A Neuropsicopedagogia e o Processo de Aprendizagem - Cleussi Schneider-11-36

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 34

1

Surgimento da neuropsicopedagogia

Priscila Chupil

O tema que apresentamos neste capítulo é muito especial, pois


trata de uma nova perspectiva em educação, um olhar minucioso e
específi- co sobre a aprendizagem. O mundo está em constante
transformação, por isso a educação deve acompanhar essas
mudanças e se manter em sintonia com as novas demandas
educacionais. Uma delas é reconhecer que cada indivíduo aprende de
uma forma e que temos casos especiais dentro dos ambientes
escolares, convertendo-se em desafios constantes para todo educador.
Por essa razão, a educação se aproximou de campos específicos,
como da psicopedagogia, da neurociência e da neuroedu- cação,
ciências que trazem novas ferramentas de entendimento e apli-
cabilidade sobre os processos de aprendizagem. Neste capítulo,
vamos compreender como se deu o encontro dessas ciências com a
educação e seus principais objetivos.
Vamos refletir um pouco sobre o contexto educacional atual:
exis- tem novas demandas metodológicas e organizacionais dentro
dos am- bientes escolares; novas posturas dos alunos e das
famílias, advindas de uma nova composição familiar; novos
estímulos constantes, como é o caso das tecnologias. Todos esses
elementos colocam a sociedade em constante transformação e,
consequentemente, mudam as relações humanas, bem como a
aprendizagem, que se torna cada vez mais autô- noma, uma vez que
o acesso às informações é mais frequente. Ou seja, aprender não
depende mais de um mediador ou de um professor visto como
detentor do saber; o aprender está disponível para ser praticado a
todo momento e de diferentes formas.
10 A neuropsicopedagogia e o processo de aprendizagem

Sendo assim, devemos procurar maneiras de atender da melhor


for- ma todos os sujeitos que ingressam nos ambientes de
aprendizagem
– sejam eles escolares ou não –, por meio de práticas de ensino que
melhor se adéquem a cada um, a fim de contemplar os diferentes
estilos de aprendizagem e tornar o ensino igualitário para todos. A
ideia é aliar esse fácil acesso ao conhecimento a práticas educativas
que realmente transformem esses novos saberes em aprendizagem
efetiva.
Nesse contexto, dentro do ambiente de ensino, o profissional
de educação deve ter a clareza de que os conteúdos escolares são
comuns a todos, mas que a metodologia de trabalho deve estar pau-
tada em práticas que contemplem os indivíduos como seres únicos,
capazes de aprender independente de suas limitações – aspecto
dife- renciado e atualizado com as demandas atuais.
Não somente o profissional, mas a educação como um todo
precisa estar sempre atenta a mudanças, reorganizações,
reaprendizagens e a esses novos olhares de mundo. Na mesma
proporção em que o mundo vem se transformando, a educação
também se encontra em constantes buscas e em sintonia com a
sociedade contemporânea. Devido a essa necessidade, os cursos
voltados à área educacional têm apresentado significativos avanços,
sobretudo decorrentes do fato de profissionais da área buscarem, na
medida do possível, constantes atualizações.
Dentro dessas atualizações, um novo campo de apoio, a neu-
ropsicopedagogia, emerge com um olhar sensível e direcionado
para novas perspectivas, pois favorece o entendimento mais amplo
da aprendizagem humana, contemplando diferentes ciências e
pontos de vista, que vão ao encontro dessa demanda de entender o
indi- víduo como ser único, detentor de conhecimentos prévios e
com capacidades diferentes de aprender.
Vamos, então, conhecer um pouco mais sobre o início desse
novo olhar e dessas novas contribuições para a educação, além de
Surgimento da 1
entender suas influências no ensino e na aprendizagem.
12 A neuropsicopedagogia e o processo de aprendizagem

1.1 História da neuropsicopedagogia


Para chegarmos à história da neuropsicopedagogia, precisamos
inicialmente fazer algumas reflexões e pensar em certas contribui-
ções recebidas de outras áreas.
Em um mundo de constantes mudanças e desafios, em que as
di- ferenças são tratadas dentro de um processo inclusivo e vistas
como algo a ser conhecido e inserido cada vez mais em todos os
contextos, percebe-se a necessidade de haver um entendimento –
sobretudo por parte dos educadores – a respeito das questões mais
específicas do desenvolvimento e da aprendizagem humana, ou
seja, de enten- der como o ser humano aprende.
Quando os educadores se apropriarem desse entendimento,
certamente obterão melhores resultados, pois não somente irão in-
fluenciar na formação de seus alunos como também daqueles que
convivem com as diferenças, levando-os a percebê-las como algo
comum, o que é um grande ganho para a sociedade.
Dessa forma, ampliam-se as reflexões iniciais, pois, com tais
co- nhecimentos, percebe-se que, por mais que os conteúdos
escolares sejam comuns, as metodologias devem ser direcionadas
de modo que contemplem as diferenças e gerem aprendizagem e
conheci- mento, independentemente da forma de cada um
aprender.
Entender o desenvolvimento cerebral, dessa forma, é essencial.
É a compreensão de dentro para fora que vai revelar como aspectos
da aprendizagem acontecem, como as conexões neuronais favore-
cem a aquisição de conhecimento. Entretanto, a área educacional
começou a se preocupar com essa questão recentemente, pois
houve uma época em que o foco eram os conteúdos, os métodos
sistemáti- cos e padronizados que buscavam formação e
desenvolvimento em um mesmo ritmo.
Surgimento da 1
Porém, por mais que esses estudos sejam recentes na área de
educação, eles já existem há muito tempo. Os frenologistas Franz
Joseph Gall e J. G Spurzheim (entre 1810 e 1819) e o neurologista
John Hughlings Jackson, com suas descobertas, abriram caminho
para que Paul Broca e Carl Wernicke chegassem às localizações
das chamadas área de Broca e área de Wernicke, responsáveis pela
com- preensão da linguagem escrita e falada, interpretação e
associação de informações, que deram início a essas investigações.
Essas des- cobertas ocorreram em 1861 e 1874 (CAPLAN, 2012, p.
23). Assim, pensar sobre linguagem, interpretação e associação de
informação está diretamente ligado à aprendizagem e às formas
como ela se apresenta, por isso é algo que não pode ser deixado de
lado.
No entanto, foi apenas durante a Segunda Guerra Mundial que
Alexander Romanovich Luria (1901-1978) estudou e mapeou o
desen- volvimento de indivíduos com lesão cerebral, percebendo
alterações de comportamento referentes às bases neurológicas
(RAMALHO, 2015). Ou seja, o desenvolvimento cerebral está
muito mais direta- mente ligado às ações e à aprendizagem
humana do que se imagina. Pode-se considerar que esses estudos
representaram o primeiro elo entre a psicologia e a neurociência,
isto é, a neuropsicologia.
Com a junção dos conhecimentos dessas ciências, fica cada vez
mais claro que cada indivíduo possui sinapses diferentes, ou seja,
formas diferentes de aprender, e que a contribuição dessas áreas
leva ao entendimento mais amplo de como se dão esses processos.
Nesse contexto, não somente a neurociência e a psicologia ganham
espaço, mas outras áreas que tornam a aprendizagem foco de
reflexões, es- tudos e novas intervenções.
Essa união de diversas áreas pode ser visualizada conforme de-
monstra a Figura 1 a seguir.
14 A neuropsicopedagogia e o processo de aprendizagem

Figura 1 – Junção das ciências

NEUROCIÊNCIA
NEUROCIÊNCIA PEDAGOGIA
Funcionamento do
EDUCACIONAL Educação e
sistema nervoso
aprendizagem
NEUROEDUCAÇÃO
Mente, cérebro
e educação

PSICOLOGIA
NEUROPSICOLOGIA
EDUCACIONAL

PSICOLOGIA
Cérebro e
comportamento

Fonte: TOKUHAMA-ESPINOSA, 2011, p. xx.

Dessa forma, percebemos que a neurociência (que tem sua


origem no grego neurosque (= nervos, ou seja, o estudo do sistema
nervoso) e a psicologia (que estuda os processos mentais e o com-
portamento humano) trazem uma nova concepção para o campo
da aprendizagem e da educação, chamada de neuropsicologia e
de neuroeducação.
Além da contribuição dessas duas áreas na neuroeducação, a
pedagogia entra nesse contexto como terceiro elemento para fechar
um ciclo de novas possibilidades e ampliações da visão
educacional, pois essa ciência, como seu próprio nome já traduz
(paidos = criança e gogia = conduzir ou acompanhar), estuda a
educação e a didática de maneira conjunta para favorecer a
aprendizagem.
Nasce então a neuropsicopedagogia, uma junção dos conheci-
mentos da neurociência, da psicologia e da pedagogia, em prol da
Surgimento da 1
educação e de suas novas possibilidades em aprendizagem.
16 A neuropsicopedagogia e o processo de aprendizagem

1.2 A neuropsicopedagogia no Brasil


No Brasil, as discussões sobre neuropsicopedagogia começam
a ganhar espaço na cidade de Joinville, Santa Catarina, no ano de
2008. Uma equipe de docentes que realizava assessoria em cursos
de pós-graduação recebeu o convite do Grupo Educacional
Censupeg para investir em pesquisas que produzissem novos
conhecimen- tos acerca da realidade educacional da época, algo
inovador e bem fundamentado, que fosse um marco de
transformação na educação.
O objetivo era ir além do estudo de emoções e comportamentos
pertinentes à psicologia, não focar somente na constituição
cerebral com a neurociência nem de modo didático-metodológico
com a pedagogia, mas sim aproximar as neurociências e a
psicologia da educação, pensando em todos os âmbitos das
perspectivas escola- res que estão voltadas para a aprendizagem.
Ou seja, a intenção era aproximar esses saberes e trazer o que cada
um tem de mais especial em termos de conceito de aprendizado,
para se modificar o modo de interagir com o conhecimento.
Com a aceitação desse desafio, estudiosos começaram a desen-
volver novas concepções no que diz respeito à aprendizagem, às
di- ficuldades de aprendizagem, à inclusão, à interdisciplinaridade
e até mesmo às metodologias aplicadas durante esses processos,
revendo, repensando, reformulando, refletindo todos eles. A
grande preocu- pação, entretanto, era a de fundamentar
cientificamente esses novos olhares, buscando a compreensão
ampla da cognição.
Nesse momento, entrou como campo determinante também a
psi- copedagogia (que é a junção de ideias da pedagogia e da
psicologia), a fim de enriquecer essa fundamentação e aproximar
ainda mais a cognição e os fatores emocionais. Assim, esse primeiro
projeto envol- vendo as neurociências, a psicopedagogia e a
psicologia aplicadas à educação passou a ser intitulado de
Surgimento da 1
neuropsicopedagogia.
18 A neuropsicopedagogia e o processo de aprendizagem

