Lição 04 - A Sutileza Da Normalização Do Divórcio
Lição 04 - A Sutileza Da Normalização Do Divórcio
Lição 04 - A Sutileza Da Normalização Do Divórcio
INTRODUÇÃO
O divórcio sempre foi um assunto delicado, mesmo no Antigo e Novo Testamento. Isto porque com o
crescimento do pecado, a banalização do casamento, o homem se distanciou do princípio original de Deus para o
matrimônio: a indissolubilidade do casamento. Nesta lição, aprenderemos o que a Bíblia diz sobre o assunto e
enfatizaremos acima de tudo que o divórcio não é um mandamento divino, mas uma permissão humana.
I – O QUE É O DIVÓRCIO?
1.1Definição etimológica. Segundo o dicionarista é: “o rompimento legal de vínculo de matrimônio entre cônjuges,
estabelecido na presença de um juiz” (HOUAISS, 2001, p. 1065).
1.2Definição teológica. Segundo o dicionário bíblico exegético VINE o vocábulo grego “apostasion”, significa
primariamente “abandono”. O termo ocorre apenas três vezes no NT (Mt. 5.31;19.7; Mc 10.4), e quatro na Septuaginta
(tradução do hebraico para o grego), como o termo hebraico “sepher kritut”, em passagens como (Dt 24.1,3, Is 50.1; e Jr.
3.8). A outra palavra grega com o sentido de divórcio é “apolyo”, que significa “repudiar”, “libertar”, “livrar”. Em (Mt
15.23), significa “despachar”. Esse verbo é também usado para “divorciar”, em (Mt 5.31; Mc 10.2,4,11), pois com o
divórcio, a mulher ficava livre para casar-se novamente, conforme (Dt 24.1-4). Há ainda o verbo grego “chorizo”, que
aparece treze vezes no NT (1Co 7.10,11,15), e significa “separar”, “apartar” (SOARES, 2012, p. 63).
II – O DIVÓRCIO NO AT
É importante pontuar que o divórcio não se originou nas Escrituras. Muito antes de Moisés, na história na
humanidade, já existem registros da prática entre os povos antigos. Um exemplo bem prático disso é o código de
Hamurabi (código de lei e ética caldeu - 1792-1750 a.C.), que legislava claramente sobre o divórcio, e entre os diversos
motivos para o divórcio estavam: a) O casamento sem contrato escrito; b) a mulher do prisioneiro que não tiver renda
para se sustentar; c) a mulher de um foragido d) por qualquer motivo desde que sejam respeitados os direitos dos dotes; e)
mulher de má índole; f) marido relaxado, impotente, irresponsável ou desonesto; g) mulher acometida de doença
incurável, sendo neste caso, o marido obrigado a cuidar dela (LOPES, 2005, p. 101).
2.1 A passagem mais importante no AT sobre o divórcio está em (Dt 24.1-4). A Lei de Moisés prescreve as razões
para essa prática em termos tão gerais que se torna quase impossível explicar os motivos que justificam o divórcio. A
expressão em Dt. 24.1 no hebraico “erwar dabar” e na Septuaginta (LXX) que é a versão do AT hebraico para o grego
“aschemon pragma” significa “coisa vergonhosa”. No português é “coisa indecente nela” (ARA – Almeida Revista e
Corrigida), “por nela achar coisa feia” (ARC – Almeida Revista e Corrigida); para os hebreus a expressão não parecia
tão clara, sendo, portanto, objeto de controvérsia dando origem as duas principais escolas dos rabinos Shammai e Hillel.
Entretanto, o Senhor Jesus como veio cumprir a Lei e não ab-rogá-la (Mt. 5.17), deu o verdadeiro sentido ao termo,
utilizando uma expressão mais específica: porneia “relações sexuais ilícitas” (Mt 19.6).
2.2 Desdobramentos da possibilidade do divórcio no AT. Só em duas situações a Lei de Moisés proibia o homem de
conceder o divórcio à esposa: a) Se sua esposa fosse acusada falsamente de pecado sexual pré-marital pelo marido (Dt
22.13-19); b) Quando um homem desvirginasse uma jovem, e o pai dela o compelisse a desposá-la (Êx.22.16,17; Dt.
