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A FILOSOFIA DO DIREITO NA GRÉCIA ANTIGA

A Filosofia nasceu na Grécia, a sua origem é o espanto e a admiração. O termo grego physis pode ser
traduzido por natureza, é também REALIDADE, que se encontra em movimento e transformação, que
nasce e se desenvolve. Nesse sentido, a palavra significa gênese, origem, manifestação.

Physis, referente a origem de todas as coisas que constituem a realidade que se manifesta no
movimento, procura saber se há um princípio único (arkhé) que governe, dirija e ordene todas as coisas
do mundo. Esse foi o tipo de questão formulado pelos primeiros filósofos. Considerando a evolução do
pensamento na Grécia, podemos dividir a Filosofia em três períodos, nos quais agrupavam-se várias
escolas.

Primeiro Período (período cosmológico) – a mente grega ainda não se voltara para os problemas éticos,
nem para os jurídicos, pois preocupava-se essencialmente com a natureza física. É chamado de pré-
socrático. Neste período vamos encontrar as escolas jônica, pitagórica, eleática e atomística.

Segundo Período (período socrático) - dominado pela figura de Sócrates. Pode considerar-se o período
áureo do pensamento grego. Também é chamado de período clássico e ainda antropológico.

Terceiro Período (período greco-romano, helênico ou pós-socrático) - nele se localizam o epicurismo, o


estoicismo, o ceticismo e o neoplatonismo. Tem início com a morte de Aristóteles e culmina com a escola
neoplatônica, no século III d.C.

A Concepção de Justiça:

Tenta, inicialmente, explicar o universo sensível por um princípio físico (jônios), pela pura ideia
(eleáticos), pelo número (pitagóricos), a noção de justiça surge, pari passu, como produto da
necessidade física, metafísica ou da ordem que governa o cosmos.

Todavia, primordialmente, a noção de justiça exsurge da divindade. Assim é que em Homero e Hesíodo
surge simbolizada na deusa Têmis, conselheira de Zeus. A Odisseia e a Ilíada nos dão provas de que a lei
da justiça e sua sanção são divinas. Era, uma virtude aristocrática, própria de heróis. Dois aspectos
hão a destacar na concepção primitiva de justiça: o caráter retributivo e a origem divina.

É interessante notar que a evolução ocorrida na ideia de diké (justiça) engendrou uma noção nova, a de
nomos. Com efeito, da acepção de diké, derivou-se a significação de dar a cada um o que é devido.
Ressalte-se que a partir da escola jônica diké significa tanto harmonia como necessidade física que
mantém todas as coisas em sua ordem e lugar. Já com a escola eleática o conceito de justiça inicia um
processo de espiritualização, assumindo um caráter mais metafísico.

Parmênides: o ser é único, imutável, infinito e imóvel, sempre idêntico a si mesmo. Nosso
conhecimento sensitivo das coisas só nos dá uma ilusão do movimento, uma aparência. “O Ser é e o
Não-Ser Não é”.
Heráclito: defendia a ideia de um mundo contínuo, um mundo em constante movimento, onde nada
permanece idêntico a si mesmo, e sim transforma-se no seu oposto (negação, contradição), tudo flui.

Pitagóricos: concebem a justiça como um aspecto da ordem e da harmonia que constitui. Queriam
dizer que a justiça consistia na igualdade, na contraprestação, cada um deve sofrer ou experimentar
em si o mesmo que há infligido a outro (justiça aritmética de Pitágoras, olho por olho dente por
dente).

Anaximandro: Justiça como equilíbrio dinâmico entre as forças da natureza; existência de um princípio
único, arkhé, do qual todas a coisas provém, (ápeiron – infinito e indeterminado). A corrupção das
coisas se verifica de acordo com a necessidade; a pena/ castigo é paga de acordo com o ordenamento
do seu tempo.

