Carta Diretriz 4 - Publicacao-IBGC

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Série de

4
Cartas Diretrizes
Independência dos Conselheiros

1 de Administração - Melhores
Práticas e o Artigo 118 da
CARTA
Lei das Sociedades Anônimas
DIRETRIZ

CARTA DIRETRIZ
2 Mecanismos de Defesa
à Tomada de Controle
As Cartas Diretrizes são
documentos elaborados pelo

3 Laudos de Avaliação
IBGC com o objetivo de abordar

4 Transações entre
partes relacionadas 4 temas atuais e polêmicos
diretamente ligados a questões
de Governança Corporativa.
O projeto foi aprovado, em

CARTA DIRETRIZ 2007, pelo Conselho de


Administração e entrou em
funcionamento no mesmo ano.

Esta iniciativa tem uma forma


crítica, analítica e objetiva,

Transações Entre atendendo à finalidade de

Transações Entre Partes Relacionadas


influenciar a sociedade brasileira,

Partes Relacionadas seja por meio de suas


organizações empresariais ou de
órgãos tomadores de decisões,
não limitada apenas aos Poderes
Executivo, Legislativo e
Judiciário, visando sempre ao
aprimoramento das práticas de
Governança Corporativa no País.
CARTA DIRETRIZ
4

Transações Entre
Partes Relacionadas

2014
2014 © IBGC

Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


O IBGC é uma organização exclusivamente dedicada à promoção da Governança Corporativa
no Brasil e o principal fomentador das práticas e discussões sobre o tema no País, tendo
alcançado reconhecimento nacional e internacional.

Fundado em 27 de novembro de 1995, o IBGC – sociedade civil de âmbito nacional, sem fins
lucrativos – tem o propósito de ser referência em Governança Corporativa, contribuindo para o
desempenho sustentável das organizações e influenciando os agentes da nossa sociedade no
sentido de maior transparência, justiça e responsabilidade.

Presidente Vice-Presidentes
Sandra Guerra Eliane Aleixo Lustosa e Fernando Alves

Conselheiros Diretoria
Emilio Carazzai Henry Vahdat
Luiz Carlos de Queiroz Cabrera Matheus Corredato Rossi
Marta Viegas Rocha Sidney Tetsugi Toyonaga Ito
Ricardo Egydio Setubal
Robert Juenemann Superintendência Geral
Roberto S. Waak Heloisa Bedicks

Para mais informações sobre o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, visite o site
www.ibgc.org.br.

Para associar-se ao IBGC, ligue: (11)3043-7008.

I59i Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


Transações entre partes relacionadas / Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa. Coordenação: João Laudo de Camargo e Luiz Spinola. São Paulo, SP - IBGC,
2014 (Série Cartas Diretrizes, 4).

26 p.

ISBN: 978-85-99645-32-1

1. Governança Corporativa. 2. Conselho de Administração. 3. Sociedade Anônima


– Legislação – Brasil. I. Título. II Camargo, João Laudo, coord. III Spinola, Luiz, coord

CDD – 658.4

Bibliotecária responsável: Mariusa F. M. Loução – CRB-12/330


Créditos
Este trabalho foi desenvolvido pela Comissão de Cartas Diretrizes, que tem o propósito de
abordar temas diretamente ligados a questões de Governança Corporativa. Esta iniciativa tem
uma forma crítica, analítica e objetiva, atendendo à finalidade de influenciar a sociedade
brasileira, seja por meio de suas organizações empresariais ou de órgãos tomadores de
decisões, não limitada apenas aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, visando sempre
ao aprimoramento das práticas de Governança Corporativa no País.

Agradecimentos
Ao staff do IBGC, que proporcionou apoio às atividades da Comissão de Cartas Diretrizes. A
todos os membros da Comissão, associados ao IBGC, que dedicaram, generosamente, seu
tempo para o desenvolvimento da Governança Corporativa, em particular aos abaixo
relacionados que mais ativamente contribuíram para a elaboração desta Carta Diretriz.

Contribuições Coordenação
Ana Novaes João Laudo de Camargo
Antônio Emygdio Luiz Spinola
Breno de Oliveira
Domenica Noronha Redação
Gustavo Grebler Caetano Altafin Cunha
Isabella Saboya Eduardo Abraão
Jean Pierre Zarouk
Leo Strine
Luiz Alberto Rosman
Luiz Martha
Marco Antonio Papera
Marcos Pinto
Marcus Senna
Maria Helena Santana
Norma Parente
Patricia Pellini
Pedro Rudge
Raphael Souza
Regio Martins
Renata Maccacchero Victer
CARTA DIRETRIZ 4

Índice
1. Introdução ............................................................................................. 09

2. Deveres de Sócios e Administradores ......................................................... 10


2.1 Dever de lealdade .................................................................................................................................... 10
2.2 Con ito de interesses ........................................................................................................................... 10
2.3 Dever de diligência ................................................................................................................................. 11
2.4 Comutatividade ......................................................................................................................................... 11
2.5 Grupo econômico ..................................................................................................................................... 12

3. Discussão Temática ................................................................................. 13


3.1 Evolução do mercado e experiência internacional .................................................. 14
3.2 Políticas e regras internas ................................................................................................................. 14
3.3 Comitê Especial .......................................................................................................................................... 15
3.4 Comitê de Aquisições e Fusões – CAF .................................................................................. 17
3.5 Rito decisório ................................................................................................................................................ 18
3.6 O papel dos administradores ........................................................................................................ 19
3.7 Divulgação ....................................................................................................................................................... 20

4. Recomendações ..................................................................................... 21
4.1 Deveres dos administradores ....................................................................................................... 21
4.2 Forma de eleição dos administradores ............................................................................... 21
4.3 Deveres dos sócios controladores ........................................................................................... 22
4.4 Rito decisório ................................................................................................................................................ 22
4.5 Práticas vedadas ........................................................................................................................................ 22
4.6 Política e regras internas .................................................................................................................... 22
4.7 Comitê Especial .......................................................................................................................................... 23
4.8 Administração de con ito de interesses ............................................................................ 24
4.9 Divulgação ...................................................................................................................................................... 24
4.10 Submissão de TPRs ao CAF ............................................................................................................ 24

Anexo I ..................................................................................................... 25
CARTA DIRETRIZ 4

1. Introdução
Transações entre Partes Relacionadas (“TPRs” ou “TPR”) são frequentes no ambiente de
negócios. TPRs são justi cáveis ao agregarem valor às organizações com baixo custo de
transação, em virtude do relacionamento entre as partes contratantes. Porém, em alguns
casos, TPRs podem ser prejudiciais às organizações e seus sócios, sobretudo, em razão do
con ito de interesses a elas inerente e dos custos de monitoramento.

Para ser válida e legítima, uma TPR deve ser razoável, justi cada e equilibrada, ou seja,
contratada em bases justas e condições de mercado. Geralmente, tais elementos resultam
da negociação entre partes independentes. O aspecto sensível das TPRs reside na ausência
dessa independência negocial, quando, muitas vezes, uma das partes é capaz de
in uenciar na formação da vontade da outra. Por esta razão, TPRs podem implicar elevados
custos de monitoramento e levar ao favorecimento indevido de partes relacionadas, em
detrimento do interesse da companhia.

Atento às boas práticas, o IBGC vem a público divulgar esta 4ª Carta Diretriz, com o objetivo
de contribuir para o desenvolvimento da economia brasileira e a instauração de um
ambiente empresarial de maior transparência, con ança e ampla divulgação de
informações.

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2. Deveres de Sócios
e Administradores
2.1. Dever de lealdade

Os administradores e sócios de sociedades empresárias devem observar as melhores


práticas de Governança Corporativa na contratação de TPRs e, assim, zelar pelo interesse da
companhia, preservada a equidade entre todos os sócios. O dever de lealdade impõe aos
administradores e ao sócio ou grupo controlador o compromisso de servir à sociedade,
priorizando o interesse da organização. Tal dever não se resume ao mero cumprimento de
ritos ou procedimentos formais, trata-se de agir segundo o princípio norteador de
aderência ao interesse da companhia. O cumprimento do dever de lealdade possibilita a
realização de TPRs bené cas a todas as partes envolvidas, por permitirem o
aproveitamento de sinergias com baixo custo de contratação.

Na análise e negociação de uma TPR, o sócio ou grupo controlador deve incentivar os


administradores a estabelecerem um ambiente negocial independente, com o
envolvimento dos órgãos sociais pertinentes, a m de que o resultado alcançado seja
comutativo, atenda ao melhor interesse da sociedade e trate todos os sócios de forma
equitativa e equilibrada.

2.2. Con ito de interesses

Na negociação de TPRs, o interesse da parte relacionada é distinto do da sociedade. Uma


delas quer receber o maior preço, enquanto a outra deseja pagar o menor, por exemplo.
Devem existir mecanismos que assegurem efetividade e independência ao processo
negocial e decisório, bem como comutatividade ao resultado alcançado. Assim, evita-se o
favorecimento indevido da parte relacionada em detrimento do interesse da sociedade.

Ao referir-se a diretores e conselheiros de administração como administradores, o Art. 145 da Lei nº 6.404/76 (“Lei das S.A.”) estendeu a
ambas as funções a aplicação de suas disposições relativas a requisitos, impedimentos, investidura, remuneração, deveres e
responsabilidades.

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CARTA DIRETRIZ 4

2.3. Dever de diligência

Os administradores devem empregar no cumprimento de suas funções o cuidado e


diligência que todo homem probo costuma aplicar na administração de seus próprios
negócios. O dever de diligência atribui aos administradores a obrigação de monitorar,
investigar e examinar, de maneira informada, re etida e desinteressada, a TPR proposta em
relação às alternativas disponíveis no mercado e optar por aquela que melhor atenda ao
interesse da companhia.

Os administradores devem exercer, caso a caso, o controle preventivo de admissibilidade


de TPRs, mediante a veri cação inicial de sua razoabilidade e a adequação do mecanismo
decisório adotado. A motivação do ato é um dos fatores determinantes para constatar sua
plausibilidade. Neste exercício, é fundamental que administradores e membros de
comitês, quando envolvidos, empreguem seus melhores esforços na análise e negociação
da TPR e "seu objetivo único [...] o de preservar e criar valor para a organização como um
todo" .

2.4. Comutatividade

A análise de TPRs compreende duas dimensões que devem ser conjuntamente


consideradas. A primeira diz respeito à negociação que precedeu a TPR e a segunda ao
resultado obtido. Na avaliação da negociação, deve ser levada em conta a forma como a
TPR foi proposta, estruturada, deliberada, aprovada e divulgada. Para serem válidas e
legítimas, TPRs devem ser comutativas, isto é, proveitosas às partes contratantes,
observados todos os fatores relevantes, tais como relação de troca, adequação da
metodologia de avaliação adotada aos ativos envolvidos, razoabilidade das projeções e
veri cação de alternativas disponíveis no mercado. Quaisquer elementos que afetem o
valor intrínseco do objeto da transação devem ser considerados.

Os administradores devem avaliar e negociar TPRs de maneira efetiva e independente.


Procedimentos negociais efetivos tendem a levar a um preço adequado e a condições
comutativas. Para tanto, administradores devem dispor de informações, tempo de
deliberação e análise e assessoria técnica adequados à natureza e complexidade da
operação.

Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (2009), 4ª Edição, pág. 38.

11
2.5. Grupo econômico

É comum que sociedades integrantes de um mesmo grupo econômico realizem TPRs para
aproveitar sinergias, alcançar e ciência operacional e, assim, melhorar seu resultado
conjuntamente considerado. Contudo, ainda assim, a individualidade de cada sociedade
deve ser estritamente observada. Seus administradores têm por obrigação, efetivamente,
negociar, a m de melhor atender ao interesse da companhia que representam, em
cumprimento dos seus deveres duciários .

