Educação Ambiental: o Desafio Da Construção de Um: Pensamento Crítico, Complexo e Reflexivo

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Educação Ambiental: o desafio da construção de um

pensamento crítico, complexo e reflexivo

Pedro Roberto Jacobi


Universidade de São Paulo

Resumo

A multiplicação dos riscos, em especial os ambientais e


tecnológicos de graves conseqüências, é elemento chave para se
entender as características, os limites e as transformações da
nossa modernidade. É cada vez mais notória a complexidade
desse processo de transformação de uma sociedade cada vez
mais não só ameaçada, mas diretamente afetada por riscos e
agravos socioambientais. Os riscos contemporâneos explicitam
os limites e as conseqüências das práticas sociais, trazendo con-
sigo um novo elemento, a “reflexividade”. A sociedade, produto-
ra de riscos, torna-se crescentemente reflexiva, o que significa
dizer que ela se torna um tema e um problema para si própria. O
conceito de risco passa a ocupar um papel estratégico para o
entendimento das características, dos limites e das transforma-
ções do projeto histórico da modernidade e para reorientar esti-
los de vida coletivos e individuais. Num contexto marcado pela
degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema,
isso envolve um conjunto de atores do universo educativo em
todos os níveis, potencializando o engajamento dos diversos sis-
temas de conhecimento e a sua capacitação numa perspectiva
interdisciplinar. Os educadores têm um papel estratégico e deci-
sivo na inserção da educação ambiental no cotidiano escolar,
qualificando os alunos para um posicionamento crítico face à
crise socioambiental, tendo como horizonte a transformação de
hábitos e práticas sociais e a formação de uma cidadania
ambiental que os mobilize para a questão da sustentabilidade no
seu significado mais abrangente.

Palavras-chave

Educação ambiental – Sociedade de risco – Desenvolvimento sus-


tentável – Interdisciplinaridade.

Correspondência:
Pedro Roberto Jacobi
Rua Cayowaa 1082- apto. 61
05018-001 – São Paulo – SP
e-mail: [email protected]

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005 233


Environmental Education: the challenge of constructing
a critical, complex and reflective thinking

Pedro Roberto Jacobi


Universidade de São Paulo

Abstract

The proliferation of risks, particularly of those of severe environ-


mental and technological consequences, is a key element to
understand the features, limitations and transformations of our
modernity. The complexity of this process is more and more clear in
a society not only increasingly threatened but also increasingly
affected by socio-environmental risks and harms. The contemporary
risks expose the limits and consequences of social practices,
bringing with them a new element: the “reflectiveness”. The society,
a producer of risks, becomes more and more reflective, which means
that it becomes a theme and a problem to itself. The concept of risk
assumes a strategic role in understanding the characteristics,
limitations, and transformations of the historical project of moder-
nity, and to reorient collective and individual lifestyles. In a context
marked by the continual degradation of the environment and of its
ecosystem, this involves an array of actors from the educative
universe in all its levels, stimulating the involvement of the various
systems of knowledge and their formation in an interdisciplinary
perspective. Educators play a strategic and decisive role in the
insertion of environmental education in school everyday life,
preparing their students for a critical attitude before the socio-
environmental crisis, having as their horizon the transformation of
social habits and practices, and the constitution of an environmen-
tal citizenship that will motivate them to the issue of sustainability
in its wider meaning.

Keywords

Environmental education – Risk society – Sustainable development


– Interdisciplinarity.

Contact:
Pedro Roberto Jacobi
Rua Cayowaa 1082- apto. 61
05018-001 – São Paulo – SP
e-mail: [email protected]

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Pensar a sustentabilidade ção do marco ecológico nas decisões econômi-
cas e sociopolíticas tem na construção do concei-
O conceito de desenvolvimento foi ob- to de desenvolvimento sustentável um referencial
jeto de controvérsias, e, até recentemente, a que assume visibilidade, e que coloca o desenvol-
abordagem era de ver desenvolvimento e cres- vimento como uma forma de modificação da
cimento econômico como sinônimos. O traba- natureza e que portanto, deve contrapor-se tan-
lho de Amartya Sen (2004), prêmio Nobel de to os objetivos de atender às necessidades huma-
Economia em 1998, representa um novo mo- nas e de outro lado, seus impactos, e dentre estes,
mento para a reflexão sobre desenvolvimento aqueles que afetam a base ecológica. A incorpo-
como o processo de ampliação da capacidade ração do marco ecológico nas decisões econômi-
de os indivíduos terem opções, fazerem esco- cas e políticas implica reconhecer que as conse-
lhas. Relativizando os fatores materiais e os qüências ecológicas do modo como a população
indicadores econômicos, Sen insiste na amplia- utiliza os recursos do planeta estão associadas ao
ção do horizonte social e cultural da vida das modelo de desenvolvimento. Isto se explicita se-
pessoas. A base material do processo de desen- gundo Guimarães (2001, p. 51), pela crise que
volvimento é fundamental, mas deve ser con- afeta o planeta, “o que configura o esgotamento
siderada como um meio e não como um fim em de um estilo de desenvolvimento ecologicamente
si. Além da capacidade produtiva, ao postular a predador, socialmente perverso, politicamente in-
melhoria da qualidade de vida em comum, a justo, culturalmente alienado e eticamente repul-
confiança das pessoas nos outros e no futuro sivo”. Apesar dessas premissas básicas terem bas-
da sociedade, destaca as possibilidades das tante consenso, o “desenvolvimento sustentável”
pessoas levarem adiante iniciativas e inovações tem se convertido num conceito plural: não ape-
que lhes permitam concretizar seu potencial nas existem diferentes concepções do desenvolvi-
criativo e contribuir efetivamente para a vida mento em jogo, mas também o que se entende por
coletiva. Sen resume suas idéias sobre o desen- sustentabilidade.
volvimento como as possibilidades que a coo- As tensões entre desenvolvimento e con-
peração e a solidariedade entre os membros da servação do meio ambiente ainda persistem, e
sociedade trazem ao transformar o crescimento o forte viés economicista é um dos fatores de
econômico de destruidor das relações sociais em questionamento do conceito pelas organiza-
processo de formação de capital social ou em ções ambientalistas. Há definição de diferentes
“desenvolvimento como liberdade” (Sen, 2004). abordagens que apresentam uma diversidade
Para Sen, a expansão da liberdade é o princi- conceitual, enfatizando, entretanto, as enormes
pal fim e meio do desenvolvimento, e só há diferenças quanto ao significado para as socie-
desenvolvimento quando os benefícios servem dades do Norte e do Sul.
à ampliação das capacidades humanas. Segun- As transformações no debate “meio am-
do ele, isto requer que sejam superadas biente-desenvolvimento” têm início nos anos de
1970, quando assumem visibilidade publicações
as principais fontes de privação de liberda- que pretendem mostrar a finitude no interior do
de: pobreza e tirania, carência de oportuni- modo de produção capitalista e seus impactos
dades econômicas e destituição total e sis- globais. A partir desse período, o conceito de
temática, negligência dos serviços públicos desenvolvimento sustentável surge sob diferen-
e intolerância ou interferência de Estados tes denominações, buscando-se um consenso e
repressivos (Sen apud Veiga, 2005, p. 34). sua institucionalização. O objetivo é o de elevar
a problemática ambiental a um plano de visibi-
E como emerge a complexa relação entre lidade na agenda política internacional e fazer
desenvolvimento e meio ambiente? A incorpora- com que a temática penetre e conforme as de-

