Monografia Andrea Elia
Monografia Andrea Elia
Monografia Andrea Elia
São Paulo
2020
ANDREA HERMINIA ELIA PINHEIRO
São Paulo
2020
RESUMO
Vincular-se a um cliente nem sempre é uma tarefa fácil e o estabelecimento de uma relação
terapêutica boa é muito mais do que ter um relacionamento agradável com o cliente, pois
comportamentos do terapeuta e comportamentos do cliente podem dificultar ou facilitar o
processo de mudança do cliente. A relação terapêutica parece ser parte fundamental para o
andamento do processo, sendo que muitos terapeutas aceitam que a qualidade dessa relação
implica no processo e diversas abordagens teóricas trataram desse assunto. Parece haver certo
consenso na literatura a respeito da importância do vínculo terapêutico para obtenção de bons
resultados na psicoterapia. Mediante a importância dessa variável torna-se importante verificar-
se como esse dado é mensurado ou avaliado pelo psicólogo, e, nesse sentido entender se os
analistas do comportamento estão usando instrumentos para mensurar a qualidade da relação
terapêutica. O presente trabalho apresenta uma revisão sistemática das publicações brasileiras
sobre avaliação da aliança terapêutica com a utilização de instrumentos. A busca foi realizada
com 13 (treze) descritores, sendo 9 (nove) deles protocolos mais encontrados na literatura
como sendo os mais utilizados. As bases de dados foram: Scielo, Bireme, Capes e Lilacs.
Foram selecionados 8 artigos para análise, sendo que apenas 3 eram da Análise do
Comportamento. Com base nas análises dos artigos selecionados, aspectos importantes dos
estudos foram mencionados. Por fim, verificou-se a escassez de estudos na área, de forma que
mais pesquisas empíricas sejam realizadas.
Palavras-chave: relação terapêutica; instrumentos; avaliação.
Lista de Tabelas
Tabela 1 Instrumentos para a avaliação da Relação Terapêutica 13
Tabela 2 Apresentação dos artigos encontrados na Fase Exploratória 18
Tabela 3 Apresentação das publicações brasileiras que noticiam a utilização de escalas 18
como medida da relação terapêutica
Lista de Siglas
Introdução ..................................................................................................................................7
Objetivo .....................................................................................................................................15
Método ........................................................................................................................,..............16
Resultados e Discussões.............................................................................................................18
Considerações Finais.................................................................................................................28
Referências ...............................................................................................................................29
7
proQua
Pode-se dizer, a grosso modo, que o encontro terapêutico cria um espaço diferenciado
de todos os outros espaços da vida cotidiana do cliente. O setting terapêutico é único, onde o
cliente e o terapeuta interagem e seus comportamentos influenciam-se mutuamente e de
forma dinâmica. (Peuker et al, 2009)
Vincular-se a um cliente nem sempre é uma tarefa fácil. O estabelecimento de uma
relação terapêutica boa é muito mais do que ter um relacionamento agradável com o cliente,
pois comportamentos do terapeuta e comportamentos do cliente podem dificultar ou facilitar o
processo de mudança do cliente (Meyer, 2001).
O que se verifica é que, conforme Zamignani et al (2019), várias pesquisas na área,
bem como artigos sobre práticas clínicas, fornecem indícios de que independentemente do tipo
de tratamento, a relação terapêutica “contribui de forma substancial e consistente para o
resultado da psicoterapia”. (p.19).
Portanto, quando o assunto é psicoterapia, a relação terapêutica parece ser parte
fundamental para o andamento do processo, sendo que muitos terapeutas aceitam que a
qualidade dessa relação implica no processo e diversas abordagens teóricas trataram desse
assunto. (Shinohara, 2000).
Para o Behaviorismo Radical, modelo filosófico que fundamenta as práticas científicas
da análise experimental do comportamento e também este trabalho, o comportamento pode ser
definido como a relação entre o organismo e o ambiente, e seus determinantes devem ser
buscados nas histórias da evolução de uma espécie, de vida de um indivíduo e da evolução
de práticas culturais (Skinner, 2003).
Skinner, influenciado pelo mecanismo de seleção natural proposto por Darwin para a
evolução das espécies, elaborou o modelo de seleção pelas consequências, em 1969. Este
modelo propõe que a seleção não atuaria somente na variabilidade anatômica e fisiológica
exibida pelos indivíduos, mas também na variabilidade comportamental. De acordo com
Skinner (1984), o comportamento de um indivíduo seria resultado de contingências
filogenéticas (atuando no nível das espécies), de contingências ontogenéticas (atuando no
nível dos repertórios comportamentais individuais) e de contingências culturais (atuando
no nível das práticas grupais).
