GEOGES DUBY - Economia Rura e Vida No Campo No Ocidente Medieval

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( GEORCES I}UBY I

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E VIDÀNO CAMPO
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NO OCIDENTE MEDIEYÀÍ,
( Capítulo II
,..1

( NQUEZA E SOCIEDADE. A ECONOMIA


( SENHORIAL
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( Esta aÍneaça náo se fazia sentir tÃo pesadamente,sobre,todos.
( os homens. Alguns comianl bem à sua vontade. Nem o peso rta
necessidade nem o das tarefas eram igqais para todos. Convém
( também situar agora; no seio da sociedadã, os piodutores e.os cônsu-
( midores, colocá-los no. respectivo nível social e nos gnlpos'$lc,
os enquadram, observar de que modo as tarefas e og- bençfÍclos
( eram distribuídos em funiáo das hierarquias e das solidariedades
sociais.
(
(
ÍÉxTO I {

( t. O quadro familjar
( A célula social elemen tar é afasrília. Ela deterrnina'a dà
"stnrt.rra Já
aldeia e do seu território, a diviiáo do trabalho e do consunro.
C Pâsia rt.u-* dâhJJ*" assinalámos a profunda marca que imprime'na paisagem rtual.
( O'-recirllp da qasa reúne a púentela e protege-a; os a.nexos fornecern-
Professor
( a organi-
|\E§\ E\r{L g-J\tê R\ r{i*
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( l.iatêria i

( Curso
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família.
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( N.o 0iigirnrs;]§;*. Para eXprimir existe um termo qug é utilizqdo desde o início do
século VII [os textos latinos das regiões onde se desenvolvcu a civi-
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47. \
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lizaçáo carolíngia (não parece ser utilizado nas províncias periféricas, lavoura, de quarenta dias cada (1). Por isso, o costume manteve
como o Maine ou o extremo sul da Gfia; só se estende ao Brabante do «manso» ou da palavra àide
Norte em do século v[, à Provença e à Itália no século x) (t): é como medida de superfície. Ainda em'1216, o duque de Limburgo
doava à abadia de Val-Dieu uma terra e um bosque
a
"tendo de compri-
mento um manso e de largura um meio"; no ano seguinte, a mesma
abadia recebia «tun manso de terra com doze bonniers, (z).
'cia:' Ci àaísús No entanto, de modo mais concreto e prático, o ütcursus, a huba e a

hortas, campos dispersos entre as «coúfiires» e, por fim, os dircitos de distri


paÍicipar na exploraç{o colecüva das terras incultas (2). O termo manso e §eu§
huba, utilizado a lrstê, nas regiões de dialecto germânico, tinha, tes nessa época. Nesta sociedade familiar era de facto normal fazer
segundo parece o mesrÍlo sentido. A Inglateira conhecia sob o nome recair os impostos não sobre os indivíduos, difíceis de lqcalizar e,
de hide uma entidade eqúvalente. aliás, completamente diluídos no grupo da casa, não sobre os campos,
Há muito tempo que ps historiadores se interrogam sobre a verda- cujo número e extensão e, sobretudo, situação no território variavam
deira situaçáo do mango no direito e nas relações sociais da época certamente consoante o ritmo das rotações de culturas, o avanço ou
carolíngia..As pesquisai estão longe de dissipar todas as incertezas: o recuo das queimadas em terreno inculto, mas sobre os recintos bem
problema continua a §er muito complexo. No entanto, podemos enraizados, bem delimitados, fáceis de enumerar, onde eram deposita-
simplificá-lo bastante, afastando os aspectos puÍarnente jurídicos e das as colheitas e onde os casais tinham o seu lar.
considerando apenas o valor económico da instituição.
Em primeiro lugar, devemos assinalar que uma noção teórica e
como que abstracta do mansus, da huba e da hide era familiar aos
homens desse tempo. Esta noção surge inicialmente muito ligada à da por costume
família. Equivalentes semânticos atestam-no em inúmeros textos: para manso fiscal como base das rendas e dos serviços, eis duas
Beda, o Venerável, a hide é a "terra de uma família"; nos documentos noções cuja força e ampla expansão na mentalidade colectiva são
da Germânia, a huba é o "local de residência de uma família" , ou mais bastante significativas das representações que esta sociedade fazia de
simplesmente afamília (:). Além disso, estes termos estão em correla- si própria. Todavia, a imagem que transmitem de uma família estabe-
ção com as unidades muito simples e muito concretas então utilizadas lecida em cada.manso, ele próprio com a sua parte de lavra uniforme,
para medir o trabalho agrÍcola: a hide e a huba são também "terras de está bem longe de corresponder à imagem revelada pelo texto dos
uma chamra". Significa isto que os anexos do recinto familiar, espa- polÍpticos carolíngios.
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lhados pela zona anível do território, deviam cobrir a superfície que o
ino+armanra ^-*Aá^ va §u4
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:i E$ =§f:tgg!P9!q" a cento e vinte acres_ou a cento e vinte jornas,
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dããoquê"ô-acreea s
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li consoante a qualidade da terra, a tarefa diária da eqúpa de trabalho. O A bem dizer, estes projectâm nas realidades campesinas uma lumi-
manso é concebido como um múltiplo destas medidas. nosidade muito particúar e que talvez as deforme. Isto por três razões
principais. Primeiro, os inventários descrevem apeqas as exploraçóes
o grupo casa e as camponesas sujeitas à autoridade e ao poder económico de um senhor.
Ora, deveriam existir outras, independentes, das quais, por ausência

(r) LATOUCHE, 216; GANSHOF, 32t e 232. manso no dialecto irqlians i iq bois @em
(2) SAINT-JACOB, 161.
(3) DELEAGE, 2o7, pp. 306-340. n.o lO e 12.

48 49
»
.

de fontes, nunca se saberá nem o número, nem a situação, nem a os mansos mais bem dotados de campos são frequentemente designa-
solidez. Por outro lado, nada PÍova que os quadros em que os impos- dOs por mansos *üvr€Sr, e o§ outros por .Senrisr. Como Os fOÍeirOs
tos gue competem aos dependentes estáo ordenados nos polípticos dos segundos só tinharn.de prestar ao senhor serviços manuais, @e-
tenhám coinõidido sempre coÍn a verdadeira repartiçáo da posse da mos deduzir gue, em princípio, não possuíam animais de tiro nem
terra no território. Porque, para simplificar as tarefa§ de cobrutça, os chamra; por outro lado, erarn requisitados para prestaçáo de trabalhos
! administradores dos seúorios que dirigiram a recepçáo de dados dos fora dos seus campos. Por eslrs duas razões, isto
inventários talvez,mantivessem artificialmente os quadros vetustos e
desadaptados. A.final, um políptico não é um cadastro; náo enumera
todas ai parcelas de um teriório' mas apenas as terras que dependem
do senhorio. Como lrcderemos saber se um camponês, encarregado vel entre os mansos era parcialmente determinada pela existência de -
I
pelo senhor de um mansP e de alguns camPos que lhe estavam anexos, dois níveis económicos e jurídicos'no seio da sociedade camlx,nesa: os
í
náo possuía ao lado ou+a§ parcelas de terra, que completaram a sua que possuíam atrelagem, mais üvres do tempo, àstavam mais bem
explôração e contribuíarh pard o sustento da casa? Enunciadas estas apetrechados do que os trabalhadores braçais, menos übertos da domi-
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rri"*uC, teremos de reçqnhecer que' sem os documentos redigidos nação senhorial. Reflectindo estas realidades sociais, os costumes
nos grandes domínios, há,da saberíamos sobre o manso.e a família germânicos tinham um manso livre teórico com uma exüensão de
rural. Estes testemunhos foram objecto de minuciosos exames: sessenta jornas, duas vezes mais vasto que o manso servil abstracto;
encontramo.nos num doç sectores melhor explorados da história rural. 3.o No entanto, a maior desigualQade reinava geralmente no pó-
Graças a eles, a situaç{o dos coúecimentos pode ser resumida da prio interior das diversas categorias jurÍdicas. Deste modo, nas posses-
seguinte maneira: sões parisienses de SainçGermain-des-Prés, alguns mansos ünres ex-
-1
1 .o Co-o é evidente, no interior,dos senhorios da época carolíngia, ploravam dez vezes mais terra do que os outros e nos mansos servis a
não existia uma coincidência exacta entre a superfície dos anexos desproporçáo atingia por vezes quaÍenta e cinco pÍua um. Tão grandes
aráveis do manso e a c{pacidade de trabalho de uma chamra. Tomo disparidadçs no equipamento das explorações familiares @em ser
( para exemplo dois exceíos de inventários. Em Poperingues' a abadia consideradas como o resultado de uma longa evoluçáo: compras,
àe SainçBêrtin possuía fluarentâ e sete mansos, dez dos quais tinham vendas, partilhas, trocas, clandestinas ou consenüdas pelo senhor,
trinta hectares de terreno, outros dez tinham vinte e cinco; outros dez
I
teriam, ao longo de gerações, intrciduzido nos patrimónios as desi-
( tinham dezanove; os restantes ap€nas dezassete (t). Vejamo§ agora gualdades então registadas nos polípticos. Apoiando esüa tese, verifi-
quatro aldeias da região parisiense onde a abadia de Saint-Germain- caremos gue, nas regiões belgas, onde a ocupação do solo, aorganiza-
-ães-Prés possuía diversoo mansos. Numa das aldeias, estes tinham ção do território e a instalação do serúorio eram certamente múto
em média quatro vírgula oitenta e cinco hectâres de terras de lavradio; mais recentes do que no centno da Bacia Parisiense, os mansos tinham,
noutra, seis vírgula dez hectares; ngma terceira, oito e na quarta' nove no século D(, uma extensáo muito mais uniforme (l). Somos levados a
I
vírgula sessenta e cinco. Acrescente-se que se trata de mé'dias e que pensaÍ que, pelo menos em algumas províncias, po póprio seio do
( estãs ocultam uma diversidade múto mais marcada entre as explora- senhorio e, por mais forte razáo, fora dele, a possessão camponesa
çóes individuais. De facto, alguns mansos dispunham de um anexo desfnrtava nessa época de uma relativa mobilidade. Com bastante
facilidade, decerto, algumas parcelas eram destacadas de um manso
a area variar ffi'§itEG:- para se juntarem a outro; deste modo, alguns casais iam enriquecendo
ve-llqeflq; e outros empobrecendo. Esta observação é importante. AcÍescente-se,
-"T3 Põíemos considerar, em primeiro lugar, que estas desigualda- finalmente, que as migrações camponesÍs e o estabelecirnento de
des tinham, de algum modo, correspondência na organização jurídica novas famílias na aldeia contribuíam também para acentuar a diversi-
hierarquizada das-tenure.t camPonesas. De facto, em certos polípticos,

(r) GANSHOF,229. (r) F, L. GANSHOF, l,a Belgique Carolingienne (Col. Notre passé), Bruxelas,
(2) PERRTN, 2«). 1958, p. lll.
50 5l
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dade dos lotes. EnconEaÍnos, de facto, em alguns territórios descritos camponeses tinham os seus próprios escravos, que.realizavam poreles
pelos ilrventários, appendaria, cabanrwriae ou ainda hospitia, tenures as corveias (l). Quanto a este asp€cto, os nossos conhecimentos êonti-
muito mais pequenas do que os mansos; podemos encará-las como nuam a ser insuficientes, Carência lamentável, porque ignorar se a
retalhos de terra aribuídos a imigrantes, que não eram integrados na sociedade era vasta ou reduzida, a casa povoada ou não, é ficar
comunidade aldeá, nerrt participavam na utilização das terras üwes; impossibilidado de avaliar as suas capaciàades de produçâo e,,de
consumo e,, portanto, de a situar exactarÍrente na economia desse
tempo, em função dos impostos senhoriais'ou do movirnento de
trocas. Os textos dáo, no entanto, algumas indicações susceptíveis de
pêrp6íoamento levasse à partilha da cerca habitada: em alguns serem interprctadas e que teria intereise recolher õuidadosamente. Os
polípticos, em particular o da abadia de Priim, estão inventariados inventários mais pormenorizados gue, coino o polípüco de Irminon,
alguns «euartos de manso" (l). Mas, na generalidade,.o senhor man- enumeram os,ocupantes dos man§os, dão a imagem de famílias geral-
dnha intacta a unidade de cobrança, sem se pÍe(rcupar com a maneira mente pouco extensas, de estnrtura conjugal: a Viaa de casa reúne
como as famílias ocupantes podiâm repartir entre si os impostos, a apenas o pai, a máe e os filhos. A soüdariedade náo paÍece agupar
área cercada e Írs parcelas contíguas. Em Verriàres, perto de Paris' parentes mais afastados e, segundo parece, os filhos casados tinham
apenas um quiuto,dos recintos fechados tinha uma só famflia, metade por costume estabelecer-se à parte, na sua pópria cabana. Mas estes
tinha duas e um terço, três (:). Agarrada pelas cercas, pelos costumes índices sáo relaüvos ao meio sociat particular dos camponeses forei-
agrários, pelo rígiho sistema das cobranças, a organizaçáo dos mansos ros, e a sua propria condição talvez conüdasse a desfazer mais de-
sóbrevivia então como um tecido celular endurecido que já náo coinci- pressa a comunidade familiar. Por vezes, vemos que esta se prolonga
dia com a estrutura viva, a das famílias. Já assinakímos que a acumu- por mais tempo no campesinato independente. Por exemplo, o políp
lação de famílias em cer'tas parcelas habitadas permite vislumbrar algo tico de Irminon descreve um mnnso enorrne, dotado de cerca de vinte
do movimento demognáfico da época. Mas quando se confronta esta e cinco hectares de terras ariíveis; tinha acabado de ser oferecido como
distribuição tão incoerente do povgarnento com as porções de terra esmola a Saint-Germain-des-Pnés, mas continuava ocupado e a ser
arável tão desiguais que eram concedidas em cada manso, percebe-se explorado pelos descendentes,do doador; as relações dã parentesco,
que os m€ulsos mais apetrechados de terras aráveis náo eram forçosa- anteriores à oferenda, tinham-se organizado num clima de indepen-
mente os mais carregadr:s de gente. As diferenças de situação econó- dência; a gente da casa reunia neste caso.vinte pessoas, dois,irmãos
mica determinadas pela distribúçáo desordenada da superfície anível casados, um deles pai de três crianças, o outro de cinco, uma irmá
eram ainda mais agravadas. Por isso, já náo existia qualquer colres- com seis filhos e uma outra irmã solteira. Na estnrtura famiüar reinava
pondência entre as forçfls e as necessidades do grupo familiar e o lote igualmente a diversidade. As famílias e os gÍupos de cooperação
ã" t"ttu que este podia ftabalhar, as quantidades de alimento que este económica elementar encontravam-se em situações bastante desiguais,
trabalho podia produzü ou ainda as exigências do senhor. quer pela sua composição ê pelo seu efectivo querpelos seus r€cursos.
Assim eram apresenuidas, nas descriçóes de senhorios, as verdadei- ]
ras relações entre o ma4so e a família. Seria ainda importante conhe-
cer a coesão interna dó grupo famüar camponês. grau de 2. As grandes fortunas rurais :

viviam os indiví, em comunidade o


Entre os foreiros de senhorio conseguimos distinguir ricos e pobres.
Mas uns e outros cultivavam a terra de um chefe, incomparavelmente
mais abastado do que eles. Foi em proveito desta aristocracia
agriiria (2) que os textos que testemuüarn sobre a economia rural
"'-â*'té-'

(r) PERRIN, 242.


(r) PERRIN, 242. (2) Remetemos para a excelente análise desta estrutura social apresentada por
(2) PERRIN, 2Q. BOUTRUCHE, I45.
À
52 53
ViLQ-a.'
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desta época foraÍn redigidos; refereni-se exclusivagrente aos seus


(
bens. [ievelam-nos a imagem de umh sociedade hierarquizada de
modo abrupto, onde un f,equeno número ds "psderosos" dominam a Segundo os aspectos revelados pelob mais célebres doclunentos, os
partir do topo a massa dos .nistico5» QUe exploraÍn. No entanto,
í

primeiros que foram descritos pelos eruditos e por eles apresentados


{ ãxistiam então entre os foreiros e seus senhores, cultivadores de como sendo os mais .clássicos", o sistema basffia-se na diüsão da
condição modesta que conseguiam salvaguardar, pelo menos Par-cial- villa em duas partes complementares. Uma era gerida em exploração
mente, a sua independência económica. Evocava há pouco uma fami
(

directa, Os historiadores franceses adquiriram o hábito de chamar a


lia camponesa ds vinte pessoas, cuja situação nos é acidentalmente esta parcela «reserya»; mas quando falavarn dela, os senhores e
dada a õonhecer Porque a doação do antepassado permitiu Ttegrar a camPoneses da Idade Média ernpregayam a palawa «domínio», sendo
sua telTa no património de uma grande igeja; antes desta dádiva, os
(
este o que eu retomarei. A outra parüe era consütuída Wlas tenure§,
( bens desta linhagem eram autónomos. Por.meio de outros documentos pequenas exploraEpes concedidas.
e, em particular, através das disposições que regulamentam o serviço
no exéicito real, adivinhava-se a presença e a vitalidade desta catego-
Q domlnio surge conqq lun «manso», o manso dojeÍüoÇ-ru4r§IÀt
,nob meoroo porque çorres-
I
ria de camponeses que exploravaÍn um único manso. Foram certa- pondia a umã' «c8s8», aumafamilia particularmente numerosa, produ-
mente as mrúltiplas doações de tais agricultores, údivas múto modes- tiva e exigente, Entretanto, a sua estruturyr-oãdpria da dos outros
tas, à medida dos seus meios, que enriqueceram no século u( as mansos. No coração, um recinto fechado(o .paçoi) espaço limitado
,,' grandes abadias da Germânia meridional. Todavia, é inegável gue os por uma sólida paliçada inclúa, além dàJrcrríe de uma grande
áuntor, as terÍas de lavradio e os espaços incultos se concentravün horta, um conjunto de constnrgões que o tornavaÍn numa verdadeira
(
em grandes propoFções na poss€ dos soberanos, dos grandes e§tabele- aldeola. Vejamos a de Annapes, que pertencia ao rei. Em redor de um
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cimãntos eclesiásdcos e de algumas famílias riquíssimas. Deste modo, palácio de pedra muito bem constnrído, com três salas no És-do-chão
il
havia enormes folnrnas rurais. A parte sercular da abadia dc Saint- e onze quartos no andar, aglomeravam-se numerosas constnrções de
( -Bertin destinada à manutenção dos monges tinha dez mil hectares' madeira, um estíbulo, três cavalariças, a cozinha, a cabana defazsr o
avaliando-se em mais d{ (ezoito mil hectares a superfície do domhio pão, dezassete barracas para abrigar os criados e as reservas,de
laico de Leeuw-Saint-Pfleire no Brabante (l).
(
alirnentos. Quanto aos appendicia, ligados à parcela central, com-
( De todas as formas onde a economia rural da época se enquadra, os preendiam sefnpre terrenos de lawadio em grandes talhões, Prados e,
grandes domínios são osr pHmeiros e-praticaÍnente os únicos que
(
lr

ós dOcumenros escritos rnostran -


bem. Podemos observar com -
bastan-
semp.re que possível,.vinfuas, e, finalmente, vastos terrenos inculos.
co€rqntes, geridos em benefício dC qn
Do «paçoo de So,main,,.pçrto de Annapes, dependiar-n duzentos e
te nitidez estes cinqgenta hectares de canpos,.guarent4.e quatro de prados, setecentos
a da época ãesignava pelapalaw@
i

l: senhorequealíngua e oitenta e cinco de bosques e zonas de pasto. Todayia, nem tgdos os


(
mesmo teÍmo que os latinos clássicos haviam utiüzado. Pelo «paços» estavarn igualmente,dotados: e da abadip de Saint-Pierredu-
satisfatória aqueles gue Peíenciam aos
t,i

( menos vemos de -Mont-Blandin, em Gand, não tiúe cem hectares (l).


nluiot"r mosteiros, que §" situavarn na área da civilizaçáo carolíngia,
Mas de uma maneira'geral, os «mansos de senhores" valiam viírias
entre o Loire e o Ren[ e na l.ombardia. Inventários e descrições dezenas de vezes os mansos que os camponeses recebiam como
permitiram que os esboçassem as características de um
( tenures. De facto, de acordo com as irnagens mais frequentes transmi-
iistema económico parti , que se convencionou chamar «regime
tidas pekis fontes, um certo nrirnero de mansos concedidos davam
(
dominial". Foi objecto de iúmeros estudos e, geralmente, bastante
apoio à ekploraçáo senhorial. Estes possuíam anexos de lavradio cuja
(
claros, o que permite passÍlÍ adiante. extensão, como vimos, era muito diversa, mas sempre inferior à
quantidade de tera que coÍrespondia teoricamente às capacidades de
(
uma famflia qlmponesa. No entanto, como üamÉm já vimos, estes

(r) GRIERSON, 234; GANSHOF, 228.


