Camila Do Carmo Hermida

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http://dx.doi.org/8649881 é 10.20396/rbi.v17i2.

8649881

Artigo

Competitividade internacional do Brasil à luz da


fragmentação da produção e das cadeias globais de
valor
Camila do Carmo Hermida* https://orcid.org/0000-0002-7206-5132

Clésio Lourenço Xavier ** https://orcid.org/0000-0002-2707-1314

Recebido: 12 de julho de 2017 Versão Revisada (entregue): 30 de novembro de 2017 Aprovado: 24 de fevereiro de 2018

Resumo
Este artigo desenvolve uma análise pioneira da competitividade das exportações brasileiras
no período 1995-2011, ao considerar o fenômeno das cadeias globais de valor (CGV).
Calcularam-se os índices de competitividade market share e vantagem comparativa revelada
(VCR) pelas vias tradicionais e por meio de medidas de valor adicionado, assim como índices
de participação e posicionamento nas CGV. Para tanto, utilizou-se uma nova metodologia de
decomposição matemática das exportações (KOOPMAN et al., 2014) e indicadores estima-
dos por meio da matriz de insumo-produto global World Input Output Tables (WIOT). As
análises demonstram que os índices tradicionais tendem a subestimar o desempenho de países
localizados a montante nas CGV, como o Brasil, mas nas categorias “produtos primários” e
“manufaturas de baixa-tecnologia” percebem-se uma superestimação dos índices tradicionais
e uma queda das vantagens comparativas reveladas do país.

Palavras-chave | Valor adicionado; Vantagem Comparativa Revelada; Fragmentação;


Cadeias Globais de Valor; Brasil

Código-JEL | F14

* Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected].


** Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected]

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Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

Brazil’s international competitiveness in the face of the


fragmentation of production and global value chains

Abstract
This article develops a pioneering analysis of the competitiveness of Brazilian exports in 1995-
2011 by taking into account the phenomenon of global value chains (GVC). We calculated
the competitiveness indexes market share and Revealed Comparative Advantage (RCV)
both by the traditional way and by the new measures of value added, as well as the indexes
of participation and position in the GVC. To do that, a new methodology of mathematical
decomposition of exports was used (KOOPMAN et al., 2014) and indicators were estimated
by means of the WIOT global input-output matrix. The analyses show that the traditional
indexes tend to underestimate the performance of countries located upstream in the GVC,
such as Brazil, but in the categories “primary products” and “low-technology manufactures”
there is an overestimation of the indexes and a decrease of the country’s RCV.

Keywords | Value Added; Revealed Comparative Advantage; Fragmentation; Global Value


Chains; Brazil

JEL Code | F14

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Competitividade internacional do Brasil

1. Introdução

A importância acadêmica das análises de competitividade internacional é inquestio-


nável seja a partir das contribuições de clássicos ou de abordagens mais críticas, como
os modelos de concorrência monopolística, estruturalistas e neoschumpeterianos.
São diversos os trabalhos internacionais e nacionais que utilizam tais análises para
avaliar empiricamente o desempenho das indústrias no comércio internacional e seus
efeitos e, a partir dos resultados, traçar projetos e políticas públicas com diferentes
escopos. No entanto, a maioria desses estudos empíricos ocorre, em grande parte,
em um contexto anterior à emergência das novas configurações de comércio exterior
delineadas por um aprofundamento do processo de fragmentação internacional da
produção e de formação das cadeias globais de valor (CGV), cujo ápice intercorreu
somente no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Esses fenômenos advindos
com as inovações ocorridas em áreas como tecnologia da informação e comunicação
(TIC), transporte e logística permitiram a dispersão da produção/montagem de
componentes dentro de processos produtivos integrados verticalmente em vários
países. Isso, por sua vez, tem intensificado os fluxos comerciais internacionais,
caracterizados por um aumento considerável do volume de bens intermediários
vis-à-vis o comércio de produtos finais.
No entanto, boa parte da literatura empírica recente tem ignorado esse fenô-
meno, assumindo, em suas análises estatísticas, que os processos de produção são
integrados dentro de apenas um país, apesar de cada vez mais crescer o número de
atividades produtivas segmentadas e integradas em CGV. Por exemplo, há evidências
de que mais de 60% do comércio mundial – cerca de US$ 20 trilhões – concentra-
-se em bens e serviços intermediários, 30% consistem de reexportações de insumos
intermediários e 80% são realizados por meio de CGV coordenadas por empresas
multinacionais (OECD, WTO; UNCTAD, 2013; WTO/IDE-JETRO, 2011).
Diante de tais evidências, entende-se que analisar os dados convencionais de
exportações brutas de produtos finais impõe um crescente “erro” nas percepções
de comércio, dado por uma dupla contagem, equivalente a insumos intermediá-
rios, peças e componentes que, em função das CGV, passam repetidamente pelas
fronteiras dos países até seu consumo final. Portanto, uma análise mais realística
do padrão de especialização comercial de uma economia não deve se sustentar em
bens acabados, já que o produto final é “made in the world”. Embora já existam
alguns estudos que abordam a participação do Brasil nas CGV, ainda há uma lacuna
empírica quando se trata de analisar os índices de competitividade incorporando

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empiricamente tais fenômenos. Nesse sentido, a principal contribuição deste artigo


é buscar avaliar o padrão de especialização comercial do Brasil via novas medidas
de valor adicionado obtidas por meio da aplicação pioneira de uma metodologia
de decomposição matemática das exportações brutas (KOOPMAN et al., 2014) e
da utilização de uma matriz de insumo-produto (I-O) global (World Input Output
Tables – WIOT) que permitem rastrear o que de fato cada país contribui na pro-
dução de um bem.
Analisar o padrão de especialização comercial de um país requer compreender
sua competitividade no comércio internacional e seu perfil de inserção externa com-
parativamente à dinâmica mundial e a países com estruturas produtivas similares e
distintas. Nesse sentido, optou-se por avaliar o papel do Brasil nas CGV compara-
tivamente a duas economias desenvolvidas (EUA e Japão) e quatro economias em
desenvolvimento (Rússia, Índia e China, dos Bric, e uma economia latino-americana
– México). Assim, o objetivo geral do presente estudo é analisar o padrão de es-
pecialização comercial do Brasil no período 1995-2011, comparativamente a tais
economias, por meio de índices de competitividade calculados à luz das CGV. O
artigo buscará responder questões como:
• Qual é o grau de especialização comercial do Brasil e demais economias
selecionadas nas categorias tecnológicas medido pelos índices de market
share e VCR, calculados de acordo com o valor adicionado doméstico?
• Existem diferenças substanciais entre esses resultados e os apontados pelos
índices calculados da maneira tradicional?
• Especificamente para o Brasil, quais são os setores com ganhos de vantagens
comparativas e em quais se notam diferenças no grau de competitividade
quando medidos via valor adicionado?
• Especificamente para o Brasil, quais foram os setores que apresentaram os
melhores desempenhos em termos de fragmentação e participação nas CGV?
• Quais foram as principais mudanças nas CGV setorialmente desde 1995?
Em quais setores o Brasil apresentou vantagens comparativas reveladas e
ganhos de participação em CGV?
A seguir, será realizada uma revisão de literatura sobre trabalhos que buscam
avaliar a competitividade internacional via novos dados de valor adicionado e tra-
balhos que avaliam a inserção do Brasil nas CGV. Posteriormente serão apontados
os aspectos metodológicos adotados, desde as características da World Input Output
Database (WIOD) – matriz de insumo-produto global utilizada para cálculo das
medidas de valor adicionado doméstico – até a construção dos indicadores de com-

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Competitividade internacional do Brasil

petitividade. Por fim, são discutidos os principais resultados encontrados e tecidas


as considerações finais.

2. Revisão de literatura

Diante das evidências cada vez maiores da fragmentação internacional da produção,


vários autores1 têm procurado desenvolver medidas matemáticas mais precisas do
comércio internacional por meio da utilização de matrizes I-O globais, as quais
permitem o rastreamento global do valor adicionado ao longo de todo o processo de
produção de uma indústria. Com base nessas novas formas de calcular o comércio
entre países, eles desenvolvem trabalhos empíricos que permitem, sobretudo, ava-
liar a inserção de um país nos movimentos de fragmentação, sua contribuição para
específicas redes internacionais de produção e sua posição dentro das CGV – via
mensuração do valor adicionado.
Ademais, paralelamente ao desenvolvimento dessas medidas matemáticas,
passou-se a questionar a veracidade dos resultados expostos por indicadores de
competitividade internacional como os tradicionais índices de market share e de
Vantagem Comparativa Revelada (VCR). Tais índices são comumente utilizados em
análises setoriais e visam dar um panorama relativo do desempenho do comércio
exterior de um país em relação à média mundial. O market share (MS) expressa a
proporção das exportações do grupo setorial “i” pelo país “j” relativamente às ex-
portações mundiais totais do grupo setorial “i”, para medir a parcela de mercado de
um determinado setor no total exportado mundialmente. Já o indicador de VCR,
desenvolvido por Balassa (1965), mensura a especialização de um país em deter-
minado setor/categoria por meio da comparação da parcela que o setor representa
para as exportações domésticas com a parcela que o setor representa nas exportações
totais mundiais, permitindo, dessa forma, captar se determinado país possui ou não
vantagens comparativas em determinado setor.2
A crítica que se faz a tais índices é exatamente pelo fato de que suas estatísticas
são formadas por dados de exportações brutas, o que, como dito, implica um viés
estatístico e em um erro de dupla contagem em função da formação das CGV.
Koopman, Wang e Wei (2014) desenvolveram uma adaptação do cálculo do índice
de VCR baseada no valor adicionado doméstico embutido nas exportações totais

1 Os trabalhos desses autores compõem a denominada “literatura de valor adicionado”. Dentre eles, destacam-se: Hummels et al.
(2001), Koopman et al. (2010, 2014), Daudin et al. (2011), Johnson e Noguera (2012) e Timmer et al. (2012, 2014) .
2 As equações de tais indicadores serão expostas nos aspectos metodológicos.

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e por indústria em vez das exportações brutas. Os autores encontraram diferenças


significativas entre o índice tradicional e o baseado no VAD na maior parte dos
setores analisados. Por exemplo, no caso do desempenho do setor de equipamentos
e máquinas da China, o VCR mostrou-se bastante elevado pelo cálculo tradicio-
nal, enquanto pelo novo índice, usando o valor adicionado, a China apresentou
desvantagens reveladas, um VCR negativo, dado o alto conteúdo importado nas
exportações desse setor na China (KOOPMAN et al., 2014).
Timmer et al. (2012a) analisam a indústria de transformação da União Eu-
ropeia no período de 1995 a 2008. Para avaliar a competitividade comercial, os
autores constroem o índice VCR com base na GVC income (valor adicionado na
produção, que é igual à soma do valor adicionado exportado com o valor adicionado
consumido domesticamente). De maneira geral, eles verificam uma modificação no
padrão de especialização comercial dos países em direção a atividades relacionadas aos
setores de “equipamentos de transporte” e de “máquinas não elétricas”. Em relação
ao emprego, os autores concluem que o número de trabalhadores envolvidos em
atividades de serviços nas CGV cresceu relativamente às atividades de fabricação e
que há um aumento de VCR nos setores baseados em trabalho qualificado.
Na literatura nacional, no entanto, os trabalhos que avaliam a competitividade
e o grau de fragmentação do Brasil, em sua maioria, ainda utilizam estatísticas brutas
e os indicadores tradicionais. Por exemplo, Calfat e Flôres (2008), Flôres (2010) e
Castilho (2010, 2012) avaliam a fragmentação do Brasil comparativamente a outros
países, por meio de estatísticas tradicionais de comércio, como fluxos de exportações
de produtos intermediários em categorias de comércio selecionadas ou com base
em sistema de classificações de acordo com etapas de produção.
Calfat e Flôres (2008) e Flôres (2010) utilizam a metodologia desenvolvida por
Lemoine e Unal-Kesenci (2004), associando os códigos da BEC com as distintas
etapas de produção para avaliar os fluxos de comércio dos páises do Mercosul entre
2000 e 2004. Dentre as principais conclusões apontadas por ambos os estudos, tem-
-se: a participação de peças e componentes no total exportado pelo Brasil foi muito
pequena (11%) no período de 2000 a 2005; há uma grande parcela de produtos
semiacabados no total exportado pelo Brasil, mas estes são em grande parte formados
por commodities com baixo nível de processamento; a quantidade de importações
de bens semiacabados é superior à exportação de bens de capial e de bens finais; as
indústrias automotiva e de máquinas e equipamentos são as que têm maior impor-
tância relativa no comércio de peças e acessórios do Brasil; e, por fim, o mercado
regional, especialmente o Mercosul, foi fundamental para a fragmentação do Brasil

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no período de 2000 a 2005 (predominância de grandes fluxos comerciais de peças


e acessórios). Castilho (2010) utiliza a mesma metodologia dos autores supracitados
e também conclui que as exportações de partes e componentes e bens de capital do
Brasil têm maior peso para o mercado regional, sobretudo do Mercosul, compara-
tivamente aos demais parceiros comerciais, denotando uma inserção maior do país
em cadeias produtivas regionais.
Hermida e Xavier (2012) avaliam a competitividade das exportações brasileiras
utilizando indicadores de desempenho, como market share e o índice VCR em suas
versões tradicionais, baseados em dados de exportações brutas para o período entre
2001 e 2010. Eles demonstram um aprofundamento substancial da competitividade
do país em setores produtores de commodities, principalmente em produtos primários
minerais e agrícolas, em detrimento da especialização em setores de alta tecnologia,
com exceção de alguns que revelaram ganhos de competitividade, como os de veículos
automotores da “indústria intensiva em escala”, “motores de combustão interna” do
grupo “fornecedores especializados” e “aeronaves” da “indústria intensiva em P&D”.
Dentre os trabalhos que avaliam o desempenho do Brasil nos movimentos de
integração em CGV por meio de matrizes I-O e de medidas de valor adicionado,
destacam-se Reis e Almeida (2014), Guilhoto e Imori (2014) e Ferraz et al. (2014).
Reis e Almeida (2014) avaliam comparativamente a participação dos Bric nas
CGV em 1995 e 2009, a partir de alguns dados primários de valor adicionado
disponibilizados pela base TiVA (2013) e por dados secundários disponíveis no
relatório da OECD/WTO (2013). Eles constatam que o Brasil é o país do grupo
menos integrado nas CGV, mas que houve crescimento de sua participação em
CGV entre 1995 e 2009, especialmente em função do desempenho do setor de
recursos naturais.
Guilhoto e Imori (2014) também avaliam o papel do Brasil comparativamente
aos demais países dos Bric nas CGV, mas utilizam bases de dados diferentes: a WIOD
(para uma análise agregada no período de 1995 a 2011 e); e a matriz I-O, desen-
volvida pelo Institute of Developing Economies (IDE) (para uma análise setorial em
2005). Eles empregam o método de decomposição do “comércio em termos de valor
adicionado” (trade in value added), tal como desenvolvido por Jonhson e Noguera
(2012). Os principais resultados mostram que o comércio em valor adicionado entre
o Brasil e o resto do mundo e aquele entre o Brasil e os demais países do Bric têm
sido limitados comparativamente ao comércio global, porém apresentam tendência
crescente. Ademais, os setores brasileiros que demonstraram maior parcela de valor
adicionado nas exportações foram os de mineração e metalurgia.

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Ferraz et al. (2014) apresentam resultados agregados e setoriais a partir de três


matrizes I-O distintas: WIOT (1995-2011), GTAP (2007) e TiVA (OCDE-WTO,
para 1995 e 2009). No entanto, embora utilizem algumas medidas de valor adicionado,
não as exploram em todos os seus aspectos matemáticos, focam apenas nos fluxos de
bens intermediários da indústria de transformação (por exemplo, indicador de bens
intermediários domésticos no total de intermediários consumidos pela indústria de
transformação, participação dos intermediários importados no total da produção) e
não apresentam uma decomposição completa das exportações brutas em seus diversos
componentes de valor adicionado. Além disso, os autores avançam ao calcularem
um índice de VCR somente para os produtos intermediários, denominado Revealed
Comparative Intermediate Production Advantage (RIPA), e um índice de VCR em
cadeia de suprimentos, denominado Revealed Supply Chain Advantage (RSCA), para
1995 e 2009 – tal como desenvolvido por Baldwin et al. (2013). Dentre as conclu-
sões do estudo, destacam-se: não há uma inserção relevante do Brasil em CGV – a
indústria de transformação ainda apresenta-se bastante verticalizada internamente;
houve um significativo aumento da participação de produtos intermediários em
todos os setores da indústria de transformação brasileira nas últimas décadas, mas
que não acompanhou a dinâmica mundial; e a participação de bens intermediários
é maior e vem crescendo nos setores menos intensivos em tecnologia, enquanto a
participação de bens finais tem aumentado nos bens mais intensivos em tecnologia.

3. Aspectos metodológicos

3.1 Decomposição matemática das exportações em valor adicionado

Optou-se por utilizar a metodologia de decomposição das exportações desenvol-


vida por Koopman et al. (2014) e atualizada por Wang, Wei e Zhu (2014). Essa
decomposição permite identificar em que estágio do processo de produção partes e
componentes domésticos e estrangeiros são utilizados e rastrear o valor adicionado
de cada país nas estatísticas de exportações. Além disso, possibilita a mensuração
da posição dos países nas CGV por meio de uma análise da variação da estrutura
de valor adicionado e das categorias de dupla contagem no comércio. Entende-se
que tal metodologia matemática é a mais completa e unificada na literatura, pois
permite um maior nível de decomposição das exportações e, consequentemente, um
cálculo mais preciso dos principais índices de valor adicionado que caracterizam os
movimentos de fragmentação e formação de CGV.

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Para a aplicação dessa decomposição foram utilizados os pacotes de algoritmos


denominados decompr e GVC decomposition no software “R”, desenvolvidos por Quast
e Kummritz (2015). Esses algoritmos permitem a decomposição a nível bilateral e
setorial das exportações brutas dos países em 16 componentes de valor adicionado.
Em Koopman et al. (2014) parte-se dos fundamentos gerais da matriz de
Leontief (1936), pela qual o produto de um país pode ser consumido diretamente
ou usado indiretamente como insumo por outra indústria para ser consumido ou
exportado como, ambos, produto final ou produto intermediário, ou seja, utiliza-se
a matriz de coeficientes técnicos, também chamada de Leontief inversa.
Considerando um número G de países e N de setores e definindo r, s e t como
três países distintos, temos: um vetor linha 1*N, , que representa o coeficiente
de valor adicionado direto para o país s; e as matrizes A e B que são GN*GN e
descrevem as inter-relações entre as indústrias e os países. Onde: é a matriz de
coeficientes técnicos N*N (N: número de indústrias) e representa a razão de insu-
mos advindos da indústria doméstica s usados para a produção na indústria do país
r; ou seja, corresponde à matriz inversa de Leontief, que é a soma
do produto bruto no país s requerida para gerar um aumento de uma unidade na
demanda final no país r.
Além disso, considera-se um vetor N*1, o qual descreve o produto total
gerado por s e absorvido por r, onde ; e, um vetor N*1, que reflete
os produtos finais gerados por s e consumidos em r, onde , ou seja, é a

soma do uso global de bens finais produzidos por s. Definindo u como um vetor
unitário 1*N e Es* como as exportações brutas do país s para o mundo, tem-se a
estrutura das exportações brutas completamente decomposta em nove categorias de
valor adicionado e de dupla contagem:
(2)

(i) VT

(4)

(6) (ii) VS1*

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O primeiro grupo de equações (i), denominado por Koopman et al. (2010)


de VT, refere-se ao somatório do valor adicionado por um dado país ofertante, s,
que é consumido ou utilizado como insumo em cada destino final. Este grupo, por
sua vez, pode ser decomposto em três subgrupos: (1) valor adicionado doméstico
(VAD) destinado a atender à demanda final dos países parceiros/importadores;
(2) VAD em produtos intermediários que são absorvidos diretamente pelo país
importador; e (3) VAD em produtos intermediários que é exportado para um país
e depois reexportado para países terceiros.
O segundo grupo (ii) corresponde ao valor adicionado doméstico que
primeiramente é exportado, mas que retorna ao país de origem. Na literatura,
essa medida foi denominada, por Daudin et al. (2011), de VS1*, que também
é conceitualmente decomposto em três subdivisões: (4) VAD que é inicialmente
exportado via produtos intermediários, mas que retorna para o país de origem por
meio das importações de produtos finais; (5) VAD em intermediários que retorna
via importações de produtos intermediários para fases de processamento ou mon-
tagem e posterior absorção interna; e (6) “pura dupla contagem”– parte referente
às exportações domésticas de intermediários que cruzam a fronteira mais de duas
vezes e que não contribuem para o PIB do país, porque já foram contabilizadas
em outros componentes.
Devido à presença desse componente de dupla contagem nas exportações bru-
tas de um país, Koopman et al. (2010) definem o valor adicionado doméstico nas
exportações (DV) como o somatório das equações (1) a (5), que é a parte doméstica
que de fato contribui para o PIB do país de origem.
O terceiro grupo (iii) é formado pelo conteúdo estrangeiro ou valor adiciona-
do estrangeiro (VAE) nas exportações. Denominado originalmente por Hummels
et al. (2001) de índice VS, essa medida compreende as importações incorporadas
direta e indiretamente nas exportações de um país. Dessa forma, também é in-

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terpretada como uma medida da extensão da especialização vertical do país – em


que as exportações de um país são dependentes de conteúdo importado (insumos,
peças e componentes que são produzidos externamente). Tal índice também pode
ser decomposto em três categorias: (7) VAE destinado a suprir a demanda final
dos países importadores; (8) VAE voltado para atender à demanda intermediária
para posterior absorção; e (9) “pura dupla contagem” dos produtos intermediários
produzidos externamente – a parte das exportações intermediárias estrangeiras que
atravessam a fronteira mais de duas vezes antes de serem embutidas no consumo
de produtos finais (KOOPMAN et al. 2014).
Embora apresente a mesma lógica do cálculo a nível agregado, o cálculo setorial
do valor adicionado doméstico nas exportações (DV) é relativamente mais complexo
matematicamente, na medida em que matricialmente se consideram os backwards
linkages domésticos, ou seja, assume-se que um setor doméstico pode adicionar
valor nas exportações de outro setor doméstico e, portanto, deve ser calculado em
linguagem matricial.3
A fim de ilustrar o cálculo matemático setorial da medida DV, apresenta-se
na equação (10) um caso simples, considerando-se apenas dois países s e r e dois
setores, 1 e 2.

(10.1)

(10.2)

(10.3)

(10.4)

nos diz que o valor adicionado doméstico do setor 1 do país s destinado a r


representa a soma de: (10.1) VAD nas exportações de produtos finais de 𝑠 para 𝑟;
(10.2) VAD do setor 1 nas exportações de intermediários de 𝑠 que é absorvido por
𝑟; (10.3) VAD do setor 1 nas exportações de intermediários do país 𝑠 que retorna
3 Para mais informações sobre o cálculo matemático setorial das medidas de valor adicionado medida DV, ver Koopman et al.
(2010).

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ao país 𝑠 via importações de bens finais; e (10.4) VAD do setor 1 (exportado em


intermediários do país 𝑠) que retorna ao país s via importações de bens intermediários.
Os indicadores VS e DV são um avanço metodológico na forma de avaliar os
padrões de especialização comercial dentro do contexto da fragmentação da produ-
ção. O índice VS como razão das exportações é muito utilizado pela literatura de
valor adicionado como uma medida do grau de especialização vertical dos países e,
muitas vezes, referido como um índice de participação nas CGV. No entanto, quan-
do medido isoladamente, ele fornece uma fotografia incompleta do envolvimento
dos países nas CGV, especialmente quando os países participantes estão localizados
no início da cadeia de valor (a montante – exportadores de produtos brutos e de
bens intangíveis) e, portanto, possuem um VAE menor por definição. Em outros
termos, a razão do VAE sobre as exportações brutas mede apenas a importância dos
fornecedores estrangeiros na cadeia de valor de um país, entretanto, esse mesmo
país pode também participar das CGV como fornecedor de insumos para países
terceiros, que os processam/montam e futuramente reexportam.
Hummels et al. (2001) já apontavam a importância de se medir também a
inserção dos países a montante nas CGV. Eles denominaram essa medida de VS1, que
compreende, exatamente, o conteúdo doméstico de um determinado país presente
nas exportações de países terceiros, no entanto somente em Koopman et al. (2010)
encontra-se a formalização matemática dessa medida, expressa como:

(11)

Portanto, o VS1 é formado pelo somatório de quatro termos: VAD utilizado


para a produção de produtos finais exportados por outros países; VAD usado para
produção de bens intermediários exportados por outros países; VAD que retorna
para o país de origem via importações de produtos finais; e VAD que retorna por
meio de importações de intermediários (incluindo ainda a parcela de “pura dupla
contagem”).

3.2. Indicadores e base de dados

Com o objetivo de obter um indicador mais preciso da inserção nas CGV, Koop-
mann et al. (2010, 2014) desenvolvem um índice de participação nas CGV (GVC
participation), combinando as medidas matemáticas VS e VS1:

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(12)

O primeiro termo refere-se ao VAE nas exportações do setor i do país s como


razão do total exportado pelo país. Também é denominado na literatura de participa-
ção “para trás” nas CGV (backward participation). O segundo termo corresponde ao
VAD nas exportações do setor i do país s que é utilizado nas exportações de outros
países como razão do total exportado pelo país s; denominado de participação “para
frente” na cadeia (forward participation).
O índice VCR, originalmente desenvolvido por Balassa (1965), é expresso como:

(13)

Onde: Esi corresponde às exportações do país s no setor i; Es representa as exportações


totais do país s; EMi refere-se às exportações mundiais, M, do setor i; e EM : com-
preende as exportações mundiais totais. Quando o índice assume valor superior a 1,
dizemos que o país possui vantagens comparativas reveladas naquele setor e, quando
assume valores menores que 1, dizemos que o país possui desvantagens comparativas
no referido setor. Ademais, quando o país apresenta crescimento desse índice em
determinado setor diz-se que o país está especializando-se no comércio desse setor.
Além das limitações inerentes ao próprio índice,4 o cálculo tradicional do VCR
(que chamaremos aqui de VCR_t) fornece uma avaliação imprecisa do comércio
quando considerada a formação de CGV, por duas razões:
• as exportações setoriais de um país incluem valor adicionado estrangeiro
e termos que já foram contabilizados nas exportações de um país (cate-
gorias de dupla contagem), devido à participação para frente e para trás
de produtos intermediários no comércio;
o VAD de um país em determinado setor pode ser exportado indiretamente via
outros setores exportadores. Por exemplo, a indústria têxtil de um país pode
adicionar valor nas exportações da indústria de automóveis via fornecimento
de capas para bancos de carros exportados (KOOPMAN et al., 2014).
Dessa forma, uma medida conceitual correta do VCR necessita não apenas
excluir o conteúdo estrangeiro adicionado e as categorias de “pura dupla contagem”,
4 No indicador desenvolvido por Balassa (1965) de Vantagem Comparativa Revelada, a quantidade exportada do bem interfere
no nível de especialização, pois no cálculo desse índice mais de um mesmo produto aumenta o nível de especialização.

Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018 357
Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

como também incluir as exportações indiretas do valor adicionado por um setor


por meio de outros setores do país exportador. A partir da medida DV setorial,
apresentada matricialmente na equação (10), é possível obter um VCR com base
no valor adicionado doméstico, o qual chamaremos aqui de VCR_va. O cálculo
desse índice passa a ser realizado da seguinte forma:

(14)

Onde: DVsi corresponde ao VAD do país s do setor i; DVs: refere-se ao VAD total
pelo país s; DVMi representa o VAD de todos os países do mundo nas exportações
do setor i; e DVM compreende o VAD total nas exportações brutas mundiais.
O índice tradicional de market share (denominado aqui de MS_t) é outra medida
simples de competitividade internacional que aponta a razão das exportações de um
país em um determinado setor/categoria e as exportações mundiais daquela categoria.
No entanto, este índice não diz necessariamente se o país é competitivo em todas
as etapas de desenvolvimento do produto exportado (design, processo e mercado) e
apresenta um viés por não levar isso em consideração em seu cálculo. Portanto, com
frequência ele tende a subestimar ou superestimar a competitividade de um país,
dependendo da posição desses países nas CGV. Por exemplo, um país pode apresentar
um elevado market share em determinado setor, mas, por estar localizado apenas nas
etapas a jusante de fabricação do produto, detém uma parcela menos significativa
do mercado. Por outro lado, países localizados a montante podem apresentar uma
competitividade mais elevada do que aquela denotada pelo índice MS, já que boa
parte da geração de valor nesses países foi reexportada por outros países após etapas
de montagem, e contado duplamente nas exportações totais do setor EMi.
Assim, calcular-se-á também o índice MS levando em consideração o total de
valor adicionado doméstico por cada país. Denominamos aqui de MS_va:

(15)

Entende-se que esse índice retira o viés de dupla contagem no comércio e per-
mite uma medida mais precisa do grau de competitividade dos países, incorporando
os backwards linkages entre cadeias dentro do próprio país.
O cálculo dos indicadores supracitados baseou-se nos dados disponibilizados
pela matriz de insumo global World Input-Output Tables – WIOT, que pertence à
World Input-Output Database – WIOD, lançada em 2012 e atualizada em 2014
como iniciativa da European Commision.

358 Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018
Competitividade internacional do Brasil

A escolha dessa base justifica-se por duas razões: a WIOT disponibiliza as


matrizes fundamentais, pela qual é possível replicar uma estrutura de decomposição
das exportações brutas mais sofisticada em medidas de valor adicionado, tal como
desenvolvido por Koopman et al. (2014), assim como o cálculo dos indicadores
mencionados anteriormente; e a base possui dados metodologicamente mais con-
sistentes e de maior qualidade relativamente a outras matrizes globais lançadas, pois
utiliza dados provenientes de tabelas de recursos e usos (SUTs) em vez de tabelas
I-O para a definição das bases das matrizes. Isso assegura um nível maior de qua-
lidade aos dados comparativamente com outras matrizes I-O globais disponíveis
(TIMMER et al., 2014).
A matriz WIOT apresenta dados para 35 indústrias com base em uma com-
patibilização da classificação ISIC (Classification of All Economic Activities – Rev. 3)5
e para uma amostra de 40 países. Ademais, foi utilizada a classificação da OECD
(1994) para classificar e agrupar essas indústrias de acordo com aspectos tecnológicos
em quatro grupos mais serviços, em geral: produtos primários; baixa tecnologia;
média-baixa tecnologia; e média-alta/ alta tecnologia.

4. Resultados

A Tabela 1 apresenta os resultados dos cálculos dos índices market share e VCR,
utilizando tanto o cálculo tradicional por meio das exportações brutas (expressos
na tabela como MS_t e VCR_t), quanto o cálculo proposto pela literatura de valor
adicionado, utilizando o DV setorial (MS_va e VCR_va). Os dados são de 1995,
2005 e 2011 e os valores em negrito enfatizam quando os países apresentaram
vantagens comparativas reveladas em determinadas categorias de comércio (índice
VCR maior que a unidade).
A interpretação dos resultados dar-se-á a fim de verificar como tais índices di-
ferem quando se usam medidas de valor adicionado em vez de medidas tradicionais
com base no valor das exportações e ressaltar em quais categorias os países estão, de
fato, especializando-se e ganhando competitividade.
Em primeiro lugar, com relação tanto ao índice market share quanto ao VCR,
é possível notar que as estatísticas tradicionais tendem, na maioria das vezes, para
essa amostra, a subestimar a parcela de mercado que um país domina: quando
avaliados todos os países selecionados, constatou-se uma frequência superior de
5 Lista completa de setores, bem como correspondência com setores da classificação da OCDE (1994), disponível no Quadro A
no apêndice.

Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018 359
Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

índices MS_va e VCR_va maiores do que MS_t e VCR_t para todas as categorias
analisadas. Portanto, nota-se a importância dos backwards linkages domésticos, evi-
denciados pela presença de valor doméstico de um setor nas exportações de outro
setor via matriz I-O. Nesse nível de agregação, boa parte do valor adicionado de
uma indústria doméstica exportado por outra pode ser interpretada de maneira
equivocada e a competitividade de um setor pode ser subestimada em função da
supervalorização da competitividade de outro, localizado mais a jusante nas cadeias
de fornecimento domésticas.
No caso do Brasil, justamente os setores em que se apresentam maiores parcelas
de mercado foram aqueles nos quais se evidenciou um padrão diferente do destacado
acima: “produtos primários” e “manufaturas de baixa-tecnologia” vêm obtendo o
MS_va inferior ao MS_t e um VCR_va maior do que VCR_t desde 2005. Além
disso, enquanto as estatísticas tradicionais de comércio apontam para um aumento
da competitividade e do grau de especialização em produtos primários de 2000 para
2005, os índices de valor adicionado revelam uma queda da robustez das vantagens
comparativas reveladas do Brasil nessas categorias.
Isso revela que o aumento recente do conteúdo importado nessas categorias tem
reduzido a competitividade internacional do país e suas vantagens comparativas, o
que não aparece claramente nas estatísticas tradicionais e tem imprimido um sinal
equivocado para políticas nacionais voltadas para o comércio exterior.
Ademais, o MS_va na categoria de “média-baixa tecnologia” demonstrou que
o Brasil apresentou ganhos de competitividade ao longo dos três anos, embora o
MS_t tenha registrado certa estagnação de 2005 para 2011 desse desempenho. Pa-
ralelamente a isso, em 2011, o país mostrou vantagens comparativas reveladas em
termos de valor adicionado (VCR_va>1), mas não em termos brutos (VCR_t<1).
Esses resultados sugerem que o Brasil está se especializando na produção de interme-
diários de média-baixa tecnologia voltados para adicionar valor em outras indústrias
localizadas a jusante nas cadeias de valor domésticas.
Os países localizados mais a montante em setores de manufaturas de alta tec-
nologia, como EUA e Japão, apresentaram maiores parcelas de mercado e maiores
vantagens comparativas quando utilizados índices de valor adicionado. Por outro
lado, países como a China e o México, mais a jusante em atividades de montagem,
utilizam uma significante quantidade de produtos intermediários e mostraram-se
menos competitivos e menos especializados em setores de manufaturas quando uti-
lizados índices mensurados com valor adicionado. Por exemplo, usando o MS_va e
o VCR_va, os EUA demonstram uma ampliação de sua competitividade e de suas

360 Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018
TABELA 1
Índices market share e VCR tradicionais e por valor adicionado para, por categorias tecnológicas para manufaturas e serviços em geral
Países selecionados – 1995-2011
Recursos naturais Baixa tecnologia Média-baixa tecnologia Média-alta tecnologia e alta tecnologia Serviços
Países MS_ VCR_ MS_ VCR_ MS_ VCR_ MS_ VCR_ MS_ VCR_
MS_t VCR_t MS_t VCR_t MS_t VCR_t MS_t VCR_t MS_t VCR_t
va va va va va va va va va va
1995 1,50 1,74 1,36 1,47 1,96 2,02 1,78 1,69 1,30 1,48 1,19 1,24 0,56 0,74 0,51 0,62 0,79 1,03 0,72 0,87