PERÍODO SOCRÁTICO

SOFISTAS: antecedentes – crise na aristocracia; crescimento do poder do Demos (Desenvolvimento de


instituições democráticas); ampliação do Comércio. A passagem do período cosmológico da filosofia
grega ao período antropológico. A filosofia, que antes era cultivada em círculos fechados, passa, à vida
pública, tendo como objetivo formar cidadãos capazes de sobressair-se nas assembleias. Por isso,
cultivavam a retórica, dando mais importância à argumentação, à arte de convencer por discurso, do
que à busca da verdade. Deslocou-se a preocupação da natureza em sentido geral para a natureza
especial do homem. Preocupados em formar a nova classe dirigente da democracia, ensinar a arte e a
destreza políticas.

Protágoras: afirmava que o homem é a medida de todas as coisas. Com isto, os sofistas transformam a
noção do justo e do injusto. Assim, a distinção entre o justo e o injusto já não se fundamentará na
natureza das coisas, mas nas opiniões e convenções humanas, na lei. Desta forma, é justo o que o
nomos ordena e injusto o que proíbe. O justo é o legal, a lei, nomos, é o fruto da doxa (opinião), o
acordo contingente dos homens.

Numa primeira etapa, os sofistas enfocaram, predominantemente, a distinção entre physis e nomos,
natureza e lei humana. Esta postura tem consequência no campo gnosiológico (se ocupa do estudo do
conhecimento, em função do sujeito cognoscente – aquele que conhece o objeto), assim como no ético.
No campo gnosiológico significa a negação da verdade supra individual: a verdade é relativa ao
sujeito cognoscente. No campo ético, o relativismo subjetivista cede caminho à opinião geral e pública.
Torna-se um subjetivismo coletivo que não reconhece nenhuma verdade objetiva no campo ético-
político, mas faz repousar tudo na opinião que sustenta a maioria em cada momento, legitimando-a
como justa.
“A justiça consiste, em não transgredir as prescrições da cidade na qual se é cidadão. As prescrições das
leis são impostas, enquanto as da natureza são necessárias; e as da lei são o resultado de um acordo, não
se produzindo naturalmente, enquanto as da natureza se produzem naturalmente”. Antifonte

SÓCRATES (469-399 a.C.): “conhece-te a ti mesmo”. Se impunha uma justificação racional do nomos
(lei). Entretanto, Sócrates difere dos sofistas no método, refutando os pomposos discursos destinados a
impressionar o auditório, busca Sócrates a clareza nos conceitos à base de perguntas e respostas. A
verdade não se impõe de fora, mas brota de dentro, através do diálogo. A moral se reduz ao
conhecimento do bem.

No que se refere à Filosofia Política e Jurídica, Sócrates supera o relativismo e individualismo dos
sofistas. Opondo-se à ideia de que o direito é expressão dos mais fortes (Trasímaco), afirma que é
melhor sofrer a injustiça que a cometer. E se se cometeu uma injustiça, o correto é expiá-la, aceitando
a sanção. A pena é um remédio para a alma. Segundo ele, o papel da filosofia é procurar a maior
perfeição possível na vida e na morte. Para ele, a cidade e suas leis são necessárias e respondem às
exigências da natureza humana. A obediência às leis da cidade é um dever sempre e para todos.

A justiça e as demais virtudes passam a ser sabedoria. A virtude é única e se identifica com a
sabedoria que é “o maior dos bens”. A Justiça, para Sócrates, consiste no conhecimento e na
observância das verdadeiras leis que regem as relações entre os homens, tanto das leis da cidade como
das leis não-escritas. O justo não se esgota no legal, pois acima da justiça humana existe uma justiça
natural e divina. Refuta o conceito de justiça proclamado à época (beneficiar os amigos e prejudicar os
inimigos), afirmando que fazer o mal não se revela justo de modo algum.

Afirma que os crimes mais graves costumam ser cometidos por aqueles que estão no topo do poder e,
por isso, aquele que luta pela justiça deve ser uma pessoa privada e não desempenhar cargos públicos. A
obediência às leis tem fundamento na existência do homem e não arbitrário. Daí decorre que a cidade
(pólis) é o ambiente natural para a realização eudemonística (busca de uma vida plenamente feliz) do
homem, e não produto de um contrato social.

O homem não pode viver fora do Estado, sem viver fora da humanidade e da lei da sua própria
natureza intelectual. Não seria possível nenhum Estado se o homem não devesse obediência a suas leis.
Ensinar aos homens a verdade é o mesmo que lhes ensinar o bem e a virtude. O único logos com que se
preocupou foi um logos individual, patente à consciência no seu conhecer-se a si mesmo.

PLATÃO (427-347 a.C.): fundação da Academia, o primeiro centro de ensino superior do Ocidente. Até
então, a educação superior nunca havia assumido essa forma corporativa, organizada, sedentária, com
distribuição de cursos e matérias, que imprimiu Platão à Academia.
Platão apresenta a justiça como a virtude do cidadão ou do filósofo. Na República a justiça torna-se a
virtude que tem preeminência sobre as demais – a sabedoria, a coragem, a temperança –, referindo-se
ao Estado em sua integralidade (quatro virtudes cardinais).

A justiça, é a última virtude, e assume papel ordenador das três primeiras virtudes, tendo na alma o
primeiro lugar. A alma humana consta de três partes ou potências: a racional (que torna possível o
conhecimento das ideias), a irascível (correspondente aos impulsos e afetos) e a concupiscente (vinculada
às necessidades mais elementares).

A sociedade política consta de três classes, diferenciadas por sua função.

 Primeira: é a dos governantes (filósofos), que regem guiados pela sabedoria (sophia);
 Segunda: a dos guardiães, que cultivam a coragem (andreia);
 Terceira: a dos artesãos e agricultores, que constituem a base econômica da sociedade e satisfazem
suas necessidades. Tantos estes como os guardiães aceitam o governo dos que representam a
sabedoria e aí está a temperança (sophrosyne), que impede o afã de dominar.

A justiça consiste em que cada uma das classes sociais faça o que lhe corresponde: os magistrados
(filósofos) devem governar; os guardiães, defender a cidade das desordens internas e dos ataques
externos; os artesãos e agricultores, produzir. Justiça, pois, é cada um fazer o que lhe é cometido, sem
intrometer-se na função dos demais. Isto significa que nenhuma das três virtudes poderia existir sem a
justiça. A injustiça será a ruptura desta ordem, a sedição das potências inferiores contra a razão.

A partir de Platão, a justiça eleva-se ao posto de virtude universal, constituindo-se, em princípio


regulador de toda vida individual e social.

Ser justo, não consiste em dar algo a alguém, mas em não tirar dos demais aquilo que lhes pertence.
Com isto, a injustiça é negação da justiça. Justiça é abster-se de cometer injustiça. Justiça é não
subverter a situação originária da ordem, apoderando-se do alheio. Este aspecto do pensamento
platônico encontra-se igualmente na sua concepção de justiça como virtude geral. A justiça não consiste
em remediar a injustiça, mas em manter a justa situação originária. É, pois, um conceito positivo de
justiça.

A doutrina política platônica encontra-se encadeada sobre moldes que visam à correção dos rumos do status
quo político vivido pela sociedade grega da época. Suas críticas aos homens do seu tempo e às práticas
políticas de sua época têm valor substancial para todos os tempos. A educação é o cerne do sistema
político platônico, seja para os governantes, seja para os governados. É pela educação que Platão entrevê
possibilidades de reconstrução das raízes da pólis. Na condução do processo de reabilitação dos espaços
públicos estaria a figura central do filósofo, pois seu conhecimento da verdade pela dialética, assim como
seu natural desprendimento dos interesses egoísticos que normalmente poluem as atividades políticas,
seriam seus créditos e trunfos para conduzir a coisa pública. O rei-filósofo fará da pólis, pela educação
(paideia), o lugar da felicidade humana, das realizações coletivas, o espaço divino em meio ao humano.

A vida humana só pode alcançar seu fim último na pólis que, na concepção platônica, tem como
missão primordial tornar o homem virtuoso, criando as condições do seu aperfeiçoamento. A
educação da alma tem por finalidade destinar a alma ao pedagogo universal, ao Bem Absoluto. A
educação deve ser pública, com vistas ao melhor aproveitamento do cidadão pelo Estado e do Estado pelo
cidadão.

ARISTÓTELES (384-322 a.C.): não separa, o mundo inteligível do mundo sensível. Para ele a
realidade sensível também é inteligível, sendo o entendimento humano capaz de descobrir a ideia
oculta no objeto sensível. O conhecimento começa com a experiência. O mundo é uma ordem na qual
cada ser tem uma atividade determinada por seu fim. Todas as coisas (seres) existem para um fim e a
ele se dirigem, alcançando sua perfeição na vida na medida em que cumprem seu fim.

O homem encaminha-se para seus próprios fins, com consciência e liberdade, e não de modo
necessário como os outros seres. O homem tem diante de si uma hierarquia de bens, nos quais acha uma
felicidade imperfeita e transitória até elevar-se ao seu bem máximo que coincide com seu bem último. Este
é a felicidade, que tem de ser buscada na contemplação da verdade e na adesão a ela. O meio para
conseguir esta verdade são as virtudes.

A JUSTIÇA: Para construir esta teoria da justiça, Aristóteles parte da divisão da virtude em duas
classes: dianoéticas (intelectuais) e éticas (morais). As primeiras adquirem-se por via teorética; as
últimas têm origem na vontade e são alcançadas pelo exercício desta, pressupondo o livre arbítrio. A
justiça tem destacado lugar entre as virtudes éticas, notando-se que em sentido amplo equivale ao exercício
de todas as virtudes.

Aristóteles lembrava que a igualdade, na matemática, pode se apresentar de duas maneiras: igualdade


proporcional (que nos dá a ideia de proporção, como dois para um, três para um, e assim por diante)
e igualdade absoluta (um para um). Essa diferença que vem da própria matemática é percebida nos dois
diferentes conceitos de justiça que estamos estudando: a justiça distributiva (igualdade proporcional) e
a justiça corretiva (igualdade absoluta).

O princípio da igualdade é aplicado de duas maneiras, originando duas espécies de justiça: a


distributiva e a corretiva (sinalagmática), que se subdivide em comutativa e judicial.

Justiça Geral/ Universal: diz respeito ao exercício de todas as virtudes. Está ligada a fazer aquilo que é
correto, considerando todas as demais virtudes, todos os aspectos da vida; o cumprimento das leis,
injustiça total é a sua violação. Garantido o primado do coletivo sobre o individual.
Justiça Particular: está ligada especificamente àquilo que é correto no que diz respeito à divisão dos
bens; é a justiça em sentido estrito, aplicável na relação entre particulares. É o hábito que realiza a
igualdade, a atribuição a cada um do que lhe é devido.

A JUSTIÇA PARTICULAR DISTRIBUTIVA tem por objeto a divisão dos bens e honras da
comunidade, exigindo que cada um perceba uma porção adequada a seus méritos; regula as relações
entre a sociedade e seus membros. Este conceito está por trás da ideia de “meritocracia”. Esta ideia de
meritocracia pode ser distorcida e tem sido distorcida em nossa sociedade atual, mas permanece presente em
muitos aspectos de nossa vida. Exemplo: diferentes salários dos serviços públicos, quanto maior for a
escolaridade exigida, quanto mais difícil o concurso, e quanto maiores forem as responsabilidades do cargo,
maiores serão os salários. Eis aí, pois, o que é o justo: o proporcional; e o injusto é o que viola a
proporção. O homem que age injustamente tem excesso e o que é injustamente tratado tem pouco do que é
bom.