( (r) GANSHOF, La Belgique cuolingenne, P. 106'
c)
( 55
54
(

I
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(..
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mansos achavam-se geralmente ocupados por vários casais. Algumas distribuir à sua volta as (
lenures, ditas oüvres», erÍun em média munidas de apêndices mais q
t/astos do que outros, ditos .servis,. Acrescente-se que o estatuto dos un da mental era,
vrsr sv lsvrvr s evsvsYqv gácrpessoal-ro
de fat-tõIã-detlim lryoovs serv i ço. As fontes (
mansos nem sempre coincidia com í condição pessoal dos seus revelam apenas os princípios de gestão dos chefes de casas religiosas.
foreiros. (
Estes "intelectuaiso talvez tivessem um sentido mais desenvolvido da
I
I previsáo. Pelo menos, a sua preocupaçáo essencial era estabelecer um (
nível preciso das necessidades em produtos da terra. Parece ser esse o
*** objectivo dos "estatuts5» eue o abade Adalard redigiu para o mos- (
teiro de Corbie; fixam com particular minúcia a qualidade dos páes, o (
A primeira funçáo destes grandes domínips era permitir que alguns seu peso, a proveniência das farinhas, a ração dffõIferentes abonados
homens vivessem na ociosidade, na abundância e no poder. Sustenta- e o seu número. Um conhecimento exacto das necessidades precedia, (
vam a magnificência de uma élite mutto restrita ds «grandes». Nesta assim, e determinava, a distribuição dos fornecimentos entre os dife- (
civilizaçáo ainda primitiva, nurl período de penúria alimentar genera- rentes domínios de acordo com Írs suas aptidões. As digressões dos
lizada, o «poderoso" é visto em prirneiro lugar como aquele que come inquiridores e a redacção de invenrários tinham por objectivo ordenar (
f, sua vontade. Sobretudo aquele que dava de comer aos outros, o da melhor maneira esta partilha e também permitir saber se era (
f Eeneroso",
e a sua autoridade media-se pelo número de homens que possível receber novos irmãos, multiplicar as dádivas, ou seja, aumen-
fllimentava, pelas dimensões da sua «casa». A volta dos chefes, laicos tar o número de bocas a alimentar. No (
p religiosos, viviam centenas de comensais, seus parcntes e amigos, nao (
fiodos os que se haviam colocado sob a sua protecção (na corte do
§oberano carolíngio, o vocabulário oficial dava-lhes precisamente o (
nome de "alimentados"), hóspedes acolhidos com generosidade e que,
no exterior, espalhavam a glória da casa, enfim; multidões de criados, 3. A exploraçáo do, grande domínio
(
entÍe os quais os artistas do metal, da calpintaria ou da tecelagem, que (
construíam o quadro luxuoso que convinha à condição do seúor, que No modelo económico que os eruditos construíram, há algumas (
fabricavam as suasi aÍmas, as suas jóias e os seus adereços. Este tipo décadas, baseando-se nos raros textos considerados legítimos,,e que
de existência pressupunha um largo abastecimento, celeiros e adegas propuseram como donstituindo o «rcgime dominial clissico,, avilla é (
sempre cheios, logo, o tratamento constante das hortas, das vedações, apresentada, por conseguinte, como um centro de exploragão di-recta.
das latadas, a cultura de de dimensões excepcionais, capzves Um centro bastante exüenso, deüdo aos fracos rendimentos agrícoló. (
de fornecer, não obstante o baixo nível dos rendimentos, os cereais em O mosteiro de San Giulia de Brescia consumia no início do século x (
abundância, a disponibilidade de vastas extensões incultas para o seis mil e seiscentos almudes de cereais por ano. Para
e para a criação dos cavalos que, nas aorovisionamento- era necessário semeâÍ nove_-\.--
mil íl)- ,As (
viagens e nos combates, íam os atributos da vida aristocrática. ão'de (
gÉ_go limite, à larga. Era póprio do
(
(
(
seúores e seus agentes
(
de administração, uma ão em desenvolver a exploração, (
ou o princípio de uma mentalidade de lucro. (
Eles não queriam acumular bens, mas ter sempre meios, sem inquieta- (l) LUZZATO, 155.
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descrevem (l). No entanto, estas eqúpas existiam por toda a Parte e


por toda a parte a produção assentava sobretudo nelas. Três maqcipia,
por exemplo, asssguravam a valorização de um manso dominial, com
A solução era facilitada pela existência 6;;-rãTodo o cerca de vinte hectares, que acabara de ser dado a Saint-Germain-des-
Ocidente a praticava então e certamente de man-8ffi-6ã§lí-tensa nÍrs -Prés quando foi elaborado o políptico de Irminon (2). E na villa de
franjas menos evoluídas, mais próximas do paganismo, na tnglaterra e Ingolstadt, oferecida por Luís, o Pio, à abadia de Niederalteich, vinte
na Germânia sobrerudo. De qualquer modo, eram numerosos os ho- e dois escravos domésticos trabalhavam nos oitenta hectares de lavra'
l mens e mulheres que os textos latinos, fiéis ao vocabulário clássico, dio do domínio. Na Lombardia, contaram-se entre oito e quarrenta e
denominam servus, ancilla, ou designagr pelo termo colectivo e neu- nove escravos por «paço», em 905-905, nos território da abadia de
tro mancipium. A sua condiçáo jurídic{ era a dos escravos de Roma San Giulia de Brescia (3).
antiga ou dos povos bárbaros, apenrts adenuada pela ambiência cristã. A manutençáo destes seryos úo levantava problemas insuperáveis.
O casamento era reconhecido; tinham o direito de juntar um pecúlio Nos senhorios, onde funcionavam os moinhos, grproduto das taxa§ de
e de adquirir um terreno. Iúas dependiam inteiramente do senhor seu moagem colectadas aos utentes geralmente bastava para alimentar a
dono, que os vendia e comprava; faziarn parte do eqúpamento da familia servil. Também náo será de crer que o recrutamento dos
casa, com a sua descendência e os seus bens. Náo havia limites ao seu doryésticos. fosse penoso. Os progressos da cffinaaae certamente
dever de obediência e o trabalho que forneciam era gratuito. Muitos entravavam um pouco a actividade dos traÍicantes de escravos (4),
l
, instalados num manso pelo senhor, que o havia confiado para se mas os mercados mantinham-se abastecidos. Além disso, alguns
com a família e aí viverem, gozavaÍn de maior autono- servos eram casados (era o caso, numa villa da abadia de Farfa, de
ia. Mas muitos trabalhavam igualmente na casa, ficando numa dois homines manuales que trabalhavarn na <<casa» e, de entre as
ação económica comparável'à dos animais de lavoura: eram ali- servas, muitas tinham filhos, legítimos ou não (5). Seria certamente
tados e cuidados para náo se perder um capital precioso; pouco rentável criar estes jovens no «paço» do senhor, porque era
nham-se à disposiçáo do senhor para todas as tarefas. Podemos necessário alimentá-los muito tempo antes de poderem prestar servi-
maginar que, de entre os escravos, os de condiçáo doméstica eram ços. Em contrapartida, é quase seguro que o§ senhores escolhiam
numerosas. Indicações esparsas dão a entender que mesmo livremente os seus lacaios e moças de quinta entre a progenitura dos
camponeses os utilizavam em §uÍr casa. O homem de fortuna escravos estabelecidos em mansos servis. Este§ constituíam, portanto'
modesta que geria para os monges de Saint-Bertin o domínio de um viveiro de jovens trabalhadores domésticos e talvez fosse
Poperingues tinha quatro escravos ao seu serviço: o seu vizinho, o precisamente essa a sua principal função económica. -
regente de Moringhem, coür um manso de vinte e cinco hectares de Mas uma razão impedia os senhores de confiar exclusivamente aos
terrenos de lavradio, mantinha uma dúzia para seu úso pessoal (1). servos da casa todos os trabalhos dos carnlrcs: estes achavam-se muito
Quanto às casas dsl grandes, nos «paços» des villae, abrigavam autên- desigualmente distribuídos ao longo do calenÚário agrícola. A produ-
ticos rebanhos. ção cerealífera, ao contrário da criagão de gado ou da viticultura,
As nossas fontes falam destas equipas de trabalho dos justapóe longos tempo§ mortos a períodos febris durante os quais os
l
campos. Os escravos * mão" (servi manuales) que as constituíam,
os mancipia non casata, F escravos que não haüam recebido choça
para ter uma vida fami , que habitavam no pátio fechado
e que também eram minados "prebendeiros», porque o dono (t) O direito carolíngio distingue os escravos scm casa' incluídos entrr os bcns
móveis, e os que .jam casati 3a,7tr, Quc constitgcm a .herança, imobiliária' Copiwla'
garantia a sua subsistência eram, de facto, incluídos por um capitulá- ria Regum Francor*m,.1, p. 129, Em 8O4, italianos ccdem aog scus crcdores todos os
rio de 806 entre os beris que os invenrários nem sempre seus béns aexcepto mobilio, s.r-vos et ancillas nunuales,, Registrum farfcwe,
n.o 175.
(z) Polyptyque de l'abbé d'lrminon (Ed. GUÉRARD), tr, 123.
Trrrrrue dc l'abbé d'lrmbon(Ed. GLJERARD), II, Appendices, p.400. os . (3) LVU,tito, ts'.
l ruzctpía à disposição do seúor para as
foreiros da abadia de Priim colftava.ar os seus (4) LATOUCHE, 216, p. 188.
corveias de ceifa do feno c das paras, PERRIN, 242. (5) LUZZATO, 155.

58 59 n
I
(
(
trabalhadores têm de ser concentrados. Os trabalhos de lavoura, a bosques e baldios do senhor, quer como impostos de origem pública. (
ceifa sobretudo, e a colheita do feno necessária à manutenção dos Algumas eram acrescidas de reqúsições para o abastecimento do
animais de tüo, que dewm efectuar-se rapidamente sob um çlima exército real, outrora exigidas aos ctrmponeses livres; o grande pro- (
caprichoso, constituem períodos de grande actividade. Ajustar o efec- prietário rural tinha sido encaregado de as receber e acabava por (
tivo permanente do pessoal doméstico às necessidades destes momen- apropriar-se delas. O peso destes diversos pagamentos €FÍIr Ílâ veÍ-
tos de ponta, equivalia a ser obrigado a mantê-lo inactivo durante a dade, geralmente leve e o proveito mínimo para o senhor da terra. (
maior paÍe do ano, logo, a desperdiçar alimentos. Seria reduzir Vemos, assim, como se situavam as rendas na economia da villa.
consideravelmente o rendimento já bastante escasso da agriculora e, (
Estavam ao nível, não dos grandes trabalhos destinados ao sustento,
por conseguinÍe, deseqúlibrar a economia do domínio. Mais valia da luta pela subsistência, mas na margem da facilidade, da criação de (
associar à pequena equipa, suficiente para as tarefas quotidianas, um capoeira e do pequeno comércio de excedentes. Constituíam apenas
complemento de máo-d{-obra sazonal recompensada. uma cobrança superfrcial sobre a produçâo dos pequenos exploradores (
--ês{qndições económicas da época não excluíam totalmente o foreiros.
'mirürriamente para (
Gg-.t"dD Em Corbie, os encÍuregados da exploração das hortas em- o seu
pregavam ajudantes pÍua cavar as platibandas, para as primeiras plan- luxo. (
tações, para a monda; recebiam por ano, para a manutenção destes EIn tenures (
jornaleiros, cem pães, um almude de ervilhas e favas e um almude de económica essenciüenJre-estas-e o domffi, o
cerveja (o que comprova que estes trabalhadores àjornadaeram pagos A capacidade de mão-de-obra de cada (
com uma refeição); mas sessenta denários eram também reservados satélite era, como vimos, superior à exigida pela cútura (
«pÍrra contratar estes homens" (t). Todavia, o instrumento monetário dos seus campos. Este excedente deüa k para o «paço». Primeiro, sob
era um pouco rígido; o uso do salário em dinheiro era ainda uma a forma de entregas periódicas de produtos trabalhados: cada manso (
excepção. Era muito mais cómodo retribuir os trabalhadores asso- tinha de preparar uma pilha de lenha para aquecimento, ou entáo um
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ll,
ciados temporariamente à exploraçáo do domínio com a concessão de número detemrinado de estacas, vigas, pranchas, e por vezes até
(
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ill
um talháo de terra, instalá-los em mansos. A força produtiva destes instrumentos, mas coisas rudimentares que qualquer camponês podia (
lÍ' homens e a da sua pópria t-amília achaya-se assim distribuída. Uma fazer. Nx tenures com esc-ravos, as mulheres teciam Para o domínio
ii
il
parte do talhão era-lhes deixada para I'que tirassem dessa pequena peças ãàIe-Iã-õTdÕ-Iffiõ:IÀã tarefas principais erarn agrícolas e o
(
iil
parcela algo que garantisse a sua subsibtência. Quanto ao resto, de- tributo revestia então três formas distintas, geralmente conjugadas: (
viam colocá-lo à disposição do senhor da terra. Reconhecemos aqui l'o O manso era inicialmente encÍuregado de um trabalho definido. (
outra funçáo económica das tenures satélites do domínio. Competia-lhe, por exemplo, fazer um dado comprimento da cerca
temporária que protegia na Primavera as searas e os prados. Mas, na (
grande generalidade, tinhÊ por missão trabalharna sua totalidade,
desde a cava prepaÍatória até à recolha nos'celeiros, um talhão (
.l'ansange", previamente escolhido entre asi zonas de lavradio do (
Em troca ,
as <casas» camponesas deviam à «casa» do domínio, cujos produtos pertenciam integralmente ao senhor. Deste
natureza era geralmente uniforme para cada modo, todos os anos, nas partes do território cultivado, um certo (
de urna villa e mesmo em todas as villae perten- número de parcelas aráveis que dependiam do manso dominial (
]ntes ao mesmo poss€ssor. Primeiro, vinham os pagamentos anuais eram-lhe retiradas temporariamente para se juntarem aos apPen'
âo «paÇo» em prÍrzos fxos. De montante igualmente fixo, estes dicia dos mansos camponeses. Aquelas parcelas eram trabalhadas (
por vezes em algumas moedas de prata, galinhas, ovos, em complemento, absorvendo assim uma parte das forças produ- (
uma ou duas cabeças de gado miúdo, cameiro ou porco. Podemos tivas não utilizadas da população foreira;
encarar estas prestações quer como taxas que pagavam a utilização dos 2.o Outras obrigaçoes eram mais coercitivas, porque permitiam (
menor autonomia aos trabalhadores dos nunsos. Obrigavam-nos a (
(r) Srcturs d'A&tJard,n, L [Poiyptyque de I'abbé d'lrmitwn (Ed. GUERARD), trI. deixar o grupo familiar e a inco4>orarem-se periodiçamente na equipa
(
60 61 a (
(,
(r
(t
de trabalho que era constituída nas tenÍts do| "paço». Em contrapar- cavaleiros, e não só como trabalhadores braçais. Contrariamente,
- as1«tõffiiFpm isto
tida estas requisições sentido estrito, porque a podemos supor que os mansos senis haviam.sido criados pelo çnhor
palavra significa propriamenlêãffiínda, é, requisição úo pÍua dar poiso a alguns dos seus escravos domésticos, para se ver livre
iam além, por cada manso, de uma unidade de trabalho, manual- ou de da sua manutençáo e para que eles póprios criassem os filhos, mas
atrelagem, ou seja, de um homem ou de uma chamra.. Isto tomava o sem desistir de os dominar e explorar:a seu modo. Os foreiros dos
serviço sensivelmente mais leve, sobretudo quando o manso era ocu- mansos seryis encontravarn-se por isso muito mais emperúados no
flado por várias famílias ou quando os foreiros possuíam criados, o trabalho quotidiano ds «pago». Realizavam os trabalhos de brago,
{ue geralmente era frequente. Por vezes, o'manso estava obrigado a porque normalmente não dispunham ds atrplagern. A eles incumbia
{m número fixo de jornadas em certos períodos ou seÍnanaLnente; fazer a guarda de noite no «pago», lavar a Eupa, lavar e osquiar os
Çutras vezes, colaborava numa tarefa definida até à sua conclusão. Em carneiros. As suas mulheres e filhas trabalhavam nas oficinas domi-
Çenos casos, tratava-se praticamente de "mão-de-obra» (manoperae), niais. Çoinpetia aos nlansos-seryis as corveias semanais de trabalho
Çe trabalho braçal; o homem requisitado ia de manh[ 3s «paço» indefiniàffiia, tinh
jirntar-se aos criados e esperar as ordens, mÍui o manso continuava a idiseo^§tçffi-.<Iõ senhor três dias por simana; por outras palanras, cada
ütilizar todo o seu instnrmental e os animais de tiro. Outras corveias manso fornecia ao longo de todo o ano um criado a meio tempo. A sua
tinham, contrariaÍnente, uma aplicaçáo especial. Como as que reu- parcela de terra anável era mais reduzida do que a dos marulos üvres, o
riiam nos espaços de trapalho do domínio as mulhercs dos mansos que aliás se explica. Os seus forpircs eram requisitados mais tempo
ditos "servis», ou então ob seniços de encomenda e de transporte que para os trabalhos no exterior e podiam consagrar menos esforços à sua
implicavam o fomecimento de atrelado e, por conseguinte, competiam exploraçáo familiar, mas em contrapartida, como comiam no refeitó-
aos mansos ditos liwes, mais bem equipados; --.<=. rio quando estavam de corveia no «paço», o seu consumo no manso
3.o As tarefas que os invenrários denominanr("noite§")onsü- achava-se proporcionalmente reduzido (t).
tuíam, finalmente, uma terceira categoria de traballlss-Esteícoloca- Dado que a sua relação náo correspondia aos serviços de. gue era
vam o foreiro ao serviço do senhor vários dias a fro, sem garantia de encarregada , a tenure não e.ra exactagrente um salirio. Antes de mais é
;1
poder regressar ao poiso durante a noite, o que permitia que fosse necessário considerar a concessáo dos manso. s como um meio para
utilizado ern digressões à distância ou em cumprirnento de missóes. aliviar parcialmente a intendência dominial do encargo de alimentar a
Pode-se imaginar como estas obrigações indeterminadas constituíam mão-de-obra domésüca, Acrescente-se,gue, deste modo, o «paço»
pÍrra o domínio uma reserva de mãe'de-obra imediata e temporaria- podia dispor de uma quanüdade de mãede-obra superabunãante.
mente mobilizável em caso de necessidade imprevista. Calculou-se que as oitocentas famílias dapendentes da abadia de San
i'i
Estas diversas tarefas estavam geralmente combinadas e associadas Giulia de Brescia, deüam efectuar, no início do §éculo X, ao seryiço
i
umas às outras. Mas, na generalidade, eraÍn menos pesadas, mais do senhor sessenta mil dias de trabalho (2). Tambem neste caso,,o
estritamente comedidas e menos degra(pntes para os mansos liwes. senhor queria ter a possibiüdade de explorar a mão'de-obra aÉ ao
il
I
De facto, estes últimos eratn, em princíflio, ocupados por camponeses limite, de ser sempre servido e de garantir tima reserya para as
,,i de condição livre, cujos antepassados Haviam vivido geralmente em necessidades imprcvistas. Mas, segundo parecé, em tempo normal
independência, mas que, por tão pobres e frágeis, tinham deixado que nem todas as corveias deüdas eram exigidas.
1l
a sua teÍra fosse introduzida no sistema económico da villa, em troca E,assim se apresenta o «regime dominial". O chefe da grande
de auxílio e de protecção. Ainda que as migraçóes rurais, os casamen- exploraçáo da aldeia apropriava-se do excedente das forgas produtivas
: das famflias camponesas sob o seu domínio, aplicmdo-o na valoriza-
tos mistos e as alienações de terra tivessem abolido, como tantâs vezes
aconteceu, a coincidência entre a "liberdadeo da tenure e o estaruto ção das suas próprias terras. Mas como o trabalho humano produzia
(
{os que a ocupavÍrm, estes possuíam uma exploração suficientemente
( lrande para alimentar animais de tiro. Fornecer bois ou um cavalo,
( folaborar com eles na lavoura, nos transportes, nas ligações com o (r) Em cenos polípticos surge também a categoria intermédia dos zcruos .lidiles',
{xterior, constituía certamente o seu contributo mais precioso para o correspondentes à condição social dos isentos.
(2) LVZATTO,2t7.
do domínio, o contributo como lavradores, condutores e
tguiRamento
63
q
62
pouco, este excedente revelava-se escasiso' exigindo 9!e um grande 3.o Finalmente, a multipücidade de centros de produção depepden-
rrúmrto de mansos satélites fosse associado ao domínio. tes de um único serüor requeria meios de ügações e, em certa médida,
transportes. Quando o domínio era especializado em certas colheitas,
o senhor náo podia consumir de imediato os excedentes no local; era
4. Destino dos rendimentos dominiais necessário encaminhá-los para onde estivesse. Assim acontecia com o
vinho: todos os anos, um monge de Saint-Bertin deslocava-se no
Considera-se geralmente a villa carolíngia como um organismo momento das vindimas ao vinhedo gue a abadia possuía na região de
fechado desünado a funcionar completamente virado sobrp si póprio. Colónia e voltava com um comboio de pipas (l). Outros traÍrsportes
É necessiirio atenuar bastante esta irnagem. Na verdade, avilla estava eram organizados quando o senhor" numa das suas residências,
geralmente integrada num conjunto económico mais va§to, porgue mandava procurar este ou aque!,e_ produto que ali lhe faltava. Estas
[s "grandes» Possuíam normalmente vários domínios. Três conse- expediçôes de mercadgrias tornavam-se múto mais consideráveis e
quências decorriam daí: regulares quando a "família" senhorial não podia deslocar-se e tinha
1.o No pluro estabelecido para a satisfagão das necessidades do de mandar vir dos seus domínios distantes 16rles s5 suas provisóes. Era
senhor, oJ produtos esperados dos diferentes domínios eram' por o caso dos mosteiros, instituições estáveis. A abadia de Corbie ünha
'vezes, especializados em funçáo das aptidóes naturais. Era o caso, por ao serviço cento e quarenta criados especializados, encarregados
exemplo, de uma das produções mais exigentes, a do vinho' O vinho exclusivamente de traÍlsportar as provisões para a comunidade dos
era entãO conSiderado como a bebida nobre, o ornamento da mesa dos monges. Neste mundo completamente selvagem e entrecortado por
ricos; constituía o presente eleito para os amigos, e os senhores tinham desertos incultos, os rios e os maus caminhos eraÍn constantemente
o seu orgulho em produzir nas §u3s cercas vinhos de qualidade, gue os sulcados por caravanas e mensageiros. Mas as técnicas de circulação
úonru.rã*. por isso, escolhiam cúdadosamente as tenas mais propí' eram também bastante rudimentares. Para os correios e para os tran-
cias para a implantaçáo da vinha. Esta preocupaçáo determinava sportes era preciso mobilizar cavalos, bois em grande número e,
mesmo uma certa política de aquisição dç terras. As abadias da GáIia sobretudo, homens para conduzir as carÍoças, remar nos barcos ou
do Norte s s5 *poderoso§» dia Germânia fazran esforços para adqunr para levar a É, às costas, os canegünentos. Uma paÍte das corveias
terras no centró da Bacla Parisiense e ng vale do Reno, em climas exigidas aos fortiros era utiüzada neste ofício e uma fracçáo do
onde a uva pudesse arriadurecer favoravelmente; pessoal era constirntemente mobilizada, salvo nos momentos de gran-
2.o Além'dirro, possu(a vários domínios, o senhor só de de falta de meios; para trabalhos fora do domínio. O que implicava um
quando em quando "o*oocupava com a sua comitiva a grande casa que enorrne desperdício de mão-de-obra.
Éavia sido constnrída para §eu uso no paço $e cada um deles. chegava
quando era opoÍuno. Nesse momento, os servos PreparavaÍn os aP(> .*
,"ntot e as eitrebarias, cozinhavam a came e faziam o Pão. Durante * *.
aigum tempo, o seúor e o seu séqúto consumiam ͧ reseryas acumu= i
laáas na previsão da sua visita. Mas eles estayrT apelas d: p5;Ygem' fortanto, esbanjavam-se forças. Mas esta obstinação em mandar vir
indo illcessantemente de A daj possessões mais afastadai todas as proüsões, como a incessante
x ao ritrno das estações. Isto levantava deilocaçáo das *casas, senhoriais, atestaÍÍr que os serüores faziam
uri problema de.gestão: $lgtqstêr?t *t*il:: ., T*t- B.=9i
umproolema(l9gestao;(lulall[ç.1§§u.là4uDgrrv.o'v§v.g.vlgg.g gala em sacar da sua tera tudo o que pudesse prover a todas as suas
t", ú* mandatrárió. Oestdffién§dependia todo o funcionaÍnento necessidades s «euo não fosse preciso procurar ou compr.ar nada
aa *giÍfrã-.íõffiil"1. A dir-àc{-a Aícriapagem, a reqúsiçáo dos obri- fora" (2). Na realidade, este ideal de autarcia não podia ser realizado.
sados- e a vigilância dr* provisões er4n da sua competência. Tinha
grande poder. Quando esta-
iesadas responsabiüdades, mas detirüa +m (l) DION, 95, p. 419; H. VAN WERVEKE, .Comrnent les étabüssements Éligieux
ia só, que determinava, que castigava a seu grado' Mas-umbém
belges se procuraient-ils du vin au haut Moyen Age? cm Revue belge de Philologic et
o ,"úor "i"
"tup(rcurava tê-lo sob domínio: todo o capitulário De Villis é wr d' Histoire., 1923.
conjunto de instnrçóes aos vl'l/icd, aos intendentes dos domínios reais; (z) Capitulaire de Viltis, c. 42.
\Q
& 65
As trocas entre o gnrpo de domínios que constituíam o pacimónio criadas nos séculos rx e.x. Náo eram orgulismos internos do dorlínio,
senhorial e o exterior tinham de ser estabeleçidas. Além de que a destinados apenas às transacções entre os maruios. Estavam ao serviço
estrutura interna da economia do domÍnio implicava uma certa aber- dasrelações exteÍnas, e o capitulário De Villis preüne os intendentes
tura e, em primeiro lugar, da parte das explorações cÍrml»nesa§ da atracçâo que os mercados exercem sobre os trabalhadores do
satélites. domínio, que aí váo vailiar, perder tempo e lalvez negociar o fnrto de
A própria topogxafia davilta impunha essas relações com os centros pequenas rapinas. Havia, portanto, um movimento natural de compras
de produção circunvizinhos. Efectivarnente, Parece ser seguro.que a e vendas, certamente limitado, mas regular. As proprias desigualdades
villa só excepcionalmente se idenüficava com uma aldeia e o seu da produção agrícola de um ano para outro, a constante passagem de
território. Estendia-se por várias clareiras sem englobar nenhuma viajantes nos caininhos que a@vessaVam as aldeias, ofereciam aos
inteiramente. As .cot2tur€s» ds domínio, os mansos das tenures, as tnais: pequenos camponeses a possibiüdade de tnocar por dirüeiro
suas parcelas contíguas, achavam-se assim justapostos a outros alguns produtos da horta ou da capoeira. Conhocedor destes lucros, o
campos e a outros recintos que não pertenciam ao senhor. Os foreiros senhor queria ter a sua parte; recebendo a sua parte em denários,
participavam com outros calnPoneses, seus vizinhos, no usufruto beneficiava da actividade mercantil dos seus dependentes e, sirnulta-
colectivo dos baldios. Esta contiguidade constituía certamentc uma neamente, estimúava-a
oportunidade para as trocas de serviços. Qs intendentes dos domíniqs Por fim, encamegava tambem os intendentes de comerciar de ma-
recrutavtrm €ntre os vizinhos os neira mais dirccta. O domínio praticava o negócio taÍrto ou mais do
ãónt7à1ãvà-ú.-Tani6eft -podê-riiõsTuPor,cornoiádissemos,quecertós que as tenures. Em Corbie, o guarda-portão comprava regularmentc
:
foreiros-põ§§üíam, atém da süa tenure , demasiado Pequena para poder madeira (t). Tambem regularmente os Íegentes dos domínios reais
I
alimentar a sua famflia, outras parcelas, ora compltamente indepen- compravam semente para as sementeiras, F)rque lhes era r€comen-
dentes, ora dependentes de outros senhorios' A comunidade económi- dado, para a obtengão de melhores rendirnentos, não lançar à rcrra as
ca que reunia os trabalhadores do domínio nem semPre era, 1rcr is§o, sementes que esta produzira. Regúarrrentc, sobretudo, era escoada
i exclusiva, ou completamente fechada. Decerto, alguns camponeses para o exterior uma parte da produção dominial. Uma fracaão era
achavam-se parcialmente integrados nela, participando ao me§mo distribuídagratuitamcnte; em ofertas, em auxflio, o que valia à pessoa
r
I tempo em outros grupos de interesse, em outras equipas dominiais ou do senhor devoçáo e recorüecimentos. Cada casa senhorial (mais as
dos religiosos, mas tambem as dos chefes zelosos do seu prestígio)
x
distribuía esmolas aos mendigos e esta dispersão periódica dos exce-
I dentes dominiais pelos gnrpoJsociais mais desfavorecidos, bem como
e camponeses. Efectivamente, as leis e os costumes puniam com Penas o amparo recebido pelos ftacos,.corutituem factos económicos gue
l pecuniares ap menores infracçõcs à paz ou aos hábitos. Por isso, os seria errado descurar. Sabe-se, por exemplo, que diariamente quatro-
,i
foreiros mais humildes tiúam mÚtas hipotesas de vir a desembolsar de centos pobres recebiam a sua ração à port do mosteiro de Saint-
quaàdo em quando dgrimas moedas. Também tinham de üqüdar em -Riquier. Esta éppca certamente praticou mais a cqridade e a dádiva do
li prata certas rendas anuais. Exceptuando as províncias periféricas do que o comércio.l
lr
n
mundo carolíngio, como a Baüera, os serüorcs da terra rccebiam No entanto, uma parte clos lucros do domínio era normalmente
anualmente de cada manso alguns derrários, autorizavaÍn os foreiros a trocada por dinheiro. Nos domínios mais afastados das abadias, os
l resgatar certas prestações em géneros ou por meio de determinadas monges mandavam:vender os produtos mais pcsados para evitar o seu
j
coryeias. Os documentos de Bobbio, de Luca e de San Giulia de Bre§cia transporte para longas distâncias (2). Mas também os seúores ven-
fortes nos diam, porque lhes era necessário possuir moeda para satisfazer algu-
1 mas das suas necessidades e múto mais do que as pequenas prestações
tenures dop foreiros lhes permitiam arrecadar. Quando o abade de Ferriêres
ri

