VERISSIMO - Natalia Barbosa
VERISSIMO - Natalia Barbosa
VERISSIMO - Natalia Barbosa
2017
2017
NATÁLIA BARBOSA VERISSIMO
Londrina, PR
2017
NATÁLIA BARBOSA VERISSIMO
COMISSÃO EXAMINADORA
_____________________________________________
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Célia Regina Vitaliano
Universidade Estadual de Londrina – UEL – PR
_____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Luciane Guimarães Batistella Bianchini
Universidade Estadual de Londrina – UEL – PR
_____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Vera Lucia Messias Fialho Capelline
Universidade Estadual Paulista – UNESP – Bauru – /SP
A Deus,
Que deu forças, guiou meu caminho durante essa trajetória e, em todos os
momentos de minha vida, me permitiu realizar esse sonho.
Aos meus avós maternos Leonélio e Calista e paternos Alcides e Benedita (in
memoriam),
Por toda a educação, carinho e orações ofertadas a nossa família, o que, sem
dúvidas, permitiu com que seus netos alcançassem objetivos até então inesperados
por muitos.
A dois anjos que Deus colocou brevemente em meu caminho nesse período, mas
que mudaram significativamente minha vida, meu modo de agir e pensar, e, acima
de tudo, me encorajaram a nunca desistir, ensinando-me que, apesar das
dificuldades, a vida sempre nos surpreende positivamente e que nada nesse mundo
é por acaso.
“[...] procuramos, como educadores, rever
nossas práticas, construir novas
competências e aproximarmo-nos de outros
colegas que estão abertos ao projeto da
educação inclusiva, e, assim, buscarmos
alterar gradualmente nossas práticas
pedagógicas, no acolhimento do aluno com
necessidades educacionais especiais nas
escolas em geral” (BEYER, 2005, p. 124).
VERISSIMO, Natalia Barbosa. Percepções e práticas pedagógicas de
professores regentes dos anos iniciais em relação aos alunos com
necessidades educacionais especiais. 2017. 172f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017.
RESUMO
ABSTRACT
This research aimed tocharacterize the perceptions end pedagogical practices of teachers
responsible for ordinary classes in the initial grades of Elementary School I and who have
students with special educational needs (SEN), in addition, to know the process of
elaboration of the activities developed with the students is effective, identifying their
difficulties and experienced success in the inclusion process of these students, identifying
suggestions for improvement of their pedagogical practice with the aim to including such
students and verifying the perceptions they had regarding the inclusion of these students in
regular education. The theoretical assumptions that guided the organization of this study are
related to knowledge developed regarding inclusive education, especially those directed to
pedagogical orientations in order to promote the inclusion process of students with SEN. This
study is constituted by a descriptive research with a qualitative analysis carried out through a
case study. The participants of this research were four female teachers of an elementary
school, who are responsible for common classes of the initial grades of a municipality in the
north of Paraná state. The data were collected through systematic direct observation in the
classroom and a semi-structured interview with each of the participants. The results were
organized and discussed through six categories with their respective subcategories. As a
whole, the results showed that the participants have shown, in several moments, practices
that favored the students' learning process, such as individualized attendance, offering
differentiated activities, group tutoring, as well as stimulating the interaction of both common
students and students with SEN in classroom. On the other hand, we have observed
practices that did not favor this process, such as: frequent use of many Xerox-processed
activities and textbooks without contextualization, queued desks every day of school, even
when some activities provided other forms of physical space arrangements. We have
observed that the participants showed difficulties in working with the curricular adaptations
and that these were not elaborated by them. Three participants showed conceptions that the
inclusion process has been hampered since they believed it was necessary to attend the
students with SEN in particular or individually, which would make it difficult for attending the
other students and who needed an auxiliary teacher in the classroom to better attend the
students. On the other hand, one participant evidenced that such a process has been carried
out, once the student had a support teacher, however, the teacher responsible for the class
did not make direct interventions with the student, besides not providing the student
interaction with the other students. The data also revealed gaps in the initial training
received, lack of in-service training regarding the inclusion process and the need for
reorganization and the National Policy on Special Education in relation to student care. We
hope this study contribute with guidance on the training process necessary for teachers in
order they develop pedagogical practices that are effectively inclusive.
APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 16
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 19
1.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 22
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 22
3 MÉTODO .................................................................................................... 55
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ..................................................................... 55
3.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DA PESQUISA ...................................................... 56
3.3 PARTICIPANTES ............................................................................................ 57
3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS ...................................................... 62
3.5 INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA A COLETA DE DADOS .................................... 64
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS .............................................................................. 65
APRESENTAÇÃO
1
O referido conceito foi utilizado nesse trabalho visto que é assim descrito no estado do Paraná
2
Caracterizados pela escola com dificuldade de aprendizagem
17
1 INTRODUÇÃO
para atender as diferenças de seus alunos com vista a atingir os principais objetivos
da educação inclusiva. Par tal, propomos a presente pesquisa com quatro
professoras regentes de classe comum do ensino fundamental que atuavam em
suas salas de aula com alunos que apresentavam NEE.
Dessa forma, as principais questões deste estudo são: Como os
professores planejam e desenvolvem suas práticas pedagógicas? Os professores
contemplam em sua prática pedagógica a diferença e a heterogeneidade da sua
classe? São organizadas práticas pedagógicas diferenciadas para atender os alunos
que apresentam NEE? Sua formação contemplou maneiras de organizar sua prática
pedagógica para atender as diferenças de seus alunos? Quais as dificuldades que
os professores encontram para desenvolver sua prática pedagógica de modo a
atender todos os alunos?
Considerando tais aspectos, a presente pesquisa, ao caracterizar as
práticas pedagógicas de professores regentes de classes comuns dos anos iniciais
do Ensino Fundamental I que têm alunos com NEE, tem o intuito de contribuir para
elucidar as práticas desenvolvidas no processo de inclusão dos alunos em questão,
bem como identificar as dificuldades que os professores vêm encontrando para
efetivar tal processo. Esperamos, ainda, que este estudo possa contribuir com
orientações sobre o processo de formação necessário aos professores com o intuito
de desenvolver práticas efetivamente inclusivas.
A seguir, apresentamos os objetivos que pretendemos atingir no
desenvolvimento desta pesquisa.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para que haja a inclusão escolar do aluno com NEE, Fernandes (2015)
explicita a necessidade da reconstrução da ideia de escolarização atual para outra
que realmente considere a diversidade inerente aos grupos sociais, bem como as
especificidades e particularidades dos alunos. Segundo a autora,
CONSIDERADOS
De acordo com Fontes (2009, p. 56), a chegada dos alunos com NEE nas
escolas e nas classes comuns inaugura “um novo desafio para a formação dos
professores”, visto que historicamente a “formação dos professores vem sendo
pautada no preparo para o ensino em classes homogêneas”.
Segundo a autora, muito embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
– LDB nº 9.394/96, em seu artigo 59, inciso III, preconize que os professores do
ensino regular devam ser capacitados para a inclusão dos alunos com NEE nas
classes comuns (BRASIL, 1996), a realidade educacional em nosso país ainda é
bem diferente, uma vez que diversas pesquisas, como as citadas neste trabalho,
vêm evidenciando o despreparo dos professores para atuarem com esses alunos
nas salas de aula do ensino regular.
Concordamos com Glat e Nogueira (2002, p. 24), ao dizerem que
não apenas para aqueles que atuam com os alunos que apresentam alguma
deficiência.
Por outro lado, algumas pesquisas apresentam, em suas análises,
conclusões de que a formação profissional ofertada aos professores não vem sendo
suficiente para amparar o trabalho pedagógico em sala de aula; dentre elas,
destacamos as de Sant’Ana (2005), Andrade (2006), Frias e Menezes (2009),
Leonardo, Bray e Rossato (2009), Rios e Novaes (2009), Micaroni, Crenitte e Ciasca
(2010), e Briant e Oliver (2012).
De acordo com os autores, os professores regentes não se sentem
preparados e capacitados para atuar com os alunos que apresentam NEE.
Para Andrade (2006), as dificuldades apresentadas pelos professores
podem ser relacionadas ao fato de participarem de cursos de formação continuada
que não atendam suas necessidades e os desafios que encontram no contexto
escolar. Segundo o autor, tal situação leva o professor a justificar o “não saber-fazer”
na sua prática pedagógica junto aos alunos com NEE.
De acordo com Sant’Ana (2005), a ênfase dada nos cursos de formação
aos aspectos teóricos distanciados da prática pedagógica não proporciona a
capacitação necessária aos profissionais para trabalhar com a diversidade dos
educandos.
2.3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ATENDIMENTO DOS ALUNOS COM NEE EM SALA DE
AULA
Uma das maiores inquietações dos professores que atuam com alunos
que apresentam NEE na classe comum refere-se à dinâmica do cotidiano da sala de
aula, uma vez que para muitos “parece um desafio grande demais atender os alunos
que apresentam peculiaridades e dificuldades acentuadas no processo de
aprendizagem” (WEISS; CRUZ, 2007, p. 72).
Buscamos nesse capítulo analisar, com base na literatura, os
procedimentos pedagógicos e as práticas pedagógicas que favorecem o processo
de inclusão dos alunos com NEE, bem como aquelas que pouco contribuem.
Cabe ressaltar que “procedimentos” se referem às orientações dispostas
na literatura para o atendimento aos alunos, já as “práticas” são as ações dos
professores frente à utilização desses procedimentos, ou seja, como eles realizam
as intervenções em sala de aula.
36
autora, são oriundas dos questionamentos e anseios dos professores regentes, que
a ela foram apresentados, durante toda a sua trajetória de pesquisa, em virtude das
novas demandas educacionais. Dentre os questionamentos que mais lhes foram
apresentados, Carvalho (2014, p. 63-64) destaca:
[...] à medida que tais alunos são “incluídos” vão sendo realizadas
ações conforme os recursos disponíveis, e não necessariamente
conforme as necessidades. Desta forma, deparamo-nos com práticas
destoantes da demanda que se tem e de uma escola inclusiva com
qualidade (LEONARDO; BRAY; ROSSATO, 2009, p. 296).
[…] propor trabalhos coletivos, que nada mais são do que atividades
feitas ao mesmo tempo pela turma; ensinar com ênfase nos
conteúdos programáticos de cada ano escolar; adotar o livro didático,
como ferramenta exclusiva de orientação dos programas de ensino;
servir-se de folha mimeografada ou xerocada para que todos os
alunos a preencham ao mesmo tempo, respondendo as mesmas
perguntas, com as mesmas respostas; propor projetos de trabalho
totalmente desvinculados das experiências e do interesse dos
51
do professor regente nas classes comuns do ensino regular junto ao aluno com
NEE.
Durante a busca, foi possível encontrar algumas obras que abordavam
temas referentes a práticas pedagógica inclusivas; contudo, a maioria delas se
relacionava a contextos não objetivados nesse estudo, tais como Ensino Médio,
Ensino Superior, Atendimento Educacional Especializado, e um maior número de
pesquisas se referia ao ensino de alunos com NEE nas aulas de Educação Física.
Após a análise das pesquisas por meio da leitura dos seus resumos,
foram encontradas quatro obras cujos objetivos se assemelham com os propostos
na presente pesquisa como podemos observar no quadro 1 a seguir.
Fonte: A autora
3 MÉTODO
Optamos por esse modelo de pesquisa, uma vez que “o estudo de caso
pode constituir um interessante modo de pesquisa para a prática docente, incluindo
investigação de cada professor nas suas aulas”. No entanto, “tal pesquisa não
equivale a simplismo, antes exige enquadramento teórico adequado, domínio de
instrumentos e disponibilidade de tempo” (DUARTE, 2008, p. 114).
Ainda de acordo com Duarte (2008), o estudo de caso na área da
educação constitui uma contribuição importante para o desenvolvimento científico,
uma vez que permite ao pesquisador uma visão em profundidade de processos
educacionais, na sua complexidade contextual.
Por permitir uma íntima aproximação entre sujeito e objeto, a abordagem
qualitativa configura-se como a mais adequada para esse modelo de pesquisa, uma
vez que considera um universo de significados, valores e atitudes, o que equivale
um espaço mais profundo das relações, processos e fenômenos humanos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2001). Tal
abordagem se preocupa, portanto, com os aspectos da realidade “que não podem
ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação dinâmica das relações
sociais (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p. 32).
56
como docente, com o intuito de verificar como estão sendo atendidos os alunos com
NEE em salas de aula regulares, para posteriores reflexões em relação à qualidade
de ensino ofertado. Outras características foram fundamentais para a escolha da
referida escola, sendo elas: 1) ser uma escola considerada de grande porte; 2) ter
um número razoável de alunos que apresentam NEE atestados por laudos; 3)
possuir uma Sala de Recursos; 4) ser de fácil acesso.
3.3 PARTICIPANTES
1 ano Períodos
Com Sem
Matutino NEE NEE
20h – professora
auxiliar (mesma
PR2 24 escola)
Pedagogia – 2015
Alunos com NEE Vespertino
4 meses 20h – regente de 2 23
2º ano
21 anos Períodos
Matutino Com Sem
Magistério 20h – regente de NEE NEE
3º ano (outra
Normal Superior escola)
PR3 62
Vespertino
Especialização Alunos com NEE 20h – Regente de 2 27
em 4 anos 3º ano
Psicopedagogia
Quadro 3 – Descrição das características dos alunos com NEE matriculados nas salas de
aulas dos professores regentes participantes da pesquisa
Aluno Idade/sexo Ano Características dos Alunos
TEA + TDA/H – Transtorno do Espectro Autista +
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
(segundo laudo médico).