Contratos celebrados por sociedades integrantes de um mesmo grupo econômico que


possuam bases acionárias distintas devem ser comutativos, mutuamente proveitosos e
negociados em condições de mercado (at arm's length).

Arts. 153, 154, 155 e 245 da Lei das S.A.

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CARTA DIRETRIZ 4

3. Discussão Temática
Aos administradores e sócios de sociedades por ações abertas ou fechadas aplicam-se as
regras contidas na “Lei das S.A.” e, no caso das companhias abertas, aplicam-se, ainda, os
atos normativos editados pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Contudo, o respeito
à mera letra da lei e de atos normativos é muitas vezes insu ciente para construir um
ambiente empresarial de transparência e con ança.

TPRs são objeto de recomendações previstas na Cartilha da CVM (Recomendações da CVM


sobre Governança Corporativa, de junho de 2002⁴) e nos Códigos editados pelo próprio
IBGC e pela Associação Brasileira das Companhias Abertas – Abrasca e pelo Comitê de
Aquisições e Fusões ("CAF"). Em linhas gerais, tais recomendações são baseadas nos
princípios da transparência, da independência de atuação dos agentes sociais e da
comutatividade.

Para disciplinar TPRs contratadas por companhias abertas, a CVM editou diversos atos
normativos, tais como as Instruções CVM nºs 358/02, 480/09, 481/09, 488/10, 509/11,
520/12, 525/12 e 547/14, a Deliberação CVM nº 642/10 e o Parecer de Orientação CVM nº
35/08 (“Parecer CVM nº 35”).

A Instrução nº 480/09 institui a obrigação de a companhia: "descrever as regras, políticas e


práticas do emissor quanto à realização de transações entre partes relacionadas, conforme
de nidas pelas regras contábeis que tratam desse assunto"; e, em relação à TPR e ao seu
conjunto: “(a) identi car as medidas tomadas para tratar de con itos de interesses e (b)
demonstrar o caráter estritamente comutativo das condições pactuadas ou o pagamento
compensatório adequado."

Já a Instrução nº 509/11, prevendo a criação facultativa do Comitê de Auditoria Estatutário


no âmbito das companhias abertas, atribui a este órgão, dentre outras competências,
“avaliar e monitorar, juntamente com a administração e a área de auditoria interna, a
adequação das transações com partes relacionadas realizadas pela companhia e suas
respectivas evidenciações”.

Tais disposições têm como objetivo orientar companhias abertas sobre como cumprir o
dever de informar o mercado sobre TPRs. Porém, a prática de mercado tem demonstrado
que, muitas vezes, a forma de divulgação e o rito para negociação e realização de TPRs são
insatisfatórios.

⁴ Em decisão de 9 de fevereiro de 2010, o Colegiado da CVM manifestou-se no sentido de, oportunamente, ser considerada a edição de
versão atualizada da Cartilha, tendo em vista que seu conteúdo não se encontra mais plenamente atualizado.

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A mesma preocupação dedicada às companhias abertas é válida para sociedades
empresárias fechadas. Independentemente da forma societária e do objeto social da
organização, é essencial que haja transparência sobre as condições da contratação das
TPRs, permitindo, inclusive, seu monitoramento.

3.1. Evolução do mercado e experiência internacional

Em geral, o desenvolvimento das regras aplicáveis à reorganização societária, compra e


venda e prestação de serviços, envolvendo a sociedade controladora e suas controladas,
sociedades sob controle comum ou outras partes relacionadas, ocorre em resposta à
evolução do mercado.

Nos Estados Unidos, a formulação do regime aplicável às operações de fechamento do


capital social, muitas vezes precedidas pela aquisição do controle acionário, ou seja,
aquelas por meio das quais um sócio adquire a titularidade das demais ações de uma
sociedade controlada ou sob controle comum, tem sido marcada por uma intensa
atividade jurisdicional.

Incentivos decorrentes de um ambiente de litígio envolvendo, inclusive, questionamento


judicial com repercussão sobre o capital reputacional de administradores e assessores
técnicos propiciaram o aprimoramento das práticas adotadas na realização de TPRs e, por
consequência, uma maior proteção aos participantes do mercado.

No caso da reorganização societária, compreendendo a sociedade controladora e suas


controladas ou sociedades sob controle comum, os critérios fundamentais para sua
contratação envolvem a efetividade da negociação e, como resultado, a comutatividade da
relação de troca pactuada.

Conforme discutido no item 3.3, a seguir, o Comitê Especial foi concebido com base na
experiência internacional para equacionar essas preocupações e, para tanto, determinadas
premissas sobre seu funcionamento devem ser atendidas.

3.2. Política e regras internas

A m de criar um regime regulamentar às TPRs adequado a cada sociedade, companhias


abertas e sociedades empresárias fechadas, conforme seu porte, devem elaborar uma
política e regras internas para a contratação de TPRs (“Política”), cujo conteúdo atenda às
suas características e peculiaridades.

A formulação de uma Política, acompanhada de controles internos e cientes, deve ser


estimulada. Contudo, a sua adoção não pode ser mera retórica ou medida protocolar. Para
ser efetiva, uma Política para TPRs deve emergir da letra escrita para a prática concreta,
coerente e consistente pela organização instituidora.

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CARTA DIRETRIZ 4

Dentre outros, Políticas para TPRs devem ter como objetivos: (i) identi car as medidas e
procedimentos a serem seguidos para tratar de con ito de interesses; (ii) garantir o caráter
estritamente comutativo das condições pactuadas ou o pagamento compensatório
adequado; (iii) informar o mercado dos termos, condições e partes envolvidas em cada TPR;
e (iv) exigir do órgão social competente (Assembleia Geral, Conselho de Administração ou
Diretoria) que aponte alternativas disponíveis no mercado à TPR proposta.

TPRs praticadas por empregados, conselheiros, diretores, sócios ou outras partes


relacionadas devem ser segregadas de transações rotineiras ou administrativas e receber o
tratamento previsto na Política. Têm de ser de nidos os órgãos sociais adequados para
atuarem como instância decisória, de acordo com a natureza e materialidade da TPR em
questão, bem como a realidade de cada organização.

Adicionalmente, os administradores devem adotar controles internos adequados para


cumprir as diretrizes contidas na Política.

Os administradores, sob a supervisão do Conselho Fiscal, devem cumprir e executar a


Política para TPRs, inclusive com relação à determinação e cumprimento do processo
decisório nela previsto, bem como de divulgação e ampla transparência dos termos das
TPRs realizadas. Assim, os sócios ou, no caso de companhias abertas, o próprio mercado
podem, efetivamente, monitorar as TPRs praticadas.

A Política adotada deve ser amplamente divulgada externa e internamente, inclusive no


website da sociedade.

3.3. Comitê Especial

Operações de reorganização societária envolvendo a sociedade controladora e suas


controladas ou sociedades sob controle comum devem ser negociadas e aprovadas por
partes que, na prática, representem duas vontades distintas. A comutatividade da relação
de troca de ações resulta da efetividade da negociação, ou seja, do engajamento das partes
na busca de seu melhor interesse.

Segundo a experiência internacional e o Parecer CVM nº 35, a instauração de um Comitê


Especial Independente é um mecanismo apto para que tais operações sejam negociadas
em condições de mercado (at arm's length), desde que determinados pressupostos quanto
à sua composição e funcionamento sejam atendidos.

Contudo, conforme reconhecido no Latin American Report on Related Party Transactions, de


dezembro de 2012, a mera constituição do Comitê Especial não signi ca que todos os
sócios da organização envolvida serão tratados de forma equitativa. Para tanto, é
fundamental que haja transparência na constituição e efetivo funcionamento do comitê.

Apesar de o escopo do Parecer CVM nº 35 ser restrito às operações de reorganização


envolvendo a sociedade controladora e suas controladas, seus princípios e diretrizes são

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aplicáveis às TPRs realizadas em outros contextos, como, por exemplo, na aquisição do
controle acionário pela administração, compra e venda de bens e mercadorias e
contratação da prestação de serviços.

O Parecer CVM nº 35 recomenda três alternativas para a composição do Comitê Especial


Independente: que seja (i) exclusivamente composto por administradores, cujos
conselheiros indicados representem a maioria dos membros do comitê e sejam
independentes, (ii) composto por não administradores, exclusivamente independentes, e
(iii) composto por um administrador eleito pela maioria dos membros do Conselho de
Administração, um administrador indicado pelos sócios não controladores e um terceiro,
administrador ou não, indicado em conjunto pelos outros dois membros.

As duas primeiras alternativas sugeridas pela CVM para a composição do Comitê Especial
possuem uma característica em comum: a maioria ou a totalidade de membros
independentes. Em ambos os casos e além da independência nominal re etida na
composição do Comitê Especial, é fundamental que o seu funcionamento garanta a
su ciência da análise realizada, a independência do seu julgamento e, por consequência, a
efetiva negociação da TPR perante o sócio ou grupo controlador.

No seu lugar, em vez de utilizar a independência dos membros do Comitê Especial como
balizador, a terceira alternativa apresentada pela CVM presume a paridade de forças muitas
vezes inexistentes entre os administradores respectivamente indicados pelo sócio ou
grupo de controle e pelos sócios não controladores para integrar o Comitê Especial na
escolha do seu terceiro membro. Nestes casos, é desejável que a deliberação pela
recomendação ou não da TPR, objeto de avaliação pelo Comitê Especial, seja tomada por
maioria a rmativa de votos, incluindo o voto do membro indicado pelos sócios não
controladores, evitando, assim, que a in uência do controlador seja o elemento
determinante para a realização da TPR. O poder de veto do membro indicado pelos sócios
não controladores, nesta hipótese, tanto favorece uma maior discussão entre os membros
do comitê como garante a independência da avaliação deste em relação ao sócio ou grupo
controlador, ambos elementos necessários para uma negociação efetiva. Ainda que não
haja voto a rmativo na forma acima indicada e o Comitê Especial constituído não se
manifeste favoravelmente à TPR, o Conselho de Administração terá autonomia para
deliberar da maneira que melhor atenda ao interesse da companhia.

Pelo conhecimento que os conselheiros de administração possuem, dos negócios sociais e


da cultura organizacional das sociedades incluídas numa reestruturação envolvendo
sociedades controladas, é recomendável que o Comitê Especial seja composto, em sua
maioria, por conselheiros de administração, preferencialmente escolhidos dentre aqueles
que possuam vasta experiência empresarial.

Diante da sensibilidade de situações que comumente levam à constituição do Comitê


Especial, o papel do conselheiro independente deve ser valorizado de modo a obter
autonomia negocial com a parte relacionada. Os membros do Comitê Especial
Independente precisam receber remuneração razoável, compatível com a função exercida.

16
CARTA DIRETRIZ 4

A atribuição de taxas de performance ou de montantes elevados que afetem a


independência dos membros do comitê deve ser coibida. Ainda, os membros do Comitê
Especial Independente não podem ser sócios ou ter integrado a instituição contratada
como assessora nanceira, que, nos últimos cinco anos, tenha prestado serviços ao sócio
ou grupo controlador ou à sociedade integrante do grupo econômico.

A administração da sociedade deve dotar o Comitê Especial Independente de condições e


assessoria técnica, provendo-o de toda e qualquer informação necessária para a formação
de sua opinião, que seja qualitativa e quantitativamente su ciente para garantir a
profundidade da análise realizada. Uma relação de troca pactuada em valor próximo
daquele determinado pelo assessor contratado não é su ciente para se concluir pela
comutatividade da operação. Para tanto, é fundamental que a TPR seja analisada e
negociada adequadamente, de acordo com a natureza e complexidade da operação, e
que, assim, a vontade social possa ser manifestada de forma pro ssional e independente
em relação ao sócio ou grupo controlador.