Proporcionalidade participativa e geométrica, essa proporção não é contínua, pois não podemos obter
um termo único que represente uma pessoa e uma coisa. O critério subjetivo é o mérito de cada um, isto
porque se os indivíduos não são iguais, não poderão ter coisas iguais (tratamento desigual dos desiguais),
evitando-se, qualquer dos extremos que representam o excesso e a falta. Características: 1) Honorífica
bem-estar); 2) Teleológica (finalidade); 3) Merocrática.

A JUSTIÇA PARTICULAR CORRETIVA tem em vista os objetos, não valorando méritos, mas
medindo impessoalmente o benefício ou o dano que as partes podem suportar; ordena as relações dos
membros entre si. Consiste na igualdade, segundo uma proporção aritmética (critério objetivo e
aritmético). Se os bens não forem distribuídos da forma correta, ou se algum ato de injustiça (como
um furto) for cometido após a distribuição dos bens, então entra em cena a justiça corretiva. A função
da justiça corretiva é de corrigir a situação de injustiça. Ela faz isso por meio de uma relação
de igualdade absoluta: retirando absolutamente tudo o que está com quem não deveria estar e
entregando para aquela pessoa que merecia originalmente. Esse ato que corrige uma situação de
injustiça, que realiza a justiça corretiva, é chamada de “ato de justiça. ”. 

Justiça Particular Comutativa: quando na justiça corretiva intervém a vontade dos interessados;
voluntárias (contratuais). A justiça contratual é essencialmente preventiva. É a justiça prévia que
iguala as prestações recíprocas, antes que seja efetuada a transação. Assim, não é a que repara ou
indeniza o dano, mas a que ordena e regula o intercâmbio. A justiça contratual é subjetiva e autônoma,
dando lugar aos contratos que existem juridicamente na medida em que se dá o mútuo consentimento.

Justiça Particular Judicial: Quando se impõe contra a vontade de uma das partes, que se expressa
através da lei na tipificação dos delitos e das penas e é declarada pelo juiz; involuntárias (delituais).
Estão no âmbito da justiça penal que é repressiva, negadora da injustiça. Trata-se de uma justiça cuja
razão de ser é a compensação, correção ou retificação da injustiça.
EQUIDADE (justiça no caso concreto): na aplicação da lei abstrata aos casos concretos, sugeriu um
corretivo da rigidez da justiça: a equidade (epieikeia). Esta permite adaptar a lei a cada caso particular
e temperar-lhe o rigor com a adequação (comparação com a régua lésbia, feita de substância flexível,
capaz de se adaptar à sinuosidade dos objetos). Com a equidade Aristóteles resolveu o problema
decorrente da dificuldade de tomar leis gerais e aplicá-las aos casos concretos, com a equidade, que
atenua os rigores da lei quando a falta. Isto porque, dotada a lei de abstração e universalidade, não
diferencia as circunstâncias de cada caso concreto, daí poder ensejar injustiça por meio do próprio justo
legal. Quando a lei universal falha no particular é justa a correção da omissão.

Resumindo:

 Justiça em Sentido Universal – exercício das virtudes;

 Justiça em Sentido Particular – divisão de bens;

Justiça em sentido particular e igualdade: “Todo justo é uma forma de igual”;

 Justiça (particular) distributiva: Igualdade proporcional (a cada um segundo seus méritos);

 Justiça (particular) corretiva: Igualdade absoluta (correção da situação de injustiça; ato de


justiça);

Para Aristóteles, o homem é um animal naturalmente político (zôon politikón), isto é, chamado a viver
na pólis, por exigência de sua própria natureza. O homem não é apenas social, mas também político e
somente ele é assim. A pólis é mais natural ao homem do que qualquer associação. O homem é homem na
medida em que é animal político. Fora da pólis só se pode imaginar um super-homem (Deus) ou um
animal bruto (monstro). Para Aristóteles o desenvolvimento da razão só é possível na medida em que o
homem se integre à pólis. O homem não pode tornar-se um ser do bem e do justo, não pode atingir a
mais alta dignidade acessível a ele, senão por sua própria determinação, e este fim é inseparável da
vida em sociedade (pólis).