Brasil 2005 1,93 1,92 1,63 1,34 2,43 2,35 2,05 1,64 1,33 1,74 1,13 1,22 0,83 1,00 0,70 0,70 0,66 1,24 0,56 0,86

2011 3,31 2,34 2,07 1,24 3,26 3,10 2,04 1,64 1,33 1,89 0,83 1,00 0,85 1,07 0,53 0,57 1,26 1,62 0,79 0,86

1995 2,40 5,69 0,73 1,75 7,05 6,55 2,14 2,01 3,49 4,06 1,06 1,25 1,97 2,38 0,60 0,73 2,01 2,15 0,61 0,66

China 2005 1,59 7,29 0,22 0,99 11,93 12,72 1,62 1,73 6,34 8,99 0,86 1,22 8,70 8,03 1,18 1,09 5,80 5,65 0,79 0,77

2011 1,28 8,27 0,11 0,70 16,88 20,81 1,48 1,76 9,54 14,56 0,84 1,23 15,45 14,28 1,36 1,21 8,09 9,86 0,71 0,84

1995 0,99 1,81 1,20 2,07 1,69 1,38 2,03 1,58 1,24 0,99 1,49 1,13 0,30 0,35 0,36 0,40 0,55 0,78 0,66 0,89

Índia 2005 1,18 1,82 0,85 1,20 2,20 1,74 1,58 1,15 2,46 1,71 1,77 1,12 0,58 0,72 0,42 0,47 1,75 1,72 1,26 1,13

2011 1,25 1,61 0,68 0,84 2,09 1,65 1,14 0,86 3,23 2,50 1,76 1,30 1,16 1,19 0,63 0,62 2,07 2,17 1,13 1,13

1995 0,32 0,86 0,03 0,08 1,41 4,19 0,15 0,41 8,52 13,00 0,90 1,26 13,67 16,55 1,44 1,61 8,00 9,87 0,84 0,96

Japão 2005 0,21 0,39 0,04 0,06 0,90 2,89 0,16 0,42 5,43 9,04 0,94 1,32 8,73 11,23 1,51 1,64 5,72 6,92 0,99 1,01

2011 0,18 0,24 0,04 0,04 0,72 2,13 0,15 0,39 5,62 7,21 1,15 1,33 7,18 8,58 1,47 1,59 5,06 6,40 1,04 1,18

1995 2,07 2,37 1,30 1,72 0,75 1,07 0,48 0,78 1,31 1,18 0,82 0,86 1,61 1,22 1,02 0,88 1,60 1,34 1,01 0,97

México 2005 2,76 2,73 1,43 1,48 1,18 1,50 0,61 0,82 1,50 1,65 0,78 0,90 2,31 1,92 1,20 1,04 1,51 1,62 0,79 0,88

2011 2,84 2,66 1,52 1,52 0,90 1,34 0,48 0,77 1,58 1,62 0,84 0,93 2,48 2,25 1,33 1,29 0,97 1,21 0,52 0,69

1995 4,97 3,92 3,08 2,24 0,38 0,51 0,24 0,29 1,72 1,66 1,06 0,95 0,42 0,57 0,26 0,33 3,11 2,15 1,92 1,23
Rússia
2005 7,14 5,44 3,57 2,15 0,40 0,61 0,20 0,24 2,00 3,07 1,00 1,21 0,41 0,67 0,20 0,26 3,53 2,68 1,77 1,06
2011 7,91 6,69 3,00 2,02 0,48 0,57 0,18 0,17 2,51 3,86 0,95 1,17 0,51 0,76 0,19 0,23 4,88 3,57 1,85 1,08
1995 8,31 6,74 0,55 0,46 9,13 10,47 0,61 0,72 7,98 10,77 0,53 0,74 14,43 13,72 0,96 0,94 23,92 19,16 1,59 1,31

Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018


Estados
Unidos 2005 3,37 3,40 0,32 0,30 6,61 7,05 0,63 0,62 6,54 8,85 0,62 0,78 11,06 11,86 1,06 1,05 18,11 15,01 1,73 1,33

2011 4,03 3,52 0,40 0,31 6,30 6,06 0,63 0,53 8,40 9,95 0,84 0,88 10,10 13,14 1,01 1,16 17,06 15,48 1,70 1,36

361
Competitividade internacional do Brasil

Fonte: Elaboração dos autores com base em Koopman et al. (2014) e nos algoritmos decompr e GVC decomposition (QUAST; KUMMRITZ, 2015) aplicados no software R.
Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

vantagens comparativas em setores de manufaturas de média-alta e alta tecnologia,


enquanto, via estatísticas tradicionais, visualiza-se uma queda desses índices. No
caso da China e do México acontece exatamente o contrário, mas continuam a
apresentar vantagens comparativas nessa categoria de comércio via valor adicionado.
Timmer et al. (2012b), ao analisarem o caso da Alemanha e da União Europeia,
também encontraram resultados semelhantes em função do aumento das ativida-
des de offshoring. De acordo com os autores, ser “supercompetitivo” em temos de
exportações brutas não significa necessariamente gerar rendas domésticas elevadas.
Isso é exatamente o que demonstramos aqui pelo cálculo dos distintos índices de
competitividade internacional.
Outro resultado interessante diz respeito à mudança de posicionamento da
China nas CGV. É possível notar, com base nos valores das exportações, que a
China não apresentou vantagens comparativas na indústria de média-baixa tecno-
logia, enquanto o VCR_va foi superior à unidade tanto em 2005 quanto em 2011.
Isso reforça a conclusão de que a China está fortalecendo as indústrias a montante
nas cadeias domésticas, pois está se especializando em produtos intermediários de
média-baixa tecnologia voltados para atender a atividades de montagem no país
para posterior exportação. Esses resultados corroboram com aqueles apontados por
Lemoine e Unal-Kesenci (2004), ou seja, a integração da indústria de média-baixa
tecnologia chinesa com indústrias de outros países por meio de CGV parece ter
contribuído para ganhos de especialização nesses setores.
A fim de entender quais são os setores em que o Brasil mostrou vantagens
comparativas reveladas (em termos de valor adicionado) e quais são aqueles em
que houve maiores diferenças entre as formas como o índice VCR foi medido,
apresenta-se O Gráfico 1.
Em 1995, 13 setores registraram vantagens comparativas reveladas quando cal-
culado o VCR em termos de valor adicionado, contra 12 setores quando do cálculo
do VCR_t. Em 2011, esses valores cresceram para 16 e 13, respectivamente, ou seja,
por um lado, ambos os indicadores demonstram maior diversificação do processo
de especialização da economia no período recente e, por outro, o indicador de valor
adicionado demonstra ganhos superiores de especialização ao longo das variedades
de setores. Destacam-se, em 2011, como aqueles que apresentaram vantagens com-
parativas reveladas em termos de valor adicionado, mas desvantagens comparativas
reveladas pelo cálculo tradicional, os setores “coque, produtos petrolíferos refinados e
de combustível nuclear” (indústria 8) e os setores de serviços: “serviços de comércio,
manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos, serviços de comércio

362 Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018
Competitividade internacional do Brasil

GRÁFICO 1
Comparação entre os índices de VCR tradicional e de VCR valor adicionado obtidos pela indús-
tria e a diferença entre as médias desses índices ao longo do período
Brasil – 1995-2011

Fonte: Elaboração dos autores com base em Koopman et al. (2014) e nos algoritmos decompr e GVC decomposition (QUAST;
KUMMRITZ, 2015) aplicados no software R.
Nota: Os códigos de 1 a 34 representam os códigos dos setores da base WIOT, disponíveis em Timmer et al. (2012b).
Não há valores disponíveis de exportações brutas para o setor (c35 – serviços prestados às famílias por empregados domésticos) do
Brasil em vários anos, inclusive em 2011; por isso não foi adicionado nesse gráfico ou nas demais tabelas a seguir.

Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018 363
Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

a varejo de combustíveis para veículos” (19) e “transporte terrestre” (23). Portanto,


tais setores mostram-se mais importantes em termos de competitividade internacio-
nal quando considerado o valor adicionado pelos mesmos em estágios domésticos
das cadeias produtivas. Dessa forma, o país está se especializando nesses serviços de
transporte voltados para atender mais a jusante às exportações de setores primários
e às indústrias de manufaturas.
Por outro lado, têm-se as “indústrias extrativas e mineração” (2), apresentando
desvantagens comparativas reveladas por meio das estatísticas de valor adicionado
(0.70), enquanto o cálculo tradicional indica que o país está especializado nesse setor
(1.43). Portanto, o conteúdo importado por essa indústria pode estar interferindo
diretamente no valor adicionado nas exportações desse setor e na sua competitividade
internacional. Esse resultado corrobora com os dados das importações desse setor
na matriz TiVA (2016), elaborada pela OMC/OCDE, os quais demonstram um
elevado peso das importações de produtos intermediários sobre o total importado,
equivalente a 97% das importações em 2011 e um aumento substancial do volume
importado no período de 1995 a 2011. Somado a isso, tem-se uma redução do
dinamismo das exportações desse setor no período recente, o que pode justificar a
queda das vantagens comparativas reveladas em 2011 quando avaliado o VCR_va, ou
seja, quando considerado apenas o que de fato o país adicionou de valor nesse setor.
Em termos da diferença entre as médias dos dois índices ao longo de todo o
período para cada setor, têm-se, entre os setores primários e as indústrias de ma-
nufaturas (indústrias 1 a 16): “produtos químicos” (9), “têxteis e produtos têxteis”
(4) e “borracha e plásticos” (10) como os setores que apresentaram índices de valor
adicionado muito mais altos na média do que os índices tradicionais, demons-
trando a importância desses setores como fornecedores de insumos (adicionando
valor domesticamente) para outras indústrias domésticas exportadoras; “alimentos,
bebidas, tabaco” (3),“indústrias extrativas e mineração” (2) e “agricultura, floresta,
caça e pesca” (1) como os setores cujo índice VCR_t mostrou-se, na média, superior
ao novo índice, ou seja, possuem elevado conteúdo importado que tem afetado as
vantagens comparativas do país nesses setores. Já para o setor de serviços, temos:
“eletricidade, gás e água” (17) e “comércio a varejo, exceto de veículos automotivos
e motociclos; reparação de bens de consumo” (21) e “intermediação financeira”
(28) como os setores que mais adicionam valor às exportações de outros setores
brasileiros; “hotéis e restaurantes” (22), “atividades imobiliárias” (29) e “construção”
(18), nos quais o Brasil tem menos vantagens comparativas do que aparenta ter
pelo índice tradicional.

364 Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018
Competitividade internacional do Brasil

A Tabela 2 traz o índice GVC_participation por setor do Brasil, a média da taxa


de crescimento anual desse índice no período 1995-2011 e a taxa de crescimento
do primeiro para o último ano do período. Os setores estão ordenados na tabela
de acordo com os ganhos em termos de participação. Optou-se ainda por dividir
a tabela entre produtos primários e indústria de transformação, de um lado, e os
setores de serviços, do outro.
Verifica-se que um maior número de setores de serviços tem aumentado sua
participação em CGV (13 setores ao todo) relativamente aos setores primários e
da indústria de transformação, na qual somente seis setores demonstraram resul-
tados positivos em termos de engajamento em CGV. No entanto, percebe-se que
a magnitude da participação individual de cada setor de serviços ainda é ínfima
comparativamente à dos setores de bens tangíveis, sendo que boa parte dos setores
de serviços que mais cresceram foi aquela com baixíssima participação em CGV.
Por exemplo, o setor “atividades imobiliárias”, que apresentou o maior crescimento
no período, alcançou, aproximadamente, apenas 1% de participação em 2011.
Embora o Brasil não possua vantagens comparativas reveladas nas atividades
de “aluguel de máquinas e equipamentos e outros serviços de negócios”, esse tipo de
serviço foi o que obteve participação mais relevante nas CGV recentemente (2,94%
em 2011) e, ainda que de forma mais modesta, apresentou crescimento médio
anual positivo. Em seguida, tem-se o setor “outras atividades de serviços coletivos,
sociais e pessoais”, com média anual de crescimento em torno de 21% e alcançan-
do participação de cerca de 2% em 2011. Vale dizer que esse setor compreende:
serviços de limpeza urbana e esgoto; atividades associativas; atividades recreativas,
culturais e desportivas; e serviços pessoais. De acordo com diversos estudos de caso
de CGV, sabe-se que, nesse setor, as atividades de organizações empresariais, patro-
nais e profissionais são muito importantes para a o desenvolvimento de cooperação
formal entre os atores da cadeia e conformação de mecanismos de governança que
estimulam o fortalecimento de CGV.
Ainda com relação às atividades de serviços, vale destacar o setor de “transporte
terrestre”, cuja participação foi a terceira maior em 2011 (1,33%), mas com taxa de
crescimento negativa no período (-34%). Sendo assim, os ganhos de vantagens com-
parativas reveladas, em termos de valor adicionado nesse setor, não têm promovido
ganhos de competitividade pela lógica das CGV. Em outros termos, o desempenho
dos serviços de transportes terrestres tem sido destinado, em sua maior parte, a
promover exportação de produtos finais ou de intermediários a serem consumidos
diretamente pelo importador vis-à-vis a CGV.

Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018 365
Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

A análise setorial mostra que, de fato, os setores primários do Brasil são aqueles
que mais participam de CGV, bem como os que apresentaram maior crescimento
relativamente à indústria de transformação no período. A participação das “in-
dústrias extrativas e mineração” cresceu em todo o período, mas com mais vigor
a partir dos anos 2000, alcançando em 2011 uma parcela de 6% das exportações
envolvidas em CGV.
A Tabela 3 apresenta a composição da participação em CGV, dada pela parcela
das exportações do Brasil de intermediários destinados a atender países terceiros (VS1)
– participação para frente – e pela parcela das exportações correspondente ao conteúdo
importado no total exportado (índice VS) – participação para trás – nas CGV.
Constata-se que o crescimento da participação das “indústrias extrativas e mi-
neração” nas CGV é explicado pelo aumento de ambos os componentes do índice.
Muito embora o crescimento da participação para frente desse setor tenha sido
maior (de 0,68% para 4,42%), a ampliação da participação para trás foi bastante
significativa (de 0,37% para 1,59%). Esse resultado em conjunto com o cálculo do
índice VCR_va nos leva, de fato, à conclusão de que a inserção brasileira desse setor
nas CGV está correlacionada com um enfraquecimento das vantagens comparativas
do Brasil no período recente.
O segundo setor com maior participação nas CGV foi o conjunto de commo-
dities, englobadas no grupo setorial “agricultura, floresta, caça e pesca”. Em 1995,
essa participação era de apenas cerca de 1%, crescendo em média 13% ao ano até
alcançar 3,89% em 2011. O Brasil apresenta vantagens comparativas robustas e
crescentes nesse setor com base na mensuração dos dois índices distintos de VCR,
mas há diferenças proeminentes entre os dois que podem ser explicadas pela par-
ticipação para trás do Brasil nas CGV. Nota-se na Tabela 3 que o VS cresceu de
0,31% em 1995 para 0,96% em 2011. Embora esse valor seja relativamente muito
inferior ao da participação para frente, que aumento de 0,67% para 2,93%, é um
dos motivos para uma superestimação da competitividade no país no comércio
internacional de commodities.
A literatura de valor adicionado e os relatórios das organizações internacionais
sempre apontam para a baixa parcela de VAE nas exportações de países especiali-
zados em commodities e recursos naturais relativamente à parcela de VAD, dadas
as características físicas desses setores, pouco alvo de fragmentação, entretanto,
percebe-se um aumento da especialização vertical desses setores no Brasil ao longo do
período analisado. Vale dizer que duas questões podem estar afetando tal resultado.
Primeiramente, os preços internacionais das principais commodities cresceram subs-

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Competitividade internacional do Brasil

Em porcentagem
Índice de participação nas CGV (GVC_participation), por setor
Brasil – 1995-2011
TABELA 2

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Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

tancialmente na década de 2000. No período 2000-2011, o índice geral que agrega


commodities agrícolas, alimentos, bebidas, metais e petróleo aumentou 203,1%, o
que deve ter impactado os valores transacionados desses setores, que são medidos
em dólares correntes. Da mesma forma, o preço das commodities agrícolas cresceu
56%, o dos metais aumentou 266,4% e o preço do petróleo subiu 268,4% (FMI,
2013). Portanto, os indicadores para esses setores podem ter sido sim influenciados
por um efeito preço, aumentando o peso relativo das próprias commodities. Em
segundo lugar, o nível de agregação da matriz de insumo-produto e essa forma
de decomposição das exportações brutas não nos permitem captar o que de fato
compreende, por exemplo, essa parcela maior da participação para trás nas CGV
da indústria de baixa tecnologia “alimentos, bebidas e tabaco” e induz a um valor
elevado de autoconsumo dos setores.
Ademais, Ferraz et al. (2014), que também avaliam a indústria de transformação
sob a ótica das CGV, apontam que, em termos de valor adicionado por unidade de
produto, tais setores estão caminhando para especialização em estágios menos nobres
das cadeias nas quais estão inseridos: a indústria de “alimentos, bebidas e tabaco”
apresentou, entre 1995 e 2011, queda anual do valor adicionado por unidade de
produto de -0,66%; da mesma forma, “agricultura e extrativismo” registrou resultado
de -0,64%. Portanto, constata-se uma queda do valor adicionado doméstico no valor
dos produtos, o que pode sugerir, de outro modo, um aumento da participação
estrangeira em estágios mais nobres da produção desses produtos nas CGV.
O terceiro setor que mais ganhou posições nas CGV foi a indústria de média-
-baixa tecnologia “coque, produtos petrolíferos refinados e de combustível nuclear”,
que cresceu de 1995 para 2011, mas perdeu participação (tanto para frente quanto
para trás) no período mais recente: em 2005, a parcela era de 2,08% e em 2011
caiu para 1,47%.
Por fim, um resultado positivo que merece ser destacado é o da indústria bra-
sileira de alta tecnologia “equipamentos de transporte”, que engloba atividades de
fabricação de veículos automóveis, reboques e semirreboques e fabricação de outros
equipamentos de transporte, como aeronaves e peças e acessórios. Tradicionalmente
o país não é especializado nesses setores, como pode ser visto pelo índice VCR_VA
no Gráfico 1 (indústria 15), mas o caso emblemático da Embraer (Empresa Brasi-
leira de Aeronáutica S.A. – uma das líderes no segmento mundial de jatos regionais
de médio porte6), como propulsora do setor de aeronaves, é sempre citado como
6 A Embraer atua em segmentos específicos de mercado em três áreas – comercial, defesa e aviação executiva – e, atualmente, é a
terceira maior fabricante de aeronaves civis, representando um caso de sucesso de entrada em um oligopólio fechado dominado
por empresas norte-americanas e europeias.