22.28,29). O pastor Ezequias Soares citando o Dr. Alfred Edersheim, judeu cristão que viveu no séc. XIX com profundo
conhecimento em cultura judaica, afirma que para os judeus da época, era motivo para o divórcio: a) a mulher apresentar-
se em público com os cabelos soltos; b) andar pelas ruas desnecessariamente; c) falar com familiaridade com homens; d)
maltratar os pais do marido na presença dele; e) gritar com o marido de maneira que os vizinhos pudessem ouvi-la; f) ter
má reputação, fraudes antes do casamento (SOARES, 2012, p. 28). No AT em caso de adultério, em linhas gerais, a pena
era a morte, e não o divórcio (Lv. 20.10; Dt.22.22). Há duas citações em que o divórcio foi praticado quando os judeus
retornavam do exílio de Babilônia por causa do caso de casamento mistos (Ed 9 e 10; Ne 13.23). Embora a lei mosaica
permitisse o divórcio, o AT DEIXA CLARO QUE DEUS NUNCA APROVOU O DIVÓRCIO (Ml 2.16). Moisés não
ordenou o divórcio, apenas permitiu, o divórcio não era mandamento, apenas permissão.
(Mt. 5.31,32) – ao contrário das escolas rabínicas de Shammai e Hillel, o Senhor Jesus agora restringia o divórcio
“[…] exceto em caso de relações sexuais ilícitas (gr. porneia)”. Ele não deve ser uma regra geral, nem praticado
indiscriminadamente. Jesus ao restringir combate os abusos de sua época (Jo 4.18).
(Mt. 19.3-12) – Neste texto, Jesus deixa claro que o divórcio não foi uma instituição divina, mas humana “[…]
pela dureza do vosso coração é que Moisés PERMITIU repudiar vossas mulheres; entretanto NÃO FOI
ASSIM DESDE O PRINCÍPIO” (Mt 19.8), logo o divórcio não veio por causa do adultério, mas foi permitido
por causa da degeneração da raça humana. Esse texto não quer dizer que Jesus estava ensinando que a parte
inocente deveria divorciar-se do cônjuge infiel, mesmo tendo base legal para o divórcio. Jesus nunca estimulou
ou encorajou o divórcio. Mas que o único divórcio e novo casamento que não equivalia ao adultério era o da
parte inocente, cujo cônjuge fora infiel. O divórcio não deve ser a primeira opção em infidelidade conjugal, mas o
perdão (Mt. 18.21-35; Lc 17.4).
(Mc 10.2-12) – ainda que o texto não traga a expressão “[…] exceto em caso de relações sexuais ilícitas […]”, a
passagem está em perfeita harmonia com (Mt 5.31,32 e 19.3-12).
Aos casais crentes (1Co 7.10-11) – O apóstolo, nesta passagem, fala de casais mistos e de casais crentes. No
vers. 10 ele condena terminantemente a separação do casal crente. Não existe, a luz da Bíblia base legal para o
divórcio, exceto em situação excepcional (Mt. 5.31,32). A lei do país, que permite o divórcio, não está acima da
Palavra de Deus. A conduta do cristão é norteada pelas Escrituras. Os cristãos devem seguir o padrão bíblico do
casamento: a indissolubilidade.
Aos casais mistos (1Co 7.12-15) – Em caso de casamento misto, o apóstolo recomenda que se o cônjuge
descrente, consente em viver com o cristão, “[…] não a [o] deixe […]”. Porém se o cônjuge descrente quiser
separar-se, o casamento não é obrigatório. Depois da separação o cônjuge crente estará livre para contrair novas
núpcias. Em outras palavras, o divórcio nas Escrituras só é permitido em dois casos: 1) a parte inocente pode
divorciar-se de seu companheiro, caso este seja culpado de imoralidade; 2) o crente pode concordar com a
deserção de seu cônjuge incrédulo, se este se recusar a continuar vivendo em sua companhia.
IMPORTANTE: Há situações que envolvem divórcios que são extremamente complexas, nestes casos, é prática de
nossa Igreja, levar o assunto ao Pastor da igreja que dará a visão bíblica específica sobre o assunto.
CONCLUSÃO
Aprendemos com esta lição que o projeto original de Deus sempre será a indissolubilidade do casamento.
Entretanto, por conta da natureza humana degenerada pelo pecado, Moisés permitiu, não ordenou, a carta de divórcio.
Na época do NT por coisas banais o indivíduo se divorciava; é por isso que o Senhor Jesus o restringe completamente a
relações sexuais ilícitas, não estimulando ou ordenando, mas reconhecendo que na condição de degradação humana, essa
possibilidade deveria existir como solução paliativa para uma humanidade mergulhada no pecado.
REFERÊNCIAS
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
SILVA, Esequias Soares de. Analisando o divórcio à luz da Bíblia. CPAD.
LOPES, Hernandes Dias. Casamento, divórcio e novo casamento.
HAGNOS. VINE, W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
HOUAISS, Antônio.Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. OBJETIVA