A política é ciência primordial porque o bem da cidade é superior ao bem individual e necessário ao
aperfeiçoamento do homem. A pólis faz do homem um ser completo, pois ela realiza as condições desta
completude: ordem, paz e justiça. Aristóteles aceita a escravidão como instituição natural. A
escravidão justifica-se pela suposta incapacidade de certos homens de governarem a si mesmos. Há
homens que nascem livres e outros escravos por natureza.

VIRTUDES: O homem atinge a felicidade mediante a prática da virtude, disposição de caráter que o torna
bom e que o faz desempenhar bem sua função. A virtude é o atributo de visar o meio termo entre dois
extremos, entre dois erros, um caracterizado pelo excesso e outro pela carência, enquanto o meio
termo é a forma de acerto. As virtudes são divididas em dianoéticas ou intelectuais, às quais se chega pelo
ensinamento, e éticas ou morais, às quais se chega pelo exercício, pelo hábito. Dentre as virtudes
intelectuais a mais importante é a prudência, capacidade de deliberar sobre o que é bom ou mal, correto ou
incorreto, e dentre as virtudes éticas, a de maior relevância é a justiça, que deve ser praticada não somente
em relação à própria pessoa, mas em relação ao próximo.

“A justiça não é parte da virtude, mas a virtude inteira; nem é seu contrário, a injustiça, parte do vício, mas o
vício inteiro”. Aristóteles concebe a justiça como: a) um costume reto, um hábito fundamental; b) uma
virtude; c) um justo meio entre o excesso e a falta; c) um saber prático, que pode ser ensinado e
aprendido. Ao contrário, das demais virtudes, à justiça se opõem a um único, que é a injustiça,
pressupondo-se que a virtude é o meio-termo entre o agir injustamente e o ser tratado injustamente.

QUESTÕES:

2º) Tomando por base o conceito de virtude em Aristóteles como meio-termo (mesótes), demonstre por
que a justiça é uma virtude e por qual motivo essa virtude produz apenas um vício e não dois como as
demais virtudes. A justiça é uma virtude porque ela só se realiza quando nas inter-relações cotidianas entre
as pessoas, sejam elas políticas, sociais, econômicas, jurídicas, religiosas, etc. o justo meio se realiza, isto é,
quando não há excesso ou carência, mas, o médium, o necessário para a realização do bem comum e para
uma vida feliz. A justiça abrange todas as demais virtudes.

3º) Analise e exponha o conceito de justo total, segundo a teoria aristotélica. O justo total é todo ato de
observância da legislação destinada a todo o povo que está sob as suas leis, pois uma vez que, a Lei é
feita com a finalidade de se atingir o bem comum. Por isso, cumprir a Lei é ser justo de modo universal,
isto é, total, porque quando um preceito legal é realizado por uma ou mais pessoas a justiça é realizada para
todos.

6º) Estabeleça as diferenças entre o justo político e o justo doméstico, subsidiado na teoria aristotélica.
O justo político pertence aqueles que fazem parte do corpo cívico, isto é, se trata de um conjunto de normas
destinada única e exclusivamente para os cidadãos da polis. Contudo, o justo doméstico corresponde às
regras destinadas a regular as relações e os papeis daqueles que compõem a estrutura doméstica, de modo
que, abrange a todos que fazem parte das mesmas, independentemente de serem cidadãos ou não, como os
escravos, as mulheres e as crianças.

