram de Chaceon ramosae e mais de 30 % de isópodes
do gênero Bathynomus, com escassa captura de peixes, dos quais apenas a abrótea-de-profundidade
tinha valor comercial. Os rendimentos médios de caranguejo-real foram de 1,747 kg/armadilha e
0,176 kg/armadilha-hora, com os covos circulares; e de 1,524 kg/armadilha, e 0,159 kg/armadilha-
hora, com os covos retangulares. As maiores capturas foram obtidas ao sul de Abrolhos e decresceram
em direção ao norte. Os pesos mais freqüentes das fêmeas foram de 0,4 a 0,8 kg e dos machos de
1,0 a 1,7 kg.
Em relação aos rendimentos, as pesquisas mostraram que a pesca de Chaceon com armadilhas é
possível nas regiões sul, central e nos bancos oceânicos do Nordeste. No entanto, até o momento
Arrasto de fundo
Foram realizadas prospecções de arrasto de fundo em todas as regiões (Tabela 7), à exceção do
Nordeste, onde pesquisas anteriores indicaram que as áreas adequadas para esse tipo de petrecho
eram restritas a profundidades inferiores a 50 m, entre as latitudes 10°S e 13°S, e cujo potencial já
havia sido determinado em décadas anteriores, em pesquisas desenvolvidas pela SUDENE e SUDEPE
(Haimovici et al., em preparação).
A região Sudeste-Sul foi prospectada em 2001 e 2002 por duas embarcações, o NOc. “Atlântico
Sul” e o NPq. “Soloncy Moura”, em campanhas de cerca de dois meses de duração, em duas épocas
do ano: verão-outono e inverno-primavera. A área prospectada foi de 152.300 km² de São Tomé ao
Chuí, entre 100 e 600 m de profundidade. As redes utilizadas eram do tipo “semi-baloon” de tralha
inferior de 40,4 m, provida de discos de borracha e tralha superior de 48,8 m. Nos 224 lances
efetivos realizados foram identificadas 173 espécies de teleósteos, 40 de elasmobrânquios e 22 de
cefalópodes, além de mais de 35 de crustáceos, que representaram respectivamente 80%, 8%,
11,5% e 0,4% das capturas totais. A captura média por lance foi de 289 kg/hora e a densidade
média estimada de 1.299 kg/km². As espécies mais abundantes, em ordem decrescente, foram o
galo de profundidade (Zenopsis conchifera); Polymixia lowei; o calamar-argentino (Illex argentinus);
a merluza, (Merluccius hubbsi); o peixe-espada (Trichiurus lepturus); a abrótea-de-profundidade,
(Urophycis mystacea); Antigonia capros; o peixe-sapo (Lophius gastrophysus); Caelorinchus marinii;
e o sarrão (Helicolenus lahillei). As densidades na plataforma externa foram maiores ao sul do cabo
de Santa Marta Grande e ao longo do talude superior, em toda a região, e superiores às da plataforma
externa sudeste. A biomassa total na área coberta pelos levantamentos de inverno-primavera foi
estimada em 177.327 t, assumindo-se, com a probabilidade de 90% de certeza, um intervalo entre
132.995 e 221.658 t, e para o verão-outono, em 218.481 t, com um intervalo entre 170.415 e
266.547 t. Entre as espécies capturadas em profundidades superiores a 200 m existem várias de
valor comercial, como a abrótea-de-profundidade, merluza, calamar-argentino e peixe-sapo; no
entanto, as biomassas estimadas indicam que os estoques são modestos e que as capturas sustentáveis
devem ser baixas.
A região Central foi prospectada com o navio de pesquisa francês “Thalassa” (IFREMER), em
junho e julho de 2000 (Costa et al. 2005). As redes utilizadas tinham tralha inferior de 26,8 m,
providas de bobinas de rolamento para facilitar a operação em fundos acidentados e tralha superior
de 47 m. Nos 58 lances, realizados entre 200 e 2.200 m, foram identificadas mais de 500 espécies
de peixes, cefalópodes e crustáceos. O rendimento médio global foi de 124 kg/hora e a densidade de
749 kg/km2. No entanto, esses valores elevados foram determinados por um único lance sobre a
plataforma no extremo sul, realizado sobre um cardume e que correspondeu a 43% da captura
total. Duas espécies pelágicas de plataforma, a lanceta (Thyrsitops lepidopoides) e o peixe-espada
(Trichiurus lepturus) foram dominantes no lance. Excluído este lance, os rendimentos e a densidade
média ficaram reduzidos a 67,5 kg/h e 370 kg/km2, respectivamente. A captura dos 57 lances
efetivos constituiu-se predominantemente por peixes (93,8%) e, em menor escala, por cefalópodes
(3,5%) e crustáceos (2,7%). No talude superior (200-750 m), além das duas espécies citadas,
predominaram Saurida normani, Steindachneria argentea, peixe-sapo (Lophius gastrophysus),
merluza (Merluccius hubbsi), abrótea-de-profundidade (Urophycis mystacea), Malacocephalus laevis,
pargo-rosa (Pagrus pagrus), Polymixia lowei, camurim-de-olho-verde (Parasudis truculenta) e
Synagrops trispinosus. No talude médio e inferior (750-2.200 m), as capturas foram compostas
por muitas espécies, sem dominância de uma delas. Os maiores rendimentos foram obtidos ao sul
da área investigada (21-22ºS), entre 200 e 500 m, e ao norte, em menor grau entre Salvador e
O cálculo das áreas da ZEE, por faixa batimétrica, utilizadas no cômputo das áreas varridas, foi realizado por Fábio Braga N. Coelho,
MSc., Engenheiro Cartógrafo, da equipe do BAMPETRO – Banco de Dados Ambientais para a Indústria do Petróleo – http://
www.bampetro.org
principais espécies foram estimados considerando apenas sua área de distribuição. A área foi dividida
em duas subáreas4, com um rendimento médio de 6,59 kg/h ao sul e 15,99 kg/h ao norte. No sul,
98,8% das capturas foram de camurim-do-olho-verde (Parasudis truculenta). No norte, 9% foram
de camarão-carabineiro (Aristaeopsis edwardsiana), 7,7% de camarão-alistado (Aristeus antillensis),
e 0,3% de caranguejos Chaceon sp., com 83% de fauna acompanhante, incluindo 4,5% da lula
Pholidoteuthis adami (Fonteles-Holanda et al, em preparação).
As prospecções de pesca de arrasto, com desenho amostral que permitiram a obtenção de estimativas
de densidades e abundâncias, totalizaram 456 arrastos e incluíram todas as regiões, à exceção do
Nordeste. Na região Sudeste-Sul, abrangeu a plataforma externa e talude superior; na Central, o
talude superior e inferior; e na Norte, toda a plataforma e talude superior. Não houve padronização
em relação aos equipamentos de pesca utilizados nas diferentes regiões, o que limita a possibilidade
4
Na subárea norte, caracterizada pela ocorrência dos crustáceos, foram comparadas as capturas com diferentes redes,
enquanto na subárea sul, com a predominância do camurim do olho verde, foi utilizado apenas um tipo de rede.
Espinhel-de-fundo e Pargueiras
Pesquisas com espinhel de fundo durante o Programa REVIZEE foram desenvolvidas em todas as
regiões5 totalizando 443 operações de pesca e mais de 430 mil anzóis lançados (tabela 8). A maior
parte dos cruzeiros foi realizada na plataforma externa e no talude.
A região Sudeste-Sul foi prospectada em sua totalidade, entre agosto e outubro de 1996, e,
novamente, de abril a junho de 1997, com o barco pesqueiro “Margus II”. Foram realizadas 188
operações de pesca nas quais foram lançados 187.908 anzóis iscados com lula, em 107 dias de mar,
capturando 22.910 espécimes. As capturas incluíram 36 espécies de teleósteos, 30 de
elasmobrânquios, 2 de agnatos, 2 de crustáceos e 5 de aves marinhas. As principais espécies nas
capturas foram o peixe-batata (Lopholatilus villarii); a abrótea-de-profundidade (Urophycis
5
No Norte, os cruzeiros de prospecção com espinhel de fundo foram interrompidos por problemas operacionais.
No Nordeste o N./Pq. “Prof. Martins Filho” pesquisou o talude continental da ZEE, entre 50 e
850 m de profundidade, de março de 1997 a abril de 2001 (Rocha et al. 2001). Em 10 cruzeiros
foram efetuados 49 lances, totalizando 40.856 anzóis que capturaram 2.297 peixes, incluindo pelo
menos 29 espécies de teleósteos e 22 de elasmobrânquios. O tempo médio de imersão foi de 13
horas. O rendimento médio foi de 56,2 exemplares/1.000 anzóis e 271,2 kg/1.000 anzóis, para
teleósteos e elasmobrânquios, respectivamente, com um peso médio de 4,82 kg. Os peixes
cartilaginosos foram mais abundantes, tanto em número quanto em peso, com os gêneros Squalus
e Carcharhinus e o tubarão boca-de-velho (Mustelus canis), em conjunto, somando 50,7% dos
peixes capturados. Entre os peixes ósseos, destacaram-se a cioba (Lutjanus analis), entre 50 e 100
m de profundidade; o pargo (L. purpureus), entre 100 e 150 m, o pargo olho-de-vidro (L. vivanus),
entre 150 e 200 m; o cherne e o batata a profundidades maiores; estas espécies em conjunto
representaram 30,6% da captura em número. Em relação aos elasmobrânquios, os tubarões
(Carcharhinus spp.) foram muito mais abundantes, entre 50 e 150 m; Mustelus canis, entre 100 e
350 m; e os tubarões do gênero Squalus, entre 200 e 450 m. A cioba foi mais abundante entre o
Cabo Calcanhar e Salvador; os pargos se distribuíram uniformemente; Mustelus canis foi mais
abundante nos bancos; e os Squalus, ao longo do talude continental. Em relação às iscas, cioba e
pargo preferiram sardinha, entanto o batata, cherne e cações preferiram a cavalinha.
As prospecções com pargueiras se limitaram às regiões Sudeste-Sul, Central e Nordeste, onde
foram realizados 268 operações de pesca, com o lançamento de 19.059 anzóis (tabela 9).
Na região Sudeste-Sul foram utilizados pargueiras ancoradas com garatéias, com 30 anzóis
circulares Mustad 13/0 de 32 mm de abertura, distantes 2,5 m entre si, que se comportam como
pequenos espinhéis. No total foram lançados 6.892 anzóis sobre fundos irregulares, entre 90 e
1.280 m de profundidade, tendo sido capturados 592 exemplares (Bernardes et al., 2005a) Na
mesma região também foram lançadas pargueiras junto ao cabo principal de aço utilizado na
prospecção de espinhel. Estas pargueiras, com uma bóia num extremo e um “snapper” no outro,
tinham 2 m de comprimento, com 7 anzóis retos número 6, de 18 mm de abertura. No total foram
lançados 4.907 anzóis e capturados 254 peixes. As espécies mais freqüentes na região Sudeste-Sul
foram a abrótea-de-profundidade (Urophycis mystacea), batata (Lopholatilus villarii), cherne-poveiro
Na região Central foram lançadas 4.320 anzóis entre 100 e 1.000 m profundidade, que renderam
uma captura total de 268,6 kg de peixes. As espécies mais capturadas foram o batata, abrótea-de-
profundidade, o cação Squalus cubensis e o cherne. (Fagundes Netto et al., 2005).
Nas regiões onde foram utilizados os mesmos tipos de anzóis (Mustad 13/0) foram capturados,
essencialmente, as mesmas espécies e obtidos rendimentos similares por 100 anzóis lançados. Já as
pargueiras de anzóis pequenos lançadas junto aos espinhéis no Sul, também capturaram as mesmas
espécies, porém com um rendimento e peso médio menores. Algumas espécies importantes na pesca
de fundo de anzol, como o cherne-poveiro e o pargo rosa, ocorrem apenas no sul, outras como o
peixe-batata, a abrótea-de-profundidade, os cações do gênero Squalus e Mustelus e o cherne-
verdadeiro, predominaram em todas as regiões. No nordeste a proporção de elasmobrânquios nas
capturas foi muito maior que nas outras regiões.
O espinhel parece mais adequado em fundos não muito escarpados, já que o barco pode operar com
mais de 4.000 anzóis, o equivalente a mais de 80 pargueiras. Já sobre os fundos escarpados pode
ser mais conveniente o uso de pargueiras, mas este tipo de pesca seria viável apenas sobre altas
densidades de pescado.
Os rendimentos em kg por 1.000 anzóis-hora foram maiores na região Sudeste-Sul, seguidos pelo
Nordeste e pela região Central. Os rendimentos, a predominância de elasmobrânquios e o peso
médio mais elevado no Nordeste podem estar relacionados ao maior tempo de permanência dos
Região Sudeste-Sul
Foram realizados três cruzeiros com o N.Oc. “Atlântico Sul”, entre o Chuí, RS (34°40’S) e o cabo
de São Tomé, RJ (22°S), cobrindo a plataforma externa, o talude e parte da região oceânica. A
navegação teve as isóbatas de 100 e 1.500 m, respectivamente, como limites costeiro e oceânico;
no entanto, nem todos os perfis atingiram esta maior profundidade. Os cruzeiros foram realizados
entre agosto e setembro de 1996 (cruzeiro de inverno); maio e junho de 1997 (cruzeiro de outono);
e novembro e dezembro de 1997 (cruzeiro de primavera/verão). As características ambientais
foram monitoradas a partir de 479 lançamentos de perfilador de condutividade, temperatura e
pressão (CTD).
Tabela 10. Biomassas, em toneladas, estimadas ao longo dos três cruzeiros de prospecção acústica na região Sudeste-
Sul.
Região Central
Uma única campanha foi realizada entre os meses de maio e julho de 1999, com o N.Oc. “Thalassa”,
na região compreendida entre o cabo São Tomé, RJ (22°S) e a foz do rio Real, BA (11°S), (Madureira
et al., 2005b).
A espécie de peixe mais abundante ao longo do cruzeiro foi o baiacú (Diodon holocanthus). As
maiores concentrações foram observadas, com uma única exceção, nas áreas onde ocorreram as
maiores densidades de plâncton. Este peixe tem uma fase de vida pelágica até atingir entre 60 e 90
mm de comprimento total (Leis, 1997). Ao norte do Banco de Abrolhos, os comprimentos mais
freqüentes se situraram entre 70 e 80 mm; e ao sul, situaram entre 95 e 100 mm.
O chicharro oceânico (Decapterus tabl), com distribuição no entorno dos bancos e ao longo da
cadeia Vitória-Trindade, parece manter uma associação com concentrações planctônicas observadas
na borda da plataforma continental, as chamadas “nuvens de borda”. Entre os indivíduos capturados
predominaram aqueles com comprimentos entre 250 e 280 mm. Esta espécie é abundante e deveria
ser melhor investigada com um desenho amostral apropriado, pois, durante a navegação ao redor
dos bancos, foram observados densos cardumes. Considerando o número de bancos existentes, assim
como a sua grande superfície, torna-se importante avaliar a existência de concentrações explotáveis
economicamente. Deve-se considerar, no entanto, a fragilidade intrínseca desses ambientes à atividade
pesqueira.
Região Nordeste
Na região Nordeste, foi realizado um cruzeiro, com o N.Oc. “Atlântico Sul”, planejado de forma a
prospectar áreas pouco profundas sobre as plataformas, os taludes e regiões oceânicas adjacentes
do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, dos Bancos Oceânicos do Ceará, e da região costeira, a
fim de identificar possíveis locais mais produtivos nesses três ambientes (Madureira et al., 2005c)
O aspecto mais marcante da prospecção foi a ausência de cardumes de peixes e/ou lulas em
praticamente toda a área varrida. Os dados acústicos se mostraram principalmente associados a
espécies mesopelágicas forrageiras, ao micronécton e ao megaplâncton. A exceção ficou por conta
de uma ocorrência, em um dos bancos, onde foi localizado um cardume com características de
Decapterus tabl, identificado a partir de propriedades observadas em estudos anteriores
(Madureira,1999). As demais observações acústicas da área prospectada foram dominadas por
“camadas”, que são registros contínuos de agregações de organismos sem uma estrutura definida,
ou seja, sem formar unidades de cardumes. Essas camadas são formadas por um elevado número de
espécies de organismos de pequeno porte.
No que se refere a estimativas de biomassa, a única área que se apresentou adequada à avaliação
foi a do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, para a qual foi estimado o total de 341 t, entre
peixes mesopelágicos planctívoros, peixes pelágicos nectófagos e lulas.
A análise dos cruzeiros de prospecção acústica, realizados entre o Chuí e o Ceará, indica que a
região entre o cabo de São Tomé e o Banco de Abrolhos divide dois grandes ecossistemas contrastantes,
no que se refere às ocorrências e densidades de espécies pelágicas e mesopelágicas. O ecossistema
ao sul dessa região é produtivo, com biomassas elevadas e presença de manchas de altas densidades
de peixes formadores de cardumes. Nesse ambiente, as diferenças sazonais não foram tão evidentes,
provavelmente porque os cruzeiros amostraram a plataforma externa, o talude e a região oceânica,
que, ao contrário da plataforma interna, se caracterizam por uma maior estabilidade temporal. O
ecossistema ao norte de Abrolhos, apresentou biomassas reduzidas, típicas de águas oligotróficas,
tanto ao longo da região Central quanto na costa do Nordeste, nas ilhas ao largo, e nos bancos
oceânicos. Em todos esses locais, as amostras obtidas com CTD mostraram uma forte estratificação
da coluna d´água, caracterizando um ambiente “homogêneo”, que resulta em extensas camadas de
organismos de pequeno porte, que ocorrem em baixas densidades ao longo de dezenas a centenas de
milhas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O panorama aqui exposto, sobre o atual estado de explotação dos recursos pesqueiros marinhos,
mostra a predominância de espécies plenamente explotadas e sobreexplotadas, em todas as regiões.
Também, os levantamentos realizados no contexto do Programa REVIZEE mostraram, claramente,
que o potencial de expansão da pesca sobre novos recursos, presentes na plataforma externa, e
talude, é limitado.
O cenário atual foi provocado, principalmente. pelo excesso de capacidade das frotas, em conseqüência
da quantidade e abrangência das licenças de pesca, que permitiram a uma boa parte das embarcações
atuar sobre uma grande variedade de recursos.
Em algumas pescarias, como as de camarões e peixes demersais, o descarte a bordo tem contribuído
para a queda na produção, visto que, envolve a captura de indivíduos juvenis e imaturos de estoques
já plenamente explotados.
Por outro lado, o excesso do poder de pesca e de práticas inadequadas de explotação derivaram, em
parte, da incapacidade de implementação de medidas de ordenamento pesqueiro e da dificuldade de
manter um sistema contínuo de levantamento e monitoramento de dados estatísticos.
Historicamente, a gestão pesqueira no Brasil teve como eixo o fomento e ainda hoje os planos
governamentais, como o Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e Modernização da
Frota Pesqueira Nacional – Profrota Pesqueira /SEAP (Lei no 10.849, de 23 de março de 2004),
estão baseados em expectativas de explotação sustentável de novos recursos.
No entanto, conforme os diagnósticos apresentados nos capítulos 3,4,5 e 6 deste Relatório Executivo,
constata-se que existem poucas possibilidades para a expansão da pesca marinha e estuarina.
Assim, o futuro da gestão pesqueira terá que, inevitavelmente, compatibilizar os esforços de pesca
com o efetivo potencial sustentável dos estoques disponíveis. Neste sentido, deverá ocorrer uma
drástica alteração no modelo de ordenamento vigente, com a adoção de medidas claras e objetivas
para o acesso aos recursos pesqueiros. Os dados e diagnósticos, aqui apresentados, pretendem
contribuir para essa nova gestão.