A explicação do comportamento humano exige que se considere cada um destes níveis
de determinação e a inter relação entre eles. Portanto, o vínculo e o vincular-se enquanto
comportamento é multideterminado e selecionado por contingências evolutivas (filogênese),
pela história particular de cada indivíduo (ontogênese) e por práticas culturais e devem ser
8
analisadas segundo essas três classes de variação e seleção. Também tem como característica
ser um comportamento que se faz e se mantém em contexto social, na medida em que afeta e é
afetado por outros seres e humanos.
A Análise do Comportamento é uma ciência alinhada ao modelo de seleção natural,
que visa compreender a relação do homem e seu meio através dos seus processos de
aprendizagem de novos comportamentos e mudanças comportamentais, mantidos por
contingências de reforçamento nos três níveis de seleção, como viu-se. O terapeuta analítico-
comportamental, analisa o sofrimento produzido ao indivíduo, como critério para verificar se
um problema clínico merece ou não atenção especial, tanto para o cliente, quanto para as
pessoas de seu convívio (Vilas Boas, Banaco & Borges, 2012).
Como abordagem da psicologia, a Análise do Comportamento não se foca em rotular
os pacientes pelo diagnóstico de uma patologia. O psicólogo clínico desta abordagem busca
compreender funcionalmente os comportamentos de seu cliente, focando em reduzir a
estimulação aversiva ao qual este está exposto e aumentar seu acesso a reforçadores,
independente do diagnóstico que receba (Vilas Boas, Banaco & Borges et al 2012).
Segundo Skinner (1953), o cliente está em sofrimento e qualquer promessa de alívio é
reforçadora. Isto é, para Skinner, uma das características essenciais para que a relação
terapêutica seja satisfatória, leva em consideração o fato de que o terapeuta deve colocar-se
diante de seu cliente de forma não punitiva. Assim, o terapeuta oferece ao seu cliente um
ambiente seguro e de aceitação no que se refere a intimidade e particularidades dos clientes,
sendo chamado por Skinner (1953) de audiência não punitiva.. Ou seja, essa aceitação
incondicional do terapeuta demonstra ao cliente que ele pode ser ele mesmo, falar o que
precisar e não ser punido por tal comportamento.
Nesse sentido, o cliente é único e também é única a sua maneira de vincular-se nessa
relação e estão sendo modificados, pois trata-se, além de tudo, de uma relação humana entre
sujeitos com suas potencialidades, limites e saberes (Monteiro, 2010).
Apesar da aparente obviedade da importância do tema em psicoterapia, por algum
tempo os terapeutas comportamentais tinham como principal frente de trabalho a aplicação de
técnicas e não se levava muito em consideração o contexto da relação terapêutica como uma
variável importante a ser considerada (Shinohara, 2000). Isto é, os terapeutas comportamentais
nem sempre foram reconhecidos por entenderem a relação terapêutica como uma variável
relevante na análise funcional de um caso. Acredita-se que isso difundia ainda mais a
concepção errônea do Behaviorismo Radical como uma abordagem mecanicista e reducionista
do comportamento. (Cunha, 2013).
9
que a relação que será estabelecida será usada como base para o desenvolvimento de
comportamentos mais adaptativos no cliente (Fernandes, 2012).
É talvez nesse constructo terapeuta-cliente, o qual pode-se grosso modo chamar-se de
vínculo, que poderá estar a raiz terapêutica das psicoterapias. O vínculo é visto como tão
essencial para a existência da psicoterapia, que é concebido como condição anterior a qualquer
concepção de Psicologia. (Borges, 2012).
Dentre esses quesitos ou comportamentos do terapeuta, Borges (2011) dá destaque para
a observação que esse terapeuta deverá ter acerca dos possíveis efeitos do relacionamento
terapêutico sobre o processo de mudança do cliente. Essa relação e suas interações poderão
formar, provavelmente, corpo do qual dependerá o andamento do processo e seu conseguinte
sucesso, aliás, pesquisas em várias abordagens tem revelado que a aliança terapêutica está
intensamente acoplada a resultados positivos. (Martins, 2012).
