Relatório Final-Artur Jorge Marinho - (IC)
Relatório Final-Artur Jorge Marinho - (IC)
Relatório Final-Artur Jorge Marinho - (IC)
Resumo.No texto abaixo será apresentada a simples ideia de bilhar, dando enfoque
aos bilhares elípticos, que apresentam características singulares e interessantes de
fácil compreensão. Começaremos caracterizando um bilhar e logo depois se iniciará
nossa discussão nas elipses. Primeiramente um exemplo computacional muito sim-
ples será apresentado, de forma a se entender, na prática, a ideia de bilhar. Logo
em seguida discutiremos um belo resultado envolvendo elipses retirado de [1], mos-
trando o quão interessante são tais bilhares. A ideia de cáustica será trazida logo em
seguida, e um resultado de existência de cáusticas em bilhares elípticos será apresen-
tado e devidamente demonstrado [2]. Caracterizaremos as circunferências por meio
dos bilhares e, por meio da construção de um contra exemplo, mostraremos que tal
caracterização semelhante à das circunferências não é possível em elipses mais ge-
rais.
• INTRODUÇÃO
trajetória do bilhar
α
α
Figura 1:
Órbita de um bilhar em uma região do plano.
• METODOLOGIA
1. BILHARES ELÍPTICOS
Exemplo 1. Comecemos com a elipse mais simples de todas, isto é, uma cir-
cunferência. Iremos aplicar na prática, com métodos computacionais elementares, a
ideia de bilhar, mostrando a simplicidade de tal conceito. Para isso, consideremos a
circunferência unitária centrada na origem onde a denotaremos por K , que consiste
no conjunto de pontos que satisfazem a equação x 2 + y 2 = 1. Escolhamos o ponto
p 1 =(-1,0)∈ K . Queremos então determinar um triângulo ∆ inscrito em K e que tem
como um dos vértices o ponto p 1 e, além disso, queremos que ∆ determine uma tra-
jetória 3-periódica de um bilhar nessa circunferência. Consideremos a circunferência
orientada positivamente, isto é, no sentido anti-horário.
Defina N 1 o vetor normal unitário à K em p 1 apontando para a origem e T1 o vetor
tangente unitário à K em p 1 . Queremos encontrar um ângulo α tal que as direções
d 12 = sin αT1 + cos α N 1 e d 13 = − sin αT1 + cos α N 1 definam os dois lados do triângulo
cujo vértice é p 1 e define uma órbita 3-periódica, veja a Figura 2 abaixo.
d 13
α
α N1
d 12
T1
Figura 2:
⟨p 1 − p 2, N 2 ⟩ ⟨p 3 − p 2, N 2 ⟩ ⟨p 1 − p 3, N 3 ⟩ ⟨p 2 − p 3, N 3 ⟩
= , =
|p 1 − p 2 ||N 2 | |p 3 − p 2 ||N 2 | |p 1 − p 3 ||N 3 | |p 2 − p 3 ||N 3 |
.
A primeira igualdade resulta em cos α = sin 2α, enquanto que a segunda igualdade
resulta na mesma equação. Portanto nosso problema possui solução e o ângulo que
π
procuramos é α = .
6
(−1, 0) = p 1 α
α
√ !
1 3
p2 = , −
2 2
Figura 3:
Com o mesmo método que usamos para encontrar uma órbita de um bilhar elíptico
no Exemplo 1, podemos provar o seguinte resultado. Para uma demonstração com-
pleta, consulte [1].
x2 y2
Proposição 1. Seja ξ a elipse definida por 2 + 2 = 1. Para todo p 1 = (x 1, y 1 ) ∈ ξ
a b
existe um único triângulo ∆(p 1 ) = {p 1, p 2, p 3 } inscrito em ξ tal que ∆(p 1 ) define uma
órbita 3-periódica do bilhar inscrito em ξ. Veja Figura 4 abaixo.
⟨p 1 − p 2, N 2 ⟩ ⟨p 3 − p 2, N 2 ⟩ ⟨p 1 − p 3, N 3 ⟩ ⟨p 2 − p 3, N 3 ⟩
= , =
|p 1 − p 2 ||N 2 | |p 3 − p 2 ||N 2 | |p 1 − p 3 ||N 3 | |p 2 − p 3 ||N 3 |
onde N 2 e N 3 são os vetores normais a ξ em p 2 e p 3 respectivamente.
Isso resultará na equação
.
Finalizando a demonstração.
T1 p 1 T3
α
α
N1 N3 p3
N2
p2
T2
Figura 4:
Ilustração da Proposição 1.
Figura 5:
ϕ é uma cáustica da trajetória do bilhar.
uma elipse ou uma hipérbole confocal com ξ, isto é, possui os mesmos focos que
ξ. Trataremos agora de demonstrar esse belíssimo fato. Para tal, precisaremos de
alguns resultados preliminares, consulte [2].
ϕ ϕ
ξ ξ
ϕ
F1 F2 F1 F2
Figura 6:
ϕ é uma cáustica da trajetória do bilhar. F1 e F 2 são os focos da elipse ξ.
X R
Q′
Figura 7:
i- P Q ii-
l P
P′
F1 F2 F1 F2
l
C C
Figura 8:
Demonstração: i- Seja Q qualquer ponto em l distinto de P , e denote por P ′ a
interseção de F 1 Q com C . Podemos ver na Figura 8 i- que a seguinte desigualdade é
verdadeira
Q F 1 + Q F 2 = P ′F 1 + Q P ′ + Q F 2 > P ′F 1 + P ′F 2 = P F 1 + P F 2 .
A1
C
F1 F2 A2
F 1′ B 1
B2
F 2′
l
A
Figura 9:
Demonstração. Seja A1 A e AA2 segmentos consecutivos de uma trajetória (Figura
9). Assuma que A1 A não intersecta F1 F 2 (o caso em que A1 A intersecta F 1 F2 é tratado
de maneira similar).
Segmentos A1 A e AA2 fazem ângulos iguais com l , a tangente à C em A. Pelo
Teorema 1 i- o mesmo acontece com F 1 A e AF2 . Portanto
Para i = 1, 2, tome Fi′ a reflexão de Fi em AAi . Seja C i , com focos F1, F2 , na qual é
tangente à AAi no ponto B i . Pelo Corolário 2, os pontos F 2, B 1, F 1 são colineares, e
F 1′B 1 + F2 B 1 = F 2 F 1′ . (2)
Similarmente
F 1 B 2 + F2′B 2 = F 1 F 2′ . (3)
Devemos mostrar que C 1 = C 2 , pelo qual, em vista de (2) e (3) se resume a mostrar
que
F 2 F 1′ = F1 F 2′ (4)
F i′ A = F i A (5)
Vale enfatizar que, caso a trajetória de um bilhar elíptico passa em algum momento
entre os focos da elipse, os segmentos da trajetória estão contidos em retas tangentes
ou assintóticas à elipse. Veja Figura 6 acima.
• RESULTADOS
Seja c : [0, L] uma curva convexa fechada C ∞ com |c ′ (s)| = 1 para todo s ∈ [0, L] e
tome {e 1, e 2 } um campo ortogonal sobre c com c ′ = e 1 . Pela formula de Frenet temos
que
e ′1 (s) = k (s)e 2 (s); e ′2 (s) = −k (s)e 1 (s)
para cada s ∈ [0, L], onde k (s) é a curvatura da curva c em c (s). Para cada (s, u) ∈
[0, L] × (−1, 1) defina m (s,u) : Ò → Ò2 como a reta dada por
p
m (s,u) (t ) = c (s) + t (ue 1 (s) + 1 − u 2 e 2 (s))
.
1 − g (s, u) 2 k (f (s, u))l (s, u)
p
gu (s, u) = − √ + √
1 − u2 1 − u2
det dϕ (s, u) = fs (u, s)gu (u, s) − fu (s, u)g s (u, s) = 1
g (s, u) e 1 (f )
e 2 (f )
c (f )
m (u,s )
c (s) θ = arccos(u)
Figura 10:
Caro leitor, caso ainda não tenha bagagem em geometria diferencial, poderá pen-
sar que a hipótese |c ′ | = 1 é muito restritiva. Não é uma hipótese forte pois é bem
conhecido o fato de que qualquer curva convenientemente diferenciável pode ser re-
parametrizada de maneira com que tenhamos |c ′ | = 1, e este é o caso da circunferên-
cia.
Nosso objetivo agora será extrair o máximo de informações sobre uma curva ge-
nérica C ∞ , convexa e fechada na qual tem a propriedade de que todos seus pontos
são vértices de triângulos que definem uma órbita 3-periódica. Com isso, poderemos
encontrar uma caracterização para as circunferências e construir um exemplo interes-
sante de curva com a propriedade que leva o título dessa seção.
Diferenciando l 1, l 2, l 3
para cada s ∈ [0, L]. Com isso temos que, utilizando a identidade sin(x ) + sin(y ) +
sin(z ) − sin(x + y + z ) = 4 sin((x + y )/2) sin((y + z )/2) sin((x + y )/2)
R cos α3 (s)
l 1 (s) = (12)
2 sin α1 (s) sin α2 (s)
R cos α1 (s)
l 2 (s) = (13)
2 sin α2 (s)α3 (s)
R cos α2 (s)
l 3 (s) = (14)
2 sin α3 (s) sin α1 (s)
Então, pelas fórmulas derivadas da aplicação bola de bilhar definida acima, c 2 (s) =
c (f (s, 1/2)), fs (s, 1/2) = 1 para qualquer s ∈ [0, L], pois g (s, 1/2) = 1/2 para todo
s ∈ [0, L]. Portanto por (1) no Lema 3 a demonstração está completa.
2 sin x sin2 x
x + 2y = π; √ = k (s).
3 3 cos y
Ponha α3 (s) = α2 (s). É de fácil verificação que α1 (s) + α2 (s) + α3 (s) = π/3 para todo
s ∈ [0, ε] ∪ [λ − ε ′, λ]. Defina l 1, l 2, l 3 como em (12), (13) e (14). e os pontos c 1 (s), c 2 (s)
e c 3 (s) como em (8), (9) e (10). O que temos aqui é que a curva D = c 1 ∪ c 2 ∪ c 3 ([0, λ])
é C ∞ , convexa e fechada, na qual tem a propriedade de que todos os seus pontos são
vértices de triângulos equiláteros que definem órbitas 3-periódicas de bilhares. Tal
construção aqui apresentada foi pouco detalhada e, para o leitor que se interessar em
verificar o processo construtivo de forma mais completa, consulte [3]. Pela construção
da curva, temos que ela não pode ser uma elipse.
O exemplo acima mostra que, muito embora a característica de ter todos seus pon-
tos como vértices de bilhares triangulares equiláteros é uma propriedade intrínseca de
certa espécie de elipses, ao tirar a hipótese de que os triângulos são equiláteros, po-
demos obter curvas diferentes da elipse com a propriedade do título dessa seção. Ou
seja, isso mostra que as elipses não são as únicas curvas que satisfazem a Proposi-
ção 1.
• CONCLUSÕES FINAIS
Referências
[1] Garcia, R. Alves - Circuncentros das Órbitas Triangulares de um Bilhar Elíptico.
NEXUS Mathematicae, 2018.
[2] Flatto, Leopold - Poncelet’s Theorem. American Mathematical Society, 2008.
[3] INNAMI, Nobuhiro - Convex curves whose points are vertices of billiard triangles.
Kodai Math. J. 11, 1988.
• CERTIFICADOS
Figura 11:
Figura 12: