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A Era Vargas

A Era Vargas foi o período de quinze anos da história brasileira que se estendeu de 1930 a 1945 e no qual Getúlio
Vargas era o presidente do país. A ascensão de Vargas ao poder foi resultado direto da Revolução de 1930, que
destituiu Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes (presidente eleito que assumiria o país).

Ao longo desse período, Getúlio Vargas procurou centralizar o poder. Muitos historiadores, inclusive, entendem o
período 1930-1937 como a “gestação” da ditadura de Vargas. Vargas também ficou marcado pela sua aproximação com
as massas, característica que se tornou muito marcante durante o Estado Novo.

Permaneceu no poder até 1945, quando foi forçado a renunciar à presidência por causa de um ultimato dos militares.
Com a saída de Vargas do poder, foi organizada uma nova Constituição para o país e iniciada outra fase da nossa
história: a Quarta República (1946-1964).

Revolução de 1930

Após ser derrotado nas eleições presidenciais, Getúlio Vargas retornou ao seu cargo de presidente do Rio Grande do
Sul e, apesar de lançar críticas ao governo, tratou de se reaproximar da oligarquia paulista. No entanto, havia membros
da Aliança Liberal que não estavam satisfeitos com a derrota e partiram para a conspiração a fim de derrubar os
paulistas do poder conforme afirma Thomas Skidmore:

Alguns revolucionários, entretanto, não estavam tão inclinados a se contentar com palavras, e acabaram organizando uma
conspiração para tomar o poder pela rebelião armada. Poucas semanas depois da eleição, jovens radicais como Oswaldo
Aranha e Lindolfo Collor procuraram líderes descontentes da Aliança Liberal em Minas Gerais e na Paraíba. Mas de início os
patriarcas políticos do Rio Grande de Siul (Borges de Medeiros) e Minas Gerais (Antônio Carlos) foram cautelosos; como
nenhum deles queria começar uma revolta, cada um esperou pelo outro.

Assim, espalharam-se pelo Brasil rumores de que uma conspiração estava em curso e os envolvidos preparavam-se
comprando armas de maneira clandestina. Faltava, porém, um estopim que mobilizasse todos os grupos insatisfeitos
em um fervor revolucionário. Esse estopim ocorreu no dia 26 de julho de 1930, quando João Pessoa, o vice da
candidatura de Vargas, foi assassinado em Recife.

O assassinato de João Pessoa foi realizado por João Dantas em uma confeitaria na cidade de Recife. As causas do
crime foram tanto políticos quanto pessoais. A motivação política era uma disputa que acontecia entre João Pessoa e
a família de João Dantas no interior da Paraíba. A motivação pessoal foi a divulgação de cartas pessoais de João
Dantas com sua namorada, Anaíde Beiriz, por João Pessoa.

O assassinato de João Pessoa foi utilizado de maneira política pelos membros revolucionários da Aliança Liberal, que
acusaram diretamente o presidente Washington Luís. A partir daí, a articulação aumentou de maneira
considerável, levando ao início de um levante armado contra o presidente Washington Luís no dia 3 de outubro de
1930.

Aconteceram levantes em diferentes partes do Brasil, especificamente no Nordeste, Sudeste e Sul. O presidente, no
entanto, recusou-se a aceitar a gravidade dos acontecimentos. Somou-se a isso o fato de que membros do exército que
não se rebelaram estavam relutantes em lutar na defesa do presidente.

Assim, no dia 24 de outubro de 1930, Washington Luís foi deposto, e a sucessão presidencial para Júlio Prestes foi
interrompida. Uma Junta de Governo Provisório assumiu o comando do Brasil a partir de Augusto Tasso Fragoso e João
de Deus Mena Barreto, que, no dia 3 de novembro de 1930, transmitiu o poder para Getúlio Vargas como presidente
provisório do Brasil. Tinha início a Era Vargas.

Governo Provisório
O governo provisório, como o próprio nome sugere, deveria ter sido uma fase de transição em que Vargas rapidamente
organizaria uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição para o Brasil. Getúlio Vargas, porém,
nesse momento, já deu mostras da sua habilidade de se sustentar no poder, pois adiou o quanto foi possível a
realização da Constituinte.

Nessa fase, Vargas já realizou as primeiras medidas de centralização do poder e, assim, dissolveu o Congresso
Nacional, por exemplo. A demora de Vargas em realizar eleições e convocar uma Constituinte teve impactos em alguns
locais do país, como São Paulo, que se rebelou contra o governo em 1932 no que ficou conhecido como Revolução
Constitucionalista de 1932.
O movimento foi um fracasso e, após a sua derrota, Getúlio Vargas atendeu as demandas dos paulistas, nomeando
para o estado um interventor (governador) civil e nascido em São Paulo, além de garantir a realização de uma eleição
em 1933 para compor a Constituinte. Dessa Constituinte, foi promulgada a Constituição de 1934.

A nova Constituição foi considerada bastante moderna para a época e trouxe novidades, como o sufrágio universal
feminino (confirmando o que já havia sido estipulado pelo Código Eleitoral de 1932). Junto da promulgação da nova
Constituição, Vargas foi reeleito indiretamente para ser presidente brasileiro entre 1934 e 1938. Após isio, um novo
presidente deveria ser eleito.

Nessa fase, a política econômica de Vargas concentrou-se em combater os efeitos da Crise de 1929 no Brasil. Para
isso, agiu comprando milhares de sacas de café e incendiando-as como forma de valorizar o principal produto da nossa
economia. Nas questões trabalhistas, autorizou a criação do Ministério do Trabalho em 1930 e começou a intervir
diretamente na atuação dos sindicatos.

Governo Constitucional
Na fase constitucional, o governo de Vargas, em teoria, estender-se-ia até 1938, pois o presidente não poderia
concorrer à reeleição. No entanto, a política brasileira como um todo – o próprio Vargas, inclusive – caminhava para
a radicalização. Assim, surgiram grupos que expressavam essa radicalização do nosso país.

1.Ação Integralista Brasileiro (AIB): grupo de extrema-direita que surgiu em São Paulo em 1932. Esse grupo
possuía inspiração no fascismo italiano, expressando valores nacionalistas e até mesmo antissemitas. Tinha
como líder Plínio Salgado.

2.Aliança Libertadora Nacional (ANL): grupo de orientação comunista que surgiu como frente de luta
antifascista no Brasil e converteu-se em um movimento que buscava tomar o poder do país pela via
revolucionária. O grande líder desse grupo era Luís Carlos Prestes.

A ANL, inclusive, foi a responsável por uma tentativa de tomada do poder aqui no Brasil em 1935. Esse movimento ficou
conhecido como Intentona Comunista e foi deflagrado em três cidades (Rio de Janeiro, Natal e Recife), mas foi um
fracasso completo. Após a Intentona Comunista, Getúlio Vargas ampliou as medidas centralizadoras e autoritárias, o
que resultou no Estado Novo.

Essa fase constitucional da Era Vargas estendeu-se até novembro de 1937, quando Getúlio Vargas realizou um
autogolpe, cancelou a eleição de 1938 e instalou um regime ditatorial no país. O golpe do Estado Novo teve como
pretexto a divulgação de um documento falso conhecido como Plano Cohen. Esse documento falava sobre uma
conspiração comunista que estava em curso no país.

O que foi a Intentona Comunista?


No começo da década de 1930, a Europa atravessava um momento delicado com a chegada de Adolf Hitler ao poder
na Alemanha, e de Benito Mussolini, na Itália. As disputas ideológicas envolvendo nazifascismo e
comunismo materializaram-se em confrontos violentos. Esse embate chegou ao Brasil.

Em março de 1935, foi criada a Aliança Nacional Libertadora, de orientação comunista e liderada por Luís Carlos
Prestes. O principal objetivo da aliança era conter o avanço do nazifascismo no país e difundir os ideais comunistas.
A Ação Integralista Brasileira, liderada por Plínio Salgado, seguindo a linha fascista, entrou em confronto com a ANL.
Essa instabilidade foi pretexto para que Getúlio Vargas desse um golpe e decretasse, em 1937, a ditadura do Estado
Novo.

Os integrantes da ANL eram compostos por militares, comunistas e líderes operários que estavam insatisfeitos com os
rumos tomados por Getúlio Vargas desde a Revolução de 1930. A aliança espalhou-se rapidamente e formou sedes em
várias regiões do Brasil. Por conta da sua posição contrária ao governo, a ANL foi posta na ilegalidade em julho de
1935.

Em agosto do mesmo ano, iniciou-se a organização de um levante armado para derrubar Vargas do poder e instalar
um novo governo sob o comando de Prestes. Esperava-se o apoio popular para esse movimento, já que líderes
operários participaram da sua elaboração, e que ele se espalhasse por todo o território nacional, tendo-se em vista as
várias sedes da ANL espalhadas pelo país.
A Intentona Comunista começou em 23 de novembro de 1935, com a revolta deflagrada em Natal (RN) e, no dia
seguinte, em Recife (RN). O levante começou no Rio de Janeiro em 27 de novembro. Esperava-se o apoio dos
operários, mas os revoltosos estavam sozinhos nessa batalha contra o governo Vargas.

Estado Novo
O Estado Novo foi a fase ditatorial da Era Vargas. Teve início em novembro de 1937, quando o presidente outorgou uma
nova Constituição e decretou o fechamento do Congresso, e foi finalizado quando Vargas recebeu um ultimato dos
militares e foi obrigado a renunciar à presidência, em outubro de 1945.

Com o Estado Novo, Vargas implantou um regime autoritário que centralizou o poder no Executivo. A censura foi
instituída, e a propaganda política foi utilizada em larga escala como ferramenta para ressaltar as obras do governo,
consolidar a ideologia do regime e garantir o culto a personalidade de Vargas.
Com o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra, o autoritarismo de Vargas perdeu força, sobretudo entre os militares
que tinham sido enviados à Europa para lutar contra o nazifascimo. Com esse movimento de contestação, a autoridade
de Vargas foi sendo minada, o que levou a sua destituição. Vargas, porém, reorganizou sua estratégia política e deu
início a sua política de aproximação das massas.

Brasil vai à guerra


A reação alemã com o rompimento de relações diplomáticas realizado por Getúlio Vargas ocorreu em agosto de 1942,
quando submarinos alemães torpedearam e afundaram cinco navios mercantes brasileiros. Os ataques indignaram a
opinião pública, e Getúlio Vargas declarou guerra à Alemanha naquele mesmo mês.

A declaração de guerra contra o Eixo fez com que o Brasil mobilizasse soldados para que fossem enviados ao fronte de
batalha. Em novembro de 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), e soldados de diferentes partes do
país foram convocados para formar um corpo de aproximadamente 25 mil militares, comandados pelo general
Mascarenhas de Morais. Esses soldados ficaram conhecidos pelo nome de “pracinhas”.

O envio de soldados brasileiros não foi uma imposição dos Estados Unidos, mas surgiu de uma demanda interna do
próprio governo brasileiro. Apesar disso, a participação do Brasil na guerra encontrou a oposição dos Aliados, que
temiam a pouca preparação dos soldados brasileiros. Os pracinhas foram integrados com o 5º exército americano e
atuou nos combates no norte da Itália.

A princípio, o exército brasileiro mostrou-se mal preparado e equipado para a guerra, e isso ficou evidenciado em um
primeiro combate, no qual, de acordo com o historiador Thomas E. Skidmore, os brasileiros sofreram pesadas baixas
contra os alemães e foram obrigados a recuar2. É importante lembrar que, além da pouca preparação dos pracinhas, os
soldados alemães estavam em posições de defesa muito boas e equipados de metralhadoras potentes.

Após ser reequipado e passar por novo treinamento com os soldados americanos, o exército brasileiro foi lançado
novamente à batalha e teve participação na Batalha de Monte Castello, cuja conquista foi realizada em fevereiro de
1945. Outras participações do Brasil na guerra ocorreram em Castelnuovo, Montese, Fornovo di Taro etc.

Ao final da guerra, a atuação brasileira havia resultado em 454 soldados brasileiros mortos em combate. Com a
ocupação Aliada em determinadas partes da Europa, o exército brasileiro recebeu o convite para auxiliar na ocupação
da Áustria, porém o comando militar do Brasil rejeitou o convite, segundo o historiador americano Frank McCann3."

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