Atividade Politica

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Interpretação de Espinosa sobre o que foram de fato as profecias narradas na Bíblia, bem como o

modo como ele chega a essa interpretação

A profecia é um conhecimento incomunicável, ou melhor, é comunicável, mas não as razões pelas quais
é considerado verdadeiro
Natureza da mente – contém em si a natureza de deus; intuição da imaginação de uma pessoa
particularmente imaginativa (virtuosa);
Profecias – tabuas de Moises (apenas);visão sem hireglifos; (corpo pra corpo) Cristo é outro capaz de
profecia; (mente para mente);
Modos: palavras e figuras; imaginação mais viva;
Tratamento filológico; espírito de deus: virtude singular e acima do comum e cultivavam a perseverança
e piedade – ânimo forte;
Dado que não posso comunicar – profecia; profeta – imaginação enorme, virtuosa;

Espinosa que toma a designação "Deus", não apenas uma metáfora, mas a própria “Natureza”, como
aquilo que nomeia a própria imanência, com uma inteligência, uma mente que a tudo cria e por via disso
cria-se a si mesmo, interpreta a Bíblia, e para tanto utiliza-se de um trabalho apurado sobre a filologia,
com grande capacidade crítica e distância necessária do pensamento, para analisar a letra do texto e
mostra aquilo que o texto bíblico deixa a ver, para quem olha com atenção, qual seja, que aquilo que se
designa por “profecia” não é outra coisa senão um forma de conhecimento, do qual não se pode
conhecer as razões pelas quais o dito como verdadeiro é verdadeiro, mas se sabe que, por uma espécie
de intuição apurada, uma sensibilidade superior, o sujeito - o profeta – é capaz de proferir coisas sobre
o mundo que poderão se mostrar verdadeiras, ainda que sem a devida explicação, que não outra que a
de foi por força e vontade divina. O filósofo, para tanto, mostra que, ao refletir sobre o termo “espírito de
deus”, aquilo que marca os profetas não passa de uma virtuosa e cultivada imaginação, utilizando-se de
palavras e imagens (os hieróglifos) para conhecer intuitivamente. Os únicos que teriam, segundo ele
ainda, de fato profetizado alguma coisa, teriam sido Moíses, que via sem hieróglifos (pela voz de Deus) e
Cristo, único capaz de profetizar, pois seria perfeito o suficiente para tal, visto ser o próprio Deus. Tudo
isso, a partir da avaliação filológica dos termos e da exemplaridade da própria letra bíblica.

Quais são as diretrizes recomendadas por Espinosa para a interpretação do texto bíblico? E qual é a
questão política por trás da polêmica sobre como interpretar as Escrituras?

- qualquer pessoa dotada de razão pode entender a bíblia? Ou apenas alguns dotados? Elaborar a
história autêntica e com base em dados precisos e certos. Princípios que se podem extrair dela mesma e
da sua história, poderia-se discutir com segurança as questões – única via. Método de interpretação da
natureza; as coisas da quais a escritura fala não podem ser conhecidas pela luz natural (a racionalidade).
A escritura é um texto, escrito por alguém, sendo possível conhecê-la cientificamente. Não mistificar o
texto. – as informações devem vir do próprio texto. morar no texto. regra universal: não atribuir outros
ensinamentos além do que há no texto. três diretrizes: devem incluir a natureza e as propriedades da
língua, na qual o texto foi escrito (filologia); deve coligir as opiniões contidas e reduzir às opiniões
principais (sistematização do texto, organizar o disperso); descrever os pormenores dos livros de que
chegou até nós, costumes e voltas, acolhida, versões, idiomas... (conhecer o contexto da escrita do
livro);

Questão política: os ensinamentos morais têm a clareza e são entendidos pelos cidadãos, estudados ou
não. Qualquer pessoa com racionalidade pode interpretar o texto; diferença entre estado (onde a lei
pública não pode interpretar do jeito que quer) – direito público – e religião (cada um tem a liberdade de
interpretar como quiser) – direito individual;

R: O trabalho da imanência do pensamento de Espinosa opera uma verdadeira desmistificação, no


sentido corrente do termo, do texto bíblico, ao afirmar uma metodologia científica de tratamento da
escritura. As três diretrizes que o filósofo apresenta ao longo do texto visam, estritamente, em lidar com
o texto de forma concreta, o que significa lidar com as próprias palavras (sua etimologia, filologia e, em
certo sentido, semiótica), com a sistematização dos discursos, depurando-os, organizando-os, reduzindo-
os às opiniões semelhantes e separando as divergências em vistas de uma melhor compreensão e maior
segurança na lida com os argumentos e exemplos e, por fim, com o processo historiográfico de recepção,
transformações, variações, sentidos determinados desses textos. As palavras são, nesse sentido, as
verdadeiras metas do trabalho, a fim de definir a forma mais segura de aproximação dos sentidos ao
longo do tempo e no corpus do texto. Tal trabalho, de certa forma, elimina o aspecto místico da leitura, o
que, tangencialmente, leva-nos a questão seguinte: se não é necessária luz sobrenatural alguma, e com
isso certos eleitos, para a interpretação do texto, mas bem mais o trabalho cuidadoso e detalhista do
pesquisador, qualquer um que se dê a tal trabalho, poderá ser capaz de interpretar o texto, não cabendo
nada disso especificamente a algum iluminado pela divindade. A qualquer um, então, é possível a
interpretação, constituindo, segundo Espinosa, em um “direito privado”. Em contraposição a isso,
lembra-nos ainda o filósofo, temos o Estado e a lei pública, “direito público”, que não pode operar do
mesmo modo, cabendo, assim, a um magistrado, a um sujeito preparado para interpretar o texto. Nessa
perspectiva, pois, a Religião é direito de interpretação particular, mas as leis do Estado não, mantendo-
se uma certa unidade, enquanto se permite a convivência pacífica das diversas religiões.

Explique o que Espinosa entende por direito natural e pela relação de continuidade entre o direito
natural e direito positivo (isto é, o direito após o contrato social).

Direito natural – regras da natureza de cada indivíduo; só há natureza e tudo que há tem uma extensão
de regras (agir segundo sua própria natureza, as características do meu ser), do direito natural; direito é
a mesma coisa que poder; algo sem lastro no poder, não existe; direito natural não considera a razão,
mas entre a potência e o desejo. Direito entre a razão e o poder; a natureza não se limita às leis
humanas, mas possui uma série de outras leis; ansiedade e tensão pela lei natural. Assim, os homens se
juntam e tem de encontrar uma forma coletiva de viver; não mais pelo força e desejo, agora pela
vontade e poder; estatuir e acordar entre si tudo que seria regido pelos ditames da razão; como
determinar o pacto? – o contrato; exemplo: fazer um pacto ilícito, com o direito natural de quebrá-lo. Se
a quebra for útil o sujeito tem direito (natural) de descumprir o contrato – passagem da potência da
multidão pra potestas da multidão. (insurreição?) – necessidade de condução pela razão;
Direito positivo – artificial, criada pelos homens; determinado naturalisticamenente. Para Espinosa, não
há diferença. É tudo natureza; não há contradição; continua vigorando enquanto as pessoas acharem útil
viver em sociedade e seguirem o contrato; quando não for útil, as pessoas podem desobedecer;

R: Estando tudo na natureza, não havendo nada fora de deus que é natureza, o direito, sobre o qual
Espinosa discursa ao longo do capítulo, não teria outro lugar senão no seio mesmo da natureza. A
distinção que ora se apresenta, qual seja, entre direito natural e direito positivo, não passa de duas
expressões de um único direito que é aquele a da própria natureza. O que o filósofo denominará, então,
como direito natural se configura como as maneiras e modos próprios de ser de cada indivíduo, partícipe
da natureza, pelo qual ele, tendo poder, poderá agir e se expressar. Tal perspectiva coloca, então, o
direito natural mais em relação ao poder (ao que cada um pode fazer com o que é para tornar-se o que
sempre foi, o seu próprio ser) do que com a razão, sendo gerida mais pelo desejo e pela força do que
pela razão. A força e a violência que se tornam, pois, inerentes a tais modos podem tornar, porém, o
sujeito, mais tenso, mais ansioso, pois um mais forte, um com mais poder tem, de sua parte, o direito
de tomar-lhe, inclusive, a vida, sem que isso se constitua quebra da regra. Em virtude de tal
possibilidade, quando os indivíduos decidem juntar-se, viver em conjunto, constituem, igualmente, um
conjunto de regras, as quais limitam de um lado o poder de cada um individualmente, mas, por outro,
garantem mais a persistência no ser de cada um, dá-se a isso o nome de direito “positivo”, regras
aplicadas, pela via da razão (sempre requisitada, garantidora da utilidade, mas nem sempre presente),
cuja função serve aos humanos. As leis da natureza são de modos e expressões ainda as mais diversas
que essas humanas, também aí abarcadas, o que faz com que Espinosa não considere alguma distinção,
mantendo, pois, continuidade entre ambos. Se há uma diferença, ela se diz mais na diversidade do modo
de expressão, a do direito positivo ser um modo do direito da natureza, o qual, ao contrário dessa, pode
ser substituída e/ou revogada a depender da utilidade dos indivíduos que decidiram viver em conjunto,
formulada sob os ditames da razão. Dessa forma, aquilo que se denomina “contrato” só será seguido na
medida em que beneficia, aumenta a potência, do indivíduo. No caso do direito natural, ele é irrevogável,
pois consiste em ser o que se é, na medida em que se é. O que o direito positivo faz é, considerando a
utilidade e a racionalidade dos seres humanos, permitir a vida de maneira mais segura para que cada um
possa alcançar o que se é, persistir no seu próprio ser, por um tempo mais longo, do que sozinho talvez
fosse capaz.

Enuncie os argumentos de Espinosa a favor da liberdade de pensamento e de expressão e os


relacione ao modo como o autor pensa a relação entre religião e política.

É difícil obrigar alguém a mudar seu pensamento. É uma ilusão o governante achar que pode controlar
as crenças privadas (religião) dos súditos; ligação entre o que pensa e o que fala; não posso controlar o
ânimo, não se deve controlar as línguas; a segurança é o primeiro passo para a liberdade; renunciar ao
direito de agir segundo sua própria lei, não de pensar e julgar. (o pensar é incontrolável; o dizer não
deve ser controlado; fazer tem de ser controlado, pq pode ameaçar a sobrevivência do estado) –
enquanto a lei não mudar, devo obedecer, embora seja possível contrariar a lei em pensamento e em
julgamento. O dizer é um agir, que apresenta riscos, ser subversivos – aquelas cuja ação pode
suspender o pacto; é possível controlar a palavra, mas não o pensamento – possibilidade de corrupção
do sujeito, pois pensaria uma coisa e falaria outra. A proibição da expressão poderia levar a uma
decadência da opinião pública e do estado, pois começariam a mentir. Dois cenários à proibição:
decadência do espírito republicano; desobediência civil; quanto menos liberdade de expressão, mais nos
afastamos do estado e maior a violência. O estado deve ser laico.
R: Espinosa, no confronto tecido entre o público e o privado, mostra-nos o cerne da questão que envolve
a relação de ambos, que pareciam tão separados, controlados, apenas por força de um contrato social
criado em nome de uma segurança de viver. Porém, agora, vemos os custos de tal manutenção, visto
que nem sempre é possível aceitar o custo do cálculo em abrir mão da própria liberdade por tal pacto. A
religião, de certa forma, parece funcionar como elemento operador do pensamento espinosista, na
medida em que nomeia a liberdade de pensar de exprimir livremente os próprios desejos. O que é, em
larga medida, uma artimanha dele, pois, usar a religião como parâmetro de um pensamento privado, em
contraposição aquele do Estado, a opinião pública, obriga os sujeitos a reposicionarem seus próprios
argumentos, para não atacar aquilo que parece, intimamente, fundar o Estado, isto é, a religião. Ao
exigir a liberdade de religião, de crença, Espinosa faz assemelhar isso à liberdade de pensamento: a
liberdade de crer é privada, tal como a liberdade de pensamento. Ambas estão vinculadas, não se pode
proibir uma, pois se estaria proibindo a outra. Não tendo condição de controlar os ânimos dos sujeitos,
de onde provém seus pensamentos e ao qual se vincula sua crença, o Estado deve permitir que todos
possam expressar seus pensamentos, isto é, dizê-los e fazer julgamentos a partir disso, garantindo-lhes
segurança para que possa expressar seus pensamentos. Estes que, em si, são incontrolados e
incontroláveis, os quais podem se tornar demasiados arriscados se forçadamente impedidos, colocando
em risco também a própria existência desse Estado. Porém, o próprio dizer aparece como uma forma de
ação, ao qual o Estado deve atentar. A liberdade de expressão, diz o filósofo garante a honestidade e
retidão dos sujeitos, isto é, o “espírito republicano”, o que pode fortalecer o pacto e fazer com que todos
lutem e se esforcem por sua manutenção, embora, seja possível ainda, de outro lado, abrir espaço para
palavras e julgamentos contrários ao próprio pacto. A vantagem de tudo está no sujeito manter-se fiel a
si mesmo, o que ajudaria o Estado a reconhecê-los. Uma condição da manutenção do dizer e do pensar,
mesmo diverso do pretendido pelo Estado, estaria em, ao fazer isso, o sujeito abrir mão do agir
propriamente dito, sendo, então, legítimo apenas da parte do Estado. A proibição, de sua parte, poderia,
continua Espinosa, poderia ter duas consequências muito perigosas: primeiro, promover a decadência do
próprio Estado, pois os cidadãos começariam a mentir, bajular e esconder seus pensamentos e o próprio
Estado não mais saberia a verdadeira opinião desses sujeitos, e/ou, ainda, poderia haver uma revolta
contra o pacto, resistência e desobediência civil, pois as leis não mais serviriam para proteger os
cidadãos, mas para aprisioná-los e violentá-los. A liberdade de expressão, então, deve ser uma
necessidade do Estado, como forma de manter o próprio movimento de desenvolvimento dos
mecanismos de proteção social e garantia de liberdade. A religião, nesse sentido, mostra à política a
constante exigência em reinstituir formas de relação entre as diversas liberdades, mantendo, portanto,
uma espécie de “indiferença” às religiões e aos pensamentos, para que todos prevaleçam em si mesmos,
na mesma medida que sustentam o Estado.

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