A1T 6/M 1º ano Apresenta domínio na leitura e na escrita, bem como
nos conceitos lógico-matemáticos. Comunica com
clareza e facilidade. Tem dificuldades para desenhar.
Toma medicamentos.
TEA - Transtorno do Espectro Autista
Dificuldades acentuadas em comunicação, se
comunica por gestos ou sílabas soltas. Coordenação
A1M 6/F 1º ano motora global comprometida. Dificuldades cognitivas.
Utiliza medicamentos.
Possuía uma professora de apoio permanente
caracterizada aqui como pela sigla: PA
TDA/H - Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade.
Reconhece as letras, mas apresenta dificuldades na
A2V 8/M 2º ano junção das sílabas durante a leitura e a escrita. Distrai-
se com facilidade. Domina os conceitos matemáticos
básicos. Utiliza medicamentos (Repetente do 1º ano do
ensino fundamental em escola particular).
DI – Deficiência Intelectual + TDA/H - Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade.
A2P 7/M 2º ano Dificuldade geral de aprendizagem, não reconhece
letras e números. Dificuldades de comunicação e
coordenação motora global. Utiliza medicamentos.
DI – Deficiência Intelectual + TDA/H - Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Uma das questões centrais desta pesquisa, se refere ao modo como são
elaborados os planejamentos e as atividades diárias pelas professoras regentes,
para atender a todos, em especial os que possuem NEE. Ao serem questionadas
com relação à maneira como planejam suas aulas, obtivemos das participantes os
seguintes relatos:
Para Briant e Oliver (2012), é por meio das atividades bem estruturadas,
que envolvam estratégias de aprendizagens, tais como a exposição de ideias,
debates, encenações, pesquisas alternativas, seminários, trabalhos coletivos e em
dupla, projetos, recursos adaptados às necessidades dos alunos que envolvam
tecnologias e programas específicos de computadores e auxiliam na aquisição dos
conhecimentos curriculares dos alunos com NEE, interligando o pedagógico às
experiências do aluno, que o professor pode alcançar o objetivo de proporcionar o
aprendizado aos alunos em questão.
Para Heredero (2010, p. 194), o planejamento voltado aos alunos com
NEE dentro da escola “passa necessariamente por considerar necessariamente uma
escola para todos, na prática e no cotidiano”.
Além disso, buscamos identificar se as participantes elaboravam
planejamentos específicos para os alunos com NEE, as respostas obtidas foram:
Compreendemos que PR3 desenvolveu esse tipo de atividade visto que seu
principal objetivo era alfabetizar a aluna.
Então, o que eu oriento é a PA. Eu falo para ela: “PA., eu vou... tipo
assim, eu vou trabalhar com material dourado”... e aí ela já tem os
palitos, já tem tudo lá. Sabe aquela colmeia que tem no fundo da
sala? Tinha mais. Sabe aquelas caixinhas? É tudo que é para ser
trabalhado com A1M. Tem o alfabeto ilustrado. Tem tudo para ela.
72
Por outro lado, os relatos de PR1 nos levaram a tecer outras análises.
Referente à elaboração das atividades diárias ofertadas aos seus alunos, visto que
os relatos de PR1 estão direcionados apenas à aluna A1M, o aluno A1T não
necessita de atividades diferenciadas, pois apresenta uma aprendizagem
satisfatória. Esse dado pode ser comprovado durante as sessões de observação em
sala de aula, uma vez que verificamos que o aluno realizava todas as atividades
sem necessitar de auxílio da professora.
Porém, com relação à A1M, identificamos que a concepção apresentada
por PR1 é a de que a professora de apoio é a responsável por planejar e adaptar as
atividades para a aluna.
Inferimos que a participante PR1 transferiu para a PA a responsabilidade
de ensinar a aluna. É como que se, a partir do momento que a aluna possuiu o
direito de ter uma professora de apoio permanente, a professora regente não mais
precisasse realizar atividades com essa aluna.
No entanto as políticas nacionais de educação especial, não apresentam
critérios específicos a respeito da formação necessário do professor de apoio
permanente e sua atuação em sala de aula. A esse respeito, emerge a necessidade
de reformulação das políticas de educação especial a esse respeito, visto que
delegar a um professor, que não possui formação especifica para atender o aluno
com deficiência em sala de aula, a função de um professor especialista, não se
caracteriza como uma ação inclusiva.
Tal afirmação pôde ser contatada durante as sessões de observação
direta em sala de aula. Verificamos que raramente PR1 se reportou à A1M para
realizar intervenções pedagógicas. O atendimento à A1M ficou a cargo da
professora de apoio.
Tal situação nos leva a questionar como os profissionais da educação
estão pensando o processo de inclusão e como vem sendo estruturada a escola
para que realmente seja inclusiva. A prática apresentada pela participante PR1 nos
leva a compreender que ainda há muito o que se fazer para que a escola
proporcione uma educação inclusiva. Para Díez (2010, p. 18), “todas as pessoas
73
intervenções direcionadas à A1M, nem mesmo momentos para dialogar com PR1
referente ao planejamento elaborado por ela e direcionado a turma.
PA tomava conhecimento do planejamento de PR1 no momento em que a
professora regente distribuía as atividades para os alunos. O relato abaixo, que
obtivemos de PR1 durante as sessões de entrevista, reforçam as afirmações
anteriores, quando perguntamos se PR1 planejava as atividades que trabalharia
com os alunos que apresentavam NEE em parceria com a professora de apoio:
No caso, falei para a PA., assim... “PA., está escrito assim... mostrei
a adaptação curricular para ela, aí falei, como eu trabalhava, assim
de forma concreta com a A1M. Aí ela “Ah, PR1, vou tentar trabalhar
assim e tentar usar mais essa questão de tentar mexer com a tinta,
de manusear material concreto”. Aí ela procura fazer desse jeito, do
jeito que eu fazia (PR1).
O mesmo autor apresenta uma série de fases que devem ser levadas em
conta durante o processo de elaboração de uma adaptação curricular, como segue:
Concordamos com Sanches (2005) que a prática docente, por meio das
metodologias centradas nas investigações e ações frente ao processo de
escolarização dos alunos com NEE, permite realizar uma diferenciação curricular e
pedagógica inclusiva, ao contrário de uma diferenciação que retoma e reforça a
uniformidade, a exclusão.
Segundo o documento Saberes e Práticas da Inclusão – Recomendações
para a Construção das Escolas Inclusivas (BRASIL, 2006, p. 61),
4.1.2.1 Análise dos arranjos do espaço físico das salas de aula observadas
Fonte: A Autora.
Fonte: A Autora.