INTRODUÇÃO
A costa norte do Brasil é caracterizada por uma alta diversidade e abundância de organismos. Este
fato se explica pela enorme vazão dos rios e estuários, que promovem a fertilização das águas da
plataforma continental. Esta área, denominada de Estuário do Amazonas, estende-se na linha de
costa dos estados do Amapá, Pará e Maranhão, formando um ambiente aquático complexo com
uma alta produtividade biológica, o qual suporta uma biomassa substancial de espécies explotadas
por frotas artesanais e industriais. A região é considerada uma das mais produtivas do País (Sanyo
Tecno Marine, 1998).
A pesca comercial na Amazônia começou partir da década de 50 (Rocha et. al., 1996). Nessa
época, o Governo Federal iniciou uma política de estímulo à pesca com a finalidade de tornar a
atividade mais expressiva na Amazônia. Esta política oficial possibilitou a entrada de novos
investimentos e tecnologias relacionadas à pesca, bem como o aumento da demanda do pescado
pelos centros urbanos (Furtado, 1981). Em 1967, começaram a se instalar na região indústrias
frigoríficas interessadas em comprar a produção de pescado da frota artesanal (Torres et al, 1996).
Mas, foi no início da década de 70, que as modificações tornaram-se mais evidentes, uma vez que
surgiram os barcos de maior porte, com câmaras frigoríficas e, juntamente com eles, as fábricas de
gelo. Toda essa injeção tecnológica foi seguida pelo aumento da demanda urbana na região que,
durante as décadas de 70 e 80, com a construção de rodovias ligando a Amazônia ao resto do país,
ocasionou uma explosão demográfica em cidades como Belém, Santarém e Manaus (Furtado, 1981).
Em termos de prospecção de recursos pesqueiros, a área de estudo recebeu relativamente pouca
atenção antes do Programa REVIZEE. Entre 1957 e 1969, o trabalho mais sistemático foi efetuado
pelo “Oregon”, embarcação americana do “National Marine Fisheries Service”. A maior parte dos
lances foi realizada na parte mais interna da plataforma, até 100 m de profundidade, tendo-se
obtido rendimentos de 30 kg/hora e 14 kg/hora de peixes, respectivamente, entre 0 e 49 m, e 50 a
100 m (Yesaki, 1974). O autor sugeriu que a disponibilidade de peixes demersais na região Norte
seria semelhante àquela existente ao largo das Guianas.
As pesquisas posteriores incluíram: (1) os cruzeiros do N/Pq “Pesquisador IV”, entre 1973 e 1974,
totalizando 122 dias e 147 operações de pesca com espinhel, covos e rede de arrasto na plataforma
continental Maranhense (SUDENE, 1976); (2) o projeto “Terminais Pesqueiros do Nordeste” do
qual poucas informações foram localizadas, realizado em 1974, que incluiu 38 dias de levantamento
hidroacústico com o N/Pq “Lamatra” da FAO e de pesca com espinhel de fundo, linha de mão e
redes de arrasto com os barcos pesqueiros “Augustus” e “Venezuela” (SUDENE, 1974 a, b); e (3)
RECURSOS DE PLATAFORMA
As atividades de amostragem de comprimentos de peixes tiveram seu início em setembro de 1997,
estendendo-se até agosto de 2001. Foram realizados trabalhos diários de identificação, biometria
e coletas de material biológico de peixes ósseos e cartilaginosos capturados na ZEE, junto a colônias
de pescadores da frota artesanal. Os locais de amostragens foram distribuídos ao longo da costa,
nos estados do Pará (Belém, Vigia, São João de Pirabas, e Bragança) e Maranhão (São Luís,
Raposa e Cururupu) (Figura 1). As principais espécies capturadas e consideradas como alvo pelo
Programa foram a serra (Scomberomorus brasiliensis), pescada-gó (Macrodon ancylodon), pescada-
amarela (Cynoscion acoupa), gurijuba (Arius parkeri) e pargo (Lutjanus purpureus).
Tabela 1. Descrição das prospecções efetuadas no âmbito do Programa REVIZEE, na região Norte.
N
Cabo Orange
Cabo Cassiporé
3ºN
Cabo Norte
AMAPÁ
0
Cabo Maguari
Ilha de Marajó
Belém
2ºS
PARÁ
MARANHÃO
51ºW 49ºW 47ºW 45ºW 43ºW 41ºW
Figura 2. Lances de pesca efetuadas com redes de arrasto para camarão na costa Norte do Brasil
2ºN
Cabo
Amapá Norte
0 Cabo Maguari
Ilha de
Marajó
Figura 3. Lances de pesca efetuadas com redes de arrasto para peixes na costa Norte do Brasil
4ºN Cabo
N
Orange
2ºN
Cabo
AMAPÁ Norte
0
Ilha do
Marajó
Belém
2ºS
PARÁ
MARANHÃO
52ºW 50ºW 48ºW 46ºW 44ºW 42ºW 40ºW
Figura 4. Lances de pesca efetuadas com armadilhas para peixes na costa Norte do Brasil
A rede para arrasto de camarão apresentava as mesmas dimensões e padrões das redes utilizadas
pela pesca comercial para a captura do camarão-rosa (Farfantepenaeus subtilis) na região. A área
de atuação variou entre 25 a 639 m, destacando-se como a mais produtiva aquela com profundidade
inferior a 70 m. Entre as espécies mais capturadas nos cruzeiros de prospecção com rede de arrasto
para camarão destacou-se, para os crustáceos, o camarão rosa, e para os peixes, a pescada gó e a
raia-bicuda (Dasyatis guttata) (Figura 5) (Asano-Filho et al., 2004a).
Rhomboplites aurorubens
Lutjanus analis
Carcharhinus porosus
Upeneus parvus
Lutjanus purpureus
Scomberomorus brasiliensis
Arius grandicassis
Ctenosciaena gracilicirrhus
Lutjanus synagris
Parasudis truculenta
Dasyatis guttata
Macrodon ancylodon
0 5 10 15 20
Rhomboplitess
aurorubens
Cynoscion
acoupa
Arius parkeri
Macrodon
ancylodon
Upeneus parvus
Arius grandicassis
Dasyatis guttata
0 10 20 30 40
Figura 6. Principais espécies capturadas (% em peso) pela rede de arrasto para peixes.
Tabela 2. Dimensões das redes de arrasto para camarão e peixes utilizadas na região Norte.
As armadilhas para crustáceos foram planejadas e confeccionadas obedecendo aos padrões definidos
pelo programa REVIZEE, para permitir uma padronização dos resultados entre as regiões. As
armadilhas eram dispostas na água sob a forma de espinhel, que possuía um cabo de bóia de
polipropileno de diâmetro de 14 mm, linha madre do mesmo material, com 14 mm de diâmetro, e
os covos distantes 10 m entre si (Figura 7). As armadilhas tinham forma cônica, com 1 m de
diâmetro na base e 50 cm de altura com abertura superior da boca de 30 cm. Destacou-se, entre os
crustáceos, o isópode sem importância comercial (Bathynomus sp.) e, entre os peixes, o pargo e o
pargo piranga (Rhomboplites aurorubens) (Silva Júnior et al., 2004).
As diferenças entre a serra capturada nas costas nordeste e norte do Brasil referem-se principalmente
ao padrão de pesca. Os indivíduos capturados na primeira são de menor porte que os capturados
nessa última. Isso se deve ao fato de que as redes utilizadas na região Norte possuem malhas
maiores que as utilizadas no Nordeste (entre 35 e 50 mm). A biomassa estimada para a costa
paraense é quase 10 vezes superior à avaliada para a costa nordeste. No entanto, para ambas as
regiões, supõe-se que a pescaria da serra esteja em seu limite máximo de explotação.
Demersais de plataforma
3
Captura Por Unidade de Área – calculada apenas para os lances positivos, isto é, com ocorrência da espécie.
Conclusões e recomendações
A maioria dos recursos da plataforma (demersais e pelágicos) atingiu seu limite máximo de
explotação. Isto foi evidente para o pargo, pescada gó (exceto no Maranhão), pescada amarela,
gurijuba e serra. Considerando os dados de desembarque para o Pará, têm-se registros de decréscimo
nas capturas para os estoques da serra, pescada gó e gurijuba (Figura 8). A captura do pargo se
manteve estável, entretanto sabe-se que o número de embarcações provenientes do Nordeste vem
crescendo enormemente na área. A captura da pescada amarela mostra uma tendência ascendente
para os últimos anos, com uma leve tendência decrescente para o ano de 2003. Na costa norte, o
número de embarcações aumentou significativamente em virtude dos recursos provenientes do Fundo
Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), repassados pelo Banco da Amazônia (BASA)
que, desde 1997, disponibiliza financiamento para embarcações de pequeno e médio porte e
equipamentos de pesca para pescadores artesanais. Essas embarcações foram principalmente
direcionadas para a pescada amarela, devido ao elevado preço de comercialização de sua carne e
subprodutos. Entretanto, considerado o aumento do esforço, a situação do estoque no limite máximo
de explotação e a captura de juvenis (nas áreas estuarinas), torna-se evidente que o aumento do
esforço direcionado para a pescada amarela pode ocasionar, em um futuro próximo, o colapso da
pescaria.
Com exceção do pargo e da gurijuba, não há nenhuma medida de manejo em vigência para esses
estoques. Em relação ao pargo, a IN MMA nº 28/2005, determina um tamanho mínimo de
desembarque inferior ao tamanho de primeira maturidade, o que pode acarretar a captura elevada
de juvenis e, a médio prazo, comprometer a sustentabilidade do estoque. Em relação à gurijuba, a
medida em vigor visa proteger o estoque desovante da espécie, porém apenas no estado do Amapá.
Em relação à gurijuba e à pescada amarela não se têm informações acerca dos parâmetros
reprodutivos (tamanho de primeira maturidade e época de desova), inviabilizando medidas de manejo
relacionadas ao limite de comprimento ou interdição de épocas de pesca. Em relação à serra, há
informações sobre os parâmetros reprodutivos, entretanto, como a espécie apresenta desova
prolongada, torna-se pouco viável, sob o ponto de vista socioeconômico, a proibição da pesca em
épocas definidas. Não há, na legislação vigente, restrições quanto ao emprego de aparelhos de
pesca, para nenhuma das espécies. Atualmente, a pesca com redes de emalhar, direcionada para a
serra e pescada amarela, registra apenas 17 e 40%, respectivamente, de fauna acompanhante e
captura principalmente indivíduos maduros (Matos, 2004; Silva, 2004). Sendo assim, como medida
de manejo, as malhas utilizadas atualmente (100 e 180 mm, respectivament,e para a serra e
pescada amarela) devem ser mantidas, evitando qualquer redução e a conseqüente captura de um
7000
6000
5000
Captura
4000
3000
2000
1000
Arraia
Cambéua
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Cioba
Tubarão
Ano Fonte: Brito et al. (1998, 1999, 2000, 2001,
2002, 2003); www.ibama.gov.br.
Outros recursos da plataforma parecem ter potencial na região, porém ainda não são explotados de
forma direcionada na costa norte (alguns não são nem mesmo discriminados nas estatísticas).
Dentre estes recursos, estão o ariocó, cabeçudo, goete, trilha e cambéua, abundantes na plataforma
norte, tendo sido mais freqüentemente capturados com arrastos demersais. Dentre estes, apenas a
cambéua consta nas estatísticas oficiais (Figura 9). O ariocó, além de ser abundante, tem um
elevado valor comercial na região Nordeste, para onde sua produção pode ser direcionada. Entretanto,
para todas essas espécies eventualmente potenciais, deve-se considerar que, as informações sobre a
biologia e status de explotação ainda são insuficientes para que se possa determinar seus rendimentos
sustentáveis. Adicionalmente, por ocorrerem na plataforma, sua captura por redes de arrasto podem
acarretar um elevado percentual de captura incidental, para outras espécies cujos estoques já se
encontram comprometidos (como por exemplo, o pargo). Qualquer iniciativa de desenvolvimento
dessas pescarias deve partir da confirmação desse potencial, de estudos populacionais e de viabilidade
técnica e econômica, quanto à utilização de artes mais seletivas.
GRANDES PELÁGICOS
O Projeto PROTUNA, abrangendo os estado do Amapá, Pará e Maranhão, constituiu-se na principal
fonte de dados para os grandes pelágicos. Durante os cruzeiros, foram utilizados espinhéis pelágicos
derivantes com uma média de 1.240 anzóis por lance (Figura 10a). O espinhel possuía linha principal
(“madre”) confeccionada em poliamida monofilamento de 4 mm de diâmetro e comprimento total
de 92.600 m. Os “samburás”4 possuíam entre 4 e 7 linhas secundárias, com espaçamentos entre si
4
Subdivisão da linha principal, entre duas bóias, a qual são fixadas as linhas secundárias.
Carcharhinus falciformis
Prionace glauca
Tetrapturus albidus
Thunnus alalunga
Carcharhinus maou
Makaira nigricans
Istiophorus albicans
Thunnus obesus
Thunnus albacares
Xiphias gladius
0 10 20 30 40 50
Figura 10. (a) Espinhel pelágico e (b) as principais espécies capturadas (% em peso).
4ºN
2ºN
AMAPÁ
AMAPÁ
0 Ilhadode
Ilha
Marajó
Marajó
2ºS
PARÁ
PARÁ
MARANHÃO
MARANHÃO
52ºW 50ºW 48ºW 46ºW 44ºW 42ºW 40ºW 38ºW 36ºW 34ºW 32ºW 30ºW 28ºW
Figura 11. Lances de pesca efetuadas com espinhel pelágico na costa norte do Brasil.
5
O comprimento tomado entre a mandíbula inferior e a furca é adotado para diversas espécies de atuns e espécies afins.
Para as espécies em que outras medidas são utilizadas, há indicação explícita no texto.
Conclusões e recomendações
Na região Norte, a pesca de atuns e afins com espinhel pelágico teve início no ano de 2000 com a
entrada de duas embarcações sediadas no município de Curuçá (PA). Essas embarcações estiveram
em atividade durante não mais de 1 ano, tendo interrompido sua operação por motivos administrativos
(Asano-Filho et al., 2004c). As capturas de atuns, agulhões e dourado são pequenas, com uma
média de 340 ton entre 2001 e 2004 (Figura 12). As capturas registradas do espadarte são, em
média, inferiores a 40 t. Nos outros estados da costa norte não são registrados desembarques para
essas espécies.
Entretanto, a produtividade de atuns e afins parece ser promissora, uma vez que a abundância
média desse grupo (em kg/100 anzóis), obtidas por embarcações atuantes na região entre 2000 e
2002, variou entre 83,81 e 196,31 kg/100 anzóis. Esse valor foi compatível ao rendimento médio
obtido na costa central, que variou de 109kg/100 anzóis (inverno) a 196,2 kg/100 anzóis (verão)
no talude continental (Olavo et al., 2005) e bastante próximos aos rendimentos obtidos por
embarcações da frota arrendada que usam espinhel de monofilamento no Nordeste do Brasil (161,3
kg/100 anzóis) (Hazin et al., 2001b; Hazin & Hazin, 1999). Considerando as principais espécies
capturadas na costa norte, destaca-se a abundância do espadarte e da albacora-laje, com CPUE
média de 1,75 e 0,50 ind/100 anzóis, respectivamente, índices superiores aos obtidos para a costa
nordeste do Brasil com 0,95 e 0,22 ind/100 anzóis respectivamente (utilizando espinhel
monofilamento e “ligth-stick”) (Hazin, com. pess.). A região norte também registra uma abundância
média para o espadarte e albacora-laje (média de 54,18 e 28,68 kg/100 anzóis, respectivamente),
superior à obtida para a costa central: 19,1 no inverno a 66,8 kg/100 anzóis no verão, para o
espadarte, e 1,7 e 3,3 kg/100 anzóis, no verão e inverno, respectivamente, para a albacora-laje
(Olavo et al., 2005).
O manejo dos grandes pelágicos é efetuado de acordo com as normas da ICCAT. Para os tubarões
não há nenhum tipo de regulamentação específica para as espécies citadas (tubarão azul, estrangeiro
e lombo preto). Essas espécies, entretanto, podem se constituir em fauna acompanhante de pescarias
direcionadas principalmente para o espadarte, mas, eventualmente podem se tornar alvos de pescarias,
com contribuição de até 90% do total, como é o caso do tubarão toninha em área dos bancos
oceânicos raso na cadeia norte (Santana et al. 2004). São espécies também altamente vulneráveis
à sobrepesca (maturidade tardia e baixa fecundidade) e são consideradas como em risco de declínio
pela SBEEL (2005). Merece especial cuidado o tubarão estrangeiro para o qual há evidências
sobre a intensa captura de juvenis no Brasil (Amorim et al., 1998; Lessa et al., 1999c; Asano-Filho
et al., 2004b) e sobre declínio populacional no Atlântico (EUA e Golfo do México) (Baum et al.
2003; Baum & Myers 2004).
200
180
160
140
120
Captura
100
80
60
40
Agulhões
20
Atuns
Dourado
0
2001 2001 2002 2002 2003 2003 2004 2004 2005
Fonte: Serviço de Inspeção Federal-SIF /
Ano Ministério da Agricultura
Figura 12. Desembarque anual (em t) de atuns, agulhões e dourado na região Norte
Qualquer iniciativa de desenvolvimento da pescaria de atuns e afins na região Norte deve ser avaliada
com cautela, de forma a reduzir a captura de espécies acompanhantes cujos estoques possam estar
atualmente comprometidos, como por exemplo, algumas espécies de tubarões oceânicos.
Adicionalmente, iniciativas como estas devem estar em consonância com a política nacional para
ampliação das cotas de pesca estabelecidas pela ICCAT e com a política de conservação dos recursos,
obedecendo aos limites de captura definidas por aquela Comissão.
Outros
Parasudis
truculenta
B
Acanthephyra
eximia
Chaceon
Aristeus
antillensis
Aristaeopsis
edwardsiana
Figura 13. Principais espécies capturadas pelas redes de arrasto 1 (a) e rede de arrasto 2 (b) – ver texto para
detalhes.
4ºN Cabo
Cassiporé
Ilha de
Maracá
2ºN Cabo
AMAPÁ Norte
Cabo Maguari
0
Ilha de
Marajó
Belém
2ºS PARÁ
Conclusões e recomendações
A pesca em grandes profundidades na costa norte do Brasil, realizada por explorações do projeto
PRODEMERSAL, teve um importante papel para o conhecimento de novos recursos e pode contribuir
para o desenvolvimento do setor pesqueiro regional. Novas perspectivas em termos de espécies-alvo
poderão contribuir para reduzir o esforço atual sobre os recursos sobreexplotados e levar a um
aumento da produção de pescado. Contudo, tratam-se de recursos extremamente sensíveis à
explotação pesqueira, exigindo o controle do esforço de pesca para evitar sua rápida exaustão.
Deve-se considerar, também, no que se refere a transferências (importação) de tecnologias voltadas
para a explotação de novos recursos, a necessidade de respeitar e levar em consideração os diferentes
parâmetros ambientais, oceanográficos e topográficos de cada área, região e país, uma vez que
estes fatores têm forte influência no sucesso ou fracasso da atividade pesqueira, apesar da existência
e abundância do recurso. Tecnologias utilizadas com sucesso em outras áreas, devido às diferenças
de correntes, marés e outros fatores, podem não ser tão efetivas quando utilizadas para a pesca de
um mesmo recurso, em pesqueiros com características oceanográficas distintas.
Mesmo para as espécies consideradas promissoras para a costa norte, como o camarão-carabineiro,
camarão-alistado e o camurim-do-olho-verde, entre outros, os investimentos, sejam privados ou
governamentais, deverão ser criteriosamente avaliados, planejados e embasados tecnicamente. Deve-
se também levar em consideração as experiências anteriores e a utilização de embarcações e
equipamentos adequados, o que evitará erros ou falhas técnicas que, na maioria das vezes, inviabilizam
o investimento. Adicionalmente, qualquer iniciativa de desenvolvimento dessas pescarias dependerá
da confirmação dos potenciais e de estudos populacionais que garantam a sustentabilidade dos
recursos, além do desenvolvimento de tecnologias de pesca que possam apresentar-se como mais
adequadas, eficientes e seletivas para a sua captura.