7º) Analise as diferenças entre o justo legal e o justo natural. O justo legal se refere as normas
elaboradas a partir da convenção humana e postas pelo legislador para que todos a cumpram, de sorte que
ele visa a regular as mais complexas e particulares relações entre as pessoas. O justo legal, objetiva
acompanhar a dinâmica social e deriva de ato volitivo, isto é, de vontade do legislador. Porém, de acordo
com Aristóteles, as normas legais só são validas se seguirem as normas naturais. O justo natural provém do
Direito natural e é composto por normas genéricas apriori, as quais estão inscritas na natureza e, por isso,
são validas em si mesmas. Como elas não precisam de outras normas para validá-las, são universais,
independem de convenções e servem como parâmetros para a construção de normas legais, de modo que, as
normas legais válidas são aquelas que de algum modo positivaram as normas naturais.
8º) Demonstre a necessidade de relação entre equidade e justiça. Para que a justiça se dê na aplicação da
norma jurídica, a qual consiste na adequação da norma ao caso concreto, é necessário que o juiz utilize-se da
equidade, isto é, que recorra a sua razão a fim de que as normas jurídicas e genéricas, incapazes de prever
todas as questões jurídicas possíveis em face da complexidade e infinidade das relações humanas, possam
dar conta das particularidades de cada caso de modo a corrigir a justiça legal. Por isso, só existe justiça
quando o justo legal está em consonância com o equitativo, o racionalmente justo, não obstante as
deficiências das normas legais, para cada caso concreto.

9º) Amizade e justiça são categorias conceituais necessárias para a compreensão da teoria aristotélica
sobre a Justiça. Assim, explique a relação entre esses dois conceitos segundo Aristóteles. A justiça, em
seus múltiplos desdobramentos visa garantir, o bem comum e a felicidade individual de cada pessoa que faz
parte da polis. Assim, a felicidade e o bem comum só existem quando os membros da polis estão em relação
e comunhão harmônicas. Por isso, a realização do bem comum e da felicidade só é possível quando existe a
amizade, uma vez que, ela, pressupõe comunhão e relação entre pessoas virtuosas e, portanto, justas em suas
variadas relações com os outros, porque seguem, em sua consciência e em sua legislação, os imperativos da
justiça natural. Portanto, o cultivo da amizade, isto é, de saber-se vinculado aos demais e responsável por
toda a polis, de saber-se feito para a relação com a alteridade, é necessário para que a justiça se realize nas
interações sociais, econômicas, políticas, religiosas etc.

10º) Explique qual a visão de Aristóteles sobre o Juiz no processo de aplicação da justiça. O Juiz é a
justiça animada, a personificação da justiça, de modo que, ao estar equidistante e imparcialmente entre as
partes em contenda, usa da equidade, a reta razão, a fim de aplicar a justiça corretiva através da aplicação da
norma legal ao caso concreto. Assim, o juiz é o intermediário pelo qual as partes em litígio alcançam a
justiça.

11º) Atualizando a teoria aristotélica, cite exemplos (reais ou hipotéticos) que ilustrem os conceitos de
justiça particular distributiva e justiça particular corretiva. Justiça particular distributiva se dá
quando a administração pública direta ou indireta decide preencher seus cargos vagos através de concursos
públicos de provas e títulos, ou quando, pelo ato de discricionariedade decide nomear pessoas para
assumirem cargos de confiança, desde que, as mesmas, sejam competentes e estejam legalmente dispostas
para tais cargos. Justiça particular corretiva se dá, quando pessoas casadas resolvem se separar e não
conseguem decidir amigavelmente quem irá ficar com a guarda dos filhos, de sorte que, uma das partes do
conflito resolve acionar o poder judiciário para resolver a questão e o mesmo, personificado no juiz, ao final
do processo, adéqua, via sentencial, uma norma oriunda do ordenamento jurídico ao caso e decide quem e
sob quais condições jurídicas irá ficar com a guarda dos filhos.

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