Caso haja de ciências no funcionamento do Comitê Especial que denotem a ausência de


efetiva negociação ou insu ciência da análise realizada por seus membros, o Conselho de
Administração deve submeter a operação ao crivo da maioria dos sócios não
controladores. O próprio Parecer CVM nº 35 reconhece tal aprovação como mecanismo
apto para evidenciar a comutatividade de operações de reestruturação societária
envolvendo a sociedade controladora e suas controladas ou sociedades sob controle
comum.

Da mesma forma que se espera de uma parte independente, o Comitê Especial deve buscar
as melhores condições disponíveis no mercado para a execução de operações de
reestruturação abrangendo a sociedade controladora e suas controladas ou sociedades
sob controle comum. Por esta razão, o Comitê Especial deve considerar alternativas à TPR
proposta, buscando-as no mercado, para alcançar a sua nalidade e dar cumprimento aos
deveres duciários para com a sociedade.

Na hipótese de vir a ser constituído um Comitê Especial Independente, seus membros


devem avaliar a conveniência de adotar um regimento interno que disponha sobre as
atribuições do comitê, bem como formalize e oriente seus trabalhos.

3.4. Comitê de Aquisições e Fusões⁵ – CAF

TPRs que envolvam a reorganização societária podem, ainda, ser submetidas à avaliação
pelo Comitê de Aquisições e Fusões (CAF), órgão criado em 2013 e administrado pela
Associação dos Apoiadores do CAF⁶ ("ACAF") , com o propósito de assegurar a observância

⁵ Mais detalhes sobre o CAF estarão no ANEXO I.


⁶ A Associação dos Apoiadores do CAF é uma entidade de natureza privada sem- ns lucrativos concebida por algumas das principais
entidades participantes do mercado brasileiro: Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – ANBIMA, Associação
de Investidores no Mercado de Capitais – Amec, BM&FBovespa e IBGC.

17
de condições equitativas nas ofertas públicas de aquisição de ações e operações de
reorganização societária envolvendo companhias aber tas brasileiras, que,
voluntariamente, decidam a ele se submeter, seja por adesão, seja por submissão de TPR
especí ca (vide anexo I).

O modelo de autorregulação do CAF inspirou-se no Takeover Panel inglês. O Código CAF


traz princípios e regras e, em sua interpretação e aplicação, o atendimento aos princípios
será privilegiado em relação às regras. Se o CAF excepcionar a aplicação de alguma regra, o
Princípio Fundamental será atendido por outro meio menos oneroso para as partes
envolvidas. Para o atendimento aos princípios, o CAF pode ainda propor medidas não
expressas no seu Código.

Cabe ao CAF analisar e atestar pela regularidade efetiva da operação submetida à sua
avaliação. A CVM rmou Convênio de Cooperação com a ACAF, indicando que transações
que sigam os procedimentos estabelecidos no Código CAF e passem por seu crivo terão
sua regularidade presumida.

Tanto o Código CAF como o Convênio de Cooperação com a CVM, além de outras
informações e documentos, estão disponibilizados, na rede mundial de computadores, na
página de informações www.cafbrasil.org.br.

3.5. Rito decisório

Diante da possibilidade de se realizar uma TPR, deve-se adotar o rito especial previsto na
Política para TPRs. Quanto antes o con ito relativo à TPR for revelado pela parte con itada
ou, quando não revelado, identi cado pelos sistemas de controle interno da sociedade,
melhor.

A abstenção do voto em situações de con ito de interesses é fundamental. Caso um


pro ssional ou sócio possua interesse próprio ou con itante com o da sociedade na TPR,
ele deve, justi cadamente, abster-se de participar da negociação e do rito decisório
relativo à operação. Esta obrigação aplica-se aos sócios, conselheiros de administração,
diretores, pro ssionais responsáveis pela estruturação da operação e a qualquer parte
relacionada a estas pessoas.

É dever dos órgãos da administração e da mesa que conduz os trabalhos assembleares


envidar esforços no sentido de identi car as situações de con ito e impedir o voto da parte
interessada ou con itada, inclusive com relação ao impedimento de voto do sócio em
questão.
Embora a parte con itada deva abster-se de discutir e votar, conhecer seus argumentos
pode ser útil ao órgão que negociará a TPR e decidirá pela sua contratação, cabendo a este
órgão solicitar ou não a apresentação de tais argumentos. A nal, a decisão será tanto
melhor quanto melhor for a qualidade da informação e, em princípio, a troca de ideias
favorece a formação de opinião. Contudo, é fundamental garantir que TPRs não decorram

18
CARTA DIRETRIZ 4

da in uência da parte relacionada na formação de vontade do órgão social. TPRs devem


resultar da efetiva negociação entre partes independentes e da deliberação fundamentada
e re etida do órgão, no melhor interesse da sociedade.

Em linhas gerais, recomenda-se que a negociação e a aprovação de TPRs caiba a


conselheiros de administração independentes, eleitos pelos acionistas não controladores
pelo regime do voto múltiplo ou voto em separado, isentos diante da parte relacionada em
questão e que possuam vasto conhecimento sobre os negócios da sociedade. Desta forma,
tais pro ssionais serão capazes de aproveitar sinergias e e ciências muitas vezes
desconhecidas pelos participantes de assembleias gerais, em que o tempo de deliberação
e qualidade das informações obtidas são menores. Sócios não controladores, sob o
incentivo da companhia, devem eleger diretamente conselheiros de administração e
membros do Conselho Fiscal independentes, mediante voto múltiplo, votação em
separado ou pedidos públicos de procuração.

TPRs rotineiras realizadas no curso normal de negócios podem, por exemplo, ser decididas
pela diretoria, enquanto que a análise de TPRs materiais ou sensíveis, conforme o caso,
pode ser atribuição do Conselho de Administração, de um Comitê Estatutário composto
por conselheiros de administração independentes ou indicados pelos sócios não
controladores, conforme o caso, ou, mesmo, ser submetida à assembleia de sócios.