*v#-#ilíffi
su4--pt9pna-Pr
'-Verifica-se, umerosíssimoírne-rct'ô II,
I
iq eoryptyquc de labbé d'Irmiton (Ed. CUÉRÂRD), Appendices, p. .370.
semanais nos campos ou nas mais pequenas aldeias. fftim:torarí (2) lbidcm, pp. 33,í-335.
ii
\\
lj 66 67
$ r'
-
ordenava que fosse vendido vinho e cereais, pensava na necessidade dois denários e guardando-o até ao momento de poder revendê-lo por (

ã" rà"o"- o guarda-rouia dos seus monges (l)' Em Rüneaux' os seis denáribs ou mesmo mais". Um regulamento de 809 faz al-usãó aos (
intendentes doi domínioJ reais levavam anualmente ao palácio caro- cultivadores e senhores que, em situaõao ae aperto, «vendem,o vinho
f inlio oo dinheiro extraído das colheitaso. Deste
modo, a§ transacçó€s g os cereais antes da colheita, ficando por isso pobrcs" (t). Nurn (

meicantis dos excedentes dominiais alimentavam, ao longo dos rios e ambiente como este, o domÍnio náo se achava isolado, como podcria
(
nas encruzilhadas onde a circüação era menos difícil, uma actividade parecer numa leitua demasiado rapida dos inyentrírios. Estavâ em
comercial de horizontes Ixrr vezes bastante amplos' comunicaçáo com outros domínios, com as explorações camlrcnesas (
os cereais "ram certa*ente transaccionados a longas distâncias. que o rodeavaÍrr. Vivia no meio de um mundo em movirnento.
(
Eginhard menciona «negociantes da cidade de Mayence que tLüam o l

drtra" de comprar o frumento nas regiões altas e de o transPoÍarmais rio (


úín aUaixo atA à cidade, (2). Mas as operações comerciais 5. Diversidade das estryturas senhoriais
(
ir"-qrr"n,"te mais regulargg eram, sem dúvida, do vinho de qualidade'
No Noroeste, vastai regiões náo podiarq produzi-lo e os grandes O próprio movimento o impelia e transformava, e as fontes que nos (
destes domínios estavam dispostos Pagar
a bem caro pary o obter' Em esclarecem permitem distinguir algumas dessas transformagões. Em
na época carolín- primeiro lugar, as mudanças de forma. Geralmente, a villa era urna (
iu"çao desta procura, as vinhas foram desenvolvidas
longo ào Loire (Alcuíno honrava o bispo de Orleães, Teodolfo, porção de um património, tambem ele em movimento. Quando esta (
*iu ào
ão- títu]o de das vinhas") e ao longo do Reno (a acreditar em fortuna pertencia a uma famüa laica, o dómínio sofria de geração em
" o Negrõ, "pai geração os efeitos das partilhas sucessórias. Mesmo.quando 9 pai era (
Érãofa, eram os Frisóes que levaYarn a prosperidade à
."giao áos Vosgos ao comPrarem- o produto da vindima)' As vinhas muito rico, ou quando q alodio englobava diversas villae, o desejo (
L*-p*Airu--se iobretudo àa bacia do Sena (3). Na feira de_ 9 de sincero de atribuir partes iguais aos herdeiros da mesma condição
(
ôít rUro, o abade de Saint-Denis vendia aos sa:tónicos, aos frisões e à conduzia frequentemente à fragmentação de.um domínio em «partes».
gente de'nuáo, que o transportavü1 para Inglateqa, grandes quantida- Separadas umas.das.outras, iam juntar-se a conjgntog esonómicos (
ães de vinho nóvo proveniente dos seus domÍnios (a)' independentes. Os dons, que tiqfgm qma tão grande importância nas
Tudo leva a crer qúe foram os excedentes de produçáo dos grandes relações sociais da época, constituíam um segundo factor de desu.rern- (
aoàínios que apoiaram, no século D(, o surto do comércio, o desen- bramento. Dons aos amigos, àqueles que se queria recompensar pelos (
ao làngo dos rios dos poqtus e aglomerações mercantis e a serviços prestádos ou cuja dedicaçáo se desejava ganhar, a comegar
"ãiui-"ntó
actividade de um pequeno gnrpo de especialistas em trocas, os umcos pelos soberanos que, em larga medida, instituíram a superioridade (
úárn"nr que o espÍritõ de luiroentão anirnava. Porque esta época, que económica das grurdes famílias. Dons às igrejas, porgue ,s esmolas (
t p"qú"nas compras de subsistência no mercado da aldeia' eram táo consideradas como a pnítica dc piedade mais eficaz. Estas
"àt
náo ""i"'ur
ignorou as especulações com os produtos da terra, elcorajadas mercês amputavam geralmente a villa de alguns f:agmentos, (
desníveis ãe produção, õ superpo"oaÍrento dos territó- retiravam-lhe um ou vários mansos dependentes, gu mesmo umapane
".i"r"oúaes das terras de lavradio do'domínio. Deste modo, os gnrpos dominiais
(
ããr. ú""riria permanente é a ameaça de miséria em cada Primavera'a
iÃ'lgi, um cipitulário tentou registar o prcço dos cereais vendidos estavam constantemente a desfazer-se. (
i"iAno. Um outo, de 806, condenava «os que, durante as colheitas e Mas outros se constituíam constantemente. Em certas províncias
periféricas, a formação de vitlae novas acomparihou os progrÉssos da (
às vindimas, comprarn trigo ou vinho sem necessidade, uta§ com a
ià"iu p."contebidá de cypidez, por exemplo, obtendo um almude por ocupação do solo. E o que acontqce muito claramente na Flandres, no (
Bravante, onde op documentos escritos e a arqueologia agníria m.gs-
I

tram que numero$os domínios foram criados no século x em clareiras (


(r) LOUP DE FERRÊRES, tewes (Ed. LEVILLAIN)' I' p' tl7'
(
pierre,39 (Pat. Lat., cÍv,
izl airi"iri i" la translarion des saints Marcelin e,
col.5ó0)'
(r) Capitularia Regum Francorum, 1,74, 132, l52i LATOUCHE, 216, pp. f80 (
(3) DION, 95, P. 2ll'
(4) DOEHAERD, 208. e segs.
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68
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ii

recentemente abertas arroteamentos (l). Nestas regióes que


emergiam pouco a da selvajaria, a implantagáo de grandes
: o establecimeDto de uma organi-
zagáo social meEos pri Deste modo, na Germânia congústada As alterações de forma qae tvilla sofria, a sua desagregaçáo pelas
pelos carolíngios e pclo a fixaçáo dos condes francos e,
partilhas ou pelas doações, bem como o seu crescimento, só por si
sobretudo, a fundaçáo (4s ordens cristãs, episcopados e mosteiÍos, punham constantements em crise o póprio «regime dominial". As
multiplicaram as vill.ae ! êstimulararn a difusão do regime dominial. relações entre o domÍnio e zs tenurcs eram pernubadas. Rompiam o
No conjunto do Ocidçnte, o crescimento dos $upos dominiais é equilíbriq necessário entre as necessidades do paço em mão'de-obra, o
posto em evidência porl certos documentos da Igeja e, particulaÍ- número (e mansos e o montante dos seniços,em trabalho que lhes
mente, pelos .lirros de doações», muitos dos quais foram compostos eram impbstos. Se o senhorse separasse &ama'tenure, adguirisse um
!
nas abadias germânicas. As esmolas dos grandes e dos humildes foram campo ou alaÍgasse a sua terra arável por arroteamento, corria o risco
enriquecendo de ano pam ano o património dos santos padroeiros. de ter falta de úbalhadores. Se, pelo óontrário, alienava uma parte do
seu domínio ou adquiria novos mansos sujeitos a corveias, dispurüa
Assim, este englobava constantemente novos escravos, mas sobretudo
novas possessões fundiárias dos mais variados valores e dimensões. então de servigos e de corveias a que náo dava apücação.
As aquisigões abrangian, por vezes, quando o doador era um "pode- Mas certos desequilíbrios nas relações dc trabdho Parccem estar
igualmente relacionados com outras mudanças maís profrudas. A
roso» r toda uma villa; estz fazia pans, assim constituída, da constela-
evoluçáo das técnicas permitiu dercrminar modificagões de longa
ção de domínios que alimentavam o mosteiro. Mas a maior parte dos duraçáo. A medida que ianr sendo intr,oduzidas melhorias por
dons eram pequcnos e dispersos: um ou dois mansos numa aldeia,
exemplo, a necessidade que se sentia de mútiplicar os terrenos - de
apenas um talhãD numa outra. Estes elementos disseminados tinham
lavradio, de reforçar pela margagem a fertilidade qa terra esta§
que ser vagarosamente reunidos, ligados uns aos outros, para a troca
incitavam os senhores a alargar as reqüsições de -
mão-de-obra. Inver-
de serviços que constituía o fulcro do regime dominial. Esta integra-
samente, a domesticação das forças naturais, o crescimento da ptodu-
ção era lenta. Em certos senhorios de Saint-Gemraindes-Pnis, em tividade do trabalho e um melhor equipamento técnico, @iam tornar
Corbon e Villerpux, era ainda múto irnperfeita quando foi redigido o
caducas as corveias mais ingraus, como as que obrigavart os ocuPaa-
políptico de Irminon. Os *manses" adquiridos por doações recentes
tes dos mansos escravos a prcpaÍar a farirüa manualmente, antes da
eram ainda quase todos explorações economicamente autónomas; instalação do moinho de água.
ainda náo lhes tinham sido impostas as corveias; por isso, não partici-
pavam no cultilo de uma reserr/a. O serúor havia garantido a sua Por outro lado, a populaçâo do senhorio era insúvel' De t€mPos a
tempos, era vítima de calamidades acidsntais; fomes, epidemias e
colaboraçáo no abastecimento da casa senhorial da maneira gue lhe era
incursóes desastrosas de larápios abriam largas brechas. Em contra-
mais simples, exigindo todos os anos uma partie da sua pópria co'
partida, um impulso demogníficb nanral, lento e contÍnuo, tendia a
lheita. Neste caso, o recurso ao métayage (arrendamento a meias), multiplicar os iasais no iecinto do manso. Todos-os inventários
processo de exploração radicalmente diferentc do regime dominial
.clássico", talvez fosse transitório e preparasse a fixação progressiva carolíngios enum€ram, de facto, por vezes lado a ladol rcnures super-
povoadas e mansos «vnziss» (absi). A potência de trabalho que os
de prestações em mão-de-obra. De qualquer modo, o historiador náo foreiros podiam pôr à disposiçáo do senhor registava, portanto, sensí-
( deve deixar-se levar pela ilusáo de imobiüsmo que a leihrra dos veis variações, que impunham uma adaptação do regime dominial. Na
inventários pode transmitir. A situação que estes descrevem é, na villa de Villance, nas Ardenas, cuja descrição, no políptico da úadia.
L_ realidade, fugida e assinala uma breve passagem no seio de uma de Priim, foi redigida em 893, após uma incursão de Normandos,
evolução contínua. muitos dos mansos abandonados durante a invasão ainda não tinham
sido reocupados. Já náo procurava[r, poÍaÍrto, ajuda em trabalho,
(
mas, ao contrário, aumentavarn as necessidades de'máo-de'obra atra-
( vés da necessidade de conúatar criados ou gente sujeita a corveias para
( (r) VERHULST, r97 e 220. os seus anexos aráveis gue continuavam em pousio e se achavam
7t 1ô
I
I
70
temporariamente reunidos ao domínio. Em contrapartida, os campo- estáveis em funçáo do seu plano de consumo, os administradores
neses Íunontoavam-se em explorações vizinhas. Cedendo certaÍn€nte sofriam por ter de procedcr a contínuas Í€adaptaçõ€s. Podemos pensar
às súplicas das famílias, olsenhor tinha permitido o fraccionamento de que uma das funçoes dos polípticos consistia precisamente em fixar
alguns
^l^,--- mÍrnsos. Aí forann
_-
onze «meios-mansos» e ünte solidamente o número de tenures e os scus impostos. Tambem tirüam
«quartos
«Otlgtt^§ rla manso"r m4
de manca'. *ool ,t terços dos trinta e cinco mansos que que impedir que este ou aquele senriço, a que haviam renunciado
continuaraÍn intactos forarn cada um deles por quaro famí- momentaneamente, não ficassc para semprc perdido. Através d" Pnra
lias de exploradores. Os, tinham aproveitado este sentença proferida pelo rei Pepino da Aqútânia, spbemos de um
superpovoamento para as suas exigências. Os serviços em conÍIito que opunha os monges de Cormery aos seus foreiros da aldeia
trabalho dos mansos di tinham-se tomado mais pesados; nos de Antoigné. Estes rfltimos recusavam pagsÍ as. rendas que .há múto
mansos intactos pedia-se a cada família ocupante que pagasse em tempo» tinham deixado de ser exigidas. Mas o procurador e o preboste
denários todas as rendas (t). da abadia aprcsentaram em tribunal uma anüga .descrição, eur que
. Finalmente, é preciso t?r:T consideraçáo a.própril mateaUliaaae estas'requisições, sob juramento dos pro.prios dependentes, tinham
uo meio
do melo económico.
economrco. O u cofirércio prcdutos aã
co{nerclo dos produtos da teha introduzúdo
terra ia intnoduzindo sido registadas, e obtiverün decisão favorável (l). Outrros tcxtos pÍo-
Pouco a pouco no seio da iociedade camlrcnesa diferenças dc riqueza, vam, ao contrário, que alguns cemlpneses conseguiram então comba-
colocando lado a lado pobles e ricos. Alluns Alguns foreiros eram tcntados a ter eficazfrente, perante o tribunal, as .inovações» dos senhores. Esr
rr^-l^-
vender, sem ^^-L--:----l^-
-^- o- conhecimer{to do senhor, õs retalhos de terra ligados ao 905, a Igdeja de Sanlo Ambósio de Milão viu-se obrigada a renunciar
seu manso, rompendo, deste modo, o equilíbrio entre os impostos que às corveias gue Í€clanrava aos seus dependenrcs de Lemonta (2). Mas
incidiam sobre a unidade de cobrança e as suÍrs capacidades êontributi- quantos cÍrmponeses rcrão conscguido, como estes, encontrar apoio
vas. Um édito de Carlos, o Calvo, tentou em vão pôr termo a estas fora da clareira da aldeia conúra as arrogâncias do senhor? E nuoca um
práticas nos domínios reais, onde alguns foreiroJ se recusavam a documento de arquivo dirá 1,"'a palanra sobre as vitórias camponesas,
cumprir as suas obrigaçóes, porque o seu manso tinha perdido quase ou sobre o que se perdeu em rendas e corveias por esçrecimento e 1rcr
todos os seus apêndices."Por fim, nas regióes mais infiltradas pelas impotência dos intcndenrcs para v€ncer a passividade dos foreiros ou
correntes de trocas, o desenvolvimento da actividade comercial e uma para subtrair algrrma coisa à sua miséria. De qualquer modo, rrresmo (
maior familiaridade, üanto nas caÍiÍrs camponesas como na casa do nos domínios onde eram redigidos inventários, a evolução do regime (
senhor, com a uülização da moeda, instigavam a basear no dinheiro, domiuial não se achava completament€ panda. Disso são testemunho
pelo menos parcialmente, as relações económicas entre as tenures e o as periódicas reconstruções dos poüpticos ou as corrccções gue, pelo (
domínio. menos de vez .em quando, era nscessário fazer aos manuscritos. (
O sistema que os inquéritos mais antigos descrpvem surge, aliás,
como algo já vulgarizado e consideravelmcnte evoluído. Isso é bem (
*** claro no políptico de Irminon. No termo dos movimentos demográ-
ficos e das mutações económicas e sociais, que certamente duravam (
Assim, tornavam-se necessários constantes ajustamentos. A história há gerações, não existia a menor coincidência 'r,al villae dos arrpdores (
de cada villa é infeüzmente totalmente obscura, mesmo no aspecto de Paris entre.o estatuto'do foreiro e o do seu maruio, entr€ o número
mais bem documentado pelos polípticos. São rpalmente bem raros os dbs tenures e o das famflias camponesas, entre os senriços devidos (
inventários regularmente actualizados, que incluam várias situaçóes pelos trabalhadores e a extensáo do retalho quc lhes era concedido. Ao (
sucessivas e que permitam avaliar as transformações sofrid"s pelo comparar, nas regiões onde a documentaçáo é menos indigente, as
mesmo grupo dominial. Mas esta história a história interna, a das situações registadas em diversas épocas nos seúorios que não se (
-
relações entre os camponeses e o intendente implicava, como se encontram muito afastados uns dos outlos, úo é impossível descobrir (
- exigências, recusas
adivinha, umjogo complexo de abandonos, novas o sentido mais geral desta evoluçáo.
e resistências. Preocupados antes de mais em manter os rendimentos (
(r) Recueil des actes & Pépin lcr et de Pépin II, rois d'Acquiuine (Ed. LEVU.AIN). (
(t) PERRTN, 189, p. 6ao. (2) LEICfm, 154, pp. 83 e segs.
(
72 73 \À (
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(
trabalho e dos pagamentos em géneros pelo pagamento em dinheiro
observa-se ainda mais nitidamente na Itáia do Norte, na segunda
Uma prirreira tendência, a mais nítida e genérica, é a que, trrcuço a
metade do século D( e no século x. Aqú, o fenómeno pode ser
relacionado segurament€ com o surüo comercial que se registou nesta
Ppuco, tornou caduca a distinçáo entre manso liwe e manso servil e época no vale do Pó e com a multiplicação dos mercados rurais (t).
levou a trata da me§ma maneira todas as unidades de habitação e de
cobrança satélites db senhorio. A mobüdade que se adivhha no Assinalemos gue, nessa altura, os pagaÍÍrentos em moeda eram
campesinato, o superpovoamento dos mansos e agdiscordâncias entre ainda completamente desconhecidos em mútos senhorios bávaros.
a condição do foreiro e o eót4tuto da sua ,enure faciütaram ceriamente Havia, portanto, discordâncias muito consideráveis na evoluçáo
esta assimilaçáo, que era, ,alirís, uma simpüficação e que convirüa a económica das.diversas províncias do Ocidente. Estes contrast€s r€-
uma sociedade fruste, pouêo capaz de distinções jurídiias abstractas. gionais, juntos às contingências que, aqui e acolá, aceleravam ou
Ainda se observam outr{s prientações, mas não parecem tão,marca- retardavam a evoluçáo deste ou daquele património, travavam ou
precipitavam o seu desmembranento ou o seu crescimento, obrigam a
{as er-n todas as provínciis. Nas regiões mais primitivas, como a rectificar o esquema abstracto do regime dominial "clássiôo,,
Germânia, parece que oslilnpostos das tenures ê especialmente os
senriços em trabalho estayain a agravar-se no século x. A lei dos substituindo-o por uma imagem certamente muito mais fiel, acen-
Bávaros e a dos Alamano§, redigidas na primeira meüade do seculo tuando sobretudo a extrema diversidade que a estruuia económica das
grandes fornrnas fundiárias assumiu na época carolÍngia. Relativa-
vul, indicam que o manso do escravo devia normalmente, como mente à região parisiense, cujas fontes magnificamente apresentadas
corveia, apenas três dias (e trabalho por semana. Desta mesma cate-
goriade tenures, em certo{ senhorios descritos no século scguinte, era por B. Guérard há mais ôe um seculo permitiram elaborar o «mo-
também exigida uma coo[eração na larrra dos campos do scrüor, delo" do regime dominial, surgem divergências bastante vivas quando
( nos afastamos um pouco para Oeste, sem ser preciso sair do patrimó-
semelhante à que outroral competia exclusivamente aos mansos de
homens liwes. Por outro fado, esta tendência levava tamtÉm, como nio monr{stico de Saint-Germain-des-Prés. Nas terras que esta abadia
podemos ver, a aproximar âs diversas categorias de mansos e, por fim, possuía ria região de Dreux, em Villemeux e Boissy, por exemplo, a
proporçáô dos campos integrados no «domínio» pâÍâ uso exclusivo do
a confundi-las. Mas ela explica-se também pelo crpscimento da econo-
mia dominial, por um suío da agriculnrra em detrirnento da criação de senhor era muito menor do que nos arredores de Paris (podemos
gado ou de actividades mais primitivas, que obrigavam o senhor. avaliá-las em oruae vírgula cinco por sento no senhorio de Villemeux e
( a aumentar o seu pessoal de lavra, em suma, por um progresso de em trinta e cinco vÍrgúa sete por cento em Palaiseau). Além disso, as
possessóes fundiárias estavam múto mais distribuídas, o que atenuava
( conjunto da civilização material.
Do mesmo modo, mas desta vez nas províncias mais evoluídas, e sensivelmente a relaçáo económica entre as múltiplas «coútures» e as
( mais tarde, no decurso do século x, parece que podemos verificaruma
tenures. Muitas destas, finalmente, úo tirúarn de prestar qualquer
multiplicação das prestações em numerário entne o3 impostos que corveia e os seus ocupantes só se apresentavarn no paço senhorial para
incidiam sobre os foreiros. Assirn, as rcndas em denários tinham, no levar as rendas.
sgculo X, maior aplicaçãó num seúorio de Borgonha do.que nas Os polípticos da Germânia desctevem pgsiessões ainda menos
vtllae da abadia de Priim, nas Ardenas, inventariadas alguns anós mais agrupadas. Muitas vezes, o «paço» paÍsce ter desempenhado apenas o
( papel de centro de cobrança, de tal maneira as terras dependentes
cedo (l). Acrescentc-se que estas rendas em moeda paÍBce terem sido
L exigidas em substituição das antigas prêstaç&s em gado ou das anti- estavam disseminadas. Junto ao domínio nunca se encontravam mais
gas corveias, de transpoíe de madeira ou de sentinela. De comum do que uma deàna de mansos (2), e entre e§tes, os manses de
acordo, os camponeses e os senhores tinham certamente optado por
utilizar mais o instrumento monerário. A substituição dos serviços em
(t) LV7Z,ATTO, 217. No século x, os forciros de San Giulia de Brescia deviam
levar seda ao mcrcado real do Brescia e,. por dcz libras veadidas, pagar ciaqucnta sorer,
( (l) Documento n.o 10, p. 293. LOPFZ,, em 5, pp. 279 e scgs.
(2) Documento n.o ll,. p. 295.
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74
(
75 \<
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(
escravos predominavam nitidamente: os diversos senhorios da abadia dosforeiros.Emfinaisdoseculox,osforeirosdocabidoepiscopalde.
t""".ia náo eram obrigados a serviços em.trab'alho ou a Pagamqntos
dq Lorsch não tinham senão esses. Enquanto a Oeste do Imperio denários (t)' ,t f
cqkolíngio uma grande parte do campesinato .livre, se encontrava sob gén"tot; entregavam
--i;;;à.'em sobretudo
urtpa estrita dependência económica do grande domínio, parece que a
"* l
coísideragáo os senhorios da Germânia e da Lombar- (
podemos
eiploração das terras aristocúticas lrrrnaneceu, na Germânia, mais au os mais ocidentais de saint-Germain-des-Pnés, náo
viiçada sobre si própria, em ligação muito menos estreita com o
" "ie i(
aqlbiente carnponês. Trabalhadores privados, escravos prebendeiros, ú;-r,J"úip"téüca da economia ngal dos tempos carolíngios, stribuiÍ
""it"ro*udúvida.Senáprudente,numareconstnrçáoforçosamcnte '(
que ügavam as tenu'
allmentados nâ casa, ou colocados em algumas tenure§, desempenha- ãC;ar &t"t-iour,t" ao conjunto dasco-rveias «casiͧ» camPo- ,(
vdm o essencial das tarefas. A economia dominial parece ser aqui res aúomínio, a e§ta associaçáo de trabalho entr-€ as
a essênciado domi-
mgnos pública, mais domésüca, menos invasora, quer devido a uma ,,"ru. e a do senhor, que se cónsiderou 'regime (

mâis forte presença da escraüdão nas regiões periféricas da civiliza- r,ia"f Em muitas t"gf,õ"t, um tal regime de exploração parece ter :

tlão,-t" nào descontrãcido, pelo menõs compl'etaúente excepcional' t(


çáb cristã, à implantação mais recente da instituição senhorial, ou,
mais provavelmente, à existência de comunidades mais vigorosas de ;riã;'úd"-os dizer grande.càsa.sobre a.Inglatclra,
menor da :iiiT:gPd'
anstocracra' a ;(
camponeses de condiçáo franca- De qualquer modo, a associaçáo em profundas trrevas. Um domínio muito de
destes últimos à exploraçáolda reserva consütuía uma excepção. ;;ililil do rei e do seu séqúto po-r meio de forneci'entos fixos
de conce-
Na Itáia do Norte, os irivpnuírios revelam uma estnrtura também Ji-"nioi trazidos periodicamãnfe pelas aldeias, o costume
diferente. §ss «paÇos, trqlbirlhavam, como na Germânia, grandes der uma terra, senentes e um equipamento a famílias caÍlPonesas em
equipas de escravos prebeddçiros, as *rnaissonées", a gente da casa troca de sen'iços ptt.iuir,, é tuào o quc os documentos anglo-saxó-e
(mesnada). Tinham a ajud{ {e algumas familias de servi, colocados nia* p"t*it"m vistumUrar (2). Mas vejamos a Flandres' o Bravante
em tenures e obrigados a sgrviços ilimitados (angaria). Mas a maior ;;;á;ã" r*i", ,Ã àô,,ir,ria.a"s dos centros de civiliza!áo
paÍe dos foreiros contãvam-se trezentos nas terras da abadia de BEl ggg,'"u, tár"o" que 1 abadia de Priim possuía em
bobbio em meados- do sécirlo D( emÍn libellarii, isto é, homens
"L.rú".
Arnhem, os mansos d;i*, entrregar vinte e seis denários,
dois almu-
àes ae óenteio, quatro ca6os de madeira, un1a galinha' cinco
ovos'
-
livres, muitas vezes tambérfi ircssuidores de alódios, mas que haviam a quatro_semanas de
recebido concessão de umd tbrra por contrato escrito, por um longo ã;;*;;;"* á"'"ü"o denrírios; obrigados apenas
no outono' náo podemos
prazo, pelo menos vinte e] nove anos. Este pacto concluído com o ;;fi úr ano, duas em Maio à duas do dq-
senhor da terra era um prolôpgamento de tradiçóes muito antigas; por Cãnsiaení-los como verdadeiramente associados à exploraçáo
lavra, dezoito de
vezes impunha um certo núrirero de corveias, mas sempre limitadas a ;d;i;t.õ*to uo, trinta hectares de aos lectares
em Gand' eram
alguúas semanas por ano; a maioria destes foreiros permaneciam, orados'qug tinha em domínio a abadia de Saint-Pierre'
ãüil;"il; ãÃri""r""nt€ por una pequena eqüpa de escravos do-
entretanto, isentos de qualduer colaboração no trabalho do domínio. de quinta e três vaqueiras;
mésdcos, dezanove criados, dez raparigal
Para eles, a associação à economia do paço senhorial revestia outra
tbrma. Deviam levar ao celeiro do senhor uma certa parte da sua ;;;;ár áos vinte e cinco.mansoi contíguosnáo estavam_ot_rigados

própria colheita, um terço do cereal e metade do vinho nas terras de u-q"át""t sen'iço agríçola (a)'.Çeymelte criadas por ÜroteÜnento
San Giulia de Brescia, um décimo do cereal e do linho e um quarto ou i""ãrrt", isoladasdo ãenro dominial e, sobretudo, dedicadas à criação
para a valorização das
um terço do vinho nas da igreja de f.avena (l). Aqú, o sistema ,de gado, as tenures não conribúarn múto mais
diferia, portanto, ainda mais sensivelmente do regime dominial clássi- «coútures», n", cirrcã iitti" qur" pertcnciarÍr, rio nordeste de.Gaàd'

co. Na realidade, tratava-se da justaposição de uma exploração do- à-abadia de saint-Bavon (5). ó que impressiona. neste caso, é a dis-

méstica de úpo servil à alemã, com um modo de gestão da terra


baseado na concessão por contrato temponirio e no métayage (arrenda- (r) ENDRES, 226.
mento a meias). Acrescente-se que a vivacidade das trocas, o uso (2) STENTON, 219, PP. 276 e segs'
mênos restrito da moeda tendiam a reduzir rapidamente as obrigações (3) SLOET. 196, p." 6ó'
ài amsnoE, ra Belgique carolingienne' p' 105'

(') LEICHT, 154, p. 64; LVZ'Z.ATIO, 2r7 e 2t9. (5) VERHUIST, 197.

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\G
76
i
junção entre a resen'a, totalmente família, e as te-
corrhada à maior parte das aldeias havia numerosas explorações circunvizinhas,
nures que forneciam uma renda. Na Gáia de Oeste (no Maine, onde a que crésciam ou se desagregavam de maneira totalmente autónoma.
palavra mansus não é utilizada e onde a concentração das terras em Em Varanges, pequena aldeola perto ds Cluny, forarn enumeradas, na
grandes explorações parece ser excepção) (l), na Grâlia do Sul, onde segunda metade do séçulo x, guarpnta e sete proprietários distintos;
os textos são, por assim dizer, extre[ramente raros e de difícil inter- mas mesmo assim náo conhecemos todos. Effi estes, alguns
pretaçáo (na região dc Auvergne, por exemplo, onde não vemos que esforçavam-se pacientemente Por aumentsÍ os seus bens. E o caso do
as icorveiÍs tenham u''ido os mansos ou os appendariac ao indomini- casal David e Dominique que, por vintc e oito sous repartidos por
calum (2\, é provável que tal disjunção constituísse o caso mais pequenas compras, foram adquirindo onze modestas parcelas, gue no
frdouente. total eram menos 9o qug mêio hectare. Porque'náo tinham filhos e
(
também porque todos os seus haveres'passaram após a sua morte para
( as máos da Igrcja, foi possível enôontrar vestígios da lenta reuniáo das
(
6. O grande domínio e a economia camponesa terras conseguidas com as sua§ F)upanças (t). Mas quantos outros
rústicos teráo, como eles, aproveitando as situações de aperto dos
( p,sta constatação leva a colocar um outro problema, talvez o princi- vizinhos, investido assim o dinheiro ganho no mercado da aldeia?
pal, mas ao qual é impossível dar solugóe,s convincentes- Certamente Estes agricultores, cujos manso§ se situavam nas rcdondezas da
menos extensa e menos ponetrante do gue parecem mostrar as nossasi aglomeraçáo aldeã, achavam-se sern dúvida unidos por diversos elos
( foirtes, que, voltemos a dizê-lo, são demasiado dispersas e de prove- núma comunidade viva, que não coincidia com o guPo de cooperaç'ão
niência exclusivamente aristocrática, a influência do grande domÍnio no qual o paço senhorial ocuPava o centro. Em primeiro lugar'
!

,lI
( ndo deixava, no entariro, de se exeór nas exploragoeã vizirüas. Mas ligavam-nos as solidariedades agnârias. Sobre,este Ponto, os testtmu- I

( dentro de que limites? Determinaria ele as relações económicas entre nhos são exbemamente magros, mas a rotação anuel dos campos de
I

as casas, enre as famílias? Ou estariam estas organizadas mais espon- lavra e das sementeiras pelos diversos talhões da rírea cultivada, o
(.
taneamente no quadro
* ury comunidade de vizinhos? ordenamento da pastagem no restolho e Dos caml»s em pousio, a
montagem de cercas erir certas datas pressupõem uma disciplina colec-
algumas pequenas regiões, i yolta da abadia de Saint-Gall, por exem- tiva, bem como a Posse comum das rcrras de passagem, esta *terra dos
zonas lombardas ou em Mâconnais no Francos, tão habitual no seculo x em todas as aldeias da região de
século x, uma menos indigente permite descobrir uma Mâcon. Em princípio, todos os habitantcs linres se senti"n igualmgntc
série de "alódios", isto é, familiares libertos de qualquer solidários face ao poder púbüco, ao do rei e dos seus representantes
dependência senhorial, e dimensóes são extremamente diversas. oficiais. Periodicamente, reuniern-se na aldeia vizinh4, sede da cenú-
Junto de enormes , do tamanho daqueles que são descritos ria ou da vigararia, para julgar os pequenos processos que não
pelos polípticos, prosperavfup pequenas exploraçóes autónomas, que tinham sido resolvidos amistosamente (2)- Em conjunto, quotiza-
náo reuniam mais terras §o que os mansos satélites dos grandes vam-se para albergar os enviados do rei, o co1de, o bispo ou os
domínios. Certas actas , em particular as constituigões de dote seus agentes, para dar resposta às convocações militarcs, para fornecer
a fâvor da esposa, avaliar a extensão das fortunas. Por toda a provisões ao grupo composto pelos mais ricos, quando começavam as
ãxpediçõçs fuerreiras. Finalmente, a igreja paroquial constituía.
tigação são para os âldeáos um último ponto {e união' No século D( e, o
mais tard'ar, no século X, foram tecidas as últimas malhas da rede
pelos filhos e por alguns escravos. Ceíos campos estavam completa- de santuários rurais. Quaisquer que fossem a profundidade do
mente integrados no senhorio; o paço do senhor, instalado no póprio cunho cristáo, a qualidade do sentimento religioso e a ressonância
local de uma antiga villa rcmana, dominava toda a clareira. Mas na dos ritos no fundo das consciências, a casa do culto era o centro

(r) LATOUCHE, 216, pp. 22Ç228. 1r1 oÉlÉace, züt, p.


(2) FOURNIER, 227. (2) BOSL, p. 244.

78 79
$.
de reunião pelo menos semanal, o local onde jaziam os antepas- achayam obrigados a utilizá-Ias, permitiam ao senhor proceder ao
sados, onde se realizavam as cerimónias mais marcantes, ondã os leva4tamento de uma parte dos rendimentos das pequenas explorações
escravos eram tornados francos, onde se concluíam os contratos. vizirihas, precisamente aquelas que não etar tenures do seu domínio.
O çampanário, ponto fulcral da aldeia, servia de refrrgio nos momen- Mencionemos também os socorros que os vizinhos infelizes iarn
tos de alerta: aí se guardavÍun as riquezas, o gado, as rcservas de mendigar junto dele, os empregos que oferecia, contratando em d€ter-
alimentos.
-- minados períodos do ano mão-de-obra auxiüar para a horta ou parê a
É ü; evidente eue todas estas tiga$s engendravam relações tapada. Quanto à comunidade agrária, como poderia ela alhear-se dos
económicas. O frágil equilíbrio enrre a agrlcultura, a criação de gaáo e desejos e dos interesses do senhor, quando os melhores campos e uma
a colecta assentava nas dependências coleôtivas que ligavam túos os laÍga parte dos baldios pertenciam a um grandç domínio?
chefes de uma casa. As multas, as imposições feitas em nome do rei, Mas, sobretudo, este era quase sempre um chefe. A riqueza fun-
desviavam para os chefes uma parte da produção e das forças da diária achava-se então estreitamente ligada ao exercício do @er, à
aldeia. Enfim, tal como o paço do seúor, a igreja era um centro de possibilidade de comandar. Muitos grandes domínios pertenciam,
cobrança. O padre que servia a paróquia também tinha um manso para efectivamente, aos detentores do poderpúbüco, ao soberano, aos seus
prover ao seu sustento. Mas, nas festas, os paroquianos levavam ao representantes, aos condes e aos grandes, aos bispos e, no mundo
saftuário pães, ovos, o cameAo pascal, a cera para a luminária, em carolíngio, aos avoués (procuradores), que geriam a parte de autori- (
offrendas minuciosamente tabeladas e, pouco a pouco, insinuou-se o dade que os reis, pela concessão do privilégio de imunidade, tinham
hápito de consagrar ao serviço de Deus o décimo das colheitas. abandonado aos grandes mosteiros. Por outro lado, num meio muito
!(
A llhistória da implantaçáo da dízima esrá por escrever (l), sendo fechado, onde a circulação era bastante difícil, onde as instituições
bastante importante para analisar o movimento dos bens ao nível das públicas rudimentares se mosEavam pouco eficazes, o homem pri-
'(
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exi5lorações camponesas. De qualquer modo, podemos interrogar-nos vado, que possuía as melhores terras na clareira e os graÍldes bosqües,
sel para um número considerável de camponeses, estes serviços paro- podia estender à sua vontade sobre os seus vizinhos mais pobres uma
quiais e públicos, em que Igreja e Estado se acham confundidos, náo ;(
autoridade de facto. Esta irradiava muito para lá da sua «câsâ», dâ
constituíam as únicas obrigações de ordem económica. (
No entanto, muitas indicações atestam o enorrne poder que então "família" dos seus escravos, do gnrpo dos seus póprios foreiros. Este
tinha a aristocracia. Levam a pensar que os camponeses que não eram
«poderoso», como o denominam os textos, aparecia, efectivamente, ,(
como o protector quotidiano, o conciliador. A ele recorriam para
foreiros também sofriam, de certa fórma, a piessão de *paço,, do paciÍicar as discórdias. Só ele podia punir os grandes crimes.no (
manse-maítre (mansotdo senhor), quer se situasse na própriã aldeia ou imediato. No meio do perigo, dianrc da fome, era ele o s@orro,
nos seus arredores. Esta fazia-se certaÍÍlente sentir mesmo porgue podia armar os seus servidores para a defesa comlun, porque .(
quando a ligação entr€ o domínio e as tenures se estabâe- os seus celeiros, em tempo de penúria, erarn os últimos a esvaziar. (
cia de forma menos Ço que se afirmou com base em alguns A ele se dirigiam os imigrurtes para sercm acolhidos como .hóspc-
testemunhos, mesmo q os imensos patrimónios eram menos
(
des, no território, para obter o direito de constnrir üma cabura junto
numerosos,,, mais dispersos, mais amplos interstícios o,nde aos mansos. EnÍim, tinha geralmente o encargo dê receber as tâcas (
pudessem desenvolver-se plquenas empresas agrícotas autónonias. reais, de organizar os canegos, de juntar as provisões de feno e de
Assim,
^! qualquer igreja rural era explorada poi um «patráo» e as (
carne para o exército. Todas estas funções valiam-lhe o reconheci-
dízimas iam de facto encher os celeiros de um senhor. Nos polípticos,
a igreja paroquial aparece inventariada entre os elementos do domÍnio
mento, os seniços êros presentes. E onde se poderia encontrar um
apoio eficaz contra Írs suas exigências e as suÍls arrogâncias?
i((
que obtêm rendimentos externos, é mencionada juntamente com os Sobre esta dominação de facto, os textos são quase mudos. E por
moinhos, as fábricas de cerveja e os fornos. Todas estas instalaçóes isso que o problema que levantei, o das verdadeiras relaçôes entre a (
postas à disposição dos camponeses da vizinhança, que por vezes se economia dominial e o seu ambiente, fica sem respostâ., Esta mistura
de generosidade e de coacções, os hábitos que enraizavam, os «costu- (
mss» QUe os inquiridores üveram dificuldade em registar porque, «)s (
(t) Les dímes en Forez, 183. seus olhos, não pareciam muito legítimos, mas que, no entanto,
(
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( orientayarri, sob a capa bastante rigida do texto dos ínventários, o


destino vivo da exploraçáo senhorial, foram mantendo, fora do quadro
( estritamente dominial, toda uma rede de serviços pedidos e feitos, de
( prestações, de trocas de bens e de trabalho, que ügavam solidamente
as pequenas explorações em redor à grapde exploração. Talvez ern
( certas províncias periféricas ainda muio primitivas, como a Frísia, a
Saxónia, a Inglaterra do Noíe, onde a repartição da terra era menos
desigual, os fortes campesinatos autónomos tenham escapado durante
( mais tempo à dominação seúorial. Mas em todos os outros sítios, o
simples facto de estar próximo do grande domínio, o poderio que este
(.
conferia ao senhor ou ao intendentç, contribuíam para canalizar, neste
( meio pobríssimo onde os homens ficavEm secos de cansaço por táo
magras colheitas, os p€quenos excedentS ganhos nas casasi cünpone-
( sas, por meio de duras privações em fresenas minúsculas, paÍa o
pequenino mundo dos chefes e seus parasitas. Estes excedentes LTYRO II
evaporavarn-se em segúda muito rapidarnente, no esbanjanrento e na
depredação de uma aristocracia totalmente dominada pelo amor ao
luxo e pela preocupação em manifestar a sua grandezapela destnrigão
(

(
de riquezas. A ideia de investir.só aflorava nestes ricos guando sÉcur,os )ü-xllL-
acompanhada da esperança segura de obter rapidamente um acÉscimo
( de rendimentos, da possibilidade de mais largas despesas. Isto permi-
tiu que os magros capitais criados nos séculos rx e x pelo aabalho Ritmo e limites da expansáo
pamponês acabaram por ser acumulados, sob a forma de jóias e
fdereços, no tesouro das igrejas e dos príncipes, assim como, mas em
fraquíssima proporção; nas máos dos raros negociantes profissionais
que começavam entáo a enriquecer nos cruzamentos dos caminhos da
Lombardia. Quase podemos desprezar a quantidade de capital que
serviu, nessa época, para melhorar os instmmentos de produção e
aumentar a fertilidade'da terra ou a eficácia do trabalho dos homens.

