PROCESSO REFERÊNCIA: 1029402-60.2022.4.01.3400: Decisão
PROCESSO REFERÊNCIA: 1029402-60.2022.4.01.3400: Decisão
PROCESSO REFERÊNCIA: 1029402-60.2022.4.01.3400: Decisão
PROCESSO: 1021548-30.2022.4.01.0000
DECISÃO
Cuida-se de ordem de habeas corpus impetrada por Daniel Leon Bialski, Bruno
Garcia Borragine, Bruna Luppi Leite Moraes e Matheus Agostinho, em favor de Milton Ribeiro,
contra decisão proferida pelo Juízo Federal da 15ª. Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito
Federal, pugnando para que “seja CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR, PARA QUE SE PERMITA
QUE O ORA PACIENTE AGUARDE EM LIBERDADE e OU PRISÃO DOMICILIAR, ainda que
mediante medida cautelar diversa, limitações, prestação de fiança e outras, em número singular
ou plural (art. 319 do CPP) ATÉ O FINAL JULGAMENTO DESTE WRIT” (fl. 18 – doc. n.
232898048).
Para tanto, os impetrantes alegam que até o presente momento a defesa técnica do
custodiado, ora paciente, não teve acesso à decisão judicial que decretou a prisão preventiva -
expedida em seu desfavor - nada obstante, frisam, o próprio mandado de prisão revelar a
inidoneidade e ilegalidade do ato judicial cautelar combatido, isso porque, ao arrepio legal,
sequer se mencionou no decisum a necessária síntese da motivação que o originou. Sustentam
que a inteligência do artigo 285 do Código de Processo Penal foi ofendida, limitando-se o Juízo
de origem, apenas a fazer referência aos tipos penais: corrupção passiva (art. 317), prevaricação
(art. 319), advocacia administrativa (art. 321) e tráfico de influência (art. 332).
Nesse ponto, aduzem que o paciente segregado deve saber o porquê de estar
sendo preso e as razões porque sua prisão foi decretada, por decisão motivada e fundamentada,
todavia, no caso presente, não há nada, nenhuma referência no mandado sobre a motivação.
Argumentam que, além disso, fugindo ao que impõe a lei, nem ao menos estava anexado o
decreto de prisão preventiva, como costumeiramente se vê.
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO - 23/06/2022 12:34:27 Num. 233230527 - Pág. 1
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22062312302286700000227818483
Número do documento: 22062312302286700000227818483
Sustentam que a temeridade do édito cautelar impugnado exsurge, também, de sua
absoluta extemporaneidade, pois, conforme se observa da própria e notória repercussão do caso
originário pela imprensa nacional, os fatos impulsionadores da ordem prisional ocorreram há
muitos meses, conforme se infere do pedido de instauração de inquérito policial originalmente
tramitado perante o Supremo Tribunal Federal, com efeito, não estavam e não estão presentes,
em relação ao ora paciente, os requisitos cumulativos indicados no artigo 312 do Código de
Processo Penal.
Destacam que o cerne da precitada norma, que é cogente por natureza, traz a
compreensão de que somente será possível implementar a custódia ao implicado se, através de
decisão devidamente fundamentada – com espeque no artigo 315 da Lei Penal Adjetiva –, restar
demonstrado cumulativamente: 1) justo receio de perigo – que a liberdade do agente poderia
trazer –; e 2) existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação
da medida adotada.
Ressaltam não ser o que se verifica no caso concreto, que reclama a pronta
intervenção dessa instância hierarquicamente superior, a fim de que o írrito édito prisional
expedido seja cassado, ante a ausência dos requisitos legais para tanto, estabelecendo-se,
alternativamente, se for o caso, medidas outras conforme elencado no art. 319 do CPP.
Frisam que, mesmo sem se conhecer o teor da decisão que decretou a medida
constritiva, pelo que já se sabe, nada indicava ou indica a necessidade da prisão preventiva,
principalmente, porque os crimes atribuídos ao ora paciente não são classificados como
hediondos, nem violentos e muito menos poder-se-ia dizer que sua liberdade é um risco à ordem
pública ou econômica, à instrução criminal ou à aplicação da lei penal, tudo a evidenciar a
temeridade da segregação.
É o breve relatório.
Decido.
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO - 23/06/2022 12:34:27 Num. 233230527 - Pág. 2
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22062312302286700000227818483
Número do documento: 22062312302286700000227818483
Verifico, de logo que a parte impetrante não juntou a decisão judicial que deu azo à
prisão cautelar, razão pela qual nem o investigado, nem o Tribunal Regional Federal da 1ª
Região possuía conhecimento das argumentações utilizadas para o encarceramento.
Assim, o cerne deste writ passa a ser a prisão sem apoio em decisão devidamente
demonstrada; a alegação de ausência de contemporaneidade e utilidade entre os fatos e as
prisões; e o argumento segundo o qual é um exagero o conjunto de prisões levado à efeito.
Observo, desde logo, que para a concessão da postulada medida liminar de habeas
corpus é necessário estarem presentes, simultaneamente, os requisitos do fumus boni juris e do
periculum in mora. É preciso que se alegue direito plausível à liberdade e perigo na demora da
decisão judicial futura.
Nesse mesmo sentido, o Ministro Rogério Schietti afirma que “dúvidas não há de
que o deferimento da liminar é medida excepcional, cabível apenas em hipóteses de flagrante
ilegalidade e em que evidenciados o 'fumus boni juris' e o 'periculum in mora'.” (STJ. HC 422.201,
DJe de 27/10/2017).
Dito de outra maneira, a decisão liminar, considerando que o relator é tão somente
um longa manus do órgão julgador colegiado, ipso factum a Terceira Turma do TRF1, deve ser
concedida quando flagrantemente houver abuso ou erro na decisão judicial, não havendo
necessidade de mais informações ou de julgamento colegiado emergencial.
Noto que a análise preliminar do caso presente prescinde, desde uma primeira
olhada, das informações a serem posteriormente prestadas pela autoridade apontada como
coatora. Os argumentos de decisão não demonstrada, de plano no momento da prisão, de
ausência de utilidade e contemporaneidade da prisão e impossibilidade de fuga podem ser
enfrentados sem a oitiva da autoridade Coatora. Principalmente por que a prisão cautelar pode,
se for o caso, ser decretada a qualquer tempo.
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO - 23/06/2022 12:34:27 Num. 233230527 - Pág. 3
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22062312302286700000227818483
Número do documento: 22062312302286700000227818483
Código de Processo Penal, devendo, por coerência, ser dispensado igual tratamento ao ora
paciente, e aos demais encarcerados.
Observo que os crimes aos quais respondem os investigados são delitos contra a
administração pública. Por que assim o são, obviamente são praticados em derredor da atividade
estatal. Desvios financeiros nas áreas de saúde e educação são fatos gravíssimos. Assim o são
porque jogam a função de matrizes de consequências seriíssimas para toda a sociedade.
Demais disso, a natureza dos crimes imputados indica potencialidade que envolve –
em ultima análise - subtração de recursos, não são atos violentos que permitem a segregação
para proteção física do povo brasileiro.
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO - 23/06/2022 12:34:27 Num. 233230527 - Pág. 4
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22062312302286700000227818483
Número do documento: 22062312302286700000227818483
equívoco dogmático na medida em que, nestes casos, a prisão seria temporária, jamais
preventiva.
Assim, a defesa - para ser ampla - precisa ser efetiva durante a instrução
processual e isto só é possível se ela tiver conhecimento daquilo que já conhece o órgão
acusador e foi utilizado na construção da própria imputação penal pelo magistrado a quo.
No caso vertente, a prisão foi decretada sem que a decisão fosse disponibilizada,
tanto à defesa técnica do inculpado quanto a este Tribunal. A juntada do decreto prisional só
ocorreu 24 (vinte e quatro) horas após a determinação do Juízo de origem.
Demais disso, a prisão combatida, nos moldes em que decretada, sem os devidos
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO - 23/06/2022 12:34:27 Num. 233230527 - Pág. 5
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22062312302286700000227818483
Número do documento: 22062312302286700000227818483
fundamentos subverte, inclusive, a jurisdição desta Corte Regional, na medida em que não são
apresentados os argumentos que a justifiquem.
Noutro lanço, registro que a atual situação vivenciada pelo país e pelo mundo
recomenda sejam avaliados conceitos, paradigmas e posicionamentos.
Ademais, anoto, ainda, que o Supremo Tribunal Federal também tem reconhecido
em diversas e recentes oportunidades, a possibilidade de aplicação de medidas cautelares
diversas da prisão, quando há comprovado perigo da demora, in casu, encontrado no próprio
tempo de prisão experimentado pelo custodiado.
Assim, deve prevalecer a regra geral relativa à privação da liberdade pessoal com
finalidade processual, segundo a qual o alcance do resultado se dá com o menor dano possível
aos direitos individuais, sobretudo quando há expressa referência a inúmeras outras medidas de
natureza cautelar, que podem ser decretadas pelo juízo da causa e em proveito das
investigações. Demais, a liberdade provisória constitui um benefício cujo princípio orientador está
insculpido no inciso LXVI do art. 5º. da Constituição da República: "ninguém será levado à prisão
ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança".
Por derradeiro, verifico que além de ora paciente não integrar mais os quadros da
Administração Pública Federal, há ausência de contemporaneidade entre os fatos investigados –
“liberação de verbas oficiais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e do Ministério
da Educação direcionadas ao atendimento de interesses privados” (cf. cópia do INQ 4896/STF, à
fl. 42 – doc. n. 232898054), supostamente cometidos no começo deste ano, razão pela qual
entendo ser despicienda a prisão cautelar combatida.
“A prisão cautelar, assim como a adoção de medidas cautelares diversas da prisão, tem
natureza processual e a dúvida, neste âmbito, milita em prol da sociedade, tendo grande
relevo à conveniência da instrução, que deve ser realizada de maneira equilibrada e com
necessária lisura na busca da verdade real. Destarte, em virtude de todo o exposto, o
Ministério Público Federal oficia pela imposição de medidas cautelares diversas da
prisão (art. 319, II, III e V, do CPP)” (negritos no original).
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO - 23/06/2022 12:34:27 Num. 233230527 - Pág. 6
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22062312302286700000227818483
Número do documento: 22062312302286700000227818483
O próprio órgão acusador ofereceu parecer contrário às prisões, o que demonstra
claramente a desnecessidade, pois quem poderá oferecer denúncia posterior ou requerer
arquivamento acreditou serem desnecessárias e indevidas as detenções.
Ante o exposto, defiro a liminar, se por outro motivo o paciente Milton Ribeiro não
estiver segregado, para cassar a sua prisão preventiva, até o julgamento de mérito pelo
colegiado da Terceira Turma deste TRF da 1ª. Região.
Intimem-se. Cumpra-se.
Relator
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO - 23/06/2022 12:34:27 Num. 233230527 - Pág. 7
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22062312302286700000227818483
Número do documento: 22062312302286700000227818483