REFERÊNCIAS
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Elasmobrânquios na costa do Maranhão. Relatório de Atividades.Programa REVIZEE. 75 p.
AMORIM, A. F.; ARFELLI, C. A. & FAGUNDES, L. 1998. Pelagic elasmobranchs caught by
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Estuarina do Estado do Pará – 2001 / CEPNOR/IBAMA 56p. 2002.
(continua)
1
Estoques compartilhados com outras regiões do país e outros países. Avaliação e manejo sob a jurisdição da ICCAT.
2
Baseado no plano nacional de ação para a conservação e o manejo dos estoques de peixes elasmobrânquios no Brasil (Regiões Norte e
Nordeste)
3
Status do estoque baseado em modelos preditivo de avaliação (Modelo de Beverton e Holt e Modelo de Thompson e Bell).
4
desembarque considerando um grupo diverso de espécies (costeiros e oceânicos); – sem informação.
* Presença de indivíduos com gônada madura ou embriões.
** Presença de juvenis na área.
*** Desembarque médio – Atuns, agulhões e espadarte – dados coletados no Ministério da Agricultura (Pará) entre os anos de 2000 a
2004; Outras espécies – dados coletados através de Brito et al., (1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003) e www.ibama.gov.br (Pará –
anos de 1997 a 2003; Amapá e Maranhão – 2003).
INTRODUÇÃO
A região Nordeste da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Brasil foi convencionalmente limitada
pela foz do rio Parnaíba (PI), a noroeste, e pela baía de Todos os Santos (BA), ao sul (Figura 1). A
região abriga biotas tropicais que se caracterizam por apresentar estoques pesqueiros de baixa
densidade com alta diversidade de espécies (REVIZEE, 1995). A cadeia produtiva pesqueira na
ZEE-Nordeste, de um modo geral, apresenta predominância da pesca artesanal sobre a industrial;
disponibilidade de espécies de valor comercial elevado; descentralização dos desembarques; emprego
de tecnologia pouco desenvolvida e carência de infra-estrutura, da produção à comercialização.
PROSPECÇÕES PRETÉRITAS
No Nordeste, as atividades de prospecção de recursos pesqueiros iniciaram-se com a criação da
Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). A primeira campanha foi
realizada pelo NPq. “Akaroa”, em 1965, que prospectou a plataforma continental de Alagoas e
Sergipe. Em 1965 e 1966, ainda por iniciativa daquela instituição, o NPq. “Canopus” executou
prospecções à procura de pargo jovem (Lutjanus purpureus) ao longo da plataforma continental e
nos montes submersos da Cadeia Norte do Brasil, tendo efetuado oito viagens com o emprego de
linha de mão. A SUDENE realizou, também, pesquisas com pequenos barcos adaptados, como o
“Serro Azul” (1966 e 1967), que efetivou 12 viagens com o uso redes de emalhar, e “Ilha de
Itamaracá I” (1968 a 1978), que realizou 13 viagens com redes de emalhar e atração luminosa
(Barros e Oliveira, 1997). No entanto, apenas em 1971 foi construída a primeira embarcação para
pesquisas pesqueiras na região – o NPq. “Pesquisador IV”, que empreendeu 59 viagens, com o
emprego de espinhel de fundo e corrico, entre 1971 e 1978. Em 1974, teve início o “Estudo de
Viabilidade Técnica e Econômica para Implantação de Terminais Pesqueiros no Nordeste”, de
maior alcance, implementado para identificar recursos explotáveis, além de realizar pesquisas
diretas de prospecção. As atividades foram executadas em nove viagens dos barcos “Augustus”,
com emprego de espinhel e linha de fundo, e “Venezuela”, que utilizou espinhel, redes de emalhar
e linha de fundo, também em nove viagens.
PROSPECÇÕES DO REVIZEE
As prospecções de recursos pesqueiros realizadas na área de estudo da ZEE-Nordeste, pelo Programa,
incluíram o NPq. “Natureza” e “Riobaldo” (CEPENE/IBAMA), o NPq. “Prof. Martins Filho”
(LABOMAR/UFC), o BPq. “Sinuelo” (UFRPE), e o NOc. “Atlantico Sul” (FURG).
O NPq. “Natureza”, entre 1997 e 2000, realizou 20 cruzeiros, totalizando 113 dias de pesca com
armadilhas (covos), para a captura de recursos demersais, em profundidades de 56 a 850 m, com o
emprego de 2.248 armadilhas de três diferentes dimensões. Capturou 14.061 exemplares de
crustáceos, 1.118 de peixes, 208 de moluscos e 41 de equinodermos entre o talude continental
superior de Salvador ao rio Parnaíba e os bancos oceânicos de Ceará e Rio Grande do Norte. Para
o levantamento dos recursos demersais, foram empregados três tipos de armadilhas, sendo duas
retangulares, grande (2,00 x 0,90 m) e pequena (1,20 x 0,60 m), e outra cônica (1,00 x 0,60 m).
A estrutura das armadilhas era de ferro galvanizado, sendo a tela confeccionada em poliamida
210/36, com malha de 25 mm, entre nós. No ano 2000, com vistas a possibilitar uma maior
captura de camarões, a malha foi reduzida para 13 mm (Cabral et al. 2001).
De março de 1997 a abril de 2001, o NPq. “Prof. Martins Filho” realizou 10 cruzeiros de pesca,
efetuando 49 lances com espinhel de fundo, totalizando 40.856 anzóis. Capturou-se 2.297 peixes
pertencentes a 26 famílias – 13 de peixes ósseos (29 espécies) e 13 de peixes cartilaginosos (22
espécies), entre 50 e 850 m de profundidade (Rocha et al. 2001). O rendimento médio foi de 56,2
exemplares/1.000 anzóis e 271,3 kg/1.000 anzóis e o peso médio de 4,82 kg. Os peixes cartilaginosos
em conjunto perfizeram 50,7%, dos peixes capturados. Entre os peixes ósseos, destacaram-se as
ciobas (Lutjanus analis), entre 50 e 100 m de profundidade; o pargo (L. purpureus), o pargo-olho-
de-vidro (L. vivanus), o cherne (Epinephelus niveatus) e o batata (Lopholatilus villarii) que em
conjunto representaram 30,6%, da captura em número.
O BPq. “Sinuelo” realizou, entre julho e agosto de 2002, quatro cruzeiros com o emprego de
espinhel de fundo vertical. A prospecção totalizou 84 lances, nos quais empregou-se um esforço de
2.940 anzóis, capturando 95 exemplares pertencentes a 15 espécies, resultando em uma captura
por unidade de esforço-CPUE total de 3,23 ind./100 anzóis. A área de prospecção limitou-se à
região entre as coordenadas 07º30’S e 08º12’S de latitude e 034º25’W e 034º35’W de longitude,
no talude continental, em frente ao Estado de Pernambuco.
A mesma embarcação realizou 44 lances noturnos, entre setembro de 1999 e maio de 2001, utilizando
um espinhel pelágico de monofilamento, entre 7º e 9ºS de latitude, do início do talude até 90 km da
costa. Durante todas as operações de pesca foram utilizados atratores luminosos. Foram capturados
392 exemplares pertencentes a 24 espécies; o espadarte foi a espécie mais capturada, correspondendo
Tabela 1. Prospecções efetuadas entre 1992 e 2002, no âmbito do Programa REVIZEE na região Nordeste pelos NPq.
“Riobaldo”, BPq. “Sinuelo”, NPq. “Natureza” e NPq. “Prof. Martins Filho”.
AMOSTRAGENS DO REVIZEE
Amostragens biológicas e de comprimento foram realizadas diariamente, entre 1998 e 2000,
abrangendo 15 localidades, distribuídas por 6 estados da região (Figura 2) e totalizando 2.998
desembarques. Amostragens da frota industrial, direcionadas aos grandes peixes pelágicos entre
1996 e 2001, desenvolveram-se em empresas sediadas em Natal (RN) e amostragens biológicas
semanais foram realizadas em mercados e entrepostos, entre 1998 e 2001.
Segue, abaixo, um sumário das principais pescarias realizadas e das espécies relevantes capturadas.
Estas informações estão relacionadas com a pesca, o estado de explotação e as principais medidas
de manejo em vigência para os recursos selecionados, de acordo com a seguinte classificação: (a)
peixes recifais, (b) pequenos peixes pelágicos, (c) grandes peixes pelágicos e (d) outros recursos
demersais.
1000m
4ºS 15
Rio
Parnaíba 14
13
6ºS Ceará
12
Rio Grande 11
do Norte
Piauí 10
8ºS Paraíba
9
8
Pernambuco 7
6
45
3
10ºS Alagoas 2
Bahia Sergipe
12ºS
1
Baía de Todos
os Santos
14ºS
42ºW 40ºW 38ºW 36ºW 34ºW 32ºW
Figura 2. Localidades de amostragem: (1) Arembepe; (2) Maceió; (3) São José da Coroa Grande; (4) Tamandaré;
(5) Porto de Galinhas; (6) Candeias; (7) Recife; (8) Pau Amarelo; (9) Ilha de Itamaracá e Ponta de Pedras;
(10) Baía Formosa; (11) Natal; (12) Caiçara do Norte; (13) Caponga; (14) Fortaleza, e (15) Camocim.
PEIXES RECIFAIS
Uma biomassa anual de 5.889 t de L. analis foi estimada para o período de 1996 a 2000 com uma
taxa de explotação máxima de 0,63. A atual taxa de explotação (Eatual = 0,68) é 20% superior à
taxa ótima, indicando que o estoque se encontra sobreexplotado na ZEE-Nordeste do Brasil (Ferreira
et al., 2004a). A espécie consta como “sobreexplotada” na Instrução Normativa nº 05 (MMA, 21/
05/2004, revisada pela CONABIO, 19/08/2005), o que exigiria a implementação de medidas de
manejo. A cioba foi uma das cinco espécies mais abundantes nas capturas com espinhel de fundo a
bordo do NPq. “Prof. Martins Filho”, apresentando CPUE máxima de 0,48 indiv./1.000 anzóis
(Rocha et al., 2001).
Conclusões e Recomendações
A maioria dos estoques de peixes recifais avaliados encontra-se plenamente explotado ou
sobreexplotado. Algumas dessas espécies foram incluídas na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas,
na IN MMA nº 05, requerendo, portanto, medidas de manejo adequadas, que não existem até o
momento. A tendência atual para o grupo é que devam ser manejados conservativamente, de forma
a serem evitadas situações de sobrepesca e colapso dos estoques. Essa recomendação leva em conta
que a maioria das espécies desse grupo apresenta crescimento lento e longevidade alta podendo ter
associação com hábitat fragmentado, ou seja, vivendo em pequenos grupos (em baixas
abundâncias) que se isolaram ao longo do tempo, devido à atividade pesqueira e que não possuem
interações entre si, o que as torna espécies ainda mais vulneráveis.
Medidas de manejo como áreas protegidas, proteção a agregações reprodutivas e estabelecimento
de cotas têm sido indicadas para o grupo em nível mundial, principalmente para Lutjanídeos (família
Lutjianidae). Há experiências positivas do sucesso de áreas protegidas no Brasil como instrumento
eficaz para proteção de estoques de peixes dessa família, citando-se a APA Marinha Costa dos
Corais, litoral de Pernambuco e Alagoas (Ferreira et al., 2004).
Quanto à sapuruna (Haemulon aurolineatum), recomenda-se cautela na interpretação dos resultados
que indicam que o estoque está subexplotado devido à sua estratégia biológica complexa que inclui
crescimento lento, maturação tardia e desova parcelada intermitente. Essas características dificultam
a execução de medidas de manejo, caso venham a ser necessárias, em decorrência da ampliação do
esforço de pesca pela frota dirigida ao saramunete, onde a sapuruna é a segunda espécie mais
abundante. Ademais, as avaliações de estoques para o recurso não puderam ser realizadas, pois, os
dados eram restritos a Pernambuco à época da realização do presente estudo. Hoje já há informação
mais abrangente disponível devido à ampliação da área de atuação da frota que captura o saramunete
para outros estados da região. Recomenda-se, assim, que o monitoramento dessa explotação seja
mantido, incluindo toda a área de atuação da frota.
Da mesma forma para o saramunete (Pseudupeneus maculatus) avaliado a partir de dados coletados
até o ano 2000, recomenda-se monitoramento das capturas que atualmente incluem outras áreas,
além de Pernambuco, decorrente da ampliação da atuação da frota. Essa espécie apresenta
distribuição ontogenética no gradiente de profundidade (os indivíduos jovens nas áreas rasas e os
mais velhos em áreas de maior profundidade), e tem capturas com alta participação de jovens que
2
Os indivíduos ao nascer possuem ovário que, após alguns ciclos reprodutivos, transforma-se em testículo; esta é a
estratégia adotada, por exemplo, para o cherne e o sirigado (Zavala-Camin, 2004).
PEQUENOS PELÁGICOS
Recursos pesqueiros de explotação tradicional no Nordeste estão incluídos nesse grupo. Dentre
eles, os mais importantes do ponto de vista econômico são a serra (Scomberomorus brasiliensis) e
a cavala (S. cavalla), bem como algumas espécies acompanhantes na explotação de emalhe e linha
de mão, ao longo de toda a região. Também, o peixe-voador-de-quatro-asas (Hirundichthys affinis),
outro recurso tradicionalmente explotado na região, apresenta notável valor social e econômico.
Conclusões e Recomendaçoes
Importantes recursos pesqueiros, os pequenos pelágicos estão, com poucas exceções, plenamente
explotados ou sobreexplotados. Nesse contexto se situa a pesca da serra (Scomberomorus brasiliensis)
capturada com rede de emalhar de deriva na região. A redução no tamanho das malhas no Ceará,
GRANDES PELÁGICOS
No presente estudo a principal fonte de dados para o grupo foram as prospecções do NPq. “Riobaldo”
que utilizou, entre 1992 e 2000, espinhel pelágico tipo tradicional japonês (multifilamento) e as
amostragens dos desembarques das frotas atuneiras, nacional e arrendada, realizadas em Natal
(RN) que empregaram espinhel pelágico (monofilamento). Utilizaram-se, ainda, dados coletados
pelo Programa Arquipélago (PROARQUIPELAGO) com atuação no Arquipélago de São Pedro e
São Paulo, entre 1998 e 2001.
Em 2002, a frota nacional foi responsável por 66% da captura total da espécie (Hazin et al.,
2004). As maiores capturas na ZEE Nordeste ocorreram entre 0º e 10ºS, apresentando tendência
crescente em águas afastadas e mais abundante nos meses de abril a maio, em temperaturas entre
25º e 26ºC (Hazin et al., 2004). Em levantamento com espinhel pelágico realizado na ZEE Nordeste,
entre 1992 e 2000, foram capturados 61 exemplares que representaram 3,3% da captura total,
com CPUE de 0,06 indiv./100 anzóis; enquanto nas prospecções com espinhel pelágico monofilamento,
a bordo do NPq. “Sinuelo”, o espadarte foi a espécie mais abundante, com 38% das espécies
capturadas, além de ter apresentado a maior CPUE, de 0,95 indiv./100 anzóis (Hazin et al., 2001).
T. albacares apresentou maior abundância relativa no domínio oceânico em frente à costa setentrional
da região da ZEE-Nordeste, durante as prospecções com espinhel pelágico multifilamento do NPq.
“Riobaldo”. Nessas prospecções, foi registrada, para a espécie, uma CPUE média de 0,25 indiv./
100 anzóis (Vasconcelos et al., 2001). Nas prospecções do NPq. “Sinuelo”, a albacora-laje foi a
quarta espécie mais abundante nas capturas, representando 9% do total capturado e apresentando
uma CPUE de 0,22 indiv./100 anzóis (Hazin et al., 2001). Os indivíduos maturam com 3,4 anos
encontrando-se nas capturas indivíduos de até 6,5 anos (191 cm CF) (Lessa e Duarte-Neto, 2004).
Para o período de 1996 a 2000, foi estimado um rendimento anual de 33 t sobre uma biomassa
total de 104 t, para T. atlanticus no Nordeste. Assim, cerca de 31,7% da biomassa é capturada
anualmente. O nível de explotação atual, considerando apenas a pescaria artesanal, se encontra
abaixo do máximo sustentável (E = 0,80), havendo possibilidade de expansão dessa pescaria.
Outro fator que deve ser considerado é a expansão da pesca recreativa oceânica, resultando em
maiores capturas de albacorinha (Freire e Lessa, 2004).
T. atlanticus foi a espécie mais abundante nas prospecções com espinhel pelágico monofilamento do
BPq. “Sinuelo”, apresentando uma CPUE média de 0,32 indiv./100 anzóis e representando 56,2%
dos atuns capturados, que por sua vez perfizeram a segunda maior participação naquelas prospecções,
com 22,7% (Hazin et al., 2001).
Não existem informações sobre unidades de estoques no Atlântico, entretanto sugere-se que as
capturas obtidas da costa Norte do Brasil (incluindo até a costa do Rio Grande do Norte) sejam
parte do mesmo estoque explotado no leste do Caribe (Oxenford 1999; Oxenford e Hunte, 1986).
Estimou-se uma biomassa média anual de 4.220,8 toneladas, para um rendimento de 1.225,7
Nas prospecções com espinhel pelágico multifilamento do NPq. “Riobaldo”, C. hippurus apresentou
a maior abundância relativa registrando-se uma CPUE média de aproximadamente, 0,39 indiv./
100 anzóis (Vasconcelos et al., 2001). Nas prospecções do BPq. “Sinuelo” foi a quinta espécie
capturada (24 indivíduos), resultando na CPUE de 0.15 indiv./100 anzóis (Hazin et al., 2001).
Conclusões e Recomendações
O crescimento da frota espinheleira dirigida aos atuns e espadarte, na última década, teve como
conseqüência o aumento das capturas de elasmobrânquios, cujos volumes são desconhecidos, em
função dos descartes. Isso vale dizer que os desembarques não correspondem às capturas para esse
grupo, o que impede o conhecimento dos níveis de explotação a que estão submetidas as espécies.
Há, entretanto, registros de que representam 54-60% das capturas (Hazin et al., 1998) e em certas
áreas até 90% das capturas na pesca dirigida a espécies desse grupo (Santana et al., 2004c). O
Brasil tornou-se um dos seis maiores exportadores de barbatanas de tubarões para o mercado
asiático (Clarke, com. pess.), coincidindo na última década com o crescimento da frota espinheleira.
A prática do descarte com a retenção das barbatanas contraria a Portaria 121 do IBAMA, de 24 de
agosto de 1998, que proíbe o desembarque de barbatanas desacompanhadas das carcaças em volume
superior a 5% do peso total das carcaças.
A situação dos estoques do tubarão estrangeiro (Carcharhinus longimanus), cação-toninha
(Carcharhinus signatus) e o cação-azul (Prionace glauca) é discutida em detalhe no capítulo 2, que
trata mais diretamente dos grandes pelágicos migratórios e estoques transfronteiros.
Com relação ao dourado, recomenda-se a realização de estudos voltados à identificação das unidades
de estoques a fim de promover o manejo compartilhado, considerando que essa espécie é explotada
por vários países ao longo de sua área de distribuição. Em uma primeira abordagem, Duarte-Neto
(2005), utilizando a morfometria do otólito sagitta, aponta evidências para duas unidades de estoque
na região Nordeste. Portanto, as reduções de biomassa indicadas pelas avaliações do presente
estudo são consideradas como resultado da explotação que a população sofre ao longo dessa área,
o que leva a níveis altos de mortalidade, mas sem o conhecimento do real esforço aplicado a este
recurso. Esta situação também é verdade para os estoques da albacorinha (T. atlanticus),
supostamente compartilhado com o Caribe.
