3 - Teorias para Um Paisagismo Do Renascimento À Modernidade
3 - Teorias para Um Paisagismo Do Renascimento À Modernidade
3 - Teorias para Um Paisagismo Do Renascimento À Modernidade
do Urbanismo e
do Paisagismo
Material Teórico
Teorias para um Paisagismo: Do Renascimento à Modernidade
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Teorias para um Paisagismo:
Do Renascimento à Modernidade
• Introdução;
• Os Tratados Franceses para a Jardinagem:
O Jardim Racional como Arte;
• A Proposta Inglesa para os Jardins: Em Busca
de um Desenho Orgânico;
• A Concepção do Jardim Inglês a Partir de 1750;
• Burle Marx, o Paisagismo na Modernidade Brasileira:
Traços Biográficos;
• Diálogos Entre o Paisagismo e a Arquitetura Modernos.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender o jardim desde os primeiros tratados que abordam, sobretudo, seus
aspectos estéticos, até a ideia do projeto de paisagismo como intermediador da edi-
ficação com a cidade dentro da composição de uma paisagem urbana.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Teorias para um Paisagismo: Do Renascimento à Modernidade
Introdução
Como visto nas unidades anteriores, os primeiros registros de teorias da ar-
quitetura datam da Antiguidade. Considera-se que os dez livros de arquitetura de
Vitrúvio, escritos no século I a.C., sejam o primeiro tratado capaz de abordar a
complexidade da disciplina.
Muito importante, o documento escrito por Vitrúvio resiste aos tempos e influen-
cia as teorias da arquitetura desde o Renascimento. Ainda que Vitrúvio reconheça
a importância da natureza para a arquitetura, sobretudo quando ele dedica um dos
livros à água, há um distanciamento muito grande da compreensão da paisagem
como extensão do edifício.
Esta Unidade pretende, portanto, resgatar a importância da jardinagem e do
paisagismo como componentes do projeto arquitetônico e expor a sua autonomia
em relação à edificação. Para tal, a trajetória indicada tem como pressupostos os
tratados de paisagismo que datam do século XVIII, período de grandes transforma-
ções ideológicas, culturais, tecnológicas e econômicas.
Os jardins franceses e ingleses servem como referências para a compreensão das
estéticas adotadas no paisagismo, definindo a sua essência. O jardim francês, bem
como o italiano, busca a estética absolutista baseada na racionalidade da forma.
Os teóricos franceses compreendem a submissão do jardim ao projeto arquitetônico
de modo que a paisagem externa significasse a extensão dos ambientes internos.
Em contrapartida, os primeiros esboços do jardim inglês, tendo como fundamen-
tos o jardim chinês, explora uma atmosfera mais bucólica, traduzindo a paisagem
natural em uma proposta mais irregular. Sendo assim, é assumido um contraste entre
a edificação de caráter racionalista e o paisagismo dentro de uma concepção mais or-
gânica. Por conta disso, o jardim inglês denota autonomia em relação à construção.
Por fim, assumindo um salto temporal e um deslocamento continental, o paisagismo
modernista sob a ótica do brasileiro Roberto Burle Marx, permite-nos compreender a
materialização das estratégias modernas no âmbito das áreas externas. Para tal, uma
noção da vida e do pensamento do arquiteto-paisagista e uma aproximação de sua obra
será de grande importância para entendermos a interface da natureza com a arquitetura
moderna na construção da paisagem brasileira na primeira metade do século XX.
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amplamente o jardim como continuidade do espaço interno do edifício;
formas internas como salas, corredores, enfiladas, janelas, portas, cúpu-
las, etc. são descritas como elementos da arquitetura de jardins. (KRUFT,
2016, p. 554)
(ou recintos, no caso de galerias de exposição ou museus) alinhados uns com os outros ao
longo de um eixo de circulação (corredor). Tal estratégia espacial é adotada desde o período
do barroco, ainda que alguns exemplos datem de tempos anteriores.
André Le Nôtre é um importante paisagista francês que viveu no século XVII. Filho de jardi-
Explor
neiro, Le Nôtre é responsável pelos projetos dos jardins do Palácio de Versalhes, do castelo
de Vaux-le-Vicompte e da Champs-Élysées, entre outros. Le Nôtre pode ser considerado o
responsável pela elaboração do jardim francês durante o barroco em que a racionalização da
composição revela o caráter desse estilo. Para saber mais sobre o arquiteto paisagista, visite
o link: https://goo.gl/1Pf2XW
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A Proposta Inglesa para os Jardins:
Em Busca de um Desenho Orgânico
Em contrapartida ao desenho preciso dos jardins francês e italiano, os ingle-
ses realizam uma crítica a essa concepção formal. O escritor, diplomata e po-
lítico Sir Henry Wotton (Boughton Malherbe, 1568 – Eton, 1639) publica em
1624 Elementos da arquitetura [Elements of architecture]. Em seu tratado,
Wotton “reivindicava o contraste entre edifícios regulares e jardins irregulares e
dava claro destaque ao papel do espectador” (WOTTON apud KRUFT, 2016,
p. 555).
Sir William Temple (Londres, 1628 – Moon Park, 1699), político e ensaísta
inglês, corrobora com Wolton no sentido de que o jardim inglês deve buscar na
irregularidade a sua forma de expressão. Muito se deve à visita que fez à China,
que resultou em seu ensaio Sobre os jardins de Epícuro [Upon the gardens of
Epicurus] de 1685. Nele, Temple reflete sobre a irregularidade do jardim chinês
em contraposição à regularidade do jardim barroco europeu.
Entre nós, a beleza do edifício e do plantio é colocada sobretudo em
determinadas proporções, simetrias ou uniformidades; nossas trilhas
e nossas árvores são dispostas de modo a responder uns aos outros
as distâncias exatas. Os chineses desprezam esse modo de plantar e
dizem que um menino capaz de contar até cem pode plantar árvores
em linhas retas e combiná-las entre si no comprimento e na extensão
que mais lhe agradem. Mas seu maior escopo de imaginação é em-
pregado em idear figuras em que a beleza será grande e agradará aos
olhos, mas sem nenhuma ordem ou disposição de partes que seriam
comumente e facilmente observadas, eles têm um modo particular de
expressá-la; e, onde a encontram, seus olhos reagem à primeira vista
e os Sharawadgi dizem que ele é bonito ou admirável, ou enunciam
qualquer outra expressão de estima. (TEMPLE apud KRUFT, 2016,
p. 555)
Para saber mais sobre a vida e obra de Epicuro, veja o vídeo O Jardim de Epicuro –
Explor
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UNIDADE Teorias para um Paisagismo: Do Renascimento à Modernidade
Para compreender mais sobre o universo do Sharawadgi, veja o artigo Japanese Art, Aesthetics,
Explor
and a European Discourse: Unraveling Sharawadgi [Arte japonesa, estética e o discurso europeu:
revelando o Sharawadgi] de Wybe Kuitert. Acesse: https://goo.gl/6QbmvE
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Um conceito importante vislumbrado por Shenstone é o equilíbrio (ballance).
O autor advoga que “um edifício, por exemplo, de um lado, contrastando com um
grupo de árvores, um grande carvalho ou uma colina do outro” (SHENSTONE
apud KRUFT, 2016, p. 558) gera um efeito associativo.
Por outro lado, outros teóricos ocupam uma posição intermediária capaz de
dialogar com a alegoria do jardim de início do século com o distanciamento concei-
tual de Brown. Lord Kames, com Elementos da crítica [Elements of criticismo],
de 1762, e Thomas Wately, com Observações sobre a jardinagem moderna
[Observations on modern gardening], de 1770, abordam a teoria sensualista da
jardinagem, tendo como princípio estético a obra de Burke.
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Burle Marx vive a sua infância na capital carioca e aos dezenove anos de idade
vai com a sua família para a Alemanha. Lá, faz uma imersão completa na vida cul-
tural, além de estudar canto, frequenta teatros, óperas, museus e galerias de arte,
entrando em contato com obras de importantes pintores como Vincent van Gogh
(1853-1890), Pablo Picasso (1881-1973) e Paul Klee (1879-1940). Um ano após
a chegada à capital alemã, Burle Marx frequenta o ateliê de pintura de Degner
Klemn e, ao visitar os jardins e museus botânicos de Dahlen, entusiasma-se ao
encontrar exemplares da flora brasileira.
Fiz uma viagem à Alemanha em 1928, onde vivi um ano e meio em Berlim.
Essa viagem me influenciou muito. No Jardim Botânico de Dahlem, que
era um jardim extraordinário, vi pela primeira vez, uma grande quantidade
de plantas brasileiras, usadas pela primeira vez com objetivos paisagísticos.
Nós, brasileiros, não às usávamos, por considerá-las vulgares. Compreendi
então que, em meu país, a inspiração deveria se basear, sobretudo, nas
espécies autóctones. (MARX apud XAVIER, 2003, p. 306)
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Figura 4 – Jardim botânico de Dahlen, Berlim. Vista de uma das estufas
Fonte: bgbm.info
Para compreender mais sobre a parceria e a contribuição que Burle Marx, Costa e Warchavchik
Explor
dão à arquitetura moderna brasileira, leia o artigo Lucio Costa, Gregori Warchavchik e
Roberto Burle Marx: síntese entre arquitetura e natureza tropical de Abílio Guerra.
Acesse no link: https://goo.gl/Bcbnvz
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Figura 7 – Vista aérea dos jardins de Burle Marx para o Ministério da Educação e Saúde, Lucio Costa
e equipe, Rio de Janeiro, 1938-44. Pilotis e painel de azulejos de Portinari ao fundo
Fonte: Ministério da Educação e Saúde
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Ainda no Rio de Janeiro, participa dos projetos para o jardim do Museu de Arte
Moderna (1954-56), desenvolvido pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy em par-
ceria com a sua esposa, a engenheira civil Carmen Portinho, e para o parque do
Flamengo (1961-65), em parceria com a paisagista Lota de Macedo Soares, além
de Reidy.
Para conhecer parte da trajetória da paisagista Lota de Macedo Soares, assista ao filme Flores
Explor
Aterro do Flamengo, Affonso Eduardo Reidy, R. Burle Marx, Lota de Macedo Soares,
Explor
Figura 8 – Vista aérea da Casa do Baile e do antigo cassino, projetados por Niemeyer
Fontes: UFMG / UFRGS
Explor
Na década de 1960, a equipe formada por Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Burle
Marx se repete em Brasília para o projeto da nova capital. De escala audaciosa, o
paisagista é responsável por elaborar as áreas verdes de acordo com as diretrizes
do projeto piloto de Costa e em consonância com as edificações de Niemeyer.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Fundamentos de paisagismo
WATERMAN, T. Fundamentos de paisagismo. São Paulo: Bookman, 2011. (e-book).
Vídeos
O Jardim de Epicuro – A felicidade
https://youtu.be/HvyvRkw_RYk
Filmes
Flores Raras
Flores Raras. Direção de Bruno Barreto. Brasil: Globo Filmes, 2013. 1 DVD
(118 min), son., color.
https://youtu.be/qJ1dLdd_uxQ
Leitura
Lucio Costa, Gregori Warchavchik e Roberto Burle Marx: síntese entre arquitetura e natureza tropical
https://goo.gl/Bcbnvz
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UNIDADE Teorias para um Paisagismo: Do Renascimento à Modernidade
Referências
KRUFT, H. W. História da teoria da arquitetura. São Paulo: EDUSP, 2016.
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