F. Primado Do Direito E Julgamento Justo
F. Primado Do Direito E Julgamento Justo
F. Primado Do Direito E Julgamento Justo
PRIMADO DO DIREITO
E JULGAMENTO JUSTO
“O primado do Direito é mais do que o uso formal dos instrumentos jurídicos, é também
o Primado da Justiça e da Proteção para todos os membros da sociedade contra um poder
governamental excessivo.”
Comissão Internacional de Juristas. 1986.
224 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Turquia: Farsa de Justiça no Julgamento cia decidiu que as suas declarações eram
de uma Ativista inadmissíveis como provas contra S.. Ne-
nhumas outras provas, testemunhais ou
Em 9 de fevereiro de 2011, S. vai ser jul- forenses, foram apresentadas para estabe-
gada pelo seu alegado envolvimento lecer uma ligação entre S. e a explosão.
numa explosão, em 1998, no Mercado de Verificou-se que uma declaração por escrito
Especiarias de Istambul, que matou sete supostamente feita pela tia de Ö., em que
pessoas e feriu mais de 100. É a terceira alegadamente identificou S. como tendo
tentativa para condená-la pela autoria de visitado a sua casa, foi fabricada, quando
um atentado com bomba letal apesar das se tornou claro que a sua tia apenas falava
provas substanciais de que não teve lugar curdo e não turco, tendo ela testemunhado
um atentado com bomba, mas sim que a que a polícia a tinha forçado a assinar um
explosão resultou de uma fuga de gás. documento cujo conteúdo ela desconhecia.
Em 1998, S., então com 27 anos, trabalha- No tribunal, tanto Ö. como a sua tia afir-
va num projeto de arte de rua em Istambul maram nunca sequer terem conhecido S..
quando foi detida. Um jovem de 19 anos de “O julgamento de S. representa uma per-
idade, Ö., também foi detido. O caso contra versão do sistema de justiça criminal e um
ele baseava-se na alegação, repetidamente abuso do processo equitativo”, disse Emma
negada, de que a explosão tinha resultado Sinclair-Webb, pesquisadora na Turquia
de um atentado com bomba e na acusação da Human Rights Watch, que irá assistir
feita por Ö., durante o interrogatório, da cul- ao julgamento. “A continuidade deste caso
pa de S.. Ö., mais tarde, retirou em tribunal desde há 12 anos viola os requisitos mais
a sua acusação, dizendo que tinha sido co- elementares para um julgamento justo. Es-
agido pela polícia, sob tortura. S. também tas acusações infundadas deveriam termi-
alega ter sido severamente torturada quando nar de uma vez por todas.”
se encontrava sob custódia da polícia. Persistem na Turquia preocupações bem
Inicialmente, os relatórios da polícia retira- fundadas sobre acusações motivadas po-
ram a hipótese de se tratar de um atentado liticamente, disse a Human Rights Watch.
com bomba, sugerindo que a explosão tinha Procuradores e juízes prosseguem proces-
sido causada por uma fuga de gás. O procu- sos, sem justificação, contra jornalistas e
rador que indiciou S. e Ö. rotulou a explosão editores, defensores dos direitos humanos,
como resultante de um atentado com bom- indivíduos que participam em manifesta-
ba, o que mais tarde foi refutado por três ções e pessoas envolvidas em atividades
relatórios separados de especialistas em di- legais políticas pró-curdas.
ferentes departamentos da universidade. Os S. é uma socióloga que fez campanhas e
relatórios da autópsia não referem quaisquer escreveu extensamente sobre questões dos
indícios de que as mortes tivessem sido cau- direitos humanos na Turquia, incluindo
sadas por um atentado à bomba. questões de género, dos direitos dos ho-
Quando Ö. foi absolvido de todas as acu- mossexuais, bissexuais e transsexuais, bem
sações, decisão confirmada pelo Tribunal como sobre os direitos dos curdos e de ou-
de Cassação, o tribunal de primeira instân- tras minorias. O seu julgamento é um dos
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 225
A SABER
1. INTRODUÇÃO duma sociedade democrática que se rege
pelo “primado do Direito”.
Imagine-se sentado num tribunal sem
saber porquê. Fica ainda mais confuso O Primado do Direito
quando o juiz começa a ler a acusação – o O primado do Direito abrange várias áreas
crime de que é acusado nunca antes foi e engloba aspetos políticos, constitucio-
considerado ilegal, uma vez que não se nais, jurídicos bem como dos direitos hu-
encontra descrito na atual legislação. Nin- manos. Qualquer sociedade democrática
guém responde às suas questões, sente-se tem de assegurar o respeito pelo primado
completamente incapaz de se defender a do Direito. Tal é essencial para a proteção
si próprio, porém, não lhe é facultado um efetiva dos direitos humanos.
advogado. Pior do que isto, quando se ini-
cia a inquirição das testemunhas, descobre Direito à Democracia
que pelo menos uma delas fala uma língua
que não compreende e que nenhum intér- Apesar de o primado do Direito ser um
prete está presente. Durante o julgamen- pilar da sociedade democrática, não
to, o juiz informa-o que esta é a segunda existe total consenso quanto a todos os
audiência, tendo a primeira decorrido sem seus elementos. Todavia, é comummente
a sua presença. À medida que decorre o aceite que os cidadãos só estão protegi-
julgamento, torna-se claro que todos estão dos contra atos arbitrários de autoridades
convencidos da sua culpa e que, na reali- públicas quando os seus direitos estejam
dade, a única questão é saber qual deve estabelecidos na lei. Esta lei tem de ser
ser a sua pena. de conhecimento público, tem de ser
aplicada de forma igualitária e o seu
Este exemplo demonstra o que acontece cumprimento tem de ser, efetivamente,
quando são violadas as garantias de um aplicado. Assim, torna-se evidente que
julgamento justo. O direito ao julgamen- a execução do poder estatal tem de ser
to justo, também denominado como “boa fundamentada em legislação elaborada
aplicação da justiça”, é um dos pilares de acordo com a Constituição e com o ob-
226 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
jetivo de garantir a liberdade, a justiça e a gos, como Aristóteles, que preferiam o esta-
certeza jurídica. do de direito ao estado discricionário. Outra
etapa pode ser identificada na Inglaterra me-
Em 1993, a Conferência Mundial das Na- dieval onde, em 1066, uma administração
ções Unidas sobre os Direitos Humanos, central foi estabelecida por Guilherme, o Con-
em Viena, reafirmou a ligação inquebrá- quistador. Embora o rei incorporasse os po-
vel entre o princípio do primado do Direi- deres executivo, legislativo e judicial centrais,
to e a proteção e promoção dos direitos ele próprio não se encontrava acima da lei –
humanos. Reconheceu que a ausência do era a lei que o tornara rei. Em consequência,
primado do Direito é um dos maiores obs- os tribunais de direito comum (common law)
táculos à implementação dos direitos hu- e o parlamento, em conjunto com a nobreza,
manos. O primado do Direito fornece os fortaleceram a sua influência no sistema na-
alicerces para a condução justa das rela- cional, estabelecendo a primeira monarquia
ções entre as pessoas, e é um pilar essen- parlamentar na Europa. As pedras angulares
cial do processo democrático. O primado do desenvolvimento do primado do Direito
do Direito também assegura a prestação foram a Magna Charta Libertatum (1215),
de contas e fornece um mecanismo de concedendo certos direitos civis e políticos
controlo daqueles que estão no poder. à nobreza, e a Lei do Habeas Corpus (1679)
que deu, a quem se encontrasse detido, o di-
“Para as Nações Unidas, o primado do reito inegável a ser informado das razões pe-
Direito refere-se a um princípio de gover- las quais a sua liberdade fora restrita.
nação no qual todas as pessoas, insti- Na Europa, o princípio do primado do Di-
tuições e entidades, públicas e privadas, reito ganhou importância no ambiente das
incluindo o próprio Estado, cumprem as revoluções civis, durante os séculos XVII e
XVIII. Atualmente, o primado do Direito é
leis promulgadas oficialmente, aplicadas
um princípio fundamental das instituições
com igualdade e imparcialidade e com-
nacionais e regionais em todo o mundo.
patíveis com os padrões e as normas in-
ternacionais de direitos humanos. Tam-
Primado do Direito, Julgamento Justo
bém requer medidas para a garantia da
e Segurança Humana
adesão aos princípios da supremacia do
direito, igualdade perante a lei, respon- A segurança humana tem a sua raiz no
sabilização em relação à lei, justiça na primado do Direito e no julgamento justo
aplicação da lei, separação dos poderes, e não se concretizará sem estes princípios
participação na tomada de decisões, se- fundamentais. Os princípios do primado
gurança jurídica, proibição da arbitrarie- do Direito e do julgamento justo contri-
dade e transparência processual e legal.” buem diretamente para a segurança da
pessoa, garantem que ninguém seja pro-
(Fonte: Nações Unidas. 2004. The Rule
cessado e preso de forma arbitrária e que
of Law and Transnational Justice in Con-
todos possam ser ouvidos em tribunal pe-
flict and Post-Conflict Societies.)
rante um juiz independente e imparcial.
Desenvolvimento Histórico do Primado A equidade nos procedimentos judiciais é
do Direito uma componente da justiça e assegura a
As raízes do princípio do primado do Direito confiança dos cidadãos numa jurisdição
podem ser encontradas já nos filósofos gre- com base na lei e imparcial.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 227
2. Todos os acusados da prática de um 10. Ninguém deve ser condenado por atos
crime têm o direito a ser, atempada- ou omissões que não constituam um
mente, informados, em pormenor, ato delituoso, segundo o direito na-
num idioma que compreendam, da cional ou internacional, no momento
natureza e causa da acusação contra em que forem cometidos (“nullum
eles formulada. crimen, nulla poena sine lege”). Do
3. Todos os acusados da prática de um mesmo modo, não deve ser aplicada
crime têm o direito à presunção de nenhuma pena mais gravosa do que
inocência até ser provada a sua cul- aquela que era aplicável no momento
pa de acordo com a lei. em que a infração foi cometida.
4. O tribunal deve ser competente, in- 11. Todos têm o direito ao acesso gra-
dependente, imparcial e estabeleci- tuito a soluções judiciais eficazes e
do pela lei. equitativas. Todos aqueles que sejam
condenados pela prática de um crime
5. Todos têm direito a uma audiência equi- têm o direito a que a sentença que os
tativa e pública; termos em que, o público condena seja revista por um tribunal
só pode ser excluído em casos específicos. superior, nos termos da lei.
6. Todos têm o direito a ser julgados (Fonte: Extraídos dos principais instru-
sem demora excessiva. mentos dos Direitos Humanos da ONU.)
7. Todos têm o direito a estar presen-
te no julgamento. A pessoa acusada As disposições internacionais sobre o direito a
tem o direito a defender-se a si mes- um julgamento justo (por exemplo, o artº 14º
ma ou a ter a assistência de um de- do PIDCP que foi especificado e interpretado
fensor da sua escolha; se não tiver pelo Comité dos Direitos Humanos, no seu
defensor, deve ser informada do seu Comentário Geral nº 32, em 2007) aplicam-se
direito de ter um; sempre que o in- a todos os tribunais, quer ordinários quer
teresse da justiça o exigir deve ser- especiais. Em muitos países, existem tribu-
lhe atribuído um defensor oficioso, nais militares ou especiais que julgam civis.
a título gratuito, no caso de não ter Muitas vezes, a razão para o estabelecimento
meios para o remunerar. destes tribunais prende-se com permitir a apli-
8. A pessoa acusada tem direito a in- cação de procedimentos excecionais que não
terrogar, ou fazer interrogar, as tes- obedecem aos princípios normais da justiça.
temunhas de acusação e a obter a Embora o Pacto não proíba estas categorias
comparência e o interrogatório das de tribunais, as condições que estabelece, to-
testemunhas de defesa. A pessoa davia, indicam claramente que o julgamento
acusada tem direito a não ser força- de civis nestes tribunais deve ser excecional
da a testemunhar contra si própria e deve ter lugar em condições que garantam,
ou a confessar-se culpada. plenamente, o estipulado no PIDCP.
9. A pessoa acusada tem direito à assis-
Igualdade perante a Lei
tência gratuita de um intérprete, se
e perante os Tribunais
não compreender ou não falar a lín-
A garantia da igualdade é um dos princí-
gua utilizada no tribunal.
pios gerais do primado do Direito. Proíbe
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 229
lei assegura que quem vive de acordo com contra uma garantia financeira enquanto
a lei não corre o risco de, repentinamente, aguarda o início dos procedimentos judi-
ser punido pela prática de atos originaria- ciais. A existir na ordem jurídica de um
mente legais. Assim, a aplicação do princí- Estado, o direito à caução não pode ser re-
pio da não retroatividade é indispensável cusado, nem aplicado de forma arbitrária,
para a segurança jurídica. embora o juiz tenha poderes discricioná-
rios na tomada de decisão.
guns países ainda executam crianças in- e Iémen. Alguns destes países mudaram
fratoras. Estas execuções são poucas, em as suas leis para excluírem a prática. A
comparação com o número total de exe- execução de crianças infratoras represen-
cuções no mundo. O seu significado vai ta uma pequena fração do total de exe-
para além do seu número e questiona o cuções em todo o mundo registadas pela
compromisso dos Estados que realizam Amnistia Internacional, em cada ano. Os
estas execuções em relação ao respeito EUA e o Irão executaram mais crianças
pelo direito internacional. infratoras do que os outros oito países
Desde 1990, a Amnistia Internacional juntos e o Irão excedeu agora o total dos
documentou 87 execuções de crianças EUA, desde 1990, em 19 execuções de
infratoras, em 9 países: China, Repúbli- crianças infratoras.”
ca Democrática do Congo, Irão, Nigéria, (Fonte: Amnistia Internacional. Execu-
Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, EUA tions of Juveniles since 1990.)
Execuções
Total de
conhecidas Países que executam crianças perpetradoras
execuções
Ano de crianças de crimes (o número de execuções conhecidas
conhecidas no
perpetradoras aparece entre parêntesis)
mundo
de crimes
1990 2 2029 Irão (1), EUA (1)
1991 0 2086 --
1992 6 1708 Irão (3), Paquistão (1), Arábia Saudita (1), EUA (1)
1993 5 1831 EUA (4), Iémen (1)
1994 0 2331 --
1995 1 3276 Irão (1)
1996 0 4272 --
1997 2 2607 Nigéria (1), Paquistão (1)
1998 3 2258 EUA (3)
1999 2 1813 Irão (1), EUA (1)
2000 6 1457 Rep. Dem. do Congo (1), Irão (1), EUA (4)
2001 3 3048 Irão (1), Paquistão (1), EUA (1)
2002 3 1526 EUA (3)
2003 2 1146 China (1), EUA (1)
2004 4 3797 China (1), Irão (3)
2005 10 2148 Irão (8) Sudão (2)
2006 5 1591 Irão (4), Paquistão (1)
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 235
Execuções
Total de
conhecidas Países que executam crianças perpetradoras
execuções
Ano de crianças de crimes (o número de execuções conhecidas
conhecidas no
perpetradoras aparece entre parêntesis)
mundo
de crimes
2007 14 1252 Irão (11), Arábia Saudita (2), Iémen (1)
2008 8 2390 Irão (8)
2009 7 714, excluindo Irão (5), Arábia Saudita (2)
a China
2010 1 527, excluindo Irão (1)
a China
2011 3 Não dispo- Irão (3)
nível
(Fonte: Amnistia Internacional: Executions of Juveniles since 1990. Disponível em: http://
www.amnesty.org/en/death-penalty/executions-of-child-offenders-since1990)
a maioria das mulheres no mundo, as bem como pelo mau funcionamento dos
leis que existem no papel nem sempre se sistemas judiciais nacionais. O estabeleci-
traduzem na igualdade e na justiça. Em mento de um regime baseado no primado
muitos contextos, tanto em países ricos do Direito que funcione bem é essencial
como pobres, a infraestrutura da justi- à democracia, sendo que tal objetivo de-
ça - a polícia, os tribunais e o judiciário mora a ser alcançado e requer recursos fi-
- falha às mulheres, o que se manifesta nanceiros. Além disso, é difícil alcançar a
através de serviços deficientes e atitu- independência judicial sem uma tradição
des hostis por parte das mesmas pesso- de respeito pelos valores democráticos e
as cujo dever é fazer cumprir os direitos pelas liberdades civis. Contudo, num mun-
das mulheres. Como resultado, apesar do de globalização económica, a exigência
da igualdade entre homens e mulheres internacional de estabilidade, de prestação
se encontrar garantida nas Constituições de contas e de transparência, que só podem
de 139 países e territórios, leis inade- ser garantidas por um regime que respeite
quadas e lacunas no quadro legislativo, o primado do Direito, continua a aumentar.
execuções deficientes e vastos hiatos na
implementação fazem destas garantias As violações do direito a um julgamento
promessas ocas, com pouco impacto no justo não ocorrem apenas em países em
dia a dia das mulheres. [...] Sistemas le- transição. Ao arrepio das garantias dos di-
gais e de justiça a funcionarem bem po- reitos humanos, 171 cidadãos estrangeiros
dem constituir um mecanismo vital para encontram-se detidos (12 dos quais desde
as mulheres alcançarem os seus direitos. janeiro de 2002) no centro de detenções
As leis e os sistemas de justiça moldam a na base naval dos EUA na Baía de Guan-
sociedade, promovendo a responsabiliza- tánamo, em Cuba, sem terem sido formal-
ção, travando os abusos de poder, crian- mente acusados da prática de um crime.
do novas normas que definem o que é Desde 2002, dos 779 detidos apenas uma
aceitável. Os tribunais têm sido um local pessoa foi condenada por um tribunal civil
fundamental para as mulheres reivindi- dos EUA. No seu relatório de 2011 sobre o
carem os seus direitos e, em casos raros, centro de detenções de Guantánamo, a Am-
provocarem uma mudança mais ampla nistia Internacional afirmou que “desde o
para todas as mulheres, através de lití- primeiro dia que os EUA não reconhecem a
gios estratégicos.” aplicabilidade do quadro jurídico dos direi-
tos humanos às detenções de Guantánamo.
(Fonte: ONU Mulheres. 2011. 2011- À medida que nos aproximamos de 11 de
2012 Progress of the World’s Women. janeiro de 2012, o dia 3.653 na vida desta
In Pursuit of Justice.) conhecida prisão, os EUA continuam a não
abordar as detenções num quadro de direi-
Direitos Humanos das Mulheres tos humanos. O agora muito referido objeti-
vo de encerramento do centro de detenções
Alguns dos mais difíceis problemas en- de Guantánamo permanecerá ilusório – ou
frentados pelos países em transição para será alcançado apenas com o custo da deslo-
a democracia estão diretamente relaciona- cação das violações – a não ser que o gover-
dos com os sistemas governativos e legais no dos EUA nos seus três ramos aborde as
caraterizados pela corrupção generalizada, detenções enquanto um assunto que inequi-
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 237
tos. A nível internacional, os tratados de Tal possibilidade existe, por exemplo, sob
direitos humanos foram celebrados para o Protocolo Facultativo referente ao Pacto
proteger os direitos humanos. Assim que Internacional sobre os Direitos Civis e Po-
um Estado se torna parte de um destes líticos, a Convenção Europeia dos Direitos
tratados está obrigado a garantir e a im- Humanos (Artº 34º), a Convenção Ameri-
plementar as disposições a nível domés- cana sobre Direitos Humanos (Artº 44º) e
tico. a Carta Africana dos Direitos Humanos e
dos Povos (Artº 55º). De acordo com estes
A fim de monitorizar a implementação das tratados, os particulares podem apresentar
disposições de direitos humanos, alguns a sua queixa perante o Comité dos Direi-
dos tratados de direitos humanos, como o tos Humanos da ONU ou o Tribunal Eu-
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis ropeu dos Direitos Humanos, a Comissão
e Políticos (PIDCP), estabelecem um me- Interamericana dos Direitos Humanos ou
canismo de supervisão. Este mecanismo a Comissão Africana dos Direitos Huma-
consiste num sistema de relatórios pelo nos e dos Povos. Estes órgãos dos tratados
qual os Estados Partes estão obrigados a analisam a queixa e, caso encontrem uma
apresentar relatórios, a intervalos regula- violação, o Estado em questão é aconse-
res, a um órgão internacional de monito- lhado a tomar as medidas necessárias para
rização, sobre a forma como têm imple- alterar esta prática ou a lei e para reparar
mentado as disposições do tratado. No a situação da vítima. Os Estados Partes es-
que respeita à implementação das obri- tão vinculados às decisões do Tribunal Eu-
gações dos Estados contidas no PIDCP, o ropeu dos Direitos Humanos, do Tribunal
Comité dos Direitos Humanos da ONU Interamericano dos Direitos Humanos e do
comenta os relatórios dos Estados Partes, Tribunal Africano dos Direitos Humanos e
dá sugestões e faz recomendações para dos Povos, em todos os casos em que se-
melhorar a implementação das obrigações jam partes.
dos direitos humanos. Além disso, emite Como parte dos seus procedimentos te-
Comentários Gerais sobre a interpretação máticos, a Comissão de Direitos Huma-
do PIDCP, como o Comentário Geral nº 13 nos das Nações Unidas nomeou relatores
de 1984, sobre a igualdade perante os tri- especiais sobre as execuções arbitrárias,
bunais e o direito a um julgamento justo sumárias ou extrajudiciais (1982), sobre
e público, por um tribunal independente a tortura e penas ou tratamentos cru-
estabelecido por lei (artº 14º do PIDCP), éis, desumanos ou degradantes (1985),
que foi substituído pelo Comentário Geral sobre a independência dos juízes e ad-
nº 32 sobre o artº 14º: Direito à Igualdade vogados (1994), sobre a violência con-
perante os Tribunais e a um Julgamento tra as mulheres, as suas causas e con-
Justo, em 2007. sequências (1994), sobre a situação dos
Alguns dos tratados dos direitos humanos defensores de direitos humanos (2000)
também estabelecem um mecanismo de e sobre a promoção e proteção dos di-
queixa. Após a exaustão dos mecanismos reitos humanos na luta contra o terro-
de proteção domésticos, um indivíduo rismo (2005). Em 1991, foi estabelecido
pode apresentar uma “comunicação” sobre um grupo de trabalho sobre a detenção
uma alegada violação de direitos humanos arbitrária.
que sejam garantidos por aquele tratado.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 239
CONVÉM SABER
os países africanos de um poder judicial
1. BOAS PRÁTICAS forte e independente, que beneficie da
confiança do povo, para uma democracia
Escritório para as Instituições Demo- e desenvolvimento sustentáveis, apelou a
cráticas e Direitos Humanos (ODIHR) estes países para adotarem medidas legis-
– OSCE lativas para salvaguardar a independência
O mandato do Escritório compreende do poder judicial; para lhe disponibiliza-
“[…] assegurar o pleno respeito pelos di- rem recursos suficientes para aquele cum-
reitos humanos e liberdades fundamen- prir a sua função; para darem aos juízes
tais, reger-se pelo primado do Direito, condições de vida decentes e condições
promover os princípios da democracia de trabalho aceitáveis para assegurar que
e […] construir, fortalecer e proteger as possam manter a sua independência; para
instituições democráticas bem como pro- se absterem de praticar atos que possam
mover a tolerância em toda a sociedade”. ameaçar, direta ou indiretamente, a inde-
No campo do primado do Direito, o Escri- pendência e a segurança dos juízes e ma-
tório está empenhado em vários projetos gistrados.
de ajuda técnica para fomentar o seu de- Além disso, apelou aos juízes africanos
senvolvimento. O Escritório executa pro- que organizem, a nível nacional e re-
gramas nas áreas do julgamento justo, da gional, encontros periódicos de forma a
justiça criminal e do primado do Direito; trocarem experiências e avaliarem os es-
além de que presta ajuda e dá formação a forços empreendidos, contribuindo para
advogados, juízes, procuradores, funcio- um poder judiciário eficaz e independen-
nários governamentais e à sociedade ci- te. Em 2011, a Comissão adotou os Prin-
vil. Através de projetos quanto a reformas cípios e Diretrizes sobre o Direito a um
legais e revisões legislativas, o Escritório Julgamento Justo e Assistência Jurídi-
ajuda os Estados a colocar as leis domés- ca em África, que incluem os princípios
ticas em sintonia com os compromissos gerais aplicáveis a todos os procedimen-
da OSCE e outras normas internacionais. tos jurídicos (por exemplo, audiências
Neste contexto, o Escritório opera, es- justas e públicas, tribunais independen-
sencialmente, na Europa de Leste e de tes e imparciais, etc.), formação judicial,
Sudeste, bem como na Ásia Central e no direito a soluções eficazes, acesso a ad-
Cáucaso. vogados e serviços jurídicos, assistência
oficiosa e assistência jurídica, direito dos
Fortalecimento da Independência do Po- civis não serem julgados em tribunais
der Judicial e Respeito pelo Direito a um militares, disposições aplicáveis à de-
Julgamento Justo tenção e privação de liberdade, etc. De
Na sua Resolução sobre o Respeito e o acordo com este instrumento, os prin-
Fortalecimento da Independência do Po- cípios e diretrizes estabelecidos devem
der Judicial, adotada em 1996, a Comis- tornar-se conhecidos por todos em Áfri-
são Africana dos Direitos Humanos e dos ca e ser promovidos e protegidos pelas
Povos, reconhecendo a importância para organizações da sociedade civil, juízes,
240 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
incluindo o próprio Estado, são responsá- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
veis perante as leis promulgadas oficial- tos Civis e Políticos, artos 9º, 10º,
mente, aplicadas com igualdade e impar- 14º, 15º, 16º, 26º
cialidade e compatíveis com os padrões e 1969 Convenção Americana sobre Direi-
as normas internacionais de direitos hu- tos Humanos, artos 8º, 9º
manos. Também requer medidas para a
1977 Protocolo Adicional (I) às Con-
garantia da adesão aos princípios da su-
venções de Genebra, artos 44º,
premacia do direito, igualdade perante a
nº 4, 75º
lei, responsabilização em relação à lei, jus-
tiça na aplicação da lei, separação dos po- 1977 Protocolo Adicional (II) às Con-
deres, participação na tomada de decisões, venções de Genebra, Artº 6º
segurança jurídica, proibição da arbitrarie- 1979 Convenção sobre a Eliminação de
dade e transparência processual e legal.” Todas as Formas de Discriminação
(Fonte: Nações Unidas. 2004. Relatório contra as Mulheres, Artº 15º
do Secretário-Geral sobre o Primado do 1981 Carta Africana dos Direitos Huma-
Direito e Justiça de Transição em Socie- nos e dos Povos (Carta de Banjul),
dades em Conflito e Pós-Conflito.) artos 7º, 26º
1982 Relator Especial das Nações Uni-
3. CRONOLOGIA das sobre Execuções Extrajudi-
ciais, Sumárias ou Arbitrárias
1948 Declaração Universal dos Direitos Hu- 1984 Convenção contra a Tortura e Ou-
manos, artos 6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º tras Penas ou Tratamentos Cru-
1948 Declaração Americana dos Direi- éis, Desumanos ou Degradantes,
tos e Deveres Humanos, artos I, II, artº 15º
XVII, XVIII, XXVI 1984 Protocolo nº 7 à Convenção Euro-
1949 Convenção de Genebra (III) relati- peia para a Proteção dos Direitos
va ao Tratamento dos Prisioneiros Humanos e das Liberdades Funda-
de Guerra, artº 3º, al. d), artos 17º, mentais, artos 1º, 2º, 3º, 4º
82º-88º 1984 Comentário Geral nº 13 sobre a
1949 Convenção de Genebra (IV) relati- Igualdade perante os Tribunais
va à Proteção de Civis em Tempo e o Direito a um Julgamento
de Guerra, artº 3º, al. d), artos 33º, Justo e Audiência Pública por
64º-67º, 70º-76º um Tribunal Independente esta-
belecido pela Lei (Artº 14º do
1950 Convenção Europeia para a Pro-
PIDCP)
teção dos Direitos Humanos e das
Liberdades Fundamentais, artos 5º, 1985 Princípios Básicos das Nações Uni-
6º, 7º, 13º das relativos à Independência da
Magistratura
1965 Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas 1985 Regras Mínimas das Nações Uni-
de Discriminação Racial, artos 5º, das para a Administração da Justi-
al. a), 6º ça Juvenil (Regras de Pequim)
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1994 Relator Especial das Nações Uni- perante os Tribunais e a um Julga-
das para a Violência contra as mento Justo
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: SER OUVIDO volver capacidades analíticas e demo-
OU NÃO SER OUVIDO? cráticas.
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
Parte I: Introdução Dimensão do grupo: 15-20
Compreender as regras e os procedimen- Duração: cerca de 90 minutos
tos de um julgamento é essencial para a Preparação: Arranjar a sala como se fosse
compreensão do sistema judicial e para um tribunal. Colocar, à frente, uma mesa
poder defender os seus direitos. para o juiz e outras duas em ângulos cor-
retos em relação àquela, ficando uma em
Parte II: Informação Geral frente da outra, uma para o acusado e para
Tipo de Atividade: Dramatização a defesa, a outra para a acusação (equipa
Metas e objetivos: Experimentar uma de procuradores).
situação de tribunal; identificar a noção Competências envolvidas: Pensamento
de julgamento justo e público; desen- crítico e capacidades analíticas, capacida-
244 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Aqueles que julgam o acusado não se de- Preparação: Preparar uma ficha informati-
vem deixar influenciar por outros. Com base va com a declaração do advogado de defe-
na dramatização, discutir o facto de que to- sa Gerry Spence (ver abaixo).
dos têm de ter uma oportunidade equitativa Competências envolvidas: Pensamento
de apresentar o seu caso. Isto é válido para crítico e capacidades analíticas, formação
casos criminais como para disputas civis, de opinião, capacidades de comunicação,
quando uma pessoa processa outra. expressar opiniões e pontos de vista dife-
Debater a definição usada pela Nações rentes sobre um assunto.
Unidas sobre o que constitui um tribunal
independente e imparcial: “independente” Parte III: Informação Específica sobre a
e “imparcial” significa que o tribunal deve Atividade
julgar cada caso de forma justa com base Instruções:
nas provas e no primado do Direito, sem Apresentar o tópico, permitindo que os par-
favorecer qualquer uma das partes por ra- ticipantes imaginem criminosos que sejam
zões políticas. seus conhecidos (ou mostrando um vídeo
Direitos relacionados/outras áreas a ex- sobre um deles). Se quiser, pode colocá-
plorar: los no quadro. Deixar que os participantes
A presunção da inocência, o reconheci- imaginem que são advogados de defesa de
mento como pessoa perante a lei, o direito clientes acusados de crimes conhecidos.
a uma defesa competente, elementos da Distribuir a declaração do advogado de
democracia. defesa Gerry Spence, que responde à ques-
(Fonte: adaptado de United Nations Cy- tão que lhe era, frequentemente, colocada:
berschoolbus. 2003. Disponível em:http:// “Como pode defender essas pessoas?”. Ini-
cyberschoolbus.un.org). ciar o debate sobre os direitos dos perpetra-
dores com base nesta declaração.
ATIVIDADE II: COMO PODE - Deve toda a pessoa ser considerada ino-
DEFENDER ESSAS PESSOAS? cente até que se prove a sua culpa?
- Se for acusado de um crime, deve ter sem-
Parte I: Introdução pre o direito de se defender a si próprio?
Esta atividade é um debate baseado em ca- - Deve permitir-se que toda a pessoa soli-
sos da vida real com o objetivo de identifi- cite aconselhamento jurídico e que o ob-
car preconceitos e a correspondente noção tenha de forma gratuita se não o puder
de julgamento justo. pagar?
- Deve toda a pessoa ser considerada igual
Parte II: Informação Geral perante a lei?
Tipo de atividade: Debate Se quiser, pode colocar alguns argumentos
Metas e objetivos: Identificar preconceitos no quadro para resumir o debate.
e limites de uma observação neutra; de-
senvolver capacidades analíticas e demo- Texto para a ficha informativa:
cráticas. Gerry Spence, advogado de defesa:
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos “Bom, acha que o arguido deve ser jul-
Dimensão do grupo: 15-20 gado antes de ser enforcado? Se sim, de-
Duração: cerca de 60 minutos. verá ser um julgamento justo? A ser um
Material: fichas informativas (ver abaixo) julgamento justo, deverá o arguido ter, ou
246 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
poder ter, um advogado? Se tiver um advo- das as garantias necessárias de defesa lhe
gado, deverá o advogado ser competente? sejam asseguradas.
Bom, então, se o advogado de defesa sou- 2 - Ninguém será condenado por ações ou
ber que o arguido é culpado deverá tentar omissões que, no momento da sua prática,
perder o caso? Se não, deverá ele dar o seu não constituíam ato delituoso à face do di-
melhor para que a acusação seja provada reito interno ou internacional. Do mesmo
para além de qualquer dúvida razoável? E modo, não será infligida pena mais grave
se ele der o seu melhor e a acusação não do que a que era aplicável no momento em
for provada para além de qualquer dúvida que o ato delituoso foi cometido.”
razoável e o júri absolver o arguido culpa- Escrevê-lo no quadro e explicar o seu sig-
do, de quem é a culpa? Culpamos o advo- nificado e propósito. Deve ser considera-
gado de defesa que fez o seu trabalho ou o do inocente até ser provada a sua culpa.
Ministério Público que não o fez?” Se for acusado de um crime, tem sempre
(Fonte: Adaptado de: Harper’s Magazine. o direito a defender-se a si próprio. Nin-
1997.) guém tem o direito de o condenar ou punir
por algo que não tenha feito. A presunção
Reações: da inocência e o direito a uma defesa são
Numa ronda de opiniões, pedir aos par- os dois princípios importantes articulados
ticipantes que resumam, brevemente, o neste artigo.
debate: Pode fazer o acompanhamento da ativida-
- Por que acham que os advogados defen- de “Ser ouvido ou não ser ouvido?” rela-
dem criminosos? cionando com isto.
- Acham que estes advogados são vistos
de mesma forma que os criminosos que Parte IV: Acompanhamento
defendem e porquê? Ler em voz alta os artigos 6º e 8º da DUDH.
Sugestões práticas: Artº 6º: “Todos os indivíduos têm di-
Pode apresentar a atividade mostrando um reito ao reconhecimento em todos os
vídeo ou lendo um artigo sobre criminosos lugares da sua personalidade jurídica.”
conhecidos. Pode também referir circuns- Explicar que isto significa que deve ser
tâncias locais e atuais e mencionar pessoas legalmente protegido da mesma forma,
que foram condenadas em debate público em todos os lugares e como todas as
depois de terem cometido um crime grave. outras pessoas. Definição: Uma pessoa
Se o fizer, tenha em conta as emoções que perante a lei é alguém que é reconhe-
tal tópico pode gerar. Não julgar as opini- cido pela lei como sujeito da proteção
ões dos participantes mas dizer claramen- oferecida pelo sistema legal e das res-
te que os direitos humanos são para todos ponsabilidades, por este, exigidas.
e que não podem ser derrogados de forma Artº 8º: “Toda a pessoa tem direito a re-
arbitrária em nenhum momento. curso efetivo para as jurisdições nacionais
Outras Sugestões: competentes contra os atos que violem os
Ler o artigo 11º da DUDH: direitos fundamentais reconhecidos pela
“1 - Toda a pessoa acusada de um ato de- Constituição ou pela lei.” Isto significa que
lituoso presume-se inocente até que a sua lhe deve ser permitido solicitar aconselha-
culpabilidade fique legalmente provada no mento jurídico quando os seus direitos hu-
decurso de um processo público em que to- manos não são respeitados.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 247
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