Nas prospecções realizadas pelo BPq. “Sinuelo”, utilizando o espinhel de fundo vertical, foi capturado
um pequeno número de exemplares (9) do batata, obtendo-se uma CPUE de 0,31 indv./100 anzóis.
Para estudos de reprodução, foram coletados 206 indivíduos, sendo 169 fêmeas e 37 machos,
provenientes das capturas dos NPq. “Natureza”, “Prof. Martins Filho” e BPq. “Sinuelo”. A área
de atuação dos barcos se localizou entre as latitudes de 00º e 15ºS e longitudes de 030º e 045ºW.
A fecundidade uterina apresentou média de 7 embriões por fêmea. O processo de maturação sexual
se inicia em torno de 76 cm para as fêmeas e de 60 cm para os machos (REVIZEE, 2004). Não há
informação sobre o ciclo reprodutivo desta espécie.
Durante os cruzeiros de prospecção pesqueira do NPq. “Prof. Martins Filho”, entre março de 1997
e abril de 2001, foram capturados 483 indivíduos de S. megalops, utilizando espinhel de fundo,
entre 200 a 400 m. Representou 21% das capturas de elasmobrânquios dessas prospecções e
apresentou comprimentos totais médio, mínimo e máximo de 72,9, 48 e 111 cm, respectivamente
(REVIZEE, 2002). A CPUE média para os quatro cruzeiros realizados em 1997, nos quais a
espécie representou 62,7% da captura de elasmobrânquios, é apresentada na Tabela 2.
Para estudos de reprodução foram coletados 93 indivíduos, sendo 43 fêmeas e 50 machos, provenientes
das capturas dos NPq. “Natureza”, “Prof. Martins Filho” e BPq. “Sinuelo”. A área de atuação
das embarcações se localizou entre as latitudes de 00º e 15ºS e longitudes de 030º e 045ºW. A
fecundidade uterina média estimada foi de 17,6 embriões por fêmea. O processo de maturação
sexual se inicia em torno de 110 cm para as fêmeas e de 95 cm para os machos. Não há informação
sobre o ciclo reprodutivo desta espécie.
Os tubarões-bagre (Squalus spp. – em sua maior parte, Squalus megalops) foram as espécies mais
capturadas pelo “Sinuelo”, nos cruzeiros com espinhel de fundo vertical, representando 89,7% dos
elasmobrânquios e 64,2% do total, com uma CPUE de 2,07 ind./100 anzóis.
Durante os cruzeiros de prospecção pesqueira do NPq. “Prof. Martins Filho”, entre março de 1997
e abril de 2001, foram capturados 154 indivíduos, com espinhel de fundo, entre 100 a 350 m. A
maior CPUE foi obtida entre 150 e 200 m de profundidade. Os comprimentos médio, mínimo e
máximo para estas capturas foram 99,2, 66,0 e 132,0 cm CT, respectivamente (REVIZEE, 2002).
Não há informação sobre o ciclo reprodutivo desta espécie.
Nas prospecções com espinhel de fundo do NPq. “Prof. Martins Filho”, exemplares de M. canis
apresentaram distribuição em águas mais profunda, com as maiores CPUEs tendo sido observadas
entre 100 e 350 m, com o valor máximo, igual a 0,82 indiv./1.000 m, ocorrendo entre 150 e 200
m. O tubarão boca-de-velho apresentou sua maior CPUE na área dos bancos (Subárea I- Setor 1;
ver Figura 1).
Conclusões e Recomendações
Os resultados alcançados pelo N.Pq. “Prof. Martins Filho” apontam para a existência de importantes
recursos pesqueiros na costa nordestina, particularmente do cherne e do batata, além dos tubarões
do gênero Squalus e do Mustelus canis, espécies que deveriam, por esta razão, ser melhor estudadas.
Conclusões e Recomendações
Os resultados alcançados confirmam a área dos bancos oceânicos como uma das mais produtivas da
ZEE nordestina, sendo a que apresentou os maiores índices de captura do caranguejo Chaceon,
espécie com maior potencial de explotação comercial entre todas capturadas pelo N.Pq “Natureza”.
Especificamente em relação a esta espécie de caranguejo, é importante que sejam aprofundadas
pesquisas sobre o seu crescimento e reprodução, uma vez que, por ser uma espécie de distribuição
profunda e de águas muito frias, apresenta possivelmente um potencial reprodutivo relativamente
baixo. Seria importante, também, que fossem realizados estudos genéticos que permitissem não
apenas identificar os estoques presentes nos vários bancos, verificando se os mesmos são ou não
diversos geneticamente, e compará-los aos estoques já explotados comercialmente na costa Sudeste
e Sul do Brasil (Cabral et al., 2001).
Um outro aspecto crucial, para que se possa alcançar uma adequada compreensão da estrutura dos
estoques de Chaceon sobre os bancos, seria conhecer a dinâmica do seu ciclo reprodutivo,
particularmente dos processos de recrutamento, os quais devem ser fortemente influenciados pela
dinâmica oceanográfica da área (Cabral et al., 2001).
INTRODUÇÃO
A região Central da ZEE (Figura 1) recebeu relativamente pouca atenção previamente ao Programa
REVIZEE. Entre 1968 e 1995, foram realizados 53 cruzeiros totalizando 500 dias que incluíram
total ou parcialmente a região. As pesquisas demersais desenvolvidas pela Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), nas décadas
de 1970 e 1980, foram direcionadas à pesca exploratória com arrasto de fundo e em menor escala
com linha de fundo e covos, em profundidades inferiores a 50 m (Victer et al., 1975). Na década de
1970, a SUDEPE realizou na região Central, até o litoral da Bahia, prospecções acústicas de
pequenos peixes pelágicos e lulas com resultados pouco promissores (Rijavec e Amaral, 1977). A
Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ) efetuou pescarias experimentais
com corrico e vara e isca viva, para grandes pelágicos, no Rio de Janeiro e Espírito Santo, obtendo
rendimentos inferiores às pescarias comerciais da região Sudeste (Ávila da Silva & Vaz dos Santos,
2000). Os resultados obtidos indicaram um potencial pesqueiro baixo, em consonância com a reduzida
produtividade das águas marinhas da região. No entanto, essa característica é parcialmente
compensada pelo alto valor econômico dos peixes demersais de fundos consolidados, lagostas, e dos
grandes peixes pelágicos presentes na região Central.
A seguir são apresentados os principais resultados das pesquisas para os grandes grupos de organismos
e hábitats. Em cada caso, são apresentados os dados sobre a produção pesqueira, a dinâmica das
frotas, e a avaliação do estado dos principais estoques explotados.
PEIXES RECIFAIS
Os peixes recifais explotados na região Central da costa brasileira incluem um diversificado conjunto
de espécies, em sua maior parte representadas nas famílias Lutjanidae (guaiúba, cioba, caranha,
Tabela 1. Cruzeiros de prospecção pesqueira realizados na região Central durante o Programa REVIZEE.
As frotas estabelecidas entre Salvador (BA) e Vitória (ES) desenvolvem uma estratégia extremamente
dinâmica de pescarias com linha e anzol capturando recursos demersais e pelágicos em uma mesma
viagem de pesca. As capturas de espécies recifais são obtidas principalmente entre 30-80 m de
profundidade (Figura 3), correspondendo à zona externa da plataforma continental (Olavo et al.,
2005a). No Espírito Santo, a frota de linha que explota recursos recifais é mais representativa na
Grande Vitória (Martins et al., 2005a). Utiliza a linha de mão como principal petrecho e dirige o
esforço de pesca para serranídeos e lutjanídeos na região do Banco de Abrolhos. De norte para sul
as capturas de peixes recifais aumentam gradualmente com a maior disponibilidade de fundos
exploráveis na faixa entre 30-80 m, o que faz com que o Banco dos Abrolhos e o Banco Royal
Charlotte apresentem melhores rendimentos, principalmente devido à ampla cobertura de ambientes
recifais associados aos fundos de substrato consolidado dessas regiões.
Desembarques
De acordo com os dados existentes (IBAMA, 2003), a produção de peixes recifais nos estados da
Bahia e Espírito Santo diminuíram de 9.000 t em 1998 para 3.500 t em 2002, principalmente
como resultado da redução nos volumes das categorias vermelho (Lutjanus spp.), guaiúba (Ocyurus
chrysurus), dentão (Lutjanus jocu) e caranha (Lutjanus spp.) (Figura 4). A produção de badejos e
garoupas, no período analisado, apresentou um certo incremento, variando entre 500 e 658 toneladas.
Em sua maior parte, os registros do IBAMA agrupam várias espécies em categorias comerciais
multiespecíficas, o que dificulta a avaliação do estado de explotação e sustentabilidade dos estoques.
Durante o desenvolvimento do Programa REVIZEE na costa central, foi elaborado um manual de
identificação das espécies de maior contribuição nos desembarques das frotas regionais (Frota &
Costa, 1999). O manual incluiu, além dos critérios de classificação normalmente empregados no
âmbito da sistemática ictiológica, instruções práticas para o reconhecimento visual das principais
características das espécies, registros fotográficos e uma compilação de nomes comerciais utilizados
nos diferentes estados, extraída de fontes preexistentes. Este produto foi utilizado para o
aprimoramento das informações geradas pelo IBAMA, com referência ao controle estatístico e
registro de dados de produção dos recursos explotados na costa central.
Como o desembarque total da espécie em uma determinada área é indispensável para a calibração
dos modelos de avaliação de estoques, foram produzidas estimativas independentes de desembarques
totais para os recursos mais abundantes da frota de linheiros (Klippel et al., 2005a), utilizando
como base as informações registradas nos desembarques amostrados entre 1997 e 2000. Desta
forma, as 11 espécies de peixes recifais de maior importância nos desembarques amostrados tiveram
suas capturas totais estimadas em 8.854 t em 1998, contra 5.911 t registradas nas estatísticas
publicadas para aquele ano, considerando-se o mesmo conjunto de recursos/espécies (Tabela 2). A
comparação indica que o sistema de controle e estimativa da produção pesqueira nos estados da
Bahia e no Espírito Santo, em geral, subestima os volumes desembarcados para a maioria das
espécies, em especial para o recurso de maior importância nos desembarques da frota (Ocyurus
chrysurus), cuja diferença entre as estimativas foi de 376%.
Segundo dados estimados pelo Programa REVIZEE, em 1998, os municípios de Vitória, Itaipava
e Anchieta, no Espírito Santo, e os municípios de Prado, Nova Viçosa e Alcobaça, na Bahia,
representaram em conjunto 75,3% dos desembarques, enquanto as espécies de peixes recifais de
maior importância nos desembarques amostrados foram a guaiúba (Ocyurus chrysurus), com 4.376
Para avaliar os principais estoques de lutjanídeos explotados pela pesca de linha da costa central
foram realizados estudos de crescimento (Araújo et al., 2002; Leite Jr. et al., 2005) e de relações
biométricas (Frota et al., 2004) das espécies mais abundantes nos desembarques amostrados e
aplicadas técnicas conhecidas como “Análise de Populações Virtuais” (VPA) ou “Análise de Coortes”
(Jones, 1984) para estimar o estado atual de explotação dos estoques. As técnicas de VPA utilizam
dados de capturas comerciais para calcular o tamanho do estoque e as taxas de mortalidade que
incidem sobre a sua estrutura etária ou de comprimentos. As projeções do rendimento em diferentes
níveis de explotação foram obtidas através do modelo de rendimento por recruta de Beverton &
Holt e pelo modelo preditivo de Thompson & Bell (Sparre & Venema, 1997). Os pontos de referência
são níveis teóricos de mortalidade por pesca ou abundância do estoque, utilizados para orientar
estratégias otimizadas de explotação dos recursos, ou limites de advertência que não devem ser
ultrapassados (Caddy & Mahon, 1995).
Tabela 2. Comparação entre os desembarques totais de peixes recifais na costa central para 1998 segundo
dados divulgados pelo IBAMA e estimativas produzidas pelo Programa REVIZEE. Foram consideradas as
espécies recifais mais abundantes nos desembarques amostrados.
Conclusões e recomendações
A alta pressão de pesca a que estão submetidos os recursos pesqueiros recifais, tradicionalmente
explotados na costa central brasileira, requer medidas urgentes de contenção do esforço de pesca e
políticas de manejo e ordenamento das pescarias. A plataforma continental no estado da Bahia é
consideravelmente estreita ao norte de 16ºS, reduzindo a disponibilidade de áreas de pesca. Este
aspecto é mais grave entre Salvador e Itacaré (13º-14o30’ S), onde se concentra mais da metade do
esforço de pesca anual estimado para a totalidade das embarcações linheiras registradas na Bahia
(Olavo et al, 2005a).
No Espírito Santo, a recente migração de barcos provenientes de frotas de pesca costeira para a
pesca de linha (Martins & Doxsey, 2006) implicou em um aumento no esforço de pesca estimado em
50% entre o final dos anos 90 e 2002. Essa migração ocorreu devido ao colapso das pescarias
tradicionais de camarão-costeiro e do peroá (Balistes capriscus), que chegaram a representar a
maior parte da produção desembarcada e pescadores em atividade até meados dos anos 90.
Os resultados da avaliação (Klippel et al, 2005b) indicaram níveis atuais de explotação acima do
recomendado para a maioria dos estoques. Considerando a característica multiespecífica das
pescarias, as estratégias reprodutivas das espécies e a vulnerabilidade das comunidades de peixes
recifais, recomenda-se que as medidas de ordenamento incluam, além do controle do esforço de
pesca, o estabelecimento de áreas protegidas marinhas e reservas de pesca.
Embora não existam informações biológicas ou pesqueiras que permitam avaliar o estado de
explotação para essas espécies na área, tanto o espada quanto o pargo rosa vêm sendo regularmente
capturados por frotas artesanais, não sendo recomendado aumento do esforço de pesca sobre esses
recursos, antes que se disponham de dados mais precisos sobre seu potencial de explotação.
Além do pargo rosa e do espada, as estatísticas de pesca na costa central indicam que o olho-de-cão
(Priacanthus arenatus) e o congro-rosa (Genypterus brasiliensis) podem ser considerados como
recursos potenciais, sendo porém explotados em menor escala pelas frotas de linha de fundo, com
capturas médias de 15 e 1 tonelada anual, respectivamente (Tabela 4). Suas capturas estão restritas
ao extremo sul da costa central e aparentemente não se constituem como recurso alvo de nenhuma
pescaria conhecida na região. Devido à falta de maiores informações que subsidiem a avaliação de
seu potencial, recomenda-se não aumentar o esforço de pesca sobre esses recursos.
Os batatas, assim como o cherne, são recursos característicos do talude superior (100 a 500 m) e
correspondem a duas espécies denominadas comercialmente por batata da lama (Lopholatilus villarii)
e batata da pedra (Caulolatilus chrysops), nomes que já indicam suas preferências de tipo de fundo.
Entre 1996 e 2002, os desembarques médios desse recurso foram de apenas 23 toneladas, com
clara tendência de declínio (Figura 5).
Outras espécies comerciais encontradas nas campanhas de pesca exploratória no talude foram o
namorado (Pseudopercis spp.), abrótea (Urophycis mystacea), merluza (Merluccius hubbsi), melo
(Etelis oculatus), peixe-sapo (Lophius gastrophysus), serrinha (Thyrsitops lepidopoides) e cação
gato (Squalus spp.) (Costa et al., 2005b; Martins et al., 2005b). O namorado teve desembarques
médios de apenas 17 toneladas anuais entre 1996 e 2002 (Tabela 4) e possui distribuição similar ao
do batata, ocorrendo sobre fundos lamosos e no extremo sul da área. As capturas da pesca exploratória
com espinhel de fundo não foram expressivas, indicando o baixo potencial de expansão na pesca
desse recurso. As outras espécies não constam nas estatísticas de desembarques do IBAMA.
O melo foi o único recurso de natureza recifal e presente em maior abundância no norte da área de
estudo. Apesar disso, suas capturas médias foram extremamente baixas e indicam poucas
possibilidades de uma expansão da sua pescaria. O cação gato, abrótea, peixe-sapo, merluza e o
namorado são recursos demersais de profundidade capturados no sul do Brasil e Argentina. Esses
Tabela 4. Diagnóstico da explotação dos recursos demersais de profundidade na costa central do Brasil.
1. IBAMA (2003).
2. kg por hora de arrasto – unidade de CPUE (captura por unidade de esforço) utilizada na pesca exploratória de arrasto de fundo (Costa et al., 2005b)
3. kg por 1.000 anzóis por hora de operação – unidade de CPUE utilizada na pesca exploratória de espinhel de fundo (Martins et al., 2005b)
4. kg por armadilha por hora de operação – unidade de CPUE utilizada na pesca exploratória com armadilhas (Fagundes-Neto et al., 2005)
5. Possibilidade de expansão ou estruturação de frotas pesqueiras para explotação sustentável do recurso.
6. Apresenta índices de abundância relativamente altos, porém já possui explotação comercial intensa.
7. Apresenta baixíssimos índices de abundância e baixa viabilidade técnica de explotação com as tecnologias empregadas nas prospecções do Programa REVIZEE.
O caranguejo real (Chaceon ramosae) foi o único crustáceo avaliado no âmbito da costa central. Foi
encontrado em toda a região, mas seguindo a tendência de todos os recursos de profundidade, seus
maiores rendimentos estiveram concentrados no sul da área (1-3 kg/armadilha.hora) (Fagundes-
Neto et al., 2005). As reduzidas capturas desse caranguejo em pescarias exploratórias realizadas
na região Sul do Brasil, onde houve uma avaliação da sua viabilidade comercial (Athiê e Rossi-
Wongtschowski, 2004), sugere um baixo potencial econômico para a área.
Conclusões e recomendações
Durante as operações realizadas nas pescarias exploratórias do Programa REVIZEE na região
Central, ficou evidente que as irregularidades na topografia do fundo, na área de plataforma externa
e talude, bem como a presença constante de muitas formações biogênicas recifais dificultou e por
vezes impediu a realização dos lances de pesca, além de ter ocasionado perdas significativas de
equipamentos por aprisionamento no fundo (Martins et al., 2005b). Quando as perdas não ocorriam,
um tempo considerável de sondagem do fundo era gasto, a fim de determinar as áreas de pesca mais
adequadas (Costa et al., 2005b). Essas limitações operacionais indicam possibilidades remotas de
utilização de recursos de profundidade na região, pelo menos com a tecnologia utilizada nas
prospecções pesqueiras realizadas com espinhel de fundo, arrasto de fundo e armadilhas. Para uma
eventual explotação dos recursos encontrados, seria necessário um mapeamento detalhado dos
fundos das áreas de interesse, além do desenvolvimento de novas tecnologias de captura, compatíveis
com a realidade dos fundos encontrados na região.
Ficou evidente, a partir das estatísticas de pesca e principalmente das pescarias exploratórias, que
os recursos demersais de profundidade tradicionais estão concentrados no extremo sul da região
Central, ou pelo menos, são mais acessíveis nessa área. Além de uma maior disponibilidade de
áreas arrastáveis, a maior abundância de recursos de profundidade é compatível com a presença de
processos oceanográficos episódicos ou permanentes que promovem o aumento da produtividade
biológica e, portanto, o favorecimento de maiores densidades localizadas, tais como a influência
próxima de ressurgências costeiras e vórtices ciclônicos que podem aumentar a produção primária
(Schmid et al., 1995).
Apesar dos baixos potenciais de aumento na taxa de explotação de recursos do talude superior, as
campanhas de pesca exploratória mostraram a presença de uma rica fauna nesses ambientes,
ultrapassando 600 espécies. Muitas das espécies capturadas sequer haviam sido descritas ou eram
desconhecidas para o oceano Atlântico Sul. Essa biodiversidade e baixa abundância relativa sugerem
a fragilidade desses ecossistemas, relativamente à pressão pesqueira.