82 \q
O século x é.um período de excepcional claridade da história dos
ca'mpos'do Ocidcnte.,Em'següda, as Fcva§ voltam a cair. Os test§mu'
nhoi,'escritos são raÍos; totnarn'§€ sobretudo muito menos ricos,
Porque a tentaüva;de, rçnascimento intclecoal feita pelo alo clero
caroiíngio acabou pór fracassar om'grande parte::Nos séculos :o e )9,
foram de novo ss.pslawas, o§ ge§tos, as cerimónias; múto mais do
que os escritos; lque .estiveram na fase das relagões soçiais'
É mesmo nas instituigões eclesiástiças, onde os enquadramento§ de
uma.cultura,.escolar se mastivera[r e' Por Yezes, se reforçaram, o
pergaminho foi então,muito poúco utilizado ParS a gcstão dos domi
áioJ rurais. Nas relagõcs.com os'scus intcndcntcs;'oom o§ calnlroneses
das tenures qualquer'serüror confiava entáo na memória, que as assem'
bleias e .avàux.r'(ruramentos) pcriódicos iam reavivando. Os dirpitos
e deveres de cada úm eram estabelecidos e mútidos com flexibüiôade
pelo costume;'pclo'conjunto de'urtigos hríbitos que a comunidade, os
Labitantes da aldeia, os sujeitos do seúorio guardavam colectiva-
mente na memória. Também os cartulírios rcdigidos nesta época nos
mosteiros e episcopados aPenãi incluem regislos de compra ou de
troca, os documcntos dc Proccssos' notas quc rcgr§tam ulna §cntcnça
favorável, ou seja, títulos que garalrtem I Pos§o e gue, por outro lado'
fornecem abundantes informa@s sobre a história agníria. Mas cons-
titui excepção encontrar neles um fragmento de conta, ou um ba-
-impostos,
lanço doi qualquer documento de administragão que
ponha em eridência oi mocanismos económicos; Já quase náo
i" dados numéricos ou avsliações de qualquer es-
"n"onttum
' pécie. Parece que or sentido da precisáo numérica''a preocupaçáo
ã" enumer"r, dé.avaliar as quanüdades e os valores enfragueceu con-
sideravelmente.

85
(

(
(
( já se manifestavam em parte na época medieval, porque reflectern
( discordâncias Dês,técnicas de expressão. Em ceÍas regiócs, o recurso
'as comegam então a modificar-se, a complicar-se. Vemos à escrita expandiu-se mais gedo, os métdos. de administração benefi:
( tuir-se progressivarnente urn grupo d€ especialistas da adminis- ciaram do aperfeigoamentos mais precoces, É o caso do Sul de Franga,
( , que haviam recebido uma forrrpgáo twruça particular bascada onde bastantc cedo, a partir de finais do século xII, era habitual nas
escrita e no crílculo, e que se encanegavern de rcgistar, contar, sociedades rurais estabelecei contratos pçrante um notário. Mais ni-
(. 'aliar e medir as terras (t). Através deles, renasce a luz, que ilurnina tidamente, é o caso da Itrília, Aqui, a rarefacaão dos docurnentos
( o seculo XItr e sobrptudo a sua segunda mctado, Mas o escritos é muito. menos manifesta no século )g do que em .qualquer
de obscuridade que o precedc é incómodo. Intcrrompc a outra parte. Finalmente, a Inglatcrra é particularmçnte favorecida por
( esconde as ligaçóes enre os tipos de economie descritos razóes que, desta vez, sáo menos lculrurais do que políticas. Este
icos carolíngios e os que emergem da sombra nos finais do pequeno reino bem reunido foi fsrtcmente controlado no últirno tergo
( xII). Ora, do século x e gerido por boas equipas de escribas e gente de Conüas.
a evoluçflo da economia não se processa num movi-
( regular, mas por salltos bruscos e por mutaçõcs, de fase relativa- Estes, a partir de 1086, redigiram para o rpi um inventário geral de
c-L^-^-
mehte curta. Sabcmos, Sr exemplo,
-l^- ------r- que os anos
---- . t^r! r l^^
1075-1120, excepciqnal riquiza, o Domesday Book, o equivalento, pela sua Preo-
( outros sectores mais bcm docunentados da civilização, foram rnarca-
em
cupação de exacüdáo numérica, aos polípticos carolíngios mais cuida-
( dos por progrcssos parricuiarmente nípidos. Terão sido também deci- dos, Mas a inquirição alarga.se nestc c:§o às próprias dirnensões do
sivas para as relações enEe os ca[lponeses, os seus senhores e os reino. Subitamente, faz sair da sombra, e para sempre, todo o mundo
( comercia.ntesr para o aperfeiçoarnento dos meios de produgõo? rural inglês
( O vazio, qu€ sa tomou cada vez mais profundo ao longo de todo o Dpstimodo, a densidade variável da irúormação vem revelar no
século XI e princípios do século )qI em mat€ria documental, irnpede mapà do Ocidente numerosos contrastes. Estes sáo ainda mais acen-
( que assinalemos com precisáo a amplitudc e as cadências de inúmeras tuados pela situagão dos trabalhos históricos e sua orientação, Porque
( mudangas. a investigação náo foi levada táo longo por tda a parte. Em certos
Por outro lado, a desigualdado de informaçáo, as zonas de sombra e países subexplorados ao nível do trabalho histórico; as colecções
( de claridade que esta define estabelecpm rupturds na cronologia gue documentais e Íl§ bibliotecas estáo longe de terem revelado todas as
nfo estáo obrigatoriamsnte ern coincidências com as flexões maiores suas riguezas. Por outro lBdo, durante os últimos cinquenta anos, as
( da evolução económica. E, voltemos a diqp-lo, descrever cm capítulos investigagões ficaram, não o esqueçamos, prisioneiras das bareiras
( separados os factos do século D(, em iegr{tda os dos séculos )g e )gI, o nacionais. Náo foram conduzidas nas mesmÍrs dirccções nos diversos
finalmente o período que sc inicia porlvolta de 1180, talvcz scja países da Europa. Na laglaterra, o estudo dos carnpos medicvais, já
( deixar-se impressionar demasiado por slmples difcrenças dc ilwni- favorccido pcla qualidade c abundânsia das fontes,.foi.lcvado a cabo
( naçao. por equipas numcrosas e acüvas, pr€ocupadas.om aplicar, na inter.
pretaçáo .os vesdgios do passado, as descobeías e 8§ teorias dos
( * economislas contêmpqrâneos; é mais:avangado aljng-Mancha do que
em qualguer outro lado. Em Franga e na AJCúãÚa, em funçáo
( ceÍãmente do estnrturas universitiírias particulares, a atençáo incidiu
( Desigual no tempo, a densidade da documentação é-o também, e muito menos nas relações económicas do que na ocuPaçáo do solo
talvez ainda rnais, no espaço. As diferenças de rcgiáo para reg-ião a precocidade da Sledlüngsforschung é responsável por esta orien'
- devem-se em certa parte ao facto de os arquivos não terpm siOo.tío
-
tagáo, bem oomo a vitalidade da escola francesa de geograÍia humana
(. bem conservados por todo o lado, úo tcrem sofrido rur mesura nos anos 30. do sécúo XX e, por outro lado, nos :§p€ctos jurídicos e
pioporçáo os efeitos das revoluçóes, das guerras e das negligências. políticos do mundo rurql.- Ert Itâia, os medievalistas continuaram
( o entanto, as desigualdades gue afectam hojg a maÉria docümental fascinados pela hisoria rubana.
( Este avanço desigual, sstas diversas preoçupagóes arneagam falsear
(r) DE SMET, 266. air,tda-um pouco mais as verdadeiras penpectivas, a asentuaÍ excessi-
( n
( 86 874
(
(
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vamente por exemplo, em relaçÁo a outras regióes, a.impprtância dos mÍus precrsÍs que passarcmos a fazer, Antes de mais, é nêcessário (
arroteamentos na Alemarüa e pm Françe, ou des relações.cnEe a tgntü analisar os aspcctos dc um crescüncnto.quo prosseguiu durúte
cÍdade é o carnpo na Itália,'a conôeder uma importÂncia excessiva aoso-. três .séculos e situar as suas principeis etapas. Tarefa singularínentc (
mebanismos iniernos da economid seúorial na Inglatcrra, onde são difícil, dado quo indicaçõcs tão localizadas, descontínuas e dissc- (
superabundar-rtes os docurnentos administrativos e'ú contls de gestão: minadas cm espaços imensos e pcríodos intermináveis, desprovidos
Um dos objectivos destc livro seria,'precisamenteiaienuar um pouco o de qpalquer referência, impcdem ,que csptemos todas as ligaçócs (
gue exists de artificial nestes contrastcs, tentando abárcar com un entre I produgáo, a circulaçáo e o consumo dos''p.rodutos da terra,
(
único olhar o que geraçóes de historiadores observarün aos bocados.
Q empreendimento é arriscado e certaÍnente Prcmaturo. Seria conve- (
frientc, aliás, que não'Íizesse esguecer que o carnpo de observaçÉo.á (
{menso. Constiruído por comunidades aldcãs ainda:bastante isoladas
lmas das outras, o mundo camponês era en!á9 de urna exbema (
,Uiversidade c, sem dúvida, ainda mais diferenciada do que as fontes (
lpermitem vislumbrar, Isto impede gue se alarguc o carnPo d'" obser-
vações, que são'sqmpre locais e muito esporádicas. Reconstituir, em (
bases tão fracas e óispenas, a história global dos campos medievais
parecerá certâmente ufns aventura temeúria. Sem dúvida due o é e, (
além disso, muitas vez[s desencorajante. (
Apesar da sua imperfeidssima repartigáo no.tempo e no espaio,
os documentos transmitem a impressáo do urn suío geral e contínuo (
da cconomia rural quc se dcsenvolveu amplamcnte até cerca de (
1330, com cadências variáveis, Sem es[a prospcridade contÍnua dos
carnpos, a exprüsão global de toda a civilização do Ocidcntc durante (
os séculos xJI xII e ),cru seia iacornpreensÍvel. Será necessário ligar este
Iongo mqvimento as premissas de crescirnento guc ceitos do-cumentos
(
carolÍngiôs anunciarl, I este progrcsso inicial dos,'uçensíIios.que I (.
Ienta difusÉo da azcrüa.assinalava, à irnpluttlçáo pógressiva do
(.
senhorió agrrírio nas zon&s mals aEasadas Oa Gc'rmânia, à pcnctração
do instrumento mongtário'e à aceleraçáo das troces quo se verifica cm (
cenos sectores de v'anguuda, cgmo a l-ombardia?.'A informagão é
bnstante disscminada e irnpcrfeita p&ra que possâ ser exsctsrnentre (
avallsda a v.'ivaçidade do progressollno tempo..carolíngio. E como (
poderemos recorüecer se os recuos i$rpostos aqui'e'acolá no Íinal do
século Ix e no século X pclas invalócs normandas, galracenas'ou (
húngaras, foram profundos c.duradoiros até à parpgem total do movi- (
mento? Como poderemos sabcr se, ao contrário, este foi pro§seguido
a:é alcançar e apoiar o largo irnp.ulso, cujo'vigor e continuidsde foram (
simultaneamente atestados pelos' documentos. a partir do 1050? Torna- (
-sç forçoso limitar a observaçáo àqúlo quo é.rçlaüvamenqc claro.
Como na época carolÍngia, todas as informações convcrgem na insü- (
. tuiçáo serüorial; o que coúecemos menos mal da economia mcdieval
(
estâ.orden-ado no.quàüo do serüorio'c neste irão inéidir as'.obewaçóes

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CEORGES DUBY

ECONOMIÀ RURÀL
CaPítulo I
E VIDÀ NO CÀMPO
A EXTENSÃO DAS CULTURAS
NO OCIDENTE MEDIEVÀL toda a economia rural e'
O regime alimentar dos homens determina
do que nas épocas em
certamente, nunca de rn,uneira mais imperiosa
de existência sáo ?reoírias' E'ra ainda o caso desta
õ;;;;;âiçoes como já disse' a história da
época, como vercmos' lnfelizmente'
completamente.(l)' e se
ãiiã""rü" *edieval continua por explorar para incitar a que
;õ;;i;;E"ra alguns dados iniiórios ê' sobrctudo'
de alto a baixo' sem tardar'
;"';
-- ô;tiã" seja'retomada comparar-validamente o modo como se
N"á" permite por enquanto
alimentavam o, .on,"ffiiaoeos de Carlos Magno e de S' Luís'
a Pensar que uma certa mudança
;üil; ;ãicaçoes levaà, contudo' Apercebemo-nos que' em tdas
se realizou no decurso Josétuto )otr'
; Ia.te;;il-ro"iui,, i companagiur'l' o «acompaúamento
vejamos' por
do pã.o"
exemplo'
;; arn8;*ão mais rito " mtit-tuundante'
à"Ü't"g"r"*";tos de leprosarias ctrampanhesas' Um' no
internos
ração semanal de tnâs páes' um
século XII, atribui a cada leproso uma
medida ã" o elaborado em 1325'
ã;;-" ft; "hü'u;
segundo'
do páo' do azeite' do sal e
ã;;";q;e se sirvam aos doentes' além
ttêt vezes por semana e' nos ouEos dias' ovos
e
il;;il,
;;"á;.;. Ém"urr',.
oM, a piunia de um cónego' na comunidade de

u!y: "* 196l nos Annoles' E' s' c"


lt) t"a"r- esPerst quê a 'investiSaçÃo
biológicos, permiu esclarecê-la progres-
sobre a vida material . or .ã*[*-.nios
sivamente.

9l
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Maroueil-en-Artois, era constituída por quatro ovos pela manhã, três dlç4p qq.!4 dp.raçoçiro. Numa comendadoria dos Hospitaliírios, va-
ovos à tarde, carne salgada ou três arenques (l). Será verdade que o liaÍhãuaí vàáes úenoE-púa um rabalhador de chamra do que para um
consumo de carne, de manteiga, de queijo, teúa aumentado ampla- irmão cavaleiro e rês vezes menos do que para o superior da casa (1).
mente, em particulff no Noroeste da Europa, no decurso do sé- Era pela riqueza deste supÉrfluo, como pela qualidade do vestuário
culo xlu? Como avaliar a sua amplirude? De qualquer modo, é certo que efectivamente se exprimia a hierarquia dos "estados,.
que a maioria dos homens, nos finais do século xtlt, não se contenta- Mas no espírito de todos os homens, o pão continuava a ser o
vam com os cereais. Em 1289, em Ferring, moradia dependente da verdadeiro alimento. A sua situaçáo fundamental é manifesta em todos
abadia inglessa de Battle, os carreteiros da corveia esperavam que lhes os textos dos séculos xl-xlll, nos regulamentos das comunidades
fosse dado, com o pão de centeio e a cerveja, queijo pela manhã, e ao religiosas, na instituição de pensóes vitalícias e nas contas domésticas.
meio-dia ciune ou peixe. Em 1300-1305, compravam para os operá- Parece certo que, nas cidades, a padaria teúa então constituído o
rios que construíam o campanário da igreja de Bonlieu-en-Forez, além ofício de alimentação mais activo. Quantos aventuÍeiros terão enrique-
do centeio para o pão e das favas para a sopa, ovos, queijo, cÍune e cido ao assumir a gestão de um moiúo ou de um fomo nos burgos em
muito vinho (z). Todos os inventários normandos por volta de 1300 crescimento? Ainda no século xv, nos meios urbanos mais evoluídos,
prevêem para a alimentação dos trabalhadores ou dos encarregados, o pão constituía a provisão mestra (2). Podemos mesmo intenogar-nos
ervilhas, touciúo, sal, arenques, aves de capoeira, queijo e enoÍrnes se, em muitas regiôes, as que tiúam adquirido pouco a pouco hábitos
quantidades de ovos. Numa casa da região de Dauphine da ordem do alimentares menos primitivos, a importância do pão não teria aumen-
Hospital, as despesas habituais pma o companagium Íeprcsentavam, tado sensivelmente em relação ao século x, Investigaçóes minuciosas
em 1338, duas vezes e meia o valor do cereal consumido; no mesmo talvez venham a dar um dia uma resposta a esta interrogação. E ceío
ano, na abadia de Jumiêges, na Normandia, tiúam-se gasto setecen- que, ao longo de todo este peíodo, os rabalhadores dos campos
tas e quarenta libras na compra de cereais para o pão e mil e setecentas foram, antes de mais, incitados a produzir cereais. Por esta razão, 1
-
e oitenta na compra dos outros géneros alimentícios (3). e x p an s ão__da econ-oqjgntr4!-uq; século s x-4U 1 fo i primordialmente

Esta abertura progressiva do regime alimentar, que revela um cres- 'marcada


, Dor um ísuno aerícola)
cente desafogo, uma desconEacçáo da vida material, constitui um Esia eüanSa; iete-.arffãru íurge como um fenómeno múto com-
factor muito importante da evolução económica dos campos. Merece- plexo que pôs em movimento todo o sistema de cultura. lmplicava
ria mesmo um estudo sério. Seria preciso tentar daú-la e avaliá-la nos uma modificaçâo conjunta do equipamento técnico e das relações de
diversos níveis da hierarquia social. De facto, não deixou de modificar mão-de-obra, da área explorada e dos métodos de rabalho. A bem
a actividade dos trabalhadores da terra, de abú novos sectores de dizer, a maior parte dos aspectos desta evolução escapam à observação
produção, de estimular determinadas coÍrentes de trocas, cuja impor- histórica; e teremos que resolver definitivamente e esclarecer apenas
tância iremos analisar mais adiante. Contudo, parece que esta abertura alguns deles, e imperfeitamente. Comecemos, portanto, por aqueles
fni limitarln Fvcenhrandn ns nereqiÀ trvlnc Ás oánÁrnc nrã o ôlrê êmêrôêfr nloromonfê p êm nrimairn lrroar mlo pytancÃn rla
^lim.n- -oio vlrlv v,

tação §_iam cônsiderados acessórios ainda no século xv; ç_ram Wrvidói superfície cultivada. A exposição será seguida, com muito maiores
para o prazei dá b,oca-epo-i-umá qúestao ôé luio: à. iaôto, a rua imprecisôes, pelos nossos coúecimentos actuais sobre os mecanis-
iúportância'no cônsumà variàva sensivelmente em função da cón; mos da produção, os ciclos das sementeiras, a aparelhagem e as
práticas agrárias e os rendimentos. Em último lugar seú exposto o
pouco que sabemos sobre o número de homens, esse elemento primor-
(r) Os textos champanheses são citados por P. JONIN, Les personnages féminins dial, como já dissemos, dessas transformaçôes de estrutura.
dans les romons françaís de Tristan au XIl. siàcle, Cap, 1958, p. 127: Ia chronique et
Les chartes de l'abbaye de Maroueil (Ed. BERTIN).
(2) BENNETT, 139, p. 235; PERROY, "Note complémentaire sur les comptes de
construction du clocher de Bonlieu", em Bulletin de la Diana, 1959. (t) DUBY, 409 a.
(3) L. DELISLE, Étude sur la condition d,e la classe agricole en Normandie, (z) Um cidadáo genovês teve de comprar cerca de dezanove toneladas de trigo para
Paris, 1851, pp. 189 e segs.; Archives des Bouches-du-Rhône, H. (O.M.), l15; abastecer durante uês anos e meio â sua casa, composta por ume dezena de pessoas,
LAPORTE, 423. HEERS, 649, p. 42,

