Lei 3 Continuação
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Lei 3 Continuação
Depois que você tiver atraído a atenção das suas vítimas para o familiar, elas
não notarão a fraude que está
ocorrendo pelas suas costas. A origem disso está numa verdade muito simples:
as pessoas só conseguem focalizar uma coisa de cada vez. E realmente muito
difícil para elas imaginar que a pessoa suave e inofensiva com quem estão
lidando está ao mesmo tempo tramando outra coisa. Quanto mais cinza e
uniforme a fumaça da sua cortina, melhor ela esconde as suas intenções. Nas
iscas e pistas falsas discutidas na Parte 1, você distrai ativamente as pessoas;
na cortina de fumaça, você ilude a sua vítima, atraindo-a para a sua teia. Por
ser tão hipnótica, esta é com freqüência a melhor maneira de dissimular suas
intenções.
Em 1878, o barão ladrão americano Jay Gould criou uma empresa que
começou a ameaçar o monopólio da companhia de telégrafos Western Union.
Os diretores da Western Union resolveram comprar a empresa de Gould — foi
preciso dispor de uma quantia considerável, mas eles achavam que tinham
conseguido se livrar de um irritante adversário. Poucos meses depois,
entretanto, Gould estava lá de novo, queixando-se de que fora tratado
injustamente. Ele abriu uma segunda empresa para competir com a Western
Union e a sua nova aquisição. A mesma coisa voltou a acontecer: a Western
Union comprou a empresa para fazer com que ele calasse a boca. Logo o
padrão voltou a se repetir pela terceira vez, mas agora Gould atacou na
jugular: de repente, ele iniciou — e logo conseguiu — uma sangrenta tomada
de controle hostil da Western Union. Ele tinha estabelecido um padrão que
iludiu os diretores da empresa fazendo-os achar que o seu objetivo era ser
comprado por um preço razoável. Depois de comprar, eles relaxavam e não
percebiam que estavam na verdade apostando mais alto. O padrão funciona
muito bem porque a pessoa se ilude esperando o contrário do que você está
realmente fazendo.
Outra fraqueza psicológica que serve de base para se construir uma cortina de
fumaça é a tendência que as pessoas têm de confundir aparência com
realidade — a idéia de que se alguém parece fazer parte do seu grupo, é
porque faz realmente. Este hábito faz da camuflagem uma fachada muito
eficaz. O truque é simples: você simplesmente se mistura com as pessoas ao
seu redor. Quanto mais você se misturar, menos suspeito se tornará. Durante a
Guerra Fria das décadas de 1950 e 1960, como hoje se sabe, muitos
funcionários públicos britânicos passaram informações secretas para os
soviéticos. Ninguém descobriu nada durante anos porque eles eram,
aparentemente, sujeitos honestos, tinham freqüentado boas escolas e se
adequavam perfeitamente ao modelo da rede de ex-alunos de escolas de
prestígio. A mistura é a cortina de fumaça perfeita para a espionagem. Quanto
mais você se misturar, melhor conseguirá disfarçar suas intenções.
O INVERSO
Finalmente, embora seja mais sábio distrair a atenção dos seus propósitos,
apresentando um exterior suave e familiar, há momentos em que o gesto
colorido, visível, é a tática diversionista correta. Os grandes charlatões
saltimbancos da Europa nos séculos XVII e XVIII usavam o humor e o
divertimento para iludir suas platéias. Deslumbrado com o espetáculo, o
público não percebia as verdadeiras intenções dos charlatões. Assim, o próprio
astro charlatão aparecia na cidade numa carruagem negra puxada por cavalos
negros. Palhaços, funâmbulos e artistas de espetáculos de variedade o
acompanhavam, atraindo o povo para as suas demonstrações de elixires e
poções milagrosas. O charlatão fazia o divertimento parecer o assunto do dia
quando, na verdade, o assunto do dia era a venda dos elixires e poções
milagrosas.
“Não deixe que o vejam como impostor, mesmo que hoje seja impossível não
o ser. Que a sua maior esperteza esteja em dissimular o que parece ser
esperteza.”
Baltasar Gracián
“Já ouviu falar de um general muito hábil que pretende surpreender uma
cidadela anunciando seus planos ao inimigo?