A Revolução Portuguesa
A Revolução Portuguesa
A Revolução Portuguesa
No início do século XIX, Portugal encontrava-se perante a encruzilhada dos interesses políticos-militares das duas
maiores potências da Europa: a França e a Inglaterra, cuja rivalidade veio a culminar quando Napoleão Bonaparte,
como forma de derrotar a Inglaterra, decretou, a 21 de novembro de 1806, o Bloqueio Continental.
Assim com esta medida, estabelecia que todos os países do continente europeu fechassem os seus portos ao comércio
e navegação britânicos, para obter a capitulação da potência rival, pela via do isolamento económico.
Mas Portugal procurou manter uma situação de neutralidade neste conflito, de modo a não comprometer a histórica
aliança luso-britânica, o que se tornou progressivamente insustentável, em consequeência da forte pressão exercida
pelos franceses para que Portugal cortasse relações com a Inglaterra. Mediantea hesitação e os sucessivos adiamentos
da Coroa portuguesa em fazer cumprir o Bloqueio Continental, Napoleão Bonaparte, cujos exércitos já tinham
conquistado a Espanha, na campanha da Guerra Peninsular, ordenou a invasão do reino de Portugal, que ocorreu
entre 1807 e 1881, em três invasões.
A primeira invasão foi comandada pelo general Junot e que chegou a Lisboa no dia 30 de novembro de 1807:
Com as invasões francesas trouxeram ao reino a destruição, as pilhagens das tropas e a perda de vida humanas,
afetando a agricultura, o comércio e a indústria.
Mas por outro lado, com os fim das revoluções francesas a paz regressou ao reino.
Os ideais liberais influenciaram o desencadear de uma conspiração em Lisboa, em 1818, liderada por Gomes Freire de
Andrade, que acabou por falhar.
A conjuntura marcada pelos problemas resultantes das invasões francesas convergiu com fatores como o
descontentamento relativamente à ação prepotente de Beresford, a ineficácia da regência e ausência do rei no Brasil,
para além da precária situação económica e do descontentamento social que se fazia sentir em Portugal e que, em
conjunto, desencadearam o processo revolucionário português de 1820.
O espírito conspirativo e revolucionário acentou-se a partir de 1818, com a formação do Sinédrio, uma associação
secreta formada por juristas ligados à Maçonaria, entre os quais se destacaram Manuel Fernandes Tomás (1771-1882)
e José da Silva Carvalho (1782-1856). Desde logo, procuraram recrutar para a sua causa chefes militares, tais como,
António da Silveira Pinto da Fonseca (1770-1858), Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira (1763-1833) e Bernardo
Correia de Castro e Sepúlveda (1791-1833).
Estavam assim reunidas as condições favoráveis ao eclodir do pronunciamento militar do Porto, a 24 de agosto de
1820.
Um segundo levantamento militar, a 15de setembro de 1820, em Lisboa, conduziu à destruição dos governadores e à
constituição de um Governo Interino.
A 28 de setembro, a Junta do Porto e o Governo do Interino de Lisboa uniram-se e formaram a Junta Provisional do
Governo Supremo do Reinoque mantivesse a ordem e que preparasse as eleições para as Cortes Constituintes.
Em janeiro de 1821, as então designadas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes iniciaram as suas funções,
elegendo uma nova regência.
A implantação do liberalismo em Portugal, a partir de 1820 até à sua vitória definitiva em 1834, foi um processo
marcado pela resistência absolutista, cujos partidários procuraram restaurar a ordem antiga. Sucederam-se vários
golpes contrarrevolucionários com vista à eliminação das tendências liberais vitoriosas em 1820.
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História
Entre 24 de agosto de 1820 e abril de 1823, a principal tarefa foi a elaboração de uma Constituição que legitimasse o
regime político de monarquia constitucional, estabalecesse a soberania nacional e consagrasse os direitos e as
liberdades individuais. Assim, foi neste período que apareceu uma das tendências ideológicas do liberalismo: o
vintismo, que marcou o panorama político português. Foi defensor dos ideais da revolução de 1820 e da Constitução
de 1822, também conhecida como a Constituição Vinstista, cujas as bases foram aprovadas em março de 1821. A
Constituição foi aprovada a 30 de setembro de 1822, e será analisada mais à frente.
Vintismo – designa o período compreendido entre a revolução liberal de 1820 e o golpe de Vila-Francada de 1823;
corresponde ao primeiro período de implantação do liberalismo em Portugal, marcada pelo ideal de regeneração da
Nação, pela promulgação da Constituição de 1822, pela institução de um governo representativo, pela consagração
dos direitos e liberdades dos cidadãos, bem como da soberania nacional
D. João VI jurou fidelidade às bases da Constituição de 1822 a 3 de julho de 1821, depois de regressar do Brasil,
aceitando, os princípios aprovados pelas Cortes. Por outro lado, a sua mulher, D. Carlota Joaquina (1775-1830), não
fez o juramento, tendo a partir daí assumido, juntamente com o seu filho mais novo, D. Miguel (1802-1866), um papel
de oposição ao liberalismo, apoiando assim as tentativas contrarrevolucionárias de cariz absolutista. Foi a partir de
1823 que ocorreram os golpes antiliberais.
A primeira tentativa contrarrevolucionária teve lugar em 23 de fevereiro de 1823, em Vila Real. Porém esta insurreição
foi rapidamente reprimida pelos liberais. Em março de 1823, já sob o comando do infante D. Miguel, ocorreu o
segundo golpe contrarrevolucionário, a Vila-Francada que proclamou a restauração do absolutismoe pôs fim ao
vintismo.
A partir da Vila-Francada, vigorou um regime absolutista moderado, que , mesmo assim, não agradou aos absolutistas.
A 30 de abril de 1824, desencadearam outro golpe, a Abrilada, liderado po D. Miguel e apoiado por sua mãe, D. Carlota
Joaquina. A Abrilada instaurou um clima de terror.
Em março de 1826, com a morte D. João VI, D. Pedro, ausente no Brasil, foi reconhecido como rei de Portugal, com o
título de D. Pedro VI. Por ser Imperador do Brasil, abdicou a Coroa portuguesa a favor da filha, D. Maria. D. Pedro
outorgou, em 29 de abril de 1826, a Carta Constituicional. D. Miguel devia jurar a Carta, assumindo o cargo de regente
durante a menoridade de D. Maria. D. Miguel não respeitou os compromissos e em março, procedeu à dissolução das
Cortes, sendo aclamado rei absoluto em 1928. Durante seis anos (1828-1834) instaurou-se no reino um governo
absolutista liderado por D. Miguel, marcado por persiguições, prisões e execuções. Viveu-se uma guerra civil entre
absolutistas e liberais que durou até 1834.
Nos Açores organizou-se a resisitência ao absolutismo e preparou-se uma expedição.E em julho de 1832 deu-se o
desembarque do Mindelo. Os liberais contaram com o apoio da Inglaterra e da França e derrotaram os miguelistas,
nas batalhas de Almoster (fevereiro de 1834) e de Asseiceira (maio de 1834).
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História
Chegava ao fim a guerra civil em Portugal.A 26 de maio de 1834 foi assinada a Convenção de Évora-Monte que levou
D. Miguel ao exílio.
Uma das principais tarefas da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, saída da revolução de 1820, foi, como
já referimos, eleger as Cortes Constituintes que tinham por prinicpal função elaborar uma Constituição que
consagrasse um novo regime de monarquia constituicional, pondo fim ao absolutismo e ás estruturas do Antigo
Regime.
Para responder à necessidade de desmantelar as estruturas sociais e económicas antigas, entre 1821 e 1822, as Cortes
Constituintes assumiram também um papel legislativo. Nesse sentido, aprovaram legislação com vista a abolir os
direitos feudais e alguns traços do Antigo Regime.
Deste modo, fizeram aprovar um conjunto de medidas económicas e sociais que, por um lado, consolidavam o novo
regime, a monarquia constitucional e, por outro, aboliam os privilégios sociais do clero e da nobreza, do rei e da família
real, promovendo a desejada regenaração nacional proclamada pela revolução vintista.
no domínio agrícola, votaram uma “lei dos cerais” que protegia a produção dos grnades latifundiários, com o
intuito de aumentar os preços, de modo a proporcionar maiores lucros, proibindo a importação quer de cerais,
quer de farinhas ou azeite, entre outros; limitação de alguns privilégios da Companhia dos Vinhos do Alto Douro,
com vista a liberalizar o mercado vinícola
a extinção de algumas obrigações estabelecidas nos forais, tendo alguns dos direitos reduzidos para metade,
pondo fim a portagens,a peagens e a costumagens, para implementar a livre circulação de produtos, numa clara
tentativa de criar um mercado interno
abolição de vários direitos feudais (jeiras, banalidades, relego, coutadas e coudelarias)
a propriedade vinculada (transmitida por intermédio do filho varão mais velho), pertencente às famílias nobres,
foi reduzida, ficando apenas em vigor os grandes morgados
extinção da dízima à Igreja e de parte das rendas eclesiàsticas que seriam aplicadas na amortização da dívida
pública
restrição da admissão de noviços e de noviças aos mosteiros
extinção dos mosteiros considerados desnecessários
redução da sisa para metade e limitada aos bens de raiz
nacionalização dos bens da Coroa e fixação de dotações ao rei e à família real
definição de ordenados dos ministros, com abolição da propriedade vitalícia e hereditária dos ofícios, pelo que
todos passaram a poder aceder aos cargos públicos que, assim, se tornaram renumerados
criação do Banco de Lisboa
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História
extinção da Inquisição
liberdade de consciência em matéria religiosa
liberdade de imprensa, até em assuntos de natureza religiosa
Muitas destas medidas não chegaram a ter aplicação prática e foram suspensas pela reação absolutista.
Depois da revolução de 1820, e durante os trabalhos das Cortes Constituintes entre 1821 e 1822, as relações entre
Portugal e o Brasil tornaram-se tema de amplo debate. A fixação da família real no Brasil, em 1808, na sequência das
invasões francesas, e a adoção de várias medidas permitiram a autonomia económica da colónia, criando
infraestruturas que reforçaram esta autonomia. A elevação, em 1815, do Brasil à categoria de reino conferiu-lhe um
estatuto político que dava ao território e aos seus habitantes uma maior independência.
Ás cortes portuguesas de 1820 cabia encontrar uma solução que conciliasse os interesses de Portugal e do Brasil.
Porém, a ação do soberano Congresso acabou por extremar as posições e causar profundas oposições e que acabaram
por tomar medidas que não bem aceites, pois limitavam os direitos brasileiros:
D. Pedro não acatou a exigência das Cortes, permaneceu no Brasil e não convocou a reunião de Cortes de Brasil,
rompendo com Lisboa.
O projeto constitucional do reino de Portugal manifestado, desde os primeiros momentos nas intenções dos
promotores do movimento de 1820, teve na sua origem a definição das bases da Constituição aprovadas em março
de 1821, e que se constituíram como a orientação da futura Constituição.
A 23 de setembro de 1822 foi promulgada a primeira Constituição portuguesa, elaborada pelas Cortes Constituintes,
eleitas em 1821. No dia 1 de outubro 1822, o texto constitucional foi jurado por D. João VI e, a 11 do mesmo mês, a
Constituição foi jurada por todo o reino. Assim, o juramento da Constituição por todos os homens maiores de 25 anos,
era obrigatório, sob pena de expulsão e perda da cidadania.
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História
O texto constitucional português era influenciado pela Constituição de Cáis de 1812 e pela Constitução francesa de
1795.
A Constituição de 1822, no seu texto final, consagrava o regime político da monarquia constitucional, a forma de
exercício de poder, a divisão de dos poderes e respetivas competências, o conceito de cidadania e o exercíco de voto,
bem como os direitos e os deveres dos portugueses.
A Constituição portuguesa esteve em vigor entre outubro de 1822 e junho de 1823 tendo ainda vigorado, ainda que
por pouco tempo, em 1836. Foi considerada progressista e radical para a época.
A Carta Constitucional foi outorgada, a partir do Brasil, pelo rei D. Pedro IV, depois da morte de seu pai D. João VI. O
novo texto constitucional surgui como uma tentativa de conciliar liberais e realistas e foi inspirado na Constituição
Brasileira de 1824 e na Carta Constitucional Francesa de 1814.