Com esse projeto, surgiu o desafio de formar um novo perfil


de educadores, com uma perspectiva específica e delicada sobre a
composição da aprendizagem e diversidade. Dessa maneira, com o
término dos estudos e a elaboração do projeto, o primeiro curso de
neuropsicopedagogia tem sua primeira turma de educadores aberta
em 2008, na cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina.
Inicialmente, houve algumas críticas de visões mais conser-
vadoras da educação, que consideravam a neuropsicopedagogia
até mesmo uma ameaça, por ser um novo mercado em ascensão
e envolver áreas que até então não estavam inseridas no contexto
da aprendizagem.
Em 2009, formam-se os primeiros alunos dessa turma com a
titulação em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva
pelo Grupo Educacional Censupeg. Com isso, a popularidade do
curso toma forma e com ela as questões de aprendizagem
começam a ganhar espaço e importância.
Atualmente, a SBNPp (Sociedade Brasileira de Neuropsico-
pedagogia), fundada em 1988 em prol inicialmente apenas da
neuropsicologia, trabalha na divulgação de ações que legitimem o
reconhecimento para os neuropsicopedagogos, incentivando publi-
cações científicas, teses e demais questões relevantes para os estudos,
as quais demonstrem os resultados já alcançados com essa
formação diferenciada para o profissional que trabalha com a
aprendizagem e suas nuances.

1.3 Sobre o objeto de


estudo da
neuropsicopedagogia
Pode-se dizer que a neuropsicopedagogia é uma ciência
transdisciplinar que estuda o sistema nervoso e seus reflexos no
comportamento humano, em especial na aprendizagem, com base
nos conhecimentos além das neurociências, da psicologia e da
Surgimento da 1
pedagogia.
20 A neuropsicopedagogia e o processo de aprendizagem

Essa ciência tem por objetivo promover a integração educacional,


social e individual com base em diagnósticos que originarão a
reabilitação ou, até mesmo, a prevenção de dificuldades de
aprendizagem. Para isso, o conhecimento do sistema nervoso e
suas ligações com a constituição do organismo são indispensáveis
na compreensão íntegra do desenvolvimento e da aprendizagem
humana.
Até então, a psicologia e a pedagogia já caminhavam em uma
prévia sintonia, pois sabe-se que as questões emocionais e afetivas
estão diretamente ligadas à aprendizagem. Nova, nesse momento, é
a contribuição nesse campo da neurociência integrada a questões
di- retamente relacionadas à efetivação da aprendizagem e de
como oti- mizar esse processo, tornando-o mais significativo aos
aprendizes.
Cabe refletir aqui sobre o fato de que a neuropsicopedagogia
não é uma especialização dessas diferentes áreas, mas é um novo
olhar sobre o estudo do funcionamento do cérebro e do
comportamento humano em uma perspectiva da aprendizagem – e
dos processos de ensino-aprendizagem, podendo esse profissional
atuar tanto na área clínica quanto institucional.
Conforme o Código de Ética Técnico Profissional da
Neuropsicopedagogia, no capítulo II, artigo 10, encontramos a se-
guinte definição dessa ciência:
A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar,
fundamentada nos conhecimentos da Neurociência apli-
cada à educação, com interfaces da Pedagogia e Psicologia
Cognitiva que tem como objeto formal de estudo a relação
entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendiza-
gem humana numa perspectiva de reintegração pessoal,
social e educacional. (SBNPP, 2016, p. 3)

Ou seja, a neuropsicopedagogia procura estudar a relação entre


o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem, mas
sempre sob uma perspectiva de integração do sujeito com a
família, a escola e a sociedade de modo geral.
Surgimento da 2
Na atuação neuropsicopedagógica, além das atribuições do
psicopedagogo de estudar as características da aprendiza-
gem humana, processos de ensinagem e aprendizagem e
a origem das alterações no processo de aprendizagem, o
neuropsicopedagogo faz a identificação, o diagnóstico, e
reabilita como também faz a prevenção em relação às di-
ficuldades e distúrbios de aprendizagem. (RAMALHO,
2015, p. 31)

Dessa forma, se essa nova ciência tem como objeto de estudo o


cérebro e a educação, ela atuará diretamente em questões que
envol- vem as estruturas cognitivas, emocionais, afetivas,
sociointerativas e orgânicas.
O resultado dessa interação certamente será refletido na prática
de quem atua e na aprendizagem de quem recebe orientações de
profissionais que possuem essa perspectiva ampla e fundamentada
sobre o ato de aprender, que, como se sabe, é complexo, dinâmico
e, principalmente, ocorre de modo individual, de acordo com as
características de cada ser humano.

Considerações finais
Chegamos ao fim deste capítulo e com ele surge uma nova
visão a ser integrada às práticas que já conhecemos, porém agora
voltadas para as reflexões sobre as diferentes formas de aprender.
Conhecer o ponto de partida e os fundamentos da neuropsi-
copedagogia norteiam inicialmente nossos conhecimentos rumo à
prática neuropsicopedagógica e aos diferenciais que essa formação
nos traz.
A partir do momento que os conhecimentos se ampliam nesse
campo, vem com eles a certeza de que novas práticas estarão inse-
ridas no cotidiano e que comprovadamente farão a diferença para
quem aprende. Não há como negar a relação entre
desenvolvimento cerebral, cognição, emoção e aprendizagem.
22 A neuropsicopedagogia e o processo de aprendizagem

Ampliando seus conhecimentos


Atuação do neuropsicopedagogo
(HENNEMANN, 2012)

Além das atribuições do psicopedagogo de estudar as caracte-


rísticas da aprendizagem humana, processos de “ensinagem”
e a origem das alterações na aprendizagem promovendo a
iden- tificação, diagnóstico, reabilitação e prevenção frente às
dificul- dades e distúrbios das aprendizagens, o
neuropsicopedagogo, mediante seus saberes e conhecimentos
em neurociências, poderá elaborar pareceres de
encaminhamento para neurolo- gistas, pediatras e psiquiatras,
auxiliando-os na identificação diagnóstica, mediante o quadro
de sintomas e queixa principal.

Na Unidade Escolar, irá atuar com os pais mediante a


explanação clínica do distúrbio e as condutas a serem desen-
volvidas, com intuito de realizar um processo sistêmico de
tratamento e intervenção, colocando a família como principal
agente prognóstico do sucesso da intervenção. Sempre num
trabalho interdisciplinar com o Orientador Educacional, caso
a escola possua esse profissional.

[...]

Atividades
1. Com base no estudo da origem da neuropsicopedagogia e
sua inserção principalmente no Brasil, você considera esse
um campo novo ou suficientemente conhecido para que
novas práticas já estejam sendo desenvolvidas nos
ambientes educacionais? Anote pelo menos um exemplo de
uma prática que você já visualizou e que considera
inovadora nos ambientes educacionais que frequenta.
Surgimento da 2
2. Sobre o conceito de neuropsicopedagogia discutido neste
ca- pítulo, reflita a respeito das contribuições recebidas das
três ciências (neurociência, psicologia e pedagogia) e anote
pelo menos uma questão relevante de cada uma que você
conside- re como sendo a principal.

3. Agora, de maneira bem prática, pense em um exemplo de


como a neuropsicopedagogia poderia auxiliá-lo no espaço
de aprendizagem em que você atua.

Referências
CAPLAN, D. Aphasic Syndromes. p. 22-40. In: HEILMAN, K.;
VALENSTEIN, E. (Ed.). Clinical neuropsychology. 5. ed. New York, 2012.

HENNMANN, A. L. Neurociências em benefício da educação. Disponível


em: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com/2012/04/
neuropsicopedagogia.html>. Acesso: 25 jun. 2018.

RAMALHO, D. M. Psicopedagogia e neurociência. Rio de Janeiro: Wak,


2015.

SBNPP – Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Resolução SBNPp


n. 03/2014. SBNPP, Joinville, 2016. Disponível em: <http://www.sbnpp.com.
br/wp-content/uploads/2016/11/Codigo-de-etica-atualizado-2016.pdf>.
Acesso em: 1 abr. 2018.

TOKUHAMA-ESPINOSA, T. Mind, brain, and education science: a


comprehensive guide to the new brain-based teching. W. W. New York:
Norton & Company, 2011.
2
O que faz um
neuropsicopedagogo?
Priscila Chupil

Iniciamos este capítulo com base na reflexão de que hoje


o ensino mudou. Possibilidades constantes de interação e
aprendizagem estão à disposição de todos, por meio dos novos
recursos tecnológicos educacionais. Nesse contexto, fica evidente
que as formas de aprender também estão se transformando
e com elas surge a necessidade de os profissionais que atuam
diretamente com essa área participarem dessa mudança, além
de compreenderem os processos cognitivos que compõem a
aprendizagem de maneira mais aprofundada.
A neuropsicopedagogia surge como um campo a favor dessas
novas reflexões. Os estudos das neurociências, da psicologia e da
pedagogia formam essa nova ciência, voltada à compreensão dos
processos de aprendizagem e de suas mais diferenciadas
possibilidades.
Mas, afinal, o que faz um neuropsicopedagogo? Para o bom de-
senvolvimento de uma profissão, é necessário compreendê-la em
sua raiz. Por isso, vamos entender, sob olhares específicos, o que
faz um neuropsicopedagogo.
Partindo da premissa de que vivemos em um novo contexto
edu- cacional, em que diferentes áreas se unem em prol da
aprendizagem, deve-se entender inicialmente que o caminho para
conhecer novas funções cerebrais e formas diferenciadas de
aprender requer muito estudo e dedicação, até porque a
neuropsicopedagogia é uma ciência complexa. Vamos caminhar,
então, em busca da compreensão espe- cífica do que faz um
neuropsicopedagogo.
2 A neuropsicopedagogia e o processo de

Inicialmente, sabe-se que a neuropsicopedagogia faz as inter-


-relações entre as neurociências com os conhecimentos da
psicologia cognitiva e da pedagogia. Pode-se dizer que essa inter-
relação possui três aspectos principais.
O primeiro refere-se ao plano educativo, cujo intuito é
contribuir com a instrução, aprendizagem e formação humana
dentro de um enfoque acadêmico, buscando formas diferenciadas
de aprender, de interagir e de construir conhecimento.
O segundo aspecto é voltado a uma visão psicológica do
indivíduo, para compreender seu todo, entendendo como fatores
emocionais influenciam na aprendizagem, sendo que a afetividade
e a motivação são essenciais para que o desenvolvimento cognitivo
ocorra.
Já o terceiro aspecto seria a influência das neurociências, que,
com seu conhecimento das estruturas cerebrais e da aprendizagem,
formam o encontro dessas áreas com a neuropsicopedagogia, que
agora, além de estudar as funções cerebrais, terá a influência das
demais áreas.
Nesse contexto, cabe também aprofundar a compreensão sobre
as inteligências múltiplas propostas por Howard Gardner (1995),
conforme exposto na Figura 1 a seguir.

Figura 1 – Inteligências múltiplas no cérebro

Cinestésica-corporal – 6-3-1
Lógico-matemática – 2-1 1 2
3
Linguística – 1-4
4 5
Intrapessoal – 1-2-3
Interpessoal – 1-4-3 6
Naturalista – 5
Espacial – 2-5-6
Musical – 4

Fonte: ARMSTRONG, 2001, p. 15. Adaptada.


O que faz um 2
• Cinestésica-corporal – grande capacidade de utilizar o corpo
para se expressar ou em atividades artísticas e esportivas.
• Lógico-matemática – voltada para conclusões baseadas em
da- dos numéricos e na razão. As pessoas com essa
inteligência pos- suem facilidade em explicar as coisas
utilizando-se de fórmulas e números e costumam fazer contas
de cabeça rapidamente.
• Linguística – capacidade elevada de utilizar a língua para
co- municação e expressão.
• Intrapessoal – pessoas com essa inteligência possuem a ca-
pacidade de se autoconhecer, tomando atitudes capazes de
melhorar a vida com base nesses conhecimentos.
• Interpessoal – facilidade em estabelecer relacionamentos
com outras pessoas. Indivíduos com essa inteligência
conseguem facilmente identificar a personalidade das outras
pessoas.
• Naturalista – inteligência voltada para a análise e compreen-
são dos fenômenos da natureza (físicos, climáticos, astronô-
micos, químicos).
• Espacial – habilidade na interpretação e no reconhecimento
de fenômenos que envolvem movimentos e posicionamento
de objetos.
• Musical – inteligência voltada para a interpretação e produ-
ção de sons com a utilização de instrumentos musicais.
Se cada parte do sistema nervoso influencia uma habilidade, o
conhecimento de cada uma dessas partes pode trazer ótimas opor-
tunidades de gerar aprendizagem. Dessa forma, pode-se dizer que
o foco principal da neuropsicopedagogia é a educação e o processo
de aprender. Porém, paralelo a isso, não se pode esquecer de que
nesse percurso podem surgir dificuldades específicas de cada
indivíduo, assim como o processo do não aprender.
2 A neuropsicopedagogia e o processo de

Não aprender está diretamente relacionado às características in-


dividuais de cada um e a seu histórico emocional, afetivo, social e
educacional. A verdade é que todos são capazes de aprender. Cada
um em seu ritmo, tempo, estímulo e forma. O ato de aprender é
algo extremamente complexo e, portanto, precisa ser visto com
cuidado e fundamentação.
Por isso, é válida a compreensão de que o estudo do sistema
ner- voso contribui para um grande diferencial de entendimento e
de atuação profissional. É um estudo que requer grande dedicação
e é bastante complexo, pois está atrelado a diferentes
especificidades, conforme demonstra o Quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Especialidades médicas associadas ao sistema nervoso

Especialista Descrição

Um médico treinado para diagnosticar e tratar de


Neurologista
doenças do sistema nervoso.

Um médico treinado para diagnosticar e tratar


Psiquiatra
transtornos do humor e da personalidade.

Um médico treinado para realizar cirurgia em en-


Neurocirurgião
céfalo e medula espinhal.

Um médico ou outro profissional treinado para


Neuropatologista reconhecer as alterações no tecido nervoso que
resultam de patologias.
Fonte: BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017, p. 15.

Bear, Connors e Paradiso (2017) apresentam ainda outras ca-


racterísticas de especialistas que se aliaram aos conhecimentos
neu- rocientíficos, os chamados neurocientistas experimentais,
entre os quais podem se enquadrar os neuropsicopedagogos.
O que faz um 2
Quadro 2 – Tipos de neurocientistas experimentais

Tipo Descrição

Neurobiólogo do
Analisa o desenvolvimento e a maturação do encéfalo.
desenvolvimento
Neurobiólogo Usa o material genético dos neurônios para compreen-
molecular der a estrutura e a função das moléculas cerebrais.

Neuroanatomista Estuda a estrutura do sistema nervoso.

Neuroquímico Estuda a química do sistema nervoso.

Estuda as bases neurais de comportamentos animais


Neuroetólogo
específicos de cada espécie no seu habitat natural.

Neurofarmacologista Examina os efeitos de drogas sobre o sistema nervoso.

Neurofisiologista Mede a atividade elétrica do sistema nervoso.

Psicólogo fisiológico
(psicólogo biológico, Estuda as bases biológicas do comportamento.
psicobiólogo)

Psicofísico Mede quantitativamente as capacidades de percepção.


Fonte: BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017, p. 15.

Podemos perceber, com essas informações, a amplitude dos


estudos das neurociências e o quão complexo é o desenvolvimento
humano.

2.1 Conceituando as demandas


escolares atuais
Os insucessos escolares são um desafio que sempre fizeram
parte do ambiente escolar, principalmente na realidade brasileira,
devido ao seu contexto histórico. Esse fato pode estar atrelado à
democratização do acesso à escola a partir de 1970. Muitas
crianças começaram a frequentar esse ambiente normalmente sem
ter tido qualquer contato inicial com a cultura letrada, pois a
família não havia vivenciado essa prática anteriormente. Além da
linguagem oral
2 A neuropsicopedagogia e o processo de

ser distante da linguagem escrita, a indisciplina e a desvalorização


do ensino também eram aspectos relevantes.
Até certo momento, esse conceito relacionava as dificuldades
de aprender com crianças menos favorecidas. Porém, pode-se
perceber que, a partir da institucionalização do ensino obrigatório,
muitas histórias de sucesso e insucesso permearam o ambiente
escolar pelos mais diferentes motivos e contextos.
Atualmente, quando a escola e a família percebem a
necessidade, costumam encaminhar o aluno para um
psicopedagogo, um psi- cólogo e até mesmo a um neurologista,
para detectar com precisão qual é a dificuldade, o grau de
complicação e verificar formas de in- tervenção. Nesse contexto, a
busca pelo neuropsicopedagogo é cada vez mais frequente, pois ele
surge como um profissional com visão ampla, conhecedor de cada
uma dessas áreas, o que o permite avaliar e intervir em todos esses
aspectos.
Porém, para se conceituar as demandas atuais nas escolas, de-
ve-se olhar de maneira mais ampla e abrangente, pois o fracasso
escolar pode ter vários motivos, como a família, a desmotivação, o
ambiente da escola, o professor, a metodologia etc.
Conhecer a causa das dificuldades de aprendizagem,
observando cada um dos seus aspectos, faz parte da análise do
neuropsicopedago, pois ele sabe que as emoções e a afetividade
interferem na aprendizagem e podem estar relacionadas ao
ambiente familiar e à falta de motivação para os estudos. As
metodologias adequadas e a postura do professor quanto às formas
de aprender também influenciam esse desenvolvimento, bem como
os materiais didáticos e o ambiente escolar.
Uma análise detalhada de cada um desses aspectos, atrelada
a questões do desenvolvimento neuronal, tornam a visão do
neuropsicopedagogo completa e sensível a cada situação.
Além desses fatores considerados externos, deve-se refletir
O que faz um 2
tam- bém sobre os internos, ou seja, aqueles que já são patológicos
e que,
2 A neuropsicopedagogia e o processo de

após diagnosticados, devem ser tratados na escola de maneira di-


ferenciada, com um olhar inclusivo e efetivo para a aprendizagem.
Ocupar-se desses processos de inclusão e do tratamento
especial à criança com dificuldade faz parte do trabalho do
neuropsicope- dagogo, tanto diretamente com o aluno como
também fornecendo ao professor orientações e encaminhamentos
pertinentes para que a aprendizagem dessa criança aconteça.
Cuidar ainda dos aspectos gerais da sala de aula é um fator de
grande importância, uma vez que a indisciplina pode afetar a
apren- dizagem do aluno e de quem está a sua volta. Compreender
por que ela acontece e como intervir nessa situação também
contribui para a boa aprendizagem.
Outra questão bastante discutida atualmente nas escolas é a
ava- liação. Como os alunos estão sendo avaliados? Ora, se o
ensino mu- dou e os alunos hoje se deparam com novas
ferramentas e formas de aprender, não seria o momento de as
avaliações serem revistas tam- bém? Estariam elas de acordo com
a metodologia proposta e com o preparo que os alunos têm? Esse é
um exemplo de caso em que mui- tas vezes a dificuldade surge por
falta de sintonia do projeto escolar. Deve-se lembrar que a
avaliação final não é a única e absoluta forma de verificar a
aprendizagem e que ela precisa ser vista dentro de um processo de
construção.
Outros elementos, como a constituição curricular, também po-
dem contribuir para os insucessos escolares, por isso o olhar atento
e voltado a todas as demandas é essencial para aqueles que atuam
com educação.
Levando em consideração que o trabalho do
neuropsicopedagogo é fundamental para a redução dos altos índices
de repetência e evasão escolar, deve-se ter claro qual a sua influência
e a contribuição das neu- rociências tanto na formação como na
prática do profissional ao lidar com o fracasso escolar no exercício
O que faz um 2
de sua profissão.
3 A neuropsicopedagogia e o processo de

2.2 O que faz um neuropsicopedagogo escolar


Sabendo da complexidade e importância do neuropsicopedago-
go, pode-se identificar que ele contribui muito com sua atuação em
diferentes áreas e trabalhará na coletividade dentro dos seguintes
espaços de atuação:
• instituições escolares;
• centros e associações educacionais;
• instituições de ensino superior; e
• terceiro setor, como organizações não governamentais
(ONGs), organizações da sociedade civil de interesse
público (Oscip), entre outros.
Para maior esclarecimento de suas funções, o Código de Ética
Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia (SBNPP, 2016), que
tem como objetivo estabelecer critérios e orientar os profissionais
da neuropsicopedagogia no Brasil, traz as orientações do trabalho a
ser desenvolvido pelo neuropsicopedagogo conforme seu contexto
de atuação.
No âmbito das instituições, como mencionado anteriormente,
essa atuação é realizada conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1 – Neuropsicopedagogo institucional

a) Observação, identificação e análise dos ambientes e dos grupos de pes-


soas atendidas, focando nas questões relacionadas à aprendizagem e ao
desenvolvimento humano nas áreas motoras, cognitivas e comportamen-
tais, considerando os preceitos da neurociência aplicada à educação, em
interface com a pedagogia e psicologia cognitiva.

b)Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo en-


sino-aprendizagem dos que são atendidos nos espaços coletivos.

c) Encaminhamento de pessoas atendidas a outros profissionais quando


o caso for de outra área de atuação/especialização para contribuir com
aspectos específicos que influenciam na aprendizagem e no desenvol-
vimento humano.

Fonte: SBNPP, 2016, p. 5.


O que faz um 3
Com base no Quadro 1, podemos visualizar como fica a atua-
ção do neuropsicopedagogo no âmbito escolar. Pode-se dizer que
seu trabalho parte de um bom diagnóstico pautado nas áreas com-
portamentais, cognitivas e psicológicas atreladas às ferramentas
das neurociências que possibilitam esse diagnóstico inicial. Isso
pode ser feito com um ou mais alunos, e até mesmo em um
trabalho com a turma toda, dependendo da queixa apresentada e da
dificuldade inicial detectada.
Esse primeiro momento requer bastante sensibilidade e
conhecimento, pois com base nesse diagnóstico haverá a posterior
intervenção do problema, que é o segundo passo desse trabalho
do neuropsicopedagogo na escola. Essa intervenção vem de
diferentes formas, de acordo com a demanda descoberta. Pode-
se atingir alunos individualmente, assim como trabalhar com
um grupo que necessita de encaminhamentos especiais, seja por
motivos comportamentais ou cognitivos. Diante disso, variadas
intervenções podem ser realizadas, utilizando-se das ferramentas
de que o neuropsicopedagogo dispõe e dos seus conhecimentos de
desenvolvimento humano.
Em um terceiro momento, e de acordo com os resultados do
diagnóstico inicial ou das tentativas de intervenção, o aluno pode
ser encaminhado para um profissional externo, como o psicólogo,
neurologista ou psicopedagogo, que, por meio de ferramentas es-
pecíficas à sua formação, poderá contribuir para a reabilitação ou o
acompanhamento desse aluno.

Considerações finais
Conhecer a origem e o objeto de estudos de uma profissão
torna os profissionais mais seguros e conscientes diante da sua
atuação. O neuropsicopedagogo é um profissional que chegou ao
mercado de trabalho recentemente, com uma visão diferenciada e
ampla em
3 A neuropsicopedagogia e o processo de

possibilidades. Dessa forma, ao nos depararmos com as demandas


que abrangem esse trabalho, visualizamos as muitas oportunidades
de atuação. Seu conhecimento completo do desenvolvimento cog-
nitivo abre portas para um entendimento humano direcionado e
seguro de onde e como intervir em diferentes âmbitos.

Ampliando seus conhecimentos


Sentidos da intervenção
neuropsicopedagógica nas dificuldades
de aprendizagem na pré-escola
(LIMA, 2017, p. 88-90)

[...]

A pesquisa das neurociências, em especial da neuropsicope-


dagogia, é de fundamental importância na busca por entender
os processos neuropsicobiológicos, tomando o cérebro como
a fonte do aprendizado humano, todavia, mesmo em face
disso, as formulações teóricas acerca da temática ainda são
escassas. Por isso, cabe ressaltar que a Neuropsicopedagogia,
tanto Clínica como Institucional, é um conhecimento que se
origina principalmente da Psicopedagogia, e agregando-se a
esta, como uma ciência que atua em diversos contextos
sociais, buscando compreender o processo cognitivo do
sujeito apren- dente, desde os primeiros anos de vida, seus
impasses e as principais implicações na aprendizagem
humana.

[...] Dentro do espaço escolar, o neuropsicopedagogo tem


uma visão sobre as relações entre aprendizagem e as
estruturas cerebrais, que danificadas provocarão alguma
dificuldade de aprendizagem. A priori, ele realiza as mesmas
atividades esta- belecidas para o profissional da
Psicopedagogia, mas, como sua
O que faz um 3
formação vai além, ele busca intervir, através da compreensão
das estruturas cerebrais envolvidas na aprendizagem humana,
percebendo de que forma o cérebro gerencia a construção do
saber humano, do comportamento emocional, o mapeamento
dos transtornos neuropsiquiátricos e estímulo a novas
sinapses para uma aprendizagem significativa.

A intervenção neuropsicopedagógica contribuirá para a


melho- ria na ação do professor e na aprendizagem da
criança. Ambas devem ser dinâmicas e próximas da realidade,
fazendo com que teoria e prática se firmem e tenham sentido
para o sujeito que aprende, de maneira articulada e
simultânea, buscando, através da exploração de diferentes
atividades, desenvolver as habilida- des necessárias,
promovendo a descoberta e a inserção da criança no mundo,
sem que sofra nenhuma marginalização social.

[...]

Atividades
1. Sabendo que atualmente a contribuição do neuropsico-
pedagogo é fundamental para o bom desenvolvimento da
aprendizagem humana, cite os três elementos principais
que são objeto de estudo desse profissional e qual a especi-
ficidade de cada um deles.

2. Dentro das demandas de atuação do neuropsicopedagogo


vistas neste capítulo, em quais ambientes ele pode
trabalhar? Cite ao menos três desses ambientes.

3. Entre os ambientes de atuação do neuropsicopedagogo, o


âmbito escolar é um de seus principais campos. Dentro da
escola, quais são os passos indicados pela SBNPp para o
tra- balho desse profissional?
3 A neuropsicopedagogia e o processo de

Referências
ARMSTRONG, T. Inteligências múltiplas na sala de aula. Porto Alegre:
Artmed, 2001.

BEAR, F. M.; CONNORS, B.; PARADISO, M. A. Neurociências:


desvendan- do o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre:


Artmed, 1995.

LIMA, F. R. Sentidos da intervenção neuropsicopedagógica nas dificulda-


des de aprendizagem na pré-escola. Educa – Revista Multidisciplinar em
Educação, v. 4, n. 7, jan./abr. 2017. Disponível em: <http://www.periodi-
cos.unir.br/index.php/EDUCA/article/view/2012/1898>. Acesso em: 24
maio 2018.

SBNPP – Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia.


Resolução SBNPp n. 03/2014. SBNPP, Joinville, 2016. Disponível
em: <http://
www.sbnpp.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Codigo-de-etica-
atualizado-2016.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2018.
3
Neurociência e educação

Priscila Chupil

Conhecer as partes do cérebro e como ocorrem as conexões


neu- ronais para gerar aprendizagem abre novas possibilidades de
com- preender o desenvolvimento humano e como se aprende.
Entender a fundo os processos cognitivos traz novas perspectivas
sobre a apren- dizagem e abre portas para se estabelecer novas
formas de aprender e de interagir com o conhecimento. Com isso,
o modo de ensinar, os materiais utilizados e as metodologias
mudam. Ou seja, temos novas realidades educacionais para novos
tempos.
Falar sobre desenvolvimento cognitivo e estrutura cerebral
requer organização didática e leitura complexa. Vamos tratar desse
tema re- fletindo inicialmente sobre em que consistem as partes do
cérebro humano e qual sua relação direta com a aprendizagem. Em
seguida, vamos ver como acontece o processo de aprendizagem e as
contribui- ções do meio para que isso ocorra.
Dessa forma, estamos agora entrando em um campo bem
específico do trabalho do neuropsicopedagogo, ou seja, vamos
compreender neurológica, psicológica e pedagogicamente como
acontece o processo de cognição do ser humano.

3.1 Anatomia cerebral: a neurociência


a serviço da educação
O cérebro humano é dividido em lobos. A divisão dessas
regiões não é tão perfeita quanto a apontada na Figura 1 a seguir,
entretanto é possível termos uma ideia de como isso ocorre.
3 A neuropsicopedagogia e o processo de

Figura 1 – Divisões do cérebro humano


Lóbulo parietal
Lóbulo frontal

IESDE BRASIL
Lóbulo occipital

Lóbulo temporal

Para compreender cada parte e entender sua relação com a


aprendizagem, vamos iniciar com as especificidades de cada lobo.

3.1.1 Lobo frontal


O lobo frontal é dividido em quatro áreas:
1. Área motora – ativada nos movimentos voluntários.
2. Área pré-motora e motora suplementar – também relacio-
nada aos movimentos voluntários, mas com planejamento.
3. Área de Broca – possui funções associadas à escrita e fala.
4. Córtex pré-frontal – é todo o restante do lobo frontal.
Regula funções relacionadas ao comportamento, à execução
de pla- nos e intenções.
Lesões provocadas no lobo frontal podem gerar dificuldades
de atenção, motivação e concentração, perda do autocontrole, di-
ficuldades em avaliar as consequências dos atos praticados, além
de agressividade.

Você também pode gostar