Fonte: A Autora.
parece C, cuja altura era acima da porta de entrada, que se localizava na parece C e
dava acesso ao corredor das salas de aula.
Ao fundo da sala, na parede D, eram dispostos armários de madeira e
prateleiras que ocupavam todo o espaço. O armário do lado direito da imagem era
onde PR2 guardava os cadernos de seus alunos. O outro armário era utilizado pela
turma do período da manhã, e PR2 não tinha acesso. O armário localizado ao lado
esquerdo da sala era comum às duas professoras, e nele eram guardados os livros
didáticos.
As prateleiras eram destinadas a guardarem alguns materiais didáticos
comuns às duas turmas, tais como livros de histórias e revistas, pastas de elásticos
com atividades dos alunos, e continha ainda trabalhos expostos feitos de sucatas
pelos alunos, pois as duas turmas estavam trabalhando durante aquele bimestre
com um projeto referente ao resgate de jogos e brincadeiras antigas.
O aluno A2V se sentava na segunda carteira da fileira 1, próximo à mesa
da professora, e o aluno A2P se sentava na primeira carteira da fileira 3, ao centro
da sala de aula.
Quanto à organização do espaço físico da sala de aula do 3º ano,
observamos que em todos os dias que PR3 e seus alunos adentravam na sala de
aula, a sala estava organizada da seguinte forma:
Fonte: A Autora.
88
Fonte: A Autora.
Fonte: A Autora.
90
Fonte: A Autora.
Fonte: A Autora.
Fonte: A Autora.
PR2 cumprimenta os alunos com uma boa tarde e pede para que
todos se sentem, pois nesse momento alguns se encontram em pé.
94
Ela faz a chamada dos alunos e, em seguida, vai até o quadro negro,
pega o giz e escreve no canto direito do quadro o cronograma do dia
com as seguintes palavras: TAREFA, VÍDEO, RECREIO, LÍNGUA
PORTUGUESA. Uma abaixo da outra.
Logo após, pede para que os alunos peguem o caderno de tarefa e
pergunta: “Qual rendinha a gente fez ontem?” Os alunos respondem:
“A do J”. A professora vai até o quadro desenha, no lado superior
esquerdo do quadro negro, utilizando um giz branco, uma linha para
representar a linha do caderno dos alunos e traça a letra J em letra
cursiva explicando aos alunos como deve ser feita. Ela pede que os
alunos façam uma linha de letras J em traçado cursivo para
separarem a atividade do dia anterior e a do dia de hoje.
O aluno A2P olha para a professora e pergunta onde deve fazer a
atividade, ela vai até sua carteira, pega o caderno de casa em sua
bolsa, abre na página em que ele deve realizar a atividade e passa
um modelo que ele deve seguir. A2P inicia a atividade e diz: “Eu sei,
eu sei fazer!” Nesse momento a professora passa de carteira em
carteira verificando e auxiliando os alunos no traçado da letra J.
Enquanto isso A2P olha para um aluno do lado, se levanta com o
caderno na mão e diz: “Eu sei fazer o J, você sabe fazer?” O amigo
responde que sim. Então ele senta e continua a atividade.
A2V faz a sua atividade, sem conversar com os amigos e, ao
terminar, fica roendo as unhas. Enquanto os alunos copiam a tarefa
de casa e fazem o traçado da letra J, PR2 passa de mesa em mesa
corrigindo a tarefa do dia anterior.
Após vinte minutos decorridos o início da aula, quando todos
terminam a atividade, PR2 vai até o quadro e coloca a data de hoje e
abaixo escreve a palavra TAREFA. PR2 orienta que os alunos
copiem no caderno a data e a palavra tarefa e passa como tarefa de
casa uma atividade do livro de matemática. Após esse momento, ela
vai até a mesa de A1 e verifica que ele não copiou a data, PR2 então
escreve a data em seu caderno dizendo: “A2P hoje é segunda-feira,
dia 7 de junho, que é o mês número 6, do ano de 2016”. PR2 pede
para que ele copie a palavra TAREFA. Aproximadamente dois
minutos após ela volta e verifica que ele escreveu a palavra e o
parabeniza. A professora cola uma folha de xerox para que ele leve
como tarefa de casa e diz: “Você vai levar essa tarefa para fazer em
casa”. A atividade também correspondia a conteúdos de matemática,
mas diferenciada. A1V copia a tarefa de casa igual aos demais
alunos. (Registro no protocolo de observação da prática de PR2).
Fonte: A Autora.
momentos foram mais oportunizados e ocorreram do início ao final do dia letivo nos
dias em que o ambiente físico se organizou de acordo com os diagramas das
Figuras 5, 6, 7 e 8. Nos demais dias, a professora orientou que os alunos sem NEE
auxiliassem A3L e A3G quando necessário.
Compreendemos que essa proposta de trabalho é muito importante por
possibilitar a cooperação e o respeito pelo outro; o trabalho em grupo e de tutoria
entre os alunos possibilita aprendizagem de conteúdos e de convivência com o outro
(ANDRADE, 2006).
A seguir, apresentamos recortes contidos no protocolo de registro de
observação da prática de PR3 de como esses momentos foram oportunizados aos
alunos A3L e A3G.
Fonte: A Autora.
100
Em seguida, PR3 pede que a A3L olhe acima do quadro negro e fale
a ordem do alfabeto. A3L olha e diz, com tom de voz que a
professora consegue ouvir, a ordem alfabética. Após esse momento,
PR3 diz a A3L: “Agora você organiza o seu alfabeto na ordem
alfabética”. PR3 olha para as duas alunas que estão sentadas ao
lado de A3L e diz: “esperem ela fazer e ajudem quando ela precisar”.
A3L inicia sua atividade, e outras duas alunas fazem atividades no
livro de português; durante esse tempo, as alunas auxiliam A3L.
Quando A3L termina, a aluna que está sentada ao seu lado pega as
folhas e corrige a ordem feita por A3L e diz, com tom de voz baixo e
alegre: “Tá certo A3L, Parabéns!”. A3L sorri.
A aluna que corrigiu atividade, leva as folhas até PR3, que está em
sua mesa fazendo anotações. A aluna diz: “aqui o da A3L,
professora”. PR3 diz: “Ela conseguiu?” A aluna responde: “Sim,
conseguiu, ela acertou tudo”. Em seguida, PR3 se levanta, vai até
A3L, pega as folhas de sulfites que estão ordenadas por ordem
alfabética e vai mostrando uma a uma a A3 e pedindo que ela diga o
nome da letra, bem como o nome de um objeto que inicie com letra
em questão. Enquanto isso, os demais alunos fazem as atividades
do livro de português.
Após a correção da atividade 1, PR3 pede que A3L coloque as folhas
em um saquinho plástico e guarde em sua pasta de atividades. Em
seguida, oferece à aluna outra atividade relacionada à identificação
do alfabeto e diferente das dos demais. (Registro no protocolo de
observação da pratica de PR3, referente ao diagrama 3.1).
