Resumo Aula Introdução À Psicoterapia Baseada em Processos

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Introdução à psicoterapia baseada em processos

Este resumo busca facilitar a compreensão do que está por trás desse novo modelo
psicoterápico, e discutir sobre suas implicações no contexto diagnóstico e na
atuação prática de profissionais da área da saúde mental baseada em evidências.
Utilizaremos o termo “Psicoterapia baseada em processos” (PBT), já que uma das
propostas que este novo modelo traz, é justamente a diminuição ou o fim das
terapias nomeadas – inclusive a própria TCC.

Busca-se a unificação das abordagens que conhecemos, enaltecendo e dando


ainda mais força para o campo da psicologia científica. As diversas abordagens
psicoterápicas perderão, aos poucos, força enquanto nome e “marca”, enquanto
fortalece-se uma única e poderosa marca – a psicologia baseada em evidências.

Vamos entender do que se trata essa psicoterapia baseada em processos, de que


maneira ela se relaciona com a TCC e o campo da psicologia baseada em
evidências (PBE) e como podemos juntá-las na nossa prática profissional.

A ciência não trabalha com verdades absolutas, pelo contrário, está em constante
atualização à medida em que novos estudos científicos vão sendo elaborados e
testados empiricamente. Dito isto, alguns limites podem ser observados na TCC
standard (TCC clássica e algumas de 2a e 3a onda), e que levaram a necessidade
de se pensar em uma nova forma de trabalhar dentro da psicoterapia.

Contexto do surgimento da Psicoterapia baseada em processos:

A primeira questão levantada diz respeito ao grande número de diagnósticos


sobrepostos e comorbidade entre transtornos, levando a proliferação de protocolos
específicos para cada um deles. Um mesmo sintoma pode se manifestar em
múltiplos transtornos, o que gera dúvida sobre qual seria o “protocolo ideal” para ser

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aplicado. Esse é um dos grandes problemas da TCC clássica, uma abordagem


quase que inteiramente voltada para um sistema de intervenção baseado em
protocolos.

Atualmente ainda temos dentro da psicopatologia um modelo de classificação


fortemente sindrômico, um sistema voltado para a manifestação de sintomas e que
deixa de lado questões subjetivas ligadas ao paciente. Como é de se imaginar, essa
grande sobreposição de sintomas dificulta não só o diagnóstico preciso, mas
também a escolha do tratamento mais eficaz para o paciente. Os profissionais
podem acabar perdidos em um mar de métodos supostamente distintos, mas que
com frequência se sobrepõem.

Em diversos casos, principalmente nos mais complexos em que o paciente


apresenta muitas questões e elevado número de sintomas comórbidos, observa-se
resultados pouco efetivos, onde a aplicação de protocolos não demonstra tanta
eficácia na remissão dos sintomas e nos resultados desejados – principalmente a
longo prazo.

Tendo em vista esses limites de uma TCC standard, a PBT vem como uma proposta
de minimizar ou acabar com os problemas atuais que permeiam a esfera clínica da
nossa profissão, trazendo inovações e novas concepções que buscam proporcionar
o melhor tratamento para os nossos pacientes.

Princípios gerais que regem a PBT:

● Diagnóstico dimensional

Refere-se a um modelo mais fluido de diagnóstico - tendência que já é vista no atual


modelo de classificação (DSM-5), apresentando uma mescla de diagnósticos mais
dimensionais e diagnósticos categóricos. Essa é a proposta de futuro trazida pela
PBT, diminuir o foco na aplicação de protocolos rígidos e específicos para cada
transtorno e adotar uma postura mais dimensional.

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● Terapias de terceira geração ou terceira onda

Outro fator que veio para corroborar com esse processo foi o surgimento das
terapias de terceira onda, que já vinham com uma maior fluidez no tratamento e
com aspectos menos enrijecidos.

● Transdiagnóstico e protocolos unificados

O transdiagnóstico se distancia da ideia de um protocolo fixo e rígido para cada


transtorno. A proposta do transdiagnóstico é justamente ir além do diagnóstico, ou
seja, nem tudo deve ser encarado como diagnóstico, nem tudo é sintoma, a
subjetividade e a individualidade das necessidades de cada paciente é fator
primordial na elaboração de um plano de tratamento eficaz.

A ideia da psicoterapia baseada em processos é que aos poucos deixemos de lado


os protocolos específicos que visam abordar os processos psicológicos centrais e
que impactam na etiologia e manutenção dos motivos da consulta, para que
possamos entender as necessidades específicas do paciente e não ficarmos reféns
de questões como sintomas e diagnósticos.

● Psicologia baseada em evidências

A ênfase continua sendo em uma psicologia baseada em evidências, composta por


estudos científicos e ensaios clínicos que comprovem a eficácia da metodologia. O
grande diferencial será o enfoque na individualização do tratamento, elevando ainda
mais a importância da conceitualização clínica, que abarcará nela a análise
funcional do comportamento - conceito trazido da análise do comportamento.

A PBT irá reforçar ainda mais a importância dessa conceitualização, que embora já
seja uma ferramenta de grande usabilidade para a TCC, acaba perdendo um pouco
do seu valor quando vinculada a protocolos padronizados e rígidos. Vemos a

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individualização e a personalização do tratamento ganharem força com essa nova


proposta trazida pela PBT.

● A integração da PBE as ciências sociais e naturais

Há uma grande ênfase na questão da filosofia da ciência e das ciências sociais,


principalmente em questões que envolvem o desenvolvimento humano e das
respectivas teorias da psicologia que embasam essas questões humanistas.

Tem-se um reconhecimento do impacto desses paradigmas filosóficos divergentes


na área, especialmente das terapias contextuais. O que antes poderiam ser
paradigmas divergentes para a TCC, hoje estão inseridos em diferentes
perspectivas no estudo do ser humano, trazendo uma intercomunicação dessas
teorias na tentativa de aproximá-las – sempre respeitando a cientificidade
requisitada pela esfera da PBE.

Há uma redefinição dos objetivos dos tratamentos psicoterapêuticos como um


funcionamento presumivelmente normal e cotidiano e envolve processos
disfuncionais. A descrição de problemas em categorias nosográficas é considerada
arbitrária e a definição de saúde mental como suposto estado de ausência de
sintomatologia psicopatológica é insuficiente. Essa é uma questão constantemente
exaltada pela PBT e que já vem sendo discutida e ganhando força a cada
atualização do DSM.

Os objetivos gerais das psicoterapias de base científica serão predominantemente


orientados para o enriquecimento do funcionamento e do desenvolvimento flexível
do paciente no seu contexto. O que se observa hoje em algumas abordagens,
incluindo a própria TCC standard, é a tentativa de enquadrar o paciente dentro de
um modelo pronto e de um protocolo pré-estabelecido que “ditará” as medidas a
serem tomadas em dada situação, ainda que tudo seja estabelecido socraticamente
e colaborativamente com o paciente. A PBT trará flexibilidade e individualidade no

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tratamento a partir de uma metodologia processual, tratando o paciente como um


todo e não como um mero conjunto de sintomas.

Princípios práticos da PBT:

A análise funcional entrará como um grande acréscimo da TCC baseada em


processos. Ela é decorrente da tradição da análise do comportamento, sendo feita
dentro do escopo dessa tradição. Na análise funcional clássica, temos: um (1)
antecedente, (2) comportamento e (3) consequência do comportamento.

Trazendo isso para o contexto da PBT, temos a análise funcional contextual do


comportamento: uma junção da análise funcional clássica com os conceitos já
existentes da TCC. Portanto, a nova estrutura que a análise funcional contextual
ganha é composta por uma (1) vulnerabilidade, (2) antecedente, (3) pensamento, (4)
emoção, (5) comportamento e (6) consequência.

A conceitualização de caso será mais abarcativa, apresentando em seu escopo


conceitos da TCC e de outras teorias, como a análise do comportamento por
exemplo. Veremos a PBT falar bastante na questão biopsicossocial, entendendo o
paciente de forma mais ampla, como um conjunto de fatores biológicos, sociais e
psicológicos que vão além de meras enfermidades.

Ser em contexto:

Todo ser humano tem um contexto no qual está inserido, ou melhor, um conjunto de
contextos: social, biológico, cognitivo, comportamental, desenvolvimento pessoal,
desenvolvimento humano, regulação emocional, ou seja, são vários elementos
somados que definem o tratamento mais eficaz para cada paciente.

Veremos um modelo totalmente dimensional, com um design exclusivo para cada


paciente e que se distancia do modelo de protocolos que conhecemos hoje.
Teremos processos e procedimentos específicos que formarão um escopo

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totalmente personalizado e individualizado de tratamento, com base no contexto no


qual o paciente está inserido nas multiáreas da sua vida. Deste modo, não teremos
mais protocolos fixos e rígidos, pelo contrário, daremos espaço para protocolos mais
flexíveis, maleáveis e personalizados de acordo com a necessidade e demanda de
cada paciente.

Conclusão:

Continuaremos tendo nessa PBT uma estrutura consensual, ou seja, colaborativa.


Encontraremos contribuições científicas de tratamento que vão além da própria TCC
como já vemos nas terapias contextuais, que abarcam em suas aplicabilidades
conhecimentos de outras abordagens. Continuaremos respaldados cientificamente,
com comprovações empíricas de efetividade.

Tendemos para um “branding psicoterapêutico”, ou seja, uma marca de


psicoterapia, sua forma única de fazer a psicoterapia, será o estilo próprio de cada
profissional trabalhar.

A PBT vem como um novo paradigma na psicologia clínica que questiona a validade
e a utilidade desse modelo de doença latente direcionado por protocolos específicos
da Terapia Cognitiva.

Reflexão

Será que devemos tratar todos os pacientes com TAG da mesma forma? Pacientes
com TP da mesma forma? Ou é chegada a hora de mudarmos essa visão restrita e
boicotada dos múltiplos fatores que compõem um paciente, de termos uma
psicoterapia agregativa, conjunta, abrangente (no sentido da flexibilidade de seus
moldes de tratamento) e que se conectam? Talvez, por hora, essa possa ser uma
visão um pouco utópica da psicologia científica.

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Talvez seja hora de termos uma psicologia menos fragmentada e protocolada, e


mais unificada e flexível (para pacientes e profissionais da área) – respeitando
sempre o que tange às regras éticas da nossa profissão; que tendem a mudar junto
a essa maré que já vem trazendo o gostinho de um futuro diferente e promissor para
a nossa atuação.

A nova geração da PBE começa a se mover na direção das psicoterapias baseadas


em processos, que buscam esses mediadores e moderadores centrais baseados
em teorias testáveis e falseáveis, representando uma mudança de paradigma da
ciência clínica com implicações de longo alcance e a criação e disseminação de
intervenções baseadas em evidências.

A TCC hoje já abarca diversas outras vertentes da psicologia dentro do seu campo
de atuação, a tendência é que isso se expanda cada vez mais em direção às
psicoterapias baseadas em processos. A tendência será diminuir essa vasta “colcha
de retalhos” de abordagens psicológicas e galgar em direção a uma psicologia
unificada de base puramente científica.

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