Vários autores propuseram-se a discutir e posteriormente elencar alguns
comportamentos importantes e/ou necessários do terapeuta para que a relação terapêutica
alcançasse esse patamar de importância. Dentre eles, Bandeira (2006) apresenta algumas
habilidades pessoais desejadas do terapeuta, tais como, ouvir, com atenção a fala da outra
pessoa, observar, com atenção, no outro, expressões verbais relevantes, ajudar o outro a
identificar, nomear e expressar seus sentimentos, expor, com clareza e objetividade, conteúdos
relevantes ao trabalho desenvolvido, etc. Zamignani (1999) pontuou que as reações do
terapeuta em sessão devem ser diferentes das mesmas disponíveis no ambiente natural do
cliente, exigindo do terapeuta algumas habilidades além daquelas especíificas e singulares que
possui. Mais recentemente, Pieta e Gomes (2017) apresentaram um exame das metanálises
em aliança terapêutica, com foco no sucesso do tratamento e concluiram que a importância da
relação terapêutica para os resultados da psicoterapia tem aberto um amplo e diversificado
campo de investigação na área e acrescentam que os achados sobre a relação terapêutica e
seus resultados tem relevantes implicações clínicas, sendo estrutural sua disseminação entre
profissionais da área, para uma prática mais eficiente e produtiva.
Diante do panorama exposto, parece haver certo consenso na literatura a respeito da
importância do vínculo terapêutico para obtenção de bons resultados na psicoterapia.
Mediante a importância dessa variável, é razoável pensar sobre e necessidade de verificar
como esse dado é mensurado ou avaliado pelo psicólogo.
De acordo com Peuker et al (2009), “o uso de instrumentos padronizados pode
contribuir de muitas maneiras para a avaliação de intervenções e tratamentos e, assim, auxiliar
11
na identificação das variáveis que podem estar atreladas ao sucesso e/ou fracasso do
tratamento psicoterápico. ” (p.443)
Yoshida (1998) ensina que a produção em pesquisas sobre os aspectos da relação
terapêutica que podem contribuir para a mudança ainda permanecem no patamar de grande
desafio e acrescenta que: “Dentro deste quadro, portanto, procurar compreender em que
circunstâncias a relação terapêutica leva à mudança e como ela ocorre nos diferentes
tratamentos, surge quase que como uma decorrência natural de um processo de investigação”.
(p.2).
Considerando a importância do vínculo como variável relevante no processo
psicoterápico e a necessidade de medidas mais objetivas para mensurá-lo, nos últimos anos
foram criados diversos instrumentos com esse objetivo. Maia, Araújo, Silva e Maia, (2017)
apresentam um estudo com o objetivo de revisar os instrumentos disponíveis na literatura para
avaliar aspectos da aliança terapêutica. Foram encontrados nove instrumentos, sendo que sete
poderiam ser usados em qualquer abordagem, um de aborgadem psicanálitica e um especíifico
para a Terapia Cognitivo-comportamental. Contudo, segundo os pesquisadores, verificou-se
que apenas quatro estudos referentes ao constructo terapeuta-cliente são brasileiros e sugerem
a necessidade de incentivo a pesquisas sobre o tema em âmbito nacional.
Ainda dentro dessa problemática, os analistas do comportamento que antes pareciam
negligenciar o vínculo terapêutico como parte importante do trabalho clínico passaram a falar
sobre a importância do vínculo como fundamental para o resultado da terapia, bem como, ser
de extrema importância métodos objetivos para a comprovação dessa afirmação. Meyer
(2001) afirmou que: “Há evidência suficiente de que a relação terapêutica pode ser avaliada
no início da terapia por intermédio de instrumentos de avaliação e que esses são preditivos de
participação e resultados na terapia”. (p. 204).
A autora apresenta uma proposta onde se discute a importância de pesquisas na área de
terapia comportamental relacionando resultados de instrumentos padronizados com categorias
comportamentais. Para Meyer (2001),
certamente contribuiria para diminuir o sofrimento das pessoas que buscam tratamento
psicológico.
Considerando os apontamentos até aqui realizados, parece relevante verificar se os
analistas do comportamento estão usando instrumentos para mensurar a qualidade da relação
terapêutica.
Preocupado com o uso desses instrumentos não só por analistas do comportamento
mas pelos terapeutas de todas as abordagens, Martins (2012) realizou uma revisão sistemática
das publicações brasileiras sobre avaliação da relação terapêutica com a utilização de escalas.
Para nortear a pesquisa supra citada, Martins baseou-se na metanálise realizada por
Horvath et al, 2011 (apud Martins, 2012), a qual revelou a existência de mais de trinta
diferentes escalas criadas para mensurar a aliança/relação terapêutica. Os autores, segundo
Martins, observaram que dois terços desses estudos utilizaram quatro escalas. Por conta disso,
o autor utilizou como ponto de referência esses quatro instrumentos, a saber, California
Psychotherapy Alliance Scale (CALPAS), o Helping Alliance Questionnaire (Haq), a
Vanderbilt Psychotherapy Process Scale (VPPS) e o Working Alliance inventory (WAI).
Os resultados obtidos foram de apenas 12 publicações no Brasil e conclui que: “(...) os
terapeutas não avaliam sistematicamente a intervenção que oferecem, apenas baseando-se em
impressões e inferências superficiais” (p.18). E, acrescenta que o interesse pela pesquisa de
escalas em aliança terapêutica e seu uso ainda se mostra insipiente, o que sugere a demanda
para futuros trabalhos.
No mesmo caminho para a verificação do assunto, Maia et al (2017) realizaram um
estudo que tinha como objetivo revisar os instrumentos disponíveis na literatura para avaliar
aspectos da aliança terapêutica. De acordo com os autores, o objetivo era revisar os
instrumentos disponíveis na literatura para avaliar aspectos da aliança terapêutica. Trata-se de
uma revisão integrativa de literatura. Contudo, foram encontrados 9 (nove) instrumentos
quantitativos e de auto relato para avaliação de aspectos da aliança terapêutica. Os autores
informam que a revisão evidenciou os diversos instrumentos existentes para mensurar a
aliança terapêutica disponíveis na literatura. E, para eles “tais achados são relevantes, pois
podem subsidiar na escolha metodológica para o uso em pesquisas em psicologia e
psicoterapia” (p.55).
Considera-se importante apresentar informações acerca dos referidos instrumentos, e,
para isso, apoiar-se-á na tabela oferecida por Maia, et al (2017) que descreve brevemente cada
protocolo citado.
13
Tabela 1
Instrumentos para a Avaliação da Relação Terapêutica
Nome, Autor e Ano Público Alvo Objetivo Teoria
Objetivo
Método
Foi realizada uma revisão das publicações brasileiras acerca da existência de trabalhos
que se propuseram a verificar a qualidade da relação terapêutica por meio de instrumentos.
Nesse contexto, a procura por publicações realizou-se pela utilização dos descritores utilizados
por Martins (2012): “Working Alliance Inventory”, “Helping Alliance Questionnaire”,
“Vanderbilt Psychotherapy Process Scale”, “California Psychotherapy Alliance Scale”,
“relação terapeutica”, “aliança terapêutica”, “aliança de trabalho” e “vínculo terapêutico”.
Contudo, o trabalho realizado por Maia, et al (2017), semelhante ao de Martins (2012),
acrescentou cinco protocolos nos termos de busca. Com o intuito de ampliar o alcance da
busca realizada na presente pesquisa, tais descritorem também foram utilizados: “Emphatic
Undertanding Scale os Relationship Inventory (EUS)”, “Beziehungs-Muster Fragebon
(BEMUS)”, “Inventário Cognitivo Comportamental para Avaliação da Relação Terapeutica”,
“Group Therapy Alliance Scale (GTAS)” e “Agnew Relationship Measure (ARM). Em todas
as bases de dados, o operador booleano utilizado entre os termos de busca foi “OR”, por ser
este o que combina os termos da pesquisa garantindo assim que cada resultado contivesse ao
menos um dos termos buscados.
As bases de dados utilizados no presente trabalho foram as mesmas descritas por Maia
et al (2017): LILACS, BIREME, SCIELO e CAPES. A base de dados MEDLINE foi usada no
trabalho mencionado mas não foi incluída na presente pesquisa por não alcançar artigos na
língua portuguesa. Por essa mesma razão, excluiu-se também a plataforma PSYCINFO
descrita no trabalho de Martins (2012). A escolha por essas bases se deu também em razão do
acesso gratuito às mesmas e garantia de resgate na íntegra aos artigos revisados.
O procedimento de busca nas bases de dados descritas foi realizado em abril de 2020.
