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A invisibilidade acometida a indivíduos Trans e Travestis na sociedade brasileira:

Diálogos com a Psicologia.

Ângela Carolina Silva


Fernanda Cardoso Nogueira
Gustavo Garcia Vieira
Liana Paz Nascimento
Monique Domingues Netto

RESUMO
Este artigo buscou pesquisar sobre a compreensão de gênero e identidade de gênero e do impacto social da
marginalização, invisibilidade e preconceitos e violências em níveis interpessoais e organizacional que
ocorrem a transexuais e travestis. A metodologia utilizada foi à pesquisa explorativa.. Esse método de
pesquisa visa aumentar a sua objetividade, colocando-o para mais próximo da realidade. Os resultados aqui
obtidos foram retirados da base de dado do Scielo e Google Acadêmico. Dificuldades foram encontradas
durante a busca de materiais para a construção deste artigo, como encontrar artigos e materiais que
abrangessem o tema em geral, e demonstrassem a própria invisibilidade, mostrando assim a validade dos
objetivos pesquisados. A partir dessa pesquisa concluímos que a invisibilidade, preconceitos e violências
experenciadas por transexuais e travestis trespassa nossa sociedade em vários meios, familiar, social,
escolar e organizacional e até mesmo em negação de direitos e que isso está relacionado a um preconceito
LGBT estruturalizado que as colocam em situação desfavorável.
Palavras-Chave: Gênero, Invisibilidade, Transfobia, Brasil.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa produzir debates sobre as questões relacionadas à


invisibilidade do público transexual e travesti no Brasil acarretando junto a estas pessoas
dinâmicas de violência ocasionada pela transfobia.
Nesse sentido para entender o que foi supracitado é de suma importância discorrer
sobre as demandas em relação à transexualidade, é essencial refletir sobre questões acerca
da construção de gênero. O que é ser homem e ser mulher na sociedade brasileira? Os
papéis sociais estabelecidos em relação ao gênero exigem uma continuidade entre o sexo
biológico. Assim, gênero e sexualidade se baseiam de forma interligada a uma construção
social relacionada com questões da heteronormatividade (CHAGAS; NASCIMENTO,
2017).
Dessa maneira o pensamento acerca da heteronormatividade acontece de acordo
com as teorias de gênero binárias em base de cunho biológico, que construíram e ainda
influenciam de forma predominante o pensamento social, só são considerados dois sexos:
masculino e feminino. Não acontecem metamorfoses e/ou qualquer viabilidade de
transmutar entre eles, levando em considerações os intersexuais ou hermafroditas, mesmo
eles se sentem pressionados socialmente e pela medicina a se adequar a um gênero e sexo
(CHAGAS; NASCIMENTO, 2017).
Ainda de acordo com Chagas e Nascimento (2017), é demonstrado que a noção
de gênero se baseia em uma estruturação que é totalmente biológica. Há também a
estruturação social e a influência do conservadorismo religioso na sociedade, que acaba
determinando o que é ser homem e ou mulher a uma questão ligada à genética. No que
depende da cultura e de recortes históricos, o papel social é intrínseco ao seu sexo e tudo
que diverge dessa construção dada como “natural” é visto como transgressor.
De acordo com Beauvoir (1949, p.9) com sua ilustre frase “não se nasce mulher,
se torna mulher”, é possível desencadear reflexões sobre o que é ser mulher na sociedade.
Chagas e Nascimento (2017), retratam que podemos entender que existem reforços
culturais que vão além do biológico e sobre a genitália, na construção do papel e da
essência do feminino na sociedade que ditam esses comportamentos.
Na atualidade percebemos que essas construções acerca do gênero e do biológico
do indivíduo atuaram para colocar essas pessoas que não se encaixam nos padrões
normativos a margem da sociedade, em uma condição de invisibilidade social e de
negação dos seus próprios direitos. Assim, nega-se o fato de que são pessoas comuns,
servindo mesmo apenas para que reforce como um distanciamento deles da sociedade
(CHAGAS; NASCIMENTO, 2017).
Os autores ainda afirmam que, desse modo surge então o pensamento de
identidade de gênero que se distância do pensamento de gênero binário citado
anteriormente, que seria como a forma que a pessoa se posiciona em determinado gênero
e papel social de acordo com sua autoafirmação. É rompida a relação entre sexo e gênero,
não necessariamente havendo uma ligação entre eles, e ressignificando a construção de
gênero que existe no binarismo homem e mulher.
Seguindo a mesma linha de pensamento, será entendido, logo após, sobre como a
forma que as construções de gêneros binarias que foram se construindo e alimentando
historicamente o preconceito, e reforçando para a marginalização das travestis e
transexuais em relação aos padrões de gênero de acordo com a visão binária, que
pressupõe apenas duas formas de se posicionar na sociedade de acordo com o sexo
biológico e os seus determinados papéis sociais.
A construção da identidade de gênero faz com que cada vez mais pessoas
entendam que indivíduos que se posicionam enquanto não binários, e pessoas trans e
travestis, são uma condição normal existente entre os seres humanos e na sociedade.
Demonstrando que essa relação vai além de corpos transgressores da
“normalidade”, além da quebra de padrão da sociedade, mas que são corpos que estão em
frequente negação de seus direitos e em uma constante condição de invisibilidade
(CHAGAS; NASCIMENTO, 2017).
Entretanto a transexualidade diante a medicina vem sendo aludida como um
transtorno mental. As ciências humanas contra-argumentam esse posicionamento
ideológico de classificação, mostrando que, a construção de informações sobre as
vivências individuais e grupais das travestis e transexuais, o entendimento sobre as
relações de gênero que existiam e a sua transformação diante o desenrolar dos tempos,
mostra-se importante para entender a nova construção de identidade de gênero da
sociedade moderna (O’DWYER, 2017).
Acrescentando-se que o termo “travesti” colocado neste artigo representa e
significa seres humanos que têm um corpo nascido biologicamente masculino e uma
identidade mental que foi construída de forma feminina. Nestes casos estas pessoas
recorrem a várias adequações para atingir a feminilidade esperada, como hormônios e
cirurgias, para se adequarem a sua identidade (SILVA, 2008).
Silva (2008) cita também que, paralelamente a palavra transexual traz o sentindo
de que o indivíduo possui a vontade de modificar o seu sexo pela redesignação sexual,
mesmo assim algumas pessoas possuem a normalidade em conviver com sua genitália
sem apresentar alguma disforia corporal, a palavra travesti pode ainda carregar um pouco
o significado ao masculino, é preservado a linguagem utilizado pelo próprio grupo e a
expressão remonta ao feminino. Segundo a Associação Nacional De Travestis e
Transexuais (ANTRA) os casos de genocídio continuam aumentando em 2020, mesmo
em tempos de pandemia mantendo-se na situação de 2019. Considerando a relevância
desse tema esse trabalho se justifica, pois, o Brasil é o principal país com mais índices de
genocídio de pessoas que se autodeclaram trans e travestis em relação a qualquer outro
país do mundo, além de que devemos considerar que pessoas do segmento LGBT tem
seus direitos cortados até mesmo o de existir em sociedade (CHAGAS; NASCIMENTO
2017).
Na problemática levantada acima, esta pesquisa possui como objetivo geral pautar
o preconceito sofrido por seres humanos que se identificam como trans e travestis.
Destaca-se como objetivos específicos: A) Elucidar a construção e ressignificação de
gênero e identidade de gênero. B) Expor as facetas desse preconceito e as implicações
que trazem para esses indivíduos enquanto seres humanos, em suas diversas áreas de
vivencia como social, familiar e profissional.
Com o intuito de atingir os objetivos será apresentado o referencial teórico,
também se tem a seguir a discussão acerca da metodologia para a construção dessa
pesquisa explorativa, como critérios de análises do material e método empregado o qual
tem como principais itens que foram discutidos aqui: Preconceito, Transfobia, Identidade
e Gênero. E, por fim, os resultados e discussões acerca tudo que foi levantado, como
também as considerações finais.

2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO.

2.1 Gênero e Identidade de Gênero.


Para elucidar o pensamento que está sendo aqui construído, precisa-se entender
algumas discussões relacionadas a gênero e identidade de gênero, para compreender a
construção desses indivíduos e o próprio trabalho.
Por oportuno, é importante mencionarmos que o conceito de gênero foi discutido
primeiramente por pesquisadores americanos que utilizaram a palavra “gender”. Foram
trazidas discussões sobre a construção de uma identidade de gênero única, desmitificando
a relação entre o sexo biológico e comportamentos padrões (GROSSI, s/d).
Grossi (s/d) aborda que se deve entender também que o conceito de gênero está
entrelaçado a sexualidade principalmente no Ocidente, o que promove uma confusão aos
leigos e/ou senso comum. Para melhor entendimento sobre essas filosofias iremos propor
certo aprofundamento no assunto, visando melhor compreensão.
Para a ciência biológica, o fator determinante do sexo de uma pessoa está
relacionado à suas funções reprodutivas. Em outras palavras, se o indivíduo possui
ovários ou espermatozoides, e só. Mas devemos compreender que o sexo é biológico, mas
a construção do comportamento voltado ao feminino ou ao masculino, ela sim, é social.
Sendo a cultura o fator que define o que é ser masculino e/ou feminino, e essa variante
depende da cultura que está sendo relacionada (JESUS, 2012).
O binarismo de gênero é uma corrente de pensamento com pressupostos que se
baseia na afirmação de que homens e mulheres podem ser distinguidos e colocados como
diferentes no fator de cunho biológico e/ou sexo biológico citado acima, sendo
indiscutível esse pensamento e colocado como uma “verdade absoluta” para paramentos
de definição gênero na sociedade (ALMEIDA, 2016).
Ainda de acordo com o autor, como qualquer pensamento filosófico acontece o
esquecimento de todo um fator social, não se negando as diferenças biológicas existentes
entre os dois sexos, mas não podemos também simplesmente definir uma identidade a um
sexo, pois depois de várias pesquisas feitas por várias áreas do conhecimento como por
exemplo: Diversidade sexual e de gênero: a construção do sujeito social, estudo feito por
Silva em 2013, principalmente as ciências socias, é que definições biológicas não existem
por inteiro, e que são variadas as construções sociais que dão sentido aos corpos e seus
papéis.
Além disso, o binarismo de gênero é uma base do preconceito. Quando colocado
como um critério de verdade irrevogável, reforçando privilégios e desigualdades ligadas
ao capitalismo, o que mais se beneficia desse pensamento construído na sociedade é o
homem, em questão da desvalorização de tudo que seja, produzindo o ocultamento da
realidade social, escondendo o modo real de como as relações acontecem, sendo uma
desvalorização social do próprio capitalismo, e essa desigualdade é mantida pois os
conversadores desejam que seus privilégios sejam mantidos (ALMEIDA, 2016).
Para frisar um pouco mais as mulheres nórdicas são tidas como masculinas
principalmente se analisadas diante a nossa cultura, da mesma forma que o que é
construído como masculino no Brasil é diferente do que é construído no Japão. Portanto,
as questões atribuídas ao gênero são utilizadas para estudar e entendermos melhor essas
construções. Sendo o sexo voltado ao biológico, temos o gênero voltando-se ao social,
não importando nesse momento os cromossomos, mas sim uma questão de expressão
social (JESUS, 2012).
Dessa forma podemos responder de forma mais assertiva a seguinte pergunta: “O
que é gênero?”. De acordo com Héritier (1996) não conseguimos pensar no ser humano
enquanto indivíduo, mas sim enquanto um ser social e que está entrelaçado ao social.
Basta apenas que duas pessoas existam para que a interação, a construção de regras
aconteça e desse jeito não podemos apenas levar e definir apenas com o fator biológico.
Scott (1998) apresenta a reflexão de “gênero” nas diferenças de discurso entre os
dois sexos, não sendo referida apenas a ideias, mas também a instituições, a práticas e
rituais cotidianos estabelecidos, ou seja, tudo aquilo que foi e é construído no social da
distinção sexual. Não refletindo o sexo biológico primário, mas construindo o sentido
dessa realidade, sendo a diferença sexual não a causa de pensamento filosófico que
devemos nos embasar, mas sim que ela é continua e que deve ser analisada de acordo
com a sociedade, em um momento histórico específico em que estamos. Héritier (1996)
traz em sua coletânea, que as diferenças sexuais de gênero estão nos contrastes entre a
construção da relação entre homem e mulher, já que sozinhos eles não podem existir
independentes de regas estabelecidas e significantes sociais.
Para Scott (1998) uma definição um pouco mais atualizada, nos propõe a refletir
sobre a categoria de gênero, nos demonstra que gênero não é a apenas a diferença entre
os dois sexos, mas sim uma classificação que nos dá o sentido de diferença entre eles.
Dessa forma conseguimos compreender que o gênero serve para delimitar tudo que é
social, cultural e historicamente colocado.
Ao entendermos que nenhum indivíduo se relaciona e existe sozinho, então
podemos relacionar ao sexo biológico, neste sentido. Interagiremos de acordo com as
formas já pressupostas do que já é esperado, pois mesmo que o gênero seja ligado ao
biológico é algo que está em constante mudança e transformação pelo social, e a todo
momento perante as interações entre homens e mulheres na sociedade, no decorrer do
tempo percebemos as modificações e as futuras modificações que poderão acontecer,
assim podemos dizer que o gênero é mutável (JESUS, 2012).
Jesus (2012) ainda ressalta que dessa maneira entendemos que realmente existem
dois gêneros que foram estruturados para classificar mesmo que biologicamente, e que
todos os demais indivíduos de alguma forma tendem a se enquadrar nisso como os
homossexuais, as travestis e as transexuais, não existindo um terceiro gênero, o que nos
leva a refletir sobre questões da heteronormatividade dessa maneira iremos discutir sobre
a identidade de gênero a seguir.
Para aprofundarmos nessa relação sobre identidade de gênero vamos fazer uma
pequena reflexão sobre o que foi dito acima e relacionar aos papéis sociais que são
entendidos da mesma forma que no teatro como a representação de um personagem, tudo
que é associado ao sexo macho e fêmea em determinada cultura é um papel de gênero,
esses se modificam de cultura para cultura se mostrando variados, e que esses modelos
de comportamentos sofreram mudanças de forma geral ao decorrer histórico (JESUS,
2012).
De acordo com o psicólogo norte-americano Stoller (1978) que estudou
demasiados casos de pessoas hermafroditas, o autor afirmou que é mais fácil você
modificar o sexo biológico de um ser humano do que o seu gênero. Nessa mesma linha
de pensamento aprendemos que o ser menino e/ou até os três anos de idade momento em
há a conquista da linguagem, sendo um grande momento para a construção do simbólico,
tendo a linguagem uma grande contribuição nisso e sendo ela o elo com a cultura. Para
Stoller (1978) qualquer ser humano possui um núcleo de gênero, sendo as convicções do
que se considera socialmente sendo como masculino e feminino, esse núcleo não se muda
ao longo da vida psíquica do indivíduo, mas novos papéis sociais podem ser adicionados
ao nicho de informações.
O núcleo de identidade de gênero se forma a partir da nossa socialização em
determinar o bebê como menino ou menina, sendo a mesma tratada dessa maneira,
esperando que a criança tenha comportamentos condizentes como o que está inserido. Em
casos raros de intersexualidade ou hermafroditismo, é impossível modificar a identidade
de gênero da criança, pois é o momento em a criança se percebe, e não apenas como uma
extensão da mãe. Como terminamos a discussão sobre gênero e identidade de gênero para
uma melhor compreensão sobre o tema proposto iremos dar continuidade sobre o assunto
discorrendo sobre o que define uma pessoa transgênero.