3.6. O papel dos administradores

Os administradores devem zelar para que TPRs sejam contratadas no melhor interesse da
sociedade. O atendimento a esse dever tem um impacto reputacional sobre o próprio
conselheiro, sem prejuízo de sua responsabilidade pessoal por TPRs que resultem do
descumprimento de seus deveres duciários.

Para cumprir suas atribuições, os administradores devem agir (i) em conformidade com o
interesse da companhia, (ii) de modo independente à parte relacionada, (iii) de forma
re etida e fundamentada e (iv) com transparência. O conjunto destes elementos é
essencial para que uma TPR seja comutativa à sociedade contratante e trate todos os sócios
de forma equitativa e equilibrada.

Caso julguem necessário, os membros do Conselho de Administração devem certi car-se,


inclusive mediante a contratação de consultoria externa independente e competente, de
que a TPR (i) possui fundamento econômico adequado, (ii) é bené ca à sociedade, (iii) trata
todos os sócios de forma equitativa, (iv) foi efetivamente negociada, (v) é comutativa e (vi)
cumpre todos os requisitos de transparência e divulgação de informações.
Assessores técnicos e pro ssionais contratados para avaliação de TPRs devem ser idôneos,
capacitados, independentes e realizar suas atribuições de maneira isenta, e caz e
pro ssional. Compete aos conselheiros de administração scalizar o trabalho de tais
pro ssionais e analisar, criticamente, o resultado produzido. Relatórios, cartas e opiniões
produzidos por assessores técnicos devem ter seus autores identi cados e divulgados aos

19
órgãos sociais, para garantir uma avaliação adequada e uma deliberação efetiva e
fundamentada.

3.7 Divulgação

“Tudo o que não puder contar como fez, não faça”


(Immanuel Kant).

A ampla e adequada divulgação das informações sobre TPRs contribui para sua
legitimidade e denota comprometimento ético dos administradores perante os sócios,
credores, colaboradores e a sociedade como um todo.

O relatório anual da administração, os formulários de divulgação de informações


periódicas e eventuais e as notas explicativas das demonstrações nanceiras deverão
conter informações claras, corretas, completas e concisas (4 “Cs”) sobre as TPRs, em
linguagem direta e objetiva, evidenciando todos os elementos das TPRs, dentre os quais se
destacam (i) data, (ii) descrição detalhada, (iii) motivação, (iv) partes contratantes, (v)
relação entre as partes contratantes, (vi) cronologia da negociação e decisão, (vii) preço,
termos e condições, incluindo quaisquer contrapartidas, (viii) metodologia de avaliação,
(ix) benefícios obtidos ou esperados pela companhia e (x) benefícios obtidos ou esperados
pela parte relacionada, inclusive subsidiárias e familiares.

Nos casos em que a TPR for condicionada à decisão da Assembleia Geral conforme dispuser
a lei, os documentos societários ou a Política, os documentos relativos à TPR proposta
deverão ser divulgados com antecedência su ciente, por exemplo, no website institucional
da organização.

Caso instalado, o Conselho Fiscal deve scalizar a atuação dos órgãos de administração,
tendo por objeto o zelo pelo cumprimento da Política para TPRs, se existente, e, em todos os
casos, pela adequação do rito que precedeu a contratação de uma TPR e seu modo de
divulgação. Mesmo TPRs sem impacto patrimonial imediato devem ser divulgadas com
abrangência, especialmente se forem sensíveis, materiais ou estrategicamente relevantes
para a sociedade.

Eventuais disclaimers devem ser equilibrados e não isentam a sociedade e seus


administradores da responsabilidade pela ausência ou imprecisão da informação
divulgada.

20
CARTA DIRETRIZ 4

4. Recomendações
 Com base na experiência do mercado e com o objetivo de contribuir para a instauração de
um ambiente empresarial de transparência, con ança e ampla divulgação de informações
sobre as TPRs no Brasil, apresentam-se as seguintes diretrizes à luz das melhores práticas de
Governança Corporativa recomendadas pelo IBGC:

4.1. Deveres dos administradores

Ÿ Os administradores devem, efetivamente, negociar e deliberar a respeito de TPRs


com a nalidade de otimizar os resultados sociais e priorizar o interesse da companhia,
tratando todos os seus sócios de maneira equitativa;

Ÿ Os administradores devem agir (i) em conformidade com o interesse da companhia,


(ii) de modo independente à parte relacionada, (iii) de forma re etida e fundamentada e
(iv) com transparência. O conjunto destes elementos é essencial para que uma TPR seja
comutativa à sociedade;

Ÿ Os administradores de sociedades integrantes de um mesmo grupo econômico


devem, de fato, negociar, a m de melhor atender ao interesse da companhia que
representam, em cumprimento aos seus deveres duciários;

Ÿ Os administradores ou o órgão social responsável pela avaliação da TPR, conforme


dispuser a Política, deve considerar alternativas à TPR proposta, buscando-as no
mercado;

Ÿ O papel do conselheiro independente deve ser valorizado, prezando pela


autonomia perante a parte relacionada na negociação.

4.2. Forma de eleição dos administradores

Ÿ Na eleição dos conselheiros independentes, as companhias abertas devem


estimular seus acionistas não controladores a: (i) organizarem-se para solicitar a adoção
do voto múltiplo, (ii) exercerem o direito de votar em separado, (iii) utilizarem o regime
de pedido público de procuração e (iv) facilitarem a divulgação de candidatos
independentes, inclusive entre acionistas estrangeiros que votem à distância. Os
conselheiros independentes assim eleitos terão legitimidade para defender o interesse
da companhia, em benefício de todos os sócios.

21
4.3. Deveres dos sócios controladores

Ÿ O sócio ou grupo controlador deve incentivar os administradores a estabelecerem


um ambiente negocial independente, com o envolvimento dos órgãos sociais
pertinentes, a m de que o resultado alcançado seja comutativo, atenda ao melhor
interesse da companhia e trate todos os sócios de forma equitativa e equilibrada.

4.4. Rito decisório

Ÿ TPRs rotineiras menos relevantes, entendidas como aquelas realizadas no curso


normal de negócios, podem, por exemplo, ser decididas pela diretoria, enquanto que a
análise de TPRs materiais ou sensíveis, de acordo com o caso, pode ser de atribuição do
Conselho de Administração, de um comitê estatutário composto por conselheiros de
administração independentes ou indicados pelos sócios não controladores, conforme
o caso, ou ser submetida à assembleia de sócios;

Ÿ Exceto se o conselheiro independente ou indicado pelos sócios não controladores


se declarar impedido, toda e qualquer deliberação do Conselho de Administração sobre
TPRs deve contar com o voto ou parecer favorável de ao menos um conselheiro
independente ou indicado pelos sócios não controladores, que preencham os
requisitos de independência previstos no Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa do IBGC.

4.5. Práticas vedadas

Ÿ As seguintes práticas devem ser vedadas: (i) celebração de contratos gratuitos, ou


seja, sem contrapartida para a sociedade, e de prestação de serviços com partes
relacionadas, que envolvam remuneração por cobrança de taxa de gestão
(management fee) ou que contenham cláusula de remuneração baseada em medida de
desempenho econômico operacional, tal como faturamento, receita, geração
operacional de caixa (EBITDA), lucro líquido ou valor de mercado, a m de se evitar a
transferência indevida de resultados da sociedade, e (ii) concessão de empréstimos em
favor do controlador e seus familiares, de sócios que detenham participação societária
relevante, de pessoas controladas ou sob controle comum de sócios com participação
societária relevante ou de administrador eleito por estas pessoas.

4.6. Política e regras internas

Ÿ A sociedade deve estabelecer e aprovar formalmente uma Política com a nalidade


de, previamente, disciplinar o tratamento das TPRs, bem como monitorá-las. A diretoria
deve elaborar a proposta de Política com observância das diretrizes a seguir e submetê-
la a aprovação do Conselho de Administração, se houver, ou da Assembleia Geral;
Ÿ Para ser efetiva e e caz, a Política para TPRs deve (i) contemplar procedimentos

22
CARTA DIRETRIZ 4

sistemáticos, objetivos, impessoais para a análise e divulgação de TPRs, (ii) de nir


medidas e procedimentos a serem seguidos para tratar de con ito de interesses, (iii)
estabelecer foros decisórios claros e efetivos e xar atribuições negociais e deliberativas
aos diversos órgãos sociais, de acordo com a materialidade da TPR, (iv) garantir o caráter
estritamente comutativo à sociedade e (v) ter como objetivo zelar pelo interesse da
companhia e garantir um tratamento equitativo entre todos seus sócios;

Ÿ Os administradores, sob a supervisão do Conselho Fiscal, devem cumprir e executar


a Política para TPRs, inclusive com relação à determinação e cumprimento do processo
decisório ali previsto, bem como de divulgação e ampla transparência dos termos das
TPRs realizadas.

4.7. Comitê Especial

Ÿ Na hipótese de vir a ser constituído um Comitê Especial Independente, seus


membros devem avaliar a conveniência de adotar um regimento interno, que disponha
sobre suas atribuições, formalize e oriente seus trabalhos;

Ÿ O Comitê Especial Independente, quando existente, deve ser composto, em sua


maioria, por conselheiros de administração, preferencialmente escolhidos dentre
aqueles que possuam vasta experiência empresarial e que sejam independentes;

Ÿ Os membros do Comitê Especial Independente não podem ser sócios nem ter
integrado a instituição contratada como assessora nanceira, que, nos últimos cinco
anos, tenha prestado serviços ao sócio ou grupo controlador ou sociedade integrante
do grupo econômico;

Ÿ A administração da sociedade deve dotar o Comitê Especial Independente de


condições, orçamento, assessoria técnica e toda e qualquer informação relevante na
formação de sua opinião, que seja qualitativa e quantitativamente su ciente para
garantir a profundidade da análise realizada em benefício da sociedade e de todos seus
sócios;

Ÿ Na hipótese de um Comitê Especial Independente ser composto por (a) um


administrador eleito pela maioria dos membros do Conselho de Administração, (b) um
administrador indicado pelos sócios não controladores e (c) um terceiro, administrador
ou não, indicado em conjunto pelos outros dois membros, é desejável que a
deliberação pela recomendação ou não da TPR objeto de avaliação pelo Comitê
Especial seja tomada por maioria a rmativa de votos, desde que um destes votos seja
do membro indicado por sócios não controladores, evitando, assim, que a in uência do
controlador seja o elemento determinante para a realização da TPR e incentive a efetiva
deliberação no âmbito do comitê;
Ÿ Caso sejam identi cados problemas no funcionamento do Comitê Especial que

23
denotem a ausência de efetiva negociação ou a insu ciência da análise realizada por
seus membros, o Conselho de Administração deve submeter a operação ao crivo da
maioria dos sócios não controladores.

4.8. Administração de con ito de interesses

Ÿ Caso um pro ssional ou sócio possua interesse próprio ou con itante com o da
sociedade na TPR, ele deve informar qual é esse interesse e abster-se de participar dos
processos negocial e decisório relativo à TPR. Isto aplica-se aos sócios, conselheiros de
administração, diretores, pro ssionais responsáveis pela estruturação da TPR e a
qualquer parte relacionada a estas pessoas;

Ÿ É dever dos órgãos da administração e da mesa que conduz os trabalhos


assembleares envidar esforços no sentido de identi car as situações de con ito e
impedir o voto da parte interessada ou con itada, inclusive com relação ao
impedimento de voto do sócio em questão.

4.9. Divulgação

Ÿ Eventuais disclaimers devem ser equilibrados e não isentam a sociedade e seus


administradores da responsabilidade pela ausência ou imprecisão da informação
divulgada.

4.10. Submissão de TPRs ao CAF

Ÿ É boa prática que as companhias abertas, seus administradores e acionistas


controladores submetam as Reorganizações societárias envolvendo Partes
Relacionadas ao crivo do CAF e ao seu Código de Autorregulação, seja por adesão da
companhia, seja por submissão do ato societário que consubstanciar a referida
Reorganização.

24
CARTA DIRETRIZ 4

ANEXO I

O Comitê de Aquisições e Fusões (CAF), descrito no item 3.4, editou, em 2013, o Código CAF
contendo regras e princípios sobre uma espécie de TPR, a saber: as operações de
incorporação, incorporação de ações, fusão ou cisão com incorporação, previstas,
respectivamente, nos artigos 227, 252, 228 e 229, §3º da Lei 6404/76, envolvendo a
sociedade controladora e suas controladas ou sociedades sob controle comum
(“Reorganização Societária entre Partes Relacionadas, ou, simplesmente, RSPR”).

Os três procedimentos descritos no Código CAF para a aprovação da relação de troca


original (“Relação de Troca Original”) de RSPR privilegiam duas manifestações de vontade
distintas e independentes (cada manifestação oriunda de uma das sociedades envolvidas
na operação, como incorporadora, incorporada, fusionada, cindida e sucessora) que
resultam na efetividade da negociação. Todos contam com a presunção de regularidade da
CVM, desde que em conformidade com o Código CAF, segundo o crivo do Comitê de
Aquisições e Fusões.

Em todos os casos, o primeiro passo para o início das negociações das RSPRs, proposto pelo
Código CAF, é a apresentação, pelas administrações das companhias envolvidas, da relação
de troca (“Relação de Troca Original”) obrigatoriamente fundamentada em laudo de
avaliação⁷ (“Primeiro Laudo”).

A primeira alternativa para a aprovação das RSPRs requer a convocação e realização da


assembléia especial de detentores de ações em circulação no mercado reunidos em
assembléia especial, com a nalidade de deliberar a concessão de e cácia da deliberação
da Assembléia Geral Extraordinária. Em havendo concessão de e cácia, a Relação de Troca
Original é aprovada e a RSPR, realizada. Caso não haja aprovação, o procedimento descrito
a seguir passa a ser obrigatório.

A aplicação do segundo procedimento do Código CAF depende do número de


companhias aderentes (“Companhia Aderente”) ao Código CAF.

Se houver apenas uma Companhia Aderente, convoca-se assembléia especial de


detentores de ações em circulação no mercado para deliberar sobre a realização ou não de
novo laudo de avaliação das companhias envolvidas na operação ("Laudo de Revisão") e
elaboração de lista com a indicação de três diferentes avaliadores para a preparação do
Laudo de Revisão. Se o Primeiro Laudo for aprovado, a RSPR segue com a Relação de Troca
Original. Se não for aprovado, elege-se avaliador para elaborar o Laudo de Revisão. É
possível a deliberação de terceiro – e último – laudo. O Código CAF estabelece âncoras para

⁷ São princípios fundamentais do Código CAF a elaboração de laudos de avaliação (i.) com informações consistentes, completas, precisas,
atuais, claras e objetivas, (ii.) por avaliador sem nenhum con ito de interesses que lhe diminua a independência necessária ao exercício
de suas funções.

25
a negociação da Relação de Troca da RSPR fundadas nos resultados do Primeiro Laudo, no
Laudo de Revisão e, se for o caso, no Terceiro Laudo, além da existência ou não de vantagem
aos acionistas minoritários.

Se houver mais do que uma Companhia Aderente, convocam-se assembléias especiais


para deliberar sobre a elaboração de Laudo de Revisão e nomeação de comitê – com prévia
menção no estatuto social – composto por três representantes dos acionistas titulares de
ações em circulação, que será responsável por representar a companhia no processo de
indicação de avaliadores para a elaboração do Laudo de Revisão (“Comitê Especial de
Indicação”). Se houver aprovação unânime, a operação deverá seguir os termos propostos
pela administração. Se apenas uma das companhias aderentes aprovar a elaboração do
Laudo de Revisão, vale o segundo procedimento aplicável às RSPRs em que apenas uma
companhia se submete ao CAF. Se todas as companhias aderentes aprovarem a elaboração
do Laudo de Revisão, os Comitês Especiais de Indicação escolherão o avaliador e basearão a
negociação da Relação de Troca da RSPR em âncoras de negociação de nidas pelo Primeiro
Laudo, Laudo de Revisão e, se houver, Terceiro Laudo.

A terceira alternativa apresentada pelo Código CAF para a realização de RSPR é a prévia
negociação e aprovação por Comitê Especial Independente, com aplicação subsidiária do
Parecer de Orientação CVM no 35 (“Comitê Especial Independente”).

26
Série de
4
Cartas Diretrizes
Independência dos Conselheiros

1 de Administração - Melhores
Práticas e o Artigo 118 da
CARTA
Lei das Sociedades Anônimas
DIRETRIZ

CARTA DIRETRIZ
2 Mecanismos de Defesa
à Tomada de Controle
As Cartas Diretrizes são
documentos elaborados pelo

3 Laudos de Avaliação
IBGC com o objetivo de abordar

4 Transações entre
partes relacionadas 4 temas atuais e polêmicos
diretamente ligados a questões
de Governança Corporativa.
O projeto foi aprovado, em

CARTA DIRETRIZ 2007, pelo Conselho de


Administração e entrou em
funcionamento no mesmo ano.

Esta iniciativa tem uma forma


crítica, analítica e objetiva,

Transações Entre atendendo à finalidade de

Transações Entre Partes Relacionadas


influenciar a sociedade brasileira,

Partes Relacionadas seja por meio de suas


organizações empresariais ou de
órgãos tomadores de decisões,
não limitada apenas aos Poderes
Executivo, Legislativo e
Judiciário, visando sempre ao
aprimoramento das práticas de
Governança Corporativa no País.

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