SP 1 Hipertensão
SP 1 Hipertensão
Epidemiologia:
Doenças cardiovasculares são as principais causas de morte, hospitalização e atendimentos ambulatoriais.
Mundo: em 2015 o número estimado de adultos com HA era de 1,13 bilhões sendo 597 milhões de homens e 529 milhões
de mulheres
Brasil: Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, 21,4% dos adultos brasileiros autorrelataram HÁ, com maior
prevalência entre homens. Acima dos 70 anos é de 71,7%.
Em 2017, ocorreu um total de 1.312.663 óbitos, com um percentual de 27,3% para as DC
Diagnóstico:
PA deve ser medida em todas as avaliações médicas
Equipamento: esfigmomanômetros auscultatórios ou oscilométricos (aparelhos digitais).
Recomenda-se que o diagnóstico de HA seja baseado em medições repetidas da PA em consultório em mais de uma
consulta, exceto quando é HA estágio 3 e especialmente em pacientes de alto risco.
Recomenda-se que o diagnóstico de HA seja baseado em medição de PA fora do consultório com MAPA e/ou MRPA,
desde que essas medidas sejam viáveis (logisticamente e economicamente).
Etapas da aferição:
1. Determinar a circunferência do braço no ponto médio entre o acrômio e o olécrano.
2. Selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço.
3. Colocar o manguito, sem deixar folgas, 2 a 3 cm acima da fossa cubital.
4. Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial.
5. Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso radial.*
6. Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula ou o diafragma do estetoscópio
7. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela palpação.
8. Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo).
9. Determinar a PAS pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff)
10. Determinar a PAD no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff).
11. Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e, depois proceder,
à deflação rápida e completa
12. Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a PAD no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e
anotar valores da PAS/PAD/zero.*
Classificação:
Consultório: PAS PAD
PA ótima ↓120 ↓80
PA normal 120-129 80-84
Pré-hipertenso 130-139 85-89
HÁ estágio 1 140-159 90-99
HÁ estágio 2 160-179 100-109
HÁ estágio 3 ≥180 ≥110
Fora do consultório:
AMPA = automedida da PA → Sugere-se um número mínimo de sete medidas realizadas no período de 16 a 72 horas.
Normalidade igual MRPA. (pandemia/teleconsulta)
MAPA = Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial
Vantagens: Leituras noturnas, permite medições em condições de vida real, permite avaliar a variabilidade da PA em
períodos curtos de tempo, etc.
Desvantagens: custo elevado, disponibilidade limitada, pode ser desconfortável
PAS PAD
PA consultório ≥140 ≥90
Sono ≥135 ≥ 85
Vigília ≥120 ≥70
Efeito do Avental Branco (EAB) e Efeito de Mascaramento (EM): diferença da PA entre as medidas obtidas no
consultório e fora dele. Diferenças ≥15 mmHg na PAS e/ou 9 mmHg na PAD indicam EAB significativa. Não muda o
diagnóstico, porém ajuda na identificação de indivíduos com risco de ter diferenças relevantes na PA dentro e fora do
consultório
Hipertensão do Avental Branco (HAB): PA é elevada no consultório, mas é normal fora dele
Hipertensão Mascarada (HM): PA é normal no consultório, mas é elevada fora dele
DIURÉTICOS (DIU)
Ação: efeitos natriuréticos → diminuição do volume circulante e do volume extracelular.
1. Tiazidicos (hidroclorotiazida, clortalidona e indapamida): são preferencias devido serem mais suaves e com maior
tempo de ação
2. DIU de alça (furosemida e bumetanida): reservado às condições clínicas com retenção de sódio e água, como a
insuficiência renal e situações de edema (ex. sind. Nefrítica)
3. Poupadores de potássio (espironolactona e amilorida): costumam ser utilizados em associação aos tiazídicos ou
DIU de alça
Efeitos adversos: fraqueza, cãibras, hipovolemia e disfunção erétil. Hipotassemia (efeito metabólico mais comum).
Alfabloqueadores
Ação: antagonistas competitivos dos receptores alfa-1 pós-sinápticos, reduzindo a RVP sem mudanças no débito cardíaco
Exemplo: doxazosina e a prazosina
Efeitos adversos: hipotensão, tolerância, incontinência urinária
Vasodilatadores Diretos
Ação: Atuam diretamente, relaxando a musculatura lisa arterial, levando à redução da RVP
Exemplos: hidralazina e o minoxidil
Efeitos adversos: cefaleia, flushing, taquicardia reflexa e reação lupus-like (dose-dependente). Anorexia, náusea,
vômito e diarreia.
Causas endócrinas
Hiperaldosteronismo Primário Supressão da atividade da renina plasmática (ARP) e aumento da excreção de
(HP) aldosterona
Corresponde a 1% HÁ secundária e 22% de HÁ refratária
Feocromocitoma Tumores de células cromafins do eixo simpático-adrenomedular secretores de
catecolaminas
Corresponde 0,6 casos por 100.000 pessoas-ano
Hipotireoidismo Fadiga, sonolência e ganho de peso (discreto na maioria dos casos).