2.2 Transgeneralidades
Tendo o conhecimento sobre a diversidade de formas de compreender “gênero”,
é interessante olhar dois aspectos quando estamos discutindo sobre o assunto, até mesmo
para separar questões de vivência sobre o próprio meio, questões de expressões e
diferentes condições da vivência do gênero como a) Identidade: o que caracteriza as
pessoas transexuais e travestis; b) funcionalidade: representação feita por crossdressers,
drags queens, entre outros (JESUS, 2012). O autor ainda relata que levando em
consideração também que existem pessoas que se não se encaixam em nenhum gênero,
mesmo que haja um consenso na intitulação dessas pessoas principalmente no Brasil,
podemos chamar elas de queers, outros como a antecessora denominação, andrógeno e
também a utilização da palavra transgênero para definir essas pessoas.
Jesus (2012) diz também que o termo “transfobia” é utilizado para denominar
qualquer tipo de preconceito que possíveis transexuais e travestis sofrem de forma geral.
Muito ainda tem que ser conquistado para que essas pessoas possam ter o mínimo de
dignidade para o respeito da identidade de gênero de pessoas trans e travestis, além da
quebra de vários preconceitos. Alguns estereótipos ainda levam as pessoas a não
acreditarem que pessoas transgêneros vivenciam todos os aspectos da sua humanidade,
além daqueles que possuem relação a sua identidade de gênero, que ele/a não possa ser
nada além de rotulado como “transsexual”. Sendo uma pessoa que possui raça, cor, classe
social, origem, religião, idade, uma bagagem de vivências, para além da sua condição
enquanto trans e/ou travesti (JESUS, 2012).
Dessa maneira, podemos começar nossa discussão sobre o que é ser um/uma
transexual e uma travesti para que possamos entender questões relacionadas a elas.
Assim, será focado nessas duas identidades de gênero, pois foi o que foi escolhido para
entrar em debate nesse trabalho. Podemos dizer que a transexualidade é uma questão de
identidade, não sendo uma doença mental, um capricho pessoal, uma escolha, uma
questão de perversão sexual ou nem mesmo uma questão de um adoecimento debilitante
e contagioso, sendo identificada em toda a história do mundo todo (JESUS, 2012). Desse
modo, primeiramente podemos dizer que trans são seres humanos que ao nascerem ou no
sexo masculino e feminino, se perceberam em outro gênero que não fosse o biológico.
Uma pessoa considerada ao nascer estando no sexo masculino, mas que em
qualquer momento da vida se descobriu no gênero feminino é uma mulher transexual,
sendo respeitada a questão de auto anunciar a sua identidade de gênero, da mesma forma
que uma mulher que se autodeclara homem será um homem trans (ALMEIDA, 2016).
É normal que trans usem de vários procedimentos para se sentirem melhor em sua
adequação de gênero que ela/e passou a vivenciar. Investimentos como roupas, cabelo,
cirurgias, hormônios, o que acaba sendo muito importante para a sua autoestima e
convívio social. Mesmo que o indivíduo não tenha feito nenhum processo de
feminilização ou masculinização, ainda assim o mesmo/a mesma deve ser considerado/a
como trans e para além disso deve ser respeitado o seu gênero enquanto homem ou mulher
dependendo da sua autodeclaração (ALMEIDA, 2016).
Os avanços médicos permitem que esses homens e mulheres transexuais consigam
ter uma fisiologia e uma semelhança muito parecida ao que desejarem ter e se
identificarem. Devemos entender que cada trans lida em graus diferentes com a sua
transição e adequação ao gênero que se identificam, mesmo que ninguém tenha uma
resposta concreta e conclusiva do motivo que existem trans, as razões ainda são
explicadas de forma social e biológica (JESUS, 2012).
De acordo com Spizziri (2017) nesse processo devemos levar em consideração a
disforia de gênero que é a falta de relação entro o sexo biológico e como ele é percebido
e experenciado pela pessoa, que vem acompanhado por uma carda de angústia muito
grande, mesmo que nem todos sintam a disforia muitos sentiram, entrando de acordo com
Jesus (2012) por isso explica se a necessidade de se adequarem também seu corpo a sua
pisque. Algumas pessoas demoram mais que outras a se posicionarem dessa forma até
mesmo pela repressão que acomete as pessoas da nossa sociedade, sendo ela uma busca
do reconhecimento enquanto homem ou mulher, levando em consideração que pessoas
transexuais podem ser bissexuais, heterossexuais ou homoafetivas (JESUS, 2012).
As travestis de acordo com Almeida (2016), são definidas como pessoas que
foram registradas no sexo masculino, com apenas a certificação do sexo biológico, e que
procuram inserir em seus corpos símbolos do universo feminino, elas tendem a se
considerar uma variante do ser mulher, e embora elas possuam características que as
deixem femininas perante a sociedade, elas tendem a não querer mudar de sexo, sendo
ele algo muito importante no seu processo de ser feminino.
Conforme Jesus (2012), diante a sua perspectiva travestis são pessoas que
vivenciam os papeis de gênero feminino, mas não se reconhecem como homem ou como
mulher. São membros de um terceiro gênero ou de um gênero não binário. Devemos
pensar que independente disso elas preferem ser tratadas e reconhecidas no feminino,
sendo insulto as submeterem a adjetivos masculinos. Algumas travestis não desejam
serem mulheres, embora se coloquem mais femininas, tendo a mesma questão de se
adequarem com roupas, unhas, maquiagem, hormônios e procedimentos estéticos para
retirada de pelos, algumas buscam processos mais definitivos, não sendo uma regra a
todas, mas todas buscam ter um nome feminino pelo quais querem ser reconhecidas.
(ALMEIDA, 2016).

2.3 Preconceito LGBTQIA+ Estruturalizado.


Para melhorar a possibilidade de conseguir conceituar de forma abrangente o que
é a palavra preconceito trazemos primeiramente a sua definição de acordo com o conceito
encontrando no dicionário Michaelis (2021,p.1):
“preconceito pre·con·cei·to sm

1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos necessários


sobre um determinado assunto.
2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou
independente de experiência ou razão; prevenção: “– Mas você está muito
enganada, mana. É preconceito supor-se que todo o homem que toca violão é
um desclassificado. A modinha é a mais genuína expressão da poesia nacional
e o violão é o instrumento que ela pede” (LB2).
3 Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles sejam praticados.
4 SOCIOL Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião
ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou
grupos: “– O mundo é cheio de preconceitos! Qual é a vergonha de ser árabe?
Só porque a raça é diferente, e qual é o mal disso? E ainda por cima é católico.
Maria José ficou vencida, entregou os pontos: – Lá isso, se é católico…” (RQ).
EXPRESSÕES
Preconceito de classe, SOCIOL: atitudes discriminatórias incondicionadas
contra pessoas de outra classe social.
Preconceito racial, SOCIOL: manifestação hostil ou desprezo contra
indivíduos ou povos de outras raças.
Preconceito religioso, SOCIOL: intolerância manifesta contra indivíduos ou
grupos que seguem outras religiões.
ETIMOLOGIA
voc comp de pré+conceito.”