Os descritores foram buscados nos títulos dos trabalhos e o período escolhido foi entre 2013 e
2020, com o intuito de ampliar o alcance do trabalho de Martins (2012).
Os seguintes critérios de inclusão foram adotados: conter no título ao menos um dos
descritores da pesquisa, ter sido publicado entre 2013 e 2020, estar em português.
Esse procedimento resultou em 160 artigos. Seguindo o que se previu na análise como
1ª. Fase do método, realizou-se a Leitura Exploratória de todo o material selecionado (leitura
17
rápida que objetivou verificar se o artigo encontrado era de interesse para o trabalho). Após
essa leitura, excluiu-se então 136 artigos, restando 24.
Num segundo momento, ainda no que se considerou 1ª. Fase, realizou-se uma Leitura
Seletiva (leitura mais aprofundada) com o objetivo de selecionar os artigos que tratavam da
mensuração do sucesso da relação terapêutica com o uso de escalas, ou protocolos. Em
seguida, foram excluídos os materiais duplicados entre as bases e os trabalhos que, apesar de
conter um dos descritores no título, tratavam de assuntos não pertinentes ao interesse dessa
pesquisa. Ao final desse procedimento, foram selecionados para leitura na íntegra 8 artigos.
Nessa etapa, que considerou-se a 2ª. Fase, registrou-se as informações extraídas das
fontes (autores, ano, método, resultados e conclusões), bem como, a proposta conceitual dos
termos em análise (relação terapêutica, vínculo e sucesso da terapia ou similar).
Pretendeu-se também avaliar quantos dos achados eram da Análise do
Comportamento.
Objetivando caracterizar a produção encontrada, organizaram-se os achados com base
nas seguintes informações que tinham como objetivo responder as perguntas que são eixos
dessa pesquisa. As indagações são:
Quantas publicações brasileiras existem que noticiam a utilização de escalas com
medidas para a relação terapêutica?
Os terapeutas comportamentais estão utilizando instrumentos para avaliar a relação
terapêutica em pesquisas?
Quantos trabalhos dentro da Análise do Comportamento existem sobre o tema?
Também foi fruto dessa pesquisa, entender o que os autores das produções encontradas
apresentam como entendimento do que seria sucesso terapêutico e nesse sentido, já catalogar
constructos do que por ventura esteja sendo considerado e definido como “Relação
terapêutica”,“vínculo” e “sucesso da terapia” ou similar. Portanto, foi realizada uma análise
descritiva das publicações selecionadas, buscando uma maior compreensão das mesmas para
construir respostas que alcançassem os objetivos acima descritos.
18
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tabela 2
Apresentação dos Artigos encontrados na fase exploratória
Base de dados Artigos Artigos Artigos com Artigos da Análise
Selecionados protocolos do
comportamento
LILACS 38 8 3 1
BIREME 33 9 2 1
SCIELO 29 3 3 1
CAPES 60 4 0 0
TOTAL 160 24 8 3
Tabela 3
Apresentação das publicações brasileiras que noticiam a utilização de escalas como medida
para a relação terapêutica
sistemática. Psico, 46(4), psicoterapia”.
503-512 (p.504)
Araújo, Mara Livia de,
T.C.C
& Lopes, Renata Inventário Cognitivo- “Tem sido “O sucesso
Ferrarez Fernandes. comportamenta para descrita como um em terapia é
(2015). Avaliação da Aliança elemento composto por
Desenvolvimento de um Terapêutica fundamental do critérios que
inventário cognitivo- processo estão
comportamental para psicoterapêutico relacionados à
avaliação da aliança por ser uma das colaboração, ao
terapêutica. Revista variáveis feedback do
Brasileira de Terapias relacionadas tanto paciente, à visão
Cognitivas, 11(2), 86-95 à adesão quanto que o paciente
ao resultado
tem da terapia e
do tratamento”
às reações do
(p.86)
terapeuta”. (p.87)
apego) entre a
dupla.” (p.298)
Fernandes, F. A. D.
(2015). Relação Análise do Não menciona “sugere que o
terapêutica: uma Comportamento SMCCIT terapeuta tem
análise dos condições
comportamentos de singulares durante
terapeuta e cliente em as sessões para
sessões iniciais de observar e evocar
terapia. Dissertação de os comportamentos
Mestrado, Instituto de problemas e desta
Psicologia, forma,
Universidade de São promovendo a
Paulo, São Paulo longo prazo a
diminuição do
sofrimento” (p.10)
Martins da Silveira, J., & Análise comportamento Programa “uma via de “Consideraram
de Cássia Guenzen, L. QuestionPro mão dupla na que a intimidade
(2017). Intimidade na qual o terapeuta influencia o
relação terapêutica: Uma influencia o tratamento e que
caracterização da cliente por meio um processo
palavra por terapeutas do impacto que essencialmente
analítico- o cliente tem bidirecional.”
comportamentais. sobre ele. É um (p.547)
Psicologia Argumento, tipo de relação
31(74). na qual nem
cliente nem
terapeuta pode
sair sem ser
transformado”.
a relação
terapeuta/cliente
é um exemplo
de relação
íntima, nela “o
terapeuta
interage de
maneira
carinhosa,
atenta,
reforçadora,
róxima à
autorrevelação
do paciente”.
(p.549)
Esse achados são similares aos de Becker e& Benetti (2015), que apresentam a idéia de
que ao longo do tempo as pesquisas sobre a relação terapêutica tornaram-se mais específicas,
assim como as medidas utilizadas para aferi-la. Afirmam os autores a existência de mais de 50
diferentes instrumentos destinados à sua avaliação e acrescentam que o interesse e a utilidade
desse constructo têm crescido. Contudo, assim como em todos os artigos selecionados,
ressaltam a escassez de pesquisas nacionais sobre o tema.
O estudo menciona a utilização de algumas escalas que seriam importantes para a
avaliação e posterior ampliação de saberes sobre a aliança terapêutica. Assim como a pesquisa
de Ferreira et al (2016), a pesquisa de Becker et al (2015) torna-se relevante, pois apresenta
em suas considerações que os protocolos utilizados pelos pesquisadores demonstraram que:
Dentre os artigos selecionados, apenas dois possuem seu referencial teórico na análise
do comportamento, o que parece ser um preditivo de que os analistas do comportamento não
estão pesquisando muito sobre o tema.
Meyer et al (2016) apresentam uma proposta de estudo da formação da relação
terapêutica por meio de sessões online. Nesse trabalho utilizou-se a escala WAI e parece ter
sido a única pesquisa encontrada que atende, quase que completamente, os objetivos deste
estudo.
Isso se dá porque fora realizado um estudo que avalia a relação terapêutica com uso de
escalas e de acordo com os autores, a medida utilizada foi capaz de mensurar se há ou não
formação de aliança terapêutica via internet, não descartando que mais estudos se fazem
necessários.
Nesse estudo não se questionou sucesso da terapia, porém, os autores reafirmam que,
sendo a formação de uma boa relação terapêutica condição fundamental para se alcançar tal
estágio, e que sendo construída essa relação nas terapias via internet, então o que se define
como “sucesso terapêutico” fora alcançado.
Para Fernandes (2015), estudar a relação terapeuta-cliente só é possível se a mesma for
analisada empiricamente, isto é, na proposta da autora, se os comportamentos do terapeuta e
do cliente forem categorizados no início da terapia. Para isso, a autora sugere a utilização do
SMCCIT (Sistema Multidimensional de Categorização de Comportamentos na Interação
Terapêutica).
Destaca que a relação terapêutica têm sido estudada de diversas formas e que sua
avaliação de bons resultados podem ser medidas através de instrumentos.
O trabalho é bastante relevante porque apresenta uma revisão dos estudos referentes a
avaliação da relação terapêutica e conlcui que profissionais deveriam:“regularmente monitorar
as respostas de seus pacientes para a relação terapêutica e para o que está acontecendo no
momento do tratamento.” (p.47)
A autora sustenta a importância de mais pesquisas de caráter empírico sobre a relação
terapêutica.
Com relação aos outros dados que pretendeu-se avaliar, importante ressaltar que em
todas as pesquisas constructos como “relação terapêutica”, “vínculo terapêutico” foram
descritos como fatores esseênciais para o bom desenvolvimento da terapia. Parece ser
unanimidade nas abodargens encontradas.
26
pacientes. Diante disso, parece-nos correto que os terapeutas devam embasar suas ações em
dados empíricos.
Se por um lado temos a validação da importância do constructo “relação terapêutica”
como preditor de bons resultados em terapia, do outro devemos ter os meios que possam
comprovar tal afirmação. Buscar dentre as publicações brasileiras artigos que possam discorrer
sobre tais variáveis é buscar respaldo empírico para as ações práaticas em psicologia.