Rastreio: ↓tiroxina (T4) livre e ↑ hormônio tireotrófico (TSH)
Hipertireoidismo Eleva o débito cardíaco em consequência do aumento do consumo periférico de
oxigênio e do aumento da contratilidade cardíaca
Rastreio: ↑ T4L e : ↓TSH
Hiperparatireoidismo Primário A maioria é assintomáticos, enquanto o restante pode apresentar poliúria e
polidipsia, osteoporose, constipação, litíase renal e HÁ
Rastreio: dosagem de calcemia (cálcio total e/ou iônico), fósforo, PTH e cálcio
total em urina de 24h
Síndrome de Cushing Iatrogênica (uso de corticoide exógeno) e endógena (mais rara)
Ação do cortisol nos receptores mineralocorticoides e ativação do SRAA pelo
aumento da produção hepática de angiotensinogênio
Obesidade Alterações hormonais, inflamatórias e endoteliais ativam uma cascata de
eventos que liberam citocinas e adipocinas, aumentam a resistência à insulina e
determinam a hiperatividade do SRAA e do SNS, causando retenção de sódio e
água, com consequente HA e aumento do risco CV e renal
Acromegalia 98% dos casos gerada por adenomas hipofisários secretores do hormônio de
crescimento (GH). O excesso de GH estimula a secreção hepática de insulin-like
growth factor-I (IGF-1),
Complicações:
CORAÇÃO:
Principais doenças: doença arterial coronária (DAC), insuficiência cardíaca (IC), fibrilação atrial (FA) e morte súbita;
Hipertrofia ventricular esquerda (HVE): pode determinar uma disfunção diastólica ocasionando aparecimento de um
galope pré-sistólico (quarta bulha)
A aterosclerose coronariana é comum em hipertensos de longa duração
A dilatação ventricular e a progressiva redução na fração de ejeção levam ao aparecimento de sinais e sintomas
decorrentes da disfunção sistólica (galope protodiastólico — terceira bulha). A dispneia é progressiva aos esforços,
podendo evoluir para dispneia paroxística noturna (edema agudo do pulmão), sendo a manifestação mais comum.
Insuficiência cardíaca congestiva: é uma evolução da disfunção ventricular que leva ao aparecimento de edema de
membros inferiores, derrame pleural, hepatomegalia e turgência jugular.
Arritmias: com desenvolvimento de hipertrofia ventricular esquerda observa-se a presença de arritmias, sendo a
fibrilação atrial a mais frequente
CÉREBRO:
Principais doenças: acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico (AVEI) ou hemorrágico (AVEH), demência;
Fisiologicamente, os grandes vasos arteriais e arteriolares cerebrais se contraem à medida que a pressão arterial se
eleva, protegendo o tecido. A elevação súbita da pressão arterial pode se manifestar por tonteira, cefaleia, zumbido e
escotoma cintilante. Durante muitos anos esse equilíbrio pode ser mantido sem o aparecimento de maiores sintomatologias.
Caso esse equilíbrio seja rompido, outros sintomas podem surgir, como intensificação da cefaleia, borramento visual e
perda do equilíbrio, podendo evoluir para confusão mental, crise convulsiva e estado de coma (encefalopatia
hipertensiva).
Acidente vascular encefálico (AVC): rompimento de um pequeno aneurisma pode ocasionar um AVC ou até
hemorragias cerebrais que podem evoluir rapidamente para o coma profundo, levando à hérnia de tronco cerebral e morte
por insuficiência respiratória.
Os aneurismas de Charcot e Bouchard são pequenas dilatações arteriolares comumente encontradas nas arteríolas
cerebrais de pacientes hipertensos. Por vezes esses múltiplos infartos cerebrais determinam uma progressiva perda
cognitiva, evoluindo para um estado de demência.
RINS
Principais doenças: doença renal crônica (DRC) que pode evoluir para necessidade de terapia dialítica;
Os sinais e sintomas originados da disfunção renal estão relacionados à perda da massa renal.
A diminuição da produção de eritropoetina leva à anemia.
A lesão glomerular ocasiona perda de proteína, determinando uma urina espumosa, perda da função tubular, incapacidade
de concentração urinária e consequente noctúria e urina de muito baixa densidade.
RETINA
Retinopatia hipertensiva
A fácil visualização dos vasos da retina permite avaliar de maneira superficial a gravidade da lesão vascular arteriolar
decorrente da hipertensão arterial
Fisiopatologia: A hipertensão danifica os pequenos vasos sanguíneos na retina, fazendo com que as paredes fiquem
espessas, o que reduz a quantidade de sangue e pode provocar lesões. A medida que a retinopatia hipertensiva progride,
o sangue pode vazar para a retina. Essas alterações provocam perda gradual da visão, em particular quando a mácula é
afetada. Se a pressão arterial se tornar perigosamente alta (chamado emergência hipertensiva), as veias da retina podem
ficar dilatadas e retorcidas causado o papiloedema.