De acordo com Mezan (1998), o preconceito é o agrupamento de crenças, modos


de agir e comportar que tem relação em distribuir a qualquer indivíduo de qualquer grupo
determinado composto por pessoas um significado negativo, pelo simples motivo daquele
ser pertencente a determinado grupo, as peculiaridades em assunto são colocadas
enquanto essenciais, como algo capaz de definir o âmago desses grupos, então seguindo
esse raciocínio é inevitável que isso seja distribuído a todos os componentes do grupo.
Segundo Rose (1972) temos a ignorância como a haste dos preconceitos, abrindo
em diversos aspectos dos mais variados assuntos, sendo vistas como pontos de vistas
falsos ligados a questões físicas, socioculturais, ou crença de um determinado grupo.
Sendo assim, a ignorância favorece o preconceito, porém, não é um fator que resultará
em preconceito. A falta de conhecimento, acesso à informação, não necessariamente
levará a medidas preconceituosas, mas uma das causas que podem culminar em medidas
preconceituosas de segregação social e material.
Nessa frase de Kant (1974, p. 229) “Age de tal maneira que uses a humanidade,
tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente, como
fim e nunca simplesmente como meio”, nos demonstra que nenhum ser humano existente
pode ser reduzido a simplesmente a uma ferramenta que faz parte de qualquer finalidade
ou ser atribuído um preço para que faça parte do sistema, devendo esse ser humano ser
entendido como um resultado dele mesmo, em relação com a sua própria autonomia,
enquanto um ser racional, derivando esse pensamento do clássico conceito kantiano.
Essas relações de desigualdade e segregação possuem como resultado a
marginalização de grupos que compõem a sociedade, cujas suas identidades são
relacionadas a sexualidade, como por exemplo a população LGBT. No Brasil, o grupo
LBGT possui o enfrentamento de uma situação que podemos classificar como estrutural
que é a LGBTfobia, em quem nesse problema podemos encontrar vários tipos de
exclusões, discriminações colocadas de forma naturalizadas na sua distribuição e dentro
da sociedade, esse preconceito podendo variar até mesmo entre subgrupos que compõem
a sigla (PEDRA, 2018).
Ainda em concordância com Pedra (2018), temos também os limites colocados
pela moralidade em debater questões acerca a sexualidade, são até mesmo refletidos pelo
Direito, que ocorreu uma omissão histórica na regulação quanto se relacionado a questões
sobre a sexualidade e de gênero e em considerar a diversidade de identidades como um
dos valores principais de cidadania, a negatividade social também pode ser considerada
para além das questões relacionada ao Direito, mas a aversão social, ao debate desse
assunto no âmbito escolar.
De acordo com Pedra (2018) as segregações fazem uma categorização dos grupos
sociais por diversos fatores sendo o gênero e sexualidade os principais deles a serem
olhados. Para Bandeira e Batista (2012), a agressão era algo considerado normal de
acorrer com pessoas que são consideradas minorias, além de existir uma política que
favorece uma elite que priva de todos o poder e a influência, para poder qualificar de
forma positiva ou negativa de acordo com a sua etnia, sexualidade, religião e classe social.
Negando a essas pessoas a sua autoexpressão e inclusive a um acesso jurídico igualitário,
até mesmo ao acesso a participação a política.
Conforme Pedra (2018), essa hierarquização de corpos e grupos sociais, utiliza
parâmetros assimétricos do poder, atingindo apenas uma parte da sociedade, e desse modo
quando separadas por status cultural que alimenta o status material, essas mesmas pessoas
passam a ter oportunidades diferentes, e isso de modo geral resulta na marginalização de
alguns grupos sociais em relação a questão dos pensamentos agregados a eles de forma
negativa acabam tendo menos prestígio na sociedade.
Essa categorização faz com que aconteçam obstáculos nos direitos fundamentais
e para o que é necessário para uma qualidade de vida positiva e autônoma, ofendendo
assim o que os regimes democráticos orientam, no momento em que são naturalizadas a
divisão da população em classes, reforça o pensamento que pulsiona a discriminação, que
se manifesta em forma de violências físicas, emocionais e simbólicas (PEDRA, 2018).
Ainda fazendo concordância a Pedra (2018), os privilégios são uma ferramenta de
exclusão sendo que é formada e se firma a partir da inferiorização de minorias, para que
as oportunidades continuem sendo desiguais, tendo o grupo dominante as melhores
oportunidades e os mesmo estão relacionados a opressão das minorias, assim o privilégio
é colocado no ser humano a partir do seu nascimento, esse indivíduo vai ter privilégios
dependendo de qual grupo ele se encaixe, sendo que o privilegio desmente a meritocracia.
Podemos dizer que a discriminação contra as minorias tem um caráter
estrutural quando identificamos a presença de alguns processos que não
expressam atos individuais, mas sim forças sociais alimentadas por relações
assimétricas de poder. Por esse motivo, pode-se afirmar que uma forma de
discriminação tem caráter estrutural porque faz parte da operação regular das
instituições sociais, causando desvantagens em diferentes níveis e em
diferentes setores da vida dos indivíduos. Ela também tem uma dimensão
procedimental porque informa as políticas e procedimentos de instituições
públicas e privadas, o que explica o seu caráter sistêmico. A discriminação
estrutural adquire sua legitimação por meio de ideologias sociais que podem
atuar para afirmar a inferioridade de um grupo, a harmonia entre a exclusão
social e normas legais ou também para manter a invisibilidade social dessas
práticas (MOREIRA, 2017, p. 137).

De acordo com Pedra (2018) A LGBTfobia, entretanto, não destrói apenas o


direito de igualdade, mas afetada a individualidade, autonomia, e a liberdade, indo em
desrespeito a direitos básicos e de princípios políticos, podendo ser praticada por pessoas,
grupos e instituições, devemos também entender que o processo de inviabilidade que isso
gera, de um fator que está além do individualismo ele é um acontecimento social.
Pedra (2018) expõe que os detentores do poder se sentem ameaçados por minorias
por direitos que eles já possuem, alegando que esses direitos aos grupos LBGT vão trazer
a quebra da cultura e da normalidade, baseando-se em um conceito de união por
procriação e esquecendo o individual como já discutido nesse artigo, vivemos em uma
sociedade que o pensamento heteronormativo é dominante, e que a relação binaria entre
Hétero x Homoafetivo, é usada para a relacionar pessoas cis x trans.
A heteronormatividade e pessoas cis gêneros são que nossa sociedade é baseada
assim desse modo os privilégios são distribuídos, de acordo com essa relação, a quem
atende todas as expectativas da sociedade, se tornando em oportunidades sociais e
materiais, levando em conta que todas as pessoas da sociedade se encaixam nesse padrão
(PEDRA, 2018). E esses privilégios passam tão despercebidos que pessoas
heteronormativas independente da sua orientação sexual gozam destes e não conhecem
entender a segmentação social da hierarquização.

2.4. Preconceito Familiar e nas Relações Interpessoais


De acordo com Dias (2015) o processo acontece em duas etapas separadas no
âmbito familiar, primeiramente acontecendo um processo conturbado diante das
colocações dos indivíduos da sua orientação sexual e/ou expressão de gênero das pessoas
trans, a partir disso pode ocorrer a aceitação, mesmo que por parte do grupo, mas isso não
abona o acontecimento de situações em que a utilização do nome do registro e ou
referências de cunho ao sexo biológico sejam mencionados a esse indivíduo. De acordo
com pesquisas realizadas por Dias (2015) com pessoas trans, quando elas vivenciam a
dificuldade em serem aceitas por familiares, preferem sair de seus lares para evitar
conflitos, e evitar até mesmo agressões físicas no âmbito familiar.
Dias (2015) ainda relata que com o passar do tempo os familiares iniciam o
processo de aceitação da transexualidade e entendendo todo o processo, mas fazendo
necessário um processo de desconstrução de paradigmas e um luto pelo filho/a de acordo
com as expectativas de seu corpo sexuado, sendo esse processo bastante lento, sempre
vindo de um familiar para depois abranger os outros, os irmãos tendem a ser os primeiros
a aceitarem.
Como foi explanado por Dias (2015) a aceitação familiar é vista de suma
importância para os indivíduos trans que enquanto seres sociais estão pertencentes a um
núcleo familiar que as aceite e as reconheça. Tendo essa naturalização sobre o
entendimento sobra a nova identidade dessa pessoa imposta pelo próprio indivíduo, os
familiares logo passam a ver e tratar essa pessoa nos termos, nome social correto, e até
mesmo defendendo as de demais preconceitos acerca pessoas que não conseguem
respeitar a sua condição, nesses casos a autoaceitação é feita da forma mais rápida.
É importante ressaltar que nem todos os familiares conseguem lidar e aceitar a
pessoa transexual no seu âmbito, fazendo com que em muitos momentos essas situações
se tornem extremamente difíceis de lidar, e consequentemente com que elas saiam de
casa, ocorrendo também o rompimento de contatos entre os familiares, e que essa
reaproximação acontece não por aceitação, mas por laços afetivos permitindo que
algumas agressões simbólicas ainda aconteçam (DIAS, 2015).
Ainda seguindo a ideia do autor, o âmbito social e/ou as relações interpessoais são
importantes na vida de todo ser humano, e na vida de pessoas transexuais, é distinto do
que na vida de outros indivíduos, pois essas relações mostram a categorização da
aceitação dessa pessoa acerca da transexualidade, em relação a separação do sexo
biológico e do gênero colocado, mostrando a não adequação com a interação com o social.
Em suas pesquisas, demonstra o isolamento social dessas pessoas por se sentirem fora
do padrão social regente, esse isolamento acontece principalmente na adolescência, no
período de mudanças biológicas que estão indo ao contrário da vontade do indivíduo,
além da transformação do papel social exigido para aquela pessoa (DIAS, 2015).
De acordo com Dias (2015) essas relações acontecem quando a pessoa tem uma
facilidade em entender a experiência dessas pessoas, sendo na maioria das vezes algumas
amizades de longa data que experienciaram o processo de transição com essa pessoa e
deram suporte nesse momento, indo em divergência com a questão de que são pessoas
com poucas amizades, pois nem todos compreendem a situação.
Consoante à Dias (2015) no âmbito público essas relações também tendem a ter
uma preocupação em se colocar de acordo com o gênero que essa pessoa se denomina,
mesmo em lugares em que esses direitos já tenham sido conquistados no que se diz
respeito a pronomes de tratamento e uso do nome social.

2.4.2 Preconceito no Âmbito Organizacional.


Para as travestis, a procura de um trabalho formal é bem mais dificultosa pelo fato
de serem consideradas meros objetos, as tornando mais passíveis de violências e
preconceitos, de acordo com os dados colhidos nesse estudo, podemos perceber a
discriminação no momento em que elas vão entregar seus currículos demonstrando a
discriminação muito antes da capacitação dessa pessoa (CARRIERI, SOUZA, AGUIAR;
2013).
Os autores ainda citam que nessa procura de trabalho a desistência por ela é
bastante evidenciada em relação da violência interpessoal que sofrem pelo fato de não
serem colocadas enquanto seres humanos perante os outros, sendo vistas como seres até
mesmo incapazes de serem mão de obra, podendo até mesmo sofrerem grandes violências
físicas no trabalho na rua, pelo fato de serem alvo de objetificação. Por estarem expostas
em grandes situações de violências elas passam a internalizar isso, reproduzindo esse
comportamento com as pessoas ao seu redor, simplesmente pelo fato de estarem expostas
a esse nicho de realidade isso acontece até mesmo entre elas (CARRIERI, SOUZA,
AGUIAR; 2013).
Carrieri, Souza e Aguiar (2013) relatam que para os transexuais a oportunidade
de emprego não se limita apenas a prostituição, pela questão de terem aquedado o seu
biológico aos padrões binários da sociedade, elas podem possuir algumas chances, desde
que os mesmos não falem sobre sua questão individual de ser e existir para que não sofram
preconceitos e dificuldades.
Conforme Carrieri, Souza e Aguiar (2013), desde que elas não se posicionem
enquanto transexuais elas estão revestidas por um manto de invisibilidade que de certa
forma os protegem do mundo, quando suas documentações estão de acordo com o seu
corpo isso pode facilitar o processo, mas se não estão essa invisibilidade pode ser retirada,
demonstrando a parte do preconceito e excludência que esses seres sofrem. Se tornando
alvos de piadas principalmente em setores privados, é debatido também de acordo com
os estudos analisados a maior facilidade de elas encontrarem empregos em setores
públicos, pois em concursos você é apenas um número, mas isso não ausenta os
preconceitos e invisibilidades por elas encontrados nesse meio também (CARRIERI,
SOUZA, AGUIAR; 2013).

3. METODOLOGIA

Diante da necessidade e da importância do tema exposto, propõe-se a realização


de uma pesquisa qualitativa, que busca ressaltar as vivências trans e travestis, com foco
no preconceito. De acordo com Zanella (2013) A pesquisa qualitativa possui um caráter
epistemológico, envolvendo a compreensão qualitativa e do subjetivo principalmente na
psicologia, tanto para o pesquisador do assunto quanto o objeto de pesquisa a ser
pesquisado, não limitando o caráter ativo do pesquisador e nem do objeto a ser
pesquisado, e que esse processo está muito além da consciência.
Dessa maneira, no que se relaciona à metodologia usada na construção desse
trabalho foi utilizada uma pesquisa exploratória. De acordo com Gil (2007) nessa
categoria de pesquisa se tem como foco viabilizar um maior contato com o problema
apresentado com intuito de transpor o assunto de forma mais explicita, ajudando até
mesmo na formação de hipóteses que abrangem uma construção, com levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas que vivenciam o problema e/ou estudos de caso,
demonstração de exemplos que ajudem no entendimento.
Dessa forma, foram empregues as seguintes plataformas de pesquisa de artigos
científicos: Google Acadêmico, Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e livros de
orientação, livretos oferecidos pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFE). Para a
seleção de material foram usadas as palavras-chaves como critério para pesquisa de
material: Invisibilidade, Trans e Travesti, Preconceitos, e Identidade de Gênero, utilizadas
em todas as plataformas apresentadas.
Considerando que o assunto discorrido, é um assunto que entrou recentemente em
discussão, e também estando entrelaçada a discussões psicanalíticas da desconstrução da
homoafetividade como doença no DSM - 2, reforçamos a importância desse artigo no
favorecimento e desestruturação do mesmo paradigma relacionado a questões de gênero
e lutas que ainda acontecem.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir de pesquisas realizadas sobre as questões de gênero e identidade de


gênero, também sobre as relações de invisibilidade e transfobia/travestifobia foram
identificados 22 documentos (30) entre eles artigos, livros e dossiês. Após pesquisar de
forma detalhada, utilizando o critério de inclusão, foram excluídos oito desses (8).
Depois da exclusão destes artigos que não atenderam a proposta desta revisão,
houve a utilização de dois (2) artigos e (1) livro, sendo assim foram avaliados e
considerando seus resultados. Depois de realizarmos a leitura de um artigo e um livro foi
possível distinguir em duas categorias. Essas categorias foram em: a) a relação e
diversidades entre gênero x identidade de gênero [SALIH (2002), ALMEIDA (2016),
JESUS (2012)] b) a invisibilidade e transfobia e travestifobia relacionada a violência
[BENEVIDES (2019); NOGUEIRA (2019), SILVA (2008), PEDRA (2018)].
A seguir, serão apresentados os resultados apontados nas pesquisas localizadas,
bem como serão realizadas as discussões.

4.1 A desconstrução do gênero e (re)construção da identidade de gênero.


Buttler em suas pesquisas acerca da teoria queer junta com correntes do
feminismo, psicanálise e foucaultianismo, Hegel, entre outros demonstram que Buttler
quando decidiu discutir a questão relacionada ao “sexo” estar relacionado ao biológico,
trazendo questões como a genealogia que o indivíduo está além da sua essência
individualista, e que ele é construído pelo meio por meio de instituições, discursos e
práticas sociais tempo demonstrando que o gênero é um efeito e não a causa de relações
sociais e relações de discursos. (SALIH, 2002)
Desmontando que essa relação de efeito e sujeito que o sujeito é instituído, tendo
contextos e momento específicos que não se limitam a estruturas de poder existentes
tendo a ideia de que as identidades “genéricas” e a sexualidade são algo performativo,
tendo também a influência do pensamento da fenomenologia, em que esse indivíduo
passa por momentos de experiências, que permite a construções e reconstrução do nosso
consciente pelos erros autoconhecimento e análise que o permitem conhecer a verdade
absoluta sobre si mesmo e não projetando no meio em que vive. (SALIH, 2002)
Mesmo que se faz necessário o outro para se possa se entender enquanto
indivíduos, faz necessário a quebra de paradigmas entre EU e o OUTRO para que possa
ser alcançado a autoconsciência, e para que possamos quebrar nossos próprios
paradigmas relacionados aos demais e a nós mesmos para que possamos nos criar
enquanto seres individuais (SALIH, 2002).
Esse pensamento se complementa apresentado por Almeida (2016) dessa quebra
que possuímos do fator biológico, ao fator construído socialmente e trazendo o reforço
de sua crítica que muitas vezes esquecemos o valor social e cultural quando estamos
abordando um determinado assunto, o que muitas vezes faz com que se esqueça todo um
valor de pensamentos e significados que possam ficar para trás.
Constatando Jesus (2012) que reflete sobre a identidade de gênero além sobre o
que foi discutido acima, discorrendo das questões dos papeis sociais de determinado
gênero, estando essa relação em se tornar e ser em desempenhar seguindo o raciocínio de
Bulter sobre a frase de Beauvoir, e que as relações entre homem x mulher podem ser
modificadas de acordo com a cultura que estamos analisando e que esses padrões de
comportamos sofrem alterações que são históricas no desenvolver do tempo.