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Competitividade internacional do Brasil

fonte de ampliação da competitividade dessa indústria no comércio internacional


do Brasil. Essa ampliação da competitividade internacional parece estar ocorrendo
também via participação em CGV. A média do crescimento anual dessa participação
foi de 1,5% ponto percentual ao longo do período, dada por uma ampliação da
sua especialização vertical: a parcela do conteúdo importado nas exportações dessa
indústria do Brasil cresceu de 0,5% em 1995 para 0,74% em 2011. É interessante
notar ainda que, em 2000 e 2005, o Brasil experimentou melhores desempenhos
dessa indústria nas CGV, pelas duas vias de posicionamento, processo que parece
estar se revertendo no período recente.
Dentre os setores que perderam participação nas CGV, destacam-se aqui
apenas dois:
• a indústria de média-baixa tecnologia “metais básicos e produtos de me-
tais fabricados”, que, embora tenha reduzido sua participação de 1995
para 2011, é atualmente a segunda indústria brasileira mais integrada em
CGV. Obviamente, esse desempenho dá-se por seu papel de fornecedora
a montante de metais com baixo nível de processamento para países mais
a jusante – elevada parcela para frente da indústria (2,92%). No entanto,
nota-se uma forte contração entre 2005 e 2011 da exportação de inter-
mediários dessa indústria para países terceiros (queda de 30%), enquanto
seu nível de importação reduziu-se relativamente muito menos (15%);
• a indústria “equipamentos elétricos e ópticos” (máquinas elétricas, rádio/
televisão, equipamentos de telecomunicação) não apresentou resultados
tão proeminentes pelo Brasil. Apesar de ser a sexta mais integrada dentre
as 14 indústrias de transformação analisadas, sua média anual de engaja-
mento em atividades integradas em cadeias foi negativa (aproximadamente
-0,34%) e a taxa de crescimento de 1995 para 2011 foi negativa em 42%.
Vale dizer que essa queda se deu em função de uma redução maior da
participação para frente nas CGV. As vantagens comparativas do Brasil
nesse setor também se mostraram decrescentes nesse período (Gráfico 1);
dessa forma, a perda de competitividade pode estar relacionada com a
perda de participação em CGV.
Alguns setores nos quais o Brasil ampliou seu grau de especialização comercial
(ampliação do VCR_va), no período, foram os mesmos que ganharam especialização
em atividades produtivas envolvidas em CGV (aumento do índice GVC_partici-
pation). Os dados do Gráfico 2 contribuem para o entendimento da relação entre

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Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

TABELA 3
Composição da participação setorial nas CGV
Brasil – 1995-2011

Em porcentagem

Partipação para frente Participação para trás


Setores
1995 2000 2005 2011 1995 2000 2005 2011

Produtos Agricultura, floresta, caça e pesca 0,67 0,53 0,51 2,93 0,31 0,50 0,57 0,96
primários Indústrias extrativas e mineração 0,68 0,67 0,86 4,42 0,37 0,46 0,84 1,59
Alimentos, bebidas, tabaco 0,54 0,48 0,48 0,76 1,03 1,11 1,24 1,61
Têxteis e produtos têxteis 0,55 0,51 0,55 0,29 0,18 0,15 0,12 0,10
Baixa- Couro e calçados de couro 1,26 1,18 1,30 0,23 0,35 0,43 0,23 0,13
tecnologia
Madeira e cortiça e suas obras 1,94 2,40 2,27 0,18 0,08 0,14 0,17 0,06

Pasta de papel e cartão e seus artigos; edição e impressão 2,11 2,60 2,60 0,80 0,41 0,39 0,26 0,29

Coque, produtos petrolíferos refinados e de combustível 0,65 0,68 1,16 0,68 0,30 0,63 0,92 0,79
nuclear
Média-baixa Borracha e plásticos 0,38 0,42 0,42 0,40 0,19 0,26 0,22 0,23
tecnologia Outros produtos minerais não metálicos 0,16 0,20 0,19 0,14 0,10 0,14 0,13 0,10
Metais básicos e produtos de metais fabricados 2,99 2,84 4,16 2,92 1,40 1,38 1,43 1,22
Manufaturas nec.; recicláveis 0,22 0,24 0,31 0,06 0,08 0,13 0,10 0,06
Produtos químicos 2,03 2,00 2,14 1,25 0,60 0,90 0,77 0,81
Média- Máquinas e equipamentos, nec. 0,67 0,68 0,89 0,36 0,45 0,55 0,71 0,55
alta e alta
tecnologia Equipamentos elétricos e óticos 1,87 2,57 2,92 0,63 0,50 1,37 1,00 0,74
Equipamentos de transporte 1,12 1,52 1,71 0,49 0,95 2,67 2,56 1,65

Eletricidade, gás e água 0,07 0,07 0,11 0,86 0,00 0,00 0,00 0,04
Construção 0,07 0,10 0,12 0,20 0,05 0,06 0,02 0,04
Serviços de comércio, manutenção e reparação de
veículos automóveis e motociclos; serviços de comércio a 0,02 0,03 0,03 0,26 0,00 0,01 0,00 0,00
varejo de combustíveis para veículos
Serviços de comércio atacado e agentes do comércio,
0,13 0,17 0,19 0,85 0,01 0,01 0,01 0,01
exceto de veículos automóveis e de motociclos
Comércio a varejo, exceto de veículos automotivos e
0,03 0,04 0,05 1,28 0,01 0,02 0,01 0,02
motociclos; reparação de bens de consumo
Hotéis e restaurantes 0,10 0,08 0,11 0,38 0,16 0,19 0,15 0,17
Transporte terrestre 1,96 1,76 1,81 1,21 0,06 0,08 0,08 0,12
Transporte marítimo 0,19 0,23 0,28 0,07 0,00 0,01 0,01 0,01

Transporte aéreo 0,12 0,16 0,16 0,11 0,01 0,01 0,01 0,01
Serviços
Outras atividades de apoio e de caráter auxiliar no
domínio dos transportes; atividades de agências de 0,11 0,11 0,12 0,57 0,03 0,03 0,03 0,06
viagem
Serviços postais e das telecomunicações 0,03 0,05 0,06 0,86 0,03 0,07 0,07 0,11
Intermediação financeira 0,09 0,13 0,16 1,17 0,02 0,03 0,02 0,03
Atividades imobiliárias 0,01 0,01 0,01 0,98 0,00 0,00 0,00 0,01
Aluguel de maq. e equip. e outros serviços de negócios 1,12 1,30 1,37 2,74 0,13 0,15 0,12 0,20
Administração pública e defesa; segurança social
0,43 0,38 0,37 0,18 0,01 0,01 0,01 0,01
obrigatória
Educação 0,02 0,02 0,02 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00
Saúde e ação social 0,11 0,11 0,08 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00
Outras atividades de serviços coletivos, sociais e pessoais 0,13 0,17 0,34 1,59 0,08 0,09 0,08 0,11
Serviços prestados às famílias por empregados domésticos 0,53 0,60 0,82 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Fonte: Elaborção dos autores com base em Koopman et al. (2014) e nos algoritmos decompr e GVC decomposition (QUAST; KUMMRITZ, 2015)
aplicados no software R.

370 Rev. Bras. Inov., Campinas (SP), 17 (2), p. 345-376, julho/dezembro 2018
Competitividade internacional do Brasil

essas duas variáveis, mostrando a correlação da participação nas CGV com o grau
de especialização setorial (VCR_va) do Brasil por setor em 2011 e o crescimento
médio no período (1995-2011) dessas duas variáveis.