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cisões sobre políticas em todos os níveis (Nobre vimento sustentável adquire relevância num cur-
e Amazonas, 2002). Os projetos de institu- to espaço de tempo, assumindo um caráter
cionalização encontram no conceito de desen- diretivo nos debates sobre os rumos do desen-
volvimento sustentável um meio adequado para volvimento.
a disseminação. Nesse sentido, a Conferência Rio Nas décadas de 1980 e 1990, a cres-
92 pode ser caracterizada como ponto culmi- cente confluência das duas vertentes –
nante desse projeto de institucionalização e de economicista e ambientalista – deveu-se prin-
um novo arranjo teórico e político do debate em cipalmente ao avanço da crise ambiental, por
torno da problemática ambiental. A susten- um lado, e ao aprofundamento dos problemas
tabilidade transforma-se no carro-chefe do para- econômicos e sociais para a maioria das na-
digma de desenvolvimento dos anos de 1990. A ções. Dentre as transformações mundiais nes-
expressão “desenvolvimento sustentável” passou tas duas décadas, aquelas vinculadas à degra-
a ser usada com sentidos tão diferentes que se dação ambiental e à crescente desigualdade
tornou uma palavra que serve a todos, e, portan- entre regiões assumem um lugar de destaque
to, adquire um caráter pervasivo. Passa a ser que reforçou a importância de adotar esque-
palavra-chave para agências internacionais de mas integradores. Embora ambos os processos
fomento, jargão do planejador de desenvolvi- fossem concebidos inicialmente de maneira
mento, o tema de conferências, papers e o fragmentada, sem vinculações evidentes, hoje
slogan de ativistas do desenvolvimento e do se torna mais explícita a sua articulação den-
meio ambiente (Nobre e Amazonas, 2002). Duas tro da compreensão no plano de uma crise
correntes interpretativas se sobressaem ao lon- que assume dimensões globais. Articulam-se,
go deste processo. Uma primeira — econômica e portanto, de um lado, os impactos da crise eco-
técnico-científica — que propõe a articulação do nômica dos anos de 1980 e a necessidade de re-
crescimento econômico e a preservação am- pensar os paradigmas existentes; e, de outro, o
biental, influenciando mudanças nas abordagens alarme dado pelos fenômenos de aquecimento
do desenvolvimento econômico, notadamente a global e a destruição da camada de ozônio,
partir dos anos de 1970. A segunda, relaciona- dentre outros problemas (Jacobi, 1997; Guima-
da com a crítica ambientalista ao modo de vida rães, 2001; Conca et al ., 1995).
contemporâneo, e que se difunde a partir da Assim, o que se observa é que, enquan-
Conferência de Estocolmo em 1972, momento no to se agravavam os problemas sociais e se
qual a questão ambiental ganha visibilidade pú- aprofundava a distância entre os países pobres
blica e se coloca a dimensão do meio ambiente e os industrializados, emergiram com mais im-
na agenda internacional. Duas posições diame- pacto diversas manifestações da crise ambiental,
tralmente opostas foram assumidas: os que pre- que se relacionam diretamente com os padrões
viam a abundância (cornucopians) e os catas- produtivos e de consumo prevalecentes.
trofistas (doomsayers) (Sachs, 2000, p. 50-51). Os sinais da crescente conscientização po-
Ambas as posições foram descartadas e surge uma dem ser observados a partir de alguns referenciais
posição intermediária entre o economicismo deter- que agregam propostas de sustentabilidade
minista (prioridade ao crescimento econômico) e o ambiental, social e de desenvolvimento à dimen-
fundamentalismo ecológico (inexorabilidade do são do discurso, como é o caso dos movimentos
crescimento do consumo e esgotamento dos re- sociais em defesa da ecologia; as conferências
cursos naturais). O paradigma do caminho do internacionais promovidas pela ONU, principal-
meio – ecodesenvolvimento ou desenvolvimen- mente a partir da Conferência das Nações Unidas
to sustentável – propunha um desenvolvimento sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocol-
que harmonizasse os objetivos sociais, ambientais mo em 1972, para debater os temas do meio am-
e econômicos. A idéia ou enfoque do desenvol- biente e do desenvolvimento; os relatórios do Clu-

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be de Roma1 ; e, mais ou menos diretamente, os colmo, que discute a questão ambiental em
trabalhos de autores pioneiros, de diversos cam- âmbito planetário, e inseriu a discussão
pos, que refletiram sobre as mesmas questões. O ambiental na agenda internacional. Nesta con-
livro A primavera silenciosa, de Rachel Carson, ferência delineiam-se os principais elementos
cientista e ecologista americana, lançado em que, conforme Moll (1991), nos levam “da es-
1962, apresenta um questionamento, nos Estados cassez à sustentabilidade”.
Unidos, do modelo agrícola convencional e sua Em 1973, utiliza-se pela primeira vez o
crescente dependência do petróleo como matriz conceito de ecodesenvolvimento, para caracteri-
energética. Ao tratar do uso indiscrimina-do de zar uma concepção alternativa de desenvolvimen-
substâncias tóxicas na agricultura, alertava para a to, cujos princípios posteriormente viriam a se
crescente perda da qualidade de vida produzida integrar à chamada Comissão Brundtland3 . Ti-
pelo uso indiscriminado e excessivo dos produ- nham como pressuposto a existência de cinco
tos químicos e os efeitos dessa utilização sobre os dimensões do ecodesenvolvimento, a saber: 1) a
recursos ambientais (Martell, 1994; Dobson, sustentabilidade social, 2) a sustentabilidade eco-
1994). A contribuição deste livro2 foi em relação nômica, 3) a sustentabilidade ecológica, 4) a
à necessidade de a sociedade se preocupar com sustentabilidade espacial e 5) a sustentabilidade
problemas de conservação de recursos naturais, o cultural. Estes princípios se articulam com teo-
que já era objeto de muitos outros trabalhos que, rias de autodeterminação defendidas pelos pa-
desde o século XIX, inspiraram políticas públicas íses não alinhados desde a década dos anos de
conservacionistas adotadas pelos Estados Unidos 1960 (Sachs, 1986; Guzman, 1997; Jacobi,
no início do século XX (Mc Cormick, 1992). 1997). Segundo esse conceito,
Logo após a publicação de A primavera
silenciosa, trabalhos como o de Paul Ehrlich, (The trata-se de estabelecer que o bem-estar au-
Population Bomb, 1966) e o de Garret Hardin menta quando melhora o padrão de vida
(Tragedy of the Commons, 1968), reforçaram a de um ou mais indivíduos sem que decaia
teoria malthusiana, relacionando a degradação o padrão de vida de outro indivíduo e sem
ambiental e a dos recursos naturais ao crescimen- que diminua o estoque de capital natural
to populacional. Em 1972, com a publicação pelo ou o produzido pelo homem. (Nobre; Ama-
Clube de Roma do livro Limites do crescimento, os zonas, 2002, p. 35)
cientistas, liderados por Dennis Meadows, argu-
mentam de forma catastrofista que a sociedade se O conceito de desenvolvimento susten-
confrontaria dentro de poucas décadas com os tável elaborado pela Comissão Brundtland em
limites do seu crescimento por causa do esgota-
mento dos recursos naturais. Para alcançar a esta- 1. O Clube de Roma foi uma associação livre de cientistas, empresários
e políticos de diversos países que se reuniu em Roma, no princípio da
bilidade econômica e ecológica propõe-se o con-
década de 1970, para refletir, debater e formular propostas sobre os pro-
gelamento do crescimento da população global e blemas do sistema global (McCormick, 1992).
do capital industrial, mostrando a realidade dos 2. A autora mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e se
acumulava nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (che-
recursos limitados e indicando um forte viés para gou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano!), com o risco
o controle demográfico. Estes trabalhos estão as- de causar câncer e doenças genéticas. A grande polêmica movida pelo
instigante e provocativo livro é que não só ele expunha os perigos do DDT,
sentados na premissa de que a utilização de recur- mas questionava de forma eloqüente a confiança cega da humanidade no
sos naturais finitos é uma variável fundamental do progresso tecnológico. Dessa forma, o livro ajudou a abrir espaço para o
processo econômico e social. A sua leitura é que movimento ambientalista que começava a emergir.
3. Este relatório é o resultado do trabalho da comissão da ONU World Comission
a finitude no modo de produção de mercadorias on Environment and Development presidida por Gro Harlem Brundtlandt, então
só pode significar “catástrofe”. primeira-ministra da Noruega, foi organizada pela ONU, em 1983, para estudar
a relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente e criar uma nova perspec-
No mesmo ano, a Organização das Na- tiva para abordar essas questões. O Relatório “Nosso Futuro Comum”, produzido
ções unidas promoveu a Conferência de Esto- pela Comissão, veio a público em 1987 (McCormick, 1992).

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1987, ao projetar o termo “desenvolvimento mas numa orientação ou enfoque, ou ainda
sustentável” o faz, de acordo com Hobsbawn numa perspectiva que abrange princípios nor-
(1995), “convenientemente sem sentido”, base- mativos (Jacobi, 1997; Ruscheinsky, 2004;
ado num conjunto vago de análises e recomen- Guimarães, 2001).
dações e, segundo Brookfield (1988), “inten- Assim, a noção de sustentabilidade impli-
cionalmente um documento político, mais do ca a prevalência da premissa de que é preciso
que um tratado científico sobre os problemas determinar uma limitação definida nas possibilida-
do mundo”. Daí as críticas dos mais variados des de crescimento e um conjunto de iniciativas
matizes que recebeu o relatório, mesmo por que levem em conta a existência de interlocutores
parte daqueles que enfatizavam a importância e participantes sociais relevantes e ativos por
da iniciativa. Para Lélé (1991, p. 613), “o mo- meio de práticas educativas e de um processo
vimento Desenvolvimento Sustentável não foi de diálogo informado, o que reforça um senti-
capaz de desenvolver um conjunto de concei- mento de co-responsabilização e de constituição
tos, critérios e políticas coerentes ou consisten- de valores éticos (Noorgard, 1997; Daly, 1997;
tes tanto do ponto de vista interno como o da Goulet, 1997; Sheng, 1997; Floriani, 2003; Boff,
realidade social e física”. 1999, 2002). Redclift, observa de forma arguta
Os resultados ao início do século XXI, e questionadora que
estão muito aquém das expectativas e decorrem
da complexidade de estabelecer e pactuar limi- as ligações entre o meio ambiente, a justi-
tes de emissões e proteção de biodiversidade, ça social e a governabilidade têm se torna-
notadamente pelos países mais desenvolvidos. do crescentemente vagas em alguns discur-
Apesar das críticas a que tem sido sujeita, sos de sustentabilidade, e que as relações
a noção de “sustentabilidade” pode se tornar estruturais entre o poder, a consciência e o
quase universalmente aceita porque reuniu sob si meio ambiente têm sido gradualmente obs-
posições teóricas e políticas contraditórias e até curecidas. (2003, p. 48)
mesmo opostas (Nobre; Amazonas, 2002, p. 8).
Trata-se de delimitar um campo bastante amplo Os obstáculos são imensos, na medida em
em que se dá a luta política sobre o seu signifi- que existe uma restrita consciência na sociedade
cado, sendo que a institucionalização da noção a respeito das implicações e impactos destrutivos
de desenvolvimento sustentável sempre esteve do modelo de desenvolvimento em curso. Tam-
permeada por diferentes interpretações, além de bém devem ser destacadas as diferenças sociais e
servir como instrumento de ancoragem da polí- as desigualdades econômicas e as enormes as-
tica ambiental internacional, por meio das agên- simetrias entre os países do Norte e do Sul.
cias das Nações Unidas. Os anos de 1990 marcam mudanças sig-
Num sentido abrangente, a noção de de- nificativas no debate internacional sobre os pro-
senvolvimento sustentável remete à necessária blemas ambientais. A Conferência das Nações
redefinição das relações entre sociedade huma- Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvi-
na e natureza, e, portanto, a uma mudança mento – Rio 92 – constitui-se um momento
substancial do próprio processo civilizatório. importante para a institucionalização da proble-
Entretanto, a falta de especificidade e as pre- mática ambiental, sendo que os temas da sus-
tensões totalizadoras têm tornado o conceito tentabilidade e do desenvolvimento sustentável
de desenvolvimento sustentável difícil de ser foram adotados como referenciais que presidi-
classificado em modelos concretos, opera- ram todo o processo de debates, declarações e
cionais e analiticamente precisos. Por isso, ain- documentos formulados. Apesar de o objetivo
da é possível afirmar que não se constitui num ter sido a institucionalização da problemática
paradigma no sentido clássico do conceito, ambiental, os resultados da Conferência foram

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aquém dos pretendidos pelos organismos propo- nem no plano teórico, nem nas medidas práticas.
nentes, e a discussão ambiental sofreu “uma re- Apesar dos avanços ocorridos em vários
fração em que, de um lado, se consagra a sepa- setores, os princípios de proteção ambiental e de
ração entre negociações em torno de acordos “desenvolvimento sustentável” continuam a ser
ambientais globais e aquelas referentes à imple- considerados um entrave para o crescimento eco-
mentação de projetos de desenvolvimento sus- nômico, e os resultados estão à mostra: perda de
tentável de âmbito nacional, notadamente a biodiversidade, degradação da qualidade ambiental
Agenda 21” (Nobre e Amazonas, 2002, p. 68). A nas grandes cidades dos países em desenvolvimen-
noção de desenvolvimento sustentável perde to, redução dos recursos não renováveis.
gradualmente o seu caráter totalizante que o O quadro atual, claramente demonstrado
marcou desde os primeiros momentos, e se tor- por estudos científicos, indica que os ecossistemas
na “deliberadamente vaga e inerentemente con- continuam sentindo o impacto de padrões insus-
traditória” (O’ Riordan, 1993, p. 7). tentáveis de produção e de urbanização. Além
O debate internacional, segundo Guima- disso, durante a última década, muitos países
rães (2001, p. 17), que teve início em Estocol- aumentaram sua vulnerabilidade a uma série
mo e se ampliou na Rio-92, transcende a pers- mais intensa e freqüente de fenômenos que
pectiva tecnocrática no tratamento da crise tornam mais frágeis os sistemas ecológicos e
ambiental, a ilusão ingênua de que os avanços sociais, provocando insegurança ambiental,
do conhecimento científico seriam suficientes econômica e social, minando a sustentabilidade
para permitir a emergência de um estilo susten- e gerando incertezas em relação ao futuro. Pre-
tável de desenvolvimento. valece ainda a ideologia do progresso, que
Uma outra iniciativa marcante e que teve rejeita ou minimiza as questões ambientais, seja
ampla repercussão foi a Carta da Terra, resultado no discurso ou na prática.
da mobilização e articulação da sociedade civil Apesar deste quadro de problemas, não
que se inicia a partir da publicação de Nosso devem ser desconsideradas as “boas práticas de
futuro comum, em 1987, e cuja primeira versão sustentabilidade” em escala local, que depen-
foi discutida na Eco 92, durante o Fórum Global dem da capacidade empreendedora de atores
de ONGs. Apenas em março de 2000, e após locais ou regionais.
amplos processos públicos de debates em quaren- Cabe ressaltar que a proliferação de posi-
ta e seis países durante oito anos, foi ratificada ções sobre a sustentabilidade é um sintoma po-
pela Unesco. Trata-se de uma declaração de prin- sitivo de dinamismo, já que os debates atuais
cípios globais que orienta as ações individuais e eram impensáveis há alguns anos. Isto mostra
coletivas rumo ao desenvolvimento sustentável e que as mudanças são possíveis, e que a questão
sugere parâmetros éticos globais. Boff (2002, p. da sustentabilidade tem muitas leituras, algumas
54-55) destaca três pontos relevantes: resgate de contraditórias e outras convergentes, apesar de
valores da solidariedade, da inclusão e da reve- apropriadas de forma diferenciada pelos grupos e
rência; superação do conceito fechado de desen- pessoas que atuam numa perspectiva de propor
volvimento sustentável; e ética do cuidado. uma sustentabilidade articulada a novas realida-
As expectativas geradas com os avanços na des materiais e novas posições epistemológicas.
Rio-92 se reduzem significativamente antes e após
a mais recente Cúpula do Mundial sobre Meio Sociedade de risco,
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Rio + reflexividade e complexidade
10, realizada em 2002 em Johanesburgo, onde não
se concretizaram os objetivos de aprofundar o A multiplicação dos riscos, em especial
debate em torno do desenvolvimento sustentável os ambientais e tecnológicos de graves conse-
e praticamente não foram acordados novos passos qüências, é elemento chave para entender as

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características, os limites e as transformações A nova realidade pós-tradicional da
da modernidade. Os riscos contemporâneos modernidade radicalizada gera crescente incer-
(Beck, 1997, p. 16-17) explicitam os limites e teza, mutabilidade e reflexividade. O progresso
as conseqüências das práticas sociais, trazendo pode se transformar em autodestruição, na qual
consigo um novo elemento, a “reflexividade”. A um tipo de modernização destrói o outro e o
sociedade, produtora de riscos, torna-se cada vez modifica. Coloca-se, portanto, a possibilidade
mais reflexiva, o que significa dizer que ela se de se reinventar, ou repensar, a civilização in-
torna um tema e um problema para si própria. A dustrial, ao se sugerir uma (auto)destruição
sociedade torna-se cada vez mais autocrítica, e, criativa (Beck, 1997, p. 12-13). Observa-se uma
ao mesmo tempo em que a humanidade põe a transformação da sociedade industrial, originan-
si em perigo, reconhece os riscos que produz e do a sociedade de risco. Nesse sentido, para
reage diante disso. A sociedade global “reflexiva” Beck (1997, p. 28), a “subpolítica”4 resulta de
se vê obrigada a autoconfrontar-se com aquilo um renascimento não institucional do político,
que criou, seja de positivo ou de negativo. O paralelo ao vazio político das instituições. Beck
conceito de risco passa a ocupar um papel estra- assim explicita a “subpolítica” como dissemina-
tégico para entender as características, os limites ção de um engajamento político e de um
e as transformações do projeto histórico da ativismo derivado da política que migrou do
modernidade (Beck, 1997, p. 16-17). parlamento para grupos de pressão unidire-
Os grandes acidentes envolvendo usi- cionados na sociedade (ecologismo, movimento
nas nucleares e contaminações tóxicas de in- de mulheres, movimento homossexual etc.).
tensas proporções, como os casos de Three- É cada vez mais notória a complexidade
Mile Island (1979), Love Canal (1979), Bhopal desse processo de transformação de uma sociedade
(1984) e Chernobyl (1986), além de outros de crescentemente não só ameaçada, mas diretamente
menor porte, mas com impactos locais signifi- afetada por riscos e agravos socioambientais. Num
cativos, aumentam o debate público e científico contexto marcado pela degradação permanente do
sobre a questão dos riscos nas sociedades con- meio ambiente e do seu ecossistema, a problemá-
temporâneas. Os riscos estão diretamente rela- tica envolve um conjunto de atores do universo
cionados com a modernidade e os ainda educativo em todos os níveis, potencializando o
imprevisíveis efeitos da globalização, como uma engajamento dos diversos sistemas de conhecimen-
radicalização dos princípios da modernidade to, a capacitação de profissionais e a comunidade
(Beck, 1997, p. 18). O desenvolvimento do sis- universitária numa perspectiva interdisciplinar.
tema industrial criou um mundo pautado pela Vive-se, no início do século XXI, uma
incerteza e a “modernização reflexiva” da alta emergência que, mais que ecológica, é uma cri-
modernidade. Na sociedade de risco, o impacto da se do estilo de pensamento, dos imaginários
globalização, as transformações do cotidiano e o sociais, dos pressupostos epistemológicos e do
surgimento da sociedade pós-tradicional se carac- conhecimento que sustentaram a modernidade.
terizam pela sua instantaneidade, embora contra- Uma crise do ser no mundo que se manifesta
ditória, que inter-relaciona o global e o local e em toda sua plenitude: nos espaços internos
configura novas formas de desigualdades. O pro- do sujeito, nas condutas sociais autodestru-
gresso gerado pelo desenvolvimento da ciência e tivas; e nos espaços externos, na degradação da
da tecnologia passa a ser considerado como fon- natureza e da qualidade de vida das pessoas.
te potencial de autodestruição da sociedade indus- A essência da crise ambiental é a incerte-
trial, a partir do qual se produzem, por sua vez, za, e isto terá maior ou menor impacto de acor-
novos riscos, de caráter global — afetando o pla-
neta, atravessando fronteiras nacionais e de clas- 4. Subpolítica para Beck (1997, p. 35) significa “moldar a sociedade de
ses (Guivant, 1998, p. 18). baixo para cima”.

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do com a forma como a sociedade, segundo Nesse contexto, as práticas educativas
Beck (1997, p. 17) “levanta a questão da auto- devem apontar para propostas pedagógicas
limitação do desenvolvimento, assim como da centradas na mudança de hábitos, atitudes e
tarefa de redeterminar os padrões (de responsa- práticas sociais, desenvolvimento de competên-
bilidade, segurança, controle, limitação do dano cias, capacidade de avaliação e participação dos
e distribuição das conseqüências do dano) atin- educandos. Isto desafia a sociedade a elaborar
gidos aquele momento, levando em conta as novas epistemologias que possibilitem o que
ameaças potenciais”. Morin (2003) denomina de “uma reforma do
O tema da sustentabilidade confronta-se pensamento” (apud Floriani, 2003, p. 116). No
com o paradigma da “sociedade de risco”. Isto novo contexto do conhecimento do qual emergem
implica a necessidade de se multiplicarem as as novas epistemologias socioambientais, plurais e
práticas sociais baseadas no fortalecimento do diferenciadas, Capra (2003) representa a busca da
direito ao acesso à informação e à educação unificação do conhecimento com a natureza e a
em uma perspectiva integradora. sociedade, Morin (2003) pensa a complexidade
Observa-se a necessidade de se incre- como referencial principal para explicar os novos
mentar os meios e a acessibilidade à informação, sentidos do mundo, e Leff (2001), uma nova
bem como o papel indutivo do poder público nos racionalidade ambiental, capaz de subverter a or-
conteúdos educacionais e informativos de sua dem imperante entre as lógicas de vida e o desti-
oferta, como caminhos possíveis para alterar o no das sociedades (Floriani; Knechtel, 2003, p.
quadro atual de degradação socioambiental. Tra- 16). Assim, o conceito de ambiente situa-se numa
ta-se de promover o crescimento de uma sensi- categoria não apenas biológica, mas que constitui
bilidade maior das pessoas face aos problemas “uma racionalidade social, configurada por com-
ambientais, como uma forma de fortalecer sua co- portamentos, valores e saberes, como também por
responsabilidade na fiscalização e no controle da novos potenciais produtivos” (Leff, 2001, p. 224).
degradação ambiental (Jacobi, 2003). Uma mudança paradigmática implica
Nessa direção, a problemática ambiental uma mudança de percepção e de valores, e isto
constitui um tema muito propício para apro- deve orientar de maneira decisiva para formar
fundar a reflexão e a prática em torno do restrito as gerações atuais não somente para aceitar a
impacto das ações de resistência e de expressão incerteza e o futuro, mas para gerar um pensa-
das demandas da população das áreas mais afe- mento complexo e aberto às indeterminações,
tadas pelos constantes e crescentes agravos às mudanças, à diversidade, à possibilidade de
ambientais. Mas representa também a possibili- construir e reconstruir num processo contínuo
dade de abertura de estimulantes espaços para de novas leituras e interpretações, configuran-
implementar alternativas diversificadas de parti- do novas possibilidades de ação (Morin, 2001;
cipação social, notadamente a garantia do aces- Capra, 2003; Leff, 2003).
so à informação e a consolidação de canais Embora os primeiros registros da utiliza-
abertos. ção do termo “educação ambiental” datassem
A postura de dependência e de não res- de 1948 num encontro da União Internacional
ponsabilidade da população decorre principal- para a Conservação da Natureza (UICN) em
mente da desinformação, da falta de consciência Paris, os rumos da educação ambiental são
ambiental e de um déficit de práticas comunitá- definidos a partir da Conferência de Estocolmo,
rias baseadas na participação e no envolvimento na qual se recomenda o estabelecimento de
dos cidadãos, que proponham uma nova cultura programas internacionais. Em 1975, lança-se
de direitos baseada na motivação e na co-parti- em Belgrado o Programa Internacional de Edu-
cipação na gestão do meio ambiente, nas suas cação Ambiental, no qual são definidos os prin-
diversas dinâmicas. cípios e as orientações para o futuro5 . Desde

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005 241


então, três momentos marcam a trajetória do As iniciativas planetárias para pactuar prá-
processo de institucionalização e pactuação da ticas de educação ambiental explicitam o desa-
necessidade da inserção da educação ambiental fio de construção de uma formulação conceitual
no nível planetário. que estabeleça uma comunicação entre ciênci-
Cinco anos após Estocolmo, em 1977, as sociais e exatas. Morin (2003) define que o
acontece em Tbilisi, na Geórgia, a Conferência paradigma da complexidade corresponde à irrupção
Intergovernamental sobre Educação Ambiental. dos antagonismos no seio dos fenômenos organi-
Isto inicia um processo global orientado para zados — uma visão complexa do universo por meio
criar as condições para formar uma nova cons- de certos princípios de inteligibilidade unidos uns
ciência sobre o valor da natureza e para reo- aos outros.
rientar a produção de conhecimento baseada Para Morin (2003), o pensamento comple-
nos métodos da interdisciplinariedade e os xo — distinção, conjunção e implicação — se con-
princípios da complexidade. Esta trapõe às operações lógicas que caracterizam o
pensamento simplificador — disjunção e redução —
aponta nesse momento para a Educação que “tem gerado a inteligência cega, que destrói
Ambiental como um meio educativo pelo os conjuntos e as totalidades, isola e separa os
qual se podem compreender de modo arti- objetos de seus ambientes”. Na argumentação so-
culado as dimensões ambiental e social, bre o pensamento complexo, enfatiza três princí-
problematizar a realidade e buscar as raízes pios norteadores: o dialógico — mantendo a
da crise civilizatória. (Loureiro, 2004, p. 71) dualidade no seio da unidade; o da recursividade
organizacional — uma sociedade que, ao produzir-
Durante a Rio-92 foi redigido o Tratado se, retroage sobre os indivíduos; e o hologra-
de Educação Ambiental para Sociedades Susten- mático — a parte está no todo e o todo está na
táveis e Responsabilidade Global, que estabelece parte. E assim reconhece a complexidade que
dezesseis princípios fundamentais da educação permeia os sistemas/organizações (Floriani, 2003,
para as sociedades sustentáveis, enfatizando a p. 114). Esta reforma do pensamento permite a
necessidade de um pensamento crítico, de um integração do contexto e do complexo, compreen-
fazer coletivo e solidário, da interdisciplinariedade, dendo as inter-relações, multidimensionalidades, di-
da multiplicidade e diversidade. Estabelece igual- nâmicas que respeitem e assimilem a unidade e a
mente um conjunto de compromissos coletivos diversidade, baseadas em princípios éticos e no re-
para a sociedade civil planetária. conhecimento das diferenças (Morin, 2002; Morin
Em Tessalonika, no ano de 1997, o do- et al., 2003). O paradigma da complexidade colo-
cumento resultante da Conferência Internacional ca o desafio do diálogo entre certeza e incerteza,
sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e propiciando que os indivíduos vivenciem uma re-
Consciência Pública para a Sustentabilidade re- alidade marcada pela indeterminação, a interde-
força os temas colocados na Eco-92, e chama a pendência e a causalidade entre os diferentes pro-
atenção para a necessidade de se articularem cessos. Entretanto, isto não deve se transformar
ações de educação ambiental baseadas nos numa camisa de força conceitual e metodo-lógi-
conceitos de ética e sustentabilidade, identida- ca, mas numa articulação entre os processos sub-
de cultural e diversidade, mobilização e parti- jetivos e objetivos que estão presentes na produ-
cipação, além de práticas interdisciplinares. O ção de conhecimento e de sentidos.
que os pesquisadores observam é que as reco- Refletir sobre a complexidade ambiental
mendações são vagas e sem maiores efeitos abre um estimulante espaço para compreender a
práticos, sendo que muitas delas apenas servem
para alimentar a lógica de mercado e as polí-
5. Nessa ocasião redige-se a Carta de Belgrado, assinada pelos repre-
ticas liberais. sentantes de 65 países.

242 Pedro Roberto JACOBI. Educação ambiental: o desafio...


gestação de novos atores sociais que se mobilizam res, um novo modo de pensar, pesquisar e ela-
para a apropriação da natureza, para um proces- borar conhecimento, que possibilite integrar
so educativo articulado e compromissado com a teoria e prática.
sustentabilidade e a participação, apoiado numa Deve-se, entretanto, ressaltar que as prá-
lógica que privilegia o diálogo e a interdependência ticas educacionais inseridas na interface dos
de diferentes áreas de saber. Mas também ques- problemas socioambientais devem ser compreen-
tiona valores e premissas que norteiam as prá- didas como parte do macrossistema social, su-
ticas sociais prevalecentes, isto implicando uma bordinando-se ao contexto de desenvolvimento
mudança na forma de pensar, uma transforma- existente, que condiciona sua direção pedagó-
ção no conhecimento e nas práticas educativas. gica e política. Quando nos referimos à educa-
É cada vez mais notória a complexidade ção ambiental, a situamos num contexto mais
do processo de transformação de um planeta amplo, o da educação para a cidadania, confi-
não apenas cada vez mais ameaçado, mas tam- gurando-se como elemento determinante para a
bém diretamente afetado pelos riscos socioam- consolidação de sujeitos cidadãos (Jacobi,
bientais e seus danos. 2000). O principal eixo de atuação deve buscar,
Floriani (2003, p. 81-132), mostra como acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o
Morin e Leff, apontam, cada um ao seu modo, respeito à diferença por meio de formas demo-
para matrizes alternativas de integração do conhe- cráticas de atuação baseadas em práticas inte-
cimento que superem o paradigma dualista, e rativas e dialógicas. Entende-se que a educação
enfatizam a complexidade e a interdisciplinaridade para a cidadania trata não só da capacidade do
como elemento constitutivo de um novo pensar indivíduo de exercer os seus direitos nas esco-
sobre as relações sociedade-natureza. A premis- lhas e nas decisões políticas, como ainda de
sa que norteia o paradigma proposto é o diá- assegurar a sua total dignidade nas estruturas
logo de saberes que permita construir espaços sociais. Desse modo, o exercício da cidadania
de fronteiras (Sauvé, 1999, p. 19-20) que nos implica autonomia e liberdade responsável, par-
confrontem com os diversos reducionismos e ticipação na esfera política democrática e na
pragmatismos conceituais. vida social. Os cidadãos desenvolvem ações de
A necessidade de abordar o tema da com- integração social, conservação do ambiente,
plexidade ambiental decorre da percepção quan- justiça social, solidariedade, segurança e tolerân-
to ao incipiente processo de reflexão sobre as cia, as quais constituem preocupações da socie-
práticas existentes e as múltiplas possibilidades dade atual. Pretende-se, assim, sensibilizar alu-
que estão colocadas para, ao pensar a realida- nos e professores para uma participação mais
de de modo complexo, defini-la como uma nova consciente no contexto da sociedade, questio-
racionalidade e um espaço no qual se articulam nando comportamentos, atitudes e valores, além
natureza, técnica e cultura. de propor novas práticas.
Assim, nossa argumentação vai no senti-
Educação Ambiental: desafios e do de reforçar que as práticas educativas articu-
construção de práticas de ladas com a problemática ambiental não devem
cidadania ambiental ser vistas como um adjetivo, mas como parte
componente de um processo educativo que re-
As premissas teóricas em torno do diálo- force um pensar da educação orientado para
go de saberes entre educação e meio ambiente, refletir a educação ambiental num contexto de
nas suas múltiplas dimensões e como campo crise ambiental, de crescente insegurança e in-
teórico em construção, têm sido apropriadas de certeza face aos riscos produzidos pela socieda-
formas diferentes pelos educadores ambientais, de global, o que, em síntese, pode ser resumi-
que buscam uma nova transversalidade de sabe- do como uma crise civilizatória de um modelo

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005 243


de sociedade. Nesse sentido, a formulação de mas categorias conceituais indissociáveis ao
Leff (2001, p. 256) nos permite enfatizar que processo pedagógico. (2002, p. 36)
este processo educativo deve ser capaz de for-
mar um pensamento crítico, criativo e sintoni- Para a vertente crítica, a educação am-
zado com a necessidade de propor respostas biental precisa construir um instrumental que
para o futuro, capaz de analisar as complexas promova uma atitude crítica, uma compreensão
relações entre os processos naturais e sociais e complexa e a politização da problemática
de atuar no ambiente em uma perspectiva glo- ambiental, a participação dos sujeitos, o que
bal, respeitando as diversidades socioculturais. explicita uma ênfase em práticas sociais menos
O objetivo é o de propiciar novas atitudes e rígidas, centradas na cooperação entre os atores.
comportamentos face ao consumo na nossa Na ótica da modernização reflexiva, a
sociedade e de estimular a mudança de valores educação ambiental tem de enfrentar a fragmen-
individuais e coletivos (Jacobi, 1997). Isto re- tação do conhecimento e desenvolver uma
quer um pensamento crítico da educação abordagem crítica e política, mas reflexiva.
ambiental, e, portanto, a definição de um Portanto, a dimensão ambiental repre-
posicionamento ético-político, “situando o senta a possibilidade de lidar com conexões
ambiente conceitual e político onde a educação entre diferentes dimensões humanas, possibili-
ambiental pode buscar sua fundamentação tando entrelaçamentos e trânsitos entre múlti-
enquanto projeto educativo que pretende trans- plos saberes. Atualmente, o desafio de fortalecer
formar a sociedade” (Carvalho, 2004, p. 18) uma educação para a cidadania ambiental con-
A partir das sínteses realizadas por Lima vergente e multi-referencial se coloca como pri-
(2002, p. 109-141) e Loureiro (2004) podem oridade para viabilizar uma prática educativa que
observar-se dois eixos para o discurso da educa- articule de forma incisiva a necessidade de se
ção ambiental: um conservador e outro emanci- enfrentar concomitantemente a crise ambiental e
patório, com suas diferentes leituras. A abordagem os problemas sociais. Assim, o entendimento so-
conservadora, pautada por uma visão reformista, bre os problemas ambientais se dá por meio da
propõe respostas instrumentais. Observa-se, de visão do meio ambiente como um campo de co-
fato, que o modus operandi que predomina é o nhecimento e significados socialmente cons-
das ações pontuais, descontextualizadas dos te- truídos, que é perpassado pela diversidade cultu-
mas geradores, freqüentemente descoladas de ral e ideológica e pelos conflitos de interesse.
uma proposta pedagógica, sem questionar o Os educadores devem estar cada vez
padrão civilizatório, apenas realimentando uma mais preparados para reelaborar as informações
visão simplista e reducionista. que recebem, e, dentre elas, as ambientais, para
A abordagem emancipatória, que tem como poder transmitir e decodificar para os alunos a
referenciais no campo da educação o pensamen- expressão dos significados em torno do meio
to crítico (Paulo Freire, Snyder e Giroux)6 e, no ambiente e da ecologia nas suas múltiplas de-
que se refere ao meio ambiente, autores como terminações e intersecções. A ênfase deve ser a
Capra, Morin, Leff, e Boff, dentre outros, propõe capacitação para perceber as relações entre as
uma educação baseada em práticas, orientações e áreas e como um todo, enfatizando uma for-
conteúdos que transcendem a preservação am- mação local/global, buscando marcar a neces-
biental. Parafraseando Morin, sidade de enfrentar a lógica da exclusão e das
desigualdades. Nesse contexto, a administração
na educação ambiental crítica, o conheci-
mento para ser pertinente não deriva de sa-
6. Para estes, a escola apresenta rupturas por meio das quais é possível
beres desunidos e compartimentalizados, mas exercer práticas críticas e trabalhar a resistência à reprodução e à domi-
da apreensão da realidade a partir de algu- nação ideológicas. (Loureiro, 2004, p. 121)

244 Pedro Roberto JACOBI. Educação ambiental: o desafio...


dos riscos socioambientais coloca cada vez mais cer a complexa interação entre sociedade e
a necessidade de ampliar o envolvimento públi- natureza. Nesse sentido, o papel dos professo-
co através de iniciativas que possibilitem um res é essencial para impulsionar as transforma-
aumento do nível de preocupação dos educa- ções de uma educação que assume um com-
dores com o meio ambiente, garantindo a in- promisso com o desenvolvimento sustentável e
formação e a consolidação institucional de também com as futuras gerações. Autores como
canais abertos para a participação numa pers- Carvalho (2003); Leff (2003); Sauvé (1999) e
pectiva pluralista. Gaudiano (2000) mostram como um discurso
A educação ambiental assume, assim, de ambiental dissociado das condições sócio-his-
maneira crescente, a forma de um processo tóricas pode ser alienante e levar a posições
intelectual ativo, enquanto aprendizado social, politicamente conservadoras, na medida em que
baseado no diálogo e interação em constante mobiliza o que Carvalho (2003, p. 116-117)
processo de recriação e reinterpretação de in- denomina de um consenso dissimulado, em vir-
formações, conceitos e significados, que se tude da generalização e do esvaziamento do
originam do aprendizado em sala de aula ou da termo desenvolvimento sustentável, das diferen-
experiência pessoal do aluno. A abordagem do ças ideológicas e os conflitos de interesses que
meio ambiente na escola passa a ter um papel se confrontam no ideário ambiental.
articulador dos conhecimentos nas diversas Isto nos leva à reflexão sobre a necessi-
disciplinas, num contexto no qual os conteúdos dade da formação do profissional reflexivo para
são ressignificados. Ao interferir no processo de desenvolver práticas que articulem a educação e
aprendizagem e nas percepções e representações o meio ambiente numa perspectiva crítica, que
sobre a relação entre indivíduos e ambiente nas abra perspectivas para uma atuação ecológica
condutas cotidianas que afetam a qualidade de sustentada por princípios de criatividade e capa-
vida, a educação ambiental promove os instru- cidade de formular e desenvolver práticas eman-
mentos para a construção de uma visão crítica, cipatórias norteadas pelo empoderamento e pela
reforçando práticas que explicitam a necessidade justiça ambiental e social.
de problematizar e agir em relação aos problemas A inserção da educação ambiental numa
socioambientais, tendo como horizonte, a partir perspectiva crítica ocorre na medida em que o
de uma compreensão dos conflitos, partilhar de professor assume uma postura reflexiva. Isto
uma ética preocupada com a justiça ambiental. potencializa entender a educação ambiental
A ótica inovadora refere-se à forma como como uma prática político-pedagógica, repre-
se apreende o objeto de conhecimento e à dinâ- sentando a possibilidade de motivar e sensibi-
mica que se estabelece com os atores sociais que lizar as pessoas para transformar as diversas
propõem uma nova forma de integração e articu- formas de participação em potenciais fatores de
lação do conhecimento ambiental. A prática dinamização da sociedade e de ampliação da
educativa deve estar norteada pela formação de responsabilidade socioambiental. Esta se con-
um indivíduo que supere o que Guimarães (2004, cretizará principalmente pela presença crescente
p. 30) denomina de “armadilhas paradigmáticas”7 , de uma pluralidade de atores que, por meio da
contribuindo para o exercício de uma cidadania ativação do seu potencial de participação, terão
ativa visando a mudar o atual quadro de crise cada vez mais condições de intervir consistente-
socioambiental. mente e sem tutela nos processos decisórios de
Esta abordagem busca superar o redu- interesse público, legitimando e consolidando
cionismo e estimula um pensar e fazer sobre o
meio ambiente diretamente vinculado ao diálo-
7. Trata-se de reprodução nas ações educativas dos paradigmas consti-
go entre saberes, à participação, aos valores tuintes da sociedade moderna atrelada a uma racionalidade dominante que
éticos como valores fundamentais para fortale- busca ser inquestionável.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005 245


propostas de gestão baseadas na garantia do A noção de complexidade é perigosa do
acesso à informação e na consolidação de ca- ponto de vista da política dos saberes. É,
nais abertos para a participação. com efeito, uma noção que está na moda, e
As experiências interdisciplinares são re- essa moda contém uma armadilha. A arma-
centes e incipientes, até mesmo em nível de pós- dilha dos grandes discursos sobre a com-
graduação. O que prevalece são práticas multi- plexidade. (1990, p. 148)
disciplinares e, segundo Tristão (2002, p. 175),
“como as disciplinas de geografia e biologia têm O desafio da interdisciplinariedade é en-
uma afinidade de conteúdos em relação à di- frentado como um processo de conhecimento que
mensão ambiental, a inserção da educação busca estabelecer cortes transversais na compreen-
ambiental ocorre por meio de um exercício são e explicação do contexto de ensino e pesqui-
multidisciplinar, às vezes até de uma cooperação sa, buscando a interação entre as disciplinas e
entre os conteúdos dessas disciplinas”. superando a compartimentalização científica pro-
Tristão (2002, p. 173-181) observa que vocada pela excessiva especialização.
existem quatro desafios da educação ambiental Como combinação de várias áreas de co-
que, entrelaçados, estão associados ao papel do nhecimento, a interdisciplinariedade pressupõe o
educador na contemporaneidade. O primeiro desenvolvimento de metodologias interativas,
desafio é o de “enfrentar a multiplicidade de configurando a abrangência de enfoques e con-
visões”, e isto implica a preparação do educa- templando uma nova articulação das conexões
dor para fazer as conexões (Capra, 2003, p. 94- entre as ciências naturais, sociais e exatas. Cabe
99) e articular os processos cognitivos com os ressaltar que o contexto epistemológico da educa-
contextos da vida. Assim, entender a complexi- ção ambiental permite um conhecimento aberto,
dade ambiental, não como “moda” ou “reifi- processual e reflexivo, a partir de uma articulação
cação” ou “utilização indiscriminada”, mas complexa e multirreferencial. Nesse sentido, o co-
como construção de sentidos fundamental para nhecimento transdisciplinar se configura como um
identificar interpretações e generalizações fei- horizonte mais ousado de conhecimento. Para
tas em nome do meio ambiente e da ecologia. Morin (2000, p. 37), a transdisciplinaridade esta-
O segundo desafio é o de “superar a visão do ria mais próxima do exercício do pensamento
especialista”, e para tanto o caminho é a rup- complexo, pelo fato de ter como pressuposto a
tura com as práticas disciplinares. O terceiro transmigração e diálogo de conceitos através de
desafio é “superar a pedagogia das certezas”, e diversas disciplinas.
isto converge com as premissas que norteiam a A preocupação em consolidar uma dinâ-
formação do “professor reflexivo”, o que impli- mica de ensino e pesquisa a partir de uma
ca compreender a modernidade, os “riscos pro- perspectiva interdisciplinar enfatiza a importân-
duzidos” (Giddens, 1991, p. 140) e seu poten- cia dos processos sociais que determinam as
cial de reprodução, além de desenvolver no formas de apropriação da natureza e suas trans-
espaço pedagógico uma sensibilização em tor- formações, por meio da participação social na
no da complexidade da sociedade contemporâ- gestão dos recursos ambientais, levando em
nea e suas múltiplas causalidades. O quarto conta a dimensão evolutiva no sentido mais
desafio é superar a lógica da exclusão, que amplo e incluindo as conexões entre as diver-
soma ao desafio da sustentabilidade a necessi- sidades biológica e cultural, assim como as
dade da superação das desigualdades sociais. práticas dos diversos atores sociais e o impac-
O momento atual é o de consolidar prá- to da sua relação com o meio ambiente.
ticas pedagógicas que estimulem a interdis- Dessa forma, a ênfase na interdiscipli-
ciplinaridade, na sua diversidade. Recorremos a nariedade na análise das questões ambientais
Stengers para expressar nosso ponto de vista: deve-se à constatação de que os problemas que

246 Pedro Roberto JACOBI. Educação ambiental: o desafio...


afetam e mantêm a vida no nosso planeta são res e de uma ética para a construção de uma
de natureza global e que a compreensão de sociedade ambientalmente sustentável.
suas causas não pode restringir-se apenas aos A necessidade de uma crescente interna-
fatores estritamente biológicos, revelando di- lização da questão ambiental, um saber ainda
mensões políticas, econômicas, institucionais, em construção, demanda um esforço de forta-
sociais e culturais. lecer visões integradoras que, centradas no de-
Porém, não é suficiente reunir diferentes senvolvimento, estimulam uma reflexão em
disciplinas para o exercício interdisciplinar. A torno da diversidade e da construção de sen-
educação ambiental deve apoiar-se em trocas tidos nas relações indivíduos-natureza, nos ris-
sistemáticas e no confronto de saberes discipli- cos ambientais globais e locais e nas relações
nares que incluam não apenas uma problemá- ambiente-desenvolvimento. Nesse contexto, a
tica nas interfaces entre as diversas ciências educação ambiental aponta para a necessidade
naturais e sociais e isto só se concretizará a de elaboração de propostas pedagógicas cen-
partir de uma ação orgânica das diversas disci- tradas na conscientização, mudança de atitude
plinas, superando a visão multidisciplinar. e práticas sociais, desenvolvimento de conhe-
Posto que os problemas ambientais cimentos, capacidade de avaliação e participa-
transcendem as diferentes disciplinas, tanto o ção dos educandos.
aprofundamento disciplinar quanto a ampliação A relação entre meio ambiente e educa-
do conhecimento entre as disciplinas são ele- ção assume um papel cada vez mais desafiador,
mentos fundamentais, porém de grande com- demandando a emergência de novos saberes
plexidade quanto à sua implementação. Consi- para apreender processos sociais cada vez mais
derando como ponto de partida uma realidade complexos e riscos ambientais que se intensifi-
socioambiental complexa, esse processo exige, cam. Nas suas múltiplas possibilidades, abre um
cada vez mais, a internalização de um saber estimulante espaço para um repensar de práticas
ambiental emergente num conjunto de discipli- sociais e o papel dos educadores na formação
nas, visando a construir um campo de conhe- de um “sujeito ecológico” (Carvalho, 2004).
cimento capaz de captar as multicausalidades e A restrita presença do debate ambiental,
as relações de interdependência dos processos seja como disciplina, seja como eixo articulador
de ordem natural e social que determinam as nos currículos dos cursos de formação de profes-
estruturas e mudanças socioambientais. sores (MEC, 2000), é um bom indicador do de-
Concluímos afirmando que o desafio po- safio de internalização da educação ambiental nos
lítico-ético da educação ambiental, apoiado no espaços educativos. Isto coloca a necessidade de
potencial transformador das relações sociais, uma permanente sensibilização dos professores,
encontra-se estreitamente vinculado ao proces- educadores e capacitadores como transmissores
so de fortalecimento da democracia e da cons- de um conhecimento necessário para que os alu-
trução de uma cidadania ambiental. Nesse sen- nos adquiram uma base adequada de compreen-
tido, o papel dos educadores e professores é são dos problemas e riscos socioambientais, do
essencial para impulsionar as transformações de seu impacto no meio ambiente global e local, da
uma educação que assume um compromisso interdependência dos problemas e da necessidade
com a formação de uma visão crítica, de valo- de cooperação e diálogo entre disciplinas e saberes.

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Recebido em 19.04.05
Modificado em 10.06.05
Aprovado em 06.07.05

Pedro Roberto Jacobi é doutor em Sociologia, professor titutlar da Faculdade de Educação e do programa de pós-
graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo. É autor de Políticas Sociais e Ampliação da Cidadania (2000),
Cidade e Meio Ambiente: percepções e práticas em Sào Paulo (1999), co-autor de Citizens at risk (2001) e coeditor da revista
Ambiente e Sociedade.

250 Pedro Roberto JACOBI. Educação ambiental: o desafio...

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