4.2 A invisibilidade relacionada a transfobia e travestifobia e suas violências.


Para Silva (2008) em suas pesquisas a invisibilidade proporciona com que os não
heteronormativos estejam em uma situação de literalmente de invisibilidade de direitos
assegurados até mesmo em políticas públicas, pois não são consideradas pessoas
legítimas pelo governo, e que essa invisibilidade se torna real quando pessoas LBGT não
possuem o mesmo direito que pessoas heterossexuais. De acordo com Pedra (2018)
entrando em concordância com o que está sendo dito ele cita que essa categorização faz
com que exista uma rachadura em assegurar direitos que seriam fundamentais aos seres
humanos, tendo um grupo que é dominante que estaria detendo todo esses direitos e
assegurando a opressão das minorias, gerando violências simbólicas, físicas e emocionais
nesses indivíduos.
Para Silva (2008) a visibilidade tanto individual e coletiva LBGT proporciona a
discussão de formas variadas de se expressar o seu eu e experimentar o mundo,
acreditando que que os direitos humanos fazem parte de uma construção histórica do
homem, e que a efetivação dessa visibilidade seria a forma mais pura de expressão de
liberdade, tendo parte desse processo na elaboração da constituição de 1998, que foi um
ponto marcante na luta por direitos de uma forma geral a todos os cidadãos. Pedro (2018)
discute uma correlação do assunto trazendo no sentido que existem certos limites
colocados pela moralidade que refletem até mesmo em alegação de direitos, que isso
aconteceu por fato de uma omissão histórica em assegurar a expressão sexual e identidade
como um dos fundamentos básicos da sociedade e que essa aversão social é a grande
causadora desse problema, até mesmo em se discutir o assunto.
Como citado acima por Pedra (2018) tudo isso reforça a inferiorização desse
grupo em assegurar seus direitos, e possibilitando o preconceito e violência que será
discutido agora, foi feita uma desmontagem de alguns tipos de preconceito e violência no
artigo pelos seguintes e temas Preconceito Familiar e Interpessoal (DIAS, 2015),
Organizacional (CARRIERE, SOUZA, AGUIAR, 2013).
De acordo Benevides e Nogueira (2019) em um dossiê de assassinatos e violências
contra travestis e transexuais feito pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e
Transexuais do Brasil), traz vários apontamentos que reforçam o preconceito e violência
acometida e essas pessoas em território brasileiro. É trazido o termo
transfemícido/travesticídio que é colocada como a visão mais expressiva de violência que
existe de uma violência estruturalizada que está relacionado a questões culturais,
socioeconômicas, sendo excludente por uma visão de gênero binário (BENEVIDES e
NOGUEIRA, 2019). Na pesquisa realizada por Benevides e Nogueira (2019) eles
descrevem que 99% pessoas LBGT não se sentem seguras no país, que em 2019 o
aumento de violência a pessoas trans no dia a dia foi de 800%, chegando ao número de
11 pessoas agredidas diariamente no ano. Temos Goiás em oitavo lugar em assassinatos
de ranking interno por estados brasileiros em 2019, estando em decimo lugar em
comparativo feito a 10 anos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois de todo o desenvolvimento do trabalho de uma forma geral, demonstrando


a questão da invisibilidade em divulgação de conhecimento e indo até mesmo em negação
de direitos, a discussão de gênero e identidade de gênero, podemos perceber a
emancipação do biológico e a influência do social, tendo também a noção dessa
invisibilidade geradora e reforçadora do preconceitos e violência, e foi demonstrado
vários tipos de preconceito e dados de violência que abre um leque de que é importante
poder falar sobre o assunto e que deve-se ter noção que algumas pessoas possuem mais
privilégios que outras, mas que independente disso a divulgação desses dados é
importante para a quebra dessa invisibilidade, preconceito e violência.
Encontra-se na própria dificuldade de encontrar matérias que abrangessem o tema
de uma forma geral e demonstração de vivências de forma mais amplas como uma forma
de invisibilidade presente até na própria construção do trabalho, sendo também um tema
que demonstra fragilidade e marginalização para essa construção de conhecimento se faz
necessário o link com áreas das ciências sociais e do direito com diálogo com a psicologia.
Manifestando ser um assunto multifacetado e pode perceber de acordo com o que foi
escrito ao decorrer do artigo a verificação dessas marginalizações que acarretam grandes
problemas a quem vivência a vida enquanto travesti ou trans.
Dentro dessa dificuldade acometida pela marginalização do preconceito e também
tendo a noção que é um assunto que está sendo discussão de forma recente sendo ainda
analisado pelos estudos científicos, de acordo que suas adaptações acontecem pela
complexidade de ser e existir de um ser humano em suas pequenas individualidades
perante os demais ao seu redor, e dessa forma colocando em evidência a magnitude da
importância que foi executar esse trabalho.
Com esse trabalho podemos entender que é uma luta contínua não apenas de seres
individuais, mas de todo um grupo, e que o preconceito acomete de forma diferente cada
um dos segmentos pelas diferentes formas de vivenciar o mundo como foi analisado nesse
artigo, e que levando o raciocínio de um padrão de ações e papeis sociais de acordo com
a heteronomatividades podemos encontrar o preconceito até mesmo inserido na própria
comunidade LGBT.
Perante tudo que realmente é desviante, ainda mais com a questão excludente do
acesso à informação que facilitaria o entendimento da sociedade e de si próprio perante o
mundo e sua inserção na sociedade também, não esquecendo de citar que é um ferimento
a própria constituição democrática de 1988 e trazendo para finalizar as considerações
finais de que isso é reforçado por várias situações que trazem essa invisibilidade,
principalmente por uma elite que quer ter o controle de uma forma padronizada de se
portar, o próprio capitalismo com o idealismo de patriarcado vindo em discussões
recentes no próprio curso de psicologia e ás várias formas de se constituir uma família e
a falta de acesso à informação interferem.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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pessoas trans voltam a subir em 2020. Disponível em
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