Diagnóstico Diferencial e Diretrizes de Cuidado
Diagnóstico Diferencial e Diretrizes de Cuidado
Diagnóstico Diferencial e Diretrizes de Cuidado
PROPÓSITO
Conhecer recursos para a construção do diagnóstico diferencial e ter habilidades para
manejar
as situações e identificar os sinais e os sintomas dos transtornos mentais e
demais
adoecimentos permite a formulação de hipóteses diagnósticas, bem como a
identificação de
estratégias por parte do profissional que trabalha em Saúde Mental.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Diferenciar as sintomatologias na simulação, no uso de
substâncias e em outras condições
orgânicas
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
Diversos estudos apontam que a incidência do transtorno mental na população mundial é uma
realidade crescente e desafiadora. Ela contempla doenças como a depressão e a ansiedade
entre as formas de adoecimentos mais incapacitantes, que acarretam prejuízos para vida
escolar, laborativa e social. É muito importante que o profissional psicólogo esteja
munido de
ferramentas para efetuar uma avaliação qualificada e adequada à conduta
terapêutica que
melhor favoreça o indivíduo em sofrimento mental.
Ao final, esperamos que você domine as ferramentas básicas para a observação dos
fenômenos psicopatológicos, a fim de diferenciá-los, e consiga manejar os casos com base
em
uma escuta qualificada.
MÓDULO 1
COMENTÁRIO
Além disso, há comorbidades clínicas que podem cursar com quadros de desorganização do
pensamento e alteração do comportamento, acarretando confusões no momento de
fechamento
do diagnóstico. E como é possível diferenciar e perceber essas fronteiras
diagnósticas
que por vezes são tão tênues? A resposta para essa pergunta está no diagnóstico
diferencial.
É valido salientar o que se entende por psicopatologia, como ciência que descreve e
sistematiza sintomas e sinais psicopatológicos com base na escuta e observação do
indivíduo,
tornando possível a construção do diagnóstico do transtorno mental. Sabe-se
que a
psicopatologia é um campo do saber que reúne discursos com variados objetos,
métodos,
questões discutidas por disciplinas biológicas e as neurociências, e ainda
outros saberes
oriundos da psicanálise, psicologia, antropologia, sociologia e
filosofia.
PSICODIAGNÓSTICOS E DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL
O diagnóstico diferencial é a base para uma consulta clínica inicial. O que queremos
dizer com
isso?
Queremos dizer que o diagnóstico diferencial ajuda a olhar para as nuances que se
apresentam nos sinais, nos sintomas, nas formas e nos conteúdos psicopatológicos.
SAIBA MAIS
Não se trata apenas de diferenciar os transtornos mentais, mas também de descartar outras
condições de base orgânica ou decorrentes do efeito do uso de substâncias.
VOCÊ
SABIA
1980
1987
Pouco depois, em 1987, com a revisão desse manual no DSM III-R, tal
hierarquia foi abolida,
incentivando a formulação de diagnósticos
simultâneos, fato que conduziu à ideia de
comorbidade (MARTINHAGO,
2019).
Comorbidade pode ser definida como a associação entre duas ou mais doenças, ao mesmo
tempo, em um mesmo paciente.
Podemos identificar alguns tipos de comorbidade. Veja!
COMORBIDADE PATOGÊNICA
COMORBIDADE DIAGNÓSTICA
COMORBIDADE PROGNÓSTICA
ATENÇÃO
No entanto, os diagnósticos trabalhados devem ser
adequadamente delimitados e, para isso, é
fundamental que o profissional ou
clínico elabore de forma correta o diagnóstico diferencial em
cada caso, de
maneira que as comorbidades sinalizadas sejam reais e não erros médicos.
Como já foi apontado, o transtorno mental não é de difícil identificação, mas, pela
proximidade
de determinados fenômenos, pode levar a confusões e diagnósticos
equivocados. O
profissional deve ter em mente que os manuais de diagnóstico categorizam
e classificam de
maneira clara os sintomas psicopatológicos, há critérios bem definidos
para cada tipo de
transtorno mental. No entanto, os sinais e os sintomas devem sempre
estar associados a uma
avaliação mais ampla que compreende a história de vida, as
relações e as outras condições do
indivíduo.
Os psicodiagnósticos e o diagnóstico
diferencial
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Quando o indivíduo solicita um atendimento psicológico (ou alguém pede em seu lugar),
está
certamente motivado por algum sofrimento. Em nossa atividade clínica, a narrativa
da pessoa,
ou seja, aquilo que ela diz durante o atendimento, é o que baliza o
diagnóstico.
É fundamental que o psicólogo acolha o sofrimento
da pessoa, que esteja aberto e atento para
os demais elementos que se apresentam durante
a investigação clínica.
COMENTÁRIO
Muitas vezes, o psicólogo recorre à anamnese nos primeiros encontros com o objetivo de
realizar um psicodiagnóstico.
Uma anamnese bem-feita pode captar informações que
permitem uma adequada avaliação
não só sintomatológica, mas também do contexto social no
qual o indivíduo está inserido.
A obtenção de uma boa anamnese requer certas qualidades e uma atitude primordialmente
ética do entrevistador. A anamnese deve incluir alguns indicadores. A seguir, veremos
quais
são eles.
QUEIXA PRINCIPAL
Neste indicador, as perguntas-chaves dizem respeito ao momento da solicitação
do
atendimento: o que o indivíduo tem sentido que o motivou a buscar
tratamento? Como se sente
no ato do atendimento? O que o mobilizou a
procurar um psicólogo?
HISTÓRIA PREGRESSA
É a história de vida do indivíduo desde o seu nascimento. Neste indicador, é
importante levar
em consideração como foi o parto, o desenvolvimento motor
nas etapas de desenvolvimento, a
vida escolar, os relacionamentos sociais, a
vida com genitores e familiares, entre outros.
PRÓDROMOS
Os sintomas prodrômicos são aqueles que precedem o quadro agudo, em que
sintomas se
confundem com algo da adolescência e que, por vezes, passam
despercebidos pelo próprio
indivíduo ou seus familiares. Aqui, podem ser
observadas alterações sutis de comportamento,
por exemplo, a perda de
interesse pela escola, o jovem mais retraído, as dificuldades para
fazer
amizades, a vergonha excessiva de se expressar, e assim por diante.
OBSERVAÇÃO DIRETA DA PESSOA EM SOFRIMENTO
Este indicador auxilia na construção do exame psíquico com avaliação de
consciência,
orientação, pragmatismo, volição, atitude, humor, sono e
vigília, assim como a apresentação do
indivíduo: A aparência está cuidada ou
não? A vestimenta está adequada ao momento ou não?
LOGORREICO
PENSAMENTO DESCARRILHADO
USO DE SUBSTÂNCIAS
Este indicador é importante para a anamnese. O indivíduo fez ou faz uso de
substâncias
(drogas/medicamentos) lícitas ou ilícitas? Quais são? Qual é a
frequência do uso? Como é seu
comportamento quando está sob efeito da
substância? E quando não usa a substância, como
se comporta?
CONDIÇÃO MÉDICO-ETIOLÓGICA
Para que o examinador não se confunda, é necessário investigar se há alguma
doença clínica
de base, pois ela pode acarretar alterações de comportamento
e sensopercepção no indivíduo
examinado ou tornar agudos os sintomas do
transtorno mental.
Como vimos, olhar e escutar a pessoa em sofrimento são ferramentas fundamentais que
permitem ao psicólogo enxergar além dos sinais e sintomas, chegar às relações e aos
contextos sociais, laborativos, familiares etc.
Outro ponto fundamental é que não cabe ao psicólogo o julgamento moral do indivíduo que
está sob seus cuidados. Não cansamos de repetir que cada pessoa é única e, assim,
devemos
estar atentos para não misturar (tampouco comparar) nossas experiências com as
do paciente.
SAIBA MAIS
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Diferenciar as sintomatologias na
simulação, no uso de substâncias e em outras
condições orgânicas
OS CUIDADOS NA DIFERENCIAÇÃO DE
SIMULAÇÃO, USO DE
SUBSTÂNCIAS,
CONDIÇÃO MÉDICA GERAL E
COMORBIDADE
O processo de diagnóstico diferencial pode ser estabelecido com base na diferenciação,
seguida da exclusão de outros adoecimentos. Uma das primeiras ações no processo
do
diagnóstico diferencial é saber diferenciar a simulação do paciente.
Há ainda indivíduos que apresentam comportamento enganador, mas sem a intenção de obter
benefícios externos. Nesses casos, o paciente quer assumir o papel de doente e a
psicoterapia
pode ser primordial para decodificar essas motivações.
EXEMPLO
Todos esses pontos podem surgir durante as entrevistas iniciais. Uma vez que o psicólogo
avalie que se trata de simulação, sua postura ética deve ser mantida: não cabe ao
profissional
o julgamento moral, como já abordamos anteriormente.
O uso de drogas para obtenção de prazer é tão antigo quanto as mais remotas civilizações.
Para alguns, ainda é um tabu falar abertamente sobre o uso de drogas, especialmente as
consideradas ilícitas. Por isso, o psicólogo deve estar atento aos indícios de que
determinados
sintomas são oriundos do uso de substâncias — e não do transtorno mental.
Há também indivíduos que usam substâncias para melhorar suas performances, por exemplo,
estudantes que querem aumentar a concentração e o estado de vigilância costumam usar
metilfenidato.
É muito comum verificarmos o uso de drogas para aplacar um mal-estar causado pelo
transtorno mental.
EXEMPLO
Uma pessoa com transtorno de ansiedade que consume álcool
para conseguir dormir ou usa
cocaína para diminuir a alucinação auditiva verbal,
ou fuma maconha para contrapor um
quadro de transtorno de humor.
ATENÇÃO
EXEMPLO
Com base nesse fragmento de caso, embora houvesse critérios para pensar em esquizofrenia,
o fato de Pipo ter interrompido o uso de substâncias e não sentir mais os sintomas
descritos
aponta que o diferencial, nesse caso, tem a ver com o uso das múltiplas
drogas.
SAIBA MAIS
Como já vimos, entende-se por comorbidade a associação de duas ou mais doenças que
acometem o mesmo paciente. Isso significa que o indivíduo que solicita atendimento por
apresentar alguma queixa relativa a transtorno mental pode ter alguma doença de base
orgânica concomitante. Uma pessoa pode ter alguma neoplasia e depressão, por exemplo, ou
sofrer de síndrome metabólica e ter transtorno do espectro autista (TEA).
RECOMENDAÇÃO
ATENÇÃO
SAIBA MAIS
CURSO DO ADOECIMENTO
(FIRST, 2014, p. 7)
Reiteramos que a anamnese construída com base em entrevistas iniciais, seja qual for o
campo de atuação do psicólogo clínico, cumpre papel fundamental para o levantamento das
hipóteses diagnósticas que podem fazer total diferença na vida do indivíduo em
sofrimento.
EXEMPLO
O exemplo exposto abordou um quadro de delirium (cuja base era a diabetes) que
foi
rapidamente identificado por se tratar de algo súbito e agudo. Uma vez resolvida a
causa, os
sintomas desapareceram.
Com esse exemplo, vimos como o processo de diagnóstico diferencial pode ser estabelecido
com base na diferenciação em pelo menos três aspectos:
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
EXEMPLO
Uma vez que o paciente é diagnosticado com um CID psiquiátrico, ele entra em um processo
que podemos chamar de medicalização, que não diz respeito apenas às
pessoas que fazem
uso de medicamentos, mas que experimentam uma vivência de cronicidade,
de não cura, que,
muitas vezes, o diagnóstico de transtorno mental traz consigo.
RESPOSTA
E o que Canguilhem quer dizer com isso? Ora, que o indivíduo é indivisível! É necessário
olhar
para o todo e não apenas para um conjunto de sintomas verbalizados durante o
atendimento.
Para isso, é necessário também tranquilidade por parte do psicólogo, para
não sucumbir a um
furor curandis, como nos ensinou
Freud, que pode induzir ao erro diagnóstico.
FUROR CURANDIS
4
5
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudamos o conceito de diagnóstico diferencial e a importância de sua aplicabilidade para a
exclusão de determinados diagnósticos, os quais direcionem o psicólogo a uma abordagem
mais precisa em relação ao sofrimento da pessoa. O diagnóstico diferencial contribui para
escapar de certa armadilha causada pelas semelhanças dos sintomas que surgem tanto no
transtorno mental quanto em outros quadros.
Apreendemos que há um método que orienta a escuta e o manejo dos casos para alcançarmos
o diagnóstico mais preciso, e a anamnese tem um papel importante para a elaboração da
hipótese diagnóstica mais assertiva. Além disso, vimos que é fundamental que o psicólogo
perceba o ser humano em suas diversas relações, para além de sinais e sintomas
psicopatológicos.
Por fim, vimos o quanto é importante manter uma postura ética na Psicologia, livre de
julgamentos morais, fazendo jus ao disposto no código de conduta da profissão na qual o
psicólogo atuará para garantir a diversidade e os direitos humanos.
PODCAST
Agora, a especialista Luciana de Medeiros Lacorte Soares encerra o tema falando sobre a
importância e as particularidades do diagnóstico diferencial na psicopatologia, destacando o
papel do psicólogo e as diretrizes recomendadas.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ALVES, H. et al. Comorbidade: uso de álcool e outros transtornos psiquiátricos. Bras.
Psiquiatria, v. 26, supl. I, p. 51-53, 2004.
FIRST, M. B. Manual de diagnóstico diferencial do DSM-5. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014.
LOPES, C. S. Como está a saúde mental dos brasileiros? A importância das coortes de
nascimento para melhor compreensão do problema. Cad. Saúde Pública, v. 36, n. 2, p. 1-4,
2020.
MARTINHAGO, F.; CAPONI, S. Breve história das classificações em psiquiatria. Rev. Inter.
Interdisc., v. 16, n. 1, p. 74-91, 2019.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo, assista ao:
Filme Uma mente brilhante (2001), direção de Ron Howard e roteiro de Akira Goldsman,
baseado no livro A beautiful mind: a biography of John Forbes Nash Jr., de Sylvia Nasar.
Você poderá refletir sobre a vida de um esquizofrênico e as dificuldades que ele e sua
mulher vivenciam por conta dos sintomas e problemas relacionados com a sua condição
mental. Disponível no site Vimeo.
Documentário Take your pills (2018), dirigido por Alison Klayman. Como sugestão para
pensar o tema da medicalização da vida, este filme traz entrevistas com pessoas que
tomam psicoestimulantes. Disponível na Netflix.
CONTEUDISTA
Luciana de Medeiros Lacorte Soares