Leonardi et al. (2015) também ressalta a relevância da prática baseada em evidências e
acrescenta que o assunto ainda é pouco discutido na Psicologia brasileira.
O autor destaca que o modelo de intervenção que o terapeuta escolhe e sua prática
clínica fundamenta-se, quase que ordinariamente, em sua experiência profissional (p.1140).
No entanto, destaca que o interesse em uma pratica baseasa em evidências vem crescendo
dentro da Psicologia internacional.
Segundo o autor, o tema é pouco discutido no cenário brasileiro e são poucas as
pesquisas na língua portuguesa (p.1141).
Numa segunda proposta de estudo, Leonardi (2016) traz a aproximação da prática
baseada em evidências com a Análise do Comportamento e aqui nos oferece dados bastante
reveladores e assustadores. Segundo ele, algumas práticas e técnicas das quais se utilizam os
terapeutas comportamentais carecem de sustenção empírica. (p.135).
Para nós, parece um contrasensu que terapeutas comportamentais, tão comprometidos
na sustenção de sua teoria e técnica, não se debrucem com afinco e dedicação na validação de
seus procedimentos, até porque bebem da fonte máxima extraída das obras de Skinner.
Não seria demais mencionar que Skinner desenvolveu a análise do comportamento e
fundou uma escola de pesquisa experimental em psicologia - a análise experimental do
comportamento.
Uma das características definidoras da Análise do Comportamento Aplicada é o forte
comprometimento com a sustentação empírica de seus procedimentos de intervenção,
portanto, parece-nos lógico que a Análise do Comportamento Clinica ou a Terapia Analíco-
Comportamental devem ser cientificamenteífica embasadas.
Portanto, nossa proposta é a de que analistas do comportamento não devem poupar
esforços para que mais programas de pesquisa sejam implementados para validar a eficácia de
suas práticas e como sugestão, a utilização de protocolos para a avaliação de sua performance.
Não só nas questões relativas à sua técnica de intervenção, como também, nas questões que
envolvem a potência da relação terapêutica como ítem de máxima importância para o sucesso
desta.
28
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa revisão revelou que estudos que versam sobre a avaliação da relação terapêutica
com a utilização de instrumentos como uma expressão do encontro entre as partes no setting
ainda revelam-se escassos. Os artigos que versam sobre o tema e acrescidos de instrumentos
que possam averiguar sua efetividade, ainda menos.
Outros pontos bastante significativos revelados pela pesquisa, são os de que, parece
que com relação ao método escolhido, o mais utilizado por aqueles que compartilham do
mesmo interesse são as Revisões Sistemáticas.
Nesse sentido, e nem tampouco excesso de relevância, outro ponto que merece
destaque refere-se à carência de estudos dentro da análise do comportamento. Embora
identificados dois artigos dentro dessa revisão, os mesmos não se mostraram capazes, por si
só, de responderem as questões que foram objetivos deste trabalho.
Ainda dentro dessa linha de análise, a Teoria Cognitivo-Comportamental parece ser a
abordagem que mais se preocupa com tal proposta. A Psicanálise carece de poucos estudos.
Sobre isso, o trabalho de Carvalho et al. (2015) afirma que, muito embora tenha sido Freud a
estabeler importância na aliança terapêutica, tal abordagem carece de estudos empíricos na
área.
29
Portanto, é muito importante que, para uma melhor compreensão do fenômeno, sejam
realizadas mais pesquisas no sentido de averiguar se protocolos podem ser usados para avaliar
a relação terapêutica e sendo assim, indicar quais protocolos que porventura se adequariam a
tal proposta.
Para nós, a despeito do WAI ser o instrumentos mais mencionado na literatura como
sendo a mais utilizada pela Análise do Comportamento, torna-se interessante mencionar como
o BeMus-3 parece se ajustar para a realização de uma anáalise funcional dos comportamentos
das partes (cliente-terapeuta) em sessão.
Espera-se que este trabalho tenha germinado o interesse pelo tema e desta forma,
alavancar pesquisas que possam contribuir para o aperfeiçoamento não só do terapeuta
comportamental, como o de outras aborgagens. Isso porque, esforços conjuntos das diversas
teorias contribuirão para o desenvolvimento da psicologia como ciência e profissão.
Referências