GRÁFICO 2
Relação entre participação em CGV e o índice VCR_va
Brasil – 1995-2011

2011

1995-2011

Fonte: Elaboração dos autores, software STATA 13.

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Camila do Carmo Hermida, Clésio Lourenço Xavier

Nota-se que existe uma forte correlação positiva entre vantagens comparativas
reveladas e participação em CGV para as indústrias brasileiras em 2011. Isso significa
que o Brasil participou mais em CGV a partir de setores nos quais tem maiores
vantagens comparativas. Da mesma forma, considerando a taxa de crescimento
média dessas duas variáveis no período 1995-2011, observa-se também uma relação
positiva entre esses índices. Portanto, parece que o perfil de inserção externa e as
estratégias de especialização comercial do Brasil têm sido, de maneira geral, cada
vez mais pautadas pela lógica das CGV.
A correlação entre o índice VCR_va e o índice GVC_participation foi de 45%
quando avaliado somente 2011. Considerando todo o período (dados em painel
para as 34 indústrias ao longo dos 17 anos), essa correlação foi de apenas 10%.
Já a correlação entre os ganhos de especialização comercial (crescimento médio do
VCR_va de 1995 a 2011) e os ganhos de participação nas cadeias foi de 26%; e,
por fim, considerando um painel com as taxas de crescimento anuais, essa correlação
também foi de apenas 10%. Assim, quando considerado apenas o último ano da
amostra, a correlação, em termos tanto de níveis quanto de taxas de crescimento,
parece ser mais robusta do que para todo o período. Isso nos leva a crer que, exceto
para alguns setores, a correlação é positiva, mas se mostra mais forte no período
mais recente.

5. Considerações finais

A fragmentação internacional da produção e a inserção em CGV, de fato, reduzem


a utilidade dos estudos de competitividade baseados em dados de exportações bru-
tas como guia de política comercial. Verificou-se que países localizados a jusante,
caracterizados como montadores em determinados setores, são superestimados pelas
estatísticas tradicionais: eles experimentaram, de maneira geral, uma redução dos
índices VCR e MS quando medidos por meio de estatísticas de valor adicionado.
Já os países localizados a montante, como o Brasil, aparecem, em grande parte dos
setores, subestimados a partir do cálculo de indicadores de comércio tradicionais:
experimentaram um aumento das vantagens comparativas e da competitividade
quando calculados via VAD setorial, pois as matrizes globais I-O permitem captar o
valor individual adicionado por cada setor ao longo da cadeia produtiva doméstica
antes do produto ser exportado.
Demonstrou-se que, enquanto as estatísticas tradicionais de comércio apontam
para um aumento da competitividade e do grau de especialização do Brasil em

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Competitividade internacional do Brasil

produtos primários de 2000 para 2005, os índices de valor adicionado revelam uma
queda da robustez das vantagens comparativas reveladas do Brasil nessa categoria.
Ademais, constata-se um crescimento da participação “para trás” dos produtos pri-
mários nas CGV, acima de todos os demais países selecionados, o que pode significar
um aumento do conteúdo estrangeiro importado para processamento de produtos
primários, que afeta negativamente o saldo comercial dessa categoria. Embora esse
resultado seja corroborado também por outras matrizes, como os dados da TiVA
(2016), ele pode estar sendo afetado por um efeito-preço (dado o aumento dos preços
das commodities no período analisado) ou por uma restrição relativa ao nível elevado
de agregação dessas matrizes, que não permite captar especificidades intrasetoriais.
Notadamente, estudos de casos sobre esses setores a partir de uma abordagem das
CGV se fazem necessários a fim de compreendermos mais nitidamente os estágios
das cadeias de valor e a dinâmica e o posicionamento das empresas brasileiras e
multinacionais ao longo dessas etapas.
As categorias de atividades produtivas nas quais o Brasil apresenta maiores
vantagens comparativas (“produtos primários” e “manufaturas de baixa-tecnologia”)
foram exatamente aquelas nas quais se percebe uma superestimação dos índices
brutos (MS_va inferior ao MS_t e VS_va inferior ao VS_t). Vale dizer que muito
tem-se argumentado sobre a possibilidade de se estabelecer uma estratégia de inserção
externa via tais setores, nos quais o Brasil já é competitivo e apresenta vantagens
comparativas históricas. No entanto, as diferenças identificadas entre os índices tra-
dicionais e de valor adicionado nos setores primários e de baixa tecnologia revelam
que a competitividade nesses setores é frágil e precisa ser qualificada no que tange
ao conteúdo que tem sido importado para a geração do produto final exportado
desses setores.
Um resultado positivo encontrado diz respeito à categoria “média-baixa tec-
nologia” que, enquanto via cálculo do VCR_t o Brasil não apresenta vantagens
comparativas em 2011, via cálculo do VCR_va (positivo e maior que a unidade)
mostra que o país está se especializando na produção de intermediários de média-
-baixa tecnologia voltados para adicionar valor em outras indústrias localizadas a
jusante nas cadeias de valor domésticas.
Assim como em outros trabalhos, nota-se que o Brasil tende a estar localiza-
do a montante nas CGV, como fornecedor de insumos para serem reexportados,
especialmente de commodities e recursos naturais (maior participação para frente).
No entanto, observou-se um desempenho positivo da categoria serviços do Brasil,
que compreende a maior parcela de valor adicionado doméstico nas exportações

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brasileiras. Ademais, sua participação em CGV cresceu ao longo dos anos analisados
e foi maior (13 setores ao todo) relativamente aos setores primários e da indústria
de transformação, na qual somente seis setores demonstraram resultados positivos
quanto ao engajamento em CGV. Dessa forma, o Brasil parece, de maneira agregada,
estar posicionado nas CGV como fornecedor a montante, ora de insumos primários
em estado bruto ou com pouco processamento tecnológico, ora adicionando valor
nas exportações estrangeiras por meio de serviços pré-produção.
A indústria de transformação apresenta crescimento do valor adicionado
doméstico, mas baixos índices de VS (participação para trás), o que nos leva à
conclusão de que sua estratégia de inserção externa ainda está muito pautada em
relações comerciais tradicionais (fora das CGV). Um destaque para a indústria
de “equipamentos de transporte”, que apresentou ganhos de competitividade via
participação em CGV.

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Acknowledgment
The authors thank the Coordination for the Improvement of Higher Education
Personnel (CAPES) for their financial support (PDSE-Process 6347-14-2).

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Apêndice
Lista de indústrias da base de dados TiVA WTO/OECD (2015)
Código Classificação Correspondência
OECD/WTO ISIC Indústria com classificação
TiVA (Rev. 3) OECD (1994)
1 C01T05 Agricultura, floresta, caça e pesca Produtos primários
2 C10T14 Indústrias extrativas e mineração Produtos primários

3 C15T16 Alimentos, bebidas, tabaco Baixa tecnologia


4 C17T19 Têxteis e produtos têxteis Baixa tecnologia
5 C20 Madeira e cortiça e suas obras Baixa Tecnologia
Pasta de papel e cartão e seus artigos; edição e
6 C21T22 Baixa tecnologia
impressão
Coque, produtos petrolíferos refinados e de
7 C23 Média-baixa tecnologia
combustível nuclear

8 C24 Produtos químicos Média-alta tecnologia


9 C25 Borracha e plásticos Média-baixa tecnologia
10 C26 Outros produtos minerais não metálicos Média-baixa tecnologia
11 C27 Metais básicos Média-baixa tecnologia
12 C28 Produtos de metais fabricados Média-baixa tecnologia
13 C29 Máquinas e equipamentos, nec. Média-alta tecnologia
14 C30T33 Equipamentos elétricos e óticos Alta tecnologia
15 C31 Máquinas e aparelhos elétricos n.e Média-alta tecnologia
Fabricação de veículos
16 C34 Média-alta tecnologia
automóveis, reboques e semirreboques
17 C35 Outros equipamentos de transporte Média-alta tecnologia
18 C36T37 Manufaturas nec.; recicláveis Média-baixa tecnologia

19 C40T41 Eletricidade, gás e água Serviços


20 C45 Construção Serviços
21 C50T52 Comércio atacado e varejo, reparos Serviços
22 C55 Hotéis e restaurantes Serviços
23 C60T63 Trasnporte e estocagem Serviços
24 C64 Serviços postais e das telecomunicações Serviços
25 C65T67 Intermediação financeira Serviços
26 C70 Atividades imobiliárias Serviços
27 C71 Aluguel de máquinas e equipamentos Serviços
28 C72 Computação e atividades relacionadas Serviços
29 C73T74 P&D e outras atividades de negócio Serviços
Administração pública e defesa; segurança social
30 C75 Serviços
obrigatória
31 C80 Educação Serviços
32 C85 Saúde e ação social Serviços
Outras atividades de serviços coletivos, sociais e
33 C90T93 Serviços
pessoais
Serviços prestados às famílias por empregados
34 C95 Serviços
domésticos

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