Fonte: A Autora.
Fonte: A Autora.
A3G inicia sua atividade e, quando tem alguma dúvida, pergunta aos
amigos que estão no grupo, que o auxiliam. Observo que os amigos
sem NEE que se sentam com A3L e A3G os ajudam na realização
102
Figura 14 – Atividade em grupos em que alunos sem NEE auxiliam A3L na realização de
cálculos matemáticos.
Fonte: A Autora.
PR1 vai até o quadro, pega um giz branco e escreve em caixa alta a
tarefa de casa, ela pede que os alunos copiem: DESENHE ABAIXO
10 OBJETOS QUE TENHAM SEUS NOMES INICIADOS PELA
LETRA G.
Enquanto os alunos copiam, A1M não consegue copiar sua
atividade; PA, que está sentada ao seu lado, olha para a professora
regente e diz: “Já que ela não consegue desenhar, vou mandar
figuras recortadas para ela colar, daí a mãe ajuda”. PR diz: “Isso
mesmo! Faz isso”. PA pega um livro de recorte no armário e coloca
sobre a carteira de A1M. PA folheia o livro mostrando para A1M as
imagens e procura imagens que iniciam com a letra G. Recorta 5
imagens e coloca no estojo de A1M para que a aluna as cole em
casa. A1M ora se mantém atenta na atividade, ora não. Enquanto
recorta, PA mantém uma oralidade constante com A1M, mesmo ela
não respondendo. PA diz: “Olha A1M, a professora achou uma
geladeira! Geladeira começa com a letra G” Assim segue toda a
atividade (Registro no protocolo de observação da pratica de PR1).
Figura 15 – Atividade de operações matemáticas ofertada para A1M e aos demais alunos.
Fonte: A Autora.
Figura 16 – Confecção de um cartão para o dia dos pais (A); Atividade de português
apresentando o gênero textual quadrinha (B);
(A) (B)
foram escritas por PA; contudo, PA manteve um diálogo constante com a aluna,
explicou o que significava cada palavra e frisou o som da letra inicial de cada uma,
mesmo quando a aluna não se mostrava interessada.
A Figura 16 (B) referiu-se a uma atividade de português aplicada a toda a
turma com o intuito de apresentar o gênero textual quadrinha. PA copiou o texto no
caderno de A1M e orientou que a aluna colasse bolinhas de EVA formando o
traçado da letra G, enquanto os demais alunos realizavam atividades de
interpretação de texto.
Compreendemos que as atividades citadas anteriormente foram pouco
significativas para a aluna, uma vez que ainda não dominava o processo de leitura e
escrita. As atividades poderiam ser mais significativas se fosse lhe proporcionado
algo que ela dominasse, tal como a realização de um desenho durante a realização
do cartão para o dia dos pais e a leitura do texto quadrinha feita por PR1 ou por PA.
Para os alunos com TEA, é importante o apoio de figuras ou objetos
concretos pertinentes aos conteúdos trabalhados.
(C) (D)
Fonte: A Autora.
109
alunos na sala cujos nomes iniciam com a letra L e pula a letra M e escolhe outros
alunos seguindo a mesma ordem. Contudo, compreendemos que a aluna poderia,
sim, ser ajudante do dia, uma vez que poderia ser auxiliada por PA para realizar tal
função. Entendemos que, se esses momentos fossem proporcionados a A1M, a
aluna se sentiria parte do grupo e os demais alunos perceberiam que ela pode
realizar as mesmas funções que eles, porém de maneira diferente.
Compreendemos que as atitudes apresentadas por PR1 junto a A1M
reforçavam uma atitude de exclusão da aluna pelos demais alunos. Verificamos que
os alunos agiam como se A1M não estivesse na sala de aula.
O conceito de Inclusão no âmbito educacional implica, antes de mais
nada, rejeitar por princípio a exclusão, presencial ou acadêmica, de qualquer aluno
no espaço escolar. E nesse contexto, a escola que pretende seguir uma política de
educação inclusiva necessita desenvolver políticas, práticas e culturas que valorizem
a participação ativa dos alunos de forma a atingir a qualidade acadêmica e
sociocultural sem discriminação (RODRIGUES, 2006).
A1M apresentava comportamentos que indicavam seu desejo de
participar das atividades como os demais alunos. No terceiro dia de observação,
verificamos que a aluna se recusou a fazer o calendário que estava colado no seu
caderno e demonstrou, por meio de gestos e balbucios, o desejo de realizar um igual
ao dos demais. PA percebeu que A1M queria fazer a mesma atividade, foi até PR1 e
pediu um calendário igual ao dos outros alunos, quando entregou a folha para A1M,
ela sorriu, pegou o lápis e rabiscou a atividade; PA, então, segurou na mão de A1M
e a auxiliou no preenchimento.
Verificamos que quando a PR1 explicava algum conteúdo, mesmo
quando A1M realizava outra atividade, A1M de minutos a minutos olhava para a PR1
e demonstrava ter certa percepção do que estava acontecendo no ambiente.
levantou e tentou entregar seus cadernos e suas atividades; em outra ocasião, ela
pegou folhas que estavam dentro de sua bolsa para os alunos recolherem, mas eles
não recolheram. Era como se eles ignorassem a presença da aluna em sala de aula
ou que não pudessem manter contato com ela. Consideramos que essas ações
tenham sido espelhadas nas ações da professora, que ignorava a presença da aluna
em sala de aula. A seguir, apresentamos um relato de observação que ilustra essas
análises.
a atividade junto com o amigo. A1M sorri. PR1 diz: “A1M colheu 3
cenouras e Pedro colheu 4. Pega 3 tampinhas, A1M”. PR auxilia A1M
a pegar as tampinhas. Quando a atividade termina, A1M volta para
sua carteira, sorrindo. (Registro no protocolo de observação da
prática de PR1).
Quando terminou a atividade lúdica, foi entregue para toda a turma e para
A1M uma atividade fotocopiada para resolverem operações matemáticas. PA
resolveu a atividade junto com A1M utilizando as tampinhas de refrigerante para a
contagem, mesmo sem a aluna demostrar compreender as somas e subtrações
apresentadas. A1M consegue contar até o número 3, utilizando as tampinhas. Após
a realização da atividade, PA colou a folha no caderno da aluna e proporcionou a ela
jogos lúdicos e atividades de pintura livre com giz de cera, que, segundo PA, estaria
auxiliando a aluna na classificação das cores. As imagens A e B da figura 17,
ilustram tais situações:
Figura 17 – Atividade Lúdica de Matemática (A); Atividade de identificação das cores (B)
(A) (B)
Fonte: A Autora.
(A) (B)
professora de apoio, por isso raramente realizava intervenções junto à aluna. Apesar
de relatar, durante as entrevistas, que cabe ao professor ensinar a todos os alunos.
A professora compreendia que eles só poderiam aprender em um ambiente que
considerava organizado e com poucas conversas.
A práticas pedagógicas apresentadas por PR1 nos levam a refletir que
emergem de mitos e concepções que a participante possuía a respeito da maneira
como ensinar o aluno com e sem NEE. No entanto, compreendemos que muitas
vezes o próprio sistema educacional e a vivência dos professores os levam a
apresentar práticas não incisivas.
Para exemplificar, retomamos o fato de não ter sido PR1 quem elaborou a
adaptação de A1M; sendo assim, inferimos que a participante apresentou
concepções de não ser ela responsável pelo ensino da aluna e, ao observar que
aluna possuía uma PA, compreendia que essa profissional era quem deveria colocar
em prática as ações pedagógicas direcionadas a A1M.
Todavia, o fato de PR1 querer sempre a sala organizada e sem barulhos
para ensinar nos leva a crer que a participante compreendia que o processo de
ensino e de aprendizagem só poderia se efetivar em um ambiente que estivesse
estruturado conforme as suas concepções.
Essas inferências nos levam a pensar novamente no processo de
formação dos professores e compreender que talvez a formação esteja sendo
insuficiente para sanar os mitos e concepções desse professor em relação ao modo
de ensinar o aluno.
Em suas pesquisas, Gomes e Rey (2007) concluíram que, enquanto não
forem compreendidos os desejos, as crenças, aos afetos e as frustações dos
professores quanto a sua atuação profissional, eles não terão condições de assumir
o papel de educar a todos os alunos e, desta maneira, a “instituição escolar
continuará reproduzindo o círculo cruel da diferenciação e exclusão dos alunos”
(GOMES; REY, 2007, p. 470).
Apesar das dificuldades cognitivas de A1M e dos demais alunos que
apresentam NEE, cabe ressaltar que, para que haja a inclusão desses alunos em
sala de aula regular, é necessário estimular ao máximo o seu desenvolvimento
acadêmico. A sala de aula inclusiva deve ser um ambiente rico e estimulante que
possibilite o desenvolvimento da linguagem, comunicação, comportamentos e
habilidades sociais dos alunos com NEE junto aos demais (CAMARGO; BOSA,
116
Com meu aluno de DI, antes dele estar medicado, ele era muito
complicado, tinha momento que eu falava “O que é que eu faço
agora?” Ele pegava objetos, pegava tesoura dos amigos, ficava
correndo e tirava toda a atenção da sala. Então, aí eu ia falava e ele
não me correspondia, não atendia aos meus comandos de “Por
favor, senta. Para, não faz isso”. Então, era... foi muito difícil, assim,
nesse início, trabalhar com ele dessa forma que ele era, agitado, saía
da sala sem permissão, correndo... E eu falava “Deixo os vinte e dois
aqui e vou atrás dele? O que é que eu faço agora?” Mas agora que
ele está medicado, mais tranquilo, agora eu consigo trabalhar com
ele, consigo falar com ele, mas, assim... quando... é...a questão do
comportamento, no início, foi mais... foi bem difícil. Uma questão,
assim, que eu não conseguia. E acabava atrapalhando ele e os
demais alunos da sala. E eu não sabia como chegar, como eu
poderia fazer além de chamar a atenção. Sabe? (PR2).
colegas, mas poderão aprender que são capazes de aprender, tendo a oportunidade
de socializar com seus pares, aprender e compartilhar cultura e garantir, assim, seu
espaço. É nesse cenário que o professor deve desenvolver práticas que
proporcionem aos alunos o desenvolvimento de suas potencialidades.
A participante PR1 expressa a necessidade de uma formação docente
direcionada ao ato educativo inclusivo, visto que relatou dificuldades na identificação
das potencialidades e possíveis dificuldades do seu aluno com NEE, como
observamos no relato a seguir:
Ah, sim, no caso, igual... assim...o A1T, eu percebia que ele, assim...
eu achava que ele não tinha nada. Eu olhava para ele e a gente acha
que ele não tem nada, sabe? Mas o que eu percebi, de acordo com o
que eu já li, assim, que eu percebi nele... É que eu não tenho essa
formação que você tem... para poder perceber que ele tem um grau,
assim, bem leve, de autismo. (PR1).
PEDAGÓGICA INCLUSIVA
Este tema foi composto pelos relatos das participantes sobre sua
formação inicial e em serviço, bem como as orientações recebidas no ambiente
escolar, direcionadas ao trabalho pedagógico com os alunos que apresentam NEE.
Buscamos analisar como as participantes avaliam a formação que tiveram e suas
sugestões para aprimorar a formação dos professores para atuar com os alunos que
apresentam NEE. Para facilitar as análises, os dados foram divididos em três
categorias.
Muito pouco. Eu acho que mais foi na especialização. Mas, assim, foi
uma aula bem rápida, pois como já havia uma especialização nessa
área, foi uma aula assim, muito supérflua. Tudo é na prática mesmo.
(PR3).
Olha, nós já fizemos muitos cursos, mas, assim, não como uma
direção de trabalho, e mais como uma valorização, como uma
aceitação de inclusão. Mais para a aceitação e não uma direção de
como trabalhar. (PR3).
127
Não. Não nessa área. Mas, assim...a formação que eu deveria ter,
né?... Eu acho que assim..., eu vou procurar, né? Que eu acho que é
importante você saber como trabalhar com os vários tipos de
síndromes, né? (PR1).
A esse respeito, Nunes (2012, p. 289 apud PEREIRA et al., 2015, p. 195)
comenta que os professores ainda possuem “concepções caricaturizadas” sobre as
síndromes, principalmente em relação à “síndrome do autismo”, deficiência esta
apresentada por A1M e A1T, alunos de PR1, o que prejudica o processo de inclusão
dos alunos e perpetua a exclusão.
Compreendemos que conhecer as características das deficiências é
importante para organizar suas práticas, como por exemplo: saber que o aluno tem
um diagnóstico de paralisia cerebral e que não verbaliza, possibilitará a esse
professor procurar meios de comunicação alternativa para viabilizar sua
aprendizagem.
Cabe ao professor conhecer e compreender as peculiaridades de cada
aluno e, assim, atuar com segurança; para que isso ocorra, necessita dedicar um
tempo ao conhecimento desse aluno no cotidiano escolar, a fim de estabelecer
estratégias pedagógicas e reconhecer as possibilidades de aprendizagem do seu
aluno (PEREIRA et al., 2015). A esse respeito, os profissionais da educação
especial devem dar suporte ao professor regente na identificação das dificuldades e
potencialidades desses alunos, bem como quantos aos diferentes meios de
propiciar-lhes as diferentes aprendizagens.
A fim de complementar os dados dessa categoria, propomos, a seguir,
considerações referentes às orientações que as participantes receberam em serviço
direcionadas ao trabalho pedagógico com os alunos.
129
Não, não tenho esse horário. Eu consegui um dia falar com ela, mas
foi quando eu peguei um tempo meu, de hora-atividade e fui lá e falei
“Posso falar com você?”, mas eu não tenho um tempo disponível
para falar diretamente com ela. [...] Mas falaram assim: “Se você tiver
alguma dúvida, vai lá na sala de recurso, procurar elas”. Foi me
passado isso (PR2).
No entanto, podemos afirmar com propriedade, uma vez que atuamos nos
últimos quatro anos como professora de sala de recursos no município onde foi
realizada a pesquisa, Estado do Paraná, que o cronograma desse profissional pouco
favorece que todas essas funções sejam executadas com êxito, uma vez que é
composto, em sua maior parte, por atendimentos individualizados e em pequenos
grupos dos alunos com NEE, matriculados no AEE.
A participante PR4 exemplifica perfeitamente a atuação da maioria dos
professores de sala de recursos do referido município e, em especial, da escola
pesquisada, pois as professoras especialistas, no ano de 2016, além de atender a
escola em questão, atendiam mais outras duas escolas próximas. Essas
profissionais tinham as terças-feiras para realizar visitas e avaliações dos alunos
com dificuldades de aprendizagem, bem como participar de cursos de formação
continuada em serviço. Os outros quatro dias da semana eram dedicados
especificamente para o atendimento dos alunos em sala de recursos e, no final de
cada dia, essas profissionais possuíam 45 (quarenta e cinco minutos de hora-
atividade. Tal situação comprovamos por meio de análise do cronograma das
referidas professoras, que nos foi disponibilizado pela supervisão da escola quando
estivemos analisando as adaptações curriculares dos alunos participantes desta
pesquisa.
Com base no exposto, compreendemos a urgência de o referido
município proporcionar a readequação do cronograma desses profissionais, visto
que, conforme os resultados de pesquisa realizada por Capellini (2004), o trabalho
colaborativo desenvolvido pelo professor especialista junto aos professores do
ensino comum contribui efetivamente para a aprendizagem e autonomia dos alunos.
Vioto (2013, p. 69) considera que há a necessidade de redimensionar o
papel do professor de sala de recursos no contexto escolar, “tendo em vista que os
professores regentes necessitam do apoio e de orientações desses profissionais, no
desenvolvimento de estratégias e metodologias adequadas às necessidades dos
alunos com NEE”.
No entanto, para que isso aconteça, torna-se necessário que o professor
de sala de recursos possua um tempo específico previsto em sua carga horária de
134
Tenho um aluno meu, que eu descobri que ele tem medo de bexiga e
aí eu precisava fazer uma atividade que eu ia utilizar uma bexiga. E
aí, eu, com a orientação da professora da sala de recurso, eu
perguntei para ela como eu poderia estar levando essa atividade
para a sala. E aí ela me disse que sim, que eu poderia estar levando
e conversando com ele. Aí eu chamei ele lá no cantinho, e falei
“Olha, eu preciso usar, é uma bexiga só, eu não vou estourá-la”.
Porque o medo dele é estourar. “Não vou estourá-la... então assim,
posso usá-la? Você vai ficar tranquilo? Não tem problema?” Ele
falou: “É uma só? ” Aí eu falei “é uma só e eu não vou estourar”. Aí
ele aceitou. Aí eu usei a bexiga, que era um trabalho artístico, tinha
que enrolar um barbante. E aí ele começou a querer pegar a bexiga
“Ai, deixa eu pegar, deixa eu ajudar...” E depois, no final, ele queria
tirar foto com a bexiga. Então eu fiquei muito feliz! Eu acredito que
seja um passo, um passo... um pequeno para a superação dele,
desse medo dele (PR2).
Não. Esse ano não recebi não. [...] Mas para a A3L eu vejo assim... a
salvação do barco é a sala de recursos! Por mais que eu faça, eu
vejo muito resultado na sala de recurso. Eu acho que é um trabalho
maravilhoso. Eu acho. Todos os alunos que vieram para a sala de
recursos, passaram por mim, [...] o resultado era sublime, né? Muito
bom mesmo. Eu vejo um bom resultado (PR3).
135
foram pertinentes aos conteúdos que deveriam ser trabalhados com a turma; no
entanto, PR1 relatou que as orientações recebidas foram direcionadas ao modo de
trabalhar com as dificuldades dos seus alunos.
Eu falo para a coordenação. Falo assim, igual, quando eles têm uma
dificuldade. [...] Converso com a coordenação. Sempre me orientam
(PR1).
dificuldade, a gente tem que saber lidar com ela e dentro do limite da
criança, né? Seria muito importante a gente poder ver como é
realizado esse trabalho na prática. É assim, vamos supor... óbvio,
primeiramente tem essa parte teórica, que, né? É muito importante. E
na prática, avaliar, tipo, as diferentes fases da deficiência. E qual a
diferença do trabalho que você tem que desenvolver (PR1).
4.3.1 Percepções das participantes sobre o processo de inclusão dos alunos com
NEE em sala de aula
A A1M está totalmente incluída, porque ela tem um apoio com ela.
Se não tivesse o apoio, eu acho que seria bem mais difícil, né?
Agora com o apoio, eu acho que... É tem que ser assim, eu acho. Se
não eu acho que acaba deixando a desejar. Assim... vamos supor,
eu me dedicaria mais a todos ou me dedicaria mais para um (PR1).
Se não for severo como ela, aí dá para realizar o trabalho. Pelo que
eu vejo aqui, o caso dela acho que é o mais severo (PR1).
que atuam junto aos referidos alunos, com o objetivo de facilitar o acesso deles ao
currículo escolar, assim como ao conhecimento científico (GARCIA, 2013).
Como bem nos lembra Carvalho (2016), se o objetivo é prever e prover
uma escola realmente inclusiva, compreendemos que é indispensável no
desenvolvimento desse processo a oferta do AEE. O referido atendimento deverá
acontecer em salas de recursos multifuncionais, sendo esse o espaço que deverá
estar organizado com materiais didáticos, pedagógicos, considerando a atuação de
um profissional com formação para o atendimento às NEE dos alunos que venham a
apresentar alguma deficiência, tendo esse profissional a responsabilidade de
desenvolver um trabalho colaborativo com o professor do ensino regular,
considerando a organização de estratégias pedagógicas que possam favorecer o
acesso ao aluno ao currículo, bem como sua participação ativa nas atividades
acadêmicas, promovendo, dessa forma, a educação inclusiva.
Outro aspecto mencionado pelas participantes e que merecem destaque
quando se fala da promoção da educação inclusiva está relacionado com a
formação necessária para atuação junto aos alunos com NEE. De acordo com as
participantes, é necessária não só uma formação inicial que possibilite aos
professores a base para o desenvolvimento de práticas inclusivas, mas também uma
formação continuada capaz de suprir as lacunas de sua formação, considerando os
conhecimentos necessários para trabalhar as reais necessidades dos alunos,
respeitando os ritmos e estilos de aprendizagem, facilitando, dessa forma, o
processo de inclusão.
Diversos autores, tais como Ribeiro (2006), Zeraik (2006), Frias e
Menezes (2009), Vitaliano (2010), Briant e Olivier (2012), Brabo (2013) e Freitas e
Araujo (2013), têm reafirmado a necessidade da melhoria da formação de
professores, sendo esse um dos requisitos importantes e necessários para o
desenvolvimento da inclusão de alunos com NEE na regular de ensino. Para os
referidos autores, tanto a formação inicial como a continuada devem ou deveriam
prover aos formandos e profissionais da área da educação o contato com
conhecimentos científicos, conhecimentos esses que venham a possibilitar aos
professores regentes do ensino regular o desenvolvimento de novas atitudes,
habilidades e competências necessárias para a organização de práticas inclusivas.
Nessa perspectiva, o objetivo essencial quando se fala em formação de
professores para inclusão é pensar em conhecimentos que possibilitem aos
145
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, R. E. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. 11. ed. Porto
Alegre: Mediação, 2016.
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-
91872012000200010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 06 set. 2016.
GIL, M. (Coord.). Educação Inclusiva: o que o professor tem a ver com isso? São
Paulo: Rede Saci; Imprensa Oficial, 2005.
RODRIGUES, D. “Dez idéias (mal) feitas sobre Educação Inclusiva”. In: ______
(Org.). Inclusão e Educação: doze olhares sobre a Educação Inclusiva. São Paulo:
Summus, 2006.
APÊNDICES
160
Prezada
Senhora:____________________________________________________
Gostaríamos de convidá-la para participar da pesquisa “ANÁLISE DAS
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE PROFESSORES REGENTES DOS ANOS INICIAIS QUE
TÊM ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS”, a ser realizada na
“XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX”. O objetivo da pesquisa é
“Investigar a formação e as práticas pedagógicas desenvolvidas por professores regentes
de classe comum que têm alunos com NEE matriculados”.
Sua participação é muito importante e ela se daria da seguinte forma: 1-
Realização de uma entrevista semiestruturada, que será grava e na sequência será
transcrita para posterior análise dos dados. 2- Observações em salas de aula, nas quais as
participantes atuam, sendo oito períodos de aula em cada sala. A pesquisadora
permanecerá em sala nas quatro horas de aula diárias, totalizando trinta e duas horas de
observação. Os dados coletados durante a sessões de observação e gravação das
entrevistas serão armazenados por cinco anos.
Esclarecemos que sua participação é totalmente voluntária, podendo a senhora
recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento, sem que isto acarrete
qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. Esclarecemos, também, que suas informações
serão utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto
sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a sua identidade.
Esclarecemos ainda, que a senhora não pagará e nem será remunerada por sua
participação. Garantimos, no entanto, que todas as despesas decorrentes da pesquisa
serão ressarcidas, quando devidas e decorrentes especificamente de sua participação.
Os benefícios esperados são: 1- Elucidar as práticas desenvolvidas no processo
de inclusão dos alunos com NEE; 2- Identificar as dificuldades que os professores vêm
encontrando para efetivar tal processo; 3- Contribuir com orientações sobre o processo de
Este termo deverá ser preenchido em duas vias de igual teor, sendo uma delas
devidamente preenchida, assinada e entregue a senhora.
Londrina, 11 de maio de 2016.
Natalia Barbosa Verissimo
Pesquisadora Responsável
RG: ___________________
Eu____________________________________________________tendo sido
devidamente esclarecido sobre os procedimentos da pesquisa, concordo em
participar voluntariamente da pesquisa descrita acima.
Assinatura (ou impressão dactiloscópica):____________________________
Data:___________________
1) Identificação
a) Nome:
b) Idade:
2) Formação acadêmica
a) Ensino médio: Magistério ( ) sim ( ) não Ano de conclusão:
b) Graduação: Ano de conclusão:
c) Pós-Graduação: Ano de conclusão:
3) Atuação profissional
a) Tempo de experiência no magistério?
b) Período de docência na Rede Municipal de Ensino?
c) Período de docência na referida Escola?
d) Ano de atuação em 2016?
e) Número de alunos em sala?
f) Tempo de experiência de atuação com alunos NEE?
g) Tipos de NEE que já atendeu?
h) Números de alunos com NEE em sala do ano de 2016?
A) Como você elabora o seu planejamento diário? O que você considera importante
comtemplar? Em relação aos alunos com NEE você planeja atividades
específicas para ele? Se sim dê exemplo.
B) Os alunos que tem NEE que você atende em sala regular, possuem adaptações
curricular?
C) Se a resposta da questão anterior for sim, quando e como são elaboradas? E
quais os profissionais que participam dessa elaboração?
D) Você utiliza essa adaptação durante seu planejamento diário? Como?
E) Quais recursos metodológicos você utiliza em sua prática pedagógica para
atender os alunos com NEE?
F) Descreva como você planeja e desenvolve as atividades diárias para os alunos
com NEE.
G) Você já encontrou algumas dificuldades para atender os alunos com NEE em sua
sala de aula no que se refere a participação, socialização, aprendizagem e
disciplina? Se sim, quais?
163
H) Você procura ajuda de outros profissionais e/ou colegas de trabalho para lhe
auxiliar no atendimento aos alunos com NEE? Se sim quais?
I) Como você percebe a interação entre alunos com e os sem NEE?
J) Você tem alguma experiência de sucesso de ensino junto a alunos com NEE? Já
utilizou de estratégias diferenciadas para ensinar esse aluno algum conteúdo e
percebeu que ele aprendeu? Se sim relate.
K) Os alunos com NEE que você atende em sua sala regular frequentam
atendimento educacional especializado? Se sim, como você avalia esse
atendimento?
L) Você tem momentos específicos para dialogar com o professor de sala de
recursos? Se sim, vocês discutem sobre suas práticas em relação ao aluno com
NEE?
M) Como você considera que deveria ser o atendimento aos alunos com NEE que
estão em sua sala de aula? Justifique.
N) Você tem ou já teve formação em serviço para atuar no processo de inclusão dos
alunos com NEE em sala regular? Se sim como você avalia essa formação? Se
não, você avalia que seria importante? Se sim, por quê? Como você acha que
essa formação deveria ocorrer e quais conhecimentos abordados?
O) Como você avalia o processo de inclusão dos alunos com NEE em sua sala de
aula? Justifique.
ANEXOS
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1- NOME DO OBSERVADOR:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2- OBJETIVO DA OBSERVAÇÃO
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5- DIAGRAMA DA SITUAÇÃO: