Filosofia 10º Ano - Falácias

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 4

Filosofia - 10º ano: O DISCURSO ARGUMENTATIVO – Principais tipos de argumentos e falácias informais

● O QUE SÃO ARGUMENTOS NÃO DEDUTIVOS?1


Quando queremos justificar ou refutar um ponto de vista, condenar ou enaltecer pessoas, situações ou ações, quando
necessitamos de avaliar os prós e os contras de uma teoria, escolha ou decisão, em todos estes momentos ou outros
semelhantes somos levados a fornecer razões a favor ou contra uma conclusão. Fazemo-lo usando argumentos
dedutivos e/ou não dedutivos.
Com o auxílio da lógica formal podemos examinar os primeiros e estabelecer se são ou não válidos. Porém, os
argumentos dedutivos e a determinação de padrões de inferência válida não esgotam toda a análise do discurso. A
verdade é que existem outros aspetos relevantes na argumentação, para além dos argumentos dedutivos e da validade
deste tipo de inferências.

Foi Aristóteles quem, pela primeira vez, distinguiu o âmbito dos argumentos lógico-formais daquilo que é apenas
arguível, estabelecendo três tipos distintos de argumentação legítima:
- Argumentação científica, na qual se faz uso da demonstração ou prova.
- Argumentação dialética, na qual se infere dedutivamente a partir de premissas apenas hipotéticas, razoáveis ou
prováveis.
- Argumentação retórica, que inclui procedimentos não dedutivos e que se desenvolve em torno de um elemento
fundamental, a persuasão.

Tanto no caso da retórica como no da dialética, o ponto de partida não são verdades estabelecidas, mas premissas
verosímeis, abertas à discussão. Porém, ao contrário da dialética, que se apoia sobre argumentos dedutivos, a retórica
faz também uso de argumentos não dedutivos e desenvolve-se em torno de um elemento específico – a persuasão
–, que define a sua natureza e a distingue de todas as outras maneiras de estudar a argumentação.

O objetivo da retórica é suscitar a adesão de um interlocutor - ou de um auditório - a uma crença e levá-lo a adotar
um comportamento. Está presente nas situações de comunicação da vida social, ética, estética, religiosa ou política,
caracterizadas pelo confronto entre crenças hipotéticas e por discordâncias profundas sobre a verdade e a falsidade
destas. Por exemplo:
→ Como é possível uma sociedade justa?
→ Como podemos alguma vez saber se de facto alcalamos a verdade?
→ O valor da vida de uma pessoa vai diminuíndo à medida que envelhece?

A arte da palavra eficaz ou persuasiva, a retórica, está, desde sempre, presente em grande parte da nossa
comunicação quotidiana. Depois de uma época áurea na Antiguidade greco-romana, a retórica, como ciência,
permaneceu adormecida durante séculos, até que, na época contemporânea, conheceu um renascimento importante.
Grande parte da renovação e do interesse atual pela retórica ficaram a dever-se às teorias de Chaïm Perelman e do
seu discípulo Michel Meyer (1950-).

Para Perelman, a argumentação informal (ou retórica) é algo com uma natureza radicalmente diferente de uma
demonstração. Enquanto a demonstração é definida como um processo lógico-formal de derivação ou de prova, a
argumentação informal tem um caráter dialógico: implica uma resposta por parte do auditório (conjunto de todos
aqueles que o orador quer influenciar com a sua argumentação) e o confronto de pontos de vista. A argumentação
informal é sempre necessariamente pessoal e situada. A demonstração, pelo contrário, é um exercício racional
impessoal, isolado do contexto.

Ao contrário da argumentação informal, a demonstração não exige um auditório para ser concretizada ou construída.
É essencialmente cálculo: deduz de um modo constrigente conclusões a partir de premissas, segundo regras
puramente formais.

1
Catarina Pires, Carlos Amorim, Clube das Ideias (Aprendizagens Essenciais) 10ºano (Adaptado).
Pág. 1 de 4
Filosofia - 10º ano: O DISCURSO ARGUMENTATIVO – Principais tipos de argumentos e falácias informais

PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS NÃO DEDUTIVOS


Desde a Antiguidade que as diversas teorias da argumentação se esforçaram por identificar e caracterizar tipos
distintos de argumentos. Apontaremos aqui alguns exemplos de argumentos não dedutivos e respetivos critérios para
estabelecer a sua força:
→ Argumentos indutivos (generalização e previsão):
Na generalização, argumenta-se partindo do que é verdade para um dado conjunto de casos particulares e conclui-
se, com base nisto, que também o é para todos os casos em geral.
- Todos os A observados são X. Logo, todos os A são X.
Por exemplo: «É verdade que os pêssegos observados têm caroço. Logo, todos os pêssegos têm caroço».

Já no que respeita à previsão, a estratégia argumentativa passa por partir de um conjunto de casos ocorridos para
deles concluir que no futuro o mesmo se verificará.
- Todos os A observados (até este momento) são X. Logo, todos os A observados (no futuro) serão X.
Por exemplo: «É verdade que os pêssegos já observados têm caroço. Logo, o próximo pêssego que for observado terá
caroço».

Para garantirmos que os nossos argumentos indutivos são fortes, isto é, para acautelarmos que o vínculo que une
premissas e conclusão está baseado num forte grau de probabilidade:
- A amostra deve ser ampla.
- A amostra deve ser relevante, isto é, representativa do universo em questão.
- Não deve omitir-se, a propósito da amostra, informação relevante.

→ Argumentos por analogia


São argumentos baseados numa comparação entre duas coisas supostamente semelhantes. Parte-se do princípio que
se duas realidades são semelhantes em certos aspetos conhecidos é provável que também o sejam noutros. A
inferência por analogia decorre, assim, do estabelecimento de uma relação entre o que se pretende argumentar e um
aspeto que se vai procurar a outro elemento do real.
Argumentar por analogia é argumentar que uma vez que A e B são idênticos em alguns aspetos conhecidos, então, sê-
lo-ão também noutros. A é como B em x e y. B é z. Logo, A também é z.

Argumentar por analogia pode parecer, à primeira vista, uma forma de raciocínio segura. Todavia, para que um
argumento por analogia possa ser considerado forte, devemos poder responder afirmativamente às duas primeiras
perguntas do conjunto que se segue e negativamente à terceira.
- As semelhanças apontadas são relevantes para a conclusão?
- A comparação tem por base um número razoável de semelhanças?
- Não haverá diferenças importantes entre o que está a ser comparado?

→ Argumentos de autoridade
São argumentos cuja conclusão é sustentada pela opinião de um especialista ou pelos dados de uma instituição
confiável. X (uma fonte com a obrigação de saber) diz A. Logo, A é verdade.
Para que um argumento de autoridade possa ser considerado forte:
- As fontes devem ser citadas.
- As fontes devem ser qualificadas para a afirmação.
- As fontes devem ser imparciais.
- Deverá existir acordo relativamente à informação.

FALÁCIAS INFORMAIS2

2
Luís Rodrigues, Filosofia 11ºano, Plátano Ed. (adaptado).
Pág. 2 de 4
Filosofia - 10º ano: O DISCURSO ARGUMENTATIVO – Principais tipos de argumentos e falácias informais
● O QUE SÃO FALÁCIAS?
As falácias são inferências onde se aparenta tirar uma conclusão lógica quando, de facto, tal não acontece, pese
embora a sua força persuasiva. São, portanto, erros de raciocínio.

● O QUE TÊM EM COMUM AS FALÁCIAS FORMAIS E INFORMAIS?


Têm em comum o facto de serem argumentos defeituosos.

● O QUE DISTINGUE AS DISTINGUE?


As falácias formais são argumentos defeituosos cuja deficiência consiste em terem forma correta. São erros ao nível
da sua estrutura lógica.
As falácias informais, tal como as formais, são também argumentos que apresentam deficiências. Mas essas
deficiências devem-se, em grande parte, ao conteúdo dos argumentos. Mais do que de erros, devemos, a propósito
de falácias informais, falar de estratégias argumentativas de valor controverso ou muito duvidoso. Uma falácia
formal é um argumento que, por alguma razão não exclusivamente formal, não consegue dar-nos boas razões para
aceitarmos a verdade da sua conclusão.

As falácias informais a que iremos dar especial atenção, serão as seguintes:


Falácias informais Caracterização geral/ Exemplos
Falácia da A conclusão resulta de um suposto e improvável encadeamento de situações. [Ex.: «Se és um
derrapagem apreciador de bons vinhos, então, depois de um bom copo, beberás outro e outro e mais tarde
ou mais cedo tornar-te-ás um alcoólico».]
Falácia do falso Apresentam-se duas alternativas como sendo as únicas, ignorando ou tentando fazer com
dilema que se acredite que não há mais alternativas disponíveis.
[Ex.: «Ou és crente ou és ateu. Se não és crente, só posso concluir que és ateu» .]
Falácia da petição Usamos como prova aquilo que estamos a tentar provar: supõe-se a verdade do que se
de princípio quer provar, ou seja, provamos a conclusão, tendo como premissa a própria conclusão.
[Ex.: «Não falta ninguém, uma vez que está cá toda a gente».]
Falácia do «boneco Distorcem-se as ideias do adversário para as atacar mais facilmente. A tese do adversário é
de palha» (ou deturpada para ser atacada, mas isso significa que se falha o alvo. [Ex.: «O João diz que, para
«espantalho») se protegerem certas espécies, os Jardins Zoológicos são importantes. Então, mais valia prenderem
todos os animais».]
Ataque falacioso à Ataca-se indevidamente a pessoa que defende certas ideias, julgando-se erradamente que
pessoa (ad isso é atacar as suas ideias. [Ex.: «É impossível aceitar o que dizes. Como podes ter uma opinião
hominem falacioso) inteligente sobre o aborto? Não és mulher, pelo que esta é uma decisão que nunca poderás
tomar».]
Falácia do apelo à Transforma-se em prova a ausência de prova. Se não provarmos a falsidade de uma
ignorância afirmação, então ela é verdadeira; se não provarmos a verdade de uma afirmação, então
ela é falsa. [Ex.: 1. «Ninguém provou que os fantasmas não existem. Logo, existem».
2. «Nunca se observaram extraterrestres. Logo, não existem».]
Falácia da falsa Trata-se de um erro indutivo que consiste em concluir que há uma relação de causa-efeito
relação causal entre dois acontecimentos que ocorrem sempre em simultâneo ou um imediatamente após
o outro, excluindo que ambos os eventos sejam causados por um terceiro ou por mero
acidente.
[Ex.: «O trovão ocorre sempre depois do relâmpago. Logo, o trovão é causado pelo relâmpago».]
Falácia Ad populum Consiste em apelar à opinião da maioria (ou povo) para defender que uma dada afirmação
é verdadeira, sem considerar que a maioria das pessoas pode estar enganada quanto à tese
defendida. [Ex.: «A maioria das pessoas pensa que só o que é natural é bom para a saúde. Logo, só
o que é natural é bom para a saúde».]
Falácia da Consiste em extrair uma conclusão com base num número muito limitado de casos, ou seja,
generalização numa amostra insuficiente. [Ex.: «O João é português e é antipático. Logo, todos os
precipitada portugueses são antipáticos».]

Pág. 3 de 4
Filosofia - 10º ano: O DISCURSO ARGUMENTATIVO – Principais tipos de argumentos e falácias informais
Falácia da amostra Ocorre quando a generalização é feita a partir de dados insuficientes para sustentar essa
não representativa generalização. [Ex.: concluir que a intenção de voto da maioria dos portugueses será socialista,
tendo por base uma sondagem dirigida apenas a indivíduos do sexo masculino .]
Falácia da falsa Ocorre quando o número de objetos comparados é reduzido, as semelhanças entre si são
analogia escassas e pouco ou nada relevantes. [Ex.: «O Estado é como uma empresa. Logo, deve ser
gerido por empresários».]
Falácia do apelo Ocorre quando: 1) a autoridade (“especialista” – pessoa ou instituição) invocada para a
inadequado à argumentação não é competente ou não é reconhecida como tal; 2) há ausência de
autoridade identificação dessa mesma autoridade (indicação de fontes); 3) a autoridade invocada é
contradita por autoridades (especialistas) com igual reputação; ou (4), quando a autoridade
em causa não é imparcial. A violação de um destes critérios indica que estamos perante
uma falácia do apelo inadequado (ilegítimo) à autoridade. [Ex.: Muitos cientistas acreditam na
existência de extraterrestres. Logo, os extraterrestres existem».]

Pág. 4 de 4

Você também pode gostar