Apesar da grande extensão da região central, os poucos recursos demersais de profundidade: espada,
pargo rosa, cherne, batata, namorado, olho-de-cão, e congro rosa apresentaram-se concentrados
ao sul da área pesquisada, entre a foz do rio Doce e cabo de São Tomé. A maioria não apresentou
rendimentos pesqueiros suficientes ou condições para induzir sua explotação em escala comercial,
a partir das tecnologias atualmente disponíveis. Os poucos recursos demersais de profundidade
explotados comercialmente, tais como o cherne verdadeiro e batata da lama, não têm o estado do
GRANDES PELÁGICOS
Os recursos denominados grandes pelágicos são aqui definidos como o conjunto de espécies comerciais
de peixes de grande porte que vivem nas camadas superficiais da coluna d´água, em alto mar e
também na zona costeira, muitas vezes realizando migrações transoceânicas. Incluem espécies
classificadas como transzonais, transfronteiros e altamentente migratórias, constituindo recursos
compartilhados por diferentes nações pesqueiras e frotas regionais, como os tubarões oceânicos,
agulhões, atuns e espécies afins (Hazin, 1998).
Na região da costa central, entre Salvador-BA e o cabo de São Tomé-RJ, os grandes pelágicos são
alvo das frotas linheiras da pesca recifal na zona externa da plataforma continental e borda do
talude, capturados com linhas-de-mão, corrico e pequenos espinhéis de superfície (Olavo et al.,
2005a; Martins et al., 2005a). No extremo sul da região, na bacia de Campos, são pescados em
águas fora da plataforma continental, por pequenas embarcações motorizadas da frota linheira
sediada em Itaipava-ES. Esta pescaria visa principalmente a albacora-laje (Thunnus albacares) e o
dourado (Coryphaena hippurus) na área de influência das plataformas de exploração de petróleo,
que funcionam como atratores artificiais para a pesca, concentrando diversas espécies de peixes no
seu entorno (Martins et al., 2005a).
Cabe observar a maior importância relativa da categoria cavala para a pesca estabelecida no
estado da Bahia, onde o recurso representou 41,7% (619 t/ano) dos desembarques médios anuais,
enquanto os atuns e o dourado corresponderam a 23,2% (344 t/ano) e 21,4% (317 t/ano),
respectivamente (Figura 7). No estado do Espírito Santo, o dourado e os atuns despontam como
principais recursos pelágicos das frotas locais, representando 49,1% (889 t/ano) e 44,9% (813 t/
ano) dos desembarques totais. As cavalas representam menos de 3% (apenas 49 t/ano) e os agulhões
menos de 2% (28 t/ano) da produção capixaba de grandes pelágicos, no período analisado (IBAMA,
2003).
Nos dois estados, observa-se a mesma tendência de aumento mais acentuado na produção de dourado,
que superou o volume de atuns desembarcados em 2002 (IBAMA, 2003). A produção de atuns
também foi crescente nos últimos quatro anos da série, com desembarques anuais se aproximando
das 500 t na Bahia e em torno das 1.000 t no Espírito Santo (Figura 7).
A frota responsável por esta pescaria no Espírito Santo é composta de embarcações motorizadas na
faixa dos 10 a 12 metros de comprimento e com menos de 100HP de potência, que concentram seus
desembarques principalmente no porto de Itaipava (Martins et al., 2005a; Costa et al., 2005a).
Entre as artes de pesca utilizadas, destaca-se o corrico, usado em 62,6% das viagens amostradas
pelo Programa, além da linha de mão (22,6%) e do espinhel de superfície (11,5%) (Martins et al.,
2005a). Esta última arte é utilizada sobretudo entre outubro e dezembro, adaptado para a captura
do dourado no período de safra, quando a espécie apresenta CPUE próxima a 20 kg/pescador.dia.
O uso das demais artes não apresentou sazonalidade marcada, sendo utilizadas para captura de
atuns e afins, inclusive de dourado, durante todo o ano. As CPUEs observadas para a categoria
atuns (Thunnus spp.) foram mais elevadas nos meses de março a julho, também atingindo cerca de
20 kg/pescador-dia. A estratégia de pesca da frota linheira de Itaipava, combinando diferentes
artes de pesca pelágica e também espinhéis verticais (como pargueiras e boinhas) para recursos
demersais do talude, com menor freqüência, garantem rendimentos médios que se mantêm em
torno das 30 kg/pescador.dia, ao longo do ano (Costa et al., 2005a; Martins et al., 2005a).
As demais frotas linheiras estabelecidas na região distribuem seus desembarques ao longo de toda
a costa central; são compostas por botes e saveiros pequenos e médios (2 a 16 metros de comprimento),
dedicando-se a pescarias realizadas na zona externa da plataforma continental e borda do talude,
utilizando linhas-de-mão como arte de pesca principal (Olavo et al., 2005a; Martins et al., 2005a).
O esforço de pesca concentra-se entre as profundidades de 50 a 120 metros, na zona de quebra da
plataforma continental, e é dirigido para recursos demersais e pelágicos associados aos ambientes
recifais, na área entre o Rio Doce e Salvador (Olavo et al., 2005a; Martins et al., 2005a).
O dourado apresentou maior contribuição relativa na área de pesca situada entre o banco Royal
Charlotte e o norte do banco de Abrolhos, explorada principalmente pelas frotas da região de Porto
Seguro, representando 38% (9,2 kg/pescador.dia) do rendimento médio anual da pesca de linha
naquela área (Costa et al., 2005a). Nas demais áreas de pesca ao longo da costa central, os
A amostragem de mais de três mil desembarques das frotas linheiras, realizada nos principais
portos da costa central, entre 1997 e 2000, confirmam que os principais recursos pelágicos alvo
das pescarias com linha e anzol na região são a albacora-laje (presente em 19,4% dos desembarques)
e o dourado (15,0%). A cavala-empinge (2,8%), a albacorinha (1,4%) e a cavala verdadeira (0,8%)
ocorreram com menor freqüência nos desembarques amostrados (Costa et al., 2005a).
Observou-se também a forte sazonalidade na dinâmica das frotas da pesca recifal, com a repartição
do esforço de pesca dirigido para os recursos pelágicos e demersais. Ao contrário da frota atuneira
de Itaipava, voltada para a pesca pelágica durante todo o ano, os linheiros da pesca demersal
recifal redirecionam boa parte de seu esforço para a captura de recursos pelágicos no período de
primavera-verão, entre setembro e março, quando apresentam rendimentos pesqueiros mais elevados
(Olavo et al., 2005a ; Costa et al., 2005a).
Prospecção pesqueira
O Programa REVIZEE realizou duas campanhas de prospecção com espinhel monofilamento em
toda ZEE da região central, conduzidas entre janeiro e março de 1999 e entre julho e agosto de
2001 (Tabela 1). Os rendimentos médios para o total de espécies capturadas foram significativamente
mais elevados durante o verão (156,9 kg/100 anzóis), quando comparados com aqueles observados
no inverno (109,0 kg/100 anzóis). Na zona próxima à borda da plataforma, sobre o talude continental,
foram registrados os rendimentos médios totais mais elevados (196,2 kg/100 anzóis no verão, e
144,9 kg/100 anzóis no inverno). Na região ao largo dos bancos Royal Charlotte e Abrolhos (entre
15º-20ºS), nas duas campanhas, assim como no setor ao norte de 15ºS e na zona dos montes
submarinos, durante o verão, foram observados rendimentos médios totais superiores a 150 kg/100
anzóis (Olavo et al., 2005b).
O espadarte foi a espécie mais abundante no verão, responsável por 45% das capturas totais em
peso e apresentando rendimentos médios de 66,8 kg/100 anzóis, caindo consideravelmente para
19,1kg/100 anzóis, no inverno. Entre os tubarões, destaca-se a importância relativa do tubarão-
azul (Prionace glauca) como espécie dominante nas capturas, ao lado do espadarte, apresentando
CPUE médias de 47,0 no inverno e 49,6 kg/100 anzóis no verão. As quatros espécies de atuns
participaram com 7,1% e 2,6% das capturas totais, apresentando CPUE média de 7,7 e 4,0 kg/100
anzóis nos cruzeiros de inverno e verão, respectivamente. As três espécies de agulhões representaram
apenas cerca de 1% das capturas totais. Entre outras espécies da fauna acompanhante registrada,
destacou-se o dourado com rendimentos de 5,1 kg/100 anzóis, representando 4,7% das capturas
totais do cruzeiro de inverno. Também destacou-se o peixe prego-liso (Lepidocybium flavobrunneum)
com rendimentos de 7,4kg/100 anzóis, constituindo 4,7% das capturas totais durante a campanha
de verão (Tabela 5).
Os resultados indicaram uma relevante participação dos tubarões oceânicos nas capturas do espinhel,
onde representaram 60% das capturas totais obtidas durante o cruzeiro de inverno e 41% das
capturas totais do cruzeiro de verão (Olavo et al., 2005b). Um total de 30 espécies, distribuídas em
14 famílias de peixes ósseos, tubarões e raias pelágicas foram registradas nas duas campanhas
(Olavo et al., 2005b). A maioria dessas espécies é considerada fauna acompanhante da pescaria
comercial com espinhel monofilamento, dirigida essencialmente para captura do espadarte e tubarões.
Apesar dos baixos rendimentos específicos observados nas capturas com este tipo de espinhel nos
cruzeiros de prospecção, muitas espécies registradas podem ser consideradas como recursos
alternativos, disponíveis para outras pescarias oceânicas de pequena escala ou mesmo artesanais
(utilizando corrico, linha de mão e outros tipos de espinhéis pelágicos), com potencial de maior
desenvolvimento na região (Tabela 5).
Os rendimentos pesqueiros obtidos na região da ZEE central são comparáveis aos observados para
embarcações lagosteiras artesanais (~12 m de comprimento) convertidas para a pesca comercial
com espinhel de monofilamento sobre o talude continental nordestino (Hazin et al., 2001), que
apresentaram rendimentos totais de 144,6 kg/100 anzóis e CPUE média para o espadarte de 68,8
kg/100 anzóis. Estes rendimentos foram também superiores aos rendimentos da frota industrial
tradicional que utiliza espinhel de multifilamento, em operação no Atlântico Sul Ocidental, e bastante
próximos dos rendimentos obtidos por embarcações da frota arrendada que usa espinhel de
monofilamento (161,3 kg/100 anzóis) (Hazin et al., 2001; Hazin e Hazin, 1999).
Conclusões e recomendações
Os resultados obtidos limitam-se a uma primeira avaliação da distribuição e abundância relativa
dos recursos pelágicos vulneráveis à pesca com espinhel de superfície de monofilamento na ZEE
Central. Levantamentos complementares, acompanhando todo um ciclo anual e também utilizando
artes de pesca menos seletivas ou dirigidas para camadas mais profundas da coluna d’água, seriam
fundamentais para um melhor conhecimento das potencialidades da pesca oceânica na região.
Este potencial pode também ser considerado como alternativa para o manejo das frotas e pescarias
já estabelecidas na região (Olavo et al., 2005a ; Martins et al., 2005a ; Olavo et al., 2005b). O
redirecionamento de parte do esforço de pesca das frotas dedicadas ao arrasto do camarão, à pesca
da lagosta e à pesca de linha sobre peixes recifais poderia ser usado para a redução da pressão
sobre recursos sobreexplotados e sobre áreas de pesca tradicionais da plataforma continental da
região. A viabilidade socioeconômica dessa pescaria dependeria da estruturação de toda a cadeia
produtiva da pesca oceânica (Hazin e Hazin, 1999; Pedrosa, 2000), praticamente inexistente na
região da costa Central.
Considera-se fundamental que qualquer iniciativa voltada para o fomento da pesca oceânica de
pequena escala, através da reconversão das frotas locais ou introdução de novas embarcações, seja
acompanhada de planos de manejo que garantam o controle e ordenamento da atividade. Iniciativas
como estas devem estar em consonância com a política nacional para ampliação das cotas de pesca
estabelecidas pela Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico – ICCAT (ver
capítulo 2, para um maior detalhamento quanto às espécies gerenciadas pela Comissão), para os
recursos transfronteiros e altamente migratórios (Hazin e Hazin, 1999; Pedrosa, 2000).
PEQUENOS PELÁGICOS
Recursos pequenos pelágicos são definidos aqui como o conjunto de espécies de peixes de pequeno
tamanho, raramente ultrapassando 30 cm de comprimento, que formam cardumes, desde as baías
e estuários até áreas oceânicas, afastadas da costa. Normalmente são espécies forrageiras e que,
devido à sua proximidade com a base da cadeia alimentar marinha, podem desenvolver populações
com elevada biomassa. Entre os recursos de maior importância pesqueira atual na região Central
estão alguns tipos de sardinhas de áreas tropicais (Família Clupeidae), manjuba (Família Engraulidae)
e peixe agulha (Famílias Hemirhamphidae e Belonidae).
Esses recursos podem ser capturados comercialmente por redes de espera ou emalhar, e redes de
cerco. As espécies de maior tamanho podem ser capturadas com linha de mão. São parcialmente
acessíveis por técnicas de captura com rede de meia água, como demonstrado pelos resultados das
pescarias exploratórias realizadas no âmbito do Programa REVIZEE (Madureira et al., 2004).
Nas estatísticas de desembarque do período entre 1996 e 2002, a pesca comercial nos estados da
Bahia e Espírito Santo registrou capturas médias de 8.250 t anuais correspondendo a pelo menos
11 espécies agrupadas em sete categorias de recursos (IBAMA, 2003). Esse valor representou
15,7% do total desembarcado no período considerado.
Completa a lista de espécies explotadas o chicharro, nome vulgar de recursos que, na região,
correspondem a juvenis de espécies do gênero Caranx e outras espécies da família Carangidae,
principalmente dos gêneros Decapterus e Selar, capturados em áreas costeiras. O peixe-voador ou
“voador”, espécie epipelágica oceânica, é capturado principalmente como isca viva e também
como recurso secundário na pesca de linha de alto mar, no Estado da Bahia. Os desembarques
desses dois recursos nos dois Estados foram inferiores a 250 toneladas anuais, com tendências
crescentes para o voador e decrescentes para os desembarques do chicharro (Figura 8). Devido à
ausência de dados estatísticos de longo prazo e estudos biológicos, o estado de explotação e o
potencial desses recursos não puderam ser determinados.
Prospecção pesqueira
A fim de avaliar o potencial sustentável para o desenvolvimento de novas pescarias sobre pequenos
pelágicos na costa central, foi realizada no âmbito do Programa REVIZEE uma campanha de
pesca exploratória entre maio e junho de 1999, com o navio oceanográfico “Thalassa”, pertencente
ao IFREMER. A técnica de prospecção utilizada foi a de hidroacústica, na qual é possível, com o
uso de ecossondas científicas, converter a energia sonora refletida pelos peixes existentes em um
certo volume de água em estimativas das suas densidades. A prospecção hidroacústica é
complementada com lances de pesca com redes de meia-água sobre cardumes detectados, para que
as espécies sejam identificadas e os tamanhos médios dos indivíduos capturados sejam avaliados
(Madureira et al., 2004).
Apesar de o levantamento ter registrado uma elevada quantidade de espécies pelágicas, são avaliados
o potencial de explotação sustentável de apenas 5 recursos, representando pelo menos 8 espécies.
Estes recursos foram selecionados inicialmente por sua importância na pesca comercial na região.
Secundariamente, foram selecionados recursos que, embora sem registros nas estatísticas de
desembarque na região Central, são explotados comercialmente em alguma região do Brasil ou do
mundo. Finalmente, selecionaram-se recursos que, embora sem registros de pescarias comerciais
relevantes, apresentaram rendimentos expressivos na campanha de pesca exploratória.
Tabela 6. Estado de explotação dos recursos pequenos pelágicos capturados na prospecção hidroacústica realizada na costa
central do Brasil.
1- Biomassa em toneladas numa área de 3.932,1 mn2 calculada pelo método de prospecção hidroacústica (Madureira et al., 2004).
2- Biomassa em toneladas numa área de 356 mn 2 calculada pelo método de prospecção hidroacústica (Madureira et al., 2004).
3- Possibilidade de expansão ou estruturação de frotas pesqueiras para explotação sustentável do recurso.
4- Baixas biomassas explotáveis (as quais representam uma fração da biomassa total); inexistência de mercado consumidor; o peixe-lanterna é uma
espécie forrageira, importante na cadeia trófica de outros peixes de maior porte, além de estabelecer elos de transferência de energia entre os sistemas
pelagial e bentônico.
5- Baixa viabilidade técnica da explotação.
O aumento significativo nos desembarques desses recursos pequenos pelágicos nos últimos anos,
alcançando 15% da produção total regional, reforça a necessidade da realização de um controle
de desembarque efetivo, com a coleta de dados de esforço de pesca e captura discriminada por
espécie, além de estudos biológicos complementares.
Dentre as espécies analisadas no Programa REVIZEE, apenas o chicharro oceânico pode ser
considerado um recurso com algum potencial de explotação na região dos bancos. Porém, na
ausência de informações conclusivas, a confirmação desse potencial depende de estudos
populacionais e de viabilidade técnica e bioeconômica.
Figura 8. Desembarques da pesca comercial de recursos pequenos pelágicos na costa central do Brasil período
de 1996 a 2002. Fonte: IBAMA.
INTRODUÇÃO
Em comparação a outras regiões do Brasil, a área de estudo que compreende a região entre o cabo
São Tomé, no Rio de Janeiro, e o Chuí, no Rio Grande do Sul, foi a que recebeu maior atenção
previamente ao início do Programa REVIZEE, em 1996.
A região Sudeste-Sul foi também objeto de muitos estudos sobre avaliação dos estoques em explotação
e análises sobre a evolução das capturas (SUDEPE, 1974, 1980, 1985; IBAMA, 1990, 1994;
Jablonski & Matsuura, 1985; Dias Gomes e Mesquita, 1988; Castello e Haimovici, 1991; Matsuura,
1995; Paiva, 1997; e Haimovici, 1997).
Tais estudos permitiram apresentar os padrões de operação das principais frotas pesqueiras baseadas
nos Estados do Sudeste-Sul (Cergole & Rossi-Wongtschowski, 2003); os diagnósticos sobre a biologia
e o estado de explotação de diversas espécies de peixes, crustáceos e cefalópodes (Cergole et al.,
2005); além do registro dos resultados dos cruzeiros de pesquisa realizados para a prospecção de
peixes demersais com espinhel de fundo (Haimovici, et al. 2004); armadilhas e pargueiras (Bernardes
et al., 2006); e arrasto de fundo (Haimovici et al., em preparação); e os recursos pelágicos detectados
pelo método hidroacústico (Madureira et al., 2005).
A seguir são apresentados os principais resultados dessas pesquisas, por tipo de organismos e
ambientes. De cada tópico constam informações sobre as prospecções, a evolução das estatísticas
pesqueiras, a dinâmica das frotas e, finalmente, a avaliação do estado de explotação dos principais
recursos da região.
Figura 1. Desembarques, em toneladas, registrados de pequenos e médios peixes pelágicos por Estado (Fonte: SUDEPE,
IBAMA, Convênio MAPA-UNIVALI, Instituto de Pesca – SP).
O estoque de peixe-galo (Selene setapinnis) é explotado tanto pela frota de traineiras, quanto pela
frota de arrasto, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, sendo que aparece nos registros de
desembarque na categoria “galo”, na proporção de aproximadamente 60%, em conjunto com a
espécie congênere S. vomer, chamada de galo-de-penacho. O desembarque máximo da categoria
“galo” foi de 2.500 t, em 1995 caindo para 1.600 t, em 2002. As amostragens de desembarques
da pesca de cerco e arrasto, em São Paulo e Santa Catarina, incluíram exemplares de peixe-galo
entre 7 e 52 cm de comprimento total, que correspondem a idades de 1 a 12 anos, respectivamente.
Embora moderadamente explotado naqueles Estados (Z= 0,85 e E= 0,48), a alta incidência de
juvenis, principalmente na pesca de arrasto (64%), indica a necessidade de medidas de proteção a
indivíduos de tamanho inferior a 23 cm (Bastos et al., 2005).
As capturas do chicharro (Trachurus lathami) na região Sudeste foram muito variáveis, atingindo
7.600 t, em 1992 e apenas 31 t em 2004. A pesca comercial de cerco, que atua sobre a plataforma
continental, captura exemplares de 9,5 a 24 cm de comprimento total, com idades entre 4 e 9 anos.
As estimativas realizadas a partir de amostragens nos desembarques em São Paulo, em 1997 e
1998, indicam que o estoque está plenamente explotado (Z= 1,1 e E= 0,5). Em São Paulo, o
chicharro ocorre nos desembarques de cerco, alternativamente à sardinha-verdadeira, no inverno.
As prospecções pesqueiras indicaram a ocorrência da espécie além de 100 m de profundidade
(Saccardo & Cergole, 2005)
O peixe-espada (Trichiurus lepturus) é uma espécie cosmopolita, que se distribui em toda a região
Sudeste-Sul, da zona costeira até 300 m de profundidade. Apresenta hábito demersal-pelágico,
sendo capturada por quase todas as modalidades de pesca, com amplitude de comprimento de 12 a
207 cm e idades entre 0 e 7 anos. No sul é freqüentemente descartada a bordo. O estoque está sendo
intensamente explotado, porém com baixo aproveitamento em função dos descartes (Magro, 2005).
A tainha (Mugil spp.) passa parte de sua vida em regiões estuarinas, migrando para áreas costeiras
na época da reprodução. As fêmeas maturam com 38 cm, na região estuarino-lagunar de Cananéia,
e com 30.9 cm, no estuátrio da Lagoa dos Patos. Apresenta elevada fecundidade e diferentes áreas
e épocas de desova foram determinadas ao longo de sua área de distribuição. A produção pesqueira
é bastante variável de um ano para outro, dependendo das condições ambientais.A maior parte das
capturas, tanto pela frota artesanal, quanto pela industrial, ocorre durante o período de migração
reprodutiva, em toda a região. Durante os últimos anos, o registro dos desembarques anuais mostra
tendência de aumento, em Santa Catarina e no Rio de Janeiro, e diminuição no Rio Grande do Sul,
a qual é atribuída à intensidade de pesca durante o período reprodutivo, que levaria à diminuição do
recrutamento de pré-juvenis (Miranda et al., no prelo).
Prospecções
Uma parte considerável das prospecções das décadas de 1960 a 1980 foi direcionada aos peixes de
fundo e aos camarões presentes na plataforma. As pesquisas desenvolvidas pelo IOUSP, SUDEPE/
PDP e FURG avaliaram a composição faunística, a distribuição e a abundância de diferentes recursos
(Vazzoler & Iwai, 1971; Vazzoler, 1973; Yesaki, 1973; Yesaki et al. 1976 ; Haimovici et al.,
1996). Pela análise de dados pretéritos de prospecção, a biomassa de peixes demersais de fundos
não consolidados, até 200 m de profundidade, entre o Chuí e o cabo de Santa Marta Grande, foi
estimada entre 611.800 t e 1.134.900 t; já entre Santa Marta Grande e cabo São Tomé, essa
biomassa foi quatro vezes menor, entre 144.000 t e 309.800 (Haimovici et al., em preparação).
Cabe destacar que uma parte considerável dos recursos demersais ao sul de Santa Marta Grande é
formada por espécies migratórias, que se deslocam para águas do Uruguai e da Argentina (Haimovici
et al., 1997), muitas das quais foram intensamente explotadas a partir da década de 1960 (SUDEPE,
1974).
O goete (Cynoscion jamaicensis) é uma das principais espécies na pesca de arrasto de parelha na
região Sudeste. Os desembarques totais atingiram quase 5 mil t em 1998 caindo para 2,4 mil, em
2004. Esta espécie atinge a maturidade sexual com 19,5 cm de comprimento total e 2 anos, podendo
viver 9 anos, quando chega a medir 36 cm. A partir de amostras de São Paulo e Rio de Janeiro, em
1997-98, o coeficiente instantâneo de mortalidade total foi estimado em 1,24 e a taxa de explotação
em 0,56, valores que indicam situação de plena explotação do estoque (Castro et al. 2005).
O sarrão (Helicolenus lahillei), além de capturado pelos arrastos, faz parte da fauna acompanhante
da pesca de linha de mão e espinhel de fundo; atinge comprimentos totais de até 50 cm, embora a
maior parte não ultrapasse 30 cm. Espécie de crescimento lento, a maturidade sexual é atingida
com 17,6 cm e 15 anos de vida; pode alcançar idades de até 44 anos. (Bernardes et al., 2005).
O manejo dos recursos demersais de plataforma requer urgente diminuição do esforço de pesca,
através de licenciamentos específicos e restrições às áreas de atuação das frotas dos diferentes
portos de origem.
Nos três cruzeiros foram obtidos registros acústicos ao longo de 9.695 milhas de prospecção em
“letra grega”, com perfis distanciados 20 milhas náuticas entre si, ao longo dos quais foram feitos
151 lances com a rede pelágica. As características ambientais foram monitoradas a partir de 479
lançamentos de perfiladores de temperatura e salinidade (CTDs) (Madureira & Wongtschowski,
2005). Os resultados são apresentados a seguir.
Tabela 2. Estimativas de densidades em toneladas por milha náutica quadrada (t/mn2) e biomassas (t) nos
estratos norte, central, e sul da área de estudo para os cinco grupos de organismos estudados nas prospecções
pelágicas realizadas na região Sudeste-Sul.
Biomassa Total
1200000
Anchoita
1000000
Biomassa (ton)
Peixe Lanterna
800000
MesoPel. Planctivoros
600000
Espada
400000
0
REVIZEE 1 REVIZEE 2 REVIZEE 3
Cruzeiro
Figura 4. Biomassas totais para os cinco grupos estudados, por cruzeiro.
Prospecções
Os peixes demersais da plataforma externa e talude superior são chamados peixes de linha, por
serem pescados tradicionalmente por barcos linheiros e caíques no litoral do Rio de Janeiro. Esta
pescaria se estendeu por toda a região Sudeste-Sul na década de 1970. A análise de dados pretéritos
identificou a realização, na região ao sul de Santa Marta Grande, de vários programas de prospecção
de arrasto de fundo realizadas além da plataforma, pela SUDEPE (Yesaki et al. 1976) e FURG
(Vooren et al. 1988; Haimovici, et al. 1994), assim como algumas pesquisas com espinhel de fundo
para cações e teteósteos realizadas pela SUDEPE (Santos & Rahn,1978). Na região Sudeste, o
Instituto de Pesca de São Paulo executou pesca exploratória com espinhel-de-fundo em 1994 e
1995 (Ávila-da-Silva et al., em preparação).
Prospecções de arrasto desses recursos, além dos 200 m, foram realizadas somente na região Sul
(Yesaki et al., 1986; Haimovici et al., 1994). Assim, no Programa REVIZEE, toda a região foi
pesquisada, entre 100 e 600 m, com várias artes de pesca demersais (espinhel-de-fundo, armadilhas,
pargueiras e arrasto-de-fundo), permitindo o levantamento dos recursos existentes e uma avaliação
comparativa entre regiões e áreas de pesca.
Foram realizadas, a bordo do barco pesqueiro “Margus II”, 188 operações de pesca, em 107 dias
de mar, que cobriram uma área de 150.000 km2 (Figura 7). O espinhel-de-fundo utilizado era
composto de um cabo de aço de 10 km de extensão, com 1.000 anzóis, 10 pargueiras e três armadilhas
intercaladas. As capturas incluíram cerca de 23.000 peixes de mais de quarenta táxons, além de
diversos invertebrados e aves marinhas. As principais espécies nas capturas foram o peixe-batata
(Lopholatilus villarii), a abrótea-de-profundidade (Urophycis mystacea) e os cações-gato do gênero
Squalus (Figura 8).
Mais de 80% das capturas do espinhel foram compostas por espécies de importância comercial. O
rendimento das capturas de peixes foi de 73,4 kg/1.000 anzóis-hora no inverno-primavera,
diminuindo para 53,6 kg/1.000 anzóis-hora no outono. Os pesos médios passaram de 1,504 kg
As capturas incidentais de cinco espécies de aves marinhas migratórias no inverno, no extremo sul,
mostraram que a pesca de espinhel-de-fundo exerce um impacto importante sobre esses animais,
nessa época do ano e região (Vooren & Coelho,2004).
Embora a maioria dos peixes capturados apresente ampla distribuição latitudinal, foram observados
alguns padrões de associação relacionados com a profundidade e a latitude que determinam ser
impossível direcionar a pesca de espinhel-de-fundo para poucas espécies-alvo. Foi constatado que
algumas espécies descartadas a bordo estão sendo fortemente impactadas por este tipo de pesca,
entre elas a abrótea-de-profundidade (Urophycis mystacea) e o sarrão (Helicolenus lahillei) (Ávila-
da-Silva & Haimovici, 2004).
Utilizou-se uma rede de grande abertura vertical, tralha inferior de 40,4 m, cuja parte central, de
20,8 m, estava provida de discos de borracha, e malha no ensacador de 27 mm entre nós opostos.
A biomassa total, na área coberta pelos levantamentos de inverno-primavera, foi estimada em 177
mil toneladas e no de verão-outono, em 218 mil toneladas (Figura 11). Estas estimativas estão
sujeitas a diversos tipos de erros em função das suposições feitas em relação ao escape dos peixes
frente à área varrida e de uma imprecisão máxima de 25%, em função da variabilidade das capturas
entre lances. Embora entre as principais espécies capturadas existam várias de valor comercial,
como a abrótea-de-profundidade, merluza, calamar-argentino e peixe-sapo, as biomassas totais
estimadas indicam que os estoques são modestos e que as capturas sustentáveis são baixas.
As capturas totais foram compostas por 1.395 peixes, incluindo uma espécie de ciclostomado, oito
de elasmobrânquios e 43 de teleósteos. Foram também capturados 2.712 crustáceos pertencentes
a nove espécies.
O rendimento médio total por armadilha circular e 20 horas de imersão foi de 1,67 kg, incluindo
144,6 kg (55% do total) dos caranguejos-de-profundidade (Chaceon spp.), 5,3 kg do peixe-porco
(Balistes vetula), 4,9 kg do ciclostomado Eptatretus menezesi e 4,8 kg de Conger esculentus.
Figura 11. Biomassas por épocas, por faixas de profundidades e faixas de latitude, obtidas nas prospecções de arrasto de
fundo.
Para as armadilhas retangulares, o rendimento médio foi de 4,64 kg/armadilha.20 hs, predominando
Chaceon sp., com 183,3 kg (53% do total), seguido de 39 kg de abrótea-de-profundidade (Urophycis
mystacea), 25,3 kg de pargo-rosa (Pagrus pagrus) e 14,8 kg de congro-rosa (Genypterus brasiliensis).
Nas capturas com as pargueiras, o rendimento médio foi de 0,83 kg/anzol.20 h. As principais
espécies foram o cherne-poveiro (Polyprion americanus), o peixe-batata (Lopholatilus villarii) e a
abrótea-de-profundidade.
Os rendimentos obtidos com as armadilhas para os caranguejos-de-profundidade e camarão-cristalino
(Plesionika sp.) confirmaram a presença de estoques explotáveis desses recursos na região. As
armadilhas capturaram uma ampla gama de peixes ósseos e poucos peixes cartilaginosos de vida
longa, estratégias reprodutivas complexas, baixa fecundidade e longos períodos de gestação, como
Squallus megalops, S. mitsukuri, Carcharhinus spp. e Galeorhinus galeus, entre outras. As armadilhas,
ainda, afetam pouco as comunidades de fundos consolidados constituídas por poríferos, hidrozoários,
corais hermatípicos, cirripédios e ofiuróides. Também, de forma distinta do espinhel-de-fundo, as
armadilhas e pargueiras não ocasionaram a captura incidental de aves oceânicas nas áreas onde
estas são abundantes (Avila et al., 2005). A pesca de peixes com armadilhas, embora de baixo
impacto ecológico precisa ter sua viabilidade econômica analisada.
Levando em consideração a especificidade, baixo custo de operação e pouco impacto sobre o substrato
causado pelas armadilhas e pargueiras em fundos irregulares, destaca-se sua utilidade para a captura
de espécies de alto valor comercial, como a abrótea-de-profundidade, o congro-rosa, o cherne-
poveiro e o peixe-batata.
Em 1994 foi introduzido, a partir de operações de pesca experimental realizados a bordo do NPq
“Orion”, do Instituto de Pesca, o espinhel-de-fundo com cabo principal de aço, operado através de
guincho hidráulico. Esta tecnologia propiciou operações em até 600 m de profundidade e foi adotado
por parte das frotas de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, para a captura dos
chernes verdadeiro (Epinephelus niveatus) e poveiro (Polyprion americanus), do peixe-batata
(Lopholatilus villarii) e dos namorados (Pseudopercis spp.). Outras espécies como o sarrão, a abrótea-
de-profundidade e o cação-gato (Squalus spp.), também capturadas, eram utilizadas como isca
(Ávila-da-Silva et al., 2001).
As capturas anuais desembarcadas pela frota de linha-de-fundo do Rio de Janeiro e de São Paulo,
entre 1996 e 1999, nos portos de Niterói, Ubatuba e Santos foram, em média, de 1.236 t e eram
compostas principalmente pelo peixe-batata, por chernes e namorados (Ávila-da-Silva & Moreira,
A pesca de espinhel-de-fundo desenvolvida no sul do Brasil, nos anos 1997 e 1998,. teve suas
capturas compostas principalmente pelo cherne-poveiro (53%) e pelo peixe-batata (27%), sendo
que estas espécies foram capturadas além de seu nível de sustentação. Constatou-se que o rendimento
das capturas de cherne-poveiro caiu 66% em relação ao registrado em 1995 e, ao final de 1998, a
pesca dirigida ao peixe-batata havia praticamente deixado de existir (Haimovici & Velasco, 2003).
Em 1998, foram licenciados barcos estrangeiros arrendados, com capacidade de processamento e
congelamento a bordo, que operaram com espinhel-de-fundo, apesar de já haver uma frota nacional
estabelecida. A rápida diminuição dos rendimentos e conflitos com a frota nacional determinou o
fim dessa pescaria decorridos menos de dois anos de sua implementação.
A explotação de caranguejos-de-profundidade foi iniciada por meio de armadilhas (covos) por duas
embarcações japonesas arrendadas em 1984 e 1985 e que em sete meses capturaram 1.470 t
(Lima & Lima Branco, 1991). Em 1998, esses recursos voltaram a ser explotados, primeiramente
por uma embarcação japonesa arrendada no extremo sul e nos anos seguintes por até oito embarcações
estrangeiras arrendadas com operações mais direcionadas à região Sudeste (Perez et al., 2003).
Caranguejos de profundidade foram também capturados por dez embarcações arrendadas de emalhe-
de-fundo, voltadas à captura do peixe-sapo, as quais tiveram os caranguejos como principal
componente da sua captura incidental (Pezzuto et. al., 2005; Perez & Wahrlich, 2005). A produção
evoluiu de 632 t, em 1998, para 2.169 t, em 2003, caindo, no ano seguinte, para 1.745 t. Embora
não sejam separadas nas estatísticas oficiais de desembarque, duas espécies têm sido explotadas na
costa Sudeste-Sul do Brasil: o caranguejo-real (Chaceon ramosae), capturado desde o litoral do
Espírito Santo até o centro-norte do Rio Grande do Sul, e o caranguejo-vermelho (Chaceon notialis),
capturado desde o paralelo 33oS até o limite sul da ZEE brasileira (Pezzuto et al., 2002).
A pesca de arrasto de fundo em profundidades superiores a 100 m, entre 2001 e 2003, foi analisada
com base nos desembarques em Santa Catarina (Perez et al., 2005). Entre 100 e 250 m, operaram
arrasteiros duplos e simples da frota nacional com uma captura multiespecífica de espécies valiosas,
tais como congro-rosa, linguados e raias. No talude superior, operaram arrasteiros simples nacionais
e arrasteiros estrangeiros arrendados, tendo como alvo a merluza (principalmente ao norte de
29ºS, entre 200 e 400 m), a abrótea-de-profundidade (principalmente ao sul de 29ºS) e o calamar-
argentino (nos meses de inverno, entre 24 e 26ºS, e 300 a 400 m). Outras espécies importantes
foram o peixe-sapo e o galo-de-profundidade (Zenopsis conchifera). Em profundidades superiores a
500 m, o arrasto foi dirigido a camarões de profundidade.
Esta última pescaria teve início em meados de 2002 por dois arrasteiros arrendados, pescando a
mais de 700 m de profundidade. Em 2005, operavam cinco embarcações arrendadas e mais duas
nacionais. A maior parte da produção provém da costa Sudeste, entre Santos (SP) e Cabo Frio
(RJ), entre as isóbatas de 700 e 750 metros. Os rendimentos do camarão carabineiro (Aristaeopsis
edwardsiana) têm se situado entre 7 e 9 kg/hora de arrasto e a captura total dos barcos arrendados,
de 2002 até meados de 2005, foi de cerca de 124 toneladas (Pezzuto et. al., 2005).
A pesca com emalhe de fundo dirigida ao peixe sapo, no talude, surgiu com os arrendamentos.
Antes de 2000, a pesca se concentrava no Rio de Janeiro, com a utilização do arrasto e desembarques
anuais inferiores a 1.000 t. Em 2001 e 2002, 10 embarcações processadoras e congeladoras
estrangeiras arrendadas operaram com emalhe de fundo, capturando 5.653 t, cerca de 46% do
total da região Sudeste-Sul (Perez et al., 2005). Em anos recentes, embarcações nacionais têm
adotado a pesca de emalhe de fundo, desembarcando o peixe resfriado.
A abrótea-de-profundidade (Urophycis mystacea) foi explotada por várias décadas pela pesca de
linha e espinhel de fundo e utilizada como isca; mais recentemente vem sendo alvo da pesca de
arrasto de fundo, no talude. As amostragens em Rio Grande, em 1996 e 1997, mostraram que são
pescados exemplares de 30 a 70 cm e 3 a 14 anos de idade. Os desembarques de 2002 foram em
torno de 6,8 mil t. A maturação sexual é atingida pelas fêmeas com comprimento médio de 43 cm
e idades de 3 a 6 anos. As análises indicaram que a espécie está intensamente explotada (E : 0,5
e E : 0,67) e que a pescaria, neste patamar, não é sustentável (Haimovici et al. 2005).
O peixe-batata (Lopholatilus villarii) tradicionalmente explotado por linheiros junto com outras
espécies, tornou-se alvo de pesca dirigida a partir de 1994, com a introdução de espinhéis de fundo
de cabo de aço. Trata-se de um peixe de crescimento lento, longevidade superior aos 30 anos e
reprodução tardia com comprimento de 34 cm e 7 a 8 anos para as fêmeas. No Sudeste, seu estoque
passou de 1,9 milhões de indivíduos e 3.382 t, no início de 1995, para 1,2 milhões (-37%) e 1.714
t (-49%) no início de 1999. A mortalidade, no período, evoluiu de 0,16 para 0,24 e a taxa de
explotação atingiu 0,85 (Ávila-da-Silva, 2002). No Sudeste, deixou de ser alvo da frota de espinhel
de fundo, a partir de 2000. No Sul, os desembarques foram estimados em 1.500 t, em 1997, e a
pesca cessou após 1998 (Haimovici & Velasco, 2003). Espécie facilmente vulnerável ao espinhel
foi submetida a taxas de explotação que levaram ao colapso da pescaria em toda a região (Ávila de
Silva & Haimovici, 2005).
O calamar-argentino (Illex argentinus) se distribui entre o sul da Argentina, onde é objeto de intensa
pescaria, e o sudeste do Brasil. No sul do Brasil foi identificado como um recurso pesqueiro potencial
na década de 1970; mas, apenas a partir de 2000 tornou-se objeto de pescaria dirigida por parte de
arrasteiros duplos nacionais e arrasteiros simples estrangeiros arrendados, que capturaram mais
de 2.600 t, em 2002. O estoque explotado corresponde ao grupo de desovantes de inverno e primavera,
A biologia do peixe-sapo (Lophius gastrophysus) foi pouco estudada, mas a estratégia de vida do
gênero indica que são peixes de crescimento relativamente lento; as fêmeas atingem maior tamanho
e a fecundidade é elevada. Os desembarques registrados de peixe-sapo aumentaram de 793 t, em
1999, para o máximo de 7.094 t, em 2001, decrescendo em seguida para 5.129 t, em 2002, e
2.433 t, em 2004 (IBAMA, 2005). Em 2002, com base na análise da queda da captura por unidade
de esforço da frota arrendada (Perez et al 2002 subsídio procurar) e na biomassa estimada em
prospecções de arrasto (Haimovici et al, 2002 relatório preliminar página Revizee), foi recomendada
uma captura máxima de 1.500 t, que vem sendo ultrapassada (Anon, 2002). Em 2005, o
licenciamento da pesca de emalhe de fundo no talude foi regulamentado, tendo sido definida a
captura máxima de 1.500 t de peso inteiro eviscerado (IN MMA/SEAP nº 23, de 4 de julho de
2005).
Conclusões e Recomendações
Todos os estudos realizados dentro do contexto do Programa REVIZEE, assim como do convênio
SEAP/UNIVALI indicam o potencial pesqueiro limitado dos recursos de plataforma externa e talude.
As pescarias demersais de profundidade são constituídas por espécies de alto valor econômico. Os
estoques de algumas das principais espécies, como cherne-poveiro e batata, já se encontram exauridos
(Haimovici & Peres, 2005; Ávila-da-Silva & Haimovici, 2005) e outros, como o peixe sapo e o
caranguejo vermelho e, mais recentemente, os camarões de profundidade (Valentini & Pezzutto, no
prelo) encontram-se intensamente explotados. Em 2005, foi estabelecida uma moratória para a
pesca de cherne-poveiro e as pescarias do peixe-sapo e do caranguejo foram regulamentadas,
estabelecendo-se limitações no tamanho das frotas e restrições de áreas de pesca.
Prospecções
Não há antecedentes de pesquisas de prospecção com espinhel pelágico na região Sudeste-Sul. No
Rio Grande do Sul, foram realizadas pesca exploratória e experimental de cerco e vara e isca viva
Figura 14. Área coberta e posição dos lances realizados na prospecções para grandes pelágicos com espinhel
de superfície entre 1996 e 1998.
tubarões e, depois de 1994, com a introdução do cabo de monofilamento, para a captura de espadarte
(Xiphias gladius), em profundidades de 15 a 40 m. Outros recursos ganharam importância econômica,
como o os agulhões e o dourado (Coryphaena hippurus). Entre 1977 e 1997, constatou-se acentuada
queda no rendimento das capturas das albacoras, passando de 842 kg/1.000 anzóis, em 1979, para
apenas 61 kg/1.000 anzóis, em 1991. O rendimento da pesca de espadarte atingiu seu pico em
1980, com 956 kg/1.000 anzóis. No período de 1984 a 1994, os rendimentos variaram de 172 a
335 kg/1.000 anzóis. A captura de tubarões ultrapassou as de albacoras e do espadarte em 1980.
Desde então, o rendimento das capturas tem se mantido entre 400 e 800 kg/1.000 anzóis, sem
tendência definida. O rendimento das capturas da frota arrendada também apresentou tendência de
queda para as albacoras, para o espadarte e, ainda, para os tubarões (Azevedo et al., 2003).
A pesca de emalhe de superfície é direcionada ao tubarões-martelo, mas captura também outras
espécies de elasmobrânquios, peixes de bico, marlin-azul, escombrídeos, e dourado; captura
acidentalmente tartarugas e cetáceos (Kotas et al, 2005).
A pesca com espinhel de superfície focaliza as capturas de tubarões e a atividade de extração de
barbatanas. O tubarão-azul é um dos principais componentes das capturas com espinhel-de-superfície,
mas não é considerado uma espécie alvo. Em embarques na frota constatou-se que a espécie chegou
a representar 66% do número total de indivíduos pescados, e de 73 a 99% dos peixes cartilaginosos.
Considerando a vulnerabilidade dessas espécies ao espinhel e as suas características de alta
longevidade e baixa fecundidade, é urgente a implementação de medidas de conservação. Os
desembarques de albacoras, espadartes e tubarões pela frota arrendada apresentam uma tendência
de queda (Azevedo, 2005; Kotas et al., 2006; Azevedo et al., 2005).
Conclusões e Recomendações
A pesca de grandes pelágicos apresenta relativa estabilidade nas duas últimas décadas. Porém
alguns recursos mostram sinais de já ter atingido seu patamar máximo, e outros, como o tubarão-
azul, se encontram sobreexplotados. A falta de recursos alternativos pode levar ao aumento da
pesca direcionada a essas espécies. Atenção especial deve ser dada ao emalhe de superfície, que
continua sendo utilizado no Brasil, apesar de suas características predatórias e das restrições em
todo o mundo feitas a esta arte de pesca. Outra preocupação em relação à sustentabilidade, é que a
maioria das espécies que fazem parte dessas pescarias são transfronteiros e a intensidade com a
qual os estoques vêm sendo explotados não depende apenas do Brasil. O estado de explotação e
manejo desses estoques é discutido no Capítulo 2.
Programa REVIZEE
(continua)
243
Tabela 3. (Continuação)
244
Programa REVIZEE
REFERÊNCIAS
Almeida...
ANDRADE, H. A.; LUCATO, S. H. B.; ALMEIDA, L. R.; CERCHIARI, E. 2005. Prionotus punctatus
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de Dados Pretéritos de Prospecção Pesqueira - Programa Revizee
Região Norte
Alguns recursos demersais de plataforma apresentam potencial para a expansão das capturas –
ariocó (Lutjanus synagris), cabeçudo (Ctenosciaena gracilicirrhus), trilha (Upeneus parvus) e cambéua
(Arius grandicassis). O ariocó já é alvo de pescarias recentes (armadilhas para peixes), enquanto
que as demais são capturadas como fauna acompanhante nas pescarias da piramutaba e camarão-
rosa e, nas pescarias com redes (cabeçudo). No âmbito do REVIZEE, essas espécies foram
consideradas promissoras, utilizando-se redes de arrasto de fundo. Entretanto, sua pesca pode
acarretar elevado percentual de captura incidental de outras espécies, cujos estoques já se encontram
comprometidos (como por exemplo, o pargo).
A comparação entre os rendimentos obtidos com aqueles verificados no Sudeste-Sul deve ser
cuidadosa, uma vez que nessa última região já existe uma pescaria comercial, enquanto no Norte os
resultados derivam de capturas experimentais.
O desenvolvimento das pescarias dos estoques citados está na dependência da confirmação de seus
potenciais e de estudos populacionais que garantam a sustentabilidade dos recursos, além do
desenvolvimento de tecnologias de pesca adequadas, eficientes e seletivas para a sua captura.
Região Nordeste
A sapuruna (Haemulon aurolineatum), o saramunete (Pseudupeneus maculatus), a guarujuba
(Carangoides bartholomaei) e o chicharro (C. crysos) foram identificados como recursos
subexplotados. No entanto, o primeiro tem estratégia biológica complexa que inclui crescimento
lento, maturação tardia e desova parcelada intermitente; o saramunete tem capturas com alta
participação de jovens. Em médio prazo essa situação pode ser determinante para a sobrepesca de
recrutamento.
Ainda a guarajuba e o chicharro são capturados por redes de emalhe, o que impõe como medida de
manejo, que as malhas atualmente utilizadas para a pesca da serra (Scomberomorus brasiliensis),
para a qual a espécie é fauna acompanhante, sejam mantidas inalteradas. Com isso, se evitaria que,
no futuro, uma redução no tamanho das malhas determine a captura de um número indesejável de
indivíduos jovens.
As prospecções com espinhel de fundo apontaram algumas espécies como recursos potenciais –
batata (Lopholatilus villarii); cherne (Epinephelus niveatus); tubarões do gênero Squalus e o caçonete
(Mustelus canis).
Essas espécies estão presentes em águas profundas, com baixas temperaturas, e se caracterizam
por reduzido potencial reprodutivo, particularmente os elasmobrânquios. Dessa forma, a necessidade
de aprofundamento do conhecimento acerca da sua biologia e dinâmica populacional assume especial
relevância, previamente à explotação. O histórico das pescarias de cações sugere que, após uma
fase de explotação inicial, segue-se rápido declínio nas capturas ou até o completo colapso das
pescarias, devido à baixa fecundidade e alta sensibilidade desses estoques.
O cherne apresentou, também, distribuição em águas profundas, com maior abundância entre 200
e 250 m; no entanto, consta na lista de espécies sobreexplotadas e ameaçadas de sobreexplotação
(IN nº 05 MMA, de 21/05/2004). Dessa forma, qualquer intensificação de sua captura deve ser
embasada em estudos de dinâmica populacional e rigorosamente monitorada.
Os resultados alcançados na prospecção com armadilhas confirmam a área dos bancos oceânicos
como uma das mais produtivas da ZEE nordestina. Nesses locais, a espécie que apresentou os
maiores índices de captura foi o caranguejo Chaceon, embora os rendimentos tenham sido inferiores
aos observados na região Sudeste-Sul. É importante que sejam intensificadas as pesquisas sobre o
seu crescimento e reprodução, uma vez que, por ser uma espécie de distribuição profunda e de
águas muito frias, apresenta potencial reprodutivo relativamente baixo. É necessário, também,
identificar os estoques presentes nos vários bancos; conhecer a dinâmica do seu ciclo reprodutivo,
particularmente os processos de recrutamento, os quais devem ser fortemente influenciados pela
dinâmica oceanográfica da área.
Também para o batata e o cherne, deve-se lembrar que os rendimentos obtidos foram reduzidos, as
concentrações foram baixas e a área favorável à sua ocorrência (talude) é restrita, devido aos fortes
gradientes de profundidade existentes. Os baixos rendimentos previstos sugerem que o potencial,
em função de seu valor econômico unitário, só poderá vir a ser utilizado como alternativa para a
pesca artesanal.
A pesca da albacorinha (Thunnus atlanticus) foi apontada como passível de expansão, em escala
regional. No entanto, deve-se, considerar também o crescimento da pesca recreativa oceânica, que
atua sobre o estoque de forma concorrente.
Considera-se fundamental que qualquer iniciativa para o fomento dessa pesca oceânica de pequena
escala, através da reconversão das frotas locais ou introdução de novas embarcações, seja
acompanhada de planos de manejo que garantam o ordenamento e o controle da atividade. Deve-se
incluir como medida de gestão o melhor aproveitamento da fauna acompanhante, em especial dos
tubarões, sem o descarte da carne pela prática do finning (aproveitamento apenas das nadadeiras).
Tais iniciativas devem, também, estar em consonância com a viabilidade de ampliação das cotas de
pesca estabelecidas pela ICCAT, para o espadarte.
Região Sudeste-Sul
A sardinha-laje (Opisthonema oglinum) e o peixe-galo (Selene setapinnis) foram apontados como
recursos subexplotados. No entanto, essas espécies, juntamente com a palombeta (Chloroscombrus
crysurus) e a cavalinha (Scomber japonicus), já vêm sendo explotadas como alternativa para a
frota de traineiras da região, quando a sardinha verdadeira é menos abundante; contudo, a avaliação
das séries históricas de desembarque, no Sudeste-Sul mostra que o direcionamento do esforço da
pesca de cerco, para essas espécies alternativas, foi insuficiente para repor as perdas com a sardinha-
verdadeira, o que leva a crer que a biomassa desses estoques não seja expressiva.
O estoque da sardinha-laje não foi formalmente avaliado mas se considera que está moderadamente
explotado e que a espécie, com qualidades nutricionais satisfatórias, é a principal alternativa para
a frota de cerco. Já, o peixe-galo também explotado em escala moderada, demanda medidas de
proteção a indivíduos de tamanho inferior a 23 cm.
Deve-se ressaltar que a busca de recursos de profundidade, com o avanço das frotas de arrasto de
portas, nos últimos anos, para áreas da plataforma externa e talude, foi determinada pelo
comprometimento da sustentabilidade econômica da pescaria do camarão-rosa (Farfantepenaeus
spp.). Dentre as espécies visadas, destacam-se, além do calamar-agentino, o peixe-sapo (Lophius
gastrophysus), a abrótea-de-profundidade (Urophycis mystacea), o linguado-areia (Paralicthys spp.),
a merluza (Merluccius hubbsi), os caranguejos (Chaceon spp.) e parcelas remanescentes de espécies
tradicionais, como a cabrinha (Prionotus punctatus) e a castanha (Umbrina canosai). Constata-se,
dessa forma, que a pescaria desenvolvida pela frota arrasteira de portas atuante no Sudeste-Sul,
tornou-se altamente oportunista, passando de mono a multiespecífica, acentuando os riscos de
sobreexplotação dos recursos-alvo em curto prazo.
A ampliação do conhecimento
Além da identificação de novos recursos pesqueiros, o Programa possibilitou a ampliação do
conhecimento sobre a distribuição espacial e batimétrica de estoques importantes como, por exemplo,
o do espadarte, da anchoíta e do peixe-batata. A anchoíta, apesar de ainda não explotada no Brasil,
teve, pela primeira vez, a sua ocorrência mapeada em áreas além da plataforma continental, no
Sudeste-Sul, com a utilização da prospecção hidroacústica. Os resultados desse trabalho permitiram,
também, identificar importantes associações entre as características do ambiente e a distribuição e
abundâncias das espécies pelágicas, que estabelecem padrões bem definidos para as suas preferências.
Avaliações de estoques, até então restritas ao Sudeste-Sul, foram ampliadas para as demais regiões
do Brasil, permitindo estimativas de abundâncias e biomassas, indispensáveis para subsidiar medidas
de gestão das pescarias locais.
O Programa permitiu, também, a determinação quantitativa das frotas atuantes nas quatro regiões,
assim como levantamentos mais precisos dos desembarques no Norte, Nordeste e na costa Central.
Esses resultados não substituem o trabalho contínuo de coleta de dados de captura e esforço de
pesca, mas foram importantes como instrumento de aferição do grau de confiabilidade dos sistemas
atualmente em uso pelos órgãos de gerenciamento da pesca.
A formação de recursos humanos, identificada como uma das metas prioritárias do Programa,
permitiu a capacitação de equipes regionais, em especial no Norte e Nordeste, nas diversas áreas de
conhecimento pesqueiro e oceanográfico. Foi também significativa a produção de monografias,
dissertações e teses, com base nos dados do REVIZEE. O Programa contribuiu ainda de forma
decisiva para a modernização da infra-estrutura de pesquisa de laboratórios e navios das instituições
participantes.
As lacunas
Apesar da magnitude e abrangência do Programa, a relativa precariedade dos meios flutuantes
disponíveis e a carência de recursos determinaram algumas lacunas do conhecimento que deverão
ser preenchidas no futuro. O levantamento hidroacústico da ZEE, por questões operacionais, não
pôde incluir a região Norte, a qual, por suas características hidrológicas e biológicas, deve apresentar
espécies pelágicas em maiores abundâncias do que as regiões Nordeste e Central. Em regiões mais
ricas, a distribuição de pequenos peixes pelágicos situados na base da cadeia trófica, fornece dados
que permitem identificar áreas preferenciais de ocorrência de recursos em níveis tróficos superiores,
como por exemplo, as relações entre a espécie forrageira Maurolicus sthemani e o bonito, na região
Sudeste-Sul, e, indiretamente, estimar seus potenciais.
As prospecções com arrasto no Sudeste-Sul não puderam ir além da profundidade de 600 metros;
e os levantamentos dirigidos ao bentos, no Norte e Nordeste, também por limitações operacionais,
ficaram restritos aos fundos inferiores a 200 metros.
Os estoques apontados como promissores demandam ainda a determinação mais precisa de seus
potenciais; para diversos recursos, observou-se a necessidade de levantamentos mais focados, com
a identificação de agregações reprodutivas, que possam subsidiar a gestão pesqueira e a definição
de áreas de restrição ao esforço de pesca.
O desenvolvimento dessas novas pescarias deve levar em conta o conhecimento de sua fauna
acompanhante e os níveis de explotação sustentáveis para essa fauna. Isto é particularmente
importante no caso dos elasmobrânquios, capturados incidentalmente, pela frota espinheleira; suas
características de alta longevidade, maturidade tardia, e baixa fecundidade os tornam especialmente
frágeis à explotação irrestrita.
A estimativa dos desembarques totais é fundamental para a gestão dos estoques pesqueiros. O
segmento artesanal por não ter padrões bem definidos de comercialização leva a uma alta dispersão
dos pontos de desembarques ao longo da costa, dificultando sobremaneira o controle da atividade e
levando à subestimativa dos dados de produção e esforço de pesca. Esse fato foi mais evidente na
região Sudeste-Sul, onde dada a prevalência do setor industrial, o controle dos desembarques
artesanais é precário ou inexistente.
Em função do estado plenamente explotado ou sobreexplotado de grande parte dos estoques avaliados,
recomenda-se investimentos na melhoria da qualidade do pescado – condições de armazenamento,
manuseio, desembarque e comercialização, uma vez que se estará agregando valor e renda ao
produto das pescarias.
Para todas as pescarias e, em especial aquelas de baixa seletividade e as operantes nos ecossistemas
recifais e de profundidade, é necessária a implantação de áreas de preservação e de medidas que
evitem a captura acidental de espécies não comercializáveis ou de tamanhos inferiores aos permitidos.
A redução das capturas incidentais deverá ser focalizada por projetos de pesquisa e recomendações
de manejo, para aqueles petrechos de baixa seletividade e que impõem mortalidade descontrolada
sobre espécies acompanhantes. Nas pescarias de arrasto, por exemplo, os percentuais de rejeição
podem superar 50%, relativamente à captura das espécies alvo.
Da mesma forma, para os elasmobrânquios, são necessárias medidas que incluam áreas de exclusão
de pesca para as espécies ameaçadas, bem como minimizem a captura de jovens em áreas de
berçário e garantam a manutenção do estoque de reprodutores.
Para a determinação de áreas de restrição, estudos futuros devem focalizar padrões de distribuição
espacial dos adultos desovantes e a existência e localização de agregações reprodutivas.
A compreensão das relações tróficas nos ecossistemas marinhos é necessária para a sua modelagem
detalhada e para a definição mais precisa de seus potenciais. São também importantes os estudos
baseados em marcação e recaptura e genéticos, para a adequada delimitação dos estoques.
A fiscalização da atividade pesqueira por observadores de bordo e rastreamento por satélite, ainda
restrita às embarcações arrendadas, mostrou-se um instrumento eficiente de controle, devendo ser
aplicada também à frota nacional.
Os estoques compartilhados, cuja explotação implica em pesquisa e manejo integrado pelos países
nos quais se distribuem, merecem atenção especial. Dentre eles tem-se, na região Norte, o camarão
(Farfantepenaeus subtilis), e no Nordeste, o dourado (Coryphaena hippurus). Na região Sul várias
Em relação aos principais recursos já explotados, constatou-se que, na maior parte dos casos, não
há possibilidade de aumento da produção, a partir da intensificação do esforço de pesca. Ao contrário,
medidas de conservação dos estoques e restrição ao esforço de pesca são determinantes para sua
recuperação e deverão permitir um incremento nos desembarques totais.