Figura 1: Comparação de uma fundoscopia normal (à direita) à uma fundoscopia evidenciando edema de papila (à esquerda)
SISTEMA ARTERIAL:
Principal doença: Doença arterial obstrutiva periférica
PA x rigidez arterial:
HAS: O aumento sustentado da PA é um gatilho para o desenvolvimento da hipertrofia da camada média da parede
arterial, por promover alterações de seus componentes (elastina, colágeno e células musculares lisas) que levam a
adaptações mecânicas. A HA acelera o envelhecimento vascular e, consequentemente, da rigidez arterial. Artérias mais
rígidas representam maior resistencia para a ejeção ventricular, o que exige maiores valores de pressão para manter
constante o fluxo sanguíneo.
Idade: A idade tem maior impacto nas artérias centrais (↑elásticas), do que nas artérias periféricas (↑ musculares). As
artérias centrais tornam-se mais rígidas devido a fragmentação e degeneração da elastina e aumento progressivo do
colágeno, acompanhado de depósito de cálcio na camada média arterial, com consequente aumento da rigidez arterial
Estratificação de risco cardiovascular
Probabilidade de determinado indivíduo desenvolver DCV em um determinado período de tempo.
É essencial para nortear estratégias preventivas e de tratamento.
Depende dos níveis da PA, dos fatores de risco cardiovascular associados, da presença de lesões em órgãos-alvo (LOA).
Fatores de risco:
Sexo masculino
Idade: > 55 anos no homem e > 65 anos na mulher
DCV prematura em parentes de 1º grau (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos)
Tabagismo
Dislipidemia: LDL-colesterol ≥100mg/dL e/ou não HDL-colesterol 130 mg/dL e/ou HDL-colesterol ≤ 40mg/dL no
homem e ≤ 46mg/dL na mulher e/ou TG >150 mg/dL
Diabetes melito
Obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2)
Emergências hipertensivas (EH): situações clínicas sintomáticas em que há elevação acentuada da PA (PAS ≥ 180 e/ou
PAD ≥ 120 mm Hg) com LOA aguda e progressiva, com risco iminente de morte
Pseudocrise hipertensiva (PCH): não há LOA aguda ou risco imediato de morte. Geralmente, ocorre em hipertensos
tratados e não controlados, ou em hipertensos não tratados, com medidas de PA muito elevadas, mas oligossintomáticos ou
assintomáticos. Também se caracteriza elevação da PA diante de evento emocional, doloroso, ou de algum desconforto
Classificação: não é definida pelo nível da PA, mas predominantemente pelo status clínico do paciente. Pode manifestar-
se como um evento cardiovascular, cerebrovascular, renal ou com envolvimento de múltiplos órgãos ou mesmo na
forma de pré-eclâmpsia com sinais de gravidade/eclâmpsia
Epidemiologia: A CH responde por 0,45% a 0,59% de todos os atendimentos de emergência hospitalar e EH por 25%
de todos os casos de CH. O acidente vascular encefálico isquêmico (AVEI) e o edema agudo de pulmão (EAP) são as
situações mais encontradas nas EH. Incidência decrescente nas últimas décadas.
Fisiopatologia: Tendo em vista que a PA= DC x RVP, elevações agudas da PA podem resultar de alterações nessas
variáveis. Assim, aumento do volume intravascular, da RVP, produção reduzida de vasodilatadores endógenos e/ou ativação
de sistemas vasoconstrictores podem precipitar maior vasorreatividade resultando em CH.
Investigação: A investigação clínica e a solicitação de exames devem prover a adequada avaliação da PA e a presença
de LOA agudas.
Deve-se rapidamente coletar informações sobre a PA habitual do paciente e as situações que possam desencadear um
aumento da PA e comorbidades; o uso de fármacos anti-hipertensivos ou sua descontinuação (particularmente inibidores
adrenérgicos); ou a utilização de substâncias que aumentem a PA
Tratamento:
Pseudocrise hipertensiva (PCH): repouso ou uso de analgésicos ou tranquilizantes
Urgência hipertensiva (UH) : Para o tratamento agudo, indicam-se a captoprila (dose de 25-50mg) a clonidina (dose de
0,100 a 0,200mg).
Emergências hipertensivas (EH): Os indivíduos devem ser admitidos preferencialmente em UTI, tratados com anti-
hipertensivos intravenosos (IV) e monitorados cuidadosamente durante a terapia para evitar hipotensão. A redução devem
ser:
o PA média ≤ 25% na 1ª hora;
o PA 160/100-110 mmHg nas próximas 2 a 6 h;
o PA 135/85 mmHg em um período de 24-48 h subsequentes.