Espaço Público e Conforto Térmico
Espaço Público e Conforto Térmico
Espaço Público e Conforto Térmico
JUNHO DE 2017
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2016/2017
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
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Editado por
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Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo
Autor.
Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Aos meus,
pelo que representam
Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
AGRADECIMENTOS
i
Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
RESUMO
O clima urbano resulta de alterações no clima local por meio de condições particulares do
ambiente, nomeadamente a rugosidade do tecido urbano, os níveis de ocupação e as
características térmicas dos materiais constituintes. Estas alterações podem condicionar o
conforto térmico dos espaços públicos e, consequentemente, pôr em causa o bem-estar das
populações urbanas, tendo em conta a interação social que ocorre nestes espaços, numa
perspetiva de lazer e descanso.
O conforto térmico nos espaços públicos, em geral, é fundamental para que os mesmos sejam
frequentados e para que continuem a desempenhar o seu papel privilegiado na melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
Neste contexto, são crescentes os espaços que não cumprem os requisitos mínimos e, sabendo
que esta problemática tenderá a agravar-se devido às alterações climáticas, estes espaços
tenderão a tornar-se desconfortáveis ou até mesmo amorfos. Assim, na tentativa de fazer crescer
o conforto térmico nos locais de utilização publica, têm sido, nas últimas duas décadas, criados
e estudados mecanismos e estratégias de minimização do impacto térmico em espaços
demasiadamente expostos à incidência solar, nomeadamente estruturas que disponibilizam
sombra, como arborização, introdução de espaços verdes, alteração dos pavimentos,
implementação de elementos de água, estruturação da malha urbana, entre outras. Importa
ainda referir, que para fazer face a esta realidade, as áreas urbanas consolidadas exigem especial
atenção, visto que nestas áreas o ambiente construído já se encontra definido.
Na presente dissertação, através de um software de elevada capacidade testado e verificado em
estudos anteriores (Envi-met), são avaliadas variações paramétricas, com o intuito de constatar
em que medida se tornam influentes para o microclima dos espaços públicos e,
consequentemente, para as variáveis ambientais que afetam a sensação de conforto térmico. As
simulações testam a influência da vegetação, do revestimento dos pavimentos e fachadas e,
também, a volumetria do ambiente construído, onde é selecionado um cenário de estudo, que
permita verificar a influência dos parâmetros variados e estabelecer uma relação entre eles, no
que diz respeito ao conforto térmico.
Embora os resultados do estudo sejam apenas indicativos e não generalizados, já que se
direcionam para um caso de estudo específico, contribuem para alargar o conhecimento dos
padrões abordados.
iii
Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
ABSTRACT
The urban climate results from changes in the local climate through particular conditions, such
as the roughness of the urban fabric, occupancy levels and thermal characteristics of the
composing materials.These changes can condition the thermal comfort of public spaces and
therefore compromise the well-being of the urban populations, taking into account the social
interaction that occurs in these spaces, in a perspective of leisure and rest.
The thermal comfort in public spaces is, in general, essential for them to be frequented and for
them to continue playing a privileged role in improving people's quality of life.
In this context, with an increasing number of spaces that do not meet the minimum requirements
and knowing that this problem only tends to get worse due to climate changes, these spaces are
likely to become uncomfortable or even amorphous.Therefore, in the last two decades, in an
attempt to increase thermal comfort in public spaces, mechanisms and strategies have been
created and studied in order to minimize thermal impact in areas that are too exposed to
sunlight, particularly structures that provide shade, such as afforestation, introduction of green
spaces, alteration of pavements, implementation of water elements, urban mesh structure,
among others. It is also important to note that in order to face this reality, the consolidated urban
areas require special attention, once in these areas the built environment is already defined.
In this dissertation, parametric variations are evaluated through a tested and verified high
capacity software (Envimet), in order to verify to what extent they become influential to the
microclimate of public spaces and, consequently for the environmental variables that affect the
sensation of thermal comfort. The simulations test the influence of vegetation, coating of
pavements and façades, as well as the volumetry of the built environment, where a study
scenario is selected to verify the influence of the varied parameters and correlate them as far as
thermal comfort is concerned.
Nevertheless, although the study results are merely indicative and not generalized, since they
are directed to a specific case study, they contribute to broaden the knowledge of the standards
discussed.
KEY-WORDS: urban climate, thermal comfort, public space, thermal comfort variables,
parametric analysis.
v
Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... I
RESUMO .................................................................................................................................III
ABSTRACT .............................................................................................................................. V
INTRODUÇÃO ........................................................................ 1
1.1. ENQUADRAMENTO ............................................................................................................ 1
1.2. OBJETIVOS....................................................................................................................... 2
1.3. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO .................................................................................................. 3
vii
Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
3.3.5. CONVECÇÃO.................................................................................................................................. 20
3.3.6. EVAPORAÇÃO ................................................................................................................................ 20
3.4. FATORES QUE INFLUENCIAM A SENSAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO ................................... 20
3.4.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................................... 20
3.4.2. VARIÁVEIS INDIVIDUAIS ................................................................................................................... 21
4.4.6. MATERIAIS..................................................................................................................................... 31
4.4.6.1. Considerações gerais............................................................................................................... 31
ix
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 - Escalas urbanas: (a) área metropolitana, (b) cidade, (c) bairro, (d) quarteirão, e (e) rua. Fonte:
Oliveira Panão, et al, (2006). ................................................................................................................................... 6
Figura 2.2 - Camadas da atmosfera urbana: atmosfera urbana superior (UBL) e atmosfera urbana inferior (UCL).
Fonte: Oliveira Panão, et al, (2006). ........................................................................................................................ 6
Figura 2.4 - A incidência da radiação solar em relação à variação da latitude. (Adaptado de Romero, 2013). ....... 8
Figura 2.5 - Composição da radiação solar. Percentagem de ondas eletromagnéticas de diferentes comprimentos
de onda. Adaptado Romero (2013).......................................................................................................................... 9
Figura 2.6 - Fenómeno de absorção e reflexão da radiação solar na Terra. (Adaptado de Romero, 2013) .......... 10
Figura 2.7 - Percurso do sol ao longo do ano. Fonte: (Gonçalves, Graça,2004). .................................................. 10
Figura 2.9 - Esquema representativo da influência da topografia no microclima. (Fonte: Romero, 2013). ............ 13
Figura 2.10 - Efeito regulador da vegetação nas radiações de grande comprimento de onda. (Adaptado de
Romero, 2013). ...................................................................................................................................................... 14
Figura 2.11 – Esquema representativo das perdas de calor noturno dos materiais utilizados na construção.
(Adaptado de Romero, 2013)................................................................................................................................. 14
Figura 3.1 - Transferência de calor entre o Homem e o ambiente. (Adaptado de Romero, 2013). ....................... 19
Figura 3.2 – Possíveis formas de transferência de calor entre o Homem e o ambiente. (Fonte: slides teóricos da
disciplina de térmica dos edifícios, 5ºano do MIEC). ............................................................................................. 22
Figura 4.1 – Esquema representativo do fenómeno “ilha de calor”. Fonte: Romero (2013). ................................. 28
Figura 4.2 – Exemplo de uma relação H/L elevada (rua estreita). “Rua Mourisca” localizada no centro da vila de
Arouca. .................................................................................................................................................................. 30
Figura 4.3 – Efeito refrescante provocado pela vegetação. Fonte: Romero (2013). .............................................. 35
Figura 5.1 – Localização geográfica do local de estudo no mapa de Portugal Continental. (Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arouca) ....................................................................................................................... 40
Figura 5.2 – Vista aérea do local de estudo selecionado e identificação dos espaços públicos de permanência. 41
Figura 5.3 – Identificação do local 1 – “Alameda Dom Domingos de Pinho Brandão”. .......................................... 42
Figura 5.6 – ícone do programa utilizado como ferramenta de estudo na dissertação. ......................................... 44
Figura 5.7 – Barra de Ferramentas do Envi-met 4 Headquarter – separador “Data and Settings”. ....................... 44
Figura 5.8 - Barra de Ferramentas do Envi-met 4 Headquarter – separador “Envi-met V4”. ................................. 45
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 5.10 – Representação “3D” do cenário de estudo criado no separador “Spaces” do programa Envi-met. . 47
Figura 5.12 - Representação “3D” do local de estudo 1 – “Alameda Dom Domingos de Pinho Brandão”. ............ 48
Figura 5.13 - Representação “3D” do local de estudo 2 – “Praça das Laranjeiras”. .............................................. 49
Figura 5.14 - Representação “3D” do local de estudo 3 – “Praça Brandão de Vasconcelos”. ............................... 49
Figura 5.15 – Rosa dos ventos de Arouca para o período de 2014 a 2016. Fonte: IPMA. .................................... 51
Figura 5.16 – Radiação Global correspondente à área metropolitana do Porto. Fonte: IPMA -Portal do Clima. ... 51
Figura 5.17 – Temperatura média correspondente à área metropolitana do Porto. Fonte: IPMA - Portal do Clima.
............................................................................................................................................................................... 52
Figura 5.18 – Humidade relativa do ar correspondente à área metropolitana do Porto. Fonte: IPMA - Portal do
Clima...................................................................................................................................................................... 52
Figura 6.1 – Resultados da Ta (Temperatura do ar) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 2”....................... 55
Figura 6.2 -Resultados da TMR (Temperatura média radiante) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 2”. .... 55
Figura 6.3– Resultados da HR (Humidade Relativa) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 2”. ..................... 56
Figura 6.4 - Resultados da Ta para os cenários “Alameda 1”, “Alameda 3” e “Alameda 4”. .................................. 57
Figura 6.5 - Resultados da TMR para os cenários “Alameda1”, “Alameda 3” e “Alameda 4”. ............................... 58
Figura 6.6 - Resultados da Radiação solar refletida para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 3”. ...................... 58
Figura 6.8 - Resultados da TMR do cenário “Alameda 1” e do mesmo cenário com remoção de pavimento. ...... 60
Figura 6.9 – Resultados da Radiação solar direta para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 5”. ......................... 60
Figura 6.11- Resultados da TMR para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 5”. ................................................... 61
Figura 6.12 - Resultados da velocidade do vento para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 5”. .......................... 62
Figura 6.13 - Resultados da HR (Humidade Relativa) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 5”. ................... 62
Figura 6.14 – Resultados da TMR para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 6”. ................................................. 63
Figura 6.16 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 6”. ......................... 64
Figura 6.17 – Resultados da Ta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 2”. ..................................... 65
Figura 6.18 – Resultados da TMR para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. das Laranjeiras 2”. .......................... 66
Figura 6.19 – Resultados da Ta dos cenários “P. Laranjeiras 1”, “P. Laranjeiras 3” e “P. Laranjeiras 4”. ............. 67
Figura 6.20 – Resultados da TMR dos cenários “P. Laranjeiras1”, “P. Laranjeiras 3” e “P. Laranjeiras 4”. ........... 67
Figura 6.21 – Resultados da radiação solar direta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”. ........ 68
Figura 6.22 – Resultados da Ta dos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”. ........................................... 68
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Figura 6.23 – Resultado da TMR dos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”. ......................................... 69
Figura 6.24 – Resultado da velocidade do vento dos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”. ................. 69
Figura 6.25 – Resultado da radiação solar direta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”. .......... 70
Figura 6.26 – Resultado da Ta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”. ...................................... 70
Figura 6.27- Resultado da radiação solar direta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”
correspondentes às 9 horas. ................................................................................................................................. 71
Figura 6.28 - Resultado da TA para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6” correspondentes às 9
horas. ..................................................................................................................................................................... 71
Figura 6.29 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”. ......... 72
Figura 6.30 – Identificação dos locais onde ocorreu alteração de revestimento do piso. ...................................... 73
Figura 6.32 – Resultados da TMR dos cenários “Praça 1” e “Praça 2”. ................................................................. 74
Figura 6.34 – Resultados da Ta dos cenários “Praça1”, “Praça 3” e “Praça 4”. .................................................... 76
Figura 6.35 – Resultado da TMR dos cenários “Praça 1”, “Praça 3” e “Praça 4”. .................................................. 76
Figura 6.36 – Resultados da Radiação Solar Direta para os cenários “Praça 1” e “Praça 5”. ............................... 77
Figura 6.37 – Resultados da Temperatura do ar para os cenários “Praça 1” e “Praça 5”. ..................................... 78
Figura 6.38 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “Praça 1” e “Praça 5”. .................................. 78
Figura 6.40 – Resultados da Temperatura do ar para os cenários “Praça 1” e “Praça 6”. ..................................... 79
Figura 6.41 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “Praça 1” e “Praça 6”. .................................. 79
Figura 6.42 – Resultados da velocidade do vento para as diferentes direções consideradas. .............................. 80
xiii
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ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 3.2 - Elaboração própria com base nos autores: Tojo (2007), Nikolopoulou (2004) e Lamberts e Xavier
(2002). ................................................................................................................................................................... 23
Quadro 6.2 - Dados correspondentes aos cenários “Alameda 1” e “Alameda 2”. .................................................. 54
Quadro 6.3 - Dados relativos aos revestimentos de fachadas, obtidos no “DB Manager” do programa “Envi-met”.
............................................................................................................................................................................... 56
Quadro 6.5 - Dados correspondentes aos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 2”. .................................. 65
Quadro 6.6 - Dados relativos aos revestimentos de fachadas, obtidos no “DB Manager” do programa “Envi-met”.
............................................................................................................................................................................... 66
Quadro 6.8 - Dados correspondentes aos cenários “Praça 1” e “Praça 2”. ........................................................... 72
Quadro 6.9 - Dados relativos aos revestimentos de fachadas obtidos no “DB Manager” do programa “Envi-met”.
............................................................................................................................................................................... 75
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SIGLAS E ABREVIATURAS
2D – Duas dimensões
3D – Três dimensões
H – Altura
L - Largura
Ta - Temperatura do ar [ºC]
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INTRODUÇÃO
1.1. ENQUADRAMENTO
As alterações climáticas, e consequentes efeitos, são uma realidade cada vez mais presente e
inevitável, já que representam mudanças que afetam os elementos associados ao clima, quer numa
escala global quer local (Alexandri, 2005).
Os impactos e consequências associados às alterações climáticas são inúmeros, sendo crucial (por
exemplo) a manifestação de temperaturas extremas, que exige especial preocupação, dado que, este
fenómeno, conjugado com o fenómeno das “ilhas de calor” característico das áreas urbanas, terá
efeitos graves nas condições térmicas das respetivas áreas, pondo em causa o seu conforto térmico.
Neste contexto, o ambiente envolvente também será posto em causa, pois as condições oferecidas pelo
mesmo, não serão suficientemente fortes para manterem o conforto térmico nos diferentes espaços
públicos, que constituem as áreas urbanas.
O conforto térmico há muito que tem vindo a ser alvo de preocupação e estudo no interior das
edificações. No entanto, os espaços públicos são locais de permanência que assumem um papel muito
importante na vida social humana e, por isso, devem também ser tidos em conta quer no planeamento
de espaços públicos futuros, quer na reestruturação de espaços públicos já existentes em áreas urbanas
compactas, de modo a evitar o crescimento urbano não planeado e atenuar os efeitos negativos
resultantes das alterações climáticas.
Posto isto, é imprescindível garantir condições climáticas que proporcionem aos eventuais utilizadores
dos espaços públicos a sensação de bem-estar e conforto térmico, para que estes espaços possam ser
ocupados e não se transformem em locais amorfos. Assim, partindo do pressuposto de que "os
materiais, a geometria e as propriedades superficiais das estruturas em torno de um determinado lugar
modificam o clima e o ambiente local" (Givoni, 1998), tornar-se-á importante perceber em que medida
tais fatores são determinantes. Para além destes fatores, o clima de um determinado local também é
determinado por outros elementos morfológicos (como a orientação, a relação altura/largura entre
edificações, a presença de elementos hídricos, elementos de sombreamento, entre outros) e por fatores
climáticos (como a topografia, radiação solar, a altitude, a latitude, os ventos dominantes, entre
outros), que serão alvo de análise neste estudo. No entanto, é importante ter presente que os elementos
e fatores referidos, atuam em conjunto, sendo que cada um deles é o resultado da conjugação dos
demais (Romero, 2013). Assim sendo, da combinação destes, não devem resultar condições adversas
que comprometam a permanência ou visita a determinados espaços nas áreas urbanas, realçando-se,
aqui, o conceito de conforto térmico.
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Infere-se então, que a adaptação do ambiente construído face a possíveis alterações das condições
climatéricas, assume o principal desafio desta problemática, especialmente em áreas urbanas
compactas, uma vez que nestes locais o ambiente já está definido e as possibilidades de intervenção
são reduzidas. Surge então, a necessidade de estudar a influência do ambiente envolvente na noção de
conforto térmico dos espaços exteriores, com o intuito de enriquecer o conhecimento neste sentido,
pelo que, é utilizado um programa de simulação tridimensional (Envi-met), na análise da variação de
parâmetros do ambiente construído e verificação das suas implicações nas principais variáveis
climáticas, que condicionam o conforto térmico humano.
1.2. OBJETIVOS
Na presente dissertação, de forma a sintetizar o desenvolvimento do estudo efetuado, estabelecem-se
como principais objetivos:
▪ Elaborar um enquadramento e estabelecer um ponto de partida com base em todos os estudos
realizados até ao momento;
▪ Realizar simulações, com base em cenários urbanos reais usados como casos de estudo, com
variação de parâmetros que permitam obter e sustentar conclusões, através do software “Envi-
met”;
▪ Apresentar soluções que permitam melhorar o conforto térmico dos espaços públicos
analisados e estabelecer práticas orientadoras gerais, a utilizar no planeamento futuro;
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CLIMA URBANO
2.1. INTRODUÇÃO
Numa perspetiva de contextualizar o estudo da presente dissertação, é importante analisar os conceitos
relacionados com o clima e desmitificar quais os fatores determinantes para caracterizar o clima de um
determinado local. Para tal, deve-se começar por compreender a escala associada ao clima e as trocas
de energia que se estabelecem dentro do sistema Terra-Atmosfera.
As alterações climáticas e os prováveis impactos das mesmas em áreas urbanas são, também,
abordados, uma vez que, enfrentar os desafios climáticos atuais, requer perceber como os climas
urbanos operam no presente e provavelmente irão operar no futuro.
Desta forma, pretende-se que os temas abordados neste capítulo sirvam como base de referência para o
restante estudo efetuado sempre com vista a garantia da qualidade de vida num contexto urbano.
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Figura 2.1 - Escalas urbanas: (a) área metropolitana, (b) cidade, (c) bairro, (d) quarteirão, e (e) rua. Fonte:
Oliveira Panão, et al, (2006).
Pretende-se analisar neste estudo o conforto de espaços públicos, os quais se integram no conceito do
microclima, podendo este ser definido como o clima da camada de ar adjacente à superfície da Terra e
de pequenos lugares, áreas bem definidas de confinamento potencialmente intenso, como uma rua,
uma praça ou um jardim (Cuadrat e Pita, 2009).
De modo a compreender os fatores que interferem na caracterização do clima destes espaços, a
distinção estabelecida por Oke (1976), assume especial importância, na medida em que permite
delimitar os fenómenos físicos que ocorrem entre a atmosfera e o espaço urbano. Esta distinção
consiste na divisão das camadas superiores das áreas urbanas (Figura 2.2).
Figura 2.2 - Camadas da atmosfera urbana: atmosfera urbana superior (UBL) e atmosfera urbana inferior (UCL).
Fonte: Oliveira Panão, et al, (2006).
Como é percetível (Figura 2.2), a atmosfera urbana inferior (UCL, urban canopy layer) é a camada que
vai do solo até à linha fictícia formada pelos edifícios mais altos e onde dominam os fenómenos de
transferência de energia e massa, ou seja, as trocas radiativas entre superfícies e o escoamento de ar. Já
na atmosfera urbana superior (UBL, urban boundary layer), acima dessa mesma linha fictícia, mas
ainda sob influência da cidade, dominam os fenómenos de maior escala temporal e espacial, e
dependem do tipo de utilização da superfície urbana. Assim, o conjunto urbano da cidade influencia
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Schiffer, 2001). Assim, a longitude é medida entre os 0º e os 90º, para Este ou para Oeste do
Meridiano de Greenwich.
Segundo Fitch (1971), mencionado por Romero (2013), o principal fator geográfico é expresso pela
latitude, uma vez que determina a quantidade de energia solar que cada ponto vai receber. Já a
longitude, diz o autor, não possui a mesma importância, pois refere-se essencialmente à localização e
nunca ao clima (Figura 2.4).
Figura 2.4 - A incidência da radiação solar em relação à variação da latitude. (Adaptado de Romero, 2013).
Quanto à altitude, esta é referida em relação ao nível médio das águas do mar e é um dos fatores
determinantes na temperatura, pelo facto de que, com o seu aumento, o ar está menos carregado de
partículas sólidas e líquidas, as quais são responsáveis por absorverem as radiações solares e as
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Figura 2.5 - Composição da radiação solar. Percentagem de ondas eletromagnéticas de diferentes comprimentos
de onda. Adaptado Romero (2013).
A atmosfera é o primeiro filtro que está entre o sol e a terra e determina em grande parte o equilíbrio
energético do planeta. À medida em que a radiação penetra na atmosfera terrestre, a sua intensidade é
reduzida e a sua distribuição espectral é alterada em função da absorção, reflexão e difusão dos raios
solares pelos diversos componentes do ar (Romero, 2013).
Apenas uma pequena parte da radiação ultravioleta atinge a superfície da terra, pois grande parte é
absorvida pelo ozono. Já a radiação infravermelha é absorvida por vapor de água e dióxido de
carbono.
Da radiação solar que penetra na atmosfera, parte é refletida pela superfície da terra ou pelas nuvens,
sendo a restante absorvida pelos níveis inferiores da atmosfera (Figura 2.6), o que leva a um aumento
da temperatura do ar. No entanto, a radiação absorvida pela terra está em equilíbrio com as perdas de
calor que se sentem na mesma, que podem ocorrer por radiação, evaporação (a superfície terrestre
arrefece quando a água se transforma em vapor e se mistura com o ar) e convecção (o ar em contacto
com a superfície terrestre aquece, ficando mais leve e subindo para a atmosfera superior, onde é
dissipado). Segundo Bardou (1980), citado por Romero (2013), o balanço final anual entre estes
fenómenos será nulo.
É importante realçar que a espessura das nuvens quando suficientemente espessa (fenómeno designado
de nebulosidade) e extensível, pode formar uma barreira que impede a penetração de parte
significativa da radiação solar direta. Do mesmo modo, este fenómeno pode dificultar também a
dissipação do calor proveniente do solo, durante a noite (Frota, Schiffer, 2001).
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Figura 2.6 - Fenómeno de absorção e reflexão da radiação solar na Terra. (Adaptado de Romero, 2013)
Importa dar ênfase a que a radiação solar absorvida pela atmosfera é variável ao longo do ano e de
acordo com a latitude. Este fenómeno pode ser melhor elucidado com a demonstração do movimento
aparente do Sol em relação à Terra (Figura 2.7).
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2.3.1.3. Vento
O vento é uma consequência direta da variação da pressão atmosférica que pode ser explicada, entre
outros fatores, pelo aquecimento e arrefecimento das terras e mares, pelo gradiente de temperatura no
globo e pelo movimento de rotação da Terra (Cortesão, 2013). As causas da variação da pressão
atmosférica devem-se à heterogeneidade do globo terrestre do ponto de vista da absorção local de
energia solar e da diversidade nas trocas energéticas no interior das próprias correntes gasosas ou nas
suas proximidades (Ferreira, 1965), denominando-se a pressão atmosférica como a ação exercida pela
massa de ar que existe sobre as superfícies.
A análise do vento é uma matéria bastante complexa, quer nos fenómenos que lhe dão origem quer na
forma como se comportam. É descrito por magnitude, direção e sentido, em que pequenas mudanças
na configuração de um espaço podem mudar drasticamente o seu padrão (Nikolopoulou, 2004), sendo
por isso uma variável muito instável. Assim sendo, este apresenta um comportamento distinto quando
comparadas áreas rurais e urbanas, pelo facto de os espaços urbanos representam condições fronteira
na sua propagação.
Deste modo, à medida que o ar flui do ambiente rural para o urbano, ajusta-se às novas condições
fronteira definidas pelas cidades, resultando num comportamento distinto nas diferentes camadas
anteriormente ilustradas na figura 2.2. Na atmosfera urbana inferior (UCL), correspondente em termos
da análise do vento, a camada “obstruída”, o comportamento do vento é orientado pelas características
locais como a topografia, geometria das construções, dimensões das ruas, presença de árvores, entre
outras, resultando naturalmente na diminuição da velocidade do vento nesta camada em relação à
camada não obstruída (UBL).
Cortesão (2013) refere, que como o comprimento da rugosidade é maior nas áreas urbanas do que nas
áreas rurais circundantes, a velocidade do vento (V) em qualquer altura (H), é menor nas áreas urbanas
e muito menor dentro das áreas obstruídas.
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2.3.2.1. Topografia
A topografia é o resultado de processos geológicos e orgânicos e também afeta a temperatura do ar, a
nível local.
Além da natural diferença de radiação solar proveniente de orientações distintas, um relevo acidentado
pode constituir uma barreira aos ventos (Figura 2.9), modificando, muitas vezes, as condições de
humidade e de temperatura do ar em relação à escala regional (Frota, Schiffer, 2001).
Figura 2.9 - Esquema representativo da influência da topografia no microclima. (Fonte: Romero, 2013).
2.3.2.2. Vegetação
A vegetação contribui de forma significativa no estabelecimento dos microclimas. Em geral, a
vegetação tende a estabilizar os efeitos do clima nos arredores imediatos, reduzindo os extremos
ambientais (Figura 2.10).
A este respeito, Mascaró e Mascaró (2002) defendem que a vegetação “ameniza a radiação solar nas
estações quentes, através da sombra; reduz a carga térmica recebida pelos edifícios, veículos e peões;
modifica a velocidade e direção dos ventos; atua como barreira acústica; reduz a poluição do ar através
da fotossíntese e da respiração”.
Um espaço com vegetação pode absorver uma maior quantidade de radiação solar e, por sua vez,
irradiar uma quantidade menor de calor comparativamente a uma superfície construída, uma vez que
grande parte da energia absorvida pelas folhas é utilizada para o seu processo metabólico, enquanto
que no caso de alguns materiais toda a energia absorvida é transformada em calor.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 2.10 - Efeito regulador da vegetação nas radiações de grande comprimento de onda. (Adaptado de
Romero, 2013).
Figura 2.11 – Esquema representativo das perdas de calor noturno dos materiais utilizados na construção.
(Adaptado de Romero, 2013).
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Para além da capacidade de armazenamento de calor dos diferentes materiais, torna-se imprescindível
conhecer o valor de albedo associado aos mesmos, sendo este o parâmetro que traduz a proporção da
quantidade da luz do sol que é refletida pelo material em relação à que sobre ele incide.
Segundo Lynch (1981), se o solo possui um albedo baixo e uma condutibilidade alta, o microclima
resultante é suave e estável, uma vez que o excesso de calor é absorvido e armazenado rapidamente e,
quando as temperaturas diminuem, é rapidamente devolvido. Os materiais de superfície com alto
albedo e baixa condutibilidade contribuem para criar um microclima de extremos, já que não
contribuem no equilíbrio dos contrastes.
Assim, a natureza dos materiais superficiais assume extrema importância tendo em conta a finalidade
que se pretende alcançar, isto porque, como será abordado nos capítulos seguintes, baixos valores de
albedo não são adequados para atenuar o stress térmico dos espaços públicos.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Os efeitos resultantes das alterações climáticas levam a que latitudes que atualmente não apresentam
verões quentes, possam, no futuro, apresentar essas mesmas condições ou similares, assumindo uma
grande preocupação.
Posto isto, a adaptação do ambiente construído às alterações climáticas deve rapidamente ser
materializada em projetos reais de espaço público e antecipada a resposta a possíveis necessidades
futuras, evitando situações de possível desconforto social.
Assim, em áreas urbanas compactas é necessário obter o maior benefício das estruturas existentes, por
forma a alcançar melhorias no microclima de espaços públicos ao ar livre.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
CONFORTO TÉRMICO
3.1. INTRODUÇÃO
Neste capítulo pretende-se compreender o conceito “conforto térmico”, quais as exigências do ser
humano para alcançar esta sensação, de que fatores depende e de que forma pode ser avaliado e
controlado para que se estabeleça um equilíbrio entre o ambiente construído e o clima, proporcionando
conforto (térmico) aos utilizadores dos espaços públicos.
Para a existência ou não de conforto térmico nos espaços públicos, assumem especial importância
algumas variáveis, tanto ambientais como humanas, pelo que são analisadas. As possíveis formas de
transferência de calor entre o Homem e o ambiente são, também, abordadas.
Desta forma, permite o presente capítulo desenvolver um conhecimento sólido sobre os conceitos
abordados, de modo a que se possa prosseguir e estabelecer a relação destes com os restantes temas
abordados nesta dissertação.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 3.1 - Transferência de calor entre o Homem e o ambiente. (Adaptado de Romero, 2013).
O equilíbrio térmico do Homem com o meio ambiente é assegurado pelos seguintes processos de
trocas térmicas:
3.3.3. RADIAÇÃO
Trata-se de um fenómeno de transferência de calor de um corpo a uma determinada temperatura para
outro de temperatura inferior, através de ondas eletromagnéticas. Quando estas entram em contacto
com um corpo a temperatura inferior, transformam-se em energia calorífica. Este modo de
transferência de calor é independente do meio, pois é a própria variação de temperatura entre os corpos
que determina a quantidade de energia transferida, juntamente com as propriedades de emissividade e
absorção das superfícies intervenientes. Em condições de ar puro, estas são a principal fonte de perda
de calor, enquanto que sob a velocidade do vento, a perda de calor por convecção pode ser mais
importante (Cortesão, 2013).
Assim sendo, “Todas as substâncias radiam energia térmica sob a forma de ondas eletromagnéticas.
Quando esta radiação incide sobre outro corpo, pode ser parcialmente refletida, transmitida ou
absorvida. Apenas a fração que é absorvida surge como calor no corpo” (Almeida, 2009).
3.3.4. CONDUÇÃO
A condução de calor ocorre quando a temperatura do ambiente circundante é diferente da temperatura
do organismo. Quando a temperatura do organismo é superior à do ambiente, ocorre transferência de
calor do corpo para o ar circundante - esta manifestação origina um ciclo de convecção provocado pela
ascensão do ar quente que substitui o ar frio. No entanto, se as posições de temperatura forem
invertidas, o processo ocorre no sentido inverso e, caso não se verifiquem diferenças de temperatura, o
processo é nulo, ou seja, não ocorre.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Posto isto, ocorre o fenómeno de condução “Quando a transferência de calor se realiza através de
sólidos ou líquidos que não estão em movimento (por exemplo através do contacto de partes do corpo
com elementos da envolvente, contacto entre um corpo quente e um frio)” (Almeida, 2009).
3.3.5. CONVECÇÃO
Convecção é o termo que designa as trocas de calor que ocorrem entre elementos líquidos e gasosos
quando estes manifestam diferentes temperaturas. Neste fenómeno a transferência de calor ocorre
através de fluidos em movimento e só se manifesta nos líquidos e nos gases.
O ar, quando em contato com uma superfície mais quente, aquece e, consequentemente, torna-se
menos denso e afasta-se da superfície, levando energia com ele. Por outro lado, se o ar entrar em
contato com uma superfície de temperatura inferior, o calor é transferido para a superfície (Cortesão,
2013).
Deve realçar-se que, durante o dia, a convecção constitui o principal processo de transporte de calor a
partir de uma superfície, independentemente da forma de fluxo de calor sensível ou latente. Por sua
vez, durante a noite, esta situação é revertida, uma vez que a condução ascensional que ocorre no solo
é mais eficaz e a convecção do calor latente é menos efetiva (Cortesão, 2013).
Assim sendo, convecção verifica-se “Quando a transferência de calor se realiza através dos fluidos em
movimento, e por isso só tem lugar nos líquidos e nos gases (por exemplo o movimento do ar sobre o
corpo)” (Almeida, 2009).
3.3.6. EVAPORAÇÃO
A evaporação é um fenómeno que pode ocorrer ao nível da pele, por transpiração ou sudação, mas
também ao nível das vias respiratórias, através da respiração. Este é um fenómeno de elevada
importância fisiológica, pois constitui uma perda de calor para o corpo, representando assim uma
importante forma de estabilização de temperatura. Destaca-se aqui, então, que “Uma via de grande
importância em fisiologia é a evaporação, que constitui uma perda de calor. Esta evaporação pode dar-
se através da transpiração, através da sudação, quando se dá ao nível da pele e arrefece a sua
superfície, ou através da respiração, ao nível das vias respiratórias” (Almeida, 2009).
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
recolhidos no ambiente através de medições (temperatura do ar, humidade relativa do ar, velocidade
do vento, radiação solar e temperatura média radiante).
Estabelecer parâmetros relativos às condições de conforto térmico requer incorporar, além das
variáveis climáticas citadas, a temperatura das superfícies presentes no ambiente e a atividade
desenvolvida pelas pessoas.
▪ a idade, que também interfere na atividade metabólica, pois quanto mais avançada, menor a
atividade metabólica e, por essa razão, há tendência a preferir temperaturas mais elevadas;
▪ o peso e altura, mais especificamente o índice de massa corporal, na medida em que, quanto
mais alto e magro for um individuo, mais energia consegue dissipar, tolerando assim maiores
amplitudes térmicas e, neste caso, temperaturas mais elevadas;
▪ atividade física, visto que qualquer movimento ou atividade desempenhada por um indivíduo,
corresponde a um valor atribuído para a quantidade de energia produzida. Uma vez que o ser
humano está constantemente a produzir e libertar energia, quanto maior a atividade física,
maior será também a energia que o corpo necessitará de produzir.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 3.2 – Possíveis formas de transferência de calor entre o Homem e o ambiente. (Fonte: slides teóricos da
disciplina de térmica dos edifícios, 5ºano do MIEC).
Baldini e Tavares (1985) defendem que os limites de temperatura onde se verifica uma sensação de
desconforto térmico variam de acordo com a individualidade humana, uma vez que cada indivíduo
está adaptado a um clima específico.
▪ Temperatura do ar
A temperatura do ar pode ser expressa em kelvins (K) ou em graus Celsius (°C) e traduz o balanço
energético entre a superfície terrestre e a atmosfera, variando de local para local e não constante no
tempo. A insolação, a natureza da superfície, a localização dos elementos hídricos, o relevo e a
natureza dos ventos dominantes influenciam esta variável (Ayoade, 2001).
Rivero (1985) classifica os limites de conforto a partir da temperatura do ar, expressos no Quadro 3.1.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
▪ Humidade relativa do ar
A humidade relativa corresponde à relação do teor de vapor de água existente no ar com a quantidade
máxima que poderia conter para uma determinada temperatura. Indicada em percentagem (%), é a
razão, para uma determinada temperatura, entre o número de gramas de vapor de água existente em
1m³ de ar e o número máximo de gramas de água que 1m³ de ar pode conter (Ruas, 1999).
Somente para valores extremos de humidade relativa, ou muito altos (humidade) ou muito baixos
(secura), e muitas vezes em conjugação com certas condições (temperatura do ar), aumentando o seu
efeito, a sensação térmica das pessoas é afetada por esta variável (Nikolopoulou e Lykoudis, 2006).
Em geral, quanto menor for a temperatura do ar ou maior a velocidade do vento, maiores valores de
humidade relativa podem ser tolerados pelas pessoas. Relaciona-se, também, de forma direta, com a
proximidade dos recursos hídricos.
Assim sendo, poderão definir-se as seguintes condições para os diferentes intervalos de humidade
relativa presentes no Quadro 3.2.
Quadro 3.2 - Elaboração própria com base nos autores: Tojo (2007), Nikolopoulou (2004) e Lamberts e Xavier
(2002).
Intervalos Condição
≤ 20 % Muito seca
20% - 30% Seca
30% - 70 % Média
≥ 70% Húmida
Altos níveis de secura podem afetar o corpo humano, secando a pele e as superfícies mucosas, o que
pode levar ao desconforto, através do nariz seco, garganta, olhos e pele (ASHRAE, 2005). Por sua vez,
condições de humidade relativa elevada provocam excesso de humidade da pele. Trata-se também de
um fator que influencia a dissipação do calor por evaporação, pois quando o ar se encontra com baixa
humidade relativa, absorve mais rapidamente a água; no entanto, quando este está mais saturado, o
processo torna-se mais lento. A humidade do ar de impacto mais direto sobre o conforto térmico
humano está no "potencial ambiental de evaporação e na forma como o corpo se adapta às mudanças
no potencial evaporativo" (Givoni, 1998).
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
A temperatura média radiante (TMR) ou temperatura média de radiação das superfícies vizinhas é uma
média de todas as temperaturas de superfície dos elementos do ambiente circundante ponderada pela
proporção da superfície corporal face a cada superfície em particular.
Geralmente expressa em Kelvins (K) ou em Graus Celsius (ºC), a temperatura média radiante é
utilizada para avaliar a troca de calor radiante entre o corpo humano e o ambiente bem como, para o
efeito do contato direto entre o corpo e uma determinada superfície.
As superfícies dos elementos constituinte do ambiente circundante ao libertarem calor por radiação
permitem que o corpo absorva as ondas, fazendo essa captação energética com que o corpo aqueça ou
arrefeça em função dos elementos que o envolvem, condicionando assim o conforto térmico.
A temperatura média radiante (TMR) é uma “média de todas as temperaturas de superfície do recinto,
ponderada pela proporção da superfície corporal face a cada superfície em particular” (Spagnolo e
Dear, 2003).
Conforme citado por Cortesão (2013), um estudo realizado por Spagnolo e Dear, (2003) sobre o
conforto térmico ao ar livre em Sydney, constatou que a maioria das pessoas relatou sentir-se
confortável dentro de uma faixa de TMR de 24 ° C a 30 ° C.
▪ Velocidade do vento;
A velocidade do vento é uma variável muito instável, descrita por magnitude, direção e sentido.
A velocidade do vento descreve “a taxa de movimento do ar num ponto, sem levar em conta a
direção” (ASHRAE, 2010), medido e geralmente expresso em metros por segundo.
De acordo com o IPMA, o vento poderá ser classificado a partir da sua velocidade conforme definido
no Quadro 3.3.
De acordo com Oke (1987), os pedestres sentem o vento desagradável quando este se aproxima dos
5m/s, desconfortável para velocidades a rondarem os 10 m/s e potencialmente perigosos quando
atingem velocidades próximas de 20 m/s.
A velocidade do vento (V) é um fator que acelera os mecanismos de transferência de calor entre o
corpo e o ambiente, sejam eles por convecção, evaporação ou condução.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Givoni (1998), refere que para temperaturas do ar (Ta) abaixo de 33°C, o aumento da velocidade do
vento pode reduzir a sensação de calor, na medida em que ocorre o aumento da sua perda por
convecção, diminuindo desta forma a temperatura da pele. Para temperaturas do ar entre 33°C e 37°C,
a velocidade do vento não tem um efeito significativo sobre a sensação térmica, embora sob
determinados valores de humidade relativa e níveis de vestuário, pode contribuir para o desconforto de
humidade excessiva da pele. Finalmente, para temperaturas do ar acima de 37°C, o aumento da
velocidade do vento pode efetivamente aumentar a sensação térmica de calor, ainda que possa reduzir
a humidade da pele.
Dependendo do clima, o mesmo valor da velocidade do vento pode ser considerado desejável ou
indesejável. Em climas frios o vento quase sempre diminuirá as condições de conforto ao ar livre,
enquanto que em climas quentes será o oposto (Nikolopoulou, 2004).
A radiação solar direta é “o fluxo radiante total recebido pela área unitária de uma dada superfície”
(Oke, 1987). É considerada para determinar a troca de calor radiante entre o corpo humano e o
ambiente e é geralmente expressa em Watts por metro quadrado (W/m2).
A radiação solar direta que atinge a superfície é provavelmente a influência mais significativa do
microclima (Oke, 1987) e a responsável pelos valores de desconforto máximo (Ali-Toudert e
Mayer, 2007b).
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
ESPAÇOS PÚBLICOS
4.1. INTRODUÇÃO
Após uma abordagem às exigências humanas relativas aos parâmetros necessários para a obtenção da
sensação de conforto, torna-se desafiante analisar e compreender em que medida os espaços públicos e
as características dos materiais constituintes são determinantes para que se atinjam melhores condições
térmicas para as pessoas possam satisfazer as suas necessidades nestes locais.
Neste contexto, apresenta-se no presente capítulo os principais elementos que regem o microclima dos
espaços públicos urbanos ao ar livre, evidenciando condições e estratégias para projetar ou adaptar
espaços urbanos de modo a atingir melhores condições de conforto, mas também para fazer face ao
aumento substancial dos extremos de temperatura causados pelas alterações climáticas.
4.2. ENQUADRAMENTO
Pretende-se então, através de uma abordagem cuidadosa aos espaços urbanos, perceber as variáveis
que condicionam o microclima, para que seja possível adaptar cada situação a um clima particular e
desta forma proporcionar condições de bem-estar para quem frequenta estes espaços.
A qualidade dos espaços públicos e a sua utilização pelos cidadãos está fortemente relacionada com as
condições que o espaço oferece em si, quer ao nível visual, funcional e de conforto (Mendes, 2013).
Assim, não é suficiente garantir apenas condições de conforto térmico, mas também ter em conta
outros aspetos que comprometerão a utilização e afluência a estes espaços:
▪ Aspetos funcionais - Devem ajustar-se ao fim a que se destinam, ou seja, o espaço em si, os
equipamentos e o modo de disposição devem ter em atenção a finalidade do espaço. Deve ser
tida em consideração a ergonomia de cada um dos elementos que configura o espaço.
▪ Aspetos de visuais – Através dos materiais utilizados, dos espaços verdes implantados e de
outros fatores que poderão ser tidos em conta, deverão ser criados espaços que proporcionem
um equilíbrio visual e que vá ao encontro das necessidades dos espaços envolventes.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Posto isto, os espaços públicos devem contemplar os aspetos anteriormente mencionados, pois só
dessa forma se atingirá o conforto e os espaços serão ocupados e visitados. Nesse sentido, os espaços
públicos que não oferecem essas condições devem ser adaptados
Figura 4.1 – Esquema representativo do fenómeno “ilha de calor”. Fonte: Romero (2013).
Conforme mencionado por Mendes (2013), a maioria dos estudos sobre clima urbano apontam para
uma relação direta entre as ilhas de calor e as áreas centrais das cidades, onde normalmente há uma
maior área de edificações, onde a ventilação é reduzida e onde se verifica uma ausência quase total de
vegetação.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Para Giralt (2006), estas condições problemáticas podem estar relacionadas com a rugosidade, a
ocupação do solo, a verticalização dos edifícios, a orientação, a permeabilidade e as propriedades dos
materiais constituintes e a redução das áreas verdes.
Além dos fatores apontados como responsáveis pela formação das “ilhas de calor”, as características
das cidades também contribuem para o seu agravamento, devido às atividades que nelas se
desenvolvem, à impermeabilização dos solos, às massas de edificadas que modificam o curso natural
dos ventos e à poluição gerada que modifica as condições do ar quanto à sua composição química e
odores.
O conjugar destas alterações leva a que a precipitação em forma de chuva seja favorecida devido às
partículas sólidas em suspensão no ar, que contribuem para a aglutinação das partículas de água que
formarão a gota de chuva. Podendo então referir-se, que os impactos resultantes estabelecem um
processo de influencia continua.
4.4.2. ORIENTAÇÃO
A orientação é um dos fatores de maior relevância para se atingir o conforto térmico de espaços
públicos. Juntamente com a altitude e topografia que um determinado local apresente, a orientação de
um espaço público determina a sua exposição à radiação solar e aos ventos dominantes e
consequentemente, terá impacto na temperatura do ar e no conforto do ser humano.
Quando se projeta uma nova área urbana deve-se escolher a melhor orientação para que se atinjam
microclimas equilibrados. Nestes casos, o processo inicia-se do zero e existe a possibilidade e
liberdade de escolha da orientação que melhor permita conjugar as relações físicas dos edifícios com a
topografia e a localização dos espaços abertos. Já em áreas urbanas previamente existentes com
estrutura definida, terão que se optar por intervenções de menor escala para se melhorar o microclima.
Nestas situações, em que existe o condicionalismo do pré-existente, deve-se tentar reiterar o melhor
proveito da orientação existente, servindo como referência geral a esta abordagem, que é difícil
atenuar o stress térmico de um espaço com orientação Este-Oeste, pelo facto do sombreamento
proporcionado pelos edifícios quando dispostos nesta direção ser bastante reduzido.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 4.2 – Exemplo de uma relação H/L elevada (rua estreita). “Rua Mourisca” localizada no centro da vila de
Arouca.
Quanto maior a distância entre as fachadas, menor será a influência entre elas e entre a superfície
horizontal. Por sua vez, quanto menor a distância entre as fachadas, mais provável é que se
influenciem entre si assim como, a superfície horizontal entre elas. Consequentemente, quanto maior o
espaço, maior a energia radiante dissipada.
O aprisionamento de energia dentro de um espaço leva a que o microclima aqueça progressivamente à
medida que o dia avança. O princípio subjacente a este fenómeno está relacionado com o facto de os
diferentes elementos superficiais de um espaço apresentarem propriedades energéticas diferentes,
levando a interações mutuas por troca radioativa (Arnfield, 2003).
Assim, deve-se ter em consideração a quantidade de radiação solar direta que atinge um espaço e as
propriedades físicas dos materiais de revestimento existentes, uma vez que estes determinam a
capacidade de armazenar e libertar calor.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
4.4.4. CORES
A cor é uma propriedade extrínseca de materiais, isto é, os materiais em si não possuem a propriedade
de cor, uma vez que a cor é completamente dependente da distribuição espectral da luz incidente
(Addington e Schodek, 2005).
Apenas os irradiadores primários ou as fontes de luz natural, como o sol, fogo ou lâmpadas, possuem
cor própria. No entanto, as cores como propriedades extrínsecas dos materiais afetam o microclima de
um espaço. Por exemplo, espera-se que uma pessoa se sinta mais quente num espaço com um esquema
de cores predominantemente vermelho, enquanto num espaço predominantemente azul deva sentir-se
mais fria (Fanger, 1972).
Associado às cores encontra-se também o albedo (abordado no ponto 4.4.6.4), na medida em que, a
cores claras (frias) correspondem valores de albedo elevados enquanto que, a cores escuras (quentes)
correspondem valores de albedo baixo e, portanto, maior absorção da radiação solar.
Posto isto, e tendo em conta que a radiação que atinge as fachadas e o solo são refletidas dentro de um
determinado espaço, é notória a influência das cores na determinação do microclima de um
determinado espaço público.
Para Pomerantz, Akbari et al. (1999), a conversão de cores escuras em cores claras pode ser incluída
na gama de estratégias para combater a ilha de calor urbano.
4.4.6. MATERIAIS
4.4.6.1. Considerações gerais
Os materiais utilizados na construção possuem uma série de parâmetros que devem ser considerados
em projetos de arquitetura e design urbano. Os parâmetros relativos à humidade e os parâmetros óticos
são os mais relevantes para o microclima dos espaços públicos exteriores, nomeadamente as
propriedades:
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Estas propriedades são as responsáveis por governarem os mecanismos de troca de calor na superfície
de um espaço através dos mecanismos de condução, convecção e radiação que ocorrem ao nível do
revestimento exterior dos edifícios.
Assim, através da escolha adequada dos materiais para um determinado espaço, pode ser possível
reduzir a capacidade de estas superfícies armazenarem calor e também aumentar a capacidade de
libertarem o calor acumulado com maior facilidade, contribuindo desta forma para a redução do stress
térmico e consequentemente para a melhoraria das condições de conforto térmico.
Romero (2001) refere que é possível moldar um espaço através dos seus materiais. As propriedades
permeabilidade à água, emissividade e a reflexão são abordadas com maior detalhe de forma a
entender as razões pelas quais estas propriedades estão subjacentes a essa afirmação.
4.4.6.3. Emissividade
A emissividade é o parâmetro que descreve o calor irradiado por uma superfície quando comparada
com um “corpo negro” à mesma temperatura (Hegger, Auch-Schwelk et al., 2006).
A radiação incidente num corpo pode ser refletida, absorvida e transmitida. Um “corpo negro” é
aquele que se caracteriza por absorver toda a radiação que sobre ele incide.
Para um mesmo valor de reflectância, materiais de baixa emissividade mantêm uma temperatura
superficial mais elevada no solo do que materiais de alta emissividade (Bretz, Akbari et al., 1998).
Poderá dizer-se então que, materiais de alta emissividade podem ser benéficos para o microclima de
espaços públicos exteriores, especialmente quando associados a valores de elevada reflectância.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
4.4.7. VEGETAÇÃO
4.4.7.1. Considerações gerais
Enquanto que alguns dos parâmetros associados aos materiais governam os mecanismos de troca de
calor nas superfícies do espaço, a vegetação pode reduzir a quantidade de radiação solar direta que
atinge as superfícies do espaço e favorece o arrefecimento evaporativo. Os parâmetros biofísicos de
sombreamento e a evapotranspiração estão subjacentes a esses fatos. Como Rosenfeld, Akbari et
al., (1995) referem, as árvores arrefecem os arredores protegendo superfícies e aumentando a
evapotranspiração.
Os benefícios da vegetação para as áreas urbanas são inúmeros. Giovani (1998) elaborou uma
abrangente lista de vantagens resultantes da implementação de vegetação e área verdes em centros
urbanos, das quais se apresentam as que se demonstraram mais relevantes:
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Funções sociais/psicológicas:
▪ Permitem criar parques de lazer agradáveis para todas as faixas etárias;
▪ Permitem criar locais para a prática de desporto;
▪ Permitem criar locais de reunião;
▪ Fornecem a possibilidade de isolamento e fuga à monotonia;
▪ Enriquecem a estética paisagística de uma cidade;
Focando os benefícios da implementação de vegetação para o clima urbano, os quais são relevantes
para o tema e, segundo Dimoudi e Nikolopoulou (2003), através dos parâmetros biofísicos da
vegetação, é possível refletir a radiação solar (criando sombra), promover o arrefecimento (através da
evaporação) e reduzir e difundir a velocidade do vento, contribuindo para a melhoria do microclima.
Gomez, Jabaloyes et al., (2004), referem que dependendo da quantidade de radiação solar e das
características de cada espécie, como ramos, forma, distribuição, densidade da folhagem e
características da foliação, da radiação solar que atinge a superfície da Terra (100%), uma árvore
"absorve entre 5 e 20% para fotossíntese, reflete 5-20%, dissipa 20-40% por evapotranspiração, emite
10-15% e transmite 5-30%".
Devido a estas propriedades, a implementação de vegetação e espaços verdes em meios urbanos
constitui uma estratégia económica na melhoria do microclima, operando muitas vezes como
“corretor” e “atenuador” de condições climáticas indesejáveis.
A este respeito Mascaró e Mascaró (2002) referem que a vegetação “ameniza a radiação solar nas
estações quentes, através da sombra; reduz a carga térmica recebida pelos edifícios, veículos e peões;
modifica a velocidade e direção dos ventos; atua como barreira acústica; reduz a poluição do ar através
da fotossíntese e da respiração”.
Posto isto, é importante compreender a relação entre o ambiente e o papel específico da vegetação,
bem como todas as características individuais das plantas, pois só desta forma é possível projetar
corretamente (Peretti, Marino et al., 2005).
A vegetação deve ser utilizada para proporcionar sombreamento quando este é necessário, atenuando,
assim, os efeitos da radiação solar. Pode também atuar como um filtro das radiações absorvidas pelo
solo e pelas superfícies construídas, arrefecendo os ambientes próximos, uma vez que a folhagem das
árvores atua como defesa protetora das superfícies que se localizam imediatamente abaixo e nas
proximidades (Figura 4.3).
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 4.3 – Efeito refrescante provocado pela vegetação. Fonte: Romero (2013).
4.4.7.2. Sombreamento
O sombreamento é uma propriedade física das árvores de acordo com a qual a radiação solar direta
que atinge qualquer conjunto de árvores é refletida, absorvida pela folhagem ou transmitida para o
solo, no entanto, afetada a sua proporção e composição espectral, chegando ao mesmo (solo) como
radiação difusa (Oke, 1987).
A capacidade de as árvores reduzirem a radiação solar direta que atinge o solo depende de parâmetros
como densidade, altura, espécie ou ângulo de incidência solar.
O sombreamento é conveniente não só para o microclima dos espaços públicos exteriores, mas
também para os espaços interiores, uma vez que as plantas intercetam a radiação solar antes desta
atingir os edifícios (Akbari, Pomerantz et al., 2001), ajudando a controlar a radiação térmica dessas
superfícies e desta forma diminuir a quantidade de calor irradiado para as suas envolventes.
4.4.7.3. Evapotranspiração
A evapotranspiração é uma função biológica comum a todas as plantas que consiste na perda de água
para a atmosfera através da evaporação e transpiração (Santamouris, 2001).
A transpiração é um processo que as plantas realizam continuamente para viver e consiste na perda de
água sob a forma de vapor através dos poros das suas folhas. Já a evaporação ou arrefecimento por
evaporação ocorre devido ao ar quente que circula junto da superfície das folhas, que se encontram
húmidas e absorvem parte do calor contido no ar e evaporam-no, arrefecendo o mesmo. Geiger (1950),
afirma que a quantidade de evaporação realizada depende da temperatura a que se encontra a
superfície de evaporação, e não da temperatura do ar.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
até mesmo para o aumento da sensação de conforto, terá que se recorrer a este tipo de dispositivos que
são usualmente utilizados em espaços públicos.
Quando adequadamente projetados e posicionados, os dispositivos de sombreamento "podem
efetivamente controlar a radiação direta do sol e bloquear parcialmente a radiação difusa e refletida"
(Stack, Goulding et al., 2001).
Estes assumem-se como uma oportunidade de adaptação em espaços públicos beneficiando da
facilidade de mobilização, mas em contrapartida de reduzida escala. São exemplos destes dispositivos
os “Guarda-sol” que normalmente se utilizam nas esplanadas dos cafés.
Salienta-se que a vegetação, quando planeada corretamente, pode reduzir consideravelmente a
necessidade de dispositivos de sombreamento externos.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Os materiais e a vegetação podem ajudar a aproveitar ao máximo as estruturas existentes no que diz
respeito ao fornecimento de condições para o conforto térmico. Os materiais, na medida em que
permitem a redução da capacidade das superfícies armazenarem calor ou potenciar as suas capacidades
para libertar o calor absorvido. Segundo Romero (2001), é possível moldar o clima de um espaço
através de seus materiais. Já a vegetação, através dos seus parâmetros biofísicos, reduzindo a
quantidade de radiação solar direta que atinge as superfícies do espaço e favorecendo as perdas de
calor por arrefecimento evaporativo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
CASO DE ESTUDO
5.1. INTRODUÇÃO
Neste capítulo será realizada uma breve apresentação e descrição do local de estudo selecionado e dos
espaços públicos alvos de análise. Será também efetuada a justificação da escolha dos mesmos na
medida em que nos permitirá obter os resultados esperados.
É ainda apresentado o programa utilizado como ferramenta de estudo (“Envi-met”), descrito o seu
modelo de funcionamento e algumas das suas potencialidades bem como, a demonstração dos
diferentes procedimentos que foram necessários para o manuseamento do mesmo.
Pretende-se então, para os espaços públicos selecionados, efetuar variações paramétricas e analisar a
influência resultante mantendo como alvo de observação as mesmas variáveis microclimáticas,
permitindo desta forma relacionar o impacto dessas mesmas variações assim como, a forma como se
manifestam em diferentes tipologias de espaços públicos.
Por fim, serão tecidas algumas considerações empregues para a obtenção dos resultados que permitem
cooperar na perceção da análise dos mesmos efetuada no capítulo seguinte.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 5.1 – Localização geográfica do local de estudo no mapa de Portugal Continental. (Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arouca)
Sendo a análise do conforto térmico dos espaços públicos o principal objetivo deste estudo, torna-se
imprescindível referir a sua definição, que se assume simples em relação à sua delimitação física no
meio urbano e simultaneamente complexa em relação ao seu significado social e simbólico. Assim,
apresentam-se as visões de diferentes autores:
Brandão, Carrelo et al., (2002), refere que o espaço público pode ser definido como toda a área de
acesso livre e uso coletivo normalmente aberto e não construído.
Krier (1979) oferece uma perspetiva simples sobre a definição de espaços públicos que, sem
considerar critérios estéticos, é que os espaços públicos são "todos os tipos de espaço entre edifícios
em cidades e outras localidades".
Hertzberger (2009), complementa e aprofunda as definições globais apresentadas e afirma que os
espaços públicos são áreas urbanas acessíveis a todos em todos os momentos e cuja responsabilidade
de manutenção é partilhada coletivamente, contrariamente aos espaços privados cuja acessibilidade é
determinada por um grupo ou por uma pessoa, responsáveis pela manutenção do espaço.
Desta forma, o conceito de espaço público fica bem elucidado, importando ainda fazer referência à
distinção entre diferentes tipologias de espaços públicos, ou seja, espaços públicos de permanência,
que se destinam a proporcionar espaços para descanso e lazer das pessoas onde normalmente há uma
maior preocupação com o conforto do utilizador ( locais onde se podem encontrar mobiliário urbano,
como por exemplo, praças, alamedas, jardins) e espaços públicos de passagem em que, embora sejam
de acesso público não existem tantas preocupações com o conforto e bem-estar dos utilizadores.
Assim, tendo em conta o referido, foi selecionado um local que engloba três espaços públicos de
permanência (duas praças e uma alameda), que apresentam continuidade entre si e naturalmente se
encontram envolvidos e conectados por espaços públicos de passagem. Por esse motivo, estes espaços
foram considerados o cenário ideal para o estudo que se pretendeu efetuar, na medida em que são
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
espaços em continuidade visual e física, apresentam uma topografia praticamente plana, uma
orientação oeste-este, as mesmas alturas médias construídas no seu redor, a mesma densidade e
características morfológicas idênticas (por exemplo, cores, materiais de revestimento). Relativamente
ao acesso e circulação de peões, estes espaços também são análogos.
Apresenta-se na Figura 5.2 uma vista aérea do local de estudo selecionado onde são identificados os
três espaços públicos de permanência que serão alvo de análise.
Figura 5.2 – Vista aérea do local de estudo selecionado e identificação dos espaços públicos de permanência.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Este programa permite simular interações entre vegetação, o ar e as superfícies, sendo uma ferramenta
que poderá ser aplicada nas mais diversas ocasiões e áreas, como a climatologia urbana, arquitetura ou
planeamento ambiental.
Assume-se como um software que integra a teoria e a prática do design urbano bioclimático e é capaz
de simular o fluxo em redor e entre os edifícios, processos de troca de calor e vapor em superfícies
urbanas, turbulência, trocas de energia entre a vegetação e seu redor, bioclimatologia e dispersão de
partículas.
Fazem parte dos seus parâmetros de entrada as condições meteorológicas, perfis iniciais de humidade
do solo e temperatura, estrutura, plantas e propriedades físicas de superfícies urbanas, permitindo
através destes, realizar variações e combinações nos diversos cenários a simular.
Figura 5.7 – Barra de Ferramentas do Envi-met 4 Headquarter – separador “Data and Settings”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
A representação dos edifícios é efetuada pela inserção de blocos quadrangulares, com uma altura
previamente definida pelo utilizador, numa malha quadrada que surge na área de desenho conforme é
possível verificar na Figura 5.9.
O facto de a malha de desenho ser composta por uma grelha quadrangular impede a representação de
edifícios cuja área de implantação a representar não seja totalmente retangular. Desta forma, para
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
colmatar esta lacuna, as representações efetuam-se com blocos na diagonal e modo a aproximar o
máximo com a implantação real dos edifícios.
Tendo presente que a versão do software utilizada é experimental, a escolha da vegetação representada
para alguns locais não corresponde exatamente à espécie que se encontra no local devido a não estar
presente na base de dados do programa, no entanto, sempre que possível esta questão foi respeitada e
nos casos em que tal não foi possível, fatores como altura da árvore e largura da copa, foram tidas em
consideração. Como é possível verificar na Figura 5.9, o quadrado representado a verde representa a
localização do tronco das árvores e em torno destes podemos verificar um circulo em tons de verde
mais claros que representa o seu sombreamento.
Relativamente à representação dos diferentes pavimentos, o modo de desenho assume-se semelhante
ao da representação dos edifícios, ou seja, através do preenchimento da malha quadrada.
Após concluir o desenho é possível converter o mesmo e visualizar em 3D, conforme é possível
verificar na Figura 5.10.
Figura 5.10 – Representação “3D” do cenário de estudo criado no separador “Spaces” do programa Envi-met.
É de salientar que o cenário criado é apenas uma aproximação da realidade, no entanto, tendo em
conta as restrições da versão disponível bem como a finalidade meramente académica que se pretende
atingir, considera-se suficiente o nível de representação demonstrado.
O cenário/modelo desenvolvido apresentado na Figura 5.10 foi o primeiro a ser criado e serve como
referência pois ocupa a máxima grelha de desenho permitida pela versão experimental, tornando a
simulação realizada pelo programa bastante demorada.
Após realizar algumas simulações, constatou-se que não só o prolongado tempo para obtenção de
resultados, mas também uma análise não muito clara dos mesmos, não estavam a ir ao encontro do
pretendido, conforme é possível verificar na figura 5.11.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Então, foram criados três cenários distintos correspondentes aos locais de análise, os quais se
apresentam nas seguintes Figura 5.12, Figura 5.13 e Figura 5.14.
Figura 5.12 - Representação “3D” do local de estudo 1 – “Alameda Dom Domingos de Pinho Brandão”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Sendo o conforto térmico o principal foco de análise, as simulações correspondem a um dia de verão,
pois é nesta estação que os espaços públicos assumem maior importância e maior afluência por parte
das pessoas, que naturalmente reduz no inverno devido às condições adversas como chuva e o frio,
permanecendo as pessoas menos tempo nos espaços públicos. No entanto, há que ter pressente que as
estratégias de maior eficiência na melhoraria do microclima urbano para a estação de verão, não
devem traduzir inconvenientes para o inverno.
Deve ser tida em consideração que a versão experimental do software utilizado apenas permite a
utilização de materiais existentes na base de dados do mesmo, pelo que a seleção dos materiais a
utilizar será estratégica de forma a evidenciar tendências consoantes as características de cada
material.
Relativamente ao vento, e sendo este um parâmetro tão incerto no tempo em termos de velocidade,
direção e sentido, o programa apenas permite assumir uma direção para o mesmo, ou seja, a direção
dos ventos dominantes. Assim, o autor, através da Câmara Municipal de Arouca teve acesso aos dados
de monitorização da Estação Meteorológica Automática (EMA) gerida pelo Instituto Português do
Mar e da Atmosfera (IPMA), instalada relativamente próxima dos locais de estudo, permitindo desta
forma obter resultados credíveis relativos aos ventos dominantes no vale de Arouca.
Apresenta-se na Figura 5.15 a rosa dos ventos obtida através dos dados recolhidos pela EMA para um
período de 3 anos (de 2014 a 2016) que permite caracterizar a direção dos ventos dominantes para a
região de Arouca. Após a análise da rosa dos ventos bem como, da informação mensal detalhada que
segue em anexo (Anexo A), é possível constatar que a direção dominante dos ventos exceto para o
mês de dezembro, são ventos de Oeste. Assim, será esta a direção considerada como base nas
simulações a efetuar, sendo que, a influência da direção do vento considerada será verificada assim
como, o impacto provocado nas variáveis de conforto térmico.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 5.15 – Rosa dos ventos de Arouca para o período de 2014 a 2016. Fonte: IPMA.
Figura 5.16 – Radiação Global correspondente à área metropolitana do Porto. Fonte: IPMA -Portal do Clima.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 5.17 – Temperatura média correspondente à área metropolitana do Porto. Fonte: IPMA - Portal do Clima.
Figura 5.18 – Humidade relativa do ar correspondente à área metropolitana do Porto. Fonte: IPMA - Portal do
Clima.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
6.1. INTRODUÇÃO
No presente capítulo descreve-se o estudo efetuado e o procedimento seguido no tratamento de
resultados focando os aspetos mais relevantes da sua análise.
São descritas as diferentes variações paramétricas efetuadas e apresentados sempre que tal se
justifique, os gráficos das variáveis de análise correspondentes, estabelecendo possíveis relações entre
as mesmas e a justificação dos resultados obtidos.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
É possível verificar através da análise da Figura 6.1, que a temperatura do ar (Ta) para o cenário
“Alameda 2” é inferior comparativamente ao cenário “Alameda 1”, resultado da diferença do valor de
emissividade que os dois materiais apresentam.
Apresentando o material de revestimento do piso do cenário “Alameda 2” maior emissividade, fará
com que este liberte maiores quantidades de calor e apresente uma temperatura superficial do
pavimento inferior quando comparado com um material de menor emissividade e igual reflectância,
traduzindo-se em valores inferiores de TMR (visível na Figura 6.2).
Os resultados obtidos permitem estabelecer uma relação com o descrito no Capítulo 4, no qual se
referiu que materiais de alta emissividade contribuem para a melhoria do microclima de espaços
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 6.1 – Resultados da Ta (Temperatura do ar) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 2”.
Figura 6.2 -Resultados da TMR (Temperatura média radiante) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 2”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Das variáveis em análise, a HR também sofrerá alterações consideráveis com esta mudança. Como
seria expectável, com a redução da Ta que ocorre no cenário “Alameda 2” estará aliado um aumento
da HR, possível verificar na Figura 6.3, pois ao diminuir a temperatura o vapor de água existente no
ar irá aumentar.
Figura 6.3– Resultados da HR (Humidade Relativa) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 2”.
Quadro 6.3 - Dados relativos aos revestimentos de fachadas, obtidos no “DB Manager” do programa “Envi-met”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Também referido anteriormente, a radiação solar incidente num corpo pode ser refletida, absorvida e
transmitida. Através da análise do Quadro 6.3 podemos verificar que essa condição é acatada,
correspondendo a soma dos três parâmetros à quantidade de radiação solar incidente (por exemplo:
0.70 + 0.30 = 1).
Quanto à emissividade, os três materiais apresentam o mesmo coeficiente, evidenciando que as
diferenças que se obterão estarão apenas relacionadas com a variação dos restantes parâmetros.
Do primeiro contacto visual dos resultados correspondentes à Ta apresentados na Figura 6.4, destaca-
se a diferença que ocorre no cenário “Alameda 4” comparativamente com os outros cenários. O facto
de o material selecionado para o revestimento das fachadas apresentar um elevado poder de
transmissão, fará com que este transmita grande parte do calor absorvido para o interior dos edifícios,
tornando-se mais “agradável” para o exterior.
Figura 6.4 - Resultados da Ta para os cenários “Alameda 1”, “Alameda 3” e “Alameda 4”.
Na comparação dos cenários “Alameda 1” e “Alameda 3”, os resultados obtidos não foram os
teoricamente expectáveis pois, devido à diferença de absorção e reflexão que os materiais apresentam,
o cenário “Alameda 3” deveria demonstrar-se mais favorável para o clima e, no entanto, não apresenta
diferenças notórias.
Através dos resultados apresentados na Figura 6.5 verifica-se que a TMR do cenário “Alameda 3”
aumenta, o qual apresenta menores valores de absorção no material de revestimento das fachadas e,
pelo contrário, deveria contribuir para uma temperatura média radiante inferior pois absorverá menos
radiação e aquecerá menos contribuindo com uma temperatura de superfície inferior.
Este desvio nos resultados levou a que se verificasse, se de facto o programa estaria a considerar
corretamente os dados introduzidos. Apresenta-se então, na Figura 6.6 os resultados da radiação solar
direta refletida para os dois cenários, na qual é possível verificar que efetivamente o cenário
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
“Alameda 3” apresenta maiores valores de reflexão junto das fachadas dos edifícios e apresenta um
comportamento de acordo com as suas características.
Figura 6.5 - Resultados da TMR para os cenários “Alameda1”, “Alameda 3” e “Alameda 4”.
Figura 6.6 - Resultados da Radiação solar refletida para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 3”.
Assim, apresentando o material de revestimento das fachadas do cenário “Alameda 3” maior poder de
reflexão, a explicação do aumento da TMR do local de estudo poderá estar relacionada com a
envolvente, ou seja, ao possuir maior capacidade de reflecção, as superfícies vizinhas ficam expostas a
uma maior quantidade de radiação (em particular o pavimento), potenciando a que estas absorvam
maior energia sob a forma de calor e consequentemente tornem a TMR do meio mais elevada.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Os aspetos que conduzem a esta análise relacionam-se pelas zonas onde a TMR se eleva, ou seja,
sendo a temperatura média radiante (TMR) uma média de todas as temperaturas de superfície, o facto
de junto das fachadas dos edifícios expostas à radiação solar permanecer a uma temperatura inferior à
do centro da alameda evidencia o contributo do baixo poder de absorção que estas apresentam
(possível verificar no gráfico “Alameda 3” da Figura 6.5).
Tendo em contas as diferenças da capacidade de absorção dos dois materiais, seria expectável que
junto das fachadas orientadas a sul (onde ocorre maior incidência da radiação solar), estas
apresentassem temperaturas junto da superfície inferiores quando comparadas com o cenário
“Alameda 1”, o que não acontece. No entanto, há que ter em atenção que a TMR da envolvente
aumentou, estando o local sujeito a novas condições e o facto de nestes locais se apresentarem
temperaturas semelhantes ao cenário “Alameda 1”, evidencia o seu contributo para a média das
temperaturas de superfície daquela zona.
De forma a poder confirmar e reforçar a análise efetuada, em que se aponta o aumento da TMR do
local a uma maior absorção dos materiais da envolvente aquando da substituição dos materiais de
revestimento das fachadas por materiais de maior reflectância, procedeu-se à remoção da estrada
asfaltada, deixando o solo sem nada, ou seja, sem qualquer dado, uma vez que estamos a lidar com um
programa e podemos manipular desta forma o cenário.
Na Figura 6.7 é possível verificar a cor branca as zonas onde foi retirado o asfalto, o qual apresenta
um valor de albedo de 0,20 e elevado poder de absorção, que passará a assumir absorção nula com a
remoção do revestimento do piso.
Demonstra-se então, através dos resultados apresentados na Figura 6.8, que deixando a estrada
asfaltada de absorver a radiação solar refletida pelas fachadas, a TMR reduz significativamente,
evidenciando que o programa apresenta a sensibilidade de consideração desta ocorrência e que,
embora os materiais de valor de albedo elevado contribuam para a melhoria do clima local, terão
sempre que ser tidos em consideração os materiais existentes na envolvente pois, para o presente local
de estudo, o contributo dos materiais de revestimento de fachadas com alto valor de refletância, é em
grande parte oculto pelos efeitos negativos provocados na envolvente.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 6.8 - Resultados da TMR do cenário “Alameda 1” e do mesmo cenário com remoção de pavimento.
É possível verificar ainda nos resultados correspondentes à TMR, que ocorre uma redução da mesma
nos locais de sombra provocada pelos edifícios assim como, nos locais onde existe vegetação.
Figura 6.9 – Resultados da Radiação solar direta para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 5”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Após retirar a vegetação do local de estudo, e como expectável, a temperatura do ar aumentará nestes
locais (Figura 6.10), deixando de estar protegidos da incidência da radiação solar, o que se traduzirá
num aumento da TMR não só no local onde foi retirada a vegetação, mas também na sua envolvente
(Figura 6.11), pois as superfícies expostas à radiação solar direta aumentam e o processo de
arrefecimento evaporativo das mesmas deixou de ocorrer.
Outro aspeto relevante desta variação é a notória influência que a vegetação apresenta na alteração da
velocidade do vento, onde é possível verificar nos resultados apresentados na Figura 6.12 que a zona
central da alameda após a retirada da vegetação fica exposta a uma velocidade do vento superior ao
que apresentava anteriormente.
Um aspeto importante a destacar relativo a esta ocorrência, é que dependo de outros fatores,
nomeadamente da temperatura do ar, o aumento da velocidade do vento pode tornar-se um aspeto
positivo para o conforto térmico, desde que devidamente controlado.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 6.12 - Resultados da velocidade do vento para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 5”.
Relativamente à humidade relativa (HR) e conforme já constatado nos resultados da Figura 6.3 pode-
se estabelecer uma relação inversa desta variável com a temperatura do ar (TA), ou seja, sempre que a
TA aumenta a HR diminui e vice-versa. Esta ocorrência verifica-se novamente nos resultados
apresentados na Figura 6.13 em que a TA do cenário “Alameda 5” aumentou devido à remoção da
vegetação do local de estudo levando a uma diminuição da HR. Por este motivo, e tendo em conta que
esta relação se mantém, os resultados relativos a esta variável (HR) deixarão de ser apresentados.
Figura 6.13 - Resultados da HR (Humidade Relativa) para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 5”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Como expectável, embora se tenhas efetuado apenas o incremento de um piso aos edifícios, aliados a
este, está uma redução de incidência da radiação solar direta nas superfícies do local de estudo, logo
uma redução da TMR (Figura 6.14) e, consequentemente uma redução da temperatura do ar (visível na
Figura 6.15).
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Em relação à velocidade do vento, e tendo presente a sua sensibilidade a fatores externos para a forma
como se manifesta, o incremento da altura dos edifícios aponta para uma ligeira redução da sua
velocidade de propagação para o local de estudo em causa (Figura 6.16).
Figura 6.16 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 6”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Quadro 6.5 - Dados correspondentes aos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 2”.
Os resultados obtidos para a Ta resultantes desta alteração apresentam-se na Figura 6.17, os quais,
após análise permitem verificar que quanto maior o valor de albedo dos materiais, maiores benefícios
terão para o microclima.
No entanto, fazendo referência à primeira análise em que se variou o revestimento do piso (caso de
estudo 1 - Alameda), e tendo em atenção as diferenças morfológicas e as áreas de intervenção serem
distintas nos dois cenários, os resultados obtidos apontam para que pequenas alterações nos valores de
emissividade se traduzam em maiores alterações para o microclima (quanto mantido o mesmo valor
de albedo) quando comparadas com grandes alterações no valor de albedo dos materiais (e mantido o
mesmo valor de emissividade).
Figura 6.17 – Resultados da Ta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 2”.
Nos resultados apresentados na Figura 6.18 respeitantes à TMR verifica-se novamente a influência dos
materiais existentes na envolvente. Isto, porque embora o material aplicado no piso apresente um
maior valor de albedo, contribuindo teoricamente para a melhoria do clima ambiente, este reflete uma
maior quantidade de radiação, que conforme é possível verificar na Figura 6.18 é absorvida pelas
fachadas e conduz a um aumento da TMR junto das superfícies das mesmas.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 6.18 – Resultados da TMR para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. das Laranjeiras 2”.
Quadro 6.6 - Dados relativos aos revestimentos de fachadas, obtidos no “DB Manager” do programa “Envi-met”.
Relativamente aos resultados obtidos respeitantes à Ta (Figura 6.19) e TMR (Figura 6.20), estes
demonstraram a mesma tendência que apresentaram os resultados obtidos para o local de estudo 1.
No entanto, e tendo sempre presente que são dois locais com morfologias distintas, a diferença de Ta
entre os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 3” é mais evidente do que a diferença que se
obteve para os cenários “Alameda 1” e “Alameda 3” em que quase não se verificaram diferenças.
Fazendo referência ao quadro 6.5, onde é possível verificar que o material existente no piso do
presente local de estudo apresenta um valor de albedo (0,40) superior ao asfalto (0,20) existente no
local de estudo 1, corresponderá a uma menor absorção da radiação refletida pelas fachadas. Assim, a
radiação solar refletida pelas fachadas do cenário “P. Laranjeiras 3” não será absorvida com tanta
expressão, não aumentando tanto a TMR e consequentemente não levando ao aumento da Ta,
tornando mais evidente as diferenças de temperatura apresentadas.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 6.19 – Resultados da Ta dos cenários “P. Laranjeiras 1”, “P. Laranjeiras 3” e “P. Laranjeiras 4”.
Figura 6.20 – Resultados da TMR dos cenários “P. Laranjeiras1”, “P. Laranjeiras 3” e “P. Laranjeiras 4”.
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Figura 6.21 – Resultados da radiação solar direta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”.
Tal como para o local de estudo 1, verifica-se e reforça-se que a remoção da vegetação dos espaços
públicos traduz-se em impactos negativos para o clima ambiente, ou seja, o aumento de superfícies
expostas à radiação solar que traduzir-se-á num agravamento das variáveis de conforto térmico.
Relembrando que a espécie de árvores presente neste local são laranjeiras, e que neste caso, como
disponível na base de dados do programa estas foram consideradas corretamente e apresentam
dimensões inferiores às consideradas para o local de estudo “Alameda”, verifica-se a através da
análise da Figura 6.22, que embora reduzido o aumento da temperatura do ar deste local, resultado da
dimensão do espaço em si com a quantidade e tipologia da vegetação considerada, este aumento não
ocorre exatamente nos locais onde a vegetação foi removida, destacando-se a potencialidade do
programa na consideração de diferentes dimensões e tipologia de vegetação consideradas.
Figura 6.22 – Resultados da Ta dos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Em relação à TMR, apenas se demonstra mais uma vez na Figura 6.23, que esta variável aumenta
devido ao natural aumento das superfícies expostas à radiação solar. Assim como, na Figura 6.24 se
verifica o aumento da velocidade do vento resultante da remoção da vegetação.
Figura 6.23 – Resultado da TMR dos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”.
Figura 6.24 – Resultado da velocidade do vento dos cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 5”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
em que a inclinação dos raios incidentes é quase vertical pelo que, o aumento da volumetria dos
edifícios para a hora de análise será insignificante, de maneira que não causou grandes impactos nas
restantes variáveis em análise ( Figura 6.26 e Figura 6.29).
Figura 6.25 – Resultado da radiação solar direta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”.
Figura 6.26 – Resultado da Ta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”.
Assim, de forma a poder retirar conclusões acerca da influência do aumento de volumetria dos
edifícios apresentam-se os resultados correspondentes às 9 horas, apresentando o sol para esta hora
uma certa inclinação, representando o aumento da volumetria dos edifícios uma condicionante à
radiação solar que atinge as superfícies do local de estudo, permitindo desta forma demonstrar a
influência nas variáveis de análise.
Dos resultados obtidos na Figura 6.27 embora seja pouco notória, devido à escala utilizada e também à
grandeza da alteração (incremento de 1 piso), ocorre uma diferença da radiação solar direta no local de
estudo. Relativamente aos resultados apresentados na Figura 6.28, conforme expectável, para as 9
horas as temperaturas são inferiores às obtidas para as 12 horas e podemos verificar que mantendo
uma mesma escala de variação de temperatura (variação de 0,5ºC conforme a legenda apresentada), é
notória uma diferença numa zona do local de estudo, comprovando que de facto, o aumento da
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
volumetria do edifício traduz-se em alterações nas variáveis de análise e que, se demonstrariam mais
evidentes caso a escala de variação fosse inferior.
Figura 6.27- Resultado da radiação solar direta para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”
correspondentes às 9 horas.
Figura 6.28 - Resultado da TA para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6” correspondentes às 9
horas.
Tal como aparentou indicar nos resultados obtidos para o local de estudo 1, o aumento da volumetria
dos edifícios, demonstra, embora de forma pouco percetível, que o aumento da volumetria dos
edifícios conduz a uma redução da velocidade do vento (Figura 6.29).
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 6.29 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “P. Laranjeiras 1” e “P. Laranjeiras 6”.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
Figura 6.30 – Identificação dos locais onde ocorreu alteração de revestimento do piso.
Quanto à TMR, apresentando o material de revestimento do piso empregue, alto valor de albedo e
emissividade, seria presumível uma redução deste parâmetro, a qual ocorreu e se pode verificar na
Figura 6.32.
No entanto, quando se obteve os resultados verificou-se que as zonas junto da vegetação apresentam
valores de TMR elevados, quando deveriam beneficiar do efeito que provocam (vegetação) na
obstrução à radiação solar que atinge as superfícies, e do seu processo metabólico, reduzindo desta
forma a TMR.
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Conforto Térmico do Espaço Público. Caso de Estudo.
A justificação para estes valores, poderá estar relacionada com o ângulo de incidência que os raios
solares apresentam para a hora da simulação (12h), os quais incidem em parte sem obstrução no
material de revestimento do piso existente nas zonas inferiores à copa das árvores, permitindo que
estas superfícies aqueçam. Associado a esta circunstância, está o efeito atenuante da vegetação em
relação às correntes do vento (conforme é possível verificar nos resultados apresentados na Figura
6.33), que devido à redução da sua velocidade naquelas zonas, fará com que se concentre uma maior
temperatura, apresentado valores de TMR mais elevados.
Os resultados da velocidade do vento que a seguir se apresentam na Figura 6.33, demonstram também,
que ocorrendo diferenças na Ta e na TMR, ocorrerão também diferenças de pressões atmosféricas, o
que poderá levar a ligeiras alterações no comportamento do vento.
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Para análise do material de revestimento das fachadas, os materiais a estudar serão os mesmos que
foram utilizados para o local de estudo 1 e 2, mantendo em vista a análise e relação destes com as
diferenças morfológicas do espaço urbano (Quadro 6.9).
Quadro 6.9 - Dados relativos aos revestimentos de fachadas obtidos no “DB Manager” do programa “Envi-met”.
Em relação ao presente local de estudo as tendências das simulações anteriores mantêm-se quer em
relação à temperatura do ar (Figura 6.34) quer em relação à TMR (Figura 6.35), demonstrando-se as
fachadas envidraçadas mais benéficas para a melhoria do microclima exterior, no entanto, menos
relevantes do que o que se mostraram nos cenários anteriores, pois caracterizando-se este local como
uma praça ampla, os materiais de revestimento do piso assumem-se determinantes para a
caracterização do clima local.
Também por essa razão, a diferença entre o cenário “Praça 1” e “Praça 3” é mínima, prevalecendo um
mínimo benefício para o cenário “Praça 3” (paredes rebocadas e pintadas de cor clara).
Relativamente à TMR verifica-se novamente que o elevado coeficiente de transmissão das fachadas do
cenário “Praça 4” contribui significativamente para a redução da TMR não só da envolvente mais
próxima, como de todo o local de estudo. Já o cenário “Praça 3”, novamente devido à elevada
reflectância do material, permite que outras superfícies se tornem responsáveis pelo aumento da TMR
do local (Figura 6.35).
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Figura 6.35 – Resultado da TMR dos cenários “Praça 1”, “Praça 3” e “Praça 4”.
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Figura 6.36 – Resultados da Radiação Solar Direta para os cenários “Praça 1” e “Praça 5”.
A influência da remoção da vegetação do local de estudo não foi ao encontro das espectativas em
termos da alteração provocada na temperatura do ar (Figura 6.37), pois seria expectável um aumento
da mesma.
Esta mínima alteração, quase inexpressiva, pode ser justificada pelos diversos contributos que a
vegetação apresenta para a melhoria do clima, ou seja, se por um lado através da sua remoção, não se
beneficia da sombra que estas proporcionam, assim como do seu contributo através da
evapotranspiração, por outro, a praça ficará menos protegida à ação do vento, conforme se pode
verificar na Figura 6.38.
Com a retirada da vegetação há um aumento significativo da velocidade do vento nos locais onde
anteriormente eram atenuados pela sua presença, o que de certa forma compensará o aumento da
temperatura do ar ocorrido pela sua remoção, resultando numa temperatura do ar praticamente igual.
Importa também salientar que a relação estabelecida poderá apenas ser aplicada uma vez que está em
causa uma reduzida quantidade de árvores (2 de grande porte e 3 de porte reduzido) em comparação
com a área total do espaço público, pois certamente para uma maior quantidade de vegetação em
causa, a sua influência na temperatura do ar seria evidente.
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Figura 6.38 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “Praça 1” e “Praça 5”.
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Figura 6.41 – Resultados da velocidade do vento para os cenários “Praça 1” e “Praça 6”.
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Para tal, sendo o vento uma variável tão instável, efetuou-se uma comparação entre as três direções
mais frequentes para a região de análise em que, através da consulta do anexo A se constatou que
seriam Oeste, Este e Noroeste, mantendo para a análise a “Praça Brandão de Vasconcelos”.
Como se pode verificar através dos resultados da Figura 6.42, a direção dos ventos apresenta impactos
consideráveis na velocidade do vento que se fará sentir na zona central da praça, bem como nas
características da sua circulação, influenciando outras variáveis climáticas (Figura 6.43).
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Verifica-se então, que as estratégias que seriam benéficas para a estação de verão, no sentido em que
permitiriam atenuar as temperaturas, continuam tal como o esperado, a assumir o mesmo
comportamento para a estação de inverno. De modo a que seja possível realizar o contrabalanço entre
as desvantagens e os benefícios das estratégias em causa, apresentam-se na Figura 6.45 os resultados
dos mesmos cenários para a estação do verão.
A análise e comparação dos resultados obtidos na Figura 6.44 e na Figura 6.45, surgem como
representativas de um método que poderá ser posto em prática com a ferramenta de estudo, ou seja,
permitem fazer uma análise dos benefícios e prejuízos resultantes de determinada operação,
permitindo posteriormente optar com o prosseguimento da mesma, ou realizar pequenos ajustes.
Na presente análise como não existem objetivos específicos a atingir nem padrões de temperatura a
restringir, a análise torna-se pouco conclusiva, pois as reduções de temperatura resultantes da
implementação das estratégias para as diferentes estações (inverno e verão) são notórias. No entanto,
atendendo a que a permanência no espaço público tende a diminuir na estação de inverno, a redução
de temperatura verificada não aparenta ser problemática.
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CONCLUSÕES E
DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
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