Para aqueles estoques subexplotados ou ainda não explotados as perspectivas de aumento da produção
são limitadas e estarão, também, sujeitos a estratégias conservativas de ordenamento.
Caso pescarias comerciais venham a se desenvolver sobre esses estoques, é crucial que as mesmas
sejam adequadamente monitoradas e que o esforço de pesca seja compatível com seus rendimento
sustentáveis. Assim, qualquer iniciativa de fomento deverá se pautar pelo critério precautório,
iniciando-se com um esforço de pesca suficiententemente seguro e ampliando-se o mesmo, de forma
gradativa, caso os dados gerados pela atividade de pesca apontem para a possibilidade de tal
expansão. Observou-se que a ampliação da pesca, na última década, sobre estoques de águas mais
profundas, pela frota nacional e por intermédio dos arrendamentos, adicionou menos de 2% à
produção total do país. Hoje, os estoques que mais contribuíram para esse incremento mostram
sinais de sobrepesca.
Para o conjunto dos estoques com algum potencial, avaliados no escopo do REVIZEE, pode-se
inferir, portanto, uma contribuição bastante restrita para a produção extrativa marinha nacional.
Em relação aos atuns e espécies afins, um eventual aumento de produção, sem provocar sobrepesca,
só poderá se dar com base na negociação de cotas de captura, visto que a maior parte dos estoques
do Atlântico encontra-se plenamente explotada ou além desse limite.
Alça microbiana (“microbial loop”) – Constitui uma nova visão da cadeia trófica marinha,
comparativamente à cadeia planctônica clássica formada apenas de microfitoplâncton (> 60
micrômetros – µm) e mesozooplâncton (>200 µm). A alça microbiana inclui os organismos de
menor porte: vír us, bactérias, pico (<20 µm), nanoplâncton (20-60 µm), e micro-
zooplâncton (<200 µm). O conceito de “ alça” provém do fato da matéria orgânica ser reciclada
pelas bactérias que aproveitam os produtos de excreção e detritos originados dos outros organismos.
As pesquisas revelaram a grande importância da alça microbiana na transferência de energia ao
longo da cadeia trófica marinha, sobretudo nas áreas mais eutrofizadas.
Alginatos – goma extraída de algas pardas, tais como as Laminaria, com ampla distribuição mundial.
São usados em muitos alimentos e bebidas lácteas, em função de suas propriedades de espessamento
e estabilização.
Análise demográfica – Método usado para o exame, a avaliação e a interpretação dos componentes
e dos processos de mudanças em uma população. Entre seus componentes estão as tabelas de vida
que sumarizam variáveis demográficas chaves, incluindo mortalidade, idade específica, sobrevivência
e expectativa de vida. Essas informações são usadas para investigar padrões demográficos e processos,
tais como diferenças nas taxas de sobrevivência ou expectativa de vida de diferentes grupos. Quando
a informação é combinada com dados de fecundidade, as tabelas de vida podem ser usadas para
estimar taxas de mudança na população.
Análise de Coortes e Análise de populações virtuais (VPA) – Esses métodos são conhecidos como
análise de populações virtuais ou análise de coortes, porque segue-se uma coorte do momento em
que ela é recrutada na pesca até o seu desaparecimento. O desaparecimento de uma coorte é mais
rápido na medida que o esforço de pesca é maior. Necessita-se de informação precisa de quanto foi
pescado em termos de números de peixes. A captura total (em toneladas) deve ser distribuída pelos
grupos etários (métodos baseados na idade) ou grupos de comprimentos (métodos baseados no
comprimento), com base em amostras aleatoriamente obtidas dos desembarques. A análise de
populações virtuais só pode ter início após a confecção de tabelas com os desembarques totais em
números por idade ou por comprimento por ano ou mês.
Box-corer – caixa amostradora que é inserida em uma estrutura alongada e que tem um braço
articulado com uma lâmina que fecha a base no momento de retirada da mesma no fundo. A
verticalização da caixa, ao tocar o fundo, é mantida por uma armação. Normalmente utilizado
para obtenção de amostras de substratos moles. Este equipamento é recomendado para amostragem
quantitativa, inclusive para análises estratificadas.
Carrageninas – hidrocolóide extraído de algas marinhas vemelhas dos gêneros Gigartina, Hypnea,
Eucheum e Iridaea. É um ingrediente multifuncional que possui uma habilidade exclusiva de formar
uma ampla variedade de texturas de gel, utilizado em diversas aplicações como demulsificantes
e laxativos e como espessante, gelificante, estabilizante, entre outros, na indústria alimentar.
Ciclônico – movimento no sentido dos ponteiros do relógio, no hemisfério Sul, e no sentido contrário,
no hemisfério Norte.
Cienídeo – Peixe da família Scienidae que inclui a corvina, castanha e pescadas, entre outros.
Correntes oceânicas de contorno oeste – correntes que bordejam a margem oeste dos oceanos.
Corrico – Método de pesca de peixes pelágicos que consiste em arrastar uma ou várias linhas com
anzol a fim de atrair o pescado pela agitação da isca ou atrator utilizado junto ao anzol (objeto
metálico, isca artificial, isca viva, isca morta), que simula o movimento da presa.
CPUE – Captura por unidade de esforço. Unidade usada em estudos de pesca que expressa o
rendimento da pescaria através da relação do volume de pescado capturado e de um índice variável
que demonstra o custo operacional da pescaria (homens/dia, metros de rede lançados, horas de
arrasto etc..). A utilização de unidades adequadas de esforço de pesca permite que a CPUE seja
proporcional à densidade da população objeto da pescaria.
Covos – Método de pesca que consiste no lançamento ao fundo de gaiolas iscadas feitas de diversos
materiais com uma isca dentro e uma abertura que permite a entrada da espécie alvo, mas impede
a sua saída. São conhecidos também como armadilhas ou manzuás.
Demersal – Nome dado a espécies, que embora com hábitos nectônicos (natação livre independente
das correntes) passam a maior parte da vida nadando próximo ao fundo, geralmente devido a
dependência de alimentos que estão enterrados no fundo ou aderidos a sua superfície.
Ecossonda – Aparelho usado para detectar o fundo do mar, alguns detalhes de sua morfologia e
cardumes de peixes. Constitui-se num emissor de som de alta freqüência (transdutor) que emite
Efeito Ilha – As ilhas oceânicas e montes submersos constituem barreiras para as correntes
submarinas. As águas profundas, normalmente mais frias e ricas em sais minerais, ao encontrar
esses acidentes topográficos, são desviadas para cima e proporcionam um enriquecimento da camada
eufótica (iluminada) e um acréscimo da produção planctônica e pesqueira. O “efeito Ilha” é
equivalente ao processo de ressurgência, determinada pela ação dos ventos, nas regiões costeiras.
Espécies altamente migratórias – aquelas que migram através das ZEEs e de águas internacionais.
Espécies transfronteiras – aquelas que ocorrem nas ZEEs de dois ou mais países
Espinhel pelágico – arte de pesca destinada à captura de grandes peixes pelágicos. É composto
por seções (samburás) de 300 a 350 m, ligadas entre si, podendo atingir um comprimento total de
60 a 90 km. Os anzóis são presos às extremidades das linhas secundárias que, por sua vez, são
ligadas à linha principal por grampos mantendo um espaçamento de cerca de 60 metros. O conjunto
é mantido à superfície por bóias.
1
Highly migratory, transboundary and straddling stocks (http://www.traffic.org/cop11/briefingroom/fisheries.html)
Highly migratory species are those that migrate through national jurisdictions and the high seas; Transboundary stocks
occur within the EEZs of two or more coastal States; Straddling stocks occur in both EEZs and adjacent high seas.
Eufótica (zona) – A camada de água que recebe luz solar suficiente para realização da fotossíntese.
A profundidade desta camada varia com o coeficiente de extinção da luz, o ângulo de incidência da
luz solar, a duração do dia e a cobertura de nuvens. Na prática, toma-se como cerca de 80 metros
a espessura desta camada. A profundidade de compensação é o limite inferior da zona eufótica. A
zona afótica é a parte dos oceanos onde a luz é insuficiente para a fotossíntese
Falsas rias – são estuários, esculpidos durante a última transgressão marinha (Holoceno). Nos
litorais do nordeste do Pará e do noroeste do Maranhão, os estuários são esculpidos em terrenos
baixos (Planície Costeira e Planalto Costeiro), sendo assim denominadas de “falsas rias”. Feições
similares presentes em relevo montanhoso na costa do Portugal e da Espanha são conhecidas como
“rias”.
Fósseis guias – espécies que apresentam um curto intervalo de tempo entre o aparecimento e a
extinção e uma ampla distribuição geográfica. Bons exemplos são os amonóides (cefalópodes) e
foraminíferos.
Georreferenciada – Refere-se a uma posição sobre a superfície terrestre que possui uma referência
geográfica num sistema de coordenadas, permitindo o retorno a mesma posição ou a disposição
desta em um mapa. Em pesquisas de mar aberto, os parâmetros de coordenadas geográficas mais
utilizados são a latitude e longitude.
Giro Subtropical – grande giro que ocupa as latitudes subtropicais (de 25 a 30ºS), do Oceano
Atlântico, formado pelas correntes de Benguela, Sul Equatorial, do Brasil e do Atlântico Sul.
Linheiro – Barco de pesca cujo método de captura é baseado no uso de anzóis com isca lançados ao
fundo, presos a linhas. Os petrechos de pesca podem tanto ser operados manualmente e em sentido
vertical, com um ou vários anzóis presos a linha (também chamado de “linha de mão”) ou dispostos
ao longo de um cabo “mãe” e mantidos sobre o fundo ou flutuando na superfície (também chamados
de espinhéis ou “longlines”).
Meroplanctônicos – organismos que permanecem no plâncton somente durante parte de seus ciclos
de vida (oposto de holoplanctônicos).
Micromol (µM) – milionésima parte do Mol (O Mol ou molécula-grama é definido como sendo a
quantidade de substância de um sistema que contenha tantas entidades elementares quanto os
átomos de 0,012 quilogramas de carbono-12. Um Mol de qualquer substância possui 6,023 x 1023
moléculas).
Modelo de dinâmica de biomassa – Modelo populacional simples que considera o estoque como
uma quantidade única, desconsiderando parâmetros relacionados à estrutura etária ou composição
de comprimentos. O modelo assume que a biomassa é função da interação de quatro fatores – o
crescimento em peso dos indivíduos, o recrutamento e os efeitos das mortalidades natural e por
pesca.
Modelo de rendimento por recruta de Beverton & Holt – O modelo de rendimento por recruta de
Beverton & Holt (1957) é, a princípio, um modelo com sistema de parâmetros constantes. Ou seja,
um modelo que descreve o estado de um estoque e o seu rendimento numa situação na qual a
mortalidade por pesca, a mortalidade natural e o recrutamento são constantes para todos os peixes
de uma determinada coorte. O modelo analisa como o crescimento, a mortalidade natural e por
pesca interagem, de modo a determinar o tamanho ótimo de primeira captura e o nivel mais adequado
de mortalidade por pesca. O modelo não considera a influência de fatores ambientais.
Modelo preditivo de Thompson & Bell – O modelo preditivo de Thompson & Bell é usado para
prever capturas e tamanho dos estoques sobre diferentes cenários de explotação. Necessita do
número de peixes no menor grupo de comprimentos (número inicial de recrutas) e da mortalidade
por pesca associada a cada grupo de idade. O método pode ser adaptado para prever o rendimento
de todas as classes etárias em um único ano, ao invés do rendimento de uma única coorte por vários
anos.
Modelos de avaliação – São modelos que permitem analisar os efeitos nas capturas e biomassas, a
partir de mudanças do nível de pesca e também do padrão relativo de exploração.
Modelos estruturais – Modelos que consideram a estrutura do estoque por idades ou tamanhos.
Estes modelos permitem analisar os efeitos nas capturas e biomassas, a partir de mudanças do nível
de pesca e também do padrão relativo de exploração.
Mortalidade por pesca – Quantidade (em número) de peixes extraídos de um determinado estoque
através da pesca.
Mortalidade por pesca F0,1 – corresponde à taxa de mortalidade para o ponto da curva de
rendimento por recruta na qual a inclinação é de 10% da inclinação da curva na origem. O F0,1 é
um ponto de referência mais conservativo, visto que é sempre menor que o Fmáximo. (http://
www.fao.org/fi/glossary/default.asp)
Neártica – Região zoogeográfica que compreende a América do Norte, a partir das regiões mais
setentrionais do México, e a Groenlândia.
Oligotrófico – Palavra formada pela junção de “oligo” (pouco) e “trophos” (alimento). Literalmente,
oligotrófico significa pouco alimento. O termo é utilizado em ecologia para designar regiões cujas
condições físicas dificultam a produção orgânica. Como conseqüência, a densidade de vida é muito
baixa.
Ondas internas – Ondas que ocorrem em profundidade, sem efeito, ou efeito pouco sensível na
superfície. São caracterizadas por grandes comprimento (centenas de metros) e amplitude (dezenas
de metros) e baixa freqüência (10 minutos). As ondas internas são provocadas por diferença de
pressão na interface de massas de água de densidades diferentes, e pelas irregularidades do fundo
da plataforma continental. A conseqüência sobre o plâncton é uma alteração dos padrões de
distribuição vertical dos organismos.
Otólitos – são estruturas calcárias encontradas no ouvido interno dos peixes teleósteos, relacionados
à audição e manutenção do equilíbrio. O conjunto é formado por três pares de otólitos, sendo que o
“sagitta” é o mais utilizado para estudos de crescimento.
Paleocanal – canal fossilizado, não mais funcional, que indica uma antiga drenagem, sendo hoje
preenchido por sedimentos.
Paralarva – Primeiro estágio de vida livre dos cefalópodes, encontrado no plâncton subsuperficial.
Picnoclina – camada da massa d’água na qual se verifica uma mudança brusca da densidade com
a profundidade.
Relinga – Estrutura localizada na parte inferior de uma rede de arrasto de fundo que devido ao seu
peso, mantém a base da rede fixa sobre o fundo durante a operação de arrasto. Pode ser formada
por um cabo de aço, cordas de nylon com peças de chumbo atadas ou correntes.
Rendimento por recruta (Y/R) – “contribuição” em peso para o estoque determinada por cada
peixe a partir de seu ingresso no estoque (recrutamento) e ao longo de seu tempo de vida. O rendimento
depende do “padrão de explotação”, isto é, como a mortalidade por pesca (F) atua por classe de
idade, e da mortalidade natural (M). ara um dado padrão de explotação, taxa de crescimento do
peixe, e mortalidade natural, pode ser calculado um valor de equilíbro de Y/R para cada nivel de F.
O rendimento por recruta aumenta com a mortalidade por pesca até atingir um ponto no qual se
obtém o máximo sustentável (MSY ou RMS). Além desse ponto, configura-se uma situação de
“sobrepesca”. Nem sempre a curva tem um máximo bem definido, o que pode tornar difícil a
identificação de um F máximo.
Ressurgência – Fenômeno oceanográfico que ocorre quando uma interação de forças físicas sobre
uma massa de água (normalmente o vento ou uma barreira no relevo) resulta na subida de águas
profundas e relativamente mais frias para a superfície. Uma vez que essas águas profundas são
ricas em sais minerais essenciais ao processo de fotossíntese, quando essas águas atingem a zona
fótica (iluminada) da coluna de água, esse fenômeno causa uma intensa proliferação de microalgas
(fitoplâncton), podendo aumentar a biomassa viva em todos os níveis superiores da cadeia alimentar
marinha.
Serranídeos – Família de peixes ósseos da ordem dos perciformes que atingem grandes tamanhos;
característicos de áreas tropicais e com presença de recifes. Tem grande importância econômica e
são chamados de “groupers” em países de língua inglesa. No Brasil podem receber o nome de
garoupa, badejo, cherne, entre outros.
Sobrepesca de recrutamento – Situação na qual a mortalidade por pesca é tal que leva a uma
significativa redução do recrutamento anual. Caracteriza-se por um estoque desovante muito reduzido;
uma baixa proporção de peixes mais velhos na captura, e, geralmente, recrutamentos reduzidos ao
longo dos anos. Quando prolongada, a sobrepesca de recrutamento pode levar ao colapso do estoque,
particularmente quando ocorre concomitante a condições ambientais desfavoráveis (http://
www.fao.org/fi/glossary/default.asp).
Surimi – pasta formada pela musculatura de pescado picada, lavada com água, adicionada de
protetores protéicos, e congelada em blocos (http://www.ucb.br/)
Taxa de explotação (E) – Relação entre a taxa de mortalidade devida à pesca e a taxa de mortalidade
total, que inclui as mortes por causas naturais (F/Z). A taxa de mortalidade mede o declínio da
população em números de indivíduos, ao longo do tempo. Nos modelos de avaliação de estoques, as
taxas de mortalidade são geralmente expressas em forma exponencial (ou “coeficientes
instantâneos”).
Termoclina – camada da massa d’água na qual se verifica uma mudança brusca da temperatura
com a profundidade.
Turbidito – Designação genérica dos sedimentos clásticos (formado de rochas preexistentes) oriundos
de correntes de turbidez (corrente densa e estratificada com sedimentos em suspensão provocada
por processo de avalanche subaquática).
van Veen – tipo de pegador de fundo, utilizado para coletar amostras de substratos moles. É
constituído de duas caçambas articuladas por uma dobradiça e duas barras cruzadas presas a um
cabo de aço. As caçambas se mantêm abertas por um sistema de travas que é liberado assim que o
equipamento toca o fundo. O recolhimento faz com que as caçambas se fechem, coletando o
sedimento.
Vento zonal e meridional – componentes da intensidade do vento obtidos pela sua projeção nos
eixos horizontal e vertical.
Vórtices ciclônicos – Perturbação de uma massa de água oceânica em mesoescala, causada por
fortes ventos, e interações entre correntes, entre outros fatores. Essa perturbação pode fazer com
que a massa de água comece a girar sobre si mesma. O giro pode ocorrer no hemisfério sul, sentido
dos ponteiros do relógio (vórtice ciclônico) ou no sentido contrário dos ponteiros do relógio (vórtice
anticiclônico), de acordo com as forças atuantes e o efeito da rotação da terra. No hemisfério norte,
a definição é oposta.
(continua)
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Score Nordeste
Score Central
Score Nordeste
Score Central
Score Sul
Agradecimentos especiais são devidos aos Comandantes e tripulações dos barcos de pesquisa e da
frota comercial, que atuaram nas prospecções e levantamentos oceanográficos; às Fundações
responsáveis pela gestão dos recursos do Programa (BIO-RIO, FEMAR, FADESP, FADURPE e
FUSP); ao CNPq, pela concessão de bolsas de pesquisa; à SECIRM, pelo apoio à aquisição de
equipamentos importados e às facilidades para as reuniões do Comitê Executivo; à Marinha do
Brasil, pela cessão do N.Oc. “Antares”; à BAHIA-PESCA, pela viabilização das operações, do
N.Oc. “Thalassa”, do IFREMER, e o aluguel de embarcações da frota comercial para as campanhas
de prospecção com espinhel na Região Central da ZEE; Ao SINPESCA, pelo apoio às prospecções
na região Norte; ao IBAMA, pela participação de seus Centros de Pesquisa e embarcações; à
PETROBRAS, pela cessão do barco de apoio “Astro Garoupa”; do combustível para a operação de
toda a frota envolvida no REVIZEE; assim como, o aporte de recursos para o refinamento de
pesquisas e a publicação das séries regionais (Nordeste, Central e Sudeste-Sul) de resultados do
Programa; e à SEAP, pela concessão dos recursos para a publicação deste Relatório Executivo.