Carta Constitucional – designa o texto constitucional outorgado ppor um monarca à nação, que estabelece as normas
de governo, define os direitos e as liberdades e determina as relações entre os poderes políticos; tem um carácter
mais conservador do que as Constituições votadas pela Assembleias representativas da nação, concedendo ao
monarca mais prerrogativas
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História
O cariz conservador da Carta Constitucional agradou aos setores mais conservadores e moderados, nomeadamente à
nobreza que via reconhecidas as suas regalias enquanto ordem hereditária, bem como à burguesia, que não se reviam
no radicalismo vintista.
Este texto esteve em vigor, inicialmente, entre 31 de julho de 1826 e 3 de maio de 1828.
A Carta Cosntitucional foi o diploma legal que durante mais tempo vigorou em Portugal, cerca de 72 anos. Corporizou
um liberalismo de tipo moderado, designado cartismo, de matriz conservadora, segundo o qual o rei continuava a ser
considerado o chefe supremo da nação.
Cartismo – designa o liberalismo português de tipo moderado, que procurou preservar a autoridade régia na passagem
do absolutismo para o liberalismo; do ponto de vista governativo, era conservador, mantendo as regalias da
aristocracia; representou um corte com o Antigo Regime, pondo fim à sua estrutura social e económica através de
uma série de reformas judiciais e administrativas; em termos ideológicos, no contexto do liberalismo português, opõe-
se ao vintismo de cariz mais radical.
O final da guerra civil, que opôs liberais e miguelistas, em 1834, significou a derrota das tropas realistas afetas a D.
Miguel e defensores dos princípios e valores do Antigo Regime. Estava assim em marcha um novo ciclo político
maracdo pelos ideais liberais.
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História
No entanto, a vitória do liberalismo não trouxe a pacificação e estabilidade política e governativa, levando à criação
de dois grupos: vintistas (adeptos da Constituição de 1822) e cartistas (defensores da Carta Constitucional de 1826).
Bem como as suas lutas pelo poder, provocaram no reino um clima de instabilidade.
A vida política no período que decorreu entre 1834 e 1851 foi, portanto, marcado pela divisão entre uma ala
progressista, mais avançada (entre os quais havia uma fação mais radical, os vintistas) e uma ala conservadora, mais
moderada, ligada ao cartismo. Foi entre estas duas tendências políticas que se verificaram as lutas do poder, que
impediram a existência de consensos políticos estáveis e duradouros. Neste sentido assistiram-se a várias tentativas
de golpes de Estado.
Porém, apesar da instabilidade, foi durante este período que se criou um corpo legislativo que visava a modernização
do país e que, apesar de nem sempre ter tido aplicação imediata, não deixou de constituir um importante legado da
monarquia constitucional portuguesa e do liberalismo português.
Uma das mais importantes figuras da reforma legislativa do liberalismo português foi Mouzinho da Silveira (1780-
1840) que redigiu uma série de medidas com vista a pôr fim à ordem social e económica do Antigo Regime, já ensaiada
de forma muito precária e provisória nos primeiros tempos da revolução vintista.
As convicções liberais de Mouzinho e a defesa do interesse público levaram-no a produzir um conjunto de diplomas
legais que garantiam a liberdade e a propriedade, numa clara tenativa de reforma e de modernização do Estado, de
transformação da estrutruta da propriedade e da sociedade em geral.
Desta forma, a sua ação legislativa pautou-se pela tomada das seguintes medidas, abrangidas por uma vasta
compilação de decretos, segundo os quais:
abolui os dízimos
extinguiu os morgados, cujo rendimento era inferior a 200 mil réis
aboliu os vínculos, em caso de inexistência de descendente legítimo
abolui as sisas sobre as transações, com exceção dos bens de raiz (fundiários)
abolui os forais
procedeu à eliminação de portagens, e outras barreiras à circulação no reino, com vista a facilitar a circulação
interna dos produtos e a promover o comércio interno e externo
extimguiu os bens da Coroa
extinguiu a Lei Mental
extinguiu o Erário Régio criando a Fazenda Pública, denominada Tribunal do Tesouro Público
nacionalizou os bes do clero
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História
no plano judicial, dividui o país em círculos judiciais, subdivididos em comarcas que, por sua vez, se dividiam em
julgados e estes em ferguesias; o Supremo Tribunal dispunha de jurisdição sobre o reino, mas estava fxado em
Lisboa; deste modo, retirava aos munícipios a antiga autonomia de que dispunham; estabeleceu ainda o júri nos
tribunais
abolui os antigos tribunais, juntas e conselhos de administração central
separou o poder administrativo do poder judicial, na medida em que as Câmaras Municipais ficaram sem poder
para julgar, o qual foi atribuído em exclusividade aos tribunais
em termos administrativos, dividui o país em provínicas, comarcas e concelhos (de número mais reduzido)
chefiadas, respetivamente, pelo perfeito, subperfeito e provedor, nomeados pelo monarca
Mouzinho da Silveira, defensor das ideias liberais, procurou desenvolver uma economia ploítica assente nos princípios
liberais e capitalistas, com vista a libertar os “entraves institucionais ao desenvolvimento da riqueza”. A desejada
liberdade do comércio era conseguida através da legislação que permitia pôr fim aos exclusivos comerciais e aos
privilégios daí decorrentes, bem como eliminar os entraves à circulação.
Atendendo aos princípios da liberdade induvidual, Mozinho procurou garantir, em termos legislativos, o direito à
propriedade, pois defendia que “sem a terra livre em vão se invoca a liberdade política”, libertando-a e emancipando-
a. Mouzinho também considerava que o clero “absorve maior rendimento do que o da nação e a priva de dois treços
da sua faculdade contribuinte”, considerando que ao abolir a dízima estava a garantir que o Estado não era privado
de rendimentos a que tinha direito. Procurava desse modo realizar a subordinação política do clero relativamente ao
Estado.
A reorganização administrativa e jurídica promovida pelas reformas liberais, a partir de Mouzinho, tinha em vista a
modernização do país e inspirava-se naquilo que, à época, se considerava o mais perfeito realizado no estrangeiro.
Podemos concluir que a ação legislativa de Mouzinho tocou, então, os principais setores da vida do reino no plano
político, social, económico, judicial e administrativo.
A legislação de Mouzinho da Silveira foi complementada com outras inciativas legislativas que contribuíram para
transformar a sociedade portuguesa, apesar da persistência do conservadorismo e do apego aos princípios do Antigo
Regime. Nesse âmbito podemos destacar:
a publicação do Código Comercial, de José Ferreira Borges (1786-1838),- aprovado a 18 de setembro de 1833, no
sentido de legislar a atividade comercial e de estimular o liberalismo no domínio da economia
a abolição das corporações de ofícios mecânicos (1834)
a extinção dos ordens religiosas em 1834 e consequentemente secularização e venda de bens eclesiásticos,
implementada por Joaquim António Aguiar (1792-1871)
Mas por outro lado, o sucesso das reformas legislativas nunca foi smepre conseguido e não se generalizou a todos os
setores.
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História
A reforma de Mouzinho assumui-se como fundamental no panorama legislativo português,, na primeira do século XIX,
e corporizou os anseios liberais manifestados a partir de 1820.
O período entre 1836 e 1851 foi marcado por forte instabilidade política opondo vintistas e cartistas, que se traduziu
em dois projetos políticos diferenciados:
O setembrismo, entre 1836 e 1842,resultante da revolução ocorrida em setembrode 1836, defensor do vintismo
O cabralismo, de 1842 a 1851, ligada ao projeto cartista
o O setembrismo
Os dois anos que se seguiram à instauração definitiva do liberalismo em Portugal, em 1834, foram dominados por
governos cartistas, o que revela o clima de instabilidade vivido no país, pois as reformas cartistas tinham favorecido a
alta burguesia. O povo continuava a viver como muitas dificuldades, a ecom«nomia permanecia atrasada e
dependente financeiramente do exterior, agravando o descontentamento social. A revolta, de base popular e com o
apoio dos militares, forçou o afastamento dos cartistas do poder. Este movimento revolucionário mobilizou também
o apoio da burguesia industrial urbana e dos pequenos e médios comerciantes, insatisfeitos com o favorecimento que
os governos cartistas haviam concedido aos grandes proprietários e à alta burguesia.
A revolução de setembro de 1836 iniciou o projeto político que ficou conhecido como setembrismo, que tinha como
obrjetivo revogar a Carta de 1826, repor a- Constituição de 1822 e os princípios do vintismo, mais democráticos e
assentes na soberania popular.
Setembrismo – designa a ala mais radical e esquerdista do liberalismo, de raiz vintista, que, em resultado da revolução
de setembro, governou em Portugal no período compreendido e-ntre 1836 e 1842;defendia a soberania popular e a
restauração de uma Constituição elaborada pelos representantes da nação, oponde-se ao cartismo
O novo poder, que pôs em vigor a Constituição de 1822 (entre 10 de setembro de 1836 e 4 de abrrl de 1838), até que
fosse aprovada uma nova lei constitucional, foi desde logo confrontado com tentativas de restauaração da carta ou
com a e-closão de insurreições radicais, responsáveis pela instabilidade do período setembrista. Entre outros eventos
causadores de instabilidade, destaca-se o primeiro golpe contrarrevolucionário, conhecido por Belenzada, que
ocorreu em novembro de 1836. Foi golpe preparado pela rainha D. Maria II que pertendia restaurar a Carta
Constitucional com o apoio dos cartistas e dos ingleses a quem pedira apoio. No entanto, o golpe não teve o impacto
esperado e, depois da negociação de Passos Manuel com a rainha, chegou-se a um compromisso que passava pela
aprovação de uma nova Constituição que devia conciliar a tendência vintista e cartista. Foram, então, reunidas as
Cortes Constituintes a partir de janeiro de 1837. As tendências mais moderadas da revolução setembrista ganharam
influêcia e, no cumprimento da solução negociada, promulgou-se, em abril, a nova Constituição de 1838 que vigorou
até fevereiro de 1842.
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Na Constituição de 1838, influenciada pela Constituição espanhola de 1837 e pela Constituição belga de 1831, também
está patente a influência da Cosntituição portuguesa de 1822, nos princípios de que a soberania reside na nação e na
divisão tripartida de poderes (legislativo, executivo e judicial), desaparecendo o poder moderador do rei. Assim, a
rainha D. Maria II passava a deter apenas o poder executivo, juntamente com os ministros, podia dissolver a Câmara
dos Deputados, nomear ou demitir o governo, o que, mesmo assim, ampliava os poderes régios face ao que acontecia
na Cosbtituição de 1822. A influência da Carta Constitucional de 1826 traduzui-se na criação de um Parlamento com
duas Câmaras: a dos Deputados, eleita por três anos,e a dos Senadores, eleita por seis anos, que dispunham do poder
legislativo, e na adoção do voto censitário embora restabelecesse o sufrágio direto. Porém, na Câmara dos Senadores,
estes tinham mandatos temporários, o que retirou à nobreza o seu direito natural hereditário de representação. O
poder judicial era exercido pelos juízes e jurados.
Durante a vigência dos vários governos setembristas (num total de sete) a sua ação governativa e a sua obra legislativa
ficou maracda por importantes reformas que acabaram por persistir e ultrapassar a própria vigência do setembrismo.
Na reforma educativa Passos Manuel, em 1836,reestruturou, a nível nacional, os vários graus de ensino, centralizou a
administração escolar e promoveu a instalação dos liceus em Portugal, nas capitais de distrito, criando a primeira rede
escolar deste nível de ensino. No âmbito das reformas do ensino promovidas no período setembrista destacaram-se
ainda a criaçãos de Escolas Politécnicas, a criação dos Conservatórios de Artes e Ofícios de Lisboa e Porto, a reforma
do ensino das Academias de Belas Artes de Lisboa e do Porto, a restruturação das Escolas Médico-Cirúrgicas, a criação
da Escola do Exército e a regulamentação da intrução primária. Criou ainda, a nível superior, o conservatório Geral da
Arte Dramática de Lisboa, reunindo a música, o teatro e a dança. Esta reforma, apesar de muito avançada para o seu
tempo, estruturou o modelo educativo que acabou por se manter em vigor durante muito tempo, uma vez que acabou
por lançar as bases do ensino primário e secundário contemporâneos.
No domínio económico: as medidas implementadas pelos ministérios setembristas revelaram um cariz protecionista,
com o intuito de proteger os interesses de pequena e média burguesia e diminuir a dependência do reino face a
Inglaterra e, mais importante, conseguir o aumento das receitas alfandegárias. Neste sentido, adotou-se a pauta
aduaneira de janeiro de 1837 que aumentou os direitos alfandegários de cerca de 15% para 30%, apesar da mesma se
revelar limitadora da atividade comercial e, por isso, contestada por vários setores. Além do mais, promoveu-se a
proteção da indústria, dando-se os primeiros passos para a mecanização, numa época em que era urgente que a
atividade industrial ganhasse maior dinamismo uma vez que o arranque industruial tradava em concretizar-se.
Assistui-se ainda à criação de associações empresariais do comércio e da indústria, com vista a estimular a atividade
económica nesses setores.
No domínio administrativo: o Código Administrativo de 1836 permitui uma reforma marcada essencialmente pela
redução do número de concelhos , tendo sido suprimidos 466 concelhos, prevendo-se uma relativa descentralização
e autonomia local, dividindo-se o país em Distritos, Concelhos e Freguesias.
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História
No domínio financeiro: o governo setembrista procurou reduzir a despesa pública através do recurso à diminuição dos
vencimentos do funcionalismo.
o O cabralismo
Os últimos tempos do setembrismo, entre 1839 e 1842, foram marcados pelas rivalidades entre tendências do
liberalismo e pelo avanço das forças conservadoras, inclusive dos miguelistas. Tudo se preparou para a restauração da
Carta Constitucional quando o último governo setembrista foi derrubado a 27 de janeiro de 1842, pelo golpe do então
ministro da justiça António Bernardo Costa Cabral (1803-1889), através de um pronunciamento pacífico, no Porto, que
proclamou a restauração da Carta Constitucional e abolui a Constituição de 1838. Terminava, assim, o ciclo político
vintista que havia guiado os destinos do reino desde 1836.
Com Costa Cabral, iniciava-se a nova governação: o cabralismo. Este regime tinha como objetivo a restauração da
ordem pública e do desenvolvimento económico, trazia ao poder os conservadores cartistas ligados ao grande
comércio e à finança, bem como aos grandes latifundiários. Formou-se um novo governo em que a Presidência e a
Guerra ficavam nas mãos do duque da Terceira e o Ministério do Reino passava a caber a Costa Cabral.
Cabralismo – designa o período do liberalismo português durante o qual Costa Cabral, entre 1842 e 1846 e 1849 e
1851, esteve à frente da governação; correspondeu a uma forma mais autoritária de exercício do poder assente na
restauração da Carta Constitucional.
O poder político estava claramente entregue a Costa Cabral, um homem autoritário que governou com mão firme,
tendo memos sido considerado um tirano. O exercício do poder por Costa Cabral foi marcado pelo Controlo das Cortes
e das eleições, e por um autoritarismo que cedo cru«iou descintentamento contra a classe dominante, nobilitada pelos
favores dos Estado, e enriquecida pelos negócios de empreendimentos públicos e pelo envolvimento em empréstimos
ao Estado, com altos juros.
Politicamente de acordo com os princípios cartistas, o cabralismo defendeu a prevalência do poder do rei sobre os
demais poderes do Estado, numa visão tradicionalistae conservadora. Contudo, tal não significou o imobilismo do
governo cabralista.
Costa Cabral procurou o fomento do país, especialmente no campo das obras públicas, na lançamento de projetos de
estradas, no domínio da administração, do fomento industrial, ao nível da economia e das finanças, com o intuito de
reforçar o poder administrativo e centralizador do Estado. Independentemente do caráter autoritário do cabralismo,
o período entre de 1842 e 1851 ficou marcado por medidas de caráter modernizador nos domínios da administração,
da economia e das finanças, entre as quais se destacaram:
ao nível administrativo: procurou reforçar o caráter centralizador do Estado; o Código Admistrativo de 1842 (em
vigor durante 36 anos) sgnificou a centralização administrativa, rompendo com a descentralização iniciada pelos
setembristas, tendo conduzido novamente à redução do número de municípios e à extinção das Companhias das
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Ordenanças que, tradicionalmente, possibilitavam a afairmação das elites locais, no recrutamento dos mancebos
para o exército
ao nível económico: a Criação do Banco de Portugal em novembro de 1846, com função de banco comercial e de
banco emissor; surgui da fusão do Banco de Lisboa e da Companhia Confiança Nacional, uma sociedade de
investimento especializada no financiamento da dívida pública; o Tratado do Comércio assinado com a Inglaterra,
em 1842, continha disposições aduaneiras protecionistas mais favoráveis ao reino; a aprovação da elaboração de
um cadastro das propriedades fundiárias e a criação da décima industrial possiblititou um novo sistema de
impostos; a criação da Companhia das Obras Públicas de Portugal, em 1844, à qual foram adjudicadas várias obras
(construção de estradas sobretudo no Norte, e de pontes); a criação do Tribunal de Contas (1849), destinado a
fiscalizar todas as receitas e as despessas do Estado
Também se destacou a publicação das “leis da saúde”, que proibiam os enterramentos das igrejas.
Ao nível financeiro , o cabralismo foi marcado por uma atividade fortemente especulativa, ligada aos privilégios
concedidos pelo governo a companhias criadas em troca de empréstimos e adiantamentos ao Estado, a broços com
dificuldades financeiras acumuladas. Neste sendido, criaram-se a Companhia de Tabacos, do Sabão, das Pólvoras, a
Companhia Confiança Nacional, a Compoanhia das Estradas do Minho que negociavam e especulavam sobre os
contratos que lhes eram atribuídos pelo Estado. Destes negócios decorria um prejuízo grave para o reino, pois
perdiam-se capitais que não eram efetivamente investidos em atividades produtivas. Assim, era o Estado que, através
dos impostos, alimentva a alta fiança e as leis fiscais, publicadas a partir de 1845, tornaram-se um dos prinicipais
motivos do descontentamento e da guerra civil.
O despotismo de Costa Cabral causou oposição que se traduz em insurreições que assumiram contornos de guerra
civil.
Entre abril e maio de 1846, ocorreu aquela que ficou conhecida como revolta da Maria da Fonte, um levantamento
popular que contou a participação de muitas mulheres, mobilizadas para enfrentar as tropas que eram enviadas para
a província para impor a ordem. A inssurreição teve início no Minho mas difundiu-se a Trás-os-Montes, ao Vale do
Douro e ainda pelo Centro do Reino. Na origem da Maria da Fonte esteve o lançamento de impostos.
A revolta da Maria da Fontenão teve uma liderança clara nem um programa político definido. Foi um movinnento
onde confluíram diversas facções: absolutistas e antigos miguelistas, radicais, esquerdistas, moderados e até cartistas
insatisfeitos com os métodos de governação de Costa Cabral e com a corrupção. Defendia-se o retorno à antiga ordem
municipal descentralizada e condenava-se o caráer centralizador implementado pelo governo cabralista. Assim o
governo foi forçado a demitir-se em 1846.
Em maio de 1846, o duque de Palmela formou um novo governo que acabou por ser demitido.
O duque de Saldanha foi convidado a formar um novo governo, que provocou nova oposição, desencadeando a guerra
civil, a Patuleia.
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História
A sublevação só terminou em junho de 1847 com recurso ao auxílio dos ingleses e dos espanhóis que intervieram a
pedido do duque de Saldanha e ao abrigo de Santa Aliança. A paz foi assinada a 30 de junho de 1847 na Convenção de
Gramido. A paz trouxe de volta ao poder Costa Cabral, a partir de 1849, atuando de forma mais moderada. Mas isso
não significou a pacificação das várias fações políticas. O duque de Saldanha tornou-se chefe da oposição ao
cabralismo e promoveu um novo golpe, que afastou Costa Cabral do poder.
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