Estudo de Caso - Edifício Andrea
Estudo de Caso - Edifício Andrea
Estudo de Caso - Edifício Andrea
Palmas - TO
2022
CAIO VIEIRA VALADARES
LUCAS EDUARDO MARQUES
PAULO HENRIQUE CONCEIÇÃO SOUSA
YAN MENDES CIRQUEIRA
ENGENHARIA CIVIL
Palmas
2022
CASO EDIFÍCIO ANDREA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Resumo
Apresentamos uma revisão bibliográfica sobre os conceitos de durabilidade e vida útil
das estruturas. Partimos da leitura desses tópicos com o objetivo de compreender as origens,
causas e mecanismos relacionados ao colapso de uma estrutura de concreto armado, como foi
o caso do Edifício Andrea em Fortaleza - CE. Tais conceitos são prescritos na ABNT NBR
6118/2014, que trata exclusivamente sobre projetos de estruturas de concreto, e em seguida são
abordados os fatores que colaboraram para o acontecido que ocasionou a morte de 9 pessoas.
Por fim, apresentamos as conclusões sobre o tema, definindo, com base nos estudos feitos o
que de fato provocou o desabamento do edifício.
Palavras-chave: Durabilidade; vida útil; desempenho; negligência; corrosão; despassivação;
colapso.
Introdução
• 7 andares;
• 12 apartamentos, 2 apartamentos por pavimento;
• O imóvel foi registrado em cartório em 1982;
• Ficava localizado no cruzamento da Rua Tomás Acioli com Rua Tibúrcio Cavalcante,
no Bairro Dionísio Torres em Fortaleza – CE;
• Desabou às 10:28 AM do dia 15/10/2019, deixando 9 mortos e dezenas de famílias
desabrigadas.
Para a ABNT NBR 6118/2014 item 6.2, vida útil de projeto é o “período de tempo
durante o qual se mantêm as características das estruturas de concreto, desde que atendidos os
requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor, conforme itens 7.8
e 25.4, bem como de execução dos reparos necessários decorrentes de danos acidentais”.
A ABNT NBR 15575/2013 define Vida Útil de Projeto (VUP) como o período estimado
de tempo para o qual um sistema é projetado, a fim de atender aos requisitos de desempenho
estabelecidos nessa norma, considerando o atendimento aos requisitos das normas aplicáveis,
o estágio do conhecimento no momento do projeto e supondo o cumprimento dos
procedimentos especificados nos Manuais de Uso, Operação e Manutenção do
empreendimento. A Tabela 4 apresenta os valores de vida útil mínima e superior para as
edificações e seus sub sistemas.
Tabela 4 – Vida Útil de Projeto mínima e superior (VUP)
Resumindo pode-se afirmar que vida útil deve sempre ser analisada de um ponto de vista
amplo que envolve o projeto, a execução, os materiais, o uso, operação e a manutenção sob um
enfoque de desempenho, qualidade e sustentabilidade.
Desempenho pode ser definido como comportamento em uso de uma edificação e de
seus sistemas, segundo as condições de exposição e de uso e manutenção por seus ocupantes.
A ABNT NBR 15575/2013 apresenta as de necessidades e exigências dos usuários, como expõe
a Tabela 5.
Tabela 5 - Necessidades e exigências dos usuários
Um dos fatores que vieram a originar a falha estrutural dos pilares do Edifício Andrea
se relacionam principalmente pela falta de manutenção da estrutura, a qual pode ser evidenciada
através das seguintes imagens:
Fonte: Portal G1
Inicialmente, podemos destacar que para essa edificação não foi feito nenhum tipo de
registro, portanto a obra já estava irregular perante a prefeitura e CREA-CE. O colapso
repentino foi provocado pelos reparos nos pilares do pavimento térreo que estavam sendo
realizados. Como pode ser observado, a armadura dos pilares já estava em processo de
oxidação, apresentando corrosão em um nível bastante avançado. O processo de corrosão ao
longo do tempo fez com que a armadura perdesse seção. Desse modo, a mesma sofreu um
fenômeno de expansão por despassivação, fazendo com que estourassem as faces de
cobrimento do elemento de concreto tornando-as ainda mais expostas aos agentes agressivos.
Por estarmos avaliando uma edificação que possui como localização uma região
litorânea, devemos ressaltar o próprio fenômeno de maresia, pois ele causa aceleração da
oxidação das armaduras, o que deve ser previsto e principalmente tratados em critérios de
projeto. A NBR 6118/2014 aponta a espessura mínima de cobrimento para edificações
dispostas em regiões como tais, a qual denota cobrimento mínimo para lajes de 3,5cm; para
vigas, pilares e elementos estruturais em contato com o solo de no mínimo 4,0 cm; além da
própria classe de concreto, sendo ela maior ou igual 30 MPa e relação água/cimento menor o
igual a 0,55.
Analisando ainda na foto, podemos notar que os estribos da armadura do pilar estão
praticamente fundidos com a barra longitudinal, além da barra estar em processo de flambagem,
isso nos remete a analisar que o processo de expansão da armadura está muito acelerado, e por
esse motivo a obra já devia estar em estado de interdição pela Defesa Civil, para que assim seja
feito o reparo de modo adequado. Observando a fotografia, podemos notar que a seção de
concreto na camada de cobrimento não está claramente visível, sendo possível afirmar que em
outras intervenções, as empresas tenham executado de modo similar o processo de "reparo" da
estrutura: com argamassa de cimento e areia, a qual não possui capacidade estrutural, não
garante impermeabilização e por consequência não há tratamento real a critério de garantia de
resolução da manifestação patológica, pois com esses fatores não há impedimento da contínua
deterioração das armaduras. Logo, o reparo para casos como este exige um processo de
escoramento e envelopamento da estrutura para que assim seja executado o reforço estrutural
de modo eficiente e seguro.
A ART gerada pelo Engenheiro Civil José Anderson Gonzaga dos Santos, com ordem
de serviço voltada à recuperação das estruturas e pintura, totalizando um valor de R$22.200,00,
o qual é muito baixo para custeio do tratamento dos problemas patológicos apresentados na
edificação. Isso nos remete à lei de Sitter, que trata da evolução dos custos de intervenção ao
longo do tempo, sendo este um caso negativo de referência, onde houve extremo desleixo nas
manutenções preventivas e mais ainda nas corretivas, ao se contratar uma equipe sem
experiência e qualificação técnica, gerando consequências drásticas. Evidentemente, ao analisar
as imagens da execução do serviço "corretivo", observou-se que a operação de quebra foi
realizada em diversos pilares, sem que houvesse escoramento dos mesmos. A negligência dos
responsáveis pela execução e acompanhamento do serviço serviu de catalisador para que
gerasse a tragédia do desabamento do Edifício Andrea.
Figura 03 – ART que autoriza o serviço de recuperação das estruturas do Edifício Andrea.
Com o presente trabalho tem-se como conclusão que estruturas em concreto armado
necessitam de cuidado, avaliando os critérios de projeto empregados, seguido de seu
acompanhamento, se referenciando sempre às normativas vigentes. O caso do edifício Andrea
mostrou alguns sinais de faltas de diligência, e ao ignorar sinais como tais, a estrutura fica
fadada ao colapso, fato consumado com o que foi apresentado no estudo de caso. Quando foi
analisado o fato de que as armaduras dos pilares estavam em estado de forte corrosão, recoberta
ainda por revestimentos sem função estrutural alguma, o edifício já apresentaria tendências a
colapsar.
A direção do Condomínio Andrea ignorou o que se resume a manutenção de edificações
ao contratar diversos indivíduos sem capacitação técnica que buscavam tratar superficialmente
as manifestações patológicas apresentadas, sendo por último, uma empresa de engenharia onde
os profissionais não seguiram os procedimentos mínimos de evacuação imediata, interdição do
edifício, escoramento das áreas críticas e o tratamento das armaduras por seções. Onde fica
notável o estado crítico de corrosão nas armaduras dos pilares, tratamento inadequado onde a
recuperação foi feita com materiais sem finalidade estrutural.
Podemos então, acrescentar que o faturamento das ações incorretas contribuiu
fortemente como o colapso da edificação. Sendo casos como esses, para servir de alerta ao
assumir a responsabilidade por corrigir tais problemas, sendo o primeiro critério a avaliação
dos riscos que a estrutura apresenta, dada através de laudos técnicos detalhados, para assim
iniciar o processo de recuperação.
Referências Bibliográficas