92 93

tq
(
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( l. O avanço das culturas em certos países, em particular na Alemanha. Fazemos votos paÍa que
este processo de investigação seja aplicado a todos os campos euro-
( Nos campos carolíngios, segundo todas as apaÍências, as aldeias peus, adaptando-se às diversas condiçóes pedagógicas. Conviria,
eram superpovoadas, a produçâo de cereal era insuficiente e a penúria além disso, que fosse depurada a precisão cronológica, ainda bas-
( constante. No entanto, salvo na Germânia e na Flandres, os documen- tante aproximativa, das indicaçôes que desta maneira podemos
( tos assinalam pouquíssimas tentativas para criar novos campos fora recolher. Mas seú certamente preciso esperar mais algum tempo
pela perspicácia dos botânicos para que os documentos desenter-
das terras leves e fáceis de lawar. Seria rcpugnância, avenáo pela
( aventura solitríria dos aroteamentos? Ou antes insuficiência do equi- rados por estes processos sejam numerosos e menos desigualmente
( pamento, pobreza das técnicas e dos instmmentos? De çalquer distribuídos.
Em contrapartida, à atenção imediata do historiador oferece-se a
modo, parece que o surto demográhco foi então bloqueado pela
( impotência dos homens para alargar o espaço agrícola e, por essa via, massa de factos revelada pela observação da paisagem acrual. O nome
( aumentar a sua subsistência. Em conEapartida, o sinal mais aparente try^q1dg_bojg t,êE aldeias_ ítQfis, o áslc1à\íasto-ríaiilo."rt"is, o
da descontracção da economia rural é dado, a partir do século x e em tq$3gd* -ug[ómeraçoes humanas, a or§úiza]ãb dos talhoes agrí-
( textos bem mais lacónicos, pela multiplicação de termos tais como !ola-s, a_So_mpg3i,ção d_a§ fomia(ões vegetais esporitfieas que poÍoam
«êssart» (mato desbravado) ou a palavra .plaine' (campina), que se hoje as zonas incultas e o§ prado5, consdruem uma série de marcas
( referem a terras recentemente conquistadas, De facto, os novos §le,_{uan-<to confrontadas, são susceptíveis de esclarecer a históriadas
( tempos são abertos por um progresso da cultura em detrimento dos éiplor-ações @rí-coQs, Estas indicações têm a vanragem de ser bastan-
pastos, charnecâs, florestas, charcos e tamtÉm do mar. Para todos os te abundantes e naturalmente ligadas umas às outras. O seu maior
( historiadores, e sobrehldo para os historiadores franceses e alemães, a defeito reside no facto de não se deixarcm datar com exactidão.
( era da prosperidade dos campos medievais é o tempo dos "grandes É forçoso, portanto, recorer sobrctudo aos textos. Alguns destes
arroteamentos,. Este vasto movimento de valorização da terra, que foram redigidos precisamente em função das iniciativas de arrotea-
( alterou o aspecto dos campos medievais e que tantas vezes foi assina- mento, que eles pÍeparavam e sancionavam. E o que se passa especial-
( lado, continua a ser pouco conhecido. Náo sercmos levados a exagerar mente com todas as cartas de povoamento destinadas a aüair colonos,
a sua amplitude? Ele alterou incontestavelmente as condiçoes de ou com os contratos através dos quais os seúores se associavam para
( existência em certas regiôes. Mas outras, segundo parEce, apenas abrir um espaço virgem à cultura. De todos os documentos, estes são
( foram tocadas ao de leve. Sentimos bem a urgência de prosseguir as evidentemente os mais ricos. Mas rcvelam apenas o lado mais especta-
pesquisas nest€ sector. Mas de que documentos dispomos? cular do grande movimento de alargamento do solo arável e sáo
( relativamente pouco numerosos. Considerar
ou conceder-lhes uma
(
(
num plano m.gito_911p__v-§=o-. É por isso que se iúpoe-úma vêínôáçao
( atenta de todos os documentos desta época. Indicaçoes úteis podem de
O estudo dos resíduos florais forneceria certamente os testemuúos
( m ai s s e ! üíoi . Éà-óetro-íc-limã§;ãAãÊilnàtlõ§Íõfo§,pffi-cularmen tt facto ser descobertas em textos que pareciam não estar de modo algum
bs das turfeiras, acumularam e fossilizaram durante séculos o polen
? emitido pelos vegetais circundantes. Hoje, sabemos datar as sucessi- crónicas militares podem revelar, por exemplo, um bom número de
( vas camadas destes depositos e analisá-las. Este método permite topónimos hoje esquecidos. Certas caÍas de doação ou de partilhas
avaliar ao longo dos tempos a proporçáo rcspectiva e variável dos descrevem, muitas vezes com o maior detalhe, o aspecto da floresta e
( pólens das árvores ou dos matagais e os das plantas cultivadas. Estes das clareiras que pouco a pouco se abriram. Td3qslas fervilham de
a I u s õe s a íüó sp4à), p!o;.. pi one iros, a G I a
( dados são os únicos que reflectem a evolução contínua da paisagem rypp r1i_4( im po stos
rural e que autorizam a sua tradução em curvas inintemrptas. Os sobre as colheitaT)õí a'1tâcheg\>isto é, às rendas típicãí impostas às
( vestígios botânicos são há muito tempo objecto de profundos exames terras recentemente tratadas, e tamtÉm às dízimas."toy-álô aqu"lu,
(
94 95
(
( Lç
(
que eram lançadas sobre as novas parcelas agrárias. A monda tem -se por toda a parte muito mais numerosos na documentação escrita a
todas as possibilidades de ser abundante. Mas em muitas regiôes partir do século x[. No estado actual dos estudos, vejamos qual é a
aguarda os operários, hipótese mais convincente. A actividade dos pioneiroi, que ãrr"rt
Enfim, não é prcciso esconder que as fontes escritas só conseguirão dois séculos se manteve tímida, discontínua e muito dispersa aqui e
iluminar uma parte bastante restrita da obra de arroteamento. Nestas ali, tornou-se simultaneartlente mais intensa e mais cooúenada perto
condiçoes, a via mais fecunda seú certamentÊ confrontâr, nas rcgioes de 1150. O ímpeto mais vivo dos seus esforços surge claramente
onde a documentaçáo textual for menos dispersa, os dados segruos e nos textos após esta data, especialmente na Inglaterra e no Norte de
de estrita cronologia que as actas escritas nos fornecem com aqueles França, na Germânia e na planície do pó. O esforço para domar as
que podemos destacar da observação da paisagem actual (l). Talvez águas que correm na planície lombarda, para organizar à inigação nas
consigamos deste modo isolar cenos tipos topognáficos e toponímicos colinas que a rodeiam, entra então na fase decisiva. Vemos as grandes (
regionais, datando-os de forma acertada. O que, em seguida, permi- comunas urbanas da Itália setentrional iniciar o ordenamento agnário
(
tiria interpretar com menos hesitações as antigas características da do contado que dominam: em I 186, os magistrados de Verona .eparti-
paisagem que nos são reveladas pelos mapas e fotografias aéreas. r-am por cento e oitenta casais de colonos dispostos a povoaÍ a villa- (
franca, o vasto território que a construção de um canal àe drcnagem ia
abrir à cultura. Alguns anos mais cedo, o conde de Anjou, Henrique (
Plantageneta, ordenava que se consolidassem e estendessem os diqúes (
do rio Loirc para prcteger das inundaçôes as aldeias das zonas desbra-
O primeiro objectivo da investigação consiste em situar melhor no vadas da parte baixa do vale, e implantava nestas «rrrrcies, (margens (
tempo o movimento de arroteamento e, em primeiro lugar, o seu ponto elevadas dos diques) hóspedes encanegados de os manter em condi- (
de partida. Em que momento, nesta ou naquela rcgiáo, começaram a ções (t). Era a época em que os aroteamentos assumiam um aspecto
multiplicar-se e a estender-se os desbravamentos de matas? Em muitas de resoluta conquista no cenEo da Bacia Parisiense, regiâo onàe as (
províncias, as caÉncias de fontes anteriores ao século:<n impede-nos fontes escritas são particulaÍÍnente abundantes, e que talvãz teúa sido
de responder a esta pergunta. Nos documentos do Sul da Borgoúa, uma das mais prOfundamente transformadas pela expansâo da cultura
(
que são de uma excepcional abundância, as indicações que destaquei cerealífera. Quanto às análises de polen efectuadas em Roten-Moor, (
levam a pensar que o abate das florcstas, nas terras argilosas das no planalto de Rhôn, atestam que a pÍoporção de polen de faia no solo
maÍgens do rio Sona e nas colinas da regiâo de Beaujolais, começou das turfeiras declinou múto rcgularmente desde o século D(. Isto
(
na segunda metade do século x. Na Flandrcs, vemos que, por volta de demonstra que no país novo que era então a Germânia a floresta tiúa (
I 100, a secagem dos pântanos nascidos de uma recente ransgressão começado a recuar desde o tempo de Carlos Magno. A diminuiçáo das
marinha tiúa sido iniciada pela constn"rção de pequenos diques por espécies silvesües foi exactamente compensada pela invasão ào, c"-
(
aqui e por ali, e que as instituições rcligiosas possuíam a partir dessa reais-,- prova do progresso contínuo da agricultura a partir dos tempos (
época polders arranjados e parcialmente habitados. Em contrapartida, carolíngios. Mas a paÍte do pólen dos cercais nos resíduos florais
no Domesday Book, as alusóes aos desbravamentos recentes são aumenta de inaneira muito mais viva entne I100 e I150, que constitui (
bastante raros; ainda que certos factos destacados pelos invesügado- aqui o período decisivo da conquista agníria. O mesmo método (
res, como a diminuição do número de porcos em certas exploraçóes, de observação autoriza que situemos taÍnbem no século xt a grande
enre 1066 e 1086, possam ser interprctados como o sinal de uma fase da extensâo das culturas de cercais perto dos pântanãs de (
regressÃo dos espaços arborizados (2). Macklembourg (2). Como vemos, todas as indicaçôes actualmente \ (
De qualquer modo, como é bem evidente, os testemuúos tornam- pompiladas estão em àõnõõidffiõiãffimi-- .{'
àffis-mo'feàffin-roí (
(l) E. JUILLARD,60, propóe tarnbcm que se classifiquem as pucelas agnárias
(
consoante o seu comprimento para obscrvar as etapari da ocupaçáo da tcn-a. l. SEREM, 76 a,76-78: DION, Hrsroire dcs levécs de la Loire, paris, 1961,
(
(2) J. DHONDT , em Revue Belge de Philologie et d'Histoíre, l94l; LENTACKER, p. 123.
216 a; DARBY, em 33, p. l8l. 2. ABEL, 542, pp.45 e segs. (
96 97 (
(
Ib (
(
De um modo muiro ge-ral, ç4-e_.]toi impulsionado pela qgqâo coqiunta
de?am@íses e iêirtrórcí-Com eieito, p'aêõê-téíresúltado de uma
se julgou
GBb.Íúãiàüva'Esgpol§9,-r-olrraàI?Eirã-ilããae-ouralêiãa
Os seus grandes artesãos não foram os monges, como numerosos e muitos de,les famintos, em büiêã Aãurn-udhâcriryÍê
durante muilo tempo. Os monges de Cluny, os beneditinos da anúga pqÍlés§e_-ql_igê_n1{,toq.MaJeqrhá_qroip*_iqóqpeôi_ieúóreí,-apiiôs
comunidade religiôsa, tinham efectivamente uma vida de tipo seúo' it o-s_ 1_e-rr9 no s !nç-u_lps, 9on99nti ssem qu9 e ste q fos sem Eansformados
rial, ou seja, de ócio. Aguardavam quê lhes dessem como esmola tena em terras dé làvoura. IXõi'são difíôit, dáAo quá-obrigava a rcniinêiiii à§-
pessoal necessário pÍna a sua -Íãn*tagsã§tiiiEõ§fêrenos
.1á traUUhâaa, bem apetrechada do alagadiços e os matos ofercciam. Os seúo-
íalorização, mansos .vêtus, (vestidos), como se dizia então, de ho' res tiveram que sacrificar nomeadamente um dos seus maiores praze-
mens e animais. Não se prcocupavam minimamente com os arrotea- res, a caça. Receber "hóspedes, no bosque, deixar recuar as suas orlas
mentos (l). No final do século x, novas ordens rcligiosas, de asce- florestais, reduzia efectivamente o tereno de passagem e de subsistên-
tismo mais zeloso, decidiram estabelecer-se solitariamente, ou seja, cia dos animais selvagens. Sabemos como o privilégio real da floresta
no meio dos arroteamento§; simultaneaÍnente, restaurarÍrm a dignidade impediu durante muito tempo o progÍ€sso da cultura em Inglaterra.
do trabalho manual. Em Grandmont e em Citeaux, o grupo dos Para conseguir que os seus camponeses pudessem prosseguir o esforço
monges de clausura era assistido por uÍna equipa de frades conversos' de arroteamento, os monges de Cluny tiveram de suplicar ao conde de
encúegados das tarefas duras. Podemos imaginar facilmente estes Chalon que destnrísse as suas *s€bes, e os seus parques de veados e,
últimos-ligados o desbravamento. Todavia, por toda a parte onde a sobretudo, de oferccer-lhe uma indemnização material (t).
observaçãó foi prosseguida minuciosamente, verificou-se que os O espaço cultivado não pôde, portanto, ser dilatado às claras e sem
novos áosteiros se est-abeleceram nas clareiras já arranjadas, pelo entraves, antes dos seúorcs terem descoberto as vantagens da explo-
menos parcialmente; por outro lado, estas comunidades de religiosos ração agrícola e experimentâdo tambem as novas formas de rcndi-
dedicavam-se sobretudo à criação de gado, prcocupando'se' portanto' mento. Quando se terão persuadido que era rcalmente vantajoso insti-
relativamente pouco com o alargamento dos campos; finalmente, com tnh as «tâches» e os «champarÍs» (impostos sobre as colheitas), isto é,
o cuidado gr* úr.t", de proteger o seu «deserto', de manter à cobraÍ uma parte dos cercais ceifados nos antigos matagais e bosque-
distância o. t"rpon.r"s, as abadias de estilo novo contribuíram mais tes? Por outras palavras. ouando terãocomecado a Densar em teÍmos
paÍa proteget cettot ilhéus florcstais das acçôes de arroteamento (2)'
b. úto, õs únicos servidorcs de Deus que, por sua pópria iniciativa, ^deirffi ft
{íatxqr.lp'n'v-ri,fu p"r"if .iqa.iu"roj^ôJrirroteameníos
reflectem uma prófunda-alteiação ha atinrde psicológica da aristocra-
participaram eficazmente no desbravamento das zonas incultas, abate- cia, porque os seúores participaram neles decisivamente, Repetimos
iam árvores e abriram novos cÍrmpos de lavoura, foram os ercmitas, que os cavaleiros de lle-de-France não tiúam a mínima prcocupação
que viviam em grande número nas orlas florestais da Europa nos de ganho e de aumento dos seus rendimentos agrrírios. No entanto, no
üculos XI e X11. A história do movimento ercmítico esÉ por fazer; tempo de Filipe Augusto e de S. Luís, privaram-se parcialmente das
permitirá avaliar melhor a parte que cabe a estes solitários, aparcn- alegrias da montaria a fim de encherem os celeiros,
i"rn"nta mal apenechados para domar a natureza virgem' Com os Valeria a pena pesquisar minuciosamente de onde partiram os
para
( caçadores e os ôarvoeiros, e todos os que partiam por um período primeiros encorajamentos ao desbravamento. Quais terão sido os
eles demarcaraln, no
( faier cinzas, ttno ou cera no meio dos bosques, primeirosrcspolrs1v_qig,gs.p1f roÍes9g-lgejqgr_E-fêEôÂí:ar"p"p"Í
entanto, as primeiras vias do desbravamento' desempenharam os detentorcs diis dízimai, primeiros bengfrciáãôs dô
? '
ilFg#ento-dã -áÉã -a9lülidiltzl-rvao's"m-a;
õôióà"r ot ãeãntás
( óenkoriais-à caEça dos instigadores, por se terem esforçado por atrú
(l) Isto leva-nos a perguntsÍ se as iniciativas de anoteamento nÁo teriam sido' nos novos agricultores para aumenlar o seu pÍestígio e os seus ganhos?
( sécuÍos rx e x, mais eitensas do que assinalam os textos da éPoca' gue emTim.-q9sc
iÀàor a" ,ort.iro. destc tipo. Eis-nos confronudos com uma das maiores difrculdades
A estas perguntâs, podemos esperar que os documentos rcdigidos
( à, p..quitt histórica: as mudanças que eh revcla ná9-selo ilusórias e não rcflectiÉo'
da rca.lidade, meras modiÍicaçôes da maÉria documental? (r) DUBY, 241 , p. 302.
( (z) Relativamnte ao sítio de Citeaux, ROLJPNEL' 24' p' 129'
"rn'uei (2) LAMPRECIII, 17.

( 98 99
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no centro da Bacia Parisiense, em finais do século xu e início do documentos de certos processos. Por vezes, as comunidades aldeãs
tiveram, de facto, de levar a ribunal os desbravadorcs para defender (
século xlll, nos permitam encontraÍ algumas rcspostas. Mas conviria
os terenos de passagem colectiva. Os arquivos dos ribunais públicos (.
também dataÍ mais precisamente as primeiras iniciativas dos seúorcs
ingleses conservam numerosos vestígios de tais queixas. Tambem
e seus mandatários. Estaria tentado a distinguir dois períodos sucessi- (
vos. Um, em que os seúores simplesmente toleraram, autorizaram, acontecia que a comunidade apoiasse os seus membros em busca de
mas não sem resmungarem, as primeiras conquistas' E um segundo, zonas a desbravar,contra os proprietários privados das florestas e das (
zonas incultas. Finalmente, outros conflitos opuseram os exploradores
em que eles próprios assumiram a direcçáo do combate, quer aumen- (
tando a paíe lavrada do seu próprio domínio, quer chamando novos dos novos talhoes cultivados, camponeses ou seúores, aos cobrado-
res de dízimos que prctendiam impor aí as dízimas «novales». Mas, a (
colonos. Não poderemos propor como hipóteses de trabalho a ideia de
que a aceleração do movimento de arroteamento, na primeira metade bem dizer, quase todos estes documentos escritos datam do sé-
culo xlu, de uma época em que os bosques e os pastos se haviam (
do século xll, correspondeu a esta viragem de atitude por parte dos
tornado raros, muito mais preciosos e, por isso, duramente defendidos
senhores das terras incultas?
por aqueles que detiúam o seu usufruto. Nessa altura, o moyimento
(
de expansão atingia o seu tenno. Na sua fase culminante, quase escapa (
2. O alargamento das antigas exploraçôes à observaçâo.
Conseguimos perceber, entretanto, que o aumento da antiga explo-
(
Na sua maioria, os novos campos alargaram-se certâmente na orla
ração provém por vezes de uma acção colectiva levada a cabo por (
todos os homens da aldeia sob a direcção do seúor: foi certamente
das antigas *coúlures' da aldeia e avançaÍaÍn sobre a cintura de terras (
incultasi de pastos por meio de um simples e progressivo alargamento o caso nas poucas aldeias inglesas onde um novo «campo» foi
da clareira. Ésta maneira de desbravar era a mais fácil e discreta.
acrescentado no séculoxm aos dois antigos talhões daexploração. Por (
vezes, o seúor estimulava diÍectaÍnente os esforços dos camponeses
Podemos mesmo conceber que teúa sido efectuada por vezes às (
instalando na aldeia novas famflias. Suger agiu deste modo e gabava-
escondidas, sem o conhecimento do seúor. Mas precisamente Por
-se de ter aumentado em vinte libras o rendimento anual de um «paço» (
essa razão deixou poucos vestígios nos úqúvos; é, portanto, a mais
adjacente à abadia de Saint-Denis, fixando oitenta novos hóspedes
difícil de descobrir. Para situar esta primein forma de expansão «nas tenas novas que lhe estavam contíguas» (l). A dÍenagem e a (
agrária, é necessário coligir diversos índices dispersos, explorar o
tJrreno nos limites dos espaços arborizados que hoje subsistem, en'
regulação das águas requeriam geralmente uma disciplina, entreajuda (
e comuúão de esforços; por conseguinte, implicavam uma interven-
fim, interpretar os microtopónimos, os nomes dos campos ou de (
talhões quã, no cadasEo actual, evocam quer o próprio alroteaÍnento ção senhorial.
(.les essarts», «artigue vieille,, *les plans,), quer a vegetâção pTT- No entanto, esta era limitadai Os campos criados nas imediaçôes (
dos antigos lavradios, na zona exterior da exploração (o outfield dos
iiva e selvagem a que foram ganhos os terrenos de lavoura ('les (
campos ingleses, a terre gasre dos seúores dc Provença), numa árca
bratses,, les vernes,),
tradicionalmente sujeita a simples queimadas temporárias, foram, (
Alguns textos dão, no entanto' um testemuúo directo deste au-
decerto, na sua maioria, ordenados separadamente por pioneircs isola-
*"nõ furtivo da terra explorada. Certos seúorios deixaram úries de
dos. O facto surge claramente nas aldeias viziúas-da floresta de (
inventários ou cgntas sucessivas, através das quais verificamos que os
Bragny-en-Chalonnais, no meio da qual foi instalada a abadia dos
carnpos sujeitos a rendas se multiplicam Pouco a pouco em dercrmi- (
monges de Cister de La Ferté, cuja história no século xu bem coúece-
nadá explóração. Assim, nas aldeias que o episcopado d9 Fly.ol "
abadia de Ramsey possuíam na ola dos Fens, o número de herdades
mos, devido a essa proximidade e à extensâo do poder temporal (
aumentou considêiavelmente entre finais do úculo xr e o fim do
monástico. Quando se deixava o centro destas exploraçôes em dirpc-
(
século XIII, com a constituiçâo de novas tenures em terras recuperadas ção ao bosque, peneúava-se logo nas terras cujas parcelas, os

aos pântanos (l). Indicaçôes mais explícitas são fornecidas pelos (


(t) SUGER, Liber de rebus in administrarione sua gestis (Ed. LECOY DE LA
MARCHE), I, p. 158.
(
lr) MILLER, 187, pp. 95 e segs.; RÀFTIS' 190' pp'74 c segs'
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( « essarts
» , tinham o nome de uma pessoa, o do camponês que
iniciara permitia distinguir dos mais antigos, a não ser o nome que tinha e, por
o abate das árvorcs ou a queimada do matagal. Acrcscentemos que os vezes, o traçado menos regular das suas parcelas.
( alódios de gente pobrc, bastante raros na viãúança da aldeia, aumcn- No termo deste progresso, bastantc lento e insidioso, o ganho foi
( tavam na p&rte rccentementê arroteada. Esta gente ústica rcivindicava por vezes considerável. Aprcsentamos alguns números, exEaídos dos
a posse plena dos campos que haviam rccuperado à grande florcsta do arquivos senhoriais ingleses. Na segunda metade do século x[,
( condado, e em geral rcpticiamente, escapando à vigilância dos guar- camponeses possuíam cento e quaÍ€nta hectares de terra desbravada
trinta

das florestais. De facto, podemos pensar que tais iniciaüvas indivi- no domínio de Cranfield, dependente da abadia de Ramsey; os Íeta-
duais de arroteamento, de uma maneira geral, fizeram proliferar, nos lhos lavrados pelos dependentes da casa dominiat viziúa de Holme
séculos XI e )(II, a pequena propriedade camponesa nas orlas dos cobriam cento e oitenta c três hectares no frnal do século }(tr e duzentos
espaços arborizados mal vigiados (t). quaÍenta e dois anos mais tarde (t;. Acontecia geralmentc que os
bosques e as terras incultas utilizadas na alimentação de gado fossem
assim empunados para longe da aldeia. Por vezes, a simples distância
.e o sentimento de perderem muito tempo. dêãamarem-OS-Ei§ãlávrar
gs õ ímfói _gnàsi'àiió aliÉ mdos db seu manCô, -travàffi oíãtàteado-
-
.o_

Deste modo, a cintura das terras incultas foi roída progressiva- r_es. Mas, muiE§ Vêzes-tambêrii;-qüanôõ*a§ aldeias s'e encôínaiàiri
mente. Nas orlas das chamecas ou da florcsta que, aliás, nessa época, muito perto umas das outras, quando eram separadas por uma barrcira
era geralmente bastante disseminada, erguiam-se primeiro, por aqui e bastante estreita de árvorcs e de pastagens, esta acabava por ser em
por ali, algumas cercas durante os tempos livrcs de tnverno. Os grande parte destruída, e as terras exploradas iam-se juntando. Pontos
talhôes assim protegidos e reservados à utilização do camponês que ali de referência, marcos, rírvores de frutos, cnrzes erguidas nôs cami-
tinha lançado fogo aos silvados e arrancado os cepos rccebiam pri- nhos assinalaram a partir de então os limites entre as exploraçôes
meiro a erva. Na maioria dos casos, um prado ocupiva dururrc vários paroquiais, no meio dos espaços abertos.
anos a terra desbravada (2). Em seguida, quando a terra s€ achava bem Esta forma de conquista mais comum foi, sem dúvida alguma,
drenada, era lawada para receber as sementes. Estas cercas dispersas também a mais prccoce, Por vezes, foi levada bem longe durante o
iam abrindo clareiras e r€talhando os bosques e os pastos. Constituíam século xln, Em 1241, os camponeses de Origgio, perto de Milão,
durante algum tempo uma zona intermédia entre a ter4_ipgglqe o deixavam ainda por cultivar quarcnta e cinco por cento das terras da
campo que Wolfram von Eschenbach descrcve no ser{panival)em aldeia. Nestas condiçôes, havia apenas dezasseis por cento em
Gauvain, onde durante tânto tempo tiúa andado a cavaliiõ-ísque, 1320 121. Parece que muitas regioes europeias não coúeceram na
«pouco a pouco a floresta aparcceu toda rctalhada; urna ponta de Idade Média ouEo modo de expansão das culturas. A rcgião de
bosque por aqui, um campo por ali, mas táo esheito que apenas seria Périgord, por exemplo, onde todas as explorações comunais dJhoje se
possível montar uma tenda. Depois, olhando em fientq viu uma formaram progressivamente, em auéolas sucessivas, em redor de um
região cultivada..." (3). Mas as parcelas tratadas aumentavam muito antigo domínio galo-romano que se tornou o local da aldeia (3). euase
próximas umas das ouEas, acabando por juntar-se e formar então um toda a Inglatena parece incluir-se no mesmo caso, dado que, na
novo talhão coeso de lavradio. Durante algum tempo as barrciras entre descrição do Domesday Book, os espaços solitários eram já bastante
os retalhos individuais eram mantidas, caindo em seguida: a terra raros e os lugares muito próximos uns dos outros (a). Todavia, em
agrícola era aumentada com um novo «cârlpo» aberto, que nada certas regiões, o aroteamento assumiu um outro aspectoS§hõntên-s'
-io
fu n a-aram noval_-ã'-déiãs n-d méiô -AãJ-aônlãs
"

na i
i ncuttas:
--

(r) DUBY, 241 , p.305; BOUTRUCHE, l?3, pp.76 e segs.; GEMCOT, 178,
p. 63.
(2) No bosque de Faviàrcs, perto de Paris, em 1208:
"Se um dos quc utilizam o dito (r) RAFTIS, l9O, pp. 12-7a.
bosque fizer um prado... Se [ansformar o prado em tena arável.,., lArchives Natio-
(2) ROMEO, 444.
nales, S, ll7, 530), py nÉNrloru, sr.
(3) VI[, verso l8 e 15,
(4) DÀRBY, 33, ver mapa p. l3l; LENNARD, Z53, pp.3 e segs.

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21
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3. As novas aldeias pedido a um bispo que transformasse a capela em igreja paroçial, ou (
porque o seúor da floresta aceitou limitar os seus direitos de caça (1).
Na alta Idade Média, vivos contra§tes opunham de facto rcgiôes Podemos pensar, entr€tanto, que a maioria das .vilas novali» nasce-
densamente ocupadas e semeadas de povoaçoes a outras que, pelo ram por vontade deliberada dos seúorcs, que pÍ€paraÍam a §ua
contrário, estavam quase ou mesmo totalmente desabitadas. Ainda em criação. Estes fundadories eram os detentores da autoridade rcguenga'
1086,, enquanto o sul do condado de Warwick se encontrava inteira- os pópÍios reis, os condes, os castelões, as grandes instituições
mente colonizado, os bosques cobriam quase completaÍnente o norte. religiosas e, na Itália do Norte, os seúorios colectivos que as grandes
Outro exemplo de nítida oposição: até ao século xt, a rcgião de Brie comunas urbanas constituíam. Salvo excepção, os vastos espaços
oriental surgia como um deserto florestal enüe a Champanha, coberta solitários pertenciam, de facto, à aristocracia mais alta. Esta, mu-
de pontos habitados desde antes da época Íomana, c os cantôes da dando de atitude, decidiu organizar o seu povoamento.
Ile-de-France, onde os homens tiúam conseguido, nos terrcnos leves Esta opção foi frequentemente ditada por consideraçõcs políticas.
e mais bem drenados e ao longo de séculos, demrbar os bosques, Tratava-se de reforçar a segurança de uma estrada povoando as flores-
expulsá-los das circunscrições e, pouco a pouco, reunir estas num tas que ela atravessava, ou entâo consoüdar a fronteira de um princi'
vasto campo aberto 1t;. Estas densas zonas solitárias, em que o peso pado, estabelecendo nos socalcos arborizados e despovoados que até
da terra, e, sobrctudo, a humidade, haviam impedido até entâo que os então formavam à sua volta, um vasto decüve protector das grandes
lavradores se aventurassem, foraÍn um pouco reduzidas nas orlas comunidades camponesas obrigadas ao serviço das armas. Foi assim
quando as exploraçôes agrícolas das aldeias limírofes aumentaram. que, na bacia do Garona, as asouvetés, dos séculos xr e lflI foram
Mas os habitantes não podiam estender eficazmente os seus anotea- marcando com lugares habitados os «camfuüos de Santiago', que a§
mentos para lá de uma certa distância. Mais adiante, alguns .desertos, *bastides, (bqgos fortificados) do seculo xm foram defendendo as
foram então colonizados por pioneiros, Deixando o lugarejo dos pais, fronteiras com pontos de apoio militares (2). Intervieram tambcm
estes homens vieram fundar a sua caria em terrcno virgem e hrtaram preocupaçóes de lucro. A nova aldeia ia constituir um novo cenEo de
contrâ a árvore, sobretudo na Bacia Parisiense, na França Ocidental e cobrança, no qual o bispo poderia lançar a dízima e o príncipe os
nas regióes do Garona, contra as águas torrcnciais no Vale do l,oire ou impostos tradicionais, os direitos de mercado, os impostos sobre os
na Lombardia, contra os pântanos na Germânia do Norte e do lrste e, agricultores e as multas. Sobre este a§pecto, seria interessante avaliar,
finalmente, contra o mar nos Países Baixos. de entre as taxas impostas aos aroteadores pelos §eúoÍ€s, a pÍopor-
Estes desenraizados, estes oaubaifls, (estrangeiros), como então ção dos renümentos agnírios e a das taxas públicas. Aparentemente,
eram chamados, estes "hóspedes", agrupavam-se, segundo paÍece, os fundadore3 ds «vilas [ovâs»r os seúoÍes do poder de comando
para a aventura, e travaram o combate em equipa. Destc modo, estavam, de facto, menos preocupados em fazer forciros do que gente
criaram através da reunião dos seus tnonses, não um habitat dissemi- dependente do seu poder e da sua justiça. heocupavam-se meno§ em
nado, mâs novas explorações, novas freguesias, novas aldeias,'em criar um seúorio rural do que em tornar mais rendível a exploraçáo do
suma, um quadro de vida social análogo ao que haviam deixado. Por direito de bano. Podemos mesmo interrogar-nos se as iniciativas dos
vezes, a reunião foi espontânea. Assim, os camponeses, que avança-
ram a partir dos campos viziúos ao longo dos camiúos florcstais e
que, no meio do século xI, construíram as cabanas lado a lado na
( r) DUBY, 247, p. 102 R. BAUTIER, "L.€s foircs de Champagne», em Recueils de
região de Charmée ou em Chapelle, no meio da floresta borgoúesa de
la Société Jcan-Bodin, La Foire, p. ll0,
Bragny, agruparam-se apaÍentemente por sua pópria^iniciativa. O (2) HIGOUNET, 285; ainda no scculo lav, o bailio, o adminisrador municipal e os
mesmo aconteceu com os estranhos p,rovenienrcs da Ile-de-France, almotacéis de Herstal, nas Ardenas, conÍiam a um conveÍso da abadia de Valdieu uês
que o conde de Champanha, cerca de cem anos depois, autorizou que bonniers de bosque para desbravamcnto a fim de constnrir um hospício para scrviço dos
se fixassem na floresta de Jouy, Assim se formaram por si póprias caminheiros, porque eÍa "um lugú perigoso e pouco scggro, com assassinos, ladrôes e
algumas aldeias, Vêmo-las surgir por acaso num texto, porque foi má gente', Cartuloire de l'abbaye cístercienne dc Valdieu (Éd. RtIrü/ET)' n.o 190
(133?). Os reis da GermÂnia encorajaram o povoamento dos bosques que lhes perten-
ciam, para reforçar a classe dos camponeses livres nos quais tencionavam apoiar-se,
(t) HARLEY, 2E3; BRUNET, 4(), pp. 443 e segs.; HUBERT, 29. BOSL, 452.

104 r05
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( Grigneville rcsponderam aos convites das religiosas de Yàres e que
grandes senhor€s não terão coincidido com o nascimento e o desenvol-
( vimento de uma fiscalidade eficaz, com o surto e a consolidação do rapidamente foram construir a cabana nas 'hosüses" (tenures) que
" banato. Sobre este ponto, as conftontaçôes cronológicas seriam reve- lhes foram oferecidas (l).
( Pelo contrário, a iniciativa mostrava-se muito mais difícil quando o
Iã-íoiil Do alargamento das clareiras e do aumento das culturas em
( volta das antigas aldeias beneficiaram simultaneamente certos campo- ermo era vasto e o sítio a colonizar despovoado, ou quando o terreno
neses e os pequenos seúorcs rurais, assim como os da dízima; esta exigia que os técnicos de drcnagem se fixassem Por ser demasiado
( primeira forma de aÍloteamento.deu, de facto, origem à propagaçâo ingiato para atrú a gente da regiâo. Impunham-se então grandes
( dos pequenos alódios e ao aumento do rendimento dos censos, das eslorços-paru recrutar, dcslocar os casus, fomecer-lhes o eqúpamento
rendas e das dízimas. Em contrapaÍida, o povoamento doq -e-n[os indispeniável, ou até alimentá-los durante os primeiros meses e ajudá-
( fl orest4-sepantanosos,a-fffi Flú-Eeaiõ-6nív-asaldêiasE-nenciaram -los á edificar os seus mânsos a enquadrá-los para os trabalhos colecti-
( 'sobrõtuilô o§".si-ne§,-is1oé, ô§:Íi-e-m:liÍoi áã ata uistocraciapolidça- vos. O senhor, que muitas veze§ era um grande príncipe, hesitava em
A' criação-das*+ilas-novess--nib"1éiá-dâdô' Co§ seúores territoriais, encaregar-se soiiúo da publicidade, da reunião de capitais, da pó'
( desde os mais modestos castelóes até aos proprios rcis, um rcmédio pria dirccção do loteamento. Procurava então associados e redigia com
ãles contratos escritos. Por isso, temos múto melhores informaçóes
( contra as dificuldades financeiras quc, na segunda metade do século
sobre as formas mais arriscadas e delicadns da colonização do que
xII, começaÍam a pressioná-los duramente? Podemos pensú que as
( iniciativas de colonização rcalizadas em grande escala apoiaram múto sobre o crescimento espontâneo e sem história da maioria das explora-
( eficazmente o crcscimento de muitos principados feudais, o dos çóes da aldeia.
condes da Flandres, por exemplo, ou dos bispos da Germânia do Frequentemente, o a§sociado era um encarregado subalterno, de
( Noroeste il). uma cóndição social muito inferior à do seúor, que podia ocupar-se
do assunto e obter beneficios. Muitas vezes encontramo§ nesta função
( membros da *familia, seúorial, ministeriais. Por vezes, çando se
( *** trata de uma comunidade rcligiosa, um dos irmãos, como cónego,
recebe delegação do bosque a povoaÍ e a atribuição pessoal de uma
( Para estes seúores, o problema consistia em atrair novos habitantes parte dos rcádimentos futuros, Mas, mútas vezes, um dos Íilhos mais
( paÍa a terra até então considerada hostil. Deviam, portanto, atribuir àovos de uma família de cavaleiros encontrava numa taÍefa deste
previamente e por essa razão a iniciativa não podia partir dos género a opornrnidade de se estabelecer, de criat um pequeno seúorio
( -
detentores do poder público um estatuto jurídico particular ao local [essoal quê completava a sua partc da herança,
que lhe permitia sú

(
-
escolhido para a futura aglomeração, dotando-o de privilégios que àa casa paterna, casú-se e manteÍ a sua condição' Foi o caso do
pudessem tentar os imigrantes. Nos seculos )« e xII, erguiam-se cruzes cavaleiroEudes, que os monges de Saint-Avit de Orleães encÍurcga-
( Íam em 1207 de povoar e de cultivar a suâ terra de Cercotrcs; tiúa
que delimitavam uma «s*uvêté» ou um iàour8,, isto é, um espaço
usufruto total da tórra, apenas devendo pagar uma renda anual de dois
( protegido pela paz de Deus, onde as violências eram proibidas e a
segurança rcforçada. Mais tarde, rcdigia-se previamente uma carta almudes de cereal (2). Este sistema de cooperação foi bem estudado
( que limitava as exigências senhoriais e prccisava o rcgime de favor de nas teras de colonização da Alemanha Oriental. Vemo§, a partiÍ de
que gozariam os hóspedes. Por vezes, o local assim aberto ao povoa- meados do século xu, na regiáo intermédia do rio Blba, que aumenta o
( mento enconEava-se póximo de aldeias superpovoadas, onde os número de locatores, familiares do príncipe, eclesiásticos ou laicos,
e camponescs pobrcs e os filhos mais novos das famílias eram rapi-
A
por vezes gente da cidade, todos procurando aumentar numa explora-
iáo rural õ seu pequeno capital em denários. Era-lhes aribuído um
damente avisados das vantagens prometidas. transferência
( efectuava-se facilmente. O que aconteceu, por exemplo, em Bonlieu, õspaço desabitado, que devia ser repartido num número de explora-
( na região de Beauce, cerca de 1225: foram homens da tena viziúa de çôês fixado previamente' CabiaJhes delimitar as
parcelas, aliciar imi-

( (l) VAN DER LINDEN, 310, A escasscz dc .vilas novas, na lnglrrcrra nirr podcrá (r) Archives Nationalcs, LL., 1599 B, p. 143.

( ser relacionada com o fraquíssimo âumento dos @eres seúoriais privrdos? (2) Cartulaire de Saint-Avit dorléans, n.o 50.

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grantes e estabelecê-los. Pelo seu trabalho rccebem um importante lote
têm hoje: são as .villeneuves», as *neuvillss», os .abers.ements' (
de terras e uma parte dos direitos scúoriais lançados na aldeia, que (concessóes de terras para arroteaÍnento) e, nas regiões de língua
irão contribuir para o seu nascimento. germânica, todas as aglomeraçóes cujo topónimo é constituído por um (
Mas, muitas vezes, tamtÉm o seúor do .ermo, era acompanhado nome de homem e por um sufixo: berg, feld, dorf, rode otl reuth.
por outro na feitura dos contratos que em França têm o nome de (
Estas aldeias tambem apÍesentam frequentemente gma estrutuÍa paÍti-
«pariages» (parcerias). Segundo estes pactos, cada contratante
cular. A fotografia aérca revela, como numa aldeola da lnglaterra, a (
comprometia-se a participar. Um dava a terra e os direitos de bano
estrita igualdade das parcelas ouüora atribuídas a cada famflia de (
sobre o espaço inculto, o outro o poder ou as rclações que permitiriam pioneiros (l). Muitas aldeias de colonização florestal desenvolveram-
recrutar os homens, o diúeiro que devia garantir a sua insalação. Os -se em liúa, ao longo do camiúo de penetraçâo, e o abate do bosque (
lucros da iniciativa, em particular o produto das taxas banais, eram foi levado a cabo nos dois lados em longas tiras de e para lawadio, que
depois repartidos igualmente. Coúecemos sobretudo as associaçôes (
tinham a casa e a cerca à beira do camiúo.
deste género que uniram uma instituiçâo eclesiástica e um seúor
(
laico. Mais uma vez, uma questão de documentação, pois só a gente
da Igreja mantinha os arqúvos em ordem. (
Na realidade, os eclesiásticos e os monges foram efectivamente
(
chamados a participar, porque possuíam rcs€rvas de valores mobili- As linhas precedentes estâo cheias de alusôes às participaçoes
ários. Através da rcde de congregaçóes e suas filiais, os estabeleci- extemas de capital. Alargar a clareira da aldeia não exigia qualquer (
mentos religiosos tamtÉm se encontravam em melhor posição para capital: a transfeÉncia para as franjas dos terrcnos arroteados de uma
organizar a divulgação nas regióes superpovoadas distantes. Por ve- (
pequena quanüdade de mão-de-obra, liberta durante os períodos
zes, a terra pertencia-lhes. Neste caso, entendiam-se com o príncipe mortos da cultura, o crcscimento natural da populaçâo camPonesa, (
paÍa que este modificasse o direito tenitorial e concedesse as franqúas
conjugadoi com os ténues aperfeiçoamentos do equipamento agrícola, (
que deve-riam iniciar a coÍrente de imigraçâo. Frequentemónte, bastavam para levar por diante este lento movimento de conqústa. Em
monges ou cónegos, rcnunciando à exploração directa, prctendiam de (
contrapartida, para criar uma vila nova, era prcciso que o empreende-
facto dividir em lotes uma «gÍanjâ», um domínio isolado na florcsta, e
fazer dela uma aldeia. Os Prémontés assim negociaram em 1220 com (
o conde de Champanha a sua granja de Sepdontaines, e muitas (
"bastides, da Aquitânia nasceram deste modo. Outras vezesi era o
senhor da floresta que solicitava um «paÍiage» com os homens da (
Igreja, bons rccrutadorcs e bem providos de diúciro. Foi o que fez, nessa altura que uma parte das riquezas acumu- (
por exemplo, Bouchard de Meung que se associou, em 1160, aos ladas lentamente nas casas aristocráticas enEou em circulação para ser
Hospitalários de Orleães para o povoamento do seu bosque de Bonne- directamente investida na produção de cercais. Este período decisivo
(
ville; estabelecia o direito da terra e o direito banal da futrua explora- do crescimento agrícola deveria ser situado muito precisamente no (
ção; esperava que os Hospitalários equipassem o tenitório com os tempo.
hóspedes e uedificassem» sessenta arpentos (l). A bem dizer, seria preciso uma investigação global para melhor (
As aldeias assim criadas tornaraÍn-s€, por sua vcz, novos fermentos datar o movimento (o que não é possível apenas com as indicaçoes (
de colonização. Os seus,domínios alargaram-se progressivamente co- toponímicas e topográficas). Adiviúa-se que começou bem cedo em
mo antes acontecera com os das antigas aldeolas. Deste modo, algu- certas províncias. Na região de Mâcon, todas as aldeias novas já (
mas das grandes extensões desertas e selvagens que cobriam as rcgioes
estavam instaladas muito antes de 1060, e as «sauvetés, da região de (
do Ocidente foram-se desagregando pouco a pouco. As aglomerações
Toulouse foram criadas por volta de 1100, Na Normandia, onzÊ,
camponesas nascidas nesta época ainda se rccoúecem pelo nome que (
"burgos, surgiram antes de 1066, depois trinta e dois antes do fim do

(l) HIGOUNET,T29I; Archives Nationales, S, 50101, fl. 43 v.o (


(r) BERESFORD,36, p. 97.
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século xI, quaÍenta e seis no século xtr, quaÍ€nta e sete nos anos a século lü e no século xtr, esta forma de povoameúo por dispersão
seguir a 1200. As aldeias de estnrtura linear, instaladas nas florcstas expandiu-se certamente em certâs regiões nos espaços rccentemente
ganhos para a cultura. Muitos destes novos afastamentos foram de
da região de Brie nos séculos xI e xII, veio juntar-se toda uma família
de "vilas [ovâs» (l), Um mapa de todas as novas aldeias cuja criação origem religiosa. O surto da circulação viária deu origem à fundação
é atestada por documentos escritos çe mencionasse a data do seu de casas de Deus e hospitais nas paÍtes mais desertas dos itinerários.
aparecimento e cobrisse o conjunto da Europa, seria exEemaÍnente
As filiais das ordens de eremitas, como as de Chartres, eruGmearam as
preciosa. Revelaria, sem dúvida, inúmeras discordâncias rcgionais; zonas solitárias. Tambem em grande número, ;o1atn gri6dâs «gran-
jas», quer por cónegos regulares e monges de Cister, quer por antigos
mostraria uma expansão feita por vagas sucessivas; tambem faria
surgir espaços vazios: como o sul da Borgoúa ondc não existem nem mosteiros, como Cluny ou Saint-Denis, que os imitaram. Todas estas
grandes explorações foram instaladas à margem das antigas jurisdi-
cartas de povoamento, nem fundações scúoriais. Tal emprcendi-
mento caÍtográfico, que não é nabalho desmedido, forneceria aos çôes. Alguns substituíram mesmo antigas aldeias cujos ocupantes
historiadores da economia, aos das estruhs políticas, rcligiosas e até foram residir noutro local, depois de terem cedido aos rcligiosos os
( seus direitos sobfe as terras (l). Mas em certos casos, o novo habitat
culturais, um instrumento de trabalho de excepcional interesse.
( Adivinha-se já que o movimento foi prosseguido no século )«v nos disperso nasceu por iniciativa de alguns pioneiros camponeses que
confins setentrionais e orientais das regiôcs germânicas, que se escolheram não viver tão agmpados.
( Por vezes, a separação dos terrenos cultiváveis impunha efectiva-
mantém vivo em meados do século xItr nas regiões da Aquitânia, onde
preocupaçôes estratégicas paÍecem É-lo rclançado. Todavia, quase mente a dispersão. Por vezes, os colonos instalavam exploraçôes de
por toda a parte e especialmente na Bacia Parisiense, uma das regiões dominante pastoril e a preocupação de ficarem nas proximidades das
de eleição das .vilas flovâs»r o seu avanço paÍece ter parado definiti- terras de pastagÊm levava-os a construiÍ «vacarias» e «rcdis» a uma
vamente em 1230-1240. Apos o primeiro terço do século )ctr, nas certa distância uns dos outros. Este tipo de povoamento tornou-se
regióes onde a sementeira das comunidades aldeãs era pouco densa, a assim predominante nas regiões ganhas ao mar, onde as novas terras
conquista agrária ainda prosseguiu. Mas na maioria dos casos, os
foram votadas essencialmente à criação de gado durante vários anos,
pioneiros já não estavam agnrpados. Tentavam a aventura individual- até que o sal fosse rctirado. Nos poldars flamengos, nas margens do
mente e construíam a sua casa à parte, no meio das terras que haviam Lincolnshire, as casas de finais do século xlt eram construídas na
arroteado. estrada ou sobre os diques, mas isoladas umas das outras pela grande
extensão de pradarias e de pântanos, cercada e com um só dono, que
as rodeava. Tratava-se no fundo de aldeias de uma só rua, mas de
4. O povoamento intercalar textura táo aberta que a comunidade de habitação se encontrava
totalmente deslocada.
Na alta Idade Média, já existia entne os lugarejos e as aldeias um Seria imprudente generalizar os resultados de observaçoes ainda
habitat isolado. Mas estes domicflios eram na maioria dos casos demasiado fragmentárias. Entretanto, parece que os domicflios rurais
temporários e móveis, ocupados por homens dos bosques, eremitas, isolados se multiplicaram no século xm e, sobrctudo, desde cerca de
caçadores, ou criadores de porcos que eram bastante numeÍosos, em 1225. Muitas das exploraçôes isoladas fundâdas nesta época foram-no
paÍicular nas florcstas anglo-saxónicas (z). A Gália franca talvez por senhores e constituíram o centro de grandes explorações, compa-
tenha conhecido tambem alguns cultivadores solitários. No século x, ráveis pela sua extensão às granjas monásticas instaladas no século
precedente. Descobri que, no século )on, em Mâconnais, as habita-
as montanhas de Auvergne .estavam semeadas de casas isoladas e
certas quintas da rcgião de Brie, afastadas das aldeias, pareciam çoes dos cavaleiros tiúam tendência para se deslocarem a partir do
instaladas no local de explorações galo-romanas (3). No final do meio da aldeia, onde se encontravam instaladas desde tempos remotos
próximos da igrcja e, cercamentê, muitas vezes no póprio local de
uma villa romana, nas suas orlas, abrindo-se para o que ainda subsistia
(r) DUBY, 247, p. 302; OURLIAC, 302; BOUSSARD, 2ó4; BRLINET, 40.
(2) LENNARD, 253, pp. 14-15.
(3) FEL, 50; BRUNET, 40, p. tl4l.
(I) EPPERLEIN, 486.

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da cintura florestal 1t). Valeria a pena verificar se o fenómeno foi
"bastides" pelos patrícios das cidades. Estas firmes exploraçóes
comum e, neste caso, procurar explicá-lo. Este afastamento terá sido coesas constituíram-se a partir da anexação de parcelas adquiridas nos (
provocado pelo desejo dos fidalgotes de marcar melhor as distâncias confins dos talhoes aráveis e mantiveram-se separadas voluntaria-
que os colocavam juridicamente acima dos óamponeses, numa alrura
(
mente da comunidade agrária da aldeia. O fenómeno foi bem estudado
em que a sua superioridade económica começava a ser posta em à volta de Metz, onde, num raio de uma dezena de quilómetros, (
causa? Desejariam, deste modo, garantir um espaço suficiente para numerosos estabelecimentos burgueses surgiram deste modo entre
seguir uma nova moda aristocrática e cavâÍ um fosso em tomo da sua (
1275 e 1325 (1). Mas os talhoes de terras incultas que não foram
casa, para fazer uma «casa forte», a éplica reduzida de um castelo? incorporados no perímero das clareiras aldeãs não foram unicamente (
Os motivos não seriam antes de ordem económica? Os pequenos semeados de novas e grandes casas de ricos. A maioria dos lugarejos
senhores, desapossados das terras cenftais da exploração devido às afastados que nasceram nessa época eram casebres camponeses, como
(
esmolas dadas pelos seus antepassados, terão querido aproximar os os que foram erguidos entre duas aldeias da tre-de-France, Corbreuse (
seus celeiros e estábulos das novas *coútures» recentemente Íurotea- e Brétencourt, no meio dos seus pastos comuns. A sua existência
das pelos seus criados e das pastagens de que tiúam usufruto exclu- é-nos confirmada por documentos de um processo, resolvido por (
sivo? De facto, não faltam vestígios de iniciativas de conquista agníria inquérito em 1224. Os colonos viúam de Corbrcuse; a gente de (
que levaram à reconstituiçâo dos domínios nobres longe das antigas Brétencourt foi demrbar as cercas das novas cabanas e o seu gado,
explorações. Muitos pequenos fidalgos franceses esforçaram-se assim pastando livremente, devastou as hortas e os prados novos. As teste- (
por aumentar o património, como os cavaleiros que, em 1219, recebe- munhas requisitadas pelos inquiridorcs lembravam-se ainda que uma (
ram do cabido de Nossa Seúora de Paris cem talhões para desbravar, primeira casa tiúa sido construída em I175, uma segunda vinte anos
com proibição de os conceder a uhóspedes,, E encontramos, em mais tarde. Neste local, certos camponeses tiúam, pois, preferido a (
-peados do século xll, nos campos de ile-de-France, muitas casas ou solidão ao agrupamento desde finais do século xtr (2).
recintos, com hortas cercadas e fossos completamente paliçados, re-
(
No decurso do século xfll, a escolha de uma habitação isolada
centemente construídos por gente da pequena nobreza (2). tornou-se comum à maioria dos pioneiros que se estabeleceram nas (
Esta deslocação das casas nobres deve ser, em todo o caso, rela- regiões mais povoadas, no meio de largos intervalos que separavam
cionada com a criação de «gagnages» (zonas de pastagem) ou de ainda uns dos outros os territórios das aldeias. O facto é nítido na
(
região de Brie. Depois de 1225, após tercm sido fundadas as últimas (
"vilas novaso, uma última vaga de povoÍrmento disseminou os lugare- (
jos no que subsisüa de
"desertos". O mesmo é evidente nas terras altas
do Maciço Central. Em Margeride, a organizaçáo actual d,o habitat (
(r) DUBY, 247, p. 590 rural foi estabelecida perto do século xw aEavés da dispersâo de casas
\2) Cartulaire de Notre-Dome de Paris (Ed. GUÉRARD), I, p. 399; lt, p.29'1 .
isoladas. A região de Maine foi colonizada da mesnna maneira. Na
(
Num curso dado na Escola de Altos Estudos, em 196 I , e numa conferência pronunciada
no mesmo ano em Aix, M. POSTAN exprimiu a sensaçáo de que seria preciso região de Bresse e na montanha de Beaujolais, região de casais e não (
compreender também, entre os motores mais acüvos do arroteamento, o esgotaÍnento de aldeolas como nas colinas viziúas da região de Mâcon, sabe-se
dos solos das antigas culturas. No úculo )ott na lnglaterre, certBs terras das casas que número de lugarejos isolados foram fundados após 1240. O (
senhoriais, vítimas de uma exploraçáo cercalífera demasiado intensiva, teriam, scgundo
ele, perdido a sua fertilidade e ter-se-iam tomado defrnitivamente incapazes de produzir
fenómeno observa-se tambem na Inglaterra, no circuito das florestas (
cereais para panificação. Para compensar esta deterioração, os seúores teriam entÃo
reais. Na orla da floresta de Peak, entre 1216 e 125 l, o juiz autorizou
abandonado estes campos aos camponesês e teriam experimentado e cultura em terras que cento e vinte e seis camponeses consfiuíssem um «pourpris»,isto (
ainda virgens e, Iogo, de menor qualidade: o arÍotesmento teria então assumido é, um recinto isolado de uma casa. As regiôes de Devon e a norte de (
parcialmente a Íigura de migraçâo. Aguardemos, para examinar mais de perto esta Warwickshire, que foram povoadas apos 1086, sáo também zonas de
hipótese, a próxima pubticação do eminente historiador economists. Assinalemos desde
habitat disperso. Tal como o planalto bávaro, os Alpes austríacos, os (
já que ele nos dá uma explicaçâo sedutora sobre a transfeÉncia dos domínios seúoriais
aqui ratados. Em contrapartida, a frxidez dos sítios da maioria das aldeias francesas (
desde a época galo-romana leva a pensaÍ que as condiçóes técnicas e pedológicas da (l) SCNEIDER, 333, pp. 394 e segs.
agricultura evoluíram de maneira diferente deste lado da Mancha. (2) Cartulaire de Notre-Dame de Paris (Ed. CUÉRARD), II, p. 307 (
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Kampen dos arredores de Bois-le-Duc, onde a colonização camponesa
velha economia colectiva que, através da utilização dos bens comuns,
se desenvolveu posteriormente ao século xt 1t;.
da construção periódica de cercas temporárias, fazia altemar nos
talhões lavrados a cultura individual e a criação de gado em comum,
*** foi subsütuída por um sistema de individualismo agrário. É evidente
que o vivíssimo interessc de um estudo profundo, simultaneamente
cronológico e geográÍico, do movimento de dispersão. Terá começado
Este novo modo de ocupaçáo da terra rcflecte uma mudança de
por toda a parte a desenvolver-se por volta de l22O? Em que momento
atitude de primordial importância, uma nova disposição do homem
será preciso situar a sua fase mais intensa num ou noutro local? Creio
relativamente à natureza. Efectivamente, determina o alargamento de
que este estudo deveria ser levado a cabo conjuntamente ao do poder e
um tipo particular de paisagem, onde domina o recinto permânente.
da fiscalidade seúoriais. Em certas regiões podemos, de facto, obser-
A cercadura é certamente de origem complexa. Encontram-se vaÍ, no decurso do úculo )üII, uma especie de explosão do seúorio
exemplos nos tempos mais recuados. Vêmo-la nascer tamtÉm em
épocas muito recentes. Mas inrirneras pesquisas mosEaÍam que â de aldeia. Criou-se então o hábito de impor as taxas de bano casa a
maioria das regiôes onde existem ceÍcas, a França e a Alemanha, casa, obrigando o homem submetido às derranras a ter residência
correspondem a zonas de povoamento tardio, geralmente postcrior ao
hereditária no manso que ocupava. Não deveremos considerar esta
século xm. Quando o aroteamento era levado a cabo cm volta de uma mudança como uma adaptação dos métodos de cobrança ao r€cente
aldeia, as terras desbravadas, como dissemos, ficava[r com cercâ fraccionamento do habitat?
durante algum tempo. Mas a partir do momento em que se juntavam Se nos interrogarmos sobrc as razões que levaram os pequenos
para constituir um talhão compacto, este tomava-se, como as antigas agricultores a estabelecerem-se isolados, podemos invocar em pri-
parcelas de lavoura, um (campo» medianrc a desruição das cercas meiro lugar o simples efeito dos progrcssos do desbravamento. Che-
permanentes. Contrariamente, ao instalar-se à distância, no meios das gou a altura em que, para não toÍEm que ÍÊgt€ssar à aldeia todas as
tenas incultas onde conseguira ananjar um domínio de uma só parce- noites quando dos grandes üabalhos, os anoteadores construíram nos
la, que ficava rodeado pelas terras de pasto, o explorador isolado campos mais distantes um abrigo de circunstância, que depois se
erguia uma cerca duradoira, em sebe ou em pedra. De facto, nos tornou o local de uma ocupação pêrmanente. Mas tratar-sê-ia apenas
textos medievais, a cerca, salvo raras excepções, acompanha o habitat de uma adaptação à distância? Podemos pensar tambem çe, muitas
disperso. Efectivamente, a cercadura tem rês funçôes principais. vezes, a aquisiçâo de uma mclhor utensilagem veio permitir, a partir
Resíduo do bosque e seu substituto, a sebe de arbustos fomece em do século )OI, que os casais camponesês se arriscasscm isoladamentc a
primeiro lugar certos produtos tadicionais da floresta, as ramadas, os libertar-se das antigas necessidades de enteajuda (l). Não seria
piques, a folhagem para a casa do gado ou a forragem de lnvemo. também frequentemente uma questáo de solo? Conviria verificar se a
Além disso, protege as searas pêrmanentcmente ameaçadas pela de-
última fase da conquista agrária não se teria estendido aos terrenos que
vastaçáo do gado e dos animais selvafens. Finalmente, e sobrctudo, a exigiam uma coordenaçâo diferente e mais indiüdualista da cultura
barreira pennanente é um símbolo de posse, a mârca e a muralha de cerealífera e da criação de gado e, nomeadamente, impunham um
uma exploração individual isolada no meio das tenas de utilização
predomínio desta última. Enfim, os homens ricos, seúores ou
colectiva. Coloca o conjunto dos campos sob o regime protegido de burguescs, que adiantavam diúeiro aos armteadores não teriam então
que apenas as hortas tiúam ouhora o monopolio (2). descoberto que podiam esperar uma melhor rclação do capital inves-
A colonizaçáo por casa dispersa, ou seja, por recinto fechado, tido ajudando a criar, não clareiras agrícolas exploradas pela colectivi-
modificou profundamente a situação económica da exploração. A dade de uma aldeia, mas exploraçóes isoladas? Esta última forma de

(r) BRUNET, 39; FEL, 50; LATOUCHE, 216; DUBY, 247; FIMERO, l?6;
HOMANS, l5l;
JANSEN, 622; WIESSNER, 50s. ( t; Destc modo, na lúlia setcntrional, a diÂrsão do Àaàirar dispcrso parccc rcr sido
(2) MEYNIER, 60; BRUNET, 39; BADER, 34, pp. 100 c segs.; CHÂUMEIL, 42. favottcido pelo invcstimcnto dos crpitsis uôanos çc rtforçaram o cçipamento .los
explorações camponesas e lhes prmitiram individualizar-sc.
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arroteamento reflectiria assim um movimento profundo da economia na região parisiense, em meados do século xm na alta Prrovença como
rural, um desvio dos investimentos para as produçóes pastoris. na Picardia, onde todo o terreno de valor se enconu?va nessa altura
Efectivamente, podemos acrcditar que a modificação do sistcma de anoteado. A paragem observa-se tambem na mesma altura nos (
cultura, implicado pelo aspecto que a colonizaçáo então assumiu, foi campos ingleses onde predominava a agricultura, nos domínios da
estimulada pela abertura dos circuitos de tnoca e, nomeadâmente, por igreja de EIy, por exemplo. E vemos a colonização de Brie terminar (
um comércio mais activo das cames, das lás e dos couros (l). Em por volta do início do século xÍv (l).
A bem dizer, estes termos cronológicos, que constituem um dos (
apoio desta suposiçâo, verificamos que os iniciadores da mudança não
foram os camponeses, mas os seúorcs, os primeiros a estar implica- mais importantes maÍcos da história rural europeia, estão longe de se (
dos nas especulaçóes comerciais. Os monges de Cister deram o exem- verificarem por toda a parte com exactidão. A sua verificação minu-
(
plo desde o século xu; os fidalgos ricos e os patrícios imitaram-nos. ciosa impôe-se. Assim, a opinião comum considera que não foram
Os mais humildes prosseguiram-no mais tarde. A casa isolada e um criadas mais explorações isoladas em Artois depois de 1270; no (
lote compacto de terras rodeadas de sebes (que não só protegem os entanto, verificamos, em 1316, que um seúor desta regiáo faz o
campos do gado esEanho, mas encena o do seúor e reserva-lhe toda a loteamento de um dos seus bosques, instalando nele sete famílias e (
erva) parecem corrcsponder de facto a um organismo de produção em criando assim uma aldeola (2). Contudo, está b€m demonstrado que, (
que a criação de gado na pradaria natural constitui o principal rccunro desde os últimos anos do século xm, se iniciara aqui e ali um
e em que a cultura dos cercais r€prcsenta um complemento, certa- movimento de rccuo. Certos solos, que deprcssa se deterioraram (
mente de grande importância, mas secund'ário. Assim, a colonizaçâo depois de terem sido'fabalhados, começavam a ser abandonados. (
em ordem dispersa do século xm poderia bem manifestar, após o Tomo como exemplo o que aconteceu nas montanhas da rcgiâo de
período de fundação das "vilas lovas»r uma espécie de rcfluxo do Beaujolais. Um pequeno seúor pretendera criar ali, por volta de (
surto propriamente agrícola. Durante a última etapa da conqüsta dos 1240, uma dúzia de exploraçôes camponesas dependentes; em 1286,
(
solos utilizáveis, será preciso ver então na expansão dos lavradios um três desses mansos encontravam-se abandonados e o seúor vendia
fenómeno secundário, subordinado ao surto pastoril e a urna explora- todo o terÍeno em condições pessimas (3). Julgamos possível pensar (
ção mais intensiva das pastagens. que, a partir dessa época, salvo talvez nas novas exploraçôes isoladas
votadas sobretudo à criação de gado, o aroteamento ultrapassara o
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patamar pedológico, para lá do qual o rcndimento da agricultura (
cerealífera deixava de compensar os esforços do cultivador.
As rcflexões precedentes pro@m, portanto, um quadro de pesqui-
(
Qualquer que seja o valor destas hipóteses e o destino que as futuras sas. Convidam a distinguir tipos de «iupação agrícola, a situá-los mais (
pesquisas lhes vierem a dar, o esforço de expansão agrícola esgotou- exactamente no tempo e no espaço. Para começar, o que sabemos hoje
(
-se, segundo tudo leva a crcr, desde o início do século xm. Em das regioes onde os documentos inventariados são mais densos, na
algumas regiôes não parece vergar até depois de 1300, como no França do NoÍe e do Centro, nos Países Baixos e na Alemanha (
longínquo leste da planície germano-eslava, na Lombardia, onde pros- renana, permite-nos, assim, representar, mas provisoriamente, o ritrno
segue a domesticaçâo das torrcntes alpinas, nas montanhas do Jura e geral do movimento de conquista agnária. Parece ser composta por três (
no Norte do condado de Warwick. Mas vêmo-lo parar a partir de 1230 fases sucessivas, O alargamento das clareiras primitivas, obra prcdo- (
minantemente camponesa e levada a cabo no quadro da comunidade
da aldeia, pâÍece tercomeçado aqui e acolá desde o século x; pode (
1t) Convüa po-la em relaçÃo com as modificaçoes que então se adiviúam nos (
regimes alimentares, com o aumento da procura de carne e de produtos leitciros,
particularmente forte por parte dos meios uôanos e aristocráticos. Na Iúlia do Nortc, a (I) HILTON, 36; CAUSSIN, 277; BISHOP, 263; MILLER, 187; BRLNET, 40, (
extensâo, na mesma época, de um tipo de paisagcm compartimentada, em que a.sebc pp. M6 e segs.; SCLAFERT, 76, p. 37.
constitui um dos elemcntos prepondcrantcs, liga-se ao desenvolvimento das culruras (2) MARTEL, 299; La chronique et les chartes de I'abbaye de Maroeil (
arbustivas: ainda aqui, a penetraçáo de cconomia uóana paÍ€cc scr o principal factor de (Ed. BERTIN), n.o 195.
mudança. (3) PERROY, 225, pp. 129 e segs. (
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( mesüo acont€cer que este surto teúa prolongado dircctamente, em
certoC,.easos, uma lenta .cxpansão antcrior. Encorajada pclos grandcs
( scnhores', a ftrndaçâo de aldeias lovas começou mais tardc na maioria
( das regiões, e tenÊmos, oerüamcntc, que situar cntrc 1150 e 1200 o
momcnto de maior intensidadc desta s€gunda vaga, Finalmente, um
( terceiro período é caracrcrizado por um abrandamento progrcssivo,
( mas, cm certas rcgiõcs bastante brusco; exccptuando a Alemanha de
Noroeste, onde cntâo se formaram novas aldeias (l), os únicos pm'
( grêssos notáveis quc ainda sc manifcstam em algumas zonas Ílorcstais
parccem llgados ao poyoamento dispcrso c ao suío dà actividadc
( pastoril. Mas claborar este esqucma problcmático, cquivale, como é
( evidente, a convidar de imediato à sua rcctificação c, se for caso disso,
à sua destnrição.

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(l) TIMM, 528, pp. 98 c scgs.


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