Aula2 - Fundamentos Filosóficos Da Educação
Aula2 - Fundamentos Filosóficos Da Educação
Aula2 - Fundamentos Filosóficos Da Educação
PROPÓSITO
Compreender os mecanismos educacionais, especificamente no Brasil, a partir da Filosofia da
Educação como disciplina filosófica.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
No Prefácio da primeira edição de sua História da Filosofia, Nicola Abbagnano aponta duas
características importantes da Filosofia, que servirão como base para o desenvolvimento deste
tema:
Fonte: Shutterstock
Como complementação de seu pensamento, ele afirma que a Filosofia é o próprio homem,
“que em si mesmo se faz problema e busca as razões e o fundamento do ser que é o seu”. Ao
considerar que toda Pedagogia se desenvolve a partir de uma concepção humana, fica fácil
compreender as relações entre Filosofia e Educação. É sobre isso que falaremos neste tema.
NICOLA ABBAGNANO
Fonte: Infopédia.
MÓDULO 1
A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO:
CAMINHANDO NA HISTÓRIA DO OCIDENTE
Como todo bom pensamento, precisamos definir claramente alguns pressupostos.
•
A tradição dos cursos de formação de professores não estuda Filosofia da Educação, mas
História da Filosofia da Educação. Não pretendemos adotar esse caminho.
A sociedade ocidental é uma invenção. Ela, ao ser inventada – não é uma invenção pessoal,
mas um discurso formulado e repetido pela sociedade que passa a ser naturalizado como uma
verdade – defende seu passado e “pinça” o que lhe interessa em uma história não linear e
baseada em herança.
Diante desses pressupostos, é importante ressaltar que não nos limitaremos ao tempo, mas
vamos mostrar alguns dos elementos que a contemporaneidade buscou e chamou de Filosofia
da Educação.
A Filosofia teve origem na Grécia, no século VI a.C., época em que tudo era explicado pela
mitologia. Tratava-se de uma interpretação da realidade “divino-mitológica”, também chamada
de Cosmogonia. A grande mudança ocorreu quando os gregos passaram a explicar a realidade
mediante o uso da razão e da lógica, dando lugar à Cosmologia. A Filosofia grega perdurou
até o declínio do Império Romano.
Fonte: franceinter.fr
Para Platão, a humanidade estava imersa, simultaneamente, em duas realidades, que é a base
de toda a sua teoria:
REALIDADE INTELIGÍVEL
Em que o ser humano reflete sobre aquilo que se pode distinguir e expressar (realidade
imutável das coisas).
Fonte: Shutterstock
Fonte: Shutterstock
Fonte: Shutterstock
Fonte: Shutterstock
Fonte: Shutterstock
REALIDADE SENSÍVEL
Com relação à Educação, Platão acreditava nos métodos de debate e conversação. Ambos
levariam ao conhecimento. Para ele, os próprios alunos deveriam descobrir as coisas. Estava
claro que a Educação seria uma forma de desenvolver o homem moral e, assim, o filósofo se
esforçou para promover o desenvolvimento intelectual e físico de seus alunos. Aulas de
retórica, debates, educação musical, Geometria, Astronomia e educação militar faziam parte
das discussões mantidas no momento de ensinar.
Para Aristóteles, o princípio da aprendizagem era a imitação. E tinha na família o núcleo da
organização das cidades e o primeiro passo na educação das crianças. Porém, governantes e
legisladores tinham o dever de regular e vigiar o crescimento das crianças quanto à saúde e às
obrigações cívicas. Nesse sentido, o Estado se responsabilizaria pela Educação.
CONCLUINDO
A Filosofia teve origem na Grécia Antiga. Um dos principais filósofos da época foi Platão, que
percebia o homem em duas realidades: inteligível e sensível. Nesse contexto, a Educação
deveria usar métodos de debate e conversação, permitindo que o aluno alcance o
conhecimento por meio de descobertas.
Como era a Educação na Idade Média?
É importante ressaltar que existiram autores romanos, do início da Igreja medieval, e filósofos
diversos sobre os quais teríamos que falar se voltássemos a linha temporal. Mas, como
estamos compondo uma ideia – nesta fábula de mundo ocidental que vivemos –, vamos nos
ater aos nomes tomados de forma recorrente.
Nos séculos XII e XIII foram criadas as universidades, uma das experiências humanas mais
marcantes e decisivas para o mundo ocidental. O preceito dos discursos religiosos,
principalmente na sua formulação de moral, é a base de entendimento da noção de Ocidente.
Antes mesmo de a obra de Aristóteles ser discutida na Universidade de Paris, no século XIII,
muçulmanos, judeus e cristãos já o haviam feito, quando da tradução e interpretação dos
textos do estagirita. O Ocidente, sob o prisma em que foi filosoficamente construído, é fruto
dessas heranças de gregos e medievais, não como uma verdade, mas como uma influência.
CONCLUINDO
Na Idade Média, a Educação era responsabilidade da Igreja, que era a única encarregada por
educar e formar.
A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO NA IDADE
MODERNA E NOS DIAS ATUAIS
Como a Filosofia Moderna foi concebida?
A Filosofia Moderna vem, no entanto, de uma separação. Religião – Filosofia – Ciência, que
eram o tripé de sustentação do homem ocidental, entram em uma lenta e completa separação.
Por isso você pode estranhar um pouco esse movimento inicial, mas a separação deixou
marcas, como se esses campos sempre tivessem sido separados.
É importante ressaltar que o foco deste tema não é a História da Educação, e sim o vínculo
entre a Filosofia e a Educação.
O período moderno teve início no final do século XV, quando foram alterados costumes,
princípios, valores políticos, econômicos, sociais e culturais que vigoravam antes da
Idade Média. A família e a escola foram redefinidas, se modificaram e passaram a comandar a
formação das crianças e dos adolescentes.
Fonte: Shutterstock
Enquanto os pais procuravam dar aos filhos uma preparação para a vida.
Fonte: Shutterstock
•
No início do século XVI, surgiu o colégio como instituição. Com ele, surgiram métodos de
ensino/educação, dentre eles o Ratio Studiorum. Emerge, nessa mesma época, o cuidado
com a disciplina dos estudantes, que teve origem na disciplina religiosa. Sua eficácia era
condição necessária para o trabalho em comum.
Ainda que de forma lenta, a noção de uma escola pública, a multiplicação de leitores e o
surgimento de projetos “nacionais” foram influenciados por esses defensores da razão como
forma de resolver os problemas do mundo. Essa nova escola, presente, valorizada, pública,
tinha alguns preceitos: jovens deveriam ser levados ao caminho do conhecimento e o debate
era o modo de traçar esse caminho. A avaliação foi um dos processos difundidos e
valorizados. O exame passou a ser crucial no trabalho escolar, também como instrumento
disciplinar. O estudante era submetido ao máximo controle.
CONCLUINDO
Fonte: Shutterstock
É necessário dizer que esses processos foram longos e complexos, estudados em História da
Educação, Currículo e Política Pública. Isso, no entanto, não rompe com a dicotomia
anteriormente indicada – de um lado estando os operários da Educação e do outro os
intelectuais da Educação.
Também deve ser dada atenção à tecnologia, que cada vez mais faz parte do nosso mundo.
Por isso, a escola precisa estar atenta a ela, pois provoca inúmeras mudanças. A Educação,
enfim, é vista como processo cooperativo e como processo de construção. Sabe-se que a
aprendizagem se dá em diferentes cenários: em casa, na rua, nas escolas etc. Trata-se de um
processo abrangente.
A Educação, portanto, precisa de uma nova Filosofia que a permita ser quem efetivamente é:
o exercício de pensar e valorizar o sujeito.
CONCLUINDO
A Educação na Idade Contemporânea deve ser concebida por todos os sujeitos que atuam
nesse processo, com o objetivo de permitir o desenvolvimento do aluno sem qualquer
limitação. Essa exigência traz a necessidade de uma nova Filosofia, que pense e valorize o
sujeito.
Mas o que a Educação oferecida na família e na escola tem a ver com Formação Integral?
A Formação Integral entende o sujeito para além de sua condição cognitiva, considerando seus
afetos, suas dimensões sociais, psicológicas, físicas e sua inserção necessária em um
contexto de relações. É preciso ainda lembrar que o sujeito tem desejos, anseios e demandas
simbólicas, buscando satisfação nas suas diversas formulações de realização. A Educação
familiar e escolar, portanto, devem caminhar juntas na formação do sujeito.
Percebe-se que, atualmente, há um significado atribuído ao termo integral diferente do que era
atribuído no passado. Pensa-se que o estudante não deve se preocupar apenas com os
conhecimentos que o permitirão ingressar numa Instituição de Ensino Superior ou no mercado
de trabalho. Há quem diga que é preciso buscar o desenvolvimento pessoal do aluno.
Aqui está o problema: o termo pessoa tem uma carga religiosa muito grande. Inspira-se na
Santíssima Trindade – a pessoa do Pai, a pessoa do Filho e a pessoa do Espírito Santo.
Portanto, tudo vem de Deus e tudo volta para Ele. Apesar de apontarmos que a separação
ocorreu, algumas tradições permanecem muito vivas, assim como a base cristã de nossa
sociedade. Sendo assim, não se pode valer, num mesmo discurso, dos termos sujeito e
pessoa. Quem se faz autônomo, livre e responsável é o sujeito. Por isso, a ideia de construir-
se sujeito. O sujeito se constrói; ninguém o concebe. Ninguém ajuda a um sujeito; ele é quem
se ajuda. Quando muito, poderemos discutir que o sujeito, de alguma forma, encontre o seu
próprio caminho. Diante disso, vamos imaginar a seguinte situação:
Uma professora de Matemática pediu aos alunos que resolvessem uma lista de exercícios.
Após concluir os exercícios, Jorge pergunta para a professora:
Com base no que vimos sobre formação integral do sujeito, como a professora deve responder
à pergunta de Jorge?
Clique nos botões abaixo.Objeto com interação. Clique nos botões abaixo.
O docente não deve dar a resposta, mas dizer que é o próprio aluno quem precisa ter a
certeza do que fez.
Reveja as suas resoluções, você precisa ter certeza de que as suas respostas estão certas.
O docente não deve dar a resposta, mas dizer que é o próprio aluno quem precisa ter a
certeza do que fez.
Autonomia
A capacidade de decisão. Jorge decidiu que terminou a resolução da questão.
Liberdade
Responsabilidade
CONCLUINDO
A Filosofia Contemporânea serve para que o aluno possa dialogar com a própria capacidade
de construir o seu conhecimento. Além disso, aportada no sujeito, por exemplo, ela dá
sentido à ruptura com o ensino pautado na transmissão, demonstrando que o único sentido
possível é o da aprendizagem.
Para saber mais sobre a relação entre Filosofia e Educação, assista ao vídeo a seguir que
mostra a narrativa de um trecho do artigo de Anísio Teixeira, publicado em 1959.
RESUMINDO
A Filosofia teve origem na Grécia Antiga. Um dos principais filósofos da época foi Platão, que
percebia o homem em duas realidades: inteligível e sensível. Nesse contexto, a Educação
deveria usar métodos de debate e conversação, permitindo que o aluno alcance o
conhecimento por meio de descobertas.
Na Idade Média, a Educação era responsabilidade da Igreja, que era a única encarregada por
educar e formar.
A Idade Moderna iniciou um processo de separação entre Religião, Filosofia e Ciência.
Nesse cenário, a família e a escola foram redefinidas em seus papéis na formação do sujeito:
a família educava para a vida, enquanto a escola ensinava os saberes sistematizados. Essa
formação foi enfatizada com o Iluminismo, que trouxe a necessidade de escolarização dos
jovens, inaugurando a noção de uma escola pública.
A Educação na Idade Contemporânea deve ser concebida por todos os sujeitos que atuam
nesse processo, com o objetivo de permitir o desenvolvimento do aluno sem qualquer
limitação. Essa exigência traz a necessidade de uma nova Filosofia, que pense e valorize o
sujeito.
A Filosofia Contemporânea serve para que o aluno possa dialogar com a própria capacidade
de construir o seu conhecimento. Além disso, aportada no sujeito, por exemplo, ela dá
sentido à ruptura com o ensino pautado na transmissão, demonstrando que o único sentido
possível é o da aprendizagem.
RAZÃO
LÓGICA
Ramo da Filosofia que trata das formas do pensamento (indução, dedução, hipótese,
inferência etc.) e, por meio delas, busca determinar os raciocínios considerados válidos.
SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES
Platão (428-328 a.C.) teria sido discípulo de Sócrates e difusor de suas ideias. Era um
cidadão importante em Atenas, onde fundou a Academia.
Aristóteles (385-323 a.C.) mudou o sentido dialético como forma de perceber o mundo
sensível para, a partir de operações racionais, obter o conhecimento da physis – natureza
– para a metafísica.
CRÁTILO
ESTAGIRITA
Fonte: Wikipédia.
ANÍSIO TEIXEIRA
Fonte: eBiografia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
D) Na ideologia de gênero.
GABARITO
Para Platão, o mundo das ideias era um mundo superior, no qual não havia erro, enquanto o
mundo material era o mundo dos sentidos e das sensações, passível de engano. A busca do
saber, para esse filósofo grego, era sinônimo de alcançar o mundo inteligível.
ESTATIZAÇÃO DO ENSINO
2
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
CIENTIFICIDADE DA PEDAGOGIA
Clique nas setas laterais para ver as informações.Objeto com interação. Arraste a imagem
para o lado para ver as informações.
Fonte: www.greelane.com
Modelo de ensino da Escola Nova.
Instituto de Educação do Rio de Janeiro.
Fonte www.scielo.br
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências da USP.
Foi a Filosofia, portanto, que deu bases de sustentação ao discurso pedagógico, o que
ocasionou uma indistinção entre o discurso filosófico sobre a Educação e o discurso
pedagógico geral. Ideais pedagógicos, natureza da Educação, fundamento moral da
Educação, natureza do homem, dentre outras, tornaram-se questões norteadoras do discurso
filosófico/pedagógico. Nesse ponto, destacou-se a contribuição do escolanovismo como
movimento, reconduzindo a epistemologia da Educação brasileira.
Um dos nomes mais importantes desse contexto é Anísio Teixeira, cuja percepção era de que
a Educação precisava ser cientificizada.
À medida que o discurso científico se impunha, a importância e os objetivos da Filosofia eram
relativizados. Nos cursos de formação de professores secundários, nas Faculdades de
Filosofia, Ciências e Letras, a Filosofia aparece na disciplina História e Filosofia da
Educação. Passou-se a estudar o ideário dos grandes pensadores com vistas à Educação –
Sócrates, Platão, Aristóteles, Rousseau (1712-1778), Kant (1724-1804), dentre outros.
•
1827-1890
1890-1932
1932-1939
1939-1971
•
•
1971-1996
1996-2006
Advento dos Institutos Superiores de Educação, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do
Curso de Pedagogia
A primeira Escola Normal criada no Brasil, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, data de
1835. Tinha como objetivo formar professores para o magistério de Ensino Primário e era
oferecido em cursos públicos de nível secundário (atual Ensino Médio). Desde então, o
movimento de criação de Escolas Normais no Brasil passou por diversas reformulações.
Mesmo assim, tornou-se instituição pública fundamental, formadora de professores para o
Ensino Primário.
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1971, a Escola Normal foi substituída
pela habilitação específica de Magistério e, em 1996, a nova LDB converteu a formação de
educadores de nível superior em cursos de graduação plena: surgem os Institutos Superiores
de Educação e as Escolas Normais Superiores.
CONCLUINDO
O ensino da Filosofia da Educação no Brasil teve como base o estudo das ideias sobre
Educação de importantes filósofos no contexto da história da Filosofia.
Nilcea Freire
Claudia Costin
Renato Janine
Paulo Renato Souza
Gabriel Chalita
Fernando Haddad
Mais recentemente, um debate conservador sobre as práticas relacionadas ao ensino vem ser
incorporado a essa discussão. Diante dos processos nacionais que, como podemos observar,
são diversos, uma tendência de cunho filosófico é bastante forte: A autonomia.
Fonte: Shutterstock
VAMOS EXERCITAR
O debate da Filosofia da Educação, no Brasil, tem estado muito ligado à política e tem
destacado a autonomia como pressuposto filosófico para se pensar a Educação.
Para saber mais sobre os estudos no campo da Filosofia da Educação Brasileira, assista ao
vídeo a seguir.
RESUMINDO
O ensino da Filosofia da Educação no Brasil teve como base o estudo das ideias sobre
Educação de importantes filósofos no contexto da história da Filosofia.
O debate da Filosofia da Educação, no Brasil, tem estado muito ligado à política e tem
destacado a autonomia como pressuposto filosófico para se pensar a Educação.
DERMEVAL SAVIANI
Período que se iniciou com o dispositivo da Lei das Escolas de Primeiras Letras, que
obrigava os professores a se instruírem no método do ensino mútuo, às próprias
expensas. Estendeu-se até 1890, quando prevaleceu o modelo das Escolas Normais.
ESTABELECIMENTO E EXPANSÃO DO
PADRÃO DAS ESCOLAS NORMAIS
Cujo marco inicial foi a reforma paulista da Escola Normal tendo como anexo a escola-
modelo.
ORGANIZAÇÃO DOS INSTITUTOS DE
EDUCAÇÃO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) As primeiras preocupações com a Filosofia pedagógica brasileira surgem nas LDB de 1961
e de 1996.
D) A Filosofia da Educação brasileira foi inaugurada por Anísio Teixeira e pelos escolanovistas.
GABARITO
A história da Filosofia da Educação pode ser dividida em três grandes momentos – o primeiro
deles a partir do fim do século XIX e os outros com os debates acerca de como as tendências
europeias podem ser incorporadas para nosso desenvolvimento.
A Filosofia brasileira é marcada por fases diversas, uma das mais importantes é inaugurada
pelo escolanovismo, sendo fundamentais as concepções de Anísio Teixeira. Baseada na ideia
de Dewey, uma definitiva fase da Filosofia da Educação brasileira é inaugurada.
MÓDULO 3
PROFESSORES-PESQUISADORES E A
IMPORTÂNCIA DO MÉTODO
Numa época em que as culturas, responsáveis pela estruturação e organização das
sociedades modernas, são instadas a se responsabilizarem pelo futuro de seus cidadãos –
principalmente por conta dos impactos causados pelo desenvolvimento tecnocientífico e por
conta da emergência de uma economia globalizada que obriga muitos desses cidadãos a
viverem sob condições deploráveis – é imprescindível que a escola forme bem seus
professores. Essa formação precisa estar atenta à não deterioração das relações humanas. E
um dos caminhos para isso é dar um tratamento científico ao que envolve a Educação.
Faz-se necessário, em primeiro lugar, refletir sobre o lugar da pesquisa científica nos cursos,
programas e projetos de formação de professores. Nesse sentido, devem ser observados
alguns dos efeitos da não efetivação da disponibilidade, da vocação e, quase sempre, da
possibilidade dos professores de pesquisar. Por exemplo, não é sem motivo que predominam
atualmente no discurso educacional brasileiro fortíssimos conteúdos de senso comum e
ideológico. Isso efetivamente será solucionado quando a formação do professor objetivar,
também, torná-lo um pesquisador.
Não é possível que somente aqueles que chegam a um curso de pós-graduação stricto sensu
ouçam falar em pesquisa científica. Não se pode criar exigências sobre algo que grande parte
dos professores desconhece. Mas é o professor contemporâneo quem forma os profissionais
do futuro. Por isso, ele precisa estar preparado para as rápidas mudanças que inexoravelmente
ocorrerão.
Cada vez mais se exige, também dos estudantes de graduação, trabalhos de pesquisa. O
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é um bom exemplo. Contudo, uma análise, mesmo
que superficial, de alguns TCCs produzidos é capaz de mostrar uma dissonância acerca do
conceito de pesquisa, tanto por parte dos professores quanto dos alunos.
Para um melhor entendimento, pode-se pensar em alguns termos análogos escolhidos a esmo
para pesquisa:
INVESTIGAÇÃO
BUSCA
PROCURA
INDAGAÇÃO
AVERIGUAÇÃO
INQUIRIÇÃO
ARGUIÇÃO
EXAME
SABATINA
ESPÍRITO CRÍTICO
SONDAGEM
ANÁLISE
No entanto, seu uso indiscriminado é uma armadilha. É preciso cuidar de explicitar os sentidos
dos termos de que se vale ao estruturar diferentes argumentos, principalmente os de natureza
científica. O conhecimento humano implica certa reflexão com relação ao que se conhece. E a
metodologia da pesquisa possibilita entender o porquê de as ciências serem qualificadas como
rigorosas. Seus resultados decorrem de pensamentos rigorosos, isto é, aqueles que se
referem, principalmente, a um objeto, mediante um método e são lógicos, coerentes, não
contraditórios. E assim tem que ser, porque a Ciência nasceu sob a égide da razão e da
verdade. Não é, pois, por outro motivo que o rigor da Ciência se encontra atualmente nos seus
próprios discursos.
CONCLUINDO
A pesquisa científica deve fazer parte da formação do professor, pois é dessa forma que
ele será capaz de interpretar a sua realidade e, assim, dar sentido à ação educativa.
Certamente isso geraria uma reprodução equivocada sobre o que é a Filosofia. Essa situação é
recorrente e acontece porque os nossos professores têm trabalhado conteúdos científicos, mas
desconhecem, quase que por completo, o que é a Ciência, suas diferenças e até mesmo o que
é uma disciplina. Não fazem por mal, temos tradições e políticas tecnicistas há tempos na
formação de novos professores, os quais, embora muito experientes, pouco ou nada refletem
sobre sua própria prática. Claro está que não se trata de privilegiar a teoria em detrimento da
prática, mas sim de, exatamente, superar tal dicotomia.
Por outro lado, mesmo sendo considerada moderna, surgida tal como a conhecemos nos
séculos XVI e XVII, é importante não esquecer que a Ciência moderna é caudatária da Ciência
grega e que os gregos identificam Ciência com Filosofia. Tampouco se pode esquecer que a
Idade Média incorporou a Filosofia à Teologia e que só mais tarde, com o advento do chamado
método experimental – um dos principais responsáveis pela caracterização da Ciência como
moderna –, é que se tratou de diferenciá-las. Dicionários de língua portuguesa conferem à
palavra Ciência inúmeras definições. Vejamos algumas:
Ela é tida, num sentido amplo, como um conhecimento ou um saber que se adquire pela
leitura e meditação.
Há, ainda, a definição que lhe confere o significado de processo, mediante o qual o homem
domina a natureza, objetivando seu próprio benefício. Constitui, portanto, uma das
possibilidades de se apreender a realidade, mas de uma maneira que depende muito mais da
ação do que da contemplação.
Em sentido restrito, contudo, é tomada como um conjunto organizado de conhecimentos
relativos a determinados objetos, especialmente os obtidos mediante a observação e a
experimentação.
Um bom exemplo disso pode ser encontrado no trabalho de Tales de Mileto, ao determinar a
altura das pirâmides do Egito por medição direta. Sabendo que a Terra recebia os raios solares
paralelamente, colocou um objeto de altura conhecida próximo da pirâmide e mediu o
comprimento da sombra que esse objeto projetava. Ao mesmo tempo, mediu a extensão da
sombra projetada pela pirâmide e comparou as medidas das sombras para (sabendo que as
extensões eram proporcionais) calcular a altura da pirâmide.
Ilustração do experimento de Tales.
•
Em sentido amplo, prática diz respeito à ação ou é propriamente a ação. De maneira mais
comum, o que é imediatamente transformado em ação.
Originariamente, prática, ou fazer, tem o sentido de arte – a tékhne grega – e, como tal, o
sentido de conhecimento daquilo que se faz. Aliás, outro não é o sentido de tékhne que o de
fazer e ensinar (saber) fazer. Noutros termos, para se fazer bem é preciso saber.
Atualmente, o termo técnica possui várias definições. Em geral, coincide com o sentido amplo
da palavra arte, isto é, aquilo que dirige com eficácia uma atividade qualquer.
Somos levados a considerar a técnica como um conjunto de conhecimentos que tem por
finalidade a solução de problemas, sem que haja o menor conhecimento dos mecanismos que
a regulam. Com o passar do tempo, porém, julgou-se efetivamente que a sobrevivência e o
bem-estar do ser humano dependiam, fundamentalmente, do desenvolvimento da técnica.
Faltava o saber. Mais especificamente o saber científico. Impôs-se, então, uma diferença
qualitativa – a técnica aliada à Ciência resultaria na tecnologia.
Nossa escola se encontra culturalmente defasada, isto é, não tem acompanhado o velocíssimo
desenvolvimento da tecnociência. E, o que é também grave, não tem acompanhado as
manifestações das demais áreas da cultura – Filosofia, Arte e Teologia.
A escola tem um papel crucial que urge ser definido, pois somente pela Educação é possível
resguardar e priorizar a qualidade de vida, a luta pela cidadania, a superação das
desigualdades sociais, a dignidade e a felicidade de nosso povo. Há de se pensar numa
urgente reestruturação do caráter da pesquisa em Educação. E mais, a Revolução
Tecnocientífica na Educação não pode se reduzir à introdução de novidades, principalmente da
parafernália de aparelhos nas escolas. É preciso analisar suas consequências nos processos
de democratização do saber e na contribuição que essa democratização trará para a extinção
da dívida social, assim como refletir sobre todas as contradições que o uso indevido do
conhecimento tecnocientífico acarreta ao processo ensino-aprendizagem. É imprescindível aos
educadores entender que os paradigmas científicos são outros e que, por isso mesmo, acabam
por fazer com que muitas práticas e discursos sejam questionados.
CONCLUINDO
A prática tem o sentido de técnica e está intimamente relacionada com o saber. É necessário,
portanto, que a escola seja capaz de refletir sobre a sua prática – técnica, com o objetivo de
entender os mecanismos que embasam e justificam a sua ação, para transformar a realidade
que a cerca.
O RETORNO DO SUJEITO
Vive-se atualmente um novo tipo de racionalidade científica que adota e considera novos
princípios reguladores, entre eles, de extrema relevância, a discussão sobre a subjetividade.
Se antes essa questão era de domínio quase exclusivo da Filosofia e da Teologia, vemos
atualmente, até com certa estranheza, as diferentes ciências se envolvendo e se ocupando
com ela. Por isso, cumpre considerar que houve períodos e obras em que se falava, e ainda se
fala, em homem ou em natureza humana. Outros períodos e outras obras preferiram dar
destaque ao indivíduo, à pessoa ou, até mesmo, à pessoa humana. Vamos entender como
ocorreu esse retorno ao sujeito:
É conveniente também observar que a própria Filosofia considerou o sujeito apenas em uma
perspectiva, isto é, enquanto aquele que conhece – o sujeito cognoscente –, concepção
adotada principalmente por pensadores que viveram no período de Descartes (1596-1650) a
Heidegger (1889-1976).
Depois, a Filosofia perdeu a noção de sujeito. O discurso da morte do sujeito, que reproduz a
expressão nietzscheana da morte de Deus, contribuiu para isso.
Mas, atualmente, fala-se em retorno do sujeito.
É importante acatar a ideia de retorno do sujeito, mas não se pode negar que o mundo das
ideias carece de atualizações das teorias do sujeito, pelo menos em um tratamento não
dicotômico. Claro está que somente um aprofundamento na história do desenvolvimento da
noção de sujeito fará com que entendamos esses desdobramentos. Com certeza, as
especificidades e particularidades serão muitas. É essa admissão da noção de sujeito que
permite explicitar pesquisas as quais não são voltadas para objetos, mas para sujeitos.
Assim como o conceito de Educação, também é difícil a tarefa de responder sobre o que é ser
sujeito. Dotados de consciência, os sujeitos têm o poder de interferir sobre suas próprias vidas
– conhecem, agem, sentem e querem. E isso nos dá uma ideia do que significa pesquisar
sujeitos. Por outro lado, toda atividade pedagógica deve também estar voltada para sujeitos. O
que nos leva a admitir que toda atividade pedagógica se dá com vistas a uma concepção de
ser humano. Questão complexa, que exige reflexão profunda. Suas respostas dirigirão toda e
qualquer prática pedagógica.
Pensar a Educação significa pensar o humano, isto é, teorizar sobre sua essência. Assim,
seria útil distinguir pensar a Educação (pensar a prática educativa, em todos os seus
aspectos) de pensar sobre Educação (explicitar cada vez mais o fenômeno educativo). É
preciso, pois, olhar para o sujeito com outros olhos. O sujeito é quem sabe, age, sente e quer.
Por isso a necessidade que temos, todos, de nos construir e nos reconhecer sujeitos. A
anulação do sujeito contamina nossas sociedades, acarreta um mal-estar generalizado no
cotidiano de todos, favorece o aparecimento das assustadoras patologias psicológicas, a
expansão da violência, a banalização da vida e os gritantes indícios no aumento da
discriminação e da desigualdade.
Em especial para aqueles que só pensam em conteúdo, é urgente compreender a necessidade
de mudança. Aquilo que o estudante precisa saber, pode por ele mesmo ser adquirido. Há
inúmeras maneiras de se chegar à aquisição de um conteúdo.
É por esse viés que a formação de professores precisa assumir a perspectiva interdisciplinar
na condução de suas pesquisas e na maneira de encarar os alunos como sujeitos, isto é,
colocando-os diante da realidade, teórica e praticamente, e propiciando que construam e se
reconheçam sujeitos. De acordo com Deckeyser (2006), considerar a questão do sujeito nos
dias atuais equivale, fundamentalmente, a esclarecer seu quadro de emergência e a justificar o
lugar de nascimento de uma interrogação renovada de urgência pela ética.
CONCLUINDO
O sujeito deve ser o centro do processo de pensar e fazer a Educação. Os alunos, portanto,
são os sujeitos no contexto escolar e devem ser considerados em seu pensar, sentir, agir e
querer.
Assista ao vídeo a seguir para conhecer algumas práticas transformadoras de professores
que entenderam o seu aluno como sujeito do processo de ensinar e aprender.
RESUMINDO
A pesquisa científica deve fazer parte da formação do professor, pois é dessa forma que
ele será capaz de interpretar a sua realidade e, assim, dar sentido à ação educativa.
A prática tem o sentido de técnica e está intimamente relacionada com o saber. É necessário,
portanto, que a escola seja capaz de refletir sobre a sua prática – técnica, com o objetivo de
entender os mecanismos que embasam e justificam a sua ação, para transformar a realidade
que a cerca.
O sujeito deve ser o centro do processo de pensar e fazer a Educação. Os alunos, portanto,
são os sujeitos no contexto escolar e devem ser considerados em seu pensar, sentir, agir e
querer.
TECNOCIENTÍFICO
O termo tecnociência, criado por Gilbert Hottois (1946-2019) ao final dos anos de 1970,
faz referência à íntima ligação entre a Ciência e a tecnologia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
A Filosofia da Educação é um princípio que deve nortear a reflexão pedagógica. Nesse sentido,
entender a Educação não deve ser um exercício de racionalizar a prática, mas perceber que
lidar com a Educação é lidar com